O Brasil é composto por um povo de inesgotável capacidade criativa, assim como uma inesgotável capacidade de participação quando é provocado por atos irracionais e violentos. Sua capacidade criativa mais sua capacidade de participação se transforma, quando provocada, em um imbatível corpo de luta democrático. Uma disposição contagiante em que envolve todos os quadrantes expressivos de luta pela liberdade.
O golpe provocado pelas forças mais irracionais e brutas sintetizadas pela maioria do Congresso Nacional, as mídias capitalistas e entreguistas e parte do judiciário, serviu de excitação a essas capacidades de luta pela liberdade do povo brasileiro. São centenas – e por que não milhares? – de produções criativas que afloraram no país depois que foi arquitetado o golpe que afastou, por um breve momento, a presidenta Dilma Vana Rousseff, eleita com mais de 54 milhões de votos.
Todos os conteúdos, formas e expressões dessas produções criativas apresentam dois fatores contagiantes: a repulsa pelo golpista-maior: Temer, e a rejeição ao ato antidemocrático que exibe as partes mais sujas de seus executores. Por isso, total repulsa a um desgoverno ilegítimo formado por crápulas com pendências nas Justiças e na recente história do Brasil como grandes e soberbos canalhas.
Foi observando esse quadro pútrido e sua consequência no dia 17 de abril, quando os sórdidos parlamentares vomitaram suas entranhas pútridas na cara dos telespectadores que acreditavam neles e nos que não acreditavam, que os músicos Douglas Germano, Bruno Ribeiro, Fernando Szegeri e Arthur Tirone compuseram o samba A Minha Liberdade Custou Sangue que foi interpretado por um grupo de cantores e cantoras e divulgado pela página Roda Mundo, e ainda conta com as participações dos artistas Nelson Sargento, no auge de seus 92 anos, como Leci Brandão, Moacyr Luz, Carlinhos vergueiros, Hermínio Belo de Carvalho, Wilson Moreira, Wanderley Monteiro, Luiz Antonio Simas, Nei Lopes, Eduardo Galloti, Trajano, Didu Nogueira e Seu Dadinho.
Ouça e veja o vídeo e leia a entrevista com Bruno Ribeiro realizada por Gabriel Valery da Rede Brasil Atual.
Como foi o processo de composição do samba?
O Douglas Germano, compositor reconhecido, teve a ideia de fazer essa ação entre amigos. Fez a primeira parte e passou para nós. Na ocasião eu estava em São Paulo. Foi na véspera da votação do processo do impeachment na Câmara dos Deputados. Naquela mesma noite ele já tinha pensado na melodia e, assim que acabou a votação, o Douglas pediu para continuarmos. Fomos compondo, cada um um trecho e no dia seguinte estava pronto.
A música foi feita no 17 de abril, e acabou tendo tom profético. A letra é extremamente atual.
Sim, tivemos essa preocupação. Quando ficou pronta a música, fizemos pensando que o golpe viria, já que não seria fácil reverter. Não divulgamos antes, inclusive por isso, para que ele não perdesse essa característica atemporal. Não queríamos limitar o samba como se ele tivesse sido feito como protesto em relação à votação dos deputados, mas que ele se tornasse um hino da luta que viria, após o golpe consumado.
Como surgiu a ideia de reunir tantos nomes para fazer um clipe?
A ideia surgiu no dia seguinte. Quando ficou pronta a música, no dia seguinte começamos a mostrar para os amigos. Na ocasião, estávamos com a produtora Ana Petta, que fez junto com o Paulo Celestino. Eles foram produtores e diretores. Já tinham experiência em outros vídeos de bastante sucesso e eles sugeriram, dizendo que a música conseguia traduzir o sentimento da população em relação ao golpe. Então veio a ideia do esforço coletivo e todos adoramos. Começamos a correr contra o tempo.
Temos contatos com alguns sambistas, eu fui jornalista, escrevia sobre música durante dez anos e também componho. Então tenho contato com gente como o Moacir Luz, também viabilizamos o Douglas Moreira, o Nelson Sargento, a Leci Brandão, enfim, conseguimos explicar a proposta e eles também pensam como nós. Então, compraram a ideia, gostaram da mensagem.
Achamos simbólico, inclusive, começar com o Nelson Sargento, que está com 91 anos. Ele tem uma trajetória no samba que sempre teve uma posição de esquerda, democrática. E por ele ser o mais velho, pensamos que ele deveria estar. Então fizemos este esforço e ainda bem que deu certo.
Qual a força e a importância do samba para amplificar a voz da resistência?
