“A publicidade é o fruto mais sujo do capitalismo”, disse George Orwell em sua obra “Moinhos de Vento”. A publicidade tem somo objetivo tornar um objeto conhecido por um número grande de pessoas. Esse objeto tem um alvo certo: a pessoa que se identifica com ele. Mas não fica aí. Tem o marketing. Se a publicidade tem como objetivo tornar o objeto conhecido do público, o marketing tem como finalidade torna-lo mercadoria de consumo. Ou seja, seduzir através de seus elementos psicodélicos-hipnogógicos as pessoas que conhecem esse objeto-mercadoria através da publicidade.
A FORÇA ALIENADORA DO MARKETING
O marketing é sempre uma simulação-mercadológica: finge que uma mercadoria é importante e necessária quando não é. Daí, que a pessoa que compra uma mercadoria seduzida pelo marketing não usou a reflexão para escolher o produto. Foi seduzida pelo marketing-simulador. Ou melhor: foi manipulada. E se a mercadoria carregar uma marca, que foi o recurso usado pelos próprios capitalistas como forma de concorrência entre si, o absurdo é pior. A clara perversidade – perversidade como desejo fora de seu alvo original – ocorre muito antes da compra efetuada. Como todo marketing precisa dos meios de comunicação para chegar ao sujeito-sujeitado-consumidor, o processo de sedução começa na própria casa dele. Chegar à loja e adquirir o produto é só a consumação do ritual marqueteiro. Tudo já oi definido antes.
O CONSUMIDOR SEDUZIDO É RESPONSÁVEL POR SUA ALIENAÇÃO
Mas como o consumidor é dotado de sentido e razão, nessa negociata ele não é tão um pobre coitadinho. Como diz o filósofo Sartre, “nós somos responsáveis por nossas escolhas”. E assim ele é responsável por sua escolha de ser seduzido. Ou seja: ele escolheu ser seduzido pelo marketing. Ele concedeu ao marketing o direito de ser sua vontade. Ele concedeu ao marketing o direito de lhe tornar um alienado de sua vontade. Como alienado ele é um dos que sustenta o mundo psicodélico criado pelo capitalismo consumista.
O DEVIR-CRIANÇA
O que não é o caso da criança. Ela ainda não entrou ainda na ordem da reflexão lógica. Ela é, em suas decisões, mais impulso. E no caso de querer objetos exibidos pelo marketing ela é impulso mais imitação do é vendido como necessário para sua felicidade. É aí que torna necessária a intervenção lúcida e afetiva dos adultos. Não o adulto (?) consumista, esse está psicodelizado, mas o adulto envolvido historicamente com a produção de uma sociedade sensorial e racional. Onde as virtualidades da potência humana se realizem como liberdade de existir.
A AMBIÇÃO DE MAURÍCIO DE SOUSA
O desenhista Maurício de Souza é contra a resolução 163/2014. Capitalisticamente ele está certo. Ele é proprietário de mais de 3000 produtos licenciados, por isso defende a publicidade infantil. Mas para o Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (Conanda) ele avilta a lei. Maurício trabalha para um público infantil de classe média privilegiada, cujos pais têm dinheiro para comprar suas mercadorias. E ele sabe, por isso está rico, que a criança é um magnífico público para a publicidade e ele não quer perder essa fonte de enriquecimento.
ORWELL E A MORAL DA PUBLICIDADE
Agora, considerando o saber de Orwell, de que “a publicidade é o fruto mais sujo do capitalismo”, quando se entende que ele se refere à publicidade direcionada para o chamado adulto, o que dizer da defesa da publicidade para criança defendida por Maurício de Sousa? Se a publicidade dirigida para o adulto “é o fruto mais sujo do capitalismo”, o que será a publicidade dirigida para a criança? Em sua condição de criança: um ser em devém biológico, sensorial, cognitivo, imaginativo, memorial? É clara violência que interrompe o seu devir singular e original como um ser que se movimenta continuamente espaço-temporalmente.
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