Archive for the ‘Discos Marcus Pereira’ Category

VIVA O VINIL! – TRIBUTO A MARCUS PEREIRA

Maio 6, 2014

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Aí, vinilesquizofílicos! Hoje, o passeio do esquizo é uma bolacha crioula de arrepiar os amantes da música inquietante, exaltar os que respeitam o homem que mudou a estratégia de produção musical no Brasil e satisfazer os colecionadores das joias raras do Viva o Vinil!

Mais uma vez, esse Esquizofia apresenta uma relíquia da arqueologia discográfica da Associação Filosofia Itinerante (Afin) da qual ele é um vetor-virtual. Trata-se da Edição Especial gravada pela Discos Marcus Pereira, em 1982, Tributo a Marcus Pereira. Não podia deixar de ser uma Edição Especial. Disco que traz obras de Josias Silva Sobrinho, Cartola, Paulo Vanzolini, José Maria Giroldo, Carlos Paraná, Adauto Santos, Leci Brandão, adaptação de O Menino feita por Dercio Marques, Chico Maranhão, João do Vale, Helena Gonzaga, Rossini Tavares de Lima, Leo Karan e Gilberto Karan só podia ser uma Edição Especial.

E mais, apresentação do eminente e resistente jornalista, escritor, amicíssimo de Marcus Pereira, e também boêmio, porque socialista não é de ferro, Audálio Dantas. Um homem com uma história política rica nos meandros do Brasil. E mais do mais, em sua apresentação, ele faz um esboço histórico do Jogral. Jogral, criado junto com Carlos Paraná, “bar e assembleia permanente de amigos”. E mais do mais, do mais, traça as linhas da criação da Discos Marcus Pereira.

Deixemos de coisas. Vamos ao Audálio Dantas!

 MANDA VER, AUDÁLIO DANTAS!

“Uma sensação muito clara de enriquecimento de quem conseguiu fazer treze pontos no jogo mais importante da vida, que é o da relação Humana”.

Quem disse isso foi Marcus Pereira, por causa da alegria que sentiu no dia em que ganhou um violão de estimação, presente de Carlos Paraná, seu parceiro de canções e inventor do “Jogral”, bar e assembleia permanente de amigos.

Marcus Pereira foi o co-inventor e sócio do “Jogral”, um bar tão verdadeiro que podia ser equiparado ao mais honesto dos botequins deste país. Na verdade, o “Jogral”, bem comparado, era um botequim que fazia algumas concessões: tinha lé seus uísques e outras bebidas finas. Mas não desprezava a cachaça, da qual alguns fregueses, como Paulo Vanzolini, doutor em bichos e sambas, tomava generosas talagadas. Com gelo. No mais, era assembleia permanente, a roda de amigos, de gente que se queria. E música.

A música, da boa e brasileira, era a presença mais forte no “Jogral”. Tanto, que o nome do bar virou selo de disco e foi parar numa gravação histórica – “Paulo Vanzolini, onze sambas e uma capoeira” – a primeira de uma série que de tão boa, terminou por dar origem a uma empresa hoje incorporada ao patrimônio cultural brasileiro – “Discos Marcus Pereira”. Este primeiro disco, de 1967, trazia a marca “Jogral” e dava a dimensão do próprio bar, que reunia os melhores interpretes da música popular brasileira (a rigor, nenhum dos nosso músicos importantes, de Cartola a Chico Buarque, deixou de passar pelo “Jogral”, a serviço ou em missão de boemia e amizadae).

Outro disco com a marca do “Jogral” sairia em 1968, “Flauta, Cavaquinho e Violão. Um disco de choro, corinho brasileiro, Carinhos, Tico-Tico no Fubá, Brejeiro, André do Sapato Novo, Apanhei-te Cavaquinho. Os interpretes, gente de casa, Manezinho da Flauta, Adauto Santos, Geraldo Cunha, Benedito Costa, Fritz. E desse jeito um barra, um ilustre botequim ia tecendo a sua participação na história de uma produtora de discos.

Marcus Pereira navegava no sonho de produzir muitos discos de música brasileira de qualidade. No “Jogral”, seu barco de rirmos e afetos, ele foi, aos poucos, abrindo o caminho de sua produtora, tarefa repartida com Carlos Paraná, sócio de bar e de sonhos.

