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A JORNALISTA-ESCRITORA MÁRCIA ANTONELLI ENTREVISTA O FILÓSOFO-POETA DA TRANS VERSALIDADE, MARCOS NEY

Agosto 29, 2020

PRODUÇÃO ESQUIZOFIA.

 

Márcia Antonelli é uma artista que escapa da imobilidade da semiótica-paranoica do sistema de opressão e sujeição capitalista. Como escritora sempre se colocou na pós-vanguarda: o sujeito não sujeito que não se submete a força-sedutora fantasmagórica da sociedade de consumo.

Márcia, como escritora, cria, como diz o psiquiatra-filósofo, Félix Guattari, em deslocamento-maquínico: o que escapa da força imobilizadora do estruturalismo. Márcia, em seu escritos, se desloca sem ligar para os enunciados que iludem através de suas ofertas de recompensas-fálicas. A vantajosa forma que os fantasmagorizados põem fé: o reconhecimento pelas classes alienadas. Márcia Antonelli é Márcia Antonelli nela mesma. Nada além de si mesma.

Pois foi exatamente essa Márcia Antonelli, com formação e desenformação literária universitária, mas composição-comunalidade-literária quem entrevistou o outsider, o aritista-maldito, o que escapa das determinações-paranoicas do sistema-delirante-capitalístico, Marcos Ney.

Marcos Ney, é o tipo-original do cara que entendeu o grafiteiro uruguaio que escreveu em um muro o marxismo sem universidade-institucionalizada no glamour burguês: “Quem trabalha não tem tempo para ficar rico”. Marcos Ney sabe que a riqueza da burguesia é produto da sua inutilidade-produtora. Sua preguiça-social. De sua negação do real sustentada pela potência-produtiva do trabalhador. O burguês fica rico porque o trabalhador, que não tempo para ficar rico, trabalha para ele.

É nesse contexto, sem texto, das implicações da transversalidade, a possibilidade de mudança mesmo na ignorância do que pode e deve ser mudado, que Marcos Ney cria suas obras-literárias. Escapa da opressão horizontal-vertical da percepção-concepção-burguesa.. Por tal, quem nunca leu o psiquiatra-filósofo Félix Guattari, ao se envolver com as criações de Marcos Ney entende o psiquiatra-filósofo. Suas obras, esquizas, não contemplam os enunciados bem postos, e bem agraciados, da chamada literatura-clássica sem sequer desconfiarem que jamais Shakespeare foi clássico.

Então, moçada, vocês que em seus deslocamento ouviram o bizum-transversal  atentem para a entrevista de Márcia Antonelli, em sua TV Literatura da Gente do Amazonas, cujo talento auxiliou a performance-transversal de Marcos Ney.

Vamos nessa, que deixar de ser reificado é bom à beça.  

 

BANDINHA DO OUTRO LADO, DA ASSOCIAÇÃO FILOSOFIA ITINERANTE (AFIN), REALIZA MAIS UMA FOLIA DIONISÍACA-INFANTIL

Fevereiro 24, 2020

PRODUÇÃO ESQUIZOFIA

Pela décima terceira vez, a Bandinha do Outro Lado, folia das crianças, da Associação Filosofia Itinerante (AFIN) realizou seu carnaval. Desta vez, com a parceria do Clube de Mães do Amazonas Voluntários Sem Fronteira. Como não poderia ser diferente, as criança mostraram que também se identificam com as marchinhas de carnaval que historicamente criaram o caráter da folia nacional. Cantar e dançar só marchinhas de carnaval, é o tom da Bandinha do Outro Lado. Sé é carnaval, é carnaval! Nada mais do que carnaval. 

O folguedo carnavalesco infantil, neste ano contou com a presença do famoso saxofonista Antônio Frazão que no auge de seus 84 anos deitou e rolou com seu som no embalo das crianças e seus pais. Frazão é um músico com história-musical invejável. Já tocou em todo o estado do Amazonas. Principalmente nas cidades do interior. Sua participação foi sua contribuição para a política pedagógica da comunidade na qual ele é envolvido.

A folia da Bandinha do Outro Lado é dividida em quatro partes: A dança e o canto em si. A dança individual do frevo. O desfile das fantasias, criadas pelas próprias crianças, e e o enfrentamento gastronômico: o encontro com as comidas e sucos. Além, da pipoca, bom-bom e sorvete. 

Valeu, criançada!

