Zé Geraldo é um músico mineiro de Rodeiro (não confundir com o ilustrador e escritor ou com o deputado do PT do Pará que têm o mesmo nome). Cantor de músicas regionais e popular Zé Geraldo é bastante conhecido e sempre lota seus shows.
As músicas de Zé foram conhecidas de Festivais ou ainda foram regravadas por outros artistas como Zé Ramalho, Juraildes da Cruz entre outros. Com uma influência variada (de Tião Carreiro a Bob Dylan), Zé participou em diversas cantorias e gravou músicas com Luiz Vicentini, Bacupari, Johnny e Jadson, Rita de Cascia e participou de um CD gravado para o Movimento dos Sem Terra (MST)
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“Eu me lembro que por volta dos meus 15, 16 anos já tinha alguma coisa. Os meus primeiros versos eram para as namoradas. Eu era garoto ainda, estudante. Fazia sempre um versinho escondido, guardava só para mim. Aí fui pegando o hábito de escrever. Tanto que eu primeiro criei o hábito de escrever para depois aprender violão e a musicar algumas coisas. Mas eram versos simples, falando de relações, de encanto por outra pessoa… normalmente, para as namoradas. Eu era garoto ainda, estudante. Fazia sempre um versinho escondido, guardava só para mim. Aí fui pegando o hábito de escrever. Tanto que eu primeiro criei o hábito de escrever para depois aprender violão e a musicar algumas coisas. Mas eram versos simples, falando de relações, de encanto por outra pessoa… normalmente, para as namoradas. Depois, com o passar dos anos, é que o universo foi se abrindo e os temas foram outros. Mas, no início, eram românticos.
Na realidade, eu queria ser jogador de futebol. Como eu torço para o Santos… Quando eu vim para cá (São Paulo), eu já escrevia alguns versos, mas eu nunca imaginava que eu ia ser um artista profissional. Achava que eu ia jogar bola. Mas eu já gostava da noite e era incompatível. Mesmo assim, eu jogava bola aqui em São Paulo, na várzea, com meus amigos. Aí quando foi na virada do ano, que eu entrei de férias, fui passear em Governador Valadares e foi aí que mudou tudo: foi um acidente de carro que eu sofri na volta. O ônibus que eu viajava bateu em uma carreta. Fiquei um ano no hospital. E nesse um ano que eu fiquei no hospital, aprendi a arranhar uns acordes no violão e já sai compondo. Aí começou minha estrada musical mesmo. Daí passei em Santos uma temporada e tinha uma banda de baile lá, Blue Up, com quem também me relacionei, cantei algumas coisas. Depois vim para São Paulo. Aí começou minha história musical. Mas foi um acidente que me levou, porque meu sonho mesmo era jogar bola.
IDA À SÃO PAULO
Vim estudar, trabalhar, fui para Santos fazer fisioterapia, depois vim para São Paulo, tentei gravar. Gravei como ZéGê, um apelido que eu tinha. Eram canções muito… não era o que eu queria fazer. Depois fui cantar nos bailes. Aí deu esse tipo de música que eu faço. Depois passei a gravar em 1979.
Durante o período em que eu era músico de baile, comecei a trabalhar durante a semana na área de Recursos Humanos e acabei virando gerente de RH. Fiz uma carreira de executivo que estava prosperando, progredindo, mas aí nos fins de semana eu tocava. Chegou uma hora que tomei coragem e comecei a botar minhas músicas nos festivais. Num desses festivais, estava um cara da CBS, Romeu Giosa, que era um produtor da CBS na época. Ele me pegou num desses festivais e me levou para a gravadora. Eu saí do trabalho que eu tinha (8, 9 anos que eu estava numa empresa), mas aí passei a gravar em 79 e a me dedicar só à música.
Eu me especializei na área de Recursos Humanos. Era um trabalho que me deixava feliz também. Foi um período da minha vida que eu tocava nos botecos em reuniões com os amigos e me sentia feliz. Porque as gravadoras estavam fechadas para mim. Pelo menos quando eu me encontrava com os amigos, sentava num boteco, tomava uma, cantava, mostrava minhas músicas novas. E eu era feliz no meu trabalho, porque a área de RH – e eu trabalhei em uma grande empresa em âmbito nacional que tinha uma política de RH bastante interessante. Eu realizei coisas bonitas nessa área, que eu deixei implantadas. Profissionalmente, eu estava me realizando. Mas, paralelamente, eu fazia a música, que era o meu sonho. Chegou uma hora que não dava para seguir com as duas coisas e eu optei pela música.
A IDENTIDADE ZÉ GERALDO
Por volta dos meus 22 anos, fui passar as férias de fim de ano com minha família em Governador Valadares e, no último dia do mês de Março, embarquei de volta pra São Paulo no ônibus número 90 da Viação Transcolim. Tinha passado o dia jogando bola às margens do Rio Doce e, por estar cansado, pensei que fosse dormir com facilidade. Qual nada. Saímos de Valadares às 5 da tarde e, por volta das 9h da noite, paramos pro café em Realeza. Comi um churrasco de gato, tomei uma ampola dupla de caipirinha e lá vamos nós pra estrada. Já estava meio adormecido quando, de repente, uma mistura de barulho de motor, pneus arrastando no asfalto, gritos, e não era pesadelo não. Era real. Quando percebi o que tinha acontecido, já estava na enfermaria do Hospital de Carangola, onde passei praticamente um ano para me recuperar das diversas fraturas. Este acidente mudou completamente a minha rota.