Do bar, Marcus Pereira era sócio minoritário. Sua participação, dizia, era “afetiva, artística, boêmia e desse capital nós recebíamos dividendos astronômicos”. O resto era garantido pela “Marcus Pereira Publicidade”, uma agência de sucesso que logo daria lugar a uma produtora de discos. Marcus justificaria mais tarde: “Eu não gostava do que fazia, em sã consciência é muito difícil gostar de ser cúmplice de interesses que vivem a estimular, ao delírio, o consumo numa sociedade onde apenas a minoria tem condições de consumir, inclusive as coisas fundamentais da vida”.

Estas palavras, este modo de ver o mundo definem Marcus Pereira, a quem este disco, com o selo dignificou, presta a devida homenagem. Um disco com música brasileira  da que Marcus mais gostava, interpretada por artistas que ele lançou, relançou ou simplesmente admirou.

Por enquanto, fica esta homenagem. O resto, o devido, virá no dia em que se escrever um novo capítulo da história da música popular brasileira, na qual deverá parecer, iluminado, o nome de Marcus Pereira, pastor da noite, arrebanhador de ritmos brasileiros, norte, sul, leste, oeste. Esse trabalho, o de arrebanhar ritmos, ele fez com tanto amor e competência, que, dizem por aí, pelos bares da vida, nos jograis que resistem, que o Marcus, como já aconteceu com Carlos Paraná, virou música”.

Audálio Dantas

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FICHA TÉCNICA

“Faz um ano, neste fevereiro de 82, que Marcus Pereira nos deixou. Lá se foi ele, convocado, quem sabe, pelo Carlos Paraná, para a fundação do “Jogral” do Céu. Por certo eles estão juntos, curtindo os momentos maravilhosos que passaram aqui deixando um altíssimo saldo positivo em favor da música e do músico brasileiro.

Marcus Pereira se foi e ficou um vazio enorme entre nós que o queríamos tanto. Procuramos, então, reunir as músicas que ele mais gostava e alguns amigos a quem ele deu a mão, gravando o primeiro disco. Saiu esta seleção de vários estágios, de várias épocas de sua gravadora, a Discos Marcus Pereira, muito mais um estado de espírito que uma gravadora convencional”.

COLEÇÃO DISCOS MARCUS PEREIRA COMPLETA EM TORRENT

Abril 25, 2013

Como já haviamos escrito anteriormente sobre sua história, os Discos Marcus Pereira são uma grande contribuição deste publicitário, musicólogo e amante da música popular para a nossa cultura musical e humana. Nosso povo teve oportunidade de ter contato com aquilo que lhe pertence em sua constituição ontofilogenetica, mas que cada vez mais com a (m)idiotização das rádios e televisões (felizmente com algumas poucas exceções), com a imposição da subjetividade cultural norte-americana e de outros padrões da indústria cultural, o brasileiro deixou de conhecer sua música.

O acervo dos Discos Marcus Pereira que foi comprado pela extinta Copacabana, depois ABW, e hoje está engavetado no acervo da Odeon. Preciosidades de grandes músicos, interpretes e intrumentistas que puderam enfim lançar discos como Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Banda de Pífanos de Caruaru, Canhoto da Paraíba, Carlos Poyares, Cartola, Chico Buarque, Chico Maranhão, Dercio Marques, Dilermano Reis Donga, Elomar, Evandro do Bandolim, Jane Duboc, Leci Brandão,  Luperce Miranda, Luis Carlos Paraná, Marcus Vinicius, Noel Guarany, Papete,  Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial, Quinteto Villa-Lobos, Raul de Barros, Renato Teixeira, Tia Amélia, Tó Teixeira,  Walter Smetak entre outros.

Porém o acervo de Marcus Pereira foi recuperado na internet e catalogado com todo esforço e esmero do amigoblog 300 discos que contou com auxílio de vários outros blogs como Abracadabra, Um que tenha, Toque Musical, Preludiando, Acervo Origens e tantos outros.

A própria lei de direitos autorais afirma que não se pode restringir o acesso a educação e a cultura, algo que acontece no caso dos Discos Marcus Pereira que há um bom tempo o povo é vilipendiado tanto no acesso através dos meios de comunicação de massa tanto quanto pela indústria fonográfica.

