UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Bruxelas, janeiro de 1881

Mulher se despe, de pé, de perfil à direita (c.1860) , ROPS


Femme se déshabillant, debout, de profil vers la droite , Paris, Louvre, Département des artes graphiques

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Van Gogh está mais tranquilo e melhor adaptado. Ele está trabalhando com modelos e ainda quer ser um ilustrador de livros e revistas. Ele fala sobre algumas referências em retratos do cotidiano e costumes:

” Meu Caro Théo,
Quase todos os dias tenho algum modelo; um velho contínuo, ou algum operário, um moleque que eu faço posar. Domingo que vem, talvez eu tenha um ou dois soldados que virão posar. E como agora não estou mais de mau humor, faço de você, e de todo o mundo em geral, uma idéia completamente diferente e melhor. Também voltei a desenhar uma paisagem, uma chameca, o que não fazia há muito tempo.
Gosto muito de paisagens, mas gosto dez vezes mais daqueles estudos de costumes, às vezes de uma verdade assustadora, como os de Gavarni, Henry Monnier, Daumier, de Lemud, Henri Pille, Th. Schuler, E. Morin, G. Doré (por exemplo, em sua: Londres), A Lançon,  De Groux, Félicien Rops, etc,etc…os desenharam magistralmente.
N.E.: Van Gogh refere-se a grandes caricaturistas e gravadores da época que faziam enorme sucesso nos jornais populares e cartazes de rua.
Félicien Joseph Victor Rops foi um pintor, desenhista, ilustrador, gravurista (agua-forte e aguatinta) artista gráfico belga ligado ao movimento simbolista.Ele nasceu em Namur no dia 7 de julho de 1833 sendo o filho único do industrial Nicolas Rops e de Sophie Maubille. Aos 10 anos ele estuda no Collège Notre-Dame de la Paix em sua cidade natal para seus estudos intermediários. Ele recebe diversos (Namur) “bilhetes de satisfação” pela qualidade de seu trabalho. Rapidamente se distingue em latim. Em 1849, perde seu pai e recebe um tutor com quem nunca se entendeu. Ele adota então uma atitude de anticonformismo e anticlérico que lhe faz sair de sua escola, e continuar seus estudos no Athénée de Namur. Logo depois ele se inscreve na Academia de Belas-Artes de Namur. Aos 18 anos, entra para Universidade Livre de Bruxelles, frequentada pelos melhores estudantes e intelectuais, panfletários e artistas de sua época e se revela um feroz caricaturista, em particular no “Charivari Belge” e no Uylenspiegel, fundado com Charles de Coster em 1856, onde suas litografias são particularmente apreciadas.As primeiras obras de Rops (“La Peine de mort”, “L’ordre règne à Varsovie”, “La Médaille de Waterloo”) mostraram sua vevolta e seu protesto contra os desastres de sua época. Seu talento o levou, um pouco mais tarde, a ilustrar as Lendas flamencas (Légendes flamandes) de Charles de Coster. Em 1856 ele cria e produz a Almanach Crocodilien, em seu primeiro trabalho. Ele também produziu duas Salons Illustres, e colaborou com Crocodile, uma revista de estudantes.

Em 1857, ele se casa com Charlotte Polet de Faveaux, filha de um jurista e deste casamento nasceu um filho, Paul e uma filha, Juliette, que morreu muito jovem. Seu talento o leva a ser reconhecido por diversos artistas e sua obra abre caminhos em Paris onde diversas estadias lhe permite estudar gravura em água forte com Félix Bracquemond e Henri-Alfred Jacquemart. Ele se torna mestre cedo em todas técnicas de gravura, particularmente, o vernis mole, a ponta seca e aquatinta.

Em Namur ele funda o “Círculo Real Náutico de Sambre-e-meuse (Royal Cercle Nautique de Sambre-et- Meuse). Em 1864, realiza a litografia “L’Enterrement en pays wallon” que testemunha sua sensibilidade a dor de seus semelhantes. Nesta época ele encontra Charles Baudelaire, o representante da editora Poulet-Malassis. Haverá relação intensa entre os dois artistas: Rops criará a agua-forte para o fronstispício de “Epaves” (Destroços), os poemas condenados da “Flor do mal”.

