Joia raríssima, relíquia da consciência dos trabalhadores da agricultura que na década de 70 sofriam com a força da ditadura civil-militar que tomou o Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Um tempo em que falar de trabalhadores rurais era subversão porque, para os repressores, tratava-se reforma agrária. Um anátema condenado pelos ditadores.
Mas, apesar de todas as ameaças, Marcus Pereira, em 1978, gravou essa obra-prima de José Alberto Kaplan e W. J. Solha com o Hino de Alagamar de Severino Izidro agricultor da Fazenda Alagamar.
Um corpo que torna essa obra mais rara, não por sua arte musical, é a apresentação do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, que embora no início tenha apoiado a ditadura (aquela estória (nada de história)– verdadeira estória fabulosa do capitalismo – de que comunismo era o mal maior contra o cristianismo ), depois passou a ser um ferrenho inimigo dedicando à protestos contra as atrocidades praticadas por seus agentes.
O certo é que Cantata Pra Alagamar foi um verdadeiro passeio esquizo na época da ditadura. Um passeio que escapava que do estava posto pela força opressiva. É lógico, que o verbo no passado tem convite do presente. Cantata Pra Alagamar ainda é esquiza ainda hoje. Não tanto quanto na década de 70, mas a luta ainda é ferrenha. Principalmente a luta contra o agronegócio, o “veneno na mesa”.
Leiamos sua apresentação dessa maravilha, Cantata Pra Alagamar, produzida por Discos Marcus Pereira.
“Por que a “Cantata Pra Alagamar” merece ser ouvida por todas as pessoas de boa vontade, que amam a verdade e o belo, e sonham com um mundo mais respirável, mais justo e mais humano?
Há pessoas sinceras que, ao saber que 2/3 da Humanidade estão reduzidos a uma condição sub-humana, de miséria e de fome, pensam que isto pode acontecer longe daqui, jamais no Brasil.
Vem a “Cantata” e põe diante dos nossos olhos que “desenvolvimento” em nosso País vem sendo crescimento econômico de u1a minoria, que não chega a 20% de nossa população, e fabricação de miséria, em ritmo alarmante.
Mas, a “Cantata” nos traz a boa nova de que nossa gente sofrida:
– sabe muito bem que seria loucura pegar em armas, cujos fabricantes são seus opressores;
– mas, não está, de modo algum acovardada e sem ação;
– aprende, sempre mais, que a força do povo é a união, não para pisar direitos dos outros, mas para não deixar que ninguém pise direitos seus, que não são presentes de governo ou de ricos, mas de próprio Deus.
Tudo isto a “Cantata Pra Alagamar” – de José Alberto Kaplan e W, J. Solha – nos faz ver, ouvir, sentir, viver…
A “Cantata” que merece ser ouvida nos templos, no Parlamento, nas comunidades de base, nos bairros grã-finos, no Palácio da Alvorada…
Para quem tem ouvidos de ouvir, é “Cantata” de esperança e de amor!”
Helder Câmara
Arcebispo de Olinda e Recife
Participaram desta gravação:
SOPRANOS
Nilzete Silva de Albuquerque e Melo – solista.
Eliza Cavalcante Leão – solista.
Celina de Almeida Bandeira, Emma Sagstetter e Vera Lúcia Medeiros Marques.
CONTRALTOS
Laura de Paula Conde, Raquel Maria de Lima e Vilma Fernandes da Silva.
TENORES
Alírio de Albuquerque e Melo – solista.
Almir Araújo de França, Gilberto Gomes Batista e Eduardo de Oliveira Nóbrega.
BAIXOS
Carlos Anísio de Oliveira e Silva, João Gadelha de Oliveira Filho e Luiz Carlos do Nascimento Souza.
FLAUTA E FLAUTIM
Gustavo Gines de Paco de Gea.
CRAVO
Norma Romano de Paco de Gea.
PERCUSSÃO
Poty Holanda Lucena – Triângulo.
Natal de Oliveira – Pandeiro.
Antônio Carlos B. Pinto – Zabumba.
NARRADOR
Fernando Antônio Teixeira.
JOGRAL
João de Souza Costa, Ronaldo Lira de Souza e Waldemar José Solha.
REGENTE
José Alberto Kaplan.
FICHA TÉCNICA
Produção: Discos Marcus Pereira
Direção Artística: Marcus Vinícius
Regência: José Alberto Kaplan
Gravado no Estúdio do Conservatório Pernambucano de Música
Fotos de Capa: Arquivo Arquidiocese da Paraíba.
Deixe uma Resposta