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Histórias das músicas brasileiras

Julho 31, 2011

Zé Geraldo é um músico mineiro de Rodeiro (não confundir com o ilustrador e escritor ou com o deputado do PT do Pará que têm o mesmo nome). Cantor de músicas regionais e popular Zé Geraldo é bastante conhecido e sempre lota seus shows.

As músicas de Zé foram conhecidas de Festivais ou ainda foram regravadas por outros artistas como Zé Ramalho, Juraildes da Cruz entre outros. Com uma influência variada (de Tião Carreiro a Bob Dylan), Zé participou em diversas cantorias e gravou músicas com Luiz Vicentini, Bacupari, Johnny e Jadson, Rita de Cascia e participou de um CD gravado para o Movimento dos Sem Terra (MST)

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“Eu me lembro que por volta dos meus 15, 16 anos já tinha alguma coisa. Os meus primeiros versos eram para as namoradas. Eu era garoto ainda, estudante. Fazia sempre um versinho escondido, guardava só para mim. Aí fui pegando o hábito de escrever. Tanto que eu primeiro criei o hábito de escrever para depois aprender violão e a musicar algumas coisas. Mas eram versos simples, falando de relações, de encanto por outra pessoa… normalmente, para as namoradas. Eu era garoto ainda, estudante. Fazia sempre um versinho escondido, guardava só para mim. Aí fui pegando o hábito de escrever. Tanto que eu primeiro criei o hábito de escrever para depois aprender violão e a musicar algumas coisas. Mas eram versos simples, falando de relações, de encanto por outra pessoa… normalmente, para as namoradas. Depois, com o passar dos anos, é que o universo foi se abrindo e os temas foram outros. Mas, no início, eram românticos.

Na realidade, eu queria ser jogador de futebol. Como eu torço para o Santos… Quando eu vim para cá (São Paulo), eu já escrevia alguns versos, mas eu nunca imaginava que eu ia ser um artista profissional. Achava que eu ia jogar bola. Mas eu já gostava da noite e era incompatível. Mesmo assim, eu jogava bola aqui em São Paulo, na várzea, com meus amigos. Aí quando foi na virada do ano, que eu entrei de férias, fui passear em Governador Valadares e foi aí que mudou tudo: foi um acidente de carro que eu sofri na volta. O ônibus que eu viajava bateu em uma carreta. Fiquei um ano no hospital. E nesse um ano que eu fiquei no hospital, aprendi a arranhar uns acordes no violão e já sai compondo. Aí começou minha estrada musical mesmo. Daí passei em Santos uma temporada e tinha uma banda de baile lá, Blue Up, com quem também me relacionei, cantei algumas coisas. Depois vim para São Paulo. Aí começou minha história musical. Mas foi um acidente que me levou, porque meu sonho mesmo era jogar bola.

IDA À SÃO PAULO

Vim estudar, trabalhar, fui para Santos fazer fisioterapia, depois vim para São Paulo, tentei gravar. Gravei como ZéGê, um apelido que eu tinha. Eram canções muito… não era o que eu queria fazer. Depois fui cantar nos bailes. Aí deu esse tipo de música que eu faço. Depois passei a gravar em 1979.
Durante o período em que eu era músico de baile, comecei a trabalhar durante a semana na área de Recursos Humanos e acabei virando gerente de RH. Fiz uma carreira de executivo que estava prosperando, progredindo, mas aí nos fins de semana eu tocava. Chegou uma hora que tomei coragem e comecei a botar minhas músicas nos festivais. Num desses festivais, estava um cara da CBS, Romeu Giosa, que era um produtor da CBS na época. Ele me pegou num desses festivais e me levou para a gravadora. Eu saí do trabalho que eu tinha (8, 9 anos que eu estava numa empresa), mas aí passei a gravar em 79 e a me dedicar só à música.

Eu me especializei na área de Recursos Humanos. Era um trabalho que me deixava feliz também. Foi um período da minha vida que eu tocava nos botecos em reuniões com os amigos e me sentia feliz. Porque as gravadoras estavam fechadas para mim. Pelo menos quando eu me encontrava com os amigos, sentava num boteco, tomava uma, cantava, mostrava minhas músicas novas. E eu era feliz no meu trabalho, porque a área de RH – e eu trabalhei em uma grande empresa em âmbito nacional que tinha uma política de RH bastante interessante. Eu realizei coisas bonitas nessa área, que eu deixei implantadas. Profissionalmente, eu estava me realizando. Mas, paralelamente, eu fazia a música, que era o meu sonho. Chegou uma hora que não dava para seguir com as duas coisas e eu optei pela música.

A IDENTIDADE ZÉ GERALDO

Por volta dos meus 22 anos, fui passar as férias de fim de ano com minha família em Governador Valadares e, no último dia do mês de Março, embarquei de volta pra São Paulo no ônibus número 90 da Viação Transcolim. Tinha passado o dia jogando bola às margens do Rio Doce e, por estar cansado, pensei que fosse dormir com facilidade. Qual nada. Saímos de Valadares às 5 da tarde e, por volta das 9h da noite, paramos pro café em Realeza. Comi um churrasco de gato, tomei uma ampola dupla de caipirinha e lá vamos nós pra estrada. Já estava meio adormecido quando, de repente, uma mistura de barulho de motor, pneus arrastando no asfalto, gritos, e não era pesadelo não. Era real. Quando percebi o que tinha acontecido, já estava na enfermaria do Hospital de Carangola, onde passei praticamente um ano para me recuperar das diversas fraturas. Este acidente mudou completamente a minha rota.

Durante o período no hospital, meu amigo Paulo Cotta me levou um violão e desenhou alguns acordes num papel, e passei a compor e a cantar pro pessoal da casa. Saí do hospital e fui pra Santos fazer fisioterapia. Fiquei morando na casa do meu primo Zé Ferreira, que me ajudou bastante e, através dele, cheguei à banda de baile The Black Cats, mais tarde Blow Up, grandes amigos que foram muito importantes na minha história musical.

Dos muitos apelidos que eu tive na rua e no futebol, alguns impublicáveis, um que realmente pegou foi ZeGê, que acabou sendo o meu primeiro nome artístico, quando gravei três compactos e um LP na Gravadora Rozemblitt. Através do meu primo Ferreira e mais dois empresários (Sr. Roberto Borroughs e Mario Freitas), cheguei à gravadora que ficava na Rua Conselheiro Nébias, travessa da Av. Duque de Caxias. Lá conheci o trio vocal carioca The Snacks (Edson Trindade, Altair e Fernando) que moravam na mesma rua da gravadora e fui morar com eles. Dias depois, chegou um amigo deles, vindo dos Estados Unidos e se juntou a nós. Seu nome: Tim Maia.

Moramos ali por volta de um ano e meio, toda noite era uma cantoria danada. Eles quatro cantavam todo o repertório black da Motown e eu, pobre caipira, ficava admirado do que via e ouvia. Nesta época comecei a questionar minhas composições, em sua maioria muito românticas. Os empresários ao meu redor apostavam que eu seria um novo Roberto Carlos. Não era o que eu queria. Larguei tudo e fui cantar Bob Dylan, Rolling Stones, Ataulfo Alves e outros, durante oito anos de baile na noite paulistana. A banda Thoró acabou sendo a mais marcante na minha história de bailes. Quando a gente tocava Creedence Clearwater Revival, tremiam os salões da periferia de Sampa. Os anos de baile me deram segurança pra levar minhas músicas aos palcos dos festivais. Aquele ZeGê, menino medroso que se escondia de vergonha atrás dos amplificadores dos primeiros bailes, já não tinha medo de assumir sua identidade: Zé Geraldo.

O PRIMEIRO DISCO SAIU…

Em 84,85. Meados dos anos 80. Acabei de gravar agora o 16º, são dez trabalhos que eu estou fazendo nesse modelo. Agora, por exemplo, se uma gravadora dessas daí, uma multinacional sorrir para mim, que nem aconteceu com o Lobão, por que não? Agora eu tenho condição de discutir com eles, de negociar. Muita gente criticou o Lobação. Não. Ele tá certo. Ele viu quanto valia e foi negociar. Pagaram quanto ele valia e el foi. Isto é natural do ser humano. Burro é o cara que não tem perspectiva de mudar. “Não, eu vou ser isto a vida inteira”. O cara tem que ter perspectiva. Então, eu sou independente, estou muito feliz assim, tenho nosso próprio selo, é modesto, mas se amanhã aparecer um lance desses, por que não? Estou no mercado, sou um artista como outro qualquer e se as circunstâncias de momento forem favoráveis a isso, não tem grilo não. Perdi o pudor completamente. Depois que você chega a determinado amadurecimento, que o sol te queima bastante o pelo, aí você vê que tem mais firmeza no que você quer.

A MÍDIA E A FALTA DE ESPAÇOS

Às vezes é preconceito, às vezes é falta de informação, às vezes é preguiça para o cara ouvir meu trabalho, ou às vezes é grana, o jabá. Foi difícil eu chegar a essa conclusão. Às vezes a pessoas não ouve e não gosta, entendeu? Tem muito cara que me chama de regional até hoje, “o artista regional Zé Geraldo”. O cara não escuta meu trabalho desde o início. Só conhece uma parcela do meu trabalho… às vezes é má vontade mesmo, preconceito, às vezes é jabazeiro mesmo, que só ouve uma coisa se tiver uma grana na mão. O mercado é isso aí.
Olha, custa caro. Custa caro porque a gente as vezes viaja em condições desfavoráveis. O artista, quando está na mídia, tem uma série de coisas que ajudam. Agora, eu acho que o importante é você se sentir íntegro, inteiro, como eu me sinto hoje com meu trabalho. As pessoas valorizam minha música. Estou cumprindo meu papel, estou atravessando aí a minha estrada. Já fui um cara mais amargo nos momentos difíceis que eu passei. Depois eu deixei isto tuodo para trás e vi que eu tinha um grande público que segurava a minha onda e que eu tinha mais é que seguir em frente.

Transcrição da entrevista dada para Marcelo Abud (O Toque)

Zé Geraldo é uma pessoa tranquila e de muitos companheiros e amigos

Ex-pretendente a jogador, e amante do futebol Zé Geraldo toma umas com o ídolo do futebol e um dos últimos craques que o futebol canarinho teve: Sócrates.

Zé Geraldo com sua música auxiliou no engendramento músical de sua filha e também cantora Nô Stopa

Um time de mestres Toninho Horta, Pena Branca e Zé Geraldo

Zé com seu amigo e cantador de muitas cantorias em conjunto Xangai em Vitoria da Conquista- BA

Histórias das músicas brasileiras

Julho 17, 2011

Yamandu Costa não é apenas um músico regional. Assim como Dona Helena, Xangai, Juraildes da Cruz, seu tocar traz uma música brasileira, embora apreciada universalmente. Seu violão entoa o clássico, o erudito, o jazz, mas traz o popular, as modas, os sambas, os pampas, sendo ele um virtuozi no violão e por isso tamanha admiração.

Bastante conhecido por todo mundo Yamandu já tocou em festivais de jazz, música popular entre outros na Alemanha, Suécia, Finlândia, França (com a Orquestra de Paris), Japão entre outros locais. Sua forma única de tocar mostra seu envolvimento no processo criativo. Politizado, apoiou racionalmente junto com outros artistas a candidatura de Dilma.

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Meu pai tinha um grupo de música no sul do Brasil chamado Os Fronteiriços, que tocava em bailes gaúchos. Eles eram um grupo vocal que também fazia shows em festivais, tudo muito bem elaborado, com um nível muito bacana. A minha família sempre foi muito ligada em música.Naquela época eu era cantor mirim dos Fronteiriços. Tinha um movimento nativista, de regional gaúcho, que tinha uma música que falava de machismo. Eu é que a cantava, ainda criança. Era bem cômico. Aí surgiu um cara que queria patrocinar um disco meu. Ele chegou a ser gravado, mas não saiu.