Desta forma com auxílio de uma leva de pessoas que disponibilizaram sua coleção pessoal trazemos com toda esta moçada e muito carinho e respeito a nossa música uma coleção praticamente completa dos Discos Marcus Pereira em torrent. Há somente três compactos que foram lançados como MP e não estão na lista: um de Adauto Santos,  o primeiro de Leci Brandão, além de Walter E Tereza Santos (Pesquisa, Arranjos E Direção Musical – Folclore Musical Baiano).

BAIXE AQUI O MAGNET LINK/TORRENT DA COLEÇÃO COMPLETA DOS DISCOS MARCUS PEREIRA

Viva a festa do São Bumba-meu-boi João

Junho 26, 2012

Eu conhecia do Bumba-meu-boi aquilo que se lê nos dicionários de folclore e nos raros livros disponíveis. Definições como a de Alceu Maynard de Araújo: “O bumba-meu-boi é um bailado popular largamente praticado no Brasil, no qual se nota a presença de vários elementos da arqueocivilização: animais que falam e dançam, a ressureição do boi, animal este que, para alguns autores, é um elemento totêmico. Há um pequeno enredo, de grande simplicidade, sendo que após algumas peripécias, matam o boi e sua carne é distribuída. É uma reminiscência do banquete totêmico ou tal distribuição simbólica, feita por um cantador, um trovador que sempre provoca hilariedade, não representará o antigo “pottlach ?”

Sabia que o Boi, em cada região do Brasil, apresentava-se com características absolutamente peculiares e que, no Maranhão, apresentava-se sob quatro formas diferentes: Boi de Matraca, Boi de Zabumba, Boi de Pindaré e Boi de Orquestra, cada qual com suas variantes. Sabia que, em algumas delas, o auto ainda é mantido enquanto que em outras permanecem alguns personagens (vaqueiros, caboclos de pena, Cazumbá, Pai Francisco, Mãe Catirina) e que a parte mais valorizada das “toadas de boi”, improvisos “puxados” pelos “amos do boi” durante toda a noite e repitidos pelo coro dos “brincantes”, como lá são chamados os participantes dos folguedos populares.

São Luiz

Naquela noite morna de São João, tive meu primeiro encontro com o Boi-Bumba do Maranhão. E meus olhos, meus ouvidos, meu coração foram pequenos para sentir toda a beleza, sem dúvida a mais incrível festa que eu já presenciei. Cesário, meu irmão e companheiro nessas andanças, seguia silencioso, ouvidos atentos, gravador em punho, procurando fazer com que pelo menos uma parte de tudo aquilo ficasse fielmente documentada. Foi graças a Américo Azevedo, um apaixonado pelo folclore maranhense, que conseguimos chegar mais perto do Boi. Seus amigos (entre eles, o Gregório Bacic, da TV cultura de São Paulo e velho admirador do Boi do Maranhão) nos levaram até o bairro Madre Deus, atravessando a cidade com suas ruas estreitas, seus velhos casarões, janelas, portões literalmente entupidos de gente alegre, viva, comunicativa.

A chegada no Bairro Madre Deus foi uma experiência extraordinária. Nos contaram que, até há pouco tempo atrás, era um bairro marginal, fechado, no qual “nem a polícia entrava”. Agora as coisas mudaram um pouco, mas continua difícil um forasteiro chegar lá. Madre Deus é um bairro pobre como tantos, em tantas cidades brasileiras. Mas na noite de São João, na noite do Boi, ele se transforma: as ruas ficam embandeiradas e, de espaço em espaço, grandes fogueiras iluminam as casas, os rostos dos homens que, junto ao fogo, afinam os grandes tambores do Boi. A sensação que tivemos foi a de atravessar um túnel do tempo, de entrar numa nova dimensão,num outro mundo.

Tabaco (Boi da Madre Deus)

Fomos à casa do Tabaco, o “dono do Boi’ da Madre Deus, quem organiza a festa e, antes disto, os ensaios (que começavam a se realizar em abril), quem distribui os vários papéis entre os “brincantes”, prepara a grande festa da morte do boi, lá pra fins de julho. Tabaco resolve todos os problemas: os da brincadeira do boi e os da pequena comunidade do bairro e, por força de sua liderança, acaba se transformando numa espécie de “prefeito” de Madre Deus. Quando falei disso, ele riu, satisfeito, acrescentando que “ser dono de boi é uma canseira danada, mas que vale a pena”.