TESTAMENTO DE JUDAS 2019

Abril 20, 2019

PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG

Judas Iscariotes, ao se certificar do que vem ocorrendo no Brasil, onde a democracia foi ferida gravemente pela força da irracionalidade obsessiva impulsionada pelo ódio projetado no povo brasileiro por grupos nazifascistas, resolveu voltar ao país, nesta Semana Santa, para in loco vivenciar a desumanidade teratogênica que se disseminou pelo território brasileiro.

Senhor de inigualável sensibilidade, inteligência e moral para com a práxis e a poiesis política, razão de sua perseguição pelos extremistas e ditadores do Império Romano que lhe acusaram de haver traído seu companheiro Jesus Cristo por trinta moedas, uma dos grandes fake News da história que vem se mantendo através das superstições dos incautos, quando em verdade era de família rica e poderosa, Judas Iscariotes, chegou na terra dos índios, negros, quilombolas, trabalhadores, MST, LGBTS, feministas, sambistas, atores, atrizes, artistas engajados, deu um rolê pelo país e constatou o que lhe fora comunicado lá em Roma e Jerusalém.

Convidado por várias entidades e pessoas engajadas na luta pela liberdade democrática, soberania e Estado de Direito do Brasil, para apresentar seu Testamento 2019, ele agradeceu cortesmente os convites, e decidiu proclamar seu testamento junto com os companheiros de Lula na VIGÍLIA LULA LIVRE, em Curitiba, nesse território pulsante onde o espírito-devir é a liberdade do mais respeitado líder-politico do mundo, confinado injustamente como preso político pela ambição e força do império norte-americano e a subserviência de brasileiros antipatriotas e antinacionalistas. Verdadeiros edipianos que com suas insignificâncias não conseguem ser adultos para auxiliar o Brasil a produzir sua verdadeira História como nação crescida e independente.   

Depois de cantar a estrofe:

Liberdade para Lula

É o que pede a razão

Porque o Brasil não será feliz

Com Lula na prisão;

 

Judas cumprimentou alegremente os presentes dizendo que recebera do filósofo Spinoza à incumbência de passar ao povo brasileiro a seguinte mensagem: “Sempre compor bons encontros. Sempre compor alegria. Jamais compor tristeza. Que é a impotência da tirania”.

Envolvido nos aplausos da potência de agir VIGÍLIA LULA LIVRE, o companheiro Judas iniciou seu Testamento 2019.

 

Ao meu companheiro Lula

Que da injusta sofre violência

Deixo-lhe o espírito do guerreiro

Amor, coragem e resiliência,

Para devolver ao Brasil

A democracia e sua inteligência.

 

Junto com sua gente

Que não desiste jamais

Que sob chuva ou sol

Sua força aumenta mais

Deixo-lhe com toda honra

O Prêmio Nobel da Paz.

 

Sei que o companheiro Lula

Não precisa de minhas lembranças

Pois sabe do significado

O que é perder esperanças

Mas mesmo assim lhe digo:

Já vejo vindo às bonanças.

 

Saiba companheiro Lula

Que por onde ando peço sua absolvição

Para que você seja solto

Dessa indigna prisão

Forjada pelos que temiam

Sua nova eleição.

Que começou com o golpe

Que tirou Dilma da presidência da nação.

 

E por falar em Dilma

Aqui vai o meu abraço

Para essa mulher guerreira

Que ninguém mata no cansaço

Pois tem da vida o sentido

Temperado com amor e aço.

 

Ao golpista Temer

Que fez um breve tour pela prisão

Deixo a certeza inconteste

Que o tour vai virar habitação.

 

Três anos estão fazendo

Que o Brasil foi tomado por golpistas

Por isso deixo para eles

O troféu dos arrivistas.

 

Também deixo para eles,

Por estarem o Brasil destruindo,

A nau da insensatez

Para leva-los ao vale do infindo.

 

Para o falador Bolsonaro

Que vive a se desdizer

Deixo-lhe o meu livro famoso

“Os Fantasmas do Falso Poder”.

 

Ainda para Bolsonaro

Que disse: “não nasci para presidente”

Deixo-lhe o GPS

Para voltar pra sua gente.

 

Para o ministro Guedes

Com sua deforma da Previdência

Deixo-lhe a aposentadoria do trabalhador

Para ver se sua velhice tem decência.

 

Aos companheiros trabalhadores

Cuja deforma da Previdência quer lhes matar

Deixo a têmpera de Hefesto

Para contra a maldade lutar.

 

 

Para o ministro Moro

Que à língua portuguesa causa ais

Deixo-lhe a gramática e o dicionário

De meu amigo Antônio Houaiss.

 

Para a ministra Damares

Que pendurou Cristo na goiabeira

Deixo-lhe a mão de Pilatos

Para lavar sua visão de obreira.