O samba é a grande voz da população brasileira. Foi ao longo da história um meio para que a população pudesse se expressar. Acho fundamental que o samba entre nesta luta pela democracia, justamente pelo peso simbólico que ele tem dentro da cultura. Também porque ele tem um alcance muito grande. Ele comunica com muita gente. Da mesma forma como ele sempre esteve presente. Na ditadura militar, por exemplo, ele foi um centro de resistência. Cartola, Dona Zica, Paulinho da Viola, o próprio Nei Lopes, que aparece no nosso vídeo. Eram todos sambistas engajados com posicionamento crítico. O samba não poderia ficar de fora desta vez. A adesão destes sambistas representativos, que estão no vídeo, da uma legitimidade que queríamos. Eles assinaram embaixo, então, o samba também está engajado na luta a partir destes mestres.
Em tempos difíceis de nossa história, a música teve expoentes, como na ditadura. Agora, o golpe pode se tornar tema e motivar uma linhagem de composições?
Se essa situação se prolongar, a tendência, não só no samba, é que no meio artístico e cultural, tenhamos uma produção de canções, poesia, teatro e cinema que denunciem essa situação. Isso não é algo programado mas acontece naturalmente, porque o artista tem esta inquietação, esse posicionamento crítico nos momentos decisivos, principalmente na política. Essas situações aguçam o desejo de dizer alguma coisa. Tenho sentido já que os artistas estão começando a produzir e a tendência é que apareçam mais composições que façam esta denuncia.
Como foi o processo de composição do samba?
O Douglas Germano, compositor reconhecido, teve a ideia de fazer essa ação entre amigos. Fez a primeira parte e passou para nós. Na ocasião eu estava em São Paulo. Foi na véspera da votação do processo do impeachment na Câmara dos Deputados. Naquela mesma noite ele já tinha pensado na melodia e, assim que acabou a votação, o Douglas pediu para continuarmos. Fomos compondo, cada um um trecho e no dia seguinte estava pronto.
A música foi feita no 17 de abril, e acabou tendo tom profético. A letra é extremamente atual.
Sim, tivemos essa preocupação. Quando ficou pronta a música, fizemos pensando que o golpe viria, já que não seria fácil reverter. Não divulgamos antes, inclusive por isso, para que ele não perdesse essa característica atemporal. Não queríamos limitar o samba como se ele tivesse sido feito como protesto em relação à votação dos deputados, mas que ele se tornasse um hino da luta que viria, após o golpe consumado.
Como surgiu a ideia de reunir tantos nomes para fazer um clipe?
A ideia surgiu no dia seguinte. Quando ficou pronta a música, no dia seguinte começamos a mostrar para os amigos. Na ocasião, estávamos com a produtora Ana Petta, que fez junto com o Paulo Celestino. Eles foram produtores e diretores. Já tinham experiência em outros vídeos de bastante sucesso e eles sugeriram, dizendo que a música conseguia traduzir o sentimento da população em relação ao golpe. Então veio a ideia do esforço coletivo e todos adoramos. Começamos a correr contra o tempo.
Temos contatos com alguns sambistas, eu fui jornalista, escrevia sobre música durante dez anos e também componho. Então tenho contato com gente como o Moacir Luz, também viabilizamos o Douglas Moreira, o Nelson Sargento, a Leci Brandão, enfim, conseguimos explicar a proposta e eles também pensam como nós. Então, compraram a ideia, gostaram da mensagem.
Achamos simbólico, inclusive, começar com o Nelson Sargento, que está com 91 anos. Ele tem uma trajetória no samba que sempre teve uma posição de esquerda, democrática. E por ele ser o mais velho, pensamos que ele deveria estar. Então fizemos este esforço e ainda bem que deu certo.
Qual a força e a importância do samba para amplificar a voz da resistência?
O samba é a grande voz da população brasileira. Foi ao longo da história um meio para que a população pudesse se expressar. Acho fundamental que o samba entre nesta luta pela democracia, justamente pelo peso simbólico que ele tem dentro da cultura. Também porque ele tem um alcance muito grande. Ele comunica com muita gente. Da mesma forma como ele sempre esteve presente. Na ditadura militar, por exemplo, ele foi um centro de resistência. Cartola, Dona Zica, Paulinho da Viola, o próprio Nei Lopes, que aparece no nosso vídeo. Eram todos sambistas engajados com posicionamento crítico. O samba não poderia ficar de fora desta vez. A adesão destes sambistas representativos, que estão no vídeo, da uma legitimidade que queríamos. Eles assinaram embaixo, então, o samba também está engajado na luta a partir destes mestres.
Em tempos difíceis de nossa história, a música teve expoentes, como na ditadura. Agora, o golpe pode se tornar tema e motivar uma linhagem de composições?
Se essa situação se prolongar, a tendência, não só no samba, é que no meio artístico e cultural, tenhamos uma produção de canções, poesia, teatro e cinema que denunciem essa situação. Isso não é algo programado mas acontece naturalmente, porque o artista tem esta inquietação, esse posicionamento crítico nos momentos decisivos, principalmente na política. Essas situações aguçam o desejo de dizer alguma coisa. Tenho sentido já que os artistas estão começando a produzir e a tendência é que apareçam mais composições que façam esta denuncia.