SOBRE O NOME YAMANDU

Sim, era um nacionalismo internacional (risos). Na verdade era mais um sentimento latino-americano muito forte. Eu me criei num mundo que não tem fronteiras, ali onde Brasil, Argentina e Uruguai são a mesma coisa. Falamos também espanhol, tocamos os ritmos daquela região e Os Fronteiriços eram totalmente voltados para isso.

Aliás, eu acho que essa é a minha contribuição para o Brasil, de unir esses países tocando as músicas dos três lados, tanto o choro e a milonga como o tango. Minha missão é juntar essas escolas. É um sentimento gaúcho, do pampa.

Outro dia eu estava lendo umas cartas do Atahualpa Yupanki falando exatamente disso, dessa quebra de fronteiras do comportamento do índio e do gaúcho, quando os dois se fundem na mesma figura. A gente se criou num universo muito patriótico, mas ligado à América Latina em geral.

É que eu nunca liguei para esse preconceito que existe contra a música regional. Eu venho desse berço, toco de bombachas, de alpargatas, e tenho um orgulho danado disso. Só que eu também toco outras coisas, já tendo gravado com Paulo Moura, com Armandinho Macedo.

Esses rótulos não têm mesmo o mínimo fundamento porque a música está acima disso, não é? Hermeto Paschoal também é um músico completamente “regional”, assim como Egberto Gismonti e Gilberto Gil. Todo mundo que faz um trabalho que tem a cara de um país acaba esbarrando nisso, porque é um sentimento popular. Villa-Lobos adorava isso.

O Baden da bossa é muito devagar, não é? Até ele mesmo achava isso. (Ele é conhecido) fora do Brasil. É muito curiosa essa história da bossa nova. Ela é um movimento importante, mas se fala dela como se fosse “o” grande momento. De fama foi, mas não de importância, porque senão não estaríamos fazendo justiça ao samba nem ao choro. O Baden sempre teve muito mais ligação com os dois. Quando ele compôs Astronauta (com Vinícius de Morais), ele flertou com a bossa daquela época, mas ele sempre esteve acima disso.

Tanto que os grandes do movimento sempre namoraram a bossa, mas tinham suas coisas por fora. Tom Jobim, por exemplo, que sempre foi um homem sinfônico, um artista que ajudou a criar aquela história toda, tinha uma cabeça muito maior que a bossa.

A bossa nova é uma música diplomática, que tem um conceito de agregar jazzistas e todo mundo que a possa cantar. Ela é muito importante para o Brasil, mas não está sozinha.

CONTATO COM A MÚSICA- Chorinho

O meu pai tocava cavaquinho. Lembro-me que quando ele tocava Odeon, do Ernesto Nazareth, era uma coisa! Era a música mais difícil que ele tocava, e ele tinha uma grande admiração por ela. Eu ficava até com medo da Odeon.

O choro começou assim para mim. Meu pai era um homem que tinha muita preocupação com os fundamentos, em respeito aos movimentos. E ele me falava: se você quer tocar música brasileira, tem que mergulhar no choro, porque essa música tem tudo. Tem técnica, linguagem, é um tipo de música que existe no Brasil todo, e em cada região do país há um sotaque de choro.

Eu sempre gostei muito de cantar, mas quando o cara começa a tocar tem que se dedicar. Eu ainda não voltei a cantar porque não compus as músicas para isso. Não quero ser intérprete de ninguém. Já tive convite do Paulo César Pinheiro para fazermos uma suíte sobre o Sul, mas isso ainda não me veio.

Mas sinto que a hora está chegando, que cada vez mais eu cantarolo melodias nos meus concertos e parece que a voz quer se manifestar. Mas a gente tem que ter cuidado com isso. Tenho uma voz bonita, canto bonito, mas não é nada especial a ponto de pensar numa carreira de canário.

RECEPÇÂO FORA DO BRASIL

Venho à Europa duas ou três vezes ao ano, mas não é fácil. Às vezes fazemos sete concertos em dez dias, não há tempo para fazer mais nada. Eu gosto de confraternizar com bons músicos de outros lugares depois dos nossos shows, nas tais “guitarradas”, que é como a gente chama na América Latina, de tocar violão junto com os outros e beber cerveja.

Mas aqui tem muito problema com o silêncio, não é? Depois de certa época, sair do Brasil fica parecendo mais uma missão. É importante conhecer outras gentes e lugares, levando a música do Brasil de uma maneira diferente do “oba-oba”.

Transcrição da entrevista ao jornal Alemão DW Welle

O (sempre) jovem Yamandu Costa se junta com Zé Hilton, e fazem a festa no lançamento do Crônicas do Beco, de Leo Sodré

Yamandú Costa, Alessandro Penezzi, Beth Carvalho, Roberta Valente, Rodrigo Y Castro e Hamilton de Holanda, no Galetos SP.

A cantora e sambista Roberta Sá se junta com Yamandú pra fazer um samba. O “estilo” de Yamandu envolve clássico e popular, não se predendo a rotulos.

Yamandú Costa já tocou por todo mundo e com diversos músicos e grupos internacionais . Na foto junto com Renato Borghetti, Frank Solari e Geraldo Flach

Yamandu não é só um violão ressoando sozinho. É um violão que compõe com uma legião de bons músicos como Paulo Moura, Lúcio Yanel, Hamilton de Holanda, Borguetti e muitos outros

Histórias das músicas brasileiras

Julho 10, 2011

Jackson do Pandeiro junto com Luiz Gonzaga e Marinês foram os principais responsáveis por levar a música nordestina em todo o Brasil. Multi-instrumentista, com forma de agir no mundo alegre, festiva e criadora do povo nordestino, Jackson comandava o ritmo no Sudeste principalmente durante as festas juninas e o carnaval.

Com vários discos lançados, ele foi representante da música do nordeste no sul do Brasil, sendo amigo de gente como Alceu Valença, Os novos Bahianos, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Sivuca entre muitos outros. Sua música é contagiante e envolvente de afetos alegres sempre mostrando a riqueza e alegria do povo brasileiro.

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Eu sou da Paraíba meu camarada… muita gente pensa que eu sou Pernambucano, outras acham que eu sou bahiano. Sabe como é todo crioulo pra uns é bahiano. Eu sou da Paraiba da Alagoa Grande. Meu nome é José Gomes Filho, por que Jackson é uma pergunta que muita gente me faz… Por que este nome de Jackson? Este nome de Jackson pegou desde o tempo que você não era nascido ainda, do tempo do cinema mudo… você já ouviu falar de cinema mudo, num já ? No tempo do cinema mudo tinha muito artista com nome de Jack (Jaque), Jacks, Jackson era uma imundice de Jackson, né? Então eu moleque brincando de artista, escolhi um nome… era um fã daqueles, então escolhi o nome  Jack. Mas depois o tempo vai passando, minha mãe quis dar pancada em mim. Ela disse uma vez pra mim: Mas é danado mesmo, batizar um filho com nome de José e ver trocarem o nome assim pra Jack e eu digo mas mãe isto é por causa do cinema… Que cinema o que diabo ? Eu digo mãe não tem problema não… Eu sei que por causa disso eu andei levando tapa depois de rapaz, pra ver tirava por causa da minha mãe, mas não consegui tirar. Dalí eu comecei tocando bateria, tocando tamborim, esta coisa toda, reco-reco, ganzá e pandeiro e a raça foi me chamando Zé Jack. E depois me perguntavam, você não é Zé Jack… você é Jack do Pandeiro. Quando cheguei em Recife, depois de uns tempos, quando minha vida levantou como um avião que levante da pista e o negócio foi indo, foi indo que quando cheguei em Recife no Rádio Jornal do Comércio que eu comecei cantando não pela primeira vez, mas cantando quase oficial e então colocaram um S a mais e ficou Jackson do Pandeiro. Sebastiana foi o primeiro sucesso que eu fiz local, por que eu antes de gravar eu cantava sempre umas músicas novas depois que passava o carnaval, era o tempo que eu pegava pois eu tinha um contrato como pandeirista, ritmista na estação e ganhava 50 mi-réis para cantar um sambinha quando me escalava no programa.  Então eu não gravava não, mas era época de Carnaval, de São João é época que eu me saia bem, aprendi umas músicas no Rio de Janeiro, da moçada que gravava e chegava no carnaval eu arrumava um tutu mais que tinha mas escalação e sempre criava uma musicazinha depois do carnaval, eu tinha uma música nova dos autores da terra para lançar com programa no ar. Eu não gravava nem na cera do ouvido ainda. Então quando chegou Rosildo Cavalcante que foi o rapaz que fez uma dupla comigo, tipo assim Venâncio e Curumba, ele fazia o violão, eu fazia o pandeiro e a gente cantava uns negócinhos e eu tinha Sebastiana preparada para o lançamento depois do carnaval, mas tinha pego umas músicas do Rio para cantar no carnaval. E chegou o produtor do programa e disse ‘Como é seu Jack? Você tem alguma boa ai do carnaval” Digo ‘Tenho”…. Não minto, foi uma revista de carnaval que foi lançada no Rádio Jornal e  o Dr. Pessoa me mandou vestir todo de branco, sabe como é… sapato branco, cinturão branco, camisa. Tava eu e Zé Pilintra. Ai eu tou de branco e perto de entrar no programa chega o diretor e disse ‘ Escuta rapaz, qual é a música que você vai cantar?” ‘Eu tou com um samba e uma marcha que eu apreendi anteontem’… “Não. Você vai cantar aqueles negócio que você canta, aqueles coquinho do tempo da sua mãe’ E eu digo mas rapaz… Eu fiquei com a tromba grande.”Mas o Misseias, você vai me botar pra cantar coquinho e tals aqui, agora que é uma revista de carnaval e todo mundo vai cantar com a grande orquestra e eu com o regional”. “Não Jackson, não fica afobado rapaz, isto é um programa que tem que ter de tudo’. Mas eu fiquei com a tromba grande eu tava ensaiado o carnaval e Sebastiana tava ensaiado que era pra depois do carnaval fazer um lançamento novo. Então eu passei com os rapazes ali do conjunto e passei Sebastiana, ensinei o coro lá pra uma senhora Luize de Oliveira  que você deve conhecer, é aquela mãe das 3 Marias que trabalhava com o Luiz Bandeira. Não Luize eu vou cantar assim assim e lá a senhora faz assim A E I O U Ypsilong e ela disse tá… então coloca lá no script, era a primeira vez que fazia um programa deste na rádio e tava cheio de gente, mas quando eu deixei o A E I O U Ypsilong pra ela, ela não se conteve, uma senhora de idade, mais caricata, meia gordinha, ela deve  morar aqui em São Paulo, e ela não se conteve foi do microfone dela toda jeitosinha e me deu uma umbigada, uma mulherzinha pequena toda entroncada me deu uma umbigada, aquilo o auditório explodiu tudo e eu disse já cagou assim não tem jeito. Aí foi que eu me lembrei do tempo que eu vi minha mãe batendo coco, do trupe e eu disse: Deixa ela vir de volta aqui que eu vou lascar a umbigada. E quando ela veio de lá eu me preparei de cá, bati o pé no chão, castiguei a mulher na umbigada. Aí meu camarada, o negócio virou febre viu. Todo santo dia durante 29 dias de revista nós cantávamos Sebastiana 3, 4 vezes…

Mulher do Anibal foi a segunda gravação. Primeiro foi Forro em Limoeiro com Sebastiana, que eu tinha ido lá em Limoeiro no Norte, no lugar onde antigamente se comprava uma faca na feira daquele cara com as esteiras, cheia de faca, foice, picareta, satanás, tá tudo ali. Então o cara chegava ‘Me vê uma faquinha desta” “Uma peixeira” “O senhor embrulha pra mim bem embrulhado” “Não, leve na cinta senão a polícia toma. Então foi Forro em Limoeiro e depois foi a vez que veio Um a Um com Mulher do Anibal.