Boi de Anthero

A  casa de tabaco vivia sua noite de glória e confusão. No meio da sala, vestido com um pequeno manto todo bordado de miçangas e pedrarias, a “pele” do Boi. No dia seguinte, Tabaco me mostrou uma dezena delas: todas bordadas com os motivos alegóricos de cada ano (A descoberta do Brasil, A primeira missa, Os mártires da Inconfidência, Alegria do povo, etc.). Nisso ele gasta um dinheirão. Mas, onde é que já se viu um Boi sem “pele” ? E por toda casa circulavam os “caboclos de pena” com suas incríveis fantasias de penas de ema (“ema, agora, não tem mais, então, a gente usa as penas daqueles espanadores, dos grandes, e cada fantasia fica num dinheirão”). Alguém já se encarregava de “molhar” o Boi e a garrafa de cachaça corria, fraternalmente de boca em boca, porque “boi seco” é um boi absolutamente desmoralizado.

Tabaco deu ordem para começar. Saímos de sua casa e fomos a um pequeno largo, pouco mais abaixo. E, realmente, a “coisa” começou. Não sei de onde, um som enorme tomou conta de tudo. Um som indescritível, uma batida, uma cadência que não tinha nada a ver com as que eu conhecia. Primeiro foi o “amo” “puxando a toada, depois os tambores-onça, depois as matracas (duas tabuinhas, semelhantes a dois pequenos tacos de assoalho), centenas delas batendo. Isso durou talvez meia hora, talvez mais. Depois tambores e matracas silenciaram e o povo começou a entrar numa capelinha, entoando rezas e ladainhas. Entramos também e lá, diante do altar repleto de imagens de santos e bandeirolas, estava o Boi, velas acesas sobre os chifres. Era o batizado do Boi, “porque não presta o Boi sair assim, pagão”.

Boi de Anthero

Só depois do batizado é que o Boi saiu à rua. Aí finalmente, o som dos tambores e das matracas, o canto, a dança e a brincadeira começaram. E só terminariam às nove horas da manhã seguinte, “quando o sol já estivesse alto, porque um Boi que volta para seu bairro antes do amanhecer é mal-falado o ano todo.

Na face A deste disco, tentamos dar uma ideia da Riqueza e beleza do Boi-bumbá do Norte. A beleza musical das toadas está exemplificada em “Me dá, me dá, Moreninha”, recolhida por Vicente Salles, na praia do Mosqueiro, Pará. “Boi-Bumbá” é um exemplo de um compositor erudito ou semi-erudito como Waldemar Henrique, inspirado em tema de Boi. Boi do Amazonas é outro tema de Boi, recolhido por Walter Santos. Com o Boi de Madre Deus fizemos uma colagem, reunindo toadas, batizado e entrevistas. Uma delas foi com Zé Igarapé, um velho “amo” de boi, da “turma de 1905”. Uma figura maravilhosa, respeitadíssimo e considerado pelo pessoal do Boi da Madre Deus uma espécie de patrono, de líder espiritual. Depois, seguem exemplos de Boi de Orquestra, Boi de Zabumba (Guarnicê) e Boi de Pindaré (Urrou), os vários sotaques do Boi maranhense. Guarnicê e Urrou são duas partes mais características da representação do Boi-bumbá. Finalizando mostramos uma gravação de 1938, realizada por uma equipe dirigida por Mário de Andrade, no tempo do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, o trabalho mais sério que já se fez (e isso há quase quarenta anos), no campo da cultura popular, e que prova a permanência das características fundamentais do Boi ao longo de todo esse tempo.

 

CAROLINA ANDRADE, Companheira de Marcus Pereira e coordenadora do projeto “Mapa Musical do Brasil” da nossa música popular. Os textos e fotos estão presente no disco “Música Popular do Norte vol.2” lançado como parte do projeto citado acima pelos Discos Marcus Pereira, e que até hoje é um dos principais registros de nossa cultura, música popular, danças e folclore.

Para baixar este disco ou conhecer mais sobre a coleção “Mapa Musical do Brasil”, clique aqui.

