UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Auvers-sur Oise,28 de junho de 1890

GRANDES MESTRES DA LITERATURA

GEORGE SAND

Ferdinand Victor Eugène Delacroix- George Sand usando um traje masculino, França, L’universe illustré. Journal hebdomadaire no 27 (5 de abril de 1885) p.213
Van Gogh fala nessa carta como é importante que o vestuário  seja bem feito nas pinturas, e como ele cria outras formas de relação com os quadros:
“E depois já é uma vitória ver no vestuário das pessoas arranjos de cores claras bem bonitas; se pudéssemos fazer o retrato das pessoas que vemos passar, ficariam tão bonitos quanto qualquer época do passado, e até acho que muitas vezes há na natureza atualmente toda a graça do quadro de Puvis (de Chavannes), entre a arte e a natureza . Assim, ontem vi duas figuras: a mãe num vestido carmim-escuro, a filha em rosa pálido com um chapéu amarelo sem nenhum ornamento, rostos camponeses muito sadios, crestados pelo ar puro, queimados pelo sol; especialmente a mãe com a cara muito, muito vermelha e cabelos negros e dois diamantes nas orelhas. E pensei novamente na tela de Delacroix, A Educação Maternal. Pois na expressão daqueles rostos realmente havia tudo o que havia no rosto de George Sand– de Delacroix, do qual há uma gravura na Illustration, com os cabelos curtos?

George Sand era o pseudônimo de Madame A(r)mandine Lucile Aurore Dudevant, a mais prolífica autora na história da literatura, e inalcançavel entre as romancistas francesas. Sua vida foi tão estranha e aventurosa como seus romances, que são em boa parte versões idealizada dos diversos incidentes. Em suas confissões, ela segue o estilo de Rousseau, porém ela se coloca como heroina da história, geralmente frágil e errada, mas sempre uma mulher que sofre do que faz sofrer.

Nascida no dia 1 de julho de 1804 em Paris, ela era filha bastante desejada de Maurice Dupin, um tenente aposentado do exército e de Sophie Delaborde, que sua vez era filha de um vendedor de pássaros. Ela tinha uma linhagem real, já que seu avô paterno Dupin de Francueil, casou com a viúva do Conde Horn (Filho natural de Louis XV). A viúva por sua  era filha de Maurice de Saxe que também tinha uma linhagem de uma condesa. Por isso Sand, acreditava na doutrina da hereditariedade, e em sua biografia fala de seu pedigree familiar. Mesmo declarando sua afinidade real com Charles X e Louis XVII, ela também se declarara uma camponesa, a filha do povo, com quem compartilha instintos e simpatias.

Aos três anos de idade George viaja cruzando os pirineus para se encontrar com seus pais que estavam em uma suite no palácio real, e então é adotada como uma criança do regimento, cuidada por velhos e duros sargentos e vestida em uniforme. Nos dez anos posteriores ela morou em Nohant, próximo La Chatre em Berri, na casa de campo de sua vó. Lá ela adquiriu um amor pelas cenas campestre que levou por toda vida. Lá ela aprendeu os modos e pensamentos camponeses, e criou uma memória rica de cenas e personagens que soube usar quando precisava, já que segundo ela própria o personagem é uma grande medida da hereditariedade. Esta experiência foi muito importante e influênciou toda sua carreira, já que não teve nenhuma educação formal.

Pouco antes de retornar a Espanha seu pai morreu ao cair de um cavalo, e não demorou muito para que sua mãe também se fosse, sendo ela cuidada pela avó, Mme. Dupin de Francueil. Em 1817, ela foi mandada para um convento dos ingleses augustinianos(Couvent des Anglaises) em Paris, onde adquiriu um fervor místico que, embora logo abatido, deixou sua marca.

Em 1820, volta a casa de sua avó onde mais uma vez experência a vida campestre e passa a ter contato com outras línguas que futuramente dominara como ingles, italiano e latim. Além disso ela passa a ler bastante, estudando filosofia em Aristóteles, Rousseau, Leibnitz, Locke e Condillac, além de estudar as literaturas como Rene, Childe Harold e Chateaubriand.

Já em 1822 se casa com o Barão Casimir Dudevant, com quem tem os cinco primeiros anos de casamento muito felizes e teve dois filhos Maurice e Solange. Porém logo se cansa e busca consolação primeiro em uma amizade platônica com Aurelien de Seze , um jovem magistrado e depois em uma ligação apaixonada com um vizinho. Em janeiro de 1831, ela se separa deixa Nohant e sua família arruinada pelo casamento infeliz, partindo com Solange para Paris (com direito a uma pensão de  120 libras mensais), onde encontra um grande amigo em Henri de Latouche, o diretor do jornal Le Figaro, que aceitou alguns artigos que ela escreveu com seu amante Jules Sandeau sob pseudônimo de Jules Sand. No ano seguinte adota um novo, George Sand, para Indiana, um romance em que escreveu sem ajuda. Este romance, que lhe trouxe fama imediata, é um protesto apaixonado contra as convenções sociais que liga a esposa ao marido contra sua vontade, e uma apologia a heroina que abandona o casamento infeliz e encontra o amor. Nos romances seguintes, Valentine (1832) e Lélia (1833), o ideal da livre associação é extendido para uma esfera mais ampla no social e relações de classe. Seu trabalho jornalístico continua e ela passa a contribuir para a Revue des Deux Mondes (1832-41) eLa République (1848), além de ser coeditora do Revue Indépendante (1841)

Enquanto isto, a lista de seus amantes estava crescendo; eventualmente incluia entre outros Prosper Mérimée, Alfred de Musset, e Frédéric Chopin (quando ela tinha 33 anos). Ela se manteve impérvia a visão cética e Musset e aos preconceitos aristocráticos de Chopin, enquanto o homem com quem compartilhava opiniões era o filosofo Pierre Lerous, que nunca fora sua amante. Inclusive há estudos que muito dos personagens masculinos de seus romances provêm dos amantes.

Porém os romances muitas vezes mostravam este amor com o bucolismo e simpatia com os pobres como La Mare au diable (1846), François le Champi (1848), e La Petite Fadette (1849).

Depois da revolução de 1848 ter falhado, Sand parte para Nohant em um retiro literário. Entre 1864 à 1867 morou em Palaiseau, próximo Versailles e sempre esteve trabalhando e viajando e assume: “Trabalho não é a punição do homem. É seu prêmio e sua força, sua glória e seu prazer”.

George Sand morreu no dia 8 de junho de 1876, em Nohant. Ela teve um importante papel, embora durante muito tempo subestimado, na evolução do romance. Seus livros embora populares, levantaram uma controvérsia: O Senado francês reconheceu sua oposição a presença dos trabalhos de Sand em Bibliotecas públicas. Parcialmente devido aos casos amorosos com celebridades conhecidas, mas ela era também acusada de lesbianismo e ninfomania.Ela inspirou diretamente com seu estilo Dostoievski ,Turgenieff, Elizabeth Barrett Browning, John Stuart Mill, George Eliot.

Além disso ela publicou dezenas de romances que ainda são publicados e lidos nos dias de hoje como A marquesa(1834), André (1835), Mauprat (1837), A condesa de  Rudolstadt (1844), O diabo nos campos (1856), Homem de neve (1858), A confissão de uma jovem (1865), Flamarande (1875) entre outras.

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Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.

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