A minha cidade rapaz, vou te contar, não sei se melhorou não que eu acho que faz mais de 900 anos que eu saí de lá. Mas eu até gostava de lá entende, nego veio. Por que  tinha o trem, nas outras vizinhas não tinha,  tinha as lagoas pra gente pescar; também passei uma fome da bixiga lá, por isso que eu não quero voltar lá entendeu. Tinha que trabalhar na enxada. Era o que tinha lá em Alagoa Grande, outra coisa mais não tem… aí eu fui para Campina Grande onde o negócio já melhorou a situação. Minha mãe era uma senhora que cantava coco quando  nova, não tinha problema, enquanto ela cantava coco o negócio foi muito bem, tudo positivo, me lembro dela com certos coquinhos que até regravei.Há outro coquinho ela catava e eu peguei pra ficar na recordação.

Como a gente tem poucos amigos, eu você todo mundo. Tem alguns… deixa eu conver se arranjo um amigo, amigo mesmo. Taqui um meu irmão, taqui outro meu irmão , taqui outro que posso dizer que é meu amigo, muito embora não é meu filho, irmão, nada, mas trabalha comigo e topa todas estas paradas comigo. Tive um amigo meu que já…. e bem poucos amigos compadre. A gente tem … muito embora que tem conhecidos, tem colegas, tem por exemplo, me lembrar dos amigos, você conhece Sérgio Bittencourt ? Foi um cara que foi amigo meu. Foi um cara que um dia perguntou: Por que o Jackson não está na vez ? Então este cara é o meu amigo, um cara que faz o bem a gente. Você é meu amigo, me manda buscar no Rio de Janeiro pra fazer programa, está cooperando comigo, com a minha vida, com o meu pessoal, com o meu povo. Outros amigos aí… tem uma variedade muito grande variedade. O Chacrinha por exemplo é meu amigo, Zé Messias é meu amigo, aqui em São Paulo temos Borba um amigão meu, um fã danado, Airton Rodrigues, Dr. Brota, o Brotinha irmão dele, trabalhamos juntos muito tempo, uma imundície de amigos eu tenho, graças a Deus. E de moleque tenho o Pedro de Melo, você não vai conhecer mesmo, nem adiante eu falar, tem o … a maioria já morreram, não existe mais tinha o Rosildo, era compositor fazia música pra mim, este também já tá lá pro setor dele…

Você sabe que uma vez na minha terra- este foi um caso que aconteceu lá em Alagoa Grande- eu passando na casa de juiz de direito e ouvi um sonzinho lá dentro. Era uma moça apreendendo a tocar piano, menina garota… pelo postigo eu escutava o som do piano… lá lá li lá… que aquilo ali o senhor já sabe né, não é garapa. Aí quando eu cheguei em Campina Grande já, desde que eu comecei a tocar, aí eu fui tocar numa boate aonde tinha piano e eu perguntei, pois acostumado a cantar com centro de banjo, cavaquinho e perguntei qual é a marca daqui ? O piano. E eu digo, eu não vou trabalhar mais não. Mas por que ? Eu não dou… cantar aqui com isto aqui… Eu tou pensando que o piano, é a primeira vez que eu ia ver este sujeito, só ouvi o som do cara. Ta vendo este miserável quer fazer aquela goteira tongo-tingo- tan, não dá pra mim acompanhar, não tem balanço pra mim. Mas de noite quando o cara, o Jaime meteu a mão lá no piano, aí eu ouvi a jogada diferente né. Isto foi uma coisa bem gozadinha na minha vida..

(A música) Puxa-saco é o seguinte. Você sabe que muita gente é prejudicado por causa do puxa-saco. E eu fui agora mesmo. Eu estava gravando ali no terminal da gravadora e fui prejudicado por causa dum puxa-saco. Tive que trocar de gravadora. Eu botei o condenado lá e o danado botou-se a puxar que não há quem agüentasse. Agora acho que vou aderir também e vou dizer pra ele que  ele abra o olho que ele tem um puxa-saco a altura. 

Gravei várias músicas de carnaval. Graças a Deus o povo que aceitou e eu fui campeão do carnaval várias vezes.

Transcrição do Programa Ensaio com Jackson do Pandeiro de 1972

Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda,…e o Penúltimo Elino

Os cearenses, bahianos e paraibanos Fagner, Moraes Moreira, Zé Ramalho da Paraíba e Jackson do Pandeiro.

Foto de Hermeto Pascoal e Jackson do Pandeiro. Para Hermeto Jackson era uma referência, o chamando de mago do som.

O magistral do coco, embolada, balance Jackson do Pandeiro e o Rei do Baião Luiz Gonzaga.

Jackson do Pandeiro e sua esposa e parceira Almira, que criaram muitos discos e animaram muitas festas juntos.

Jackson com os sanfoneiros Adelaide e Sivuca que faziam parte do grupo de músicos nordestinos que enriqueceram nossa cultura.

Além de tocar os forrobodos de São João, Jackson foi rei de vários carnavais

Os dois coqueiros e forrozeiros Jacinto Silva e Jackson do Pandeiro filando um rango ou mata broca

Jackson também é do pandeiro e dos maiores tocadores de respeito do Brasil

Mostrando este aqui e algumas batucadas faz o Tio Sam tocar o tamborim

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Histórias das músicas brasileiras

Julho 3, 2011

Pífano, pifaro, pife é um instrumento de sopro muito tradicional da música brasileira. Com uma sonoridade um pouco mais grave e ressoante que a flauta, as bandas de pífanos se organizavam a partir do instrumento e mais alguns de percurssão para criar uma sonoridade popular. Luiz Gonzaga começou assim conforme contou Gonzaguinha.

A Banda de Pífanos de Caruaru é sem dúvida o mais conhecido grupo de pífanos. Foi criada em 1924 (vejam, são quase 90 anos ) pela família Biano, quando o pai Manoel ensinou antigos toques aos filhos Sebastião, de 5 anos, e Benedito,  de 11.  Recrutou depois o amigo  Martinho Grandão para assumir, junto com ele, as percussões. A família Biano percorreu o sertão de Alagoas e Pernambuco por mais de uma década, tocando em festas, casamentos, novenas, enterros e tudo o que viesse. Nas andanças, acabaram parando em Caruaru, em 1939, cidade que verdadeiramente os consagrou. O primeiro disco foi gravado somente em 1972, depois que nosso ex-ministro, Gilberto Gil, “descobriu” a banda e gravou “Pipoca Moderna”. Nesse mesmo ano, se transferem para São Paulo, onde sopraram seus pífanos em documentários, espetáculos e discos de outros artistas. Benedito era analfabeto e fabricava seus próprios pífanos. Quando tocava em espetáculos, dizia: “eles que afinem pelo meu instrumento,  porque aqui  entre nós  é proibido se  meter a entender  de escala”.
Em 1979, a banda assinou contrato com a  Discus Marcus Pereira,  de que resultou a gravação desse disco.
Nele constam a conhecida Pipoca Moderna. Não menos famosa é a Briga da Onça com o Cachorro, em que se desenrola uma briga de sopros.

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Por volta de 1924, Manuel Clarindo juntou seus filhos, Benedito e Sebastião, e resolveu formar uma banda de pífanos. Isso em Caruaru, terra boa do sertão de Pernambuco. Na realidade, tocar pífanos já era uma tradição da família Biano, uma vez que quase todos os antepassados de Manuel, homens e mulheres, tocavam os “pifes”, como se diz na liguagem popular. Mas uma banda mesmo, com repertório definido e tudo mais, isso só aconteceria a partir de 1924 com a formação de “Zabumba de Caruaru”- hoje a mais famosa banda de pífanos do Brasil, já conhecida internacionalmente, cujo 4° LP temos o privilégio de agora estarmos apresentando.
Esta banda- formada por dois pífanos, zabumba (ou bombo, como eles mesmo chamam), surdo, tarol e pratos- pode orgulhar-se de ser, com toda a certeza, um dos melhores exemplos de criatividade popular brasileira. Desde Caruaru, onde acompanhava novenas, tocava nas feiras e nas festas do povo, até hoje, quando se apresenta para platéias mais sofisticadas e enfrenta a frieza dos estúdios, a Banda de Pífanos nos mostra em toda sua plenitude, o vigor da criação do artista popular. Quando ela toca não há platéia por mais fria que seja, que consiga resistir a sua intensa vibração. E da sua musicalidade, mágica e fluente, o que resulta é o entusiasmo incontido de todos- entusisamo esse que certamente será sentido ao se ouvir este disco.

A formação inicial da banda trazia Sebastião e Benedito nos pífanos, Manuel Clarindo no zabumba, além de Chico Preto e LolÔ no tarol e surdo. Com o passar do tempo, muita gente entrou e saiu da “Zabumba de Caruaru”. Manuel Clarindo Biano, seu fundador, ficou até 1955, ano de sua morte. E foi por um pedido seu que a Banda de Pífanos continuou  existindo, quando os filhos de Sebastião e Benedito, na época ainda crianças, assumiram os instrumentos e, junto com seus pais, mantiveram a tradição da Banda e com a formação que persiste até hoje.

Tive a felicidade em 1972, ao lado de Sidney Miller, ser um dos promotores do espetáculo que, pela sua grande repercussão apresentou ao Sul a Banda de Pífanos de Caruaru. Fui uma noite memorável aquela em que aproximadamente duas mil pessoas, quase enlouquecidas com o que estavam vendo e ouvindo, dançavam alucinadamente ao som dos frevos, marchas e “baianos” que o clã dos Biano apresentava no Museu de Arte Moderna do Rio. O sucesso foi tal, que, pelo que me lembro, deixou assustado o pessoal da banda. Talvez até mais assustado que nos idos de 20 e 30, quando repentinamente, se via diante do bando de Lampião e eram obrigado a tocar para os cangaceiros dançarem. Sebastião e Benedito- os remanescentes da banda em sua formação original, relembram ainda hoje, os encontros com o Rei do Cangaço e o sucesso que a banda fazia junto aos “cabras”.
Se, a bem da verdade, não se possa dizer que foi Gilberto Gil quem descobriu a Banda de Pífanos (como é possível descobrir-se algo já descoberto e conhecido por tantos?) não há omo negar que foi o baiano um dos que mais ajudaram a divulgar seu trabalha, quando, num de seus discos, incluiu a famosa “Pipoca Moderna” como faixa de abertura. Foi a partir daí que a Banda teve aberta as portas das gravadoras e do mercado de shows musicais, tornando-se como hoje, um dos grupos brasileiros mais requsitados.

O que diferencia a Banda de Pífanos de Caruaru das outras bandas “esquenta-mulher” ou “cabaçais” (denominações também usuais das bandas com esta formação instrumental é, em primeiro lugar, o seu virtuosismo: Sebastião e Benedito Biano, hoje com 60 e 67 anos, respectivamente, são, com toda certeza, os maiores todadores de “pife” do Brasil e sua precisa interpretação é admirada por todos quantos sabem das inúmeras dificuldades técnicas daquele instrumento, mesmo levando-se em conta critérios menos rigorosos da música popular folclórica. Em segundo lugar, o sucesso da Banda de Pífanos explica-se pela qualidade de seu repertório. Para não falar das notáveis peças folclóricas que executa (entre as quais “Novena” aqui apresentada), a Banda conta ainda com o trabalho precioso de Sebastião Biano, um compositor popular de grande inspiração, autor de “Pipoquinha”, “Pipoca Moderna” e muitas outras obras, isto para não mencionar a verdadeira obra-prima que é “A briga do cachorro coma Onça”, um marco na música brasileira.

