Archive for Março, 2016

White God – A vingança dos oprimidos

Março 30, 2016

reprodução

Filme húngaro foi filmado com cerca de 200 cães treinados e conta a história de uma gangue de cachorros que saem às ruas para se vingar dos maus tratos.

Léa Maria Aarão Reis*

Foi numa visita por acaso a um abrigo público de cães que o húngaro Kornel Mundruczó – uma das vozes mais originais do cinema húngaro contemporâneo – encontrou inspiração para fazer o contundente filme White God  (Feher Isten ou seja, deus branco), em cartaz nas principais cidades brasileiras neste fim de verão. Filmado com cerca de 200 cães treinados por uma equipe de dez profissionais e com a americana Teresa Ann Miller, tida como uma das mais conhecidas adestradoras de animais do mundo, a produção deste jovem diretor é dedicada ao célebre colega, cineasta Miklós Janksó, morto aos 92 anos de idade.

A visita deixou-o em estado de choque. Ele descreve. “Eu me senti tão envergonhado vendo aqueles cães atrás das cercas apenas esperando pela sua morte que escrevi o roteiro sobre eles em apenas um mês; eu estava muito comovido.”

White God deixou o Festival de Cannes de 2014 de queixo caído pela sua força e originalidade. Arrebatou o prestigioso prêmio do certame paralelo Un Certain Regard e ganhou uma divertida “Palma Dog” para o melhor cão ator, naquele ano.


Misto de hiper realismo e de realidade, mas com traços de distopia, o filme de Mundruczó abre com uma cena impressionante que prenuncia a violência que virá. Nada que lembre filmes bem comportados e edulcorados sobre cães e suas relações afetivas com os humanos como Marley e eu, Beethoven, Hachiko ou 1001 Dalmatas. Sua narrativa é seca, objetiva e não concede a sentimetos e sentimentalismos mesmo bem intencionados.

Na abertura, uma menina, Lili, anda de bicicleta pelas ruas de uma cidade de Budapeste deserta, quando, de repente, mais de cem cães dobram uma esquina e começam a correr atrás dela. A partir dali a história é narrada em flashback. Hagen, o líder da matilha, meses atrás vivia com sua dona, a menina da bicicleta. Para não pagar a taxa cobrada pela prefeitura a quem é proprietário de cachorros vira-latas, o pai da garota, que detesta Hagen, o joga fora.

Inicia-se então a dolorosa jornada do cão. Ele vai parar nas mãos de um mendigo e é vendido para um treinador de cães de briga que o transforma em uma máquina de matar. Quando consegue escapar, Hagen monta uma gangue gigantesca de furiosos cachorros que saem às ruas para se vingar de todos os que o maltrataram e promovem um incrível arrastão pelas ruas de Buda e de Pest.


Lili, estudante de música, será a única que poderá deter os cães, com a melodia que toca no seu trompete. O último plano do final do filme, que permanece aberto, com ela deitada na rua na frente dos 200 cães também sentados, depois de acalmá-los com sua música, é uma das mais fortes imagens em tela de cinema, em tempos recentes. Arrebatador. 


Dois cachorros labradores gêmeos, Luke e Body, fazem o papel de Hagen. “Foi uma experiência terapêutica,” disse o autor do filme, em entrevista na época do lançamento na Europa. ”Os cães usados vieram da Sociedade Protetora dos Animais de Budapest, e no final dos trabalhos todos eles foram adotados,” garante.

White Goddeus branco – remete a um clássico do americano Samuel Fuller, Cão Branco (White Dog, de 1982), que também narra a história de um cão treinado para matar e é uma alegoria das relações racistas e da luta de classes. Ao mesmo tempo homenageia o romance de ficção científica dos irmãos russos Arcady e Boris Strugatsky, É difícil ser um Deus.

A produção de Mundruczó não é uma simples diversão. Carrega forte crítica social, cultural e política a uma Europa que vergonhosamente fecha as portas aos imigrantes refugiados das guerras que ela própria estimula, no seu alinhamento subserviente aos interesses econômicos e geopolíticos americanos. É uma crítica em particular ao próprio governo atual do seu país, de direita radical, que a eles fecha suas fronteiras de modo criminoso. “Para ser um artista independente na Hungria não é fácil,” anota Mundruczó.


O diretor diz que a história de White God foi inspirada nas relações sociais cada vez mais hostis dos dias de hoje “quando o senso de superioridade parece ser um privilégio da civilização ocidental. Ao invés das minorias, escolhi os animais como símbolo para a ultra violência sofrida pelos mais frágeis e pelas minorias sem defesas,” ele explicou.


“Desviamos muitas vezes nossos olhos dos recantos mais sombrios da sociedade – é o caso do tráfico de pessoas – como se fossemos Deus que vê a sua criação à distância. Mas quando Hagen é abandonado porque sua raça misturada faz dele um animal de estimação indesejável, sua dramática jornada acaba incitando uma revolução.”


A poderosa metáfora política e cultural criada por Kornel, que descende, em parte, de romenos, foi co-produzida  com dinheiro da Alemanha e da Suécia. E a sua principal inspiração, quando adolescente, veio do cinema de Rainer Werner Fassbinder, e, mais tarde, de Robert Bresson e de Akira Kurosawa, excelentes companhias, mas também dos brilhantes filmes de ficção científica pós apocalípticos criados pela Hollywood dos anos 90 – Terminator e Blade Runner.