 

Ao ministro Ricardo Salles

Que ataca a preservação ambiental

Deixo o Curupira

Para evitar esse mal.

 

Ainda para ministra Damares

Que popularizou Cristo na goiabeira

E quer que a escola seja em casa

Deixo-lhe de Paulo Freire, À Sombra Desta Mangueira.

 

Ao ministro Ernesto Araújo

Que afirma ser de esquerda o nazismo

Deixo-lhe Hitler e Mussolini

Com o trepidar do antissemitismo.

 

Para os ideólogos da escola sem partido

Que opinam sem qualquer noção

Deixo a obra de Paulo Freire,

Política e Educação.

 

Aos nazifascistas do fake news

Que habitam a zona escura do medo

Deixo-lhes a informação:

O Brasil faz seu próprio enredo.

 

Aos professores do Amazonas em greve

Que só querem o que lhe é de direito

Deixo-lhes o valor do educar

Que vale mais que governador e prefeito.

 

Aos blogueiros independentes

Cuja linha de ação é progressista

Deixo-lhes a certeza

Que o Brasil vai viver sem golpista.

 

Ao cinegrafista Padilha

Que se diz desiludido com Moro

Deixo uma cama de prego

Para excitar o seu choro.

 

E para todos companheiros presentes

Nesta festa do Lula Lá!

Deixo o que há de bom

Neste meu testamento de cá

Esperando que em muito breve

Festejemos o nosso político maná.

 

Bom-dia e boa-noite Lula!

Logo, logo nos encontraremos!

Vamos fazer aquela festa

Que só nós democratas sabemos.

E vamos mostrar aos golpistas

Qual é o néctar que nós bebemos!

 

Brasil 20/4/19

JOHN LENNON E YOKO DIZEM OS DIZERES CONTINUAM ATUAIS…

Janeiro 1, 2019

VEJA E OUÇA VÍDEOS ONDE LUIZ AFIRMA QUE É SÓ MELODIA.

Agosto 5, 2017

Produção Esquizofia.

Pérola Negra.

Ensaio. Programa de 1993.

Perola Negra.

Estácio, Holly Estácio.

 

 

 

 

 

 

Chico Buarque aos 73 anos.

Junho 20, 2017

A imagem pode conter: 4 pessoas, pessoas sorrindo, pessoas sentadas, bebida, tabela, barba e área interna

BLOGS AFINSOPHIA E ESQUIZOFIA ENTREVISTAM BELCHIOR JÁ QUE “SEMPRE É DIA DE IRONIA NO MEU CORAÇÃO”

Maio 2, 2017

Os Blogs Afinsophia e Esquizofia, da Associação Filosofia Itinerante (AFIN), publicam a entrevista, alegria como aumento de potência de agir, com o Rapaz Latino-Americano Belchior.

BREVE APRESENTAÇÃO

Antônio Carlos Gomes Belchior Fonteneles Fernandes – cearense da simpática cidade de Sobral -, gostaríamos de fazer um acordo com você nessa entrevista trans-histórica, na névoa inassinalável, ou hecceidade. O acordo é o seguinte: como nós vamos recorrer as nossas faculdades memorativas, além de informações extraídas de nossa arqueologia do saber-Belchior, é possível que venhamos cometer alguns equívocos em relação a fatos aqui apresentados por nós atribuídos a personagens em relação a você. Se por acaso você perceber que algumas enunciações nossas são lendas ou mitos, queira nos corrigir. Certo?

Belchior você é da geração que “por força desse destino um tango argentino” pegava “bem melhor” que “uns blues”. A ditadura civil-militar que dominou o Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Você, como muitos brasileiros, por força da ditadura, não teve adolescência, e se quer pode vivenciar as fragrâncias de maio de 68. Enquanto a França, e grande parte da Europa explodia, produzindo linhas de cortes, fissuras através das potências dos trabalhadores e estudantes. Ao contrário, em 68, o Brasil era submetido à força do AI5, implantado pelos militares da repressão-nacional. Foi o ano que começou para valer as perseguições, prisões, sequestros, torturas e mortes.