Tivemos a intenção de registar neste disco, algumas das mais famosas e conhecidas das obras do repertório da “Banda de Pífanos de Caruaru”. Não só por semos entusiastas de obras como “Cavalinho, Cavalão”, “As espadas”, as duas “pipocas” e “A Briga do Cachorro com a Onça”, mas também pelo fato destas obras terem sido gravadas de forma um tanto dispersa, não tendo nunca aparecido juntas. Este disco, agora, resolve o problema.

A Banda de Pífanos de Caruaru, cuja estréia no disco deu-se oficialmente com sua participação na coleção “Musica Popular do Nordeste”, está de volta, portanto, à casa de onde nunca deveria ter saído. E nós da DISCOS MARCUS PEREIRA, sentimo-nos honrados com este retorno, certos de que não apenas nós, seus mais fervorosos entusiastas, mas também o seu grande público sairemos todos ganhando. E é assim que nós desta gravadora, recebemos de braços, ouvidos e coração aberto, a Banda de Pífanos de Caruaru:

os braços para saudar os amigos,
os ouvidos para ouvir sua grande música e o coração para partilhar a imensa alegria por tudo que eles significam para a música popular brasileira!

Marcus Vinícius

Em 1972 produzimos em caráter não comercial, a coleção “Música Popular do Nordeste”. Seu posterior lançamento comercial e o sucesso que ele teve- nos levou a fundar “Discos Marcus Pereira”. A coleção planejada por Hermílo Borba Filho, inclue gravações feitas e Caruaru com a Banda de Pífanos.

Em 1973, certa noite, recebi a visita de um cientista dinamarquês que já estava no Brasil há dois anos, e de sua filha de 18 anos que viera passar as férias com seu pai no Brasil. A jovem só falava inglês e dinamarquês, línguas bárbaras para minha sensibilidade latino-americana. O meu amigo pediu que mostrasse a sua filha música regional do Brasil e eu, então, coloquei na vitrola as gravações da Banda de Pífanos. A jovem ouiu as músicas em êxtase e, de repente, quando tocou “A briga do cachorro com a onça”, começou a chorar. Surpreso, pedi a seu pai que lhe perguntasse o que estava sentindo e a jovem respondeu que estava chorando de pena do cachorro. Senti, então, mais do que nunca, a linguagem universal da música, o esperanto dos sonhos românticos dos cidadãos do mundo.
Com sua participação na coleção do Nordeste, a Banda de Pífanos de Caruaru ficou conhecida no Brasil inteiro. Depois do lançamento, a Banda de Pífanos passou a ser procurada e, hoje, seus componentes vivem de sua arte. Eu não quero melhor recompensa para o esforço que venho fazendo, desde 1967, de divulgar a nossa música e nossos artistas. Basta-me a mão rude de Sebastião Biano apertando, com amizade, a minha.

Marcus Pereira

Transcrição do texto do LP “Banda de Pífanos de Caruaru”, o primeiro LP do grupo e que foi lançado pelos Discos Marcus Pereira. Confira a capa e contracapa abaixo e clique nas imagens para ampliar.

Capa e contra capa do disco da Banda. Para baixa-lo CLIQUE AQUI.

A banda em 1999 entrou para gravadora alternativa Trama de João Marcello Boscoli e trouxe a música das bandas de pífanos para um novo público.

Ao lado de Lula, Dona Marisa e do velho amigo Gilberto Gil, A Banda de Pífanos de Caruarú recebeu o Prêmio de Mérito Cultural de 2006.

Mesmo sendo bastante antiga a Banda carece de informações nos arquivos públicos, mas isto não diminue a força da bandinha de continuar…

Oia eu aqui de novo… no pifé, tarol, zabumba, surdo triangulo, voz e alegria….

Histórias das Músicas Brasileiras

Junho 19, 2011

Papete é um percurssionista, cantor, compositor e folclorista maranhense. Maranhense e brasileiro, Papete (que na verdade é um nome-apelido) estudou e representou grande parte da música brasileira.

Em suaa música se percebe uma riqueza cantada da tradição maranhense e nordestina que provém do encontro da música dos negros (presente no tambor de criola, mina, jongo, etc), dos indios, dos brancos lusitanos, mouros entre outros.

Além de diversos discos gravados, Papete gravou com Marília Medalha, Alzira Espindola, Tetê Espindola, Grupo Bendegó, Nilson Chaves, Divino Arbués,Toquinho, Francis Hyme, Alaíde Costa, Tavito, Jane Duboc, Vânia Bastos, Eduardo Gudim, Fafá de Belém, Ornella Vanoni, Angelo Branduardi, Sadao Watanabe,  Sadé Adouh entre outros.

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Nasci em 08/11/1947, nas “brenhas”, no “sembal” do interior do Maranhão, chamado Bacabal. Fui batizado como José de Ribamar Viana (nascido sob o manto protetor do Santo Padroeiro dos maranhenses, São José de Ribamar). Em um almoço com o artista plástico Aldemir Martins e outros músicos no centro de São Paulo, Aldemir olhou pra mim e, em tom de brincadeira, falou que eu não tinha cara de maranhense, mas de um taitiano, país cuja capital é Papeete. Eu não gostei, preferia ser chamado de Ribinha, mas quando não gostamos do apelido, ele pega na hora. Do almoço pra rua virei Papete.

Em minha casa, uma “meia morada” no Largo de Santiago, em São Luís – MA, minha falecida mãe adorava comprar as “bolachas” de vinil 78 rotações e ficar horas escutando os cantores de sucesso da época. Além de ficarmos ouvindo no velho rádio Philips os programas de rádio do Rio de Janeiro, São Paulo e as emissoras do Caribe e América Central. Fora isso, tinha o serviço de alto-falantes do bairro da Madre Deus que tinha seu som peculiar trazido pelo vento com as canções de sucesso da época e os sons dos vários grupos de Bumba-meu-Boi e de Tambor-de-crioula do bairro da Fonte do Bispo, ali perto de onde eu morava. Tudo trazido pelas lufadas de vento que amenizavam o calor da Ilha de São Luís.

Tive o prazer e a honra de estudar no Colégio Marista de São Luís por oito anos, onde aprendi quase tudo, inclusive o francês e inglês. Estudei Latim, que me ajudou no conhecimento pleno da língua portuguesa. E fiz um curso livre de reportagem fotográfica na FAAP, em São Paulo. Fotografar é meu hobby. Além de ter aprendido a ser verdadeiramente um músico trabalhando por sete anos na melhor casa de música do Brasil que foi O JOGRAL (Bar de Marcus Pereira e Luis Carlos Paraná). Meu aprendizado musical foi e é como autodidata. No O JOGRAL em São Paulo iam os melhores artistas brasileiros e internacionais, estes de passagem por aqui para shows. Ali aprendi de tudo. Foi o inicio de uma trajetória que jamais seria como foi, caso eu não tivesse dado meus primeiros passos lá. Não sabia ainda tocar muito bem, mas fui observando um e outro e daí pro aperfeiçoamento foi um pulo só.

Eu estudei muito pouco enquanto metodologia musical. Apenas fiz de meu senso de observação e de meu ouvido atento minha sala de aula. Ouvi muito Rubens Bassini, Ayrton Moreira, Chacal e tudo o que me era permitido ouvir de música afro-brasileira. E quando escutava algo que ainda não conhecia corria pra praticar até tocar igualzinho a quem havia gravado aquele ritmo.

Minhas influencias musicais vão de Waldick Soriano a Luiz Gonzaga e Tears for Fear. Sempre escutei de tudo sem preconceito. Até naquilo que se considera o lixo da música existem coisas a descobrir e que nos surpreendem. Sempre gostei de rock, música latina, africana, baladas italianas, mantras indianos e por aí vai. Meu grande ídolo sempre foi o Gilberto Gil – o mais brasileiro dos compositores. Mas nunca deixei de apreciar o trabalho do Ivan Lins, do Clube de Esquina – MG, do Djavan, do genial Paulinho da Viola e outros sambistas. A Clementina de Jesus, com quem gravei um excelente disco de Jongos. Sempre fui antenado em tudo e em todos, fui alicerçando meu conhecimento musical universal. O trabalho do Chico Buarque deixou de ter importância para mim. Uma decepção! Eu jamais esperei que alguém como ele, que arrastou multidões em torno de sua obra musical, tenha pouco interesse em compor ou fazer apresentações ao seu grande público. Isso me soa um tanto incoerente com tudo aquilo que por ele foi pregado em momentos que lhe foram oportunos. Aprendi muito ouvindo o Gilberto Gil e o Milton Nascimento.

No Brasil sou fã de Cauby Peixoto, Waldick Soriano, Emilio Santiago, Elis Regina, Gal Costa e uma cantora maranhense que vive na França chamada Anna Torres. Além destes tem a Ornella Vanoni, a Sarah Brightman, o Art Garfunkel, o Paul MacCartney. O Milton Nascimento é fenomenal, mesmo nesta fase sem a mesma voz de outros tempos. Penso que o Gilberto Gil canta melhor que o João Gilberto, principalmente quando o assunto são músicas lentas ou em ritmo, digamos, Sambinha quieto ou Bossa Nova. Acontece que o Brasil é terra de cego, portanto quem tem um olho é Rei.

(Tenho) Vinte e dois álbuns gravados. Os vinis foram todos convertidos em CD, dos quais 11 dedicados exclusivamente ao registro da música do Maranhão. Os discos que fiz para extinta gravadora Marcus Pereira ganharam todos os prêmios dados pela critica na época. E tem um disco que se chama “Planador”, de 1982, que vendeu mais de 100 mil cópias, coisa rara. Tem um disco de 1978 intitulado “Bandeira de Aço” que foi um divisor de águas na música maranhense, pois até o seu lançamento ninguém sabia que no Maranhão se fazia música, ou melhor, aquelas músicas tão boas e poéticas. (Na cultura maranhense me influenciou tudo…) Os tambores, os cantos, a cultura afro-brasileira, a “MINA”, o tambor-da-mata, os pandeiros. Enfim, os terreiros onde podemos apreciar coisas inacreditáveis como pessoas que tocam desde meninos e improvisam sem nunca ter estudado aquilo. Apenas sentimento passado pelo Santo da Nação a que pertencem.

Há algum tempo vem escasseando meu processo de compor. Estou devendo isso a mim mesmo. Mas quando eu componho sinto que as coisas acontecem de forma rápida e precisa, sem muito a mexer. Nunca tive parceiros musicais, salvo um ou outro que se conta nos dedos como Chico Saldanha, Celso Borges, Mano Borges, Beto Pereira e etc.

CENA  “BRASILEIRA”

No Brasil o jabá já uma instituição. Entendo que sem ele as rádios continuariam funcionando, salvo alguns exageros. É uma vergonha ter de pagar por um serviço que é a expressão cultural do país.

No atual quadro em que se encontra nossa tão combalida MPB, com esses gêneros elevados à condição de “movimentos culturais”, fica difícil seguir por uma estrada em que o bom gosto e a qualidade sejam sinônimos de dever cumprido. As pessoas sempre são atraídas para outras direções, mais apetitosas, no sentido de ganhar a grana de modo mais rápido. Nada contra, o Sol nasceu pra todos. Mas não entendo como num país com tanta diversidade cultural, ainda se tem de escutar a exaustão os “CRÈUS” da vida (e da morte…), os forrós com letras pornográficas. Músicas e interpretes todos iguais, além das bailarinas que mais parecem saídas daqueles bordéis de beira de estrada. O Tom Jobim já disse uma vez que a única saída para o músico brasileiro é o aeroporto internacional. E eu de vez em quando fico pensando que isso ainda é uma verdade maior para quem está ingressando numa carreira musical. E que possa servir de exemplo para tantos outros que nela queiram se aventurar.