Em 1868, ele participa ativamente, em Bruxelas, na fundação da Sociedade Livre dos Artistas de Belas-Artes (Société Libre des Beaux-Arts) se tornando o vice-presidente. Ele funda em 1869 em Bruxelas a Sociedade Internacional dos Agua-fortistas (Société Internationale des Aquafortistes). No ano seguinte está presente junto com Léon Dommartin e Camille Lemonnier, na Batalha de Sedan de onde faz diversos croquis.

Por volta de 1874 ele se instala definitivamente em Paris onde vive com os irmãos Duluc. Entre suas várias ligações amorosas se relata com Aurélie e Léontine Duluc que tiveram uma caracteristica durável e inclusive esta última resultando em uma filha, Claire, que casou com o escritor belga Eugène Demolder.

Nesta época, Rops é o ilustrador mais bem pago de Paris e trabalha com diversos escritores como Théophile Gautier, Alfred de Musset, Stéphane Mallarmé, Jules Barbey d’Aurevilly, Joséphin Peladan, Octave Uzanne, Voltaire…

Ele faz diversas viagens (Noruega, Suécia, Espanha, Hungria, América, Canada…) e suas estadias na costa belga o inspira em desenvolver seus talentos de pintor. É também um período de maturidade onde ele se revela também um desenhista considerado, usando com destreza e refinamento a pluma ou o lapis de cor realçado de guache, de aquarela ou pastel. Ele criou “La Tentation de Saint Antoine” e “Pornokrates” (1878), seguido de “Cent légers croquis pour réjouir les honnêtes gens”, “Les Sataniques” (1882) e também a série de “Diaboliques” para Barbey d’Aurevilly (1884).

Em 1886, Rops integra o revolucionário Grupo dos XX, constituido em 1884. Começa sua amizade com o artista Armand Rassenfosse. Juntos eles desenvolveram uma técnica particular de gravura e inventam um vernis mole transparente, o”Ropsenfosse”. Ele recebeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra da França.

Durante os dez últimos anos de sua vida, Rops, que sofre depois de 1892 de uma doença nos olhos, continua a trabalhar em uma atmosfera calma na Meia-lua, sua propriedade em Essonnes próximo de Paris. Ele deu cursos livres em sua paixão pela botânica e criou novas variedades de rosas. Jamais ele parou de ter com seus amigos uma correspondência inflamada. Nós listamos, vários milhares de cartas de Rops, um excelente epistoleiro.Seu último trabalho foi uma propaganda de uma exibição feito em Novembro de 1896.

Ele parou sua produção nesta terra no dia 23 de agost de 1898 em  Essonnes, junto de Léontine, Aurélie e Claire, e seus amigos mais íntimos.Seu trabalho possui mais de 1000 gravuras, 400 pinturas e um número muito grande de desenhos. Nas gravuras e desenho, Rops evoca seu século por intermédio da mulher, que se forma e se modifica a imagem da sociedade onde ela vive (Guy de Maupassant). Como pintor Rops se liga essencialmente a paisagem. Praias, montanhas… da Espanha à Escandinávia. Apesar de suas peculiaridades, Rops foi um gravurista de técnica brilhante e conteudo origina cujo manuseio da ponta seca (agua-forte diretamente no prato) marca-o como um dos mestres deste meio. Ele também foi um dos primeiros aguafortistas modernos a reviver o meio negligenciado da água-forte do piso-macio, no qual o piso da água-forte é deretido e misturado com sebo, produzindo o efeito de desenho de linhas com um lapís ou carvão suave. As vezes assinava com pseudônimos como ‘Jules Vriel’, ‘William Lesly’ ou ‘V. Niederkorn’. Há relatos de que Rops era maçon e era membro de uma loja Grande Oriente da Bélgica.

Félicien Rops- Desenho do frontespício do livro Les Epaves de Charles Baudelaire(1865 ) Museum voor Schone Kunsten Gen
Paul Mathey- Retrato de Félician Rops (1888) Coleção Privada______________________________________________________________Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.

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