Todavia, arigó Belchior, você já havia sido traspassado pelas enunciações políticas, estéticas, filosóficas, antropológicas, históricas, psiquiátricas, etc., e podia com clareza entender as notas desterritorializadas de Sartre, Marcuse, Foucault, Deleuze, Guattari, Simone Beauvoir, entre outros que se movimentavam em latitudes e longitudes capazes de lhe afetar spinozianamente: aumentar sua potência de agir. Já havia sido afetado pela potência da comunalidade em forma de erudição. Erudição que levou certa vez Caetano chamar de cultura inútil. Sem falar que você já havia encontrado Marx, Cristo, aliás, o Homem de Nazaré foi quem primeiro lhe encontrou, daí sua vida de noviço, depois rebelde (Gargalhadas), quem sabe a influência a posteriori para criar o projeto de tradução do latim A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Musicólogo roqueiro, corpo que lhe moveu com “os pés cansados e feridos de andar léguas tiranas, a ponto de lhe deixar “com lágrimas nos olhos de ler o Pessoa, e ver o verde da cana”, compôs com as baladas de Bob Dylan, composição que levou o compositor do Maracatu Atômico, George Mautner, a afirmar que entre o original e a cópia preferia o original. Declaração que confirmava que sua entrada no mercado musical brasileiro já estava incomodando. Claro, você como sobralense nunca negou que ouvira muito as baladas de Dylan. E, aliás, quem daquela época, não ouviu? Quem, preocupado com a Napalm lançada pelos Estados Unidos no Vietnã, não ouviu Dylan? E não só Dylan, como também Neil Young, entre outros cantores e compositores de opunham a ferocidade genocida do império. Você sempre foi um homem engajado. Mas um cara que não fazia gênero de rebelde sendo um puta burguês, como seu conterrâneo Fagner. Poucas sabem, mas você participou, convidado pela talentosíssima atriz de teatro Lélia Abramo, no lançamento do primeiro manifesto do Partido dos Trabalhadores, em 1981. O que confirma que suas baladas são politizadas não por dependência de Dylan. Como invejavam seus detratores. E para piorar – para eles, é claro -, você foi parceiro do companheiro Lula na luta pela redemocratização do Brasil. ão do Brasil.

Mesmo só com a adolescência biológica, já havia traçado o compromisso, com Bertolt Brecht, de não deixar seu “charuto apagar-se por causa da amargura”, mostrado na canção Não Leve Flores. Daí que sua obra, apesar de manter alguns elementos regionais, melhor dizendo, nordestinos, foi na “Selva das Cidades”, empurrado pelo teatrólogo da Exceção e a Regrar, que você fez movimentar sua arte como forma de afetar o corpus da urbe atomizada. Como você mesmo diz: “se não for para balançar o coreto, não adiante fazer arte”.

E balança. Belchior, você instituiu no país a música urbana inspirada e alocada no concreto das cidades como corpo da poesia concreta. Você verseja concretamente. A poesia concreta é seu território de práxis e poieses. “Vamos andar, pelas ruas de São Paulo, por entre os carros de São Paulo, meu amor vamos andar e passear. Vamos sair pela rua da consolação, dormir no parque em plena quarta-feira. Sonhar com o domingo em nosso coração. Meu amor, meu amor, meu: a eletricidade dessa cidade me dá vontade de gritar que apaixonado eu sou. Nesse cimento, o meu pensamento e meu sentimento espera o momento de fugir no disco voador. Meu amor, meu amor”, nada de sentimentalidade compassiva, do tipo Roberto Carlos, nesse Passeio do seu primeiro LP, Mote Glose, pela gravadora Chantecler, com a regência do talentoso músico pernambucano Marcus Vinícius, do PCBão, um disco profundamente experimental, onde salta livre a poesia concreta.

Dizem que você canta a liberdade, claro que é uma afirmação abstrata, já que a liberdade não se canta se vive, mas nos diga: nessa tão concreta e cruel realidade produzida pelo capitalismo paranoico com sua dogmática opressora, você é um “passarinho urbano”, ou um “Robô Goliardo” (Gargalhada geral)?

A ENTREVISTA

AFINSOPHIA E ESQUIZOFIA – Começando pelo meio. O que é melhor? Viver, sonhar ou um canto?

Belchior (Sorrindo cúmplice) – “Viver é melhor que sonhar. Eu sei que o amor é uma coisa boa, mas sei também que qualquer canto é menor que a vida de qualquer pessoa”.

AE – Nesse momento em o Brasil encontra-se sob o cutelo de um perverso golpe contra a democracia, você tem alguma paixão?

B – “Você me pergunta pela minha paixão, digo que estou encantado com uma nova invenção, eu vou ficar nessa cidade, não vou voltar pro sertão, pois vejo vir vindo no vento cheiro da nova estação”.

AE – Verdade? Maravilha! Belchior, você é uma cara que viveu as décadas de 60, 70, não teve adolescência no sentido ontologicamente-social, por força da ditadura, mesmo assim conseguiu construir uma das mais inquietantes estéticas do Brasil, todavia, muitas pessoas não conhecem essa obra. E entre essas pessoas têm os nazifascistas. Se por um acaso algumas dessas pessoas, como uma variável-política, perguntasse de você, por onde você andava nesse tempo, o que você responderia?