Eu não tenho medo em afirmar que esses movimentos existentes atualmente como o Funk do morro carioca, o “New forró” do Nordeste ou algumas “revelações” que pontuam na mídia nacional não correspondem ao verdadeiro espírito da cultura popular brasileira. Mas lhes falta adubo de qualidade e uma ressonância autêntica para justificar o sucesso alcançado. São fruto da ação de oportunistas de plantão que manipulam um povo mal informado, sem conhecimento de suas reais referências culturais. Daí tudo ser transforma em um produto de rápido consumo, patrocinado pelo pagamento altíssimo do “jabá” a canais de rádio e TV que não se preocupam em pesquisar ou apresentar em sua programação coisas de maior valor. Tudo tende a se transformar em resultados imediatos, sem a preocupação em adubar, plantar, regar, ver crescer, colher e saborear o que realmente tem vida de fato.

(Dos percussionistas lamento) A falta de compromisso com a identidade nacional por não ter a experiência adquirida pelas viagens pelos mais distantes rincões de nossa terra e convivendo com o povo simples, seus costumes e sua criatividade. O músico brasileiro, de modo geral, ainda vive aquele complexo de vira-lata de querer tocar igual aos músicos de jazz dos Estados Unidos. Esquecem que vivem em um País em que as nuances musicais são bem mais interessantes e criativas do que nos EUA, mesmo reconhecendo ser o jazz a maior escola para a técnica e os improvisos, mas nada, além disso, pois a sensibilidade brasileira supera tudo isso com sua ginga, sua fantasia e sua ancestralidade.

Feliz é a chance de ter viajado pelo mundo e conhecer mais de 30 países, aprendendo com suas diferentes culturas e tocando com muita gente boa durante mais de 15 anos, além de viajar pelos quatro cantos do Brasil, pelos cerrados, pelas veredas e pelos sertões mais escondidos, pelos pantanais, caatingas e gerais, cidades e litorais, conhecendo nossa gente simples, criadora e criativa e aprendendo tudo o que sei e sou. O que me deixa mais triste é ter de topar com pessoas que receberam a dádiva divina de ser músico e não sabem corresponder ao Dom nem tão pouco ser grato. É um total desrespeito ao seu público, traduzido na intolerância, no ato de não proporcionar sequer um BIS às pessoas. Não atender aos pedidos daqueles que saíram do conforto de seus lares para prestigiar um artista que “não está nem aí”. Sem o público não existe o artista, pois é do público que vem as únicas e reais respostas ao trabalho de quem se mete a fazer arte: a vaia e o aplauso.

Transcrição da Entrevista feita por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa (Ritmo e melodia)

Papete é um cantador popular das riquesas músicais do nosso Brasil. Sua terra, o Maranhão além das explêndidas festas  tem diversas expressões musicais como o tambor de criola, de mina, caribe, cacuriá, bicho terra, e muitos outros. Na foto Papete está ao lado de dona Teté, que participa do Cacuriá de dona Teté.

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A partir de 1970 Papete é uma das grandes atrações do “Jogral”. Maranhense, profundamente interessado em música popular latu sensu, dedica-se à pesquisa e é considerado pela crítica de todas as tendências como um dos maior percussionistas do Brasil. Foto e texto do livro ” A História do Jogral” de Marcus Pereira.

O bumba-meu-boi é uma folguedo brasileiro presente em nossa história e cultura e que no Maranhão tem sua representação maior. Tem bumba-meu-boi de orquestra, de camara, de tambor de onça entre outros. Papete entoou algumas músicas de boi em “Bandeira de aço” trazendo musicalmente em seu estudo a tradição e personagens do bumba-meu-boi como Catirina por exemplo.

O bumba-meu-boi tem reprentações em parte do Nordeste. No Sul há locais que tem um tipo diferente de boi como o Boi Mamão que traz uma outra história. Já o boi bumbá amazonense é um simulacro que tenta se passar como cultura popular, mas na verdade é um esvaziamento pela cultura mercadoria comandada pelo capital cocacolanestlelizado, além da direitaça do estado.

Tendo em vista sempre a cultura e expressão de nosso povo Papete estudou os ritmos e grande parte da percussão brasileira para botar pra fora sua musicalidade. Com os discos marcus pereira, lançou 3 Lps sobre a música popular de Maranhão e organizou a série Música Popular do Brasil.

Ao vivo Papete mostra pro povo o que é do povo sendo ele próprio povo.

Histórias das Músicas Brasileiras

Junho 12, 2011

João Rubinato é o nome daquele conhecido como Adoniran Barbosa. Filho de imigrantes italianos que foi frequentador do bairro paulista-italiano do Bixiga. Apelidado de Rei da estufa por gostar tanto de pastéis, Adoniran é o principal nome do samba paulista ao lado de Paulo Vanzolini.

Um diletante que realmente viveu a vida no pagode e alegria, Adoniran trabalhou no cinema, na rádio, em espetáculos. Suas músicas foram primeiramente gravadas pelos Demônios da Garoa com quem emplacou diversos sucessos criando estrionicamente diversos personagens cômicos. Teve muitossimos sucessos que foram gravados por dezenas de outros músicos como Eliz Regina, Maysa, Silvinha Telles, Aracy de Almeida,  Rolando Boldrin, Gonzaguinha, Gal Costa, Trio Marayá, MPB-4,  Clara Nunes, Clementina de Jesus, Adoniran Barbosa, Carlinhos Vergueiro. Para muitas outras histórias de Adoniram, confira esta recheada bio-musico-grafia do Blog do Nassif.

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Eu nasci em Valinhos em 19… quer ver como é o negócio, eu nasci em 12 (1912), né. Mas pra mim trabalhar depois arranjaram um batistério, sabe o que é batistério. Pois é antigamente se chamava batistério, hoje é atestado de nascimento. Como eu tinha nascido em 10(1910)  ter dois anos mais para poder trabalhar, compreende filho? Que na fábrica não aceitava com 10 anos só com 12 e me arrumaram um de (1910) pra eu pegar o basquete logo cedo, aí que é o busílis entendeu?

Em Valinhos eu não trabalhei, eu só nasci lá, depois vim pra Jundaí, de Jundiaí fui pro grupo escolar Coronel Siqueira Moraes. O meu número era 245, elefante, nunca deu este número no bicho… até hoje eu jogo não dá nunca. Dalí do grupo fui trabalhar no hotel, entregar marmita. Eu entregava marmita e viu, querido amigo, no caminho eu tinha fome sabe. No caminho eu abria a marmita e contava os bolinhos. Se a família tinha duas pessoas e tinham 6 bolinhos eu afanava dois no caminho, compreende , eu comia dois. Se a família tinha quatro pessoas e vinham 10 pasteizinhos, eu comia 2… malandrinho já, sabe? Não era malandro, era espertinho, eu tinha fome… era fome não era malandragem. Em Valinho eu trabalhei em metalúrgica, trabalhei em fábrica de tecidos era tecelão… não era com fiação. Trabalhava das 4 da tarde até as 11 da noite e ganhava 400 réis por hora, era um dinheirão. As vezes eu não queria trabalhar sabe e eu não ia trabalhar, pulava o muro de uma coxeira eu dormia nas baias onde os cavalos comiam capim até as 11. Quando o pessoal que trabalhava lá passava e dizia Alô, aí eu acordava, pulava e ia pra minha casa… malandro eu. Vivia, mas ruim de roupa compreende?

Pintor de Parede em Santo André. Quer ver Santo André ? Gozado a minha vida rapaz, fica quieto. Em Santo André eu fui encanador de água e esgoto, viu? Eu abria a valeta e cobria eu e você junto na picareta. Eu e um garotinho me ajudando. Abria a valeta e cabia eu e você no encanamento. Depois fui mascate, vendia retalho na rua… retalhos de tecidos. Vendia meia… Tanta coisa que eu fui, rapaz! Só fazia samba no caminho andando… eu já queria fazer samba. Eu nasci já querendo fazer samba, não tem começo, se bem que eu não parava em emprego. Balconista, se uma freguesa queria comprar um negócio eu ficava batucando, vivia batucando e me mandavam logo embora (Esta caneta é minha depois tu me dá)

No rádio eu entrei no rádio pois eu quis entrar. Ninguém quis que eu entrasse no rádio e até hoje ninguém quer. Até hoje batem na minha cara a porta. Pra mim foi duro entrar no rádio,filho! Foi duro, eu entrei como calouro na rádio Cruzeiro do Sul; ali eu cantava um samba do Noel Rosa bonito chama-se Filosofia, é Ré menor, né? O Jorge Amaral era locutor, e o Jorge Amaral, gozado…. aí eu fui aprovado com o Paraguassu e tudo como sambista. Aí em São Paulo, na rua 7 de abril fui fazer um teste com ele pelas 11 horas da noite com um outro samba. Ele na técnica, com aquela banca dele de técnico, aí eu terminei de cantar e ele disse: rapaz você é bom para acompanhar defundo… ele falou na minha cara ele falou não tinha dedo viu? Mas eu não desisti não, eu tava mentindo pra ele mesmo…

Eu fiz pro carnaval uma marcha em 1935 “Tô na Boa”, com J. Aimberê fiz uma marcha pro carnaval da prefeitura, Carnaval oficial da prefeitura,  eu ganhei o primeiro prêmio e deram 500 cruzeiros, o que é hoje 500 cruzeiros, é 50 centavos né? E deram em cheque no Teato Boa vista na rua Vista e eu tinha 2 amigos naquela noite. Quando eu ganhei o prêmio e recebi o cheque veio 20 amigos rápido tudo atrás de mim: “Adoniran você é o maior,Salve ele… Adoniran troca o cheque…’ e eu troquei o cheque na marra, e põe birra, birra… Eu tinha mandado fazer um paletó, escute esta aqui, pra ir buscar no outro dia né? E eu não fui buscar o paletó, pois o dinheiro não deu, acabou na mesma noite, rapaz… Bebemos tudo, fui a pé pra casa, morava na Rua Vergueiro… Era uma porcaria de marcha mas ganhou o primeiro lugar, na época era espetáculo, mas hoje…

Maldina, o primeiro samba que eu dei pros os Demônios da Garoa… É ganhamos o primeiro prêmio na rádio Assunção… 10 contos…. outra historinha engraçada, gastei os 10 contos numa cantina: eu, minha mulher, eles, as senhoras deles, a família toda em uma cantina, o Egas Muniz, meu amigo que já morreu, também estava comigo e ele disse: segura a gaita do automóvel, não vai a pé pra casa… E eu segurei o dinheiro do carro se não ia a pé para casa, o resto só em pizza e vinho, os 10 contos. Você sabe o que é 10 contos em 1950? Era tutu…. Ele foi pra Record trabalhar lá e nós ficamos amigos em 45 e ficamos até hoje amigos. Brigamos sempre massomos amigos… Conheci oMolles no Correio Paulistano, na Rua Libaro Badaró este foi meu grande amigo, morreu coitado. Este cara não existe outro igual, nunca vai haver outro igual Oswaldo Molles. O cara era 100%. Criou tipos pra mim, ele via em mim uma coisa pra ele, entendeu? Era recíprocro. Então eu dizia uma coisa e ele achava graça… Ele fez pra mim o exército judeu, um exército rabinovish da rua José Pausinho. A senhora no que fala… A senhora compra agora custa 100 mil reis, a senhora dá 100 agora e o resto paga um pouco por mês, não tem importância. Judeu assim fazia. O professor de inglês de Charles Moore, tradução… este já não lembro faz tempo isto, Esmagate o vénito… aí venho o Charutinho que foi o famoso das malocas e criou muitas coisas engraçadas, também do Oswaldo Molles, não pensa que é só criação minha. Charutinho dizia: Depois que acabar nóis vorta, chora na rampa negão, aqui Gerarda, chora na rampa negrão, vem aqui o que que há….