Ainda vamos ouvir falar bastante – e bem – do autor de White God. E a leitura desse seu projeto cinematográfico radical e, por que não? pré-apocalíptico, vindo agora da distante Hungria vale para o nosso tempo e para o nosso momento de enorme tensão política, aqui, no Brasil: os oprimidos, injustiçados,  os caluniados e humilhados, os perseguidos de todas as formas voltarão sempre, em multidão e organizados, para a sua revanche.

*Jornalista e autora de Novos Velhos, Maturidade e Cada um Envelhece como Quer (e como pode)

GOLPISTAS INDIGENTES POLÍTICOS SÃO EXPLORADOS COMO FORÇA DE TRABALHO PELAS MÍDIAS ABERRANTES AO REVERBERAREM O QUE ELAS DIVULGAM

Março 28, 2016

Estreia no dia 31 de março, no Centro Cultural São Paulo, a exposição ‘Antonio Benetazzo, Permanências do Sensível’, com 90 obras até então desconhecidas do público.

O artista plástico, professor de Filosofia e de História da Arte e dirigente do Movimento de Libertação Popular (Molipo) Antonio Benetazzo foi morto no dia 28 de outubro de 1972 por agentes da ditadura militar brasileira. Suas obras, espalhadas pelas casas de amigos e familiares, permaneceram desconhecidas do público até agora. A exposição Antonio Benetazzo, Permanências do Sensível, que será aberta no dia 31 de março, às 19h, no Centro Cultural São Paulo, resgata 90 dos mais de 200 trabalhos garimpados durante quase dois anos de pesquisa.

AutorretratoA data de abertura não foi escolhida por acaso: no dia 31 de março de 1964 teve início o período mais obscuro da história do Brasil e é também o nome do sítio onde o artista foi morto a pedradas, na periferia de São Paulo. A exposição coroa o projeto desenvolvido desde 2014 pela Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo (CDMV/SMDHC) e conta com a parceria da Secretaria Municipal de Cultura e do Centro Cultural São Paulo, além do apoio do Instituto Vladimir Herzog.

Dividida em seis partes que apresentam os diferentes eixos temáticos e as variedades de estilo do artista, a mostra inclui desenhos realizados em 1971 (quando ele esteve na clandestinidade), estudos, objetos pessoais e cópias do Imprensa Popular, jornal oficial do Molipo, redigido por Benetazzo. Também será exibido o documentário Entre Imagens (Intervalos), um filme-ensaio sobre sua vida e obra, dirigido por André Fratti Costa e Reinaldo Cardenuto. O projeto de resgate do trabalho artístico de Benetazzo inclui ainda a publicação de um livro que traz artigos da curadoria, de especialistas e reproduções das obras selecionadas para a exposição.

“Estamos diante de uma bela obra, a transitar por diferentes estilos e a propor olhares ainda desconhecidos sobre o Brasil do regime militar. É imprescindível destacar que ele foi um grande artista, autor de um projeto estético singular”, afirma o curador da exposição, Reinaldo Cardenuto.Autorretrato 2

Os organizadores afirmam que um dos objetivos da exposição é fazer com que as pessoas reflitam sobre o perigo dos regimes autoritários: “A exposição, o documentário e o livro relembram que a ditadura não só impediu a produção e circulação de obras críticas contra o regime, mas atacou e prejudicou a sociedade como um todo. Um dos principais objetivos da mostra, além de inserir Benetazzo na história da arte brasileira, é incentivar os visitantes – principalmente aqueles que não vivenciaram o período da ditadura – a refletir sobre o regime autoritário para que o conheçam e não deixem que essa violenta história se repita”.

 

Procissão cultural encena lendas do folclore popular nas ruas de Mariana

Março 27, 2016

Mariana (MG) - Uma das atrações da Semana Santa de Mariana é a Procissão das Almas, manifestação cultural que ocorre na madrugada da sexta-feira para o sábado (Léo Rodrigues/Agência Brasil)

Leo Rodrigues – Correspondente da Agência Brasil

Nem só de religiosidade se faz a Semana Santa em Mariana (MG). Na noite de ontem (25), quando se celebrou a Sexta-Feira da Paixão, um grupo de 60 pessoas saiu às ruas para encenar lendas do folclore popular da cidade. Acompanhada sempre por olhares de uma centena de curiosos, a Procissão das Almas carrega uma tradição de aproximadamente 35 anos.

O cortejo é organizado pelo Movimento Renovador, uma iniciativa sociocultural independente cujo objetivo é contribuir para a preservação do patrimônio material e imaterial da Mariana. “Nós realizamos pesquisas sobre os elementos tradicionais e folclóricos da sabedoria popular”, explica a integrante do movimento e uma das coordenadoras Procissão das Almas, Hebe Maria Rola Santos.