B (Pensativo) – “Amigo, eu me desesperava!”.

AE – Você tem estilo. Não estilo no conceito burguês, mas como diz o filósofo Deleuze, você cria em sua singularidade como ninguém poderia criar de forma igual. Por isso você faz corte no estado de coisa petrificado. Você libera potências. Como você responderia se alguém pedisse para você compor de outra forma?

B – “Não me peça que eu lhe face uma canção como se deve correta, branca, suave, muito limpa, muito leve, sons palavras são navalhas, e eu não posso falar como convém sem querer ferir ninguém”.

AE (Vibrando) – Cacete! Esse cara é foda, moçada. Ainda nessa linha. Não precisa nem dizer, mas você tem Nietsche e Spinoza na veia: você é exaltação da “vida que ativa o pensamento e o pensamento que afirma a vida”. Até quando se encontra “mais angustiado que um goleiro na hora do gol”. A onda é essa: se um pessimista, um compassivo, uma baixa potência de agir, lhe dissesse que queria lhe ajudar, o que você diria para ele?

B (Gargalhando) – “Saia do meu caminho! Eu prefiro andar sozinho! Deixem que eu decida a minha vida. Não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração”.

AE (Explodindo de emoção) – Coisa de louco, moçada! “Você pode até dizer que eu estou por fora e que até estou inventando”, mas para o nosso entendimento, há uma confissão aí nesse “não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração”. O sol nasce no Leste, até Galileu já sabia. E o Leste europeu tem Marx, mano. Não precisa responder.

B (Interferindo) – “É claro que eu quero o clarão da lua! É claro que eu quero o branco no preto! Preciso, precisamos da verdade nua e crua, mas não vou remendar vosso soneto. Batuco um canto concreto pra balançar o coreto…”.

AE (Tentando uns movimentos afros) – Grande saída, hein cara? Ok, baby! Diz uma coisa cara. Já viu que há muita gente pessimista diante do desgoverno golpista acreditando que ele será eterno. O que você diz para essa gente?

B – “Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo, que uma nova mudança, em breve vai acontecer”.

AE (Palmas) – É o devir-povo! Dando uma deslocada. O que você quer agora?

B (Sorrindo) – “Quero uma balada nova, falando de broto, de coisas assim: de money, de lua de ti e de mim, um cara tão sentimental…”.

AE – Você estudou medicina até o quarto ano, lógico que deve ter entrado em contato com algumas noções freudianas. Freud diz que é muito difícil uma geração se libertar da anterior. Há sempre fantasmas. Vendo o mundo como se encontra, qual a sua maior dor?

B – “Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo, tudo, o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

AE – Bel, aproveitando essa questão de continuar o mesmo, tem também aquela questão dos que pousaram como revolucionários, e hoje são tremendos reaças, inclusive muitos operando como golpistas, como é o caso do senador do PSDB, Aloysio Nunes que foi motorista do Marighella. Você poderia descrever para nossos seguidores quem são esses simuladores e nos dizer quem são eles?

B (Dando uma boa baforada no cachimbo) – “Os filhos de Bob Dylan, clientes da Coca-Cola: os que fugimos da escola, voltamos todos pra casa. Um queria mandar brasa; outro ser pedra que rola… Daí o money entra em cena e arrasa e adeus caras bons de bola”.

AE – Esse cara vai na ferida dos caras, mas não confundir com “a ferida viva do meu coração”, não é? O quê? Ainda tem mais? Então, manda brasa.

B (Continuando) – “Donde estás los estudiantes? Os rapazes latino-americanos? Os aventureiros, os anarquistas, os artistas, os sem-destino, os rebeldes experimentadores, os benditos malditos – os renegados – os sonhadores? Esperávamos os alquimistas…  E lá vem os arrivistas, consumistas, mercadores. Minas, homens não há mais? Entre o céu e a terra não há mais que sex, drugs and rock ‘n’roll? Por que o adeus às armas? Não perguntes por quem os sinos sobram… Eles dobram por ti! O último a sair apague a luz azul do aeroporto. E ainda que mal pergunte: a saída será mesmo o aeroporto?”.

AE (Vibrando) – Loucura, moçada! O quê? Ainda tem mais? Manda brasa, arigó!

B – “Onde anda o tipo afoito que em 1-9-6-8 queria tomar o poder? Hoje, rei da vaselina, correu de carrão pra China, só toma mesmo aspirina e já não quer nem saber”.