Voltando pra Jundiaí, na fábrica eu era varredor, sabe o que é varredor ? Eu varria o salão, então quando eu não varria direito o corredor, “Joanim barredor vem aqui”, em vez de varre dizia barre. Em vez de varreu dizia, ele não barreu aqui, barre aqui rapaz. Joanim barredor era o máximo, era o fim da picada, era o máximo e pra mim tava tudo bom…

Ernesto Caporino, ele existiu… Ele convidou a gente pra um samba. E eu fui lá com os meus maloqueiros, com fome, e não tinha comida, não tinha nada. Marcaram meio dia, cheguei a uma. Uma panela do arroz só com a casca do arroz por baixo… E eu raspei a panela por que tava com fome e o feijão não tinha mais nada, e eu raspei o caldeirão de feijão.

Otávio Mendes… Conheci Otávio, Raul Duarte, Mario Sena, meu amigo, Brota Junior, Mario Sena de andar junto dia e noite, cantor de tango, era um boêmio bom, bebia umas pinguinhas leve comigo de noite, sabe? Garçom eu conheço todos eles, pois a primeira coisa que  eu faço no restaurante, no bar é conquistar o garçom. Eu digo: Quanto? E ele fala cinco. Eu digo (faz som com conotação negativa). Tá bom três. Quantos pasteis? Oito! Não, três… Tá bom três. Tu comeu ovo, ovo com ovo, quantos? Só comi dois, tá bom… Aguenta aí é dois… Já fico amigo deles, não tem problema.

Não é dorme, o certo é drome. E também não é degrau é dregau, agora se quiser falar degrau pode, mas o certo é dregau… Este samba eu fiz quando na São João tavam demolindo aqueles prédios velhos, aquelas mariposas fedorentas caiam, você lembra, na calçada de noite, de madrugada. E elas vinha na luz da Light, batiam na luz, as mariposas amarelas feias e eu fiz as mariposas quando chega o frio (canta As Mariposas)…

Você vai me fazer chorar e eu não posso chorar, os dois morreram em 39 (fala dos pais) e eu sou muito frágil, sabe. Eu não moro perto de maloca, moro encostado de maloca, vizinho de maloca, tem um monte de maloquinha bonita, eu moro aqui na cidade Vila São Paulo, sou corintiano, e lá também tem maloquinha. Na minha rua não tem luz, na minha rua não tem água. É poço se quiser e fossa se quiser, fala pro seu Ferretti que dar um jeito. Eu tenho que pagar cedinho pros assaltantes senão eles pegam nosso violão, nosso pandeiro.

Prova de carinho é minha e do Marcos Cesar, foi na Tupi, peguei segundo lugar, ganhei uma notinha boa lá. Festival do Flávio Cavalcante que era o apresentante, o apresentador, o animador. Foi na Bienal então.. Á este samba agradou pacas na Bienal (Festival de Música Carnavalesca) foi o mais aplaudido, então o Ramirez falou assim para mim: Adoniran, fala pra arranjar o segundo lugar, pois o primeiro já é teu. Todo mundo bis que te bis. E eu disse já ganhei o primeiro lugar.  Mas depois o Chico Buarque ganhou com Passarinho… Aí eu cantei no salão do Paramont. Ninguém saia do teatro… Tudo na porta vendo o pessoal cantar o samba. Por que eu desci com o pessoal pela praça do Correio, aí ficamos até umas 2 da madrugada na rua. Aí cheguei em casa e minha mulher tava chorando, coitada por que ela viu pela televisão e eu falei, O que que cê tem? Eu perdi… não tem nada filha, a gente vai pra outro festival e eu ganho outro… Ela disse não é isso que eu estou chorando, eu tou chorando é por que nossa cachorrinha fugiu e até agora não apareceu. E eu pensava que era por minha causa. Tá bom então, otims e eu achei que era por causa do meu samba e não era, era por causa da cachorrinha, da minha loirinha que tinha fugido.

Transcrição do Programa MPB Especial (Ensaio) de 1972.

” Quem quiser encontrar Adoniran Barboa, procure a filha do dono do bar que fica em frente à TV Record, na Avenida Miruna. Ela provavelmente, apontará alguém sentado, de chapéu de aba estreita, torto e inclinado como um barco a fazer água, no velho estilo dos malandros de todos os tempos e todos os lugares (…) Adoniran depois de 1 hora da tarde, quando termina seu expediente no pequeno bar do aeroporto, sai por aí, para assinar o ponto de velhas amizades. E se alguém recusa o uísque que ele oferece: “Não faz mal não E é tão bom”. E lá vai gingando, empurrado pelo motor de sua enorme alegria de viver, como um velho barco acostumado a ancorar nos portos da camaradagem. Na personalidade introvertida de São Paulo, na casmurrice de seu temperamento, como na frieza de seus relacionamento, os dois compositores encontraram a composição para suas músicas- como em Praça Clóvis de Paulo (Vanzolini), e em Saudosa maloca de Adoniran. Em Arnesto, de Adoniran, e Ronda de Paulo, os compositores, com a autoridade de amigos fiéis, denunciam a cidade que separa os homens. Ou que os aproxima, como a Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa, velhos companheiros de música e boêmia, neste fascículo e fora dele.”

Marcus Pereira para o fascículo-LP Nova História da Música popular brasileira

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Adoniran Barbosa canta Vila Esperança, que ficou em segundo lugar no Festival de Música Carnavalesca no auditório da TV Tupi, ao lado do grupo Demônios da Garoa.

Um encontro histórico Adoniran Barbosa, Billy Blanco, Cartola e Nelson Cavaquinho

São Paulo vive em Adoniran e ele está vivo lá, no cheiro, nas formas, no samba.


Moro em Jaçana, se eu perder este trem…

Samba é pra ser batucado em qualquer lugar e coisa. Adoniran batucou a vida e continua a chaqualhando

De tanto levar frechada do teu olhar… Elis Regina e Adoniran fizeram algumas rodas de samba pelo Bixiga e São Paulo… Manda a frecha..

Uma capacidade de atuar no mundo, Adoniran teve vários personagens. Na foto seu personagem no cinema Arrocinha de Mazzaropi

Adoniran BAR-bosa- Samba, Boêmia, cervejinhas, canas e alegria

Clementina de Jesus e Adoniran Barbosa, Matilde e Carlinhos Vergueiro

Dá corda pro Adoniran pra tu ver só…. Malandro é malandro

Adoniran foi compositor campeão com a Escola de Samba Santo André

Adorinan trabalhou com tudo, até no rádio.

Adoniran Barbosa no Bar Jogral. Na foto ainda aparece Luis Carlos Paraná (de óculos abaixo). Foto retirada do livro sobre o Jogral de Marcus Pereira

Adoniran um amante da vida

Tiro ao álvaro

Pra Animar a festa…

Adoniran, um retrato urbano vivo em São Paulo de todos tempos

Adoniran Barbosa. Tantas histórias e causos destes mais de 100 anos que enche bibliotecas de vozes…


FOTOS EM RESOLUÇÃO MAIOR- CLIQUE PARA AMPLIAR

Histórias das músicas brasileiras

Junho 5, 2011

Tribo de Jah são um nome que salta no reggae brasileiro e da América Latina. Com quinze anos de existência a história da banda Tribo de Jah inicio-se na Escola de Cegos do Maranhão onde se conheceram os quatro músicos cegos e um quinto músico com visão parcial (apenas em um olho), lugar em que viviam em regime de internato, começaram a desenvolver o gosto pela música improvisando instrumentos e descobrindo timbres e acordes.

Em diversos cds lançados e um cd-tributo a Bob Marley, a banda propaga o reggae por todo o mundo.

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Todos os integrantes da Tribo, menos eu (Fauzi Beydoun), nasceram no Maranhão (capital e interior). Eu nasci em Assis, interior de São Paulo e depois de muitas andanças me radiquei no Maranhão. Quando conheci os meninos da banda. Eles já tocavam em banda de bailes e tinham se conhecido na Escola de Cegos do Maranhão. Eu era radialista e fazia programas de reggae em AM e FM diariamente. Mas fazia shows também como músico “free lancer”.  Daí foi que senti  necessidade de ter uma banda genuinamente de reggae, com músicos e identidade própria. Foi assim que, procurando um equipamento completo de uma banda para montar um grupo, me deparei com os meninos que então tocavam numa banda de baile chamada: “Reflexo”. Comprei o equipamento e como eles iriam ficar desempregados devido a essa Aquisição. Convidei-os para fazerem parte do grupo explicando exatamente qual era o meu propósito. Alguns deles me reconheceram pela voz, e disseram que eram ouvintes do meu programa no rádio. A partir daí, em 1986, começou a Tribo de Jah.  


As referências para a Tribo de uma forma geral foram muito diversas porque no Maranhão todo mês tinha uma ou várias musicas novas emplacando nas rádios e radiolas por todo  o lado e com isso, a cada hora, estávamos com os ouvidos voltados para as novidades que iam aparecendo. Alguns nomes indiscutivelmente se destacaram para nós, como Gregory Isaacs, The Gladiators, etc. Em alguns momentos a gente se ligava num som que surgia no salão de reggae e ficava amarradão. Pra mim, isso aconteceu com nomes como Jimmy London, Ken Fyfe, Owen Gray, Joe Higgs, etc. No meu caso também, antes de chegar ao Maranhão já ouvia muito Bob Marley e Jimmy Cliff, então num primeiro momento eles tiveram também lá sua influência.

O fenômeno do reggae em São Luis é realmente algo incrível, de difícil explicação. O que eu acho mais curioso é que esse fenômeno aconteceu no Maranhão seguindo o mesmo roteiro acontecido na Jamaica, mas isso com uns trinta anos de diferença. A história dos “sound-systems”, como são conhecidos, na Jamaica e “radiolas” no Maranhão seguiram o mesmo processo, tanto aqui quanto lá, e mesmo trinta anos depois, o mais incrível é que a coisa no Maranhão aconteceu espontaneamente sem que ninguém nunca imaginasse que algo semelhante teria acontecido numa pequena ilha do mar do Caribe. Na Jamaica, década de 50, o reggae nem existia e os donos dos “sound-systems” iam até os Estados Unidos pra trazer musicas exclusivas para suas equipes de som mecânico, geralmente perolas do rythm and blues, e invariavelmente riscavam os rótulos dos discos pra ninguém saber de quem se tratava (principalmente os concorrentes). No Maranhão isso também acontecia só que com fitas cassetes, e os djs e donos de radiolas faziam de tudo para ocultar os nomes e procedências e suas músicas também para enganar a concorrência, no caso, as outras radiolas. De qualquer maneira, foram as radiolas as grandes responsáveis pela difusão do ritmo no Estado, uma vez que as rádios realmente não tocavam reggae em suas programações. O primeiro programa que apresentei em São Luis junto com Ademar Danilo foi pioneiro nas estações FMS da Ilha. O que é mais fantástico em São Luis certamente são os salões de reggae. Uma cultura do gueto que aflorou com uma linguagem às vezes rude e às vezes extremamente sensual.  A maneira como se dança, se veste, se comporta, como se elege um reggae e o transforma numa “pedra” ou “pedrada” (um reggae irresistível), tudo isso é um mistério meio sem explicação. A magia das festas nos povoados e sítios do interior, debaixo de mangueiras e barracões precários de barro e madeira, a rivalidade dos clubes de reggae e das radiolas, tudo isso é um filme que ainda está bem vivo na minha cabeça. Acredito que o maior acervo de reggae raiz do mundo hoje se encontre no Maranhão, graças à persistência dos djs, donos de clubes de reggae e de radiolas que iam buscar discos na Jamaica, Inglaterra ou aonde tivesse, isso por anos a fio.