Mariana (MG) - Uma das atrações da Semana Santa de Mariana é a Procissão das Almas, manifestação cultural que ocorre na madrugada da sexta-feira para o sábado (Léo Rodrigues/Agência Brasil)
Na Procissão das Almas, as pessoas se vestem todas de branco, escondendo seus rostos sob um capuz. Elas carregam um osso e uma velaLéo Rodrigues/Agência Brasil

Aos 84 anos, Hebe é também professora de literatura emérita da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Fascinada por histórias e contos populares, ela conta casos curiosas como a de um homem com dificuldades de locomoção que, após sete anos participando da Procissão das Almas, apareceu sem muletas na penúltima edição. “Ele jura que foi curado pelo nosso cortejo. Vou dizer o que para ele?”.

Duas lendas

Na Procissão das Almas, as pessoas se vestem todas de branco, escondendo seus rostos sob um capuz. Elas carregam um osso e uma vela e param em frente às igrejas que possuem cemitério para entoar uma canção. No meio do grupo, um participante fantasiado de morte segue carregando uma foice, enquanto Hebe Rola incorpora um personagem que carrega um cesto cheio de penas, que são jogadas para o alto de tempos em tempos. Esses três elementos, ossos, penas e cemitérios, se remetem a duas lendas populares da cidade e uma história real.

Diz a primeira lenda que uma senhora chamada Maricota passava seus dias na janela, fiscalizando a vida alheia. Era uma fofoqueira, na linguagem popular. Como já estava com má fama devido ao seu comportamento, decidiu mudar de bairro e também alterou seus hábitos: em vez de ficar na janela durante o dia, Maricota passou a ser vigilante noturna. Como Mariana tinha toque de recolher às 21h, o objetivo dela era delatar os infratores.

Uma noite de sexta-feira santa, viu uma procissão se aproximar, mas as pessoas escondiam o rosto dentro do capuz. Ela ouvia lamúrias, som de bumbo, correntes arrastando e uma canção: “Reza mais, reza mais, reza mais uma oração; reza mais, reza mais, pra alma que morreu sem confissão”. Como ela não conseguia identificar quem estava ali, começou a ficar intrigada sobre o cortejo que até então desconhecia.

Mariana (MG) - Uma das atrações da Semana Santa de Mariana é a Procissão das Almas, manifestação cultural que ocorre na madrugada da sexta-feira para o sábado (Léo Rodrigues/Agência Brasil)
 O cortejo é organizado pelo Movimento Renovador, uma iniciativa sociocultural independente cujo objetivo é contribuir para a preservação do patrimônio material e imaterial da MarianaLéo Rodrigues/Agência Brasil

De repente, um dos integrantes veio em sua direção dizendo que a noite é dos mortos e pediu para que ela guardasse a sua vela que mais tarde voltaria para buscar. Maricota ficou feliz por ver que finalmente alguém lhe tinha confiança. Quando a procissão voltou, a mesma figura novamente lhe procurou. Ela então foi buscar a vela, que surpreendentemente havia se transformado em um osso de perna de defunto. “O final possui mais de uma versão, sendo que em uma delas a fofoqueira morre de susto e passa a integrar anualmente a procissão dos mortos”, conta Hebe.

A segunda lenda se remete a uma senhora classificada como “barata de igreja” que é, na linguagem local, a mulher que está sempre bajulando o padre. Com a contratação de uma jovem moça para ajudar nas escrituras da paróquia, essa senhora fica muito enciumada. Ela, então, começou a espalhar o boato de que a nova funcionária era namorada do padre e, para conferir credibilidade à sua história, colocou sapatos do sacerdote sob a cama da moça.

Com o escândalo, a jovem perdeu o noivo, foi expulsa de casa pelos pais e virou andarilha. Um dia, ela retornou bem maltrapilha e bateu à porta de uma casa solicitando água. Enquanto a moradora atendia ao seu pedido, a moça caiu morta. O enterro foi organizado e toda a cidade, curiosa, compareceu para ver a falecida. Quando a “barata de igreja” chegou, o defunto sentou no caixão e disse “está aqui quem me caluniou”.

Mariana (MG) - Uma das atrações da Semana Santa de Mariana é a Procissão das Almas, manifestação cultural que ocorre na madrugada da sexta-feira para o sábado (Léo Rodrigues/Agência Brasil)
A Procissão das Almas, em Mariana, carrega uma tradição de aproximadamente 35 anosLéo Rodrigues/Agência Brasil

Desesperada, a senhora correu atrás do padre, que lhe repreendeu e lhe deu um castigo inusitado: recolher penas de aves em todas as casas onde há abatedouros no quintal, organizá-las em balaios, deixá-las no alto do morro e esperar que um vento forte espalhe-as por toda a cidade. Ao fim, conforme Hebe Rola, ela deveria recolher até a última pena. “Segundo a lenda, em toda sexta-feira da paixão, ela transita pelas ruas de Mariana coletando as penas”.

A Procissão das Almas faz ainda referência a uma história real, cujo personagem central é um maestro de Mariana. Ele criou o hábito, em todo o Sábado de Aleluia, de se dirigir aos cemitérios onde haviam músicos enterrados para tocar uma canção em homenagem a eles.