Viva o Vinil! : Quando o disco era cultura

Novembro 8, 2011

Encarte de disco da lendária Discos Marcus Pereira,

ou quando discos eram cultura.

ADEUS…

Setembro 27, 2011

O mar, debruçado no horizonte
Entregou o navio em que eu parti
Ao nada que fica dele adiante
E engole a ele, a mim e a ti.

Depois- é só lembraça da partida,
Agora- é só olhar e não ver nada
E a lágrima de há pouco é esquecida
Porque o adeus não espera a madrugada

São Paulo, 1967

Marcus Pereira, do livro Inconfidências, Editora Hucitec, 1977

Como o próprio musicólogo, publicitário, defensor das culturas brasileiras e um dos donos do Jogral disse, está é uma de suas ousadias poéticas

Amigos são p’ressas coisas…

Valeu Marcos por mais esta…

Toque Esquizomusicais: Música Popular do Brasil- Discos Marcus Pereira

Setembro 28, 2009

A produção da música brasileira sempre dependeu apenas dos encontros entre os povoados, músicos e pessoas dispostas em aumentar sua potência de agir ao compartilhar a vida com música. A música é vida. Para isto sempre foi necessários na criação de música apenas os encontros.
Porém quando a música passa a ser reproduzida por uma indústria, muitas vezes o resultado é um vazio, uma falta de vida, impotência.

Foi vendo esta experiência do esvaziamento músical no Brasil que Marcus Pereira decidiu ir para o fundo da caverna e buscar a música produtora de afetos alegres que existe no Brasil. Surgiu então os Discos Marcus Pereira, uma gravadora, produtora que não era uma qualquer, mas que era uma revolução no jeito da indústria sonora tratar a música brasileira: com amor, paixão e ginga. Como já escrevemos neste blog esquizófico, a gravadora provem da vontade de Marcus compartilhar com o Brasil a música que sempre foi nossa, e que nos foi expropriada; música que não é uma, mas infinitas variações criativas. Por isso Marcus Pereira foi um profano- o que quer levar pra fora- dos morros, pampas, seringais, mangues, rios, palafitas, guetos, trabalho, igapós… as músicas brasileiras.

O Projeto “Música Popular do Brasil”

A idéia de criar uma “arqueologia músical” já havia sido feita pelo escritor e musicólogo Mário de Andrade com as “Missões de Pesquisas Folclóricas”  que foi financiada pelo Departamento de Cultura em 1938, catalogando partituras, registros sonoros, diários, relatos, instrumentos, fotografias, etc. Esta foi a primeira busca de amplificar a música brasileira

Durante a transição da empresa de publicidade que tinha para a companhia de Discos, Marcus Pereira lançava discos-brinde para distribuir aos clientes no fim do ano. Em uma idéia do que gravar (após junto com o Jogral ter lançado a música de Paulo Vanzolini, e outro instrumental) surgiu a idéia da série de discos sobre “Música Popular do Brasil”. A primeira parte do projeto “Música Popular do Nordeste” foi feita a partir de pesquisas músicais e expedições aos vários estados do Nordeste desta música de infinitas váriações e movimentos criativos. O projeto rendeu 4 LPs e quando lançado em 69 ganhou grande repercursão, recebendo o prêmio Estácio de Sá do Museu da Imagem e Som do Rio .

Daí Marcus Pereira reuniu uma equipe de músicos e partiu para o Norte para coletar as produções populares da região. Porém esta música popular nada tem a ver com a música alesada amazonense/Norte, como a MPA por exemplo, que está preocupados em descrições ufanistas das paisagens imoveis e improdutivas (que é uma produção contra a natureza, contra a vida). As músicas e danças do Norte foram coletadas de forma alegre e produtiva, sempre buscando a música como resultado produtivo da comunalidade.

O Projeto de uma música popular foi complementado pelo lançamento do “Música Popular do Centro-Oeste” e “Música Popular do Sul“, tendo cada um dos projetos 4 LPs, totalizando um total de 16 LPs. O resultado foi também copilado nos 2 LPs do “Mapa da Música Popular”. Além dos músicos regionais, cantadores, vaqueiros, lavadeiras, trabalhadores, etc as coleções tiverão regência e produção de nomes importantes de nossa Música Popular como Radamés Gnatalli, Nara Leão, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Theo de Barros, Papete, Paulo Vanzolini, Renato Teixeira, Capiba, Quinteto Violado, Banda de Pifanos de Caruaru, Rogério Duprat, Noel Guarani, Elis Regina, entre outros.