A banda escolheu, nós optamos por fazer o trabalho independente, abandonamos a gravadora e lançamos o “Love to the World” e o “Babylon Inside” de forma totalmente independente.Isso aí (gravadora grande) foi um fato novo, que veio através do antigo presidente da “Indie Records” (antiga gravadora da Tribo) que lançou uma gravadora nova que é a LGK, ele está sendo distribuído pela “Som Livre” e eles tiveram total interesse em lançar esse trabalho novo da Tribo, o que também é muito importante, pelo fato da “Som Livre” ter essa projeção nacional muito grande, e para gente a distribuição é muito importante.

 O Brasil é um país muito grande, com dimensões continentais, isso faz com que o fenômeno aconteça de uma forma diferente. Veja o Maranhão como um pólo irradiador que influencia o Ceará, o Piauí, o Pará, o Amapá, influencia Alagoas que tem salões de reggae nos moldes do Maranhão. O Maranhão tem artistas de reggae que não são conhecidos no sul, quem conhece Owen Gray, que é um dos maiores idolos do reggae no Maranhão? Jimmy London, Jack Brown, Stanley Benford, são ícones do reggae no Maranhão mas não são conhecidos no sul, tem um grande movimento de reggae no norte e nordeste que ainda não e conhecido no sul, acho que essa grande dimensão do país é o fator que faz com que os movimentos fiquem relativamente ilhados. Mas há um movimento de escala nacional, se você for à Brasilia, você encontra radiolas maranhenses, e a galera não sabe as vezes, tem a cena reggae central, mas aonde o bicho pega ainda é no gueto, na periferia. Isso não acontece apenas com o reggae, mas com muitos estilos musicais, por exemplo, o forró do nordeste não tem tramite no sul do país, aquele forro mais pausterizado da Bahia, do Ceará, aquele forró mais pesado que fazem o maior sucesso no norte mas que não fazem sucesso algum no sul. Mas no geral, o reggae tem penetração nacional, com suas varias nuances, e hoje você vai ao sul, sudeste e até o vovô, a titia sabe o que é reggae, não como antes, quando alguém perguntava o que a nós tocamos e diziamos: faço reggae, o cara falava, faz o que? Que bicho é esse??? (risos). É reggae, Bob Marley, tinha que explicar por que ninguém sabia, hoje isso já não acontece mais.

Creio que o mercado do reggae no Brasil está em franco crescimento e tende a se consolidar ainda mais, abrindo perspectivas para muitas bandas de talento se firmarem no mercado também com boa projeção. Temos visto boas bandas de reggae inclusive no Japão, no Chile e na Argentina. Por que não no Brasil onde os músicos são geralmente respeitados por sua versatilidade.  Em relação a possível repercussão internacional para essas bandas, aí já é algo difícil de projetar. Porém acho que algumas bandas nacionais poderão alcançar prestigio lá fora, como a própria Tribo tem conseguido. Já se poderia listar ao menos umas 20 bandas nacionais de grande qualidade e a tendência é que o numero aumente rapidamente.  Em breve teremos então esse grande mercado nacional do reggae, revelando grandes surpresas.

A Tribo de Jah tem feito muitos shows no exterior, já tocou em muitos lugares diferentes como Cidade do Cabo, na África do Sul, Los Angeles e San Diego na Califórnia, já excursionamos a Europa, com shows em Paris, Barcelona… e nós sempre sentimos a necessidade de ter algo que continuasse a nossa mensagem… A Tribo tem uma empatia muito grande com o público de outras nacionalidades porque a gente tem essa facilidade de se comunicar em 4 diferentes línguas que são: Português, Espanhol, Inglês e Francês… Então quando a gente vai à Argentina, por exemplo, e canta uma música em Espanhol e o público entende a mensagem que a gente quer passar, eles se identificam mais com a banda…
A Tribo nunca teve essa preocupação de se assumir como uma referencia do reggae no Brasil. Esse reconhecimento veio naturalmente e a gente nem gosta muito de ser apontado como isso ou como aquilo. O que digo sempre é que a banda tem um grande histórico em termos de contribuição para o reggae nacional e neste caso não se trata de gostar ou não da banda ou do som que a banda faz mas simplesmente de reconhecer que a banda foi pioneira e tem um longo histórico de serviços prestados ao reggae nacional. A Tribo foi a primeira banda a transpor para o português a temática mais usual do reggae. Termos como Babilonia, Roots, Jah… etc., nunca haviam sido utilizados no Brasil por nenhuma banda ou artista ate que a Tribo começasse a divulgar esses e outros conceitos próprios do reggae na língua portuguesa. A banda desbravou regiões do sertão nordestino e da Amazônia quando nenhuma outra banda de reggae jamais sonhava adentrar essas regiões.

Copilação de entrevistas  transcritas feitas por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa, Rodrigo Mota – Portal Reggae Vale e por Marcus Vinicius Jacobson do mvhp

No palco a tribo de Jah mostra um reggae contagiante que não deixa os visíveis perder um momento.

No meio artístico a simpatia e envolvimento da tribo de Jah envolve a todos. Na foto junto com Pitty

Com 15 anos de estrada e muito reggae, a tribo tem um ritmo conhecido no mundo todo e é um dos legitimos no reggae brasileiro.

A tribo tem um contato natural que há muito alguns perderam. É por isso que suas músicas são um ode ao natural, uma positive vibration do movimento da vida

Histórias das músicas brasileiras

Maio 29, 2011

Cartola foi muito mais que um sambista fundador da Estação Primeira Mangueira (fundada em 28 de abril de 1928). Ele foi uma entidade revolucionária dentro do samba, influênciando toda o pessoal da velha guarda tanto aos sambistas mais jovens.

  Com quinze anos estava solto no mundo, solta na Mangueira e nos carnavais do morro conseguiu lugar no Bloco dos Arengueiros. Tentou trabalhar numa tipografia, mas era um local muito quieto e ele queria agitação. Começou a trabalhar de pedreiro quando começou a compor e logo a vender composições para ganhar um troco . Sempre elegante usava um chapéu coco para que o cimento não grudasse em sua cabeça e logo recebeu o apelido de Cartola. Com a Mangueira fundada é um membro ativo até quando começou o barulho e desorganização do Carnaval das Escolas de Samba, quando o samba desceu o morro. Nos anos 40 fica conhecido internacionalmente, pois Villa-Lobos faz uma gravação dele junto com Pixinguinha, Donga, Zé da Zilda, João da Bahiana, Jararaca e a Orquestra da Juventude Americana.

Mesmo assim a vida músical é dura e não muito rentável e Cartola continua no trabalho de pedreiro. Um belo dia de 1948 Cartola desaparece da Mangueira sem dizer nada a ninguém. Ele só foi encontrado novamente em 1956, ou 1957 por Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, como um paupérrimo lavador de carros em Ipanema. Doente de meningite Cartola levou quase um ano pra se recuperar.  Logo mais conseguiu um emprego em uma repartição pública e conheceu Dona Zica, uma cozinheira de mão cheia com quem casou e abriu o lendário boteco Zicartola, que ficava na Rua da Carioca e foi o espaço de surgimento e produção de muitos novos sambas e sambistas. De aí em diante a vida melhorou um pouco para Cartola e aos 65 anos ele gravou seu primeiro em 1974 um LP pela Disco Marcus Pereira “História das escolas de samba:Mangueira”. Logo surgiram outros solo. Trocando a Pinga pela Cerveja Cartola continuou cantando. Continuou compondo e tocando até sua morte em 1980.

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Meu nome todo é Angenor de Oliveira, e só, não é Agenor, AN. Não tenho culpa se eles botaram errado, meu pai diz que botou Agenor, mas botou um N para atrapalhar e aumentou um bocadinho, ficou por isso mesmo.

Carlos Cachaça é meu amigo, é meu padrinho de crisma,  embora ele me tome a bença. É um grande escritor, ele tem músicas maravilhosas, muito bonito. Eu tenho diversas músicas com o Carlos. Eu conheço ele há muitos anos, ele foi nascido em Mangueira. Eu não. Eu fui pra Mangueira com 11 anos. Eu já o encontrei lá ele era vagabundo, jogador bebedor, mas com todas estas bagunças que ele fazia, ele estudou. Estudou muito e aposentou-se como escriturário da estrada de ferro Central do Brasil. Um dia eu passei na casa do Carlos Cachaça, e conheci a cunhada dele, mocinha mas já viúva. Esta mesma Zica que está aí. A gente combinou logo, desde o início, e num instante estava vivendo junto.

Como nasceu a Estação Primeira? È muito simples, uma estação com o nome Mangueira, tinha uma árvore com o nome de mangueira também com umas frutas e umas folhas verdes e aí nasceu a mangueira. Mas não é em todo lugar que a mangueira é como a mangueira da Mangueira, que as mangas são gostosas como as nossas. Um grupo de rapazes, jovens como eu era também. Naquela época eu, Marcelino, falecido Pedro Caymmi, Saturnino que foi o primeiro presidente da Escola e nós formamos a estação Primeira em 1928, não… Nós começamos a pensar na escola Estação Primeira de 27 pra 28 e quando saiu pra 28, já saiu com cores, com nome oficial, tudo preparado… Os Sambas enredo surgiram em 1938 mais ou menos. Era samba de quadra, no tempo que o samba era um samba lento, calmo, bonito, não é que nem agora que é aquela correria, que ninguém agüenta aquela zoada e o samba de hoje tem que ser corrido, tem que cantar correndo. No meu tempo não, era lento…

O primeiro concurso de escolas de samba foi promovido em 1929 ou 1930, na Parça Onze,pele José Spinelli.Ele comprou umas taças numa loça da Praça Onze mesmo, sentou-se como único juiz numa cadeira e assistiu ao desfile das poucas escolas que havia. Ganhou a Mangueira.

Bom os compositores do passado da Mangueira foram Geraldo Pereira, Zé com fome, que era Zé da Zilda, eu modéstia a parte, Carlos Cachaça, Aluízio e era só. Da nova geração tem aqui a Leci, que vocês já conhecem é uma grande compositora, tem Padeirinho, tem o Zagaia também muito bom, tem o menino parceiro da Leci, o Darci, bom compositor, o Darci da Mangueira, Darci do Violão e tem um outro pequeno que fez um samba muito bonito também. É uma turma, sabe como é que é, eu quase não vou lá, eu me aposentei e hoje é difícil ir na Mangueira. Me aposentei com todos os direitos, tenho minha carteira de trabalho, de sócio benemérito, entro e saio a hora que quero. Não volto mais lá pois minha escola de samba agora é eu, meu violão e minha patroa me preocupo com estas coisas, eu o violão, a patroa e minhas músicas. Agora a Mangueira eu torço, mas longe dela, fico do lado de fora torcendo.Não deixo de sentir aquela emoção. Vibro quando o povo sauda a Mangueira. Só que a zoada é muito grande. Foi um tal de colocar surdos, taróis e cuícas que não existe tímpano que agüente. Antigamente era muito mais bonito, o tamborim reinava na bateria. Nos primeiros tempos da Mangueira, a escola era conhecida de longe pelo ruído das sandálias de suas pastoras na avenida, marcando o compasso do samba. Hoje, com o excesso de barulho, isso não é mais possível.

A Zica foi dá uns passeios por aí, a Zica não para. Ela chegou em São Paulo vira mais paulista do que eu. Eu levanto as vezes e procuro a Zica e ela já deixou um bilhete e saiu, foi em Mirim, não sei o que lá, Bairro de Santa Maria.

 Meu samba tem um ritmo sincopado, um pouco lento. Não sei explicar exatamente por que, mas minha linha melódica é inconfundível. Como também são as de Zé Keti, Paulinho, Nelson Cavaquinho. Reconheço à primeira vista a música deles. Ainda continua a aprender e acho que, daqui para os cem anos, estou fazendo coisa boa.