Morte

Embora tenha um viés cultural, a Procissão das Almas é também uma reza pelos que já se foram. Há pessoas na cidade que, pela referência aos mortos, têm medo do cortejo. É o caso do taxista Antônio Silva. “Na dúvida, prefiro evitar”, disse.

Aos 23 anos, o estudante de arquitetura Felipe D’ângelo superou o medo. Natural de Mariana, ele se vestiu de branco e integrou o cortejo pela primeira vez. “Sempre tive vontade de participar, mas desde criança eu tinha medo. Há uma mística na cidade em torno dessa procissão. Acho legal a interação que existe com as praças e as igrejas da cidade”.

Já o psicólogo Fábio Maia, de Belo Horizonte, escolheu Mariana para passar o feriado e ficou fascinado com o cortejo. “Estou achando fantástico porque ela foge do lugar-comum. Eu tenho 56 anos e nunca vi uma procissão igual na minha vida. Aliás, eu não sou religioso, então essa é a única procissão que eu seguiria”.

O TESTAMENTO DE JUDAS 2016 SEGUNDO JESUS CRISTO

Março 26, 2016

Sem título

Há anos, todos os sábados de Aleluia, este Blog Afinsophia publica o Testamento de Judas. Neste sábado, por motivo excepcional, Judas Escariotes não publicará seu testamento. Porém, o testamento será publicado sem qualquer vazamento seletivo e privilégio de mídia. Será divulgado a todos os brasileiros de forma democrática.

Depois de visitar várias cidades do Brasil conhecendo seus habitantes, seus costumes, tradições, expressões, anseios, dúvidas, certezas e expectativas, o homem chegou a um bairro na periferia da última cidade visitada por ele, entrou em uma taverna e pediu um copo com vinho. O proprietário da taverna, um senhor de meia idade, gordinho e sorridente, disse que seu estabelecimento, por ser simples, não vendia vinho, mas só cachaça.

O homem balançou a cabeça aquiescente e pediu a cachaça. O taverneiro pegou a garrafa no balcão e colocou uma dose. O homem lhe perguntou:

– Qual é essa medida?

– Uma dose. – respondeu o taverneiro.

– Coloque, então, mais duas doses. – pediu o homem.

O taverneiro encheu o copo do homem e, sorrindo, disse:

– Acabou. Era a última garrafa. Dizem que é a melhor cachaça do pedaço. Vem do Nordeste.

Nesse momento entrou um trabalhador, alegre e falante.

– Solta uma dose da ‘santa’!

– A ‘santa’ acabou. O parceiro aí comprou a última dose. – respondeu o taverneiro.

– Não pode ser! Logo hoje, dia santo falta a ‘santa’?

O homem sorriu e pediu ao comerciante para pegar outro copo. O comerciante entregou o copo, o homem dividiu a cachaça nos dois copos e deu um ao trabalhador.

– Valeu, companheiro!- pegou o copo e sorveu uma talagada e em seguida comentou: – Essa é pureza, pura. É quente.

– Quente como a vida. “Quem está perto de mim, está perto do fogo. Quem se distancia de mim, se distancia da vida”. – disse o homem.

– Grande filosofia da cachaça. Por isso que eu digo: a cachaça boa é como o rock. Como disse o roqueiro Neel Young: “nunca vai morrer”.

Entrou uma mulher e pediu uma dose de cana. O taverneiro respondeu que as últimas doses os dois fregueses estavam tomando. A mulher ficou triste, mas homem propôs um acordo: os dois dariam um pouco da cachaça para ela. O taverneiro trouxe outro copo e fizeram a divisão. O homem afirmou:

– Onde bebe um bebe três ou, talvez, mil.

– Assim já é o milagre do pão em forma de cachaça. – disse a mulher muito alegre.

O trabalhador olhou firmemente o homem e disse:

– Eu acho que te conheço.

– Pode ser. Um homem é ele, a sociedade e o mundo. Respondeu o homem.

– Tu és um filósofo! – afirmou o trabalhador.

Começaram a contar histórias, opinar sobre os acontecimentos no Brasil e cantar samba. A mulher, que tinha uma voz semelhante à de Jovelina Pérola Negra, cantou Sorriso Aberto, o taverneiro pegou um atabaque, o trabalhador tirou um som na garrafa seca e sambou. O homem sorria enquanto tentava alguns passos miudinhos.

Nesse momento, passando na frente da taverna uma menina de uns cinco anos se soltou da mão da mãe e olhando para dentro do estabelecimento, bradou:

– É Jesus Cristo!

– Tu tá doida menina! Que Jesus Cristo! – a mãe repreendendo a criança, puxou-a       pelo braço.

A menina se soltou e continuou bradando na frente da taverna:

– É Jesus Cristo! É Jesus Cristo! Eu sei que é ele. – Bradava convicta a criança.

– Não é Jesus Cristo! Jesus só vai voltar a terra no Juízo Final, para julgar os vivos e os mortos  elevar os bons para o paraíso – replicou a mãe.

– Ele é Jesus Cristo! E esse Juízo Final é mentira. Jesus Cristo está ali! 

– Como que tu tem certeza que esse homem é Jesus Cristo? – perguntou a mãe.

– Eu sei que é ele porque ele tem esse cabelo, usa essa roupa e calça essa sandália.