AE –Loucura, loucura, loucura! Ainda agora você disse que “uma nova mudança vai acontecer”. Qual a forma para essa mudança?

B – “A única forma que pode ser nova é nenhuma regra ter; é nunca fazer nada que o mestre mandar. Sempre desobedecer. Nunca reverenciar”.

AE – A noite tem para você um signo profundo?

B – “Anoite fria me ensinou a amar mais o meu dia. E, pela dor eu descobri o poder da alegria e a certeza de que tenho coisas novas pra dizer”.

AE – Você é nordestino, e como você sabe, há hoje no Brasil uma consciência nazifascista que discrimina violentamente o povo do Nordeste. Como você concebe esse comportamento genocida contra o Nordeste?

 B (Sorrindo) – “Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve! Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos! Não sou da nação dos condenados! Não sou do sertão dos ofendidos! Você sabe bem: conheço o meu lugar”.

AE – E o medo de avião?

B (Balançando a cabeça sorrindo) – “Agora ficou fácil. Todo mundo compreende aquele toque Beatles: – “I WANNA HOLD YOUR HAND!”.

AE – E aquela namorada e aquele teu melhor amigo?

B – “Minha namorada voltou para o norte, ficou quase louca e arranjou um emprego muito bom, meu melhor amigo foi atropelado voltando pra casa. Caso comum de trânsito”.

AE – Os filósofos Epicuro, Spinoza, Nietzsche dizem quase o mesmo sobre falar sobre a morte. É claro que ninguém pode falar sobre a morte, porque é a última experiência e a única que não se pode contar nada sobre ela. Eles dizem que falar sobre a morte enquanto se está vivo é imundo. Mas vamos conceder uma cortesia sobre esse tema. Como você cogita sua morte?

B (Sorrindo) – “Talvez eu morra jovem: alguma curva do caminho, algum punhal de amor traído completará o meu destino”.

AE – Belchior você é uma cara corajoso. Sua obra e sua existência comprovam sua coragem. Mas nos responda: você tem Medo?

B – “Eu tenho medo. E medo anda por fora, medo anda por dentro do meu coração. Eu tenho medo em que chegue a hora em que eu precise entrar no avião. Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão. Apertar o botão: cidade morta. Placa torta indicando a contramão”.

AE – O que você pode nos dizer sobre a sorte na vida?

B – “Coisa muito complicada o amigo tem ou não tem. Quem não tem sucesso ou grana tem que ter sorte bastante para escapar salvo e são das balas de quem lhe quer bem”.

AE – Temer, o golpista-mor junto com sua escória, vem desmontando as leis democráticas do país. Porém, ele tem, com ajuda da mídia capitalista também golpista, feito pronunciamentos como se tudo estivesse às mil maravilhas. Como você concebe o presente e estes pronunciamentos?

B – Olho de frente a cara do presente e sei que vou ouvir a mesma história porca. Não há motivo para festa: ora esta! Eu não sei rir à toa!”.

AE – Você como pintor e desenhista pode nos apresentar um quadro da família-nuclear-burguesa-patriarcal?

B – “No centro da sala, diante da mesa no fundo do prato, comida e tristeza, a gente se olha se toca e se cala e se desentende no instante em que fala. Medo, medo, medo, medo. Cada um guarda mais o seu segredo a sua mão fechada, a sua boca aberta, o seu peito deserto, a sua mão parada, lacrada e selada e molhada de medo. Pai na cabeceira…”.

AE – Essa família lhe concedeu um prêmio no começo de 70, certo? Contam que na noite que você recebeu o prêmio os canas deram uma chegada em você, certo (Belchior sorrir)? Se alguém tentasse lhe obrigar a parar de cantar, o que você diria?

B – “E eu vos direi, no entanto”: enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer Não! Eu canto”.

AE – O que você diz sobre a vida?

B (Com ar apaixonado) – “Eu escolhi a vida como minha namorada com quem vou brincar de amor a noite inteira. Vida, eu quero me queimar no teu fogo sincero. Espero que a aurora chegue logo. Vida, eu não aceito não a tua paz, porque meu coração é delinquente e juvenil, suicida, sensível demais. Vida, minha adolescente companheira, a vertigem, o abismo me atrai: é esta minha brincadeira”.

AE – Observando sua temporalidade ontológica como você concebe sua existência?

B (Pensativo) – “Até parece que foi ontem minha mocidade, meu diploma de sofrer de outra universidade, minha fala nordestina, quero esquecer o francês. E vou viver as novas que também são boas o amor/humor das praças cheias de pessoas, agora eu quero tudo, tudo outra vez”.   