Durante o período no hospital, meu amigo Paulo Cotta me levou um violão e desenhou alguns acordes num papel, e passei a compor e a cantar pro pessoal da casa. Saí do hospital e fui pra Santos fazer fisioterapia. Fiquei morando na casa do meu primo Zé Ferreira, que me ajudou bastante e, através dele, cheguei à banda de baile The Black Cats, mais tarde Blow Up, grandes amigos que foram muito importantes na minha história musical.
Dos muitos apelidos que eu tive na rua e no futebol, alguns impublicáveis, um que realmente pegou foi ZeGê, que acabou sendo o meu primeiro nome artístico, quando gravei três compactos e um LP na Gravadora Rozemblitt. Através do meu primo Ferreira e mais dois empresários (Sr. Roberto Borroughs e Mario Freitas), cheguei à gravadora que ficava na Rua Conselheiro Nébias, travessa da Av. Duque de Caxias. Lá conheci o trio vocal carioca The Snacks (Edson Trindade, Altair e Fernando) que moravam na mesma rua da gravadora e fui morar com eles. Dias depois, chegou um amigo deles, vindo dos Estados Unidos e se juntou a nós. Seu nome: Tim Maia.
Moramos ali por volta de um ano e meio, toda noite era uma cantoria danada. Eles quatro cantavam todo o repertório black da Motown e eu, pobre caipira, ficava admirado do que via e ouvia. Nesta época comecei a questionar minhas composições, em sua maioria muito românticas. Os empresários ao meu redor apostavam que eu seria um novo Roberto Carlos. Não era o que eu queria. Larguei tudo e fui cantar Bob Dylan, Rolling Stones, Ataulfo Alves e outros, durante oito anos de baile na noite paulistana. A banda Thoró acabou sendo a mais marcante na minha história de bailes. Quando a gente tocava Creedence Clearwater Revival, tremiam os salões da periferia de Sampa. Os anos de baile me deram segurança pra levar minhas músicas aos palcos dos festivais. Aquele ZeGê, menino medroso que se escondia de vergonha atrás dos amplificadores dos primeiros bailes, já não tinha medo de assumir sua identidade: Zé Geraldo.
O PRIMEIRO DISCO SAIU…
Em 84,85. Meados dos anos 80. Acabei de gravar agora o 16º, são dez trabalhos que eu estou fazendo nesse modelo. Agora, por exemplo, se uma gravadora dessas daí, uma multinacional sorrir para mim, que nem aconteceu com o Lobão, por que não? Agora eu tenho condição de discutir com eles, de negociar. Muita gente criticou o Lobação. Não. Ele tá certo. Ele viu quanto valia e foi negociar. Pagaram quanto ele valia e el foi. Isto é natural do ser humano. Burro é o cara que não tem perspectiva de mudar. “Não, eu vou ser isto a vida inteira”. O cara tem que ter perspectiva. Então, eu sou independente, estou muito feliz assim, tenho nosso próprio selo, é modesto, mas se amanhã aparecer um lance desses, por que não? Estou no mercado, sou um artista como outro qualquer e se as circunstâncias de momento forem favoráveis a isso, não tem grilo não. Perdi o pudor completamente. Depois que você chega a determinado amadurecimento, que o sol te queima bastante o pelo, aí você vê que tem mais firmeza no que você quer.
A MÍDIA E A FALTA DE ESPAÇOS
Às vezes é preconceito, às vezes é falta de informação, às vezes é preguiça para o cara ouvir meu trabalho, ou às vezes é grana, o jabá. Foi difícil eu chegar a essa conclusão. Às vezes a pessoas não ouve e não gosta, entendeu? Tem muito cara que me chama de regional até hoje, “o artista regional Zé Geraldo”. O cara não escuta meu trabalho desde o início. Só conhece uma parcela do meu trabalho… às vezes é má vontade mesmo, preconceito, às vezes é jabazeiro mesmo, que só ouve uma coisa se tiver uma grana na mão. O mercado é isso aí.
Olha, custa caro. Custa caro porque a gente as vezes viaja em condições desfavoráveis. O artista, quando está na mídia, tem uma série de coisas que ajudam. Agora, eu acho que o importante é você se sentir íntegro, inteiro, como eu me sinto hoje com meu trabalho. As pessoas valorizam minha música. Estou cumprindo meu papel, estou atravessando aí a minha estrada. Já fui um cara mais amargo nos momentos difíceis que eu passei. Depois eu deixei isto tuodo para trás e vi que eu tinha um grande público que segurava a minha onda e que eu tinha mais é que seguir em frente.
Transcrição da entrevista dada para Marcelo Abud (O Toque)
Zé Geraldo é uma pessoa tranquila e de muitos companheiros e amigos
Ex-pretendente a jogador, e amante do futebol Zé Geraldo toma umas com o ídolo do futebol e um dos últimos craques que o futebol canarinho teve: Sócrates.
Zé Geraldo com sua música auxiliou no engendramento músical de sua filha e também cantora Nô Stopa
Um time de mestres Toninho Horta, Pena Branca e Zé Geraldo
Zé com seu amigo e cantador de muitas cantorias em conjunto Xangai em Vitoria da Conquista- BA