– Então aquele teu tio cachaceiro é Jesus Cristo, porque ele parece com esse homem. – debochou a mãe.

– O titio não é Jesus Cristo, mas é filho dele. –respondeu a menina.

O taverneiro, o trabalhador e a mulher olharam intrigados para o homem. A mulher de forma suave, falou:

– Essa criança não está mentindo. – ficou em silêncio e perguntou: – Tu és mesmo Jesus Cristo? O filho de Maria?

O homem sorriu para os três, foi até a criança na rua e disse:

– Vinde a mim as criancinhas!

A menina alegre, cheia de contentamento, se jogou nos braços do homem, e disse:

– Eu sabia que tu eras Jesus Cristo. Eu sabia que tu eras Jesus Cisto, porque tu és diferente dos Jesus que os pais, professores e pastores falam. O Jesus que eles falam é triste, sofredor, causa pena, castiga, julga, cobra para ser amado. Um Deus que quer ser amado não é Deus. Isso não pode ser uma pessoa que ama. O amor não é triste. O amor não cobra amor. Quando eu te vi eu tive certeza, Tu és alegre.

A menina foi interrompida com a mãe chamando:

– Vamos embora encontrar teu pai na feirinha.

– Não precisa ir. Ele já estar em casa, – disse o homem.

A mulher, desconfiada, pegou o celular, ligou ao marido, ele atendeu e disse que já estava em casa. A mulher tremeu. Puxou a menina com força e disse:

– Vamos já embora, esse homem é o diabo!

– A senhora não acredita em sua filha. Não é uma boa mãe. Como não é uma boa mãe, por que vai ter outro filho? – perguntou o homem.

– Meu Deus! – gritou a mulher que antes havia recebido informação de sua médica que estava grávida.

– Eu vou ter um irmãozinho? – perguntou a menina abraçando o homem.

Como a conversa estava ocorrendo na frente da taverna logo outras pessoas foram chegando para saber o que estava ocorrendo. Um homem em uma cadeira de rodas se aproximou, o homem foi até ele e perguntou o motivo dele se encontrar naquele estado.

– Eu sofri um acidente, e o médico disse que eu estava paralítico e agora minha vida é essa cadeira. – respondeu.

O homem foi até ele, pegou em suas pernas, examinou músculos, ossos, nervos, apertou-os, e o cadeirante deu um breve gemido. O homem pediu que ele levantasse e andasse. Com receio foi levantando, até que ficou em pé e começou a andar e gritou:

– É milagre! Estou curado! É milagre!

– Não, não é milagre! O seu médico é inimigo de Hipócrates. O seu médico é um charlatão. O seu problema era apenas uns nervos de suas pernas que estavam sobre outros. Por isso que quando o senhor movimentava as pernas elas doíam e o senhor não andava.

– Agora eu vou tocar fogo nessa cadeira miserável. – disse o ex-paralítico.

– Não! O senhor deve doar a quem verdadeiramente necessite. – aconselhou o homem.

Nesse momento chegou perto do homem um rapaz com o braço direito em forma de foice pedindo que ele lhe ajudasse, porque ele não suportava mais ser apelidado de braço de remo. O homem pediu que ele imaginasse um acontecimento de lhe enchesse de forte alegria e em seguida pulasse com o braço socando para cima. O rapaz fechou os olhos se concentrou e gritou:

– Goooooool! – parou, viu o braço no estado normal, gritou que era milagre e se ajoelhou diante do homem.

– Levanta-te! Não é milagre. O teu medo te impedia de esticar o braço, por isso essa forma de foice.

Aproximou-se um homem de paletó, a gravata bem apertada pedindo que o homem currasse uma dor de cabeça insuportável que só ocorria quando ele ia trabalhar como porteiro de um clube. O homem pediu que ele afrouxasse o laço da gravata. Ele afrouxou e a dor desapareceu. O homem explicou que a dor de cabeça é causada pelo forte laço da gravata que impedia a irrigação do sangue.

De repente a rua foi tomada por milhares de pessoas que queriam ver Jesus Cristo e pedir cura. Um idoso se aproximou do homem e disse:

 – Eu não quero nada para mim, senhor. O que eu quero é para todos. Eu quero que o senhor ajude a vida do pobre melhorar.

O homem sorriu e disse:

– É por isso que estou aqui no Brasil. Mas a vida do pobre já começou a melhorar. Lula e Dilma já começaram o trabalho tirando mais de 40 milhões de brasileiros da faixa da extrema pobreza. O meu trabalho é apenas de auxiliá-los.

– “Não vai ter golpe! Não vai ter golpe!”. – os milhares bradaram.

Uma senhora se aproximou e disse que o problema dela era problema de toda a comunidade: falta de água. Nesse momento um caminhão passou com força sobre um buraco e quebrou um grosso cano de conduzia água. As pessoas ficaram eufóricas e passaram a tomar banho e beber água. O homem então falou:

Não é melhor consertar o cano, colocar uma torneira e transformar em água coletiva?

Todos aplaudiram e uns operários se encarregaram de fazer o serviço hidráulico.