AE (Afetados de alegria) – Chegado a esse platô, você gostaria de desejar algo às pessoas?

B (Muito contente) – “Quero desejar, antes do fim, pra mim e os meus amigos, muito amor e tudo mais: que fiquem sempre jovens e tenham as mãos limpas e aprendam o delírio com coisas reais”.

AE – Belchior, nós trouxemos alguns instrumentos, você aceitaria terminar a entrevista cantando uma de suas músicas que tocam diretamente ao momento atual do golpe que estanca o Brasil. Como somos seus fãs de carteirinhas, nós até poderíamos fazer o backing vocal. Mote e Glosa? Vamos nessa! Aí, moçada, acessante do Afinsophia e Esquizofia, um abração e beijos. Logo, logo estaremos novamente com Belchior “balançando o coreto”. Não é. Belchior (Ele balança a cabeça gargalhando)?

“é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo

é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo

é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo

é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo é o novo

passarim no ninho

(tudo envelheceu)

cobra no buraco

(palavra morreu)

você que é muito vivo

me diga qual é o novo

me diga qual é o novo

me diga qual é o novo

                            novo

                            novo

                            novo

me diga qual é o novo

me diga qual é

me diga qual é o novo

me diga qual é

me diga qual é o novo

me diga qual é”.

Obs: Embora Belchior tenha musicalizado várias letras de outros companheiros seus,  como por exemplo, Jorge Melo, Fausto Nilo, Francisco Casaverde, Gracco, até com o reacionário coxinha Fagner, entretanto, a maioria das letras aqui expostas são de sua autoria.

ARTISTAS GRAVAM VÍDEO EM DEFESA DA CAUSA INDÍGENA: “DEMARCAÇÃO JÁ!”

Abril 26, 2017

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BANDINHA DO OUTRO LADO FAZ FESTA MOSTRANDO QUE É NETA SINGULAR-ORIGINAL DE DIONÍSIO

Fevereiro 28, 2017

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Entre os vários vetores fluxos mutantes e quantas desterritorializantes da Associação Filosofia Itinerante (Afin) que agenciam há mais de 14 anos em Manaus produções-moventes como corpos de novas formas de existir, sentir, ver, ouvir e pensar, a Bandinha do Outro Lado é festa singular e original da potência dionisíaca.

p1090569p1090574p1090576p1090577p1090581p1090584p1090589p1090590p1090599p1090600A Bandinha do Outro Lado se imbricou como corpo dionisíaco há nove anos na Rua Jaú do Bairro Novo Aleixo, zona Leste de Manaus. Uma das muitas regiões populacionais desassistidas pelos governos reacionários que se apossaram do estado do Amazonas e da capital Manaus. Na linguagem politicofastra (linguagem do falso político, o tagarela do Legislativo, Executivo e Judiciário, corpos alienados da democracia), é um curral eleitoral onde esses personagens exploradores da miséria do povo, que eles mesmos fomentam, conseguem suas eleições, reeleições constantes.

Desde sua inicial apresentação nas ruas do bairro que a Bandinha do Outro Lado se atualiza como real através das próprias criações das crianças. Suas fantasias são concebidas e elaboradas por elas. Certo que com o auxilio de alguns moradores. Como Dona Antônia, por exemplo.

p1090602p1090604p1090609p1090622p1090627p1090640p1090652Como a Afin é um corpo comunalidade e sua atuação é sempre um processual coletivo, não seria coerente a Bandinha do Outro Lado, como expressão do personagem que forneceu corpos para a emergência do Teatro Grego, a Filosofia e a Política, que os moradores ficassem fora da composição festeira de seus netos.

p1090653p1090663p1090665p1090678Nesse carnaval, que apesar de Temer e seus cúmplices golpistas, a Bandinha do Outro Lado fez sua festa em outra zona abandonada pelos exploradores governantes: Bairro Nova Cidade, que de novo só tem o nome: segue a antiga violência administrativa de outras zonas que não têm seus direitos urbanos garantidos. Fica no extremo de Manaus. Agora, a Bandinha do Outro Lado se apresenta na última rua, número 72, do bairro no limiar da mata, fronteira com um cemitério indígena. Porém, a potência dionisíaca-contínua segue a movimentação intensiva da poieses.

p1090686p1090690p1090691p1090697p1090702p1090723p1090742p1090749p1090757p1090761Aqui a letra desse ano do carnaval da Bandinha do Outro Lado. Carnaval que vibrou por todo Brasil em um uníssimo Fora Temer! Para o bem da Democracia!