Marcus em seus percursos produtores de potências alegres de comunalidade, conta em seu livro “A história do Jogral”, que ainda pretendia lançar o projeto “ Música Popular da América Latina“, projeto que anteviu a criação de outros como o de Ry Cooder e posteriormente de Win Wenders (Buena Vista Social Club), além dos discos da gravadora  Putalamayo. Porém até onde sabemos o projeto não foi lançado . Os links para baixar agradeço ao blog que hoje infelizmente não existe mais, Poeira e Cantos , que disponibilizou os links. Para baixar o a coleção Música Popular do Brasil é só baixar o TORRENT abaixo e escolher na aba Arquivos (ou files) a pasta da Música Popular do Brasil do Brasil com 16 discos. Os outros podem ser ignorados clicando com o botão direito nas faixas e depois colocando não baixar.

AGORA VOCÊ PODE BAIXAR  O MAGNET LINK/TORRENT DA COLEÇÃO COMPLETA DOS DISCOS MARCUS PEREIRA

Musica Popular do Norte 1 – Compositores e Interpretes do Norte / Waldemar Henrique Musica Popular do Norte 2- Bois do Maranhão / Boi do Amazonas/ Boi do Pará / Danças do Maranhão
Musica Popular do Norte 3- Modinhas e Romance do Pará / Festas Religiosas / Carimbos, Retumbão / Lundu e Chula Marajoara Musica Popular do Norte 4 – Polca,Mazurca e Chotis/ Música dos Índios Kamayurá, Marambiré e Desfeiteira / Tribos e danças do Amazonas / Batuque do Pará Pássaros

Musica Popular do Nordeste 1 –  Compositores e Interpretes Populares

Musica Popular do Nordeste 2- Evocações
179-3-Quinteto Violado - Música Popular do Nordeste 3Musica Popular do Nordeste 3- Bois, Folias de Reis, Côco

Musica Popular do Nordeste 4 – Bambelô/ Emboladas/ Marchas

Musica Popular do Centro-Oeste/Sudeste 1- Compositores Folclóricos Musica Popular do Centro-Oeste/Sudeste 2 – Sambas/ Congadas/ Jongo/ Moçambique / Cantos Religiosos
Musica Popular do Centro-Oeste/Sudeste 3- Folias / Calange / Cirandas / Coreto Musica Popular do Centro-Oeste/Sudeste 4- Modas de Viola / Toadas / Fandangos / Dança de Santa Cruz / Dança de São Gonçalo
Musica Popular do Sul 1- Compositores e interpretes gaúchos

Musica Popular do Sul 2- Milongas/ Música Missioneira / Cantos Religiosos/ Música de Inspiração Indigena

Musica Popular do Sul 3-  Cantos de Trabalho / Folclore de Santa Catarina- Ditos, Pajadas e Declamações

Musica Popular do Sul 4- Fandangos / Chamarrita / Chotes / Danças Gaúchas

Toque esquizomusicais: Discos Marcus Pereira

Agosto 13, 2009

Música como Arte

A música, assim como as outras artes, é produzida a partir da emergência do compositor em um espaço liso, onde o artista mergulha meio a palavras e imagens já constituídas para a partir delas tecer o novo, a criação. Esta produção sonora também pode ser composta do encontro entre pessoas que possuam elementos comuns.

No entanto a arte de produzir música é confundida com uma produção industrial ou com sua radiodifusão. Sendo assim a música passa a ser apenas uma mercadoria.  O problema não é no entanto vender a música afinal como diria João do Vale “Todos precisam viver”. Mas falsear uma produção musical para que esta tenha um elemento de alcance das massas sabendo que o afeto resultante desta composição só diminui e limita a potência de agir.