A dois quilômetros de distância do local, uma mulher muito enferma, desenganada, esperando a morte, ouviu o brado coletivo. Com esforço se levantou, foi ao banheiro, tomou um bom banho, vestiu seu melhor vestido vermelho, azul e branco, se maquiou, meteu seu salto alto, e foi ao encontro de Jesus Cristo. Enquanto caminha pelas ruas dizia:

– Morrer sem conhecer Jesus Cristo é não ter nascido. – e todos que a ouviam seguiam-na.

Diante da multidão o homem disse que naquele sábado de Aleluia ele tinha uma missão a realizar. Divulgar o testamento de seu amigo Judas.

–  Judas não teu amigo! Ele te traiu! – bradou um homem colérico.

– Não, Judas não me traiu. Vocês acreditam em uma inverdade propagada pelo império romano e por Paulo para mudar minha história. Judas era um militante que queria a liberdade do povo. Eu também perseguia esse ideal, mas diferente de Judas. Para mim, para que um povo seja livre é preciso primeiro que cada um tenha sua alma libertada, primeiro. Judas queria logo a liberdade da alma coletiva.

– Judas lhe traiu por 30 moedas e tu morrestes para nos salvar – bradou outro homem.

– Não. A história dessas moedas é falsa. Você sabe quanto está custando o dólar? – perguntou o homem.

– Não. – respondeu o homem das 30 moedas.

– Pois é, se você não entende da moeda atual como entender da moeda de há dois mil anos. Quanto a eu ter morrido por vocês, ninguém morre por ninguém. Cada um morre em si sem sequer saber que morreu. Como diz meu amigo filósofo Epicuro: “quando estamos vivos a morte não existe, e quando morremos somos nós que não existimos”. Quer dizer nós não sabemos o que é morrer. – respondeu ao homem e continuou. – Judas não pôde vir aqui apresentar seu testamento e em seu lugar vim eu. Espero que vocês gostem 0000000000de meu testamento de Judas.

Judas me falou que o brasileiro

É um povo inteligente e maravilhoso

Mas também me alertou

Sobre um número mal e horroroso.

Que não sabe conviver na democracia

Com quem tem espírito grandioso.

TESTAMENTO DE JUDAS SEGUNDO JESUS CRISTO

 

Minha corajosa amiga Dilma

Mulher do coração guerreiro

Acredite que não vai haver golpe

Porque Deus é brasileiro.

 

 

Continue governando seu povo

Com, ética, sentimento e razão

Pois não vai ser a estupidez

Que vai abalar essa nação.

 

 

A democracia é o regime

Em que a potência-política se alinha

E ela não será destruída

Pela inveja e ódio de coxinha.

 

 

Eles fingem ser honestos

Mas não enganam ninguém

O povo já entendeu

Que eles só querem se dar bem.

 

 

Quanto ao meu amigo Lula

Preso coercitivamente

No ano de 2018

Será outra vez presidente.

 

 

Seu nome é uma potência

Que deixa as direitas enlouquecidas

Quanto mais elas lhe atacam

Mais elas ficam perdidas.

 

 

As direitas não têm em seu meio

Nenhum nome para a presidência

Por isso para Lula vai ser sopa

Ganhar dessa indigência.

 

 

Aos movimentos sociais

Que lutam pelos direitos dos brasileiros

Deixo-lhes coragem, vontade,

Além de muito dinheiro.

 

 

Para todos os movimentos que agora

Defendem a democracia

Deixo-lhes a certeza inconteste

Os traidores não destruirão a soberania.

 

 

Aos que defendem o Estado de Direito

Uma lição é importante não esquecer:

Lutar, é verdade, é preciso,

Mas sempre visando vencer.

 

 

Ao meu amigo Chico Buarque

Que não compõe com nazifascista

Deixo-lhe mais inspirações

Para que sua obra resista.

 

 

Para minha amiga blogosfera

Imprensa livre e inteligente

Deixo a certeza inconteste

Do fim da mídia que mente.

 

 

Aos candidatos das esquerdas

Que vão disputar eleição

Trabalhem e não desesperam

O povo vai estourar a boca do balão.

 

 

Às direitas farisaicas

Que posam de imaculadas

Deixo a sabedoria do povo

Que mostra como são taradas.

 

 

Para burguesia-ignara

Ímpar na moral depravada

Deixo material de limpeza

Pra fossa, esgoto e privada.

 

 

Para o telespectador cordeiro

Que ainda acredita na Globo

Deixo o brio e a coragem

Do nobre e inteligente lobo.

 

 

À família Marinho

Que nega ser dona da Paraty Mansão

Deixo o Movimento Sem Terra

Com título de apropriação.

 

 

Para TV Globo golpista

Que 2018 termina a concessão

Deixo Lula eleito

Para acabar com a esculhambação.

 

 

Ao honesto Fernando Henrique

Que na hipocrisia se oculta

Deixo os documentos

Da namorada Miriam Dutra.

 

 

Ainda para o ‘príncipe’ sem trono

Que comprou sua reeleição

Deixo documentos de Pedro Correa

Que mostra como sua corrupção.

 

 

Ao ‘honesto’ Eduardo Cunha

Que do impeachment quer aceleração

Deixo o ministro Teori

Pedindo sua prisão.

