TRÊS POEMINHAS DE MOACYR FÉLIX TOCANDO DE LEVE NA POÉTICA DA MORTE

moacyr1Como todo poeta Moacyr Félix é um poeta intempestivo. Um poeta que permite ao homem o contínuo-transcendente da história. O aquém e o além ontológico do existir.

Mas o que estamos fazendo, esquizofílicos? Querendo comentar Moacyr Félix? Sem essa pretensão! Deixemos o comentário para seu amigo Antônio Cândido.

“Como fator de unificação, há um certo instinto, que no plano dos conceitos vira convicção e parece consistir na certeza de que a rajada poética é uma em si. Por outras palavras: na certeza de que o poeta é sempre o mesmo na sua integridade, seja transmitindo as emoções do amor, seja fixando a impressão das, seja soltando a indignação da denúncia.

Nesse nível, portanto, não poderia haver um poeta ‘puro’, escrevendo em estado de indiferença quanto ao tema; nem um poeta ‘interessado’, para quem a presença do tema basta como garantia e justificativa de performance. Mas simplesmente um poeta – que não estatui prioridade entre emoção, percepção e convicção, desede que elas possuam a intensidade transformadora da experiência vivida. Um poeta, por conseguinte, que pode reversivelmente se ver no mundo e ver no mundo em si, a cada compasso do seu trabalho”.

Apresentação de Antônio Cândido do livro de Moacyr Félix, Em Nome da Vida, publicado em 1981.

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E se eu, por uma espécie de brincadeira amarga,

afirmasse que o verdadeiro beco sem saída só começa

depois do silêncio que fica atrás do silêncio que rodeia a

vida conversando com a morte dentro da poesia.

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Se eu posso fazer a minha morte, por que não adubo

a criação de um novo dia com a cinza desses códigos e

dessas filosofias e dessas éticas que ainda não incendiei?

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Na realidade nem esta ideia de morte é minha, já que

ela se tece entre os meus neurônios assim como esta

enferma-idade se instala no encarcerado interior da vida

do homem.

foto051Os três poeminhas foram extraídos da obra Introdução a Escombros, publicada em 1998 pela Editora Bertrand Brasil.

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