Música no Brasil

No Brasil, a produção musical foi engendrada a partir do encontro entre os sons trazidos pelos escravos da África; dos cantos e rituais ameríndios latino-americanos; música trazida pelos imigrantes (holandeses, portugueses, espanhois, alemães, etc). Desta miscigenação engendrou-se vários ritmos musicais e  danças como samba, baião, xote, maracatu, frevo, lundu, tambor de criola, o fandango, chegança, bumba-meu-boi, reisado, ciranda, carimbo, maculelê, cateretê, siriri, etc. A maioria destas músicas e danças regionais permanecem vivas na existência e produção de muitos brasileiros. Porém passou muito tempo desconhecido.

Durante os anos 60, época que rolou a ditadura militar, o conceito de musica que era mostrado ao povo era afunilado pela censura militar. O que restava dela era muitas vezes musicas  copiadas dos estilos americanos em voga na época. A bossa nova que se baseou principalmente no cool jazz; a jovem guarda na acefalidade do iê-iê-iê (inclusive copiando letras e melodias); a tropicália no rock and roll americano.

“O Jogral” e os Discos Marcus Pereira

Tendo este cenário musical como base e cansado da população não conhecer a produção brasileira de música, o músico Luis Carlos Paraná e Marcus Pereira decidiram fundar o bar “O Jogral”  por volta de 1966.O bar foi muito mais do que um recanto de boêmios ou um espaço de trabalho em remunerado para os músicos, e sim “um mini-templo da cultura brasileira” . Lá tocaram artistas de renome como Luiz Gonzaga, Adoniran Barbosa, Zé Keti, Ismael Silva, Araci de Almeida, Clementina de Jesus, Lupicínio Rodrigues,Maysa, Duke Elligton, Sarah Vaughan, Oscar Peterson, etc além de consagrar alguns outros desconhecidos como Martinho da Vila, Paulo Vanzolini, Papete, Leo Karan, Jorge Ben Jor. Em 1967 quando o Jogral andava em vento em polpa, Marcus Pereira teve a idéia de gravar um disco para dar de brinde de final de ano de sua empresa de publicidade. Como não havia muita experiência e dinheiro o disco foi subsidiado pela Finasa (cliente da empresa de Marcus) e teve musicas de Paulo Vanzolini gravados por outros artistas,  como Chico Buarque, Claudia Morena, Luis Carlos Paraná, Maurici Moura, etc .Este disco embora em tiragem limitada fez grande sucesso e repercutiu na mídia.

Em 1968, com a mesma idéia de produzir um disco brinde, o Jogral patrocinou um disco e usou como selo o próprio Jogral, que depois passaria ao acervo da Discos Marcus Pereira. O disco escolhido “ Brasil, flauta, cavaquinho e violão” foi concebido como um disco de choro e contou  com um time de mestres: Manuel Gomes (flauta), Benedito Costa (cavaquinho), Adalto Santos e Geraldo Cunha (violão) e Fritz (pandeiro).

Com o tempo e o gosto pela música, Marcus Pereira deixou a profissão de publicitário pois queria se dedicar a música brasileira, que praticamente era inexistente no mercado fonográfico dominado pelo capitalismo avassalador das grandes companhias (multi) nacionais. Em 1973, Marcus Pereira com as dificuldades que estavam ocorrendo no Jogral após a morte de Luís Carlos Paraná e principalmente com a viúva de Carlos Paraná, Martha Paraná, Marcus Pereira decidiu comprar o Jogral e finalmente fundar a Discos Marcus Pereira. O jogral ficou a partir daí na direção de José Eduardo Costa.

Pelo que se tem registro a Discos Marcos Pereira produziu por volta de 144 discos .  Dentre os artistas que passaram pelo selo a maioria nunca tinha gravado um disco, como no caso de Angenor de Oliveira, o Cartola, um dos fundadores da Mangueira e da cena do samba que trabalhava lavando carros ao ser chamados pra gravar seu primeiro LP aos 66 anos. Outros artistas que passaram pela gravarora foram Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Banda de Pífanos de Caruaru, Canhoto da Paraíba, Carlos Poyares, Carmem Costa, Cartola, Celso Machado, Chico Buarque, Chico Maranhão, Clementina de Jesus, Dercio Marques, Dona Ivone Lara, Donga, Elba Ramalho, Elomar, Evandro do Bandolim, Jane Duboc Luperce Miranda, Luis Carlos Paraná, Nara Leão, Noel Guarany, Orquestra Armorial, Papete, Paulo Marquez, Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial, Quinteto Villa-Lobos, Renato Teixeira, Roberto Silva, Tia Amélia, Velha guarda da Portela, Walter Smetak e muitos outros.