 

 

Ao deputado Eduardo Cunha

Pelo STF investigado

Deixo-lhe a cadeia

A corrente, a chave e o cadeado.

 

 

Aos parlamentares corruptos

Que querem Dilma cassar

Deixo delação premiada

Para cada um consolar.

 

 

Ao ressentido Aécio Neves

De delação o hexacampeão

Deixo-lhe uma calculadora

Para saber seus anos de detenção.

 

 

Ao senador Aécio Neves

Que perdeu para Dilma nas urnas

Deixo-lhe mais uma derrota

Dessa vez no processo de Furnas.

 

 

Ao rei da bolinha José Serra

Entreguista da riqueza da nação

Deixo-lhe o livro otimista

“O Futuro de Um Vilão”.

 

 

Aos golpistas do PSDB e PMDB

Que querem assaltar o Brasil

Deixo-lhes a coleção completa

“Os Homens de Um Estado Vil”.

 

 

Ao governador Geraldo Alckmin

Desviante da merenda escolar

Deixo-lhe pão e água

Para bem se alimentar.

 

 

Ao ministro do TCU Augusto Nardes

Que pediu o impeachment da presidenta

Deixo a delação de Pedro Correa

Que mostra a moral que não se sustenta.

 

 

Ao prefeito Arthur Neto

Que na lista ganha quinhetão

Deixo ao povo de Manaus

A alegria de sua não reeleição.

 

 

Ao governador José Melo

Cassado por mau uso de capital

Deixo-o ao lado de Arthur

Na canoa do balatal.

 

 

Portanto, amiga Dilma

Não tema da besta o galope

Porque onde há povo livre

Não há qualquer tipo de golpe

A valentia das direitas

Não passa de um xarope.

 

 

Trabalhe como vem trabalhando

Para isso o povo lhe elegeu

E quando se unem o povo e Deus

Não vence nenhum fariseu

A voz do povo é a voz de Deus

E a democracia é a Comunalidade-Eu.

 

 

Agora peço licença

Porque vou me retirar

Vou seguir pra outro rumo

Encontrar outro lugar

Em que o povo seja feliz

Como esse que viu “a estrela brilhar”.

 

 

Parto levando saudade

Na mente e no coração

Pois jamais esquecerei

Desse povo meu irmão

Que luta contra os golpistas

Para não cair na escravidão!

A todos os brasileiros e brasileiras

Beijos no coração!

VIVA O VINIL! CHOROS E CHORÕES – OS NOVOS BOÊMIOS

Março 25, 2016

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Abel Ferreira, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Raul de Barros, Evandro Bandolim, José Leocádio, Sivuca, Bonfiglio de Oliveira e Roberto Stanganelli são os chorões que nós iremos vivenciar aqui no Estúdio Beverly nesse ano de 1983, esquizovinilfílicos.

P1010725Trata-se da bolacha-crioula volume 2 da Série Documento da Música Popular Brasileira. Um projeto para não divulgar a música instrumental, mas também para coloca-la em seu honroso lugar junto aos ouvintes que têm sensibilidade apurada, diferente da sensibilidade atrofiada produzida pela indústria fonográfica de consumo que só visa o lucro. Como ocorre com todas as formas de capitalismo.

P1010726Os Novos Boêmios mostram em sua bolacha crioula, joia raríssima, Choros e Chorões, uma incomparável performance musical ao executarem as mais talentosos peças do choro brasileiro. Alguém diria: “Uma verdadeira aula”. Não, não é uma verdadeira aula, mas um singelo curso de choro apresentado pelos instrumentistas com as sublimes obras choronas.

Agora é só chorar!

LADO – A

Atlântico/Naquele Tempo/Proezas de Sólon/Brejeiro/Na Glória/Sons de Carrilhões.

P1010728LADO – B

Flamengo/Chorando Baixinho/Eu Quero é Sossego/Homenagem À Velha Guarda/Paraquedista/Barba Azul.

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                                                   VIVA O VINIL!

VAI UM CINEMINHA AÍ? Meu amigo Nietzsche

Março 23, 2016

Filme sobre festival faz manifesto por direitos humanos e cidadania

Março 22, 2016

Com entrevistas e shows realizados no 3° Festival dos Direitos Humanos, promovido pela Prefeitura de São Paulo, curta resgata valores fundamentais da democracia: igualdade e respeito.

por Xandra Stefanel

“Nós moramos num país gigantesco, num país de extrema riqueza, mas com uma falta de sentimento de humanidade tamanha que leva ao sofrimento a grande maioria da sua população”. A frase do rapper Criolo faz parte de um vídeo lançado nesta sexta-feira (18) nas páginas do Facebook da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e das produtoras Recheio Digital e Eletrônica Viva. Trata-se de uma espécie de “prestação de contas” sobre a terceira edição do Festival dos Direitos Humanos, promovido entre os dias 6 e 13 de dezembro de 2015.

Mais do que relembrar as atividades e shows promovidos no evento, o filme traz entrevistas de vários artistas sobre questões ligadas aos direitos humanos e cidadania. Em tempos de tanta intolerância nas ruas, em que pessoas são agredidas pelo simples fato de pensarem de forma diferente, o vídeo acaba soando como um manifesto pelos valores democráticos de igualdade e respeito ao próximo.