     A Bandinha do Outro Lado está na Nova Cidade Ô, Ô,Ô

     Veio lá do Novo Aleixo com sua festa vontade Ô,Ô

     Para fazer o carnaval Dionísio da criança

     Por isso, ninguém vai ficar fora da dança.

     “Corre, corre lambretinha”,” se a canoa não virar”,

     “Eu vou pra Maracangalha” “abre alas que eu quero passar”

     “Viva o Zé Pereira, viva o carnaval,

      Viva o Zé Pereira que a ninguém faz mal”.

     Vejam algumas imagens dionisíacas.

  Vejam um breve vídeo. 

TOM ZÉ, 80 ANOS: ‘CANÇÕES ERÓTICAS DE NINAR’ E OUTRAS CANÇÕES

Outubro 14, 2016

  Artigo publicado pela Rede Brasil Atual.

 

tom zé

São Paulo – O cantor e compositor Tom Zé completa hoje (11) 80 anos em meio ao lançamento do disco Canções Eróticas de Ninar que, como ele escreve no encarte do álbum, resgata “os assuntos do sexo como eram tratados (ou não) na minha infância e juventude”, abordando também a opressão sofrida pela mulher. “As famílias não falavam nada de sexo. Só vim saber que meu pai transava com a minha mãe aos 16 anos”, contou em entrevista a Oswaldo Luiz Colibri Vitta, no programa Hora do Rango, da Rádio Brasil Atual.

“Nós, que fomos crianças na década de 1940, vivíamos em um ambiente no qual as relações humanas eram completamente diferentes. O namorado não podia transar com namorada e as moças eram obrigadas a viver dentro de casa. E onde tem mais repressão é que surgem as coisas mais ousadas”, contou o baiano de Irará, relembrando sua primeira experiência sexual. “Naquela época era comum homem frequentar prostíbulos. Um belo dia um amigo te leva lá e alguém te socorre.”

As 13 faixas que compõem o disco contam, no estilo marcante do artista, sobre o tabu da virgindade feminina e a educação sexual pelo contato com os empregados. O álbum foi lançado no início deste mês no Sesc Pompeia, em São Paulo. No próximo dia 22, o trabalho chega ao Rio de Janeiro, no Circo Voador. “Meu segredo é que eu sempre fui doente e aí eu tive que viver tendo um cuidado danado. Sou precavido na vida.”

“A canção brasileira é uma coisa muito importante na vida da gente”, diz o artista. “A universidade King’s College, de Londres, fundou um Centro de Estudos da América Latina com um setor apenas para o Brasil. A principal fonte de estudo desse centro é a canção do Brasil.”

Sobre planos, Tom Zé afirmou que prefere guardá-los para si. “Na Bahia tem um provérbio que diz: ‘Mulher que fala muito perde logo seu amor’. Então, a gente não pode falar dos planos que tem senão esfarela. O segredo provoca uma combustão que é necessária para você ter força para trabalhar”.

Com bom humor, Tom Zé lembrou de momentos marcantes do seu trabalho, inclusive aqueles que não foram bem aceitos em determinados nichos. “Em 1973, fiz o disco Todos os Olhos, que hoje é um sucesso, mas na época me tirou de circulação. Em 1976, fiz Estudando o Samba e também não tive aprovação em lugar nenhum. Em 1989, eu estava me mudando de volta para Irará para trabalhar no posto de gasolina de um sobrinho, quando soube que (o músico norte-americano) David Byrne estava interessado nesse trabalho. Ele veio para cá, conversou comigo e o disco fez muito sucesso na Europa e nos Estados Unidos.”

O compositor se recusa a servir de exemplo para quem pensa em se aposentar e parar de exercer suas atividades profissionais. “Não posso dar recado para quem está se aposentando. As pessoas se aposentam quando querem, quando acham necessário, quando esgota a veia”, diz. “Eu comecei muito tarde na música. A primeira vez que cantei na TV foi em 1960, já tinha uns 24 anos. Foi em um programa de calouros que chamava Escada para o Sucesso e eu apresentei a música Rampa para o Fracasso e encaixou muito bem”, lembra.

“A gente tem que ser compreensivo com a vida de cada pessoa. Às vezes, a pessoa não quer mais fazer, já fez o que tinha que fazer. O Chico Buarque, por exemplo, é admirável, um melodista incrível e agora está escrevendo mais livros. A pessoa pode entrar em outro círculo de interesse, em outra onda.”

Confira a entrevista na íntegra, que contou com a participação da professora da Unicamp Regina Machado, que produziu um disco só com músicas de Tom Zé.