Devir/Dançar

O nosso Devir/Dançar  de hoje exibe mais um cinema ligado a dança, e desta vez um cinema bastante  diferente e inventido das outras diversas produções bailantes. Trata-se de uma produção italiana cujo a história se liga ao ballet, mas vai além dele em um clima bastante diferente.

Pelo tema muitos poderão achar este filme um pouco “mal trabalhado” ou repleto de nefilibatismos do fraco elenco. Outros ainda dirão que se trata de um erro do diretor que optou em um fraco suspenso. Estas assertivas são plausíveis, porém podemos dizer que ainda são incompletas, pois o filme não é um balé e menos um real…

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A vida e as instituições como escola, família, religião, trabalho, tem uma função de ensignar nos corpos, desde a infância, a se tornarem rijos, controlados, apolíneos em suas funções e atividades. A própria dança de certa forma, dá forma enformando os corpos, como acontece na flexibilidade estática do ballet. Nada de novo. Porém a dança tem uma capacidade desbloqueadora até mesmo no ballet do pulsar da carne que sangra em vida.

Desta forma a dança pode produzir um desbloqueio nas couraças sociais reacionárias, já que estas reagem ao novo da vida que quer pulsar e seguir seu caminho. Assim a dança por si pode liberar o corpo para que ele flua em seu próprio caminho.

CINESQUIZO E DEVIR DANÇAR

ENUNCIA

ÉTOILE

Diretor: Peter Del Monte (o mesmo de Companheira de viagem, Giulia e Giulia, Convite para viagem)       

Ano / Duração : 1989 / 101 minutos

País: Itália

Elenco: Jennifer Connelly (Claire Hamilton / Natalie Horvath), Gary cCleery (Jason Forrest),Laurent Terzieff (Marius Balakin), Olimpia Carlisi (Madam), Mario Marozzi,Donald Hodson (Donal Hodson) e Charles Durning    (Uncle Joshua)

Participações especiais e produção das danças: Raffaella Renzi (“Étoile della Opera di Berlino”), Vittoria Ottolenghi (consultora de ballet) e Zarko Prebil coreógrafo do Lago dos Cisnes “Swan Lake”), Accademia Nazionale di Danza, Orchestra della Unione Musicisti di Roma

Música: “Il lago dei Cigni” de P. Tchaikovsky

Claire é uma jovem e bela bailarina americana que viaja para Hungria para tentar uma vaga em uma companhia de ballet e sonha em atuar no balé “O cisne Negro”. No dia de sua audição ela observa uma concorrente e ao ver o destrato que o juri lhe dá, ela não responde quando chamam seu nome.

No hotel onde está hospedada, ela conhece Jason, um jovem conterrâneo que trabalha com seu tio. Jason se apaixona por ela,  a encouraja a fazer um novo teste e juntos eles passeiam pelo cemitério, até que descobrem uma estranha e bela casa abandonada, onde Claire diz que adoraria morar, pois lá havia uma sala de estudo de balé. Jason sente que ganhou a simpatia da jovem bailarina, porém no dia seguinte ela desaparece misteriosamente.

Mesmo com um aviso em que ela voltaria a sua terra natal, Jason procura ela pela cidade, e acaba encontrando uma outra jovem bailarina que se chama Natalie e é muito parecida com Claire, e que é a grande estrela de uma montagem do balé “O cisne Negro”. Procurando em todos os teatros da cidade descobre que não existe nenhuma espetáculo de balé em cartaz e que a companhia e o teatro em que a moça se referiu estão desativados há décadas. Decidido desvendar este mistério, Jason descobre uma misteriosa produção envolvendo o diretor da companhia de balé que utiliza o teatro e a casa abandonada.

Étoile (estrela em francês) é o nome dado no balé a principal bailarina de um espetáculo, também conhecido pelo nome de prima ballerina assoluta. É um posto que prima pela alta dedicação, virtuosismo e que possui uma grande responsabilidade.

Em uma atmosfera lynchiana o filme se distancia do óbvio e do real cotidiano entrando em uma composição que beira o onírico. O balé que o filme coloca está preso em um script e coreografia onde impossibilita qualquer movimento criativo, já que todos estão sob uma maldição da sugestionabilidade.

Freud rolaria por aí. Porém não entrando em análises deste tipo, vemos que o cisne negro, formatado, impermeável,  selvagem impossibilita qualquer forma de a razão transparecer e criar novos movimentos e produções.

Assim somente quando se quebra esta estaticidade é possível entrar na névoa que contem os virtuais e buscar atualizar a vida pelo novo.

Assim, o balé e a dança não podem ser algo em que a coreografia, as marcações, impossibilitem o corpo de sua atualização e movimento. Há a necessidade de não aceitar a rigidez da pulsão da morte que quer imobilizar qualquer produção…

E mesmo que o coração ainda bata, e o sangue corra, é necessário ir além e racionalmente criar seus caminhos. Assim não pode haver quimeras e tem que se afastar toda a fantasmagoria que se quer passar como vida sem conseguir ser, já que a agoniza.

E a bela produção fílmica deste kineballet mostra que nem sempre o que quer se passar como belo é produtivo. A poiesis grega é sempre bela e não se imobiliza para que se faça uma forma de belo. Pois a beleza é sempre disforme, e tudo nasce do caos.

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