Infelizmente devido as grave recessão econômica, Marcus teve que fazer um acordo com a Copacabana discos e mais adiante por problemas de dívidas no início dos anos 80, a o recanto da potência da música brasileira fechou suas portas assim como o Jogral também havia feito. O catálogo com todas as obras ironicamente acabaram na mão dos estrangeiros da gravadora EMI (talvez apodrecendo). Algumas coisas foram lançadas em cd pela alemã ABW. E Marcus Pereira não achando mais linhas de corte para superar suas dividas, desilusões e ver o país em uma crise político-econômica escolheu continuar seu trabalho por aí em outros mundos. Afinal como ele mesmo escreveu no seu livro “Música está chegando a vez do povo. 1. A história do Jogral” em 76: “nós estamos fazendo”.

A maioria das datas e informações foram retiradas  do livro citado acima lançado pela editora Hucitec que é uma importante fonte de pesquisa e está esgotado. Mas ainda acha para comprar esta e outras obras de Marcus. Abaixo alguns links para baixar alguns da Discos Marcus Pereira. Pode divulgar também. Agradeço aos blogs pelo seu trabalhos com a música brasileira e pelos links Poerias e cantosSom Barato, Raridades Marcus Pereira, Loronix. Clique no nome do albúm para baixar e descompacte usando o brazip ou winrar. Os arquivos que estiverem em torrent (apenas 3 dos discos) você precisa baixar o Utorrent para baixar. Vamos ainda colocar em post separado a coleção “Musica Popular do Brasil”.

Por erro de pesquisa alguns discos que não são da “Discos Marcus Pereira” foram colocados aqui como se fossem. Mas mantemos e deixamos a respectiva gravadora entre parenteses

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Leci Brandão- Antes que eu volte a ser nada

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Paulo Vanzolini- Onze Sambas e uma capeira (1967)

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Carmem Costa e Paulo Marques- A musica de Paulo Vanzolini

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Banda de Pifanos de Caruaru- A bandinha vai tocar

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Abel Ferreira- Brasil Sax e Clarineta

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Carlos Poyares -Brasil Seresta

brasil trombone 

Raul de Barros – Brasil Trombone

Capa 

Mapa musical- LP 1

Mapa musical- LP 2

Capa - Na Quadrada das Águas Perdidas - 1979 

Elomar- Na quadrada das águas Perdidas

Capa - Parcelada Malunga - 1981

Elomar & Arthur Moreira Lima – Parcelada Malunga

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Cartola – Cartola (1976)

cartola74 

Cartola – Cartola (1974)

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Papete- Bandeira de aço

Cópia de capa 

Paulinho Nogueira- Nas asas do moinho (ARLEQUIM)

DongaAmusicadeDonga-FRONT 

Donga- A música de donga

flauta 

Manuel Gomes Regional-Brasil Flauta Cavaquinho e Violão

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Paulo Vanzolini- Por ele mesmo(…)

flauta bandolim 

Evandro e seu Regional- Brasil Flauta Bandolim e Violão

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Marcus Vinicius- Nordestino

papete

Papete- Berimbau e Percussão

Ponto de Partida

Sérgio Ricardo- Ponto de Partida

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Tia Amélia- A Bênção

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Walter Smetak (DESCONHECIDO)

todo choro

Todo o choro

Brasil Violão (Celso Machado, 1978)

Celso Machado- Brasil Violão

TUOV - Capa

Teatro União e olho vivo- Bumba meu Queixada

Musikantiga 2

Musikantiga 2

alma garra e melodia 

Noel Guarany- Alma garra e melodia

Dolores Duran- Reconstituição com Orquestra e Coro em 16 canais

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Altamiro Carrilho e Carlos Poyares- Pixinguinha de novo

Ari Barroso- Encontro com Ari Barroso (CONTINENTAL)

 

Canhoto da Paraíba- O Violão Brasileiro tocado pelo avesso

Quinteto Armorial- Do Romance ao Galope nordestino

 

Sete Flechas

Quinteto Armorial- Sete Flechas