Transcrição do programa MPB Especial Cartola e Leci Brandão (1974) e pequenos trechos do fascículo Nova História da Música Popular Brasileira.

Cartola foi figura presente no Morro da Mangueira e no início da escola de samba. “Somente” sainda da Mangueira no fim da vida quando foi morar em Jacarépagua.


Cartola e seu grande companheiro o violão, instrumento em que Cartola poetisou e ritmou nossas músicas, nossos sambas.

Cartola trabalhou com diversas coisas, mas seu maior trabalho é o imaterial em seus sambas.

Cartola em 1976, gravando o segundo LP, em companhia de sua filha Regina

Dona Zica e Cartola no beiral da janela de sua casa em Mangueira, que foi capa do disco de 1976. Juntos até os fins eles foram um casal produtivo e alegre, e criaram o espaço cultural do Zicartola

Festa de aniversário de 33 anos de Hermínio Bello de Carvalho, na Churrascaria Tijucana. Da esquerda para a direita: o jornalista Arley Pereira, Jacob do Bandolim, Cartola (em pé), e Brício de Abreu.

Histórias das músicas brasileiras

Maio 22, 2011

Cristina Buarque é uma sambista paulista de uma  família de músicos que incluem Chico Buarque, Ana de Hollanda (Ministra da Cultura), Miucha todos filhos de Sérgio Buarque de Hollanda. Lançada por Paulo Vanzolini com a música “chorava no meio da rua” Cristina era considerada por Paulo “desde criança a mais afinada de todos (Os Buarques), mas muito tímida”. Ela gravou com diversos outros sambistas como Clementina de Jesus, Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Mauro Duarte, Candeia, Velhas Guardas da Mangueira e Portela.

Com diversos discos lançados, Cristina participou de diversos projetos como Noel Rosa (Sem Tostão) juntamente com Henrique Cazes, os 100 anos de Estácio de Sá, a Barca do Choro, os piqueniques dos sambistas, e os projetos da gravadora Kuarup.

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De rock nunca gostei, não. Sempre gostei mesmo de samba. Ouvia os discos dos meus irmãos mais velhos. Araci de Almeida, Ciro Monteiro, Mário Reis, Carmem Miranda, era o que eu curtia mais. O choro só fui conhecer depois. Gostava de sambas mais antigos mesmo.

Minha primeira participação foi quando eu tinha 16 anos, num disco de Paulo Vanzolini, que era muito amigo dos meus pais. Minha mãe era contra essa história de cantar, mas ele conseguiu convencê-la. Na verdade, era um disco promocional para dar de presente. Não era para ser comercializado.

Depois o Chico me chamou para gravar “Sem fantasia”. Participei também de um disco do Chico Maranhão. Foram várias participações até gravar um disco meu.

Comecei a frequentar a casa de Candeia por volta de 1969, 1970. Ele já morava em Jacarepaguá. Quando eu vinha de São Paulo, costumava frequentar um lugar chamado Orfeão Portugal, onde Candeia se apresentava às vezes. Lembro que ele chegava numa limusine e o motorista o tirava na cadeira de rodas. A limusine era do Natal.

Eu gravei em 1974 e fui conhecer Manacéia depois. Eu ainda morava em São Paulo. Em 1975 fui apresentada ao Monarco. Ele combinou com Manacéia e Dona Neném de fazer um peixe e me convidou. Foi aí que conheci todos. Alvaiade ainda era vivo. Foi uma tarde maravilhosa. Eles cantaram muito samba e eu levei um gravadorzinho e comecei a gravar.

Eu sempre gravei o que gosto. E gosto de mostrar as músicas. Não gosto de gravar músicas conhecidas. Até mesmo nas rodas de samba, eu gosto de ver as pessoas ouvindo pela primeira vez. Mas não tive a intenção de ser pioneira.

Eu gravei muito menos do que gostaria de ter gravado. O ideal era fazer um disco a cada dois anos. Em quantidade eu gravei muito pouca coisa. Por exemplo, a Clara gravou muita coisa, e só não gravou mais porque morreu. A Beth Carvalho também gravou muita coisa da Portela.

Acho que o cantor tem que reverenciar o compositor. Gravar o samba mais próximo, mais fiel ao que o compositor fez. E não achar que o compositor tem que agradecer ao cantor pelo sucesso.

Tem uma coisa muito bonita, numa entrevista do Ciro Monteiro, em que ele fala mais ou menos assim: “Eu tive a honra de gravar o primeiro sucesso do Geraldo Pereira e tive a felicidade de ele me dar o último sucesso antes de morrer”. Ou seja, a elegância com que ele fala, a admiração pelo Geraldo Pereira.

Eu gravei menos discos do que gostaria de ter gravado. Gravei em 1974, 1976, 1978 e 1981. Depois só em 1985. Gravei em 90, mas só saiu no Brasil em 1994. Aí comecei a fazer um monte de coisa. Dois discos sobre Noel Rosa. Em 2000, um sobre Wilson Batista. Fiz o primeiro trabalho com o Terreiro Grande. Ao mesmo tempo o disco com a Banda Glória de São Paulo e o disco em homenagem ao Mauro Duarte. Esses três embolaram. Agora, por último, o Candeia com Terreiro Grande.

SAMBAS ENREDOS

Que eu me lembre, o último desfile que me emocionou foi Kizomba, da Vila Isabel. Eu nem conhecia o samba da Vila e gostava muito do samba da Mangueira. Mas quando eu acordei e vi o desfile, eu chorava e acordava meus filhos para ver.

Desfilei na Portela em 1984. Depois desfilei na ala da Surica, mas aquelas fantasias de ala me incomodavam muito. Desfilei na Mangueira em homenagem ao Chico. Mas para desfilar na Mangueira, tinha que desfilar também na Portela. Então nesse mesmo ano, desfilei em um carro com vários artistas. Depois desfilei algumas vezes no carro com a Velha Guarda e resolvi parar. Eu não sei sambar, mas para desfilar você tem pelo menos que saber o samba, não dá para desfilar muda. Mas com esses sambas não dá vontade.

Uma vez eu acompanhei a disputa do samba. Tinha um samba do Bolacha (Mauro Duarte) com Wilson Moreira e Walter Alfaiate. Aí o Paulão 7 Cordas falou que o samba era muito bonito, mas não ia ganhar. Quando cantaram o samba, a primeira coisa que perguntaram foi: “Cadê o refrão? Onde nós vamos fazer a paradinha?” O samba caiu quando ainda havia uns 16 na disputa.

Hoje o mais importante é o espetáculo. É muito dinheiro que rola. O carnaval virou outra coisa e eu não me interesso por essa coisa. Não podemos negar que é um espetáculo, mas não é mais escola de samba. Pode ser espetacular, pode ser lindo, mas eu não me interesso por isso, não.

Cristina Buarque e o grupo Terreiro Grande. Vai uma?

Mauro “Bolacha” Duarte com Cristina Buarque em Moçambique

Jards Macalé, Cristina Buarque e Barão do Pandeiro que juntos fizeram uma série de shows

Cristina é só alegria e samba. Presente nos botecos cariocas (principalmente de Paquetá onde mora) Cristina é voz ativa nas rodas de sambas

Capa de um dos projetos que Cristina particpou em 1983 “Cadáver Pega Fogo Durante o Velório”

Histórias das músicas brasileiras

Maio 15, 2011

Leci Brandão é uma das maiores sambistas e cantoras que aindam estão mandando brasa por aqui. Ela começou sua carreira nos programas de televisão e no Festival da Universidade Gama Filho. Logo mais se torna a primeira mulher da ala de compositores da sua amada escola de samba Mangueira e começou a cantar no Teatro Opinião.

Não demora para ela ser descoberta e ela é levada a gravar seu primeiro compacto na Gravadora Discos Marcus Pereira e logo grava seu primeiro LP “Antes que eu volte a ser nada”. Conhecida em todo mundo Leci ficou um tempo sem gravar por questão política, já que as gravadoras não aceitavam o tom socializante de suas letras.

Mulher engajada ele canta em defesa das minorias (todas elas), e foi convocada para cantar em todos os eventos afinados com sindicalistas, estudantes, índios, prostitutas, gays, partidos de esquerda, movimentos de mulheres e principalmente o Movimento Negro. Leci foi eleita em 2010 ao cargo de deputada federal e continua na sua luta…

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Leci Brandão da Silva, eu nasci em Madureira, fui criada em Vila Isabel mas sou verde e rosa de coração. Em 1972 fui parar na Mangueira através do Zé Branco que é o tesoreiro da ala dos compositores. Zé Branco também faz parte da ala de compositores de Mangueira. É um branco de olho verde, mas gosta de samba… amigo da família. Bom a princípio houve uma espécie de uma reação normal. Uma garota querendo integra na ala dos compositores da Mangueira tradicionalíssima… Nunca tinha pintado mulher por lá. Mas eu cheguei, deu o meu recado, convenci aqueles senhores respeitosos. Ele assim na época não estava integrado… O Cartola é um patrimônio nosso, mas ele não vive metido naquela confusão, é um negócio mais a parte (…)

Papai tinha muito disco de 78 rotações de Geraldo Pereira, e desde pequenininha eu escuto o Geraldo. Não conheci pessoalmente, só conheci através de disco e hoje em dia ouço falar muito posmuita gente presta homenagens a Geraldo Pereira por que ele foi um grande marco da música brasileira, pena que ele tenha morrido tão cedo.

Eu conheci através da obra que eles fizeram… que brasileiro que não conheceu? Donga, Pixinguinha, João da Bahiana é coerente. O Donga infelizmente só conheci depois de morto. Quando ele morreu eu vi o Donga pessoalmente. Mas eu me dou muito bem com toda família dele, inclusive é uma coisa muito interessante aconteceu por que eu ouvi das pessoas contarem das coisas do Donga, dos lugares que ele frequentava das coisas que ele fazia e eu consegui retratar em forma de música um choro ou samba canção… esta questão de técnica aí é uma questão de sensibilidade… Eu fiz uma música chamada Pensando em Donga que os conhecedores da época acharam incrível como eu consegui retratar aquele ambiente de cervejaria, das antigas que eu nunca transei mas que realmente através do papo consegui retratar.

É aquela história… Começei a compor através de fossa, curtindo uma fossa. Namorado que não gostou de mim e eu gostava dele e aí, sabe começei a fazer musíca. Mas este foi o tipo do mal que veio pra bem… Não nunca toquei instrumento algum. Agora eu realmente estou sentindo a necessidade de aprender sabe, por que eu acho que valoriza muito o compositor que você acompanha, inclusive em termos de busca. Pra realmente você poder produzir realmente o seu trabalho você precisa ter uma certa técnica musical. Eu tenho o ouvido né, mas dizem que no dia que eu apreender a tocar violão vou ficar meio bitolada, mas acho que de qualquer forma vai ajudar um pouquinho. É sempre uma pesquisa.

Transcrito a partir do programa MPB ESPECIAL-Ensaio Cartola e Leci Brandão (1974)

Leci Brandão solta a voz no Projeto Pixinguinha em 1980

Duas amigas e das maiores nomes do samba Jovelina Perola Negra e Leci Brandão

Além de Leci, Gisa Nogueira e Dona Ivone Lara tamém levaram samba pro Projeto Pixinguinha

Leci Brandão é o samba em sua alegria, cultivo da vida, transformação das formas, é a criação na batuca da vida

O samba para Leci é apenas uma das formas de envolvimento existencial no mundo. Leci trabalhou em diversos movimentos sociais envolvendo os direitos humanos para uma melhor vida nos presídios, nas favelas, nos sindicatos e postos de trabalhos. Leci foi eleita deputada estadual pelo estado de São Paulo e foi empossada neste ano, onde continua seu engajamento vivo.