“Eu olho dali de cima e vejo uma diversidade tão grande naquele público: gente mais velha, gente mais nova, gente de todas as cores, de todos os credos… Eu acho muito importante botar essas pessoas diferentes para conviver porque assim a gente acaba exercitando a tolerância”, afirma a cantora Pitty.

O vídeo começa com os artistas definindo o que significa “direitos humanos”. Pitty diz que “é o mínimo que as pessoas precisam para ter dignidade”; Gilberto Gil declara que “é o homem se defendendo do homem”; o estudante Rubi Assumpção afirma que é “a gente saber viver em grupo de uma forma tranquila”; e a cartunista Laerte define que “são os direitos que assistem a qualquer pessoa pelo simples fato de ser humana”.

Um dos momentos mais emocionantes do filme é quando, entre um show e outro durante o encerramento do festival, entra uma gravação no telão: “Amanhã, meu filho não vai ser refugiado, meu filho vai ser brasileiro. Meu filho vai brincar com o filho de vocês. Meu filho vai casar com os filhos de vocês. Eu vou ser seu sogro e você pode ser meu sogro de amanhã”, afirma um refugiado, seguido pela vibração da plateia, que grita e aplaude.

Elza“O que eu penso é a igualdade, o que eu penso é misericória, para que a gente possa ter um amanhã bem melhor. Está faltando o ser humano ouvir, porque ele não ouve, por mais que você grite, por mais que você fale, por mais que você busque esse tipo de socorro, você não tem”, opina a cantora Elza Soares que, no festival, apresentou a música A Carne.

Confira o vídeo completo na página da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

CHICO BUARQUE PROÍBE FALSO-ATOR, ANALFABETO POLÌTICO, DE APRESENTAR PEÇA COM SUAS OBRAS DEPOIS DELE, EM CENA, TENTAR DENEGRIR DILMA E LULA

Março 21, 2016

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O teatro ainda quando das festas dionisíacas na Grécia agrária, onde nasceu o nome tragédia, derivado do ritual de imolação do bode, tragos, oferecido ao deus Dionísio, já era uma arte potência-política. Depois que se tornou uma instituição do Estado grego, se formalizou totalmente como arte política. Não foi por acaso que os grandes festivais de tragédias e comédias eram referência políticas para o público por seu corpo estético pedagógico. O teatro é uma instituição política social.

Como potência-política todas as pessoas que se encontram envolvidas com essa arte dionisíaca, têm por responsabilidade social compreender os seus fundamentos, mas antes devem ser engajadas politicamente, posto que o principal corpo do teatro é o ato. E ato significa drama-ação. Sem conhecimento do ato como drama-ação não há política e muito menos teatro.

É o que ocorre com muitos alienados que querem ser tidos como pessoas de teatro para serem classificados como de bom gosto, sensibilidade superior e inteligência marcante. Como mostra a maioria dos canastrões que simulam arte teatral na TV Globo e que são chamados – por eles mesmos – celebridades, sem carregarem qualquer signo célebre. Esses os verdadeiros inimigos de Dionísio.

Pois é esse tipo de ‘celebridade’, ator e diretor Cláudio Botelho que resolveu encenar uma peça de teatro tendo como enunciado as obras de Chico Buarque, “Todos os Musicais de Chico Buarque”. Durante apresentação em Belo Horizonte, diante de uma plateia engajada com Chico, o canastrão resolveu usar palavras ofensivas contra Dilma e Lula. Na mesma hora recebeu o troco: a plateia começou a gritar: “Não Vai Ter Golpe!” e se levantou para pedir seu dinheiro de volta.

Ao saber do comportamento nazi-canastrão-fascista praticado pelo analfabeto político, Chico Buarque proibiu a continuação da apresentação do espetáculo. Segundo informações, o analfabeto-nazifascista-político sempre usa sua indigência para tentar denegrir pessoas que ele toma como inimigas como a deputada Jandira Feghalli e o senador Lindbergh pedindo a morte de ambos, além de chamar a plateia de neonazista. Ele o próprio nazifascista. Chamar a plateia de neonazista confirma seu grau de indigência afetiva e cognitiva.

Por sua decisão Chico é só aplausos dos que defendem a arte política-democrática.

Ironias e influências marcam conversa de Luis Fernando Verissimo com público

Março 17, 2016

Encontro do escritor com o público ontem (15) em São Paulo marca início das homenagens de seus 80 anos: “Perguntaram-me o que eu achava da morte. Eu disse: sou contra”

por Helder Lima, da RBA

São Paulo – A política foi tocada de leve e com ironia ontem (15) na conversa do escritor Luis Fernando Verissimo com o público, no Sesc Bom Retiro, centro paulistano, graças à Velhinha de Taubaté, um dos personagens centrais da sua carreira de cronista e humorista. “A Velhinha”, disse Verissimo, “nasceu no governo Figueiredo (João Baptista Figueiredo, 1979-1985), era a única pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo, ela virou atração política; caso que hoje é contrário, todo mundo acredita no governo. E a Velhinha resolveu morrer quando começou o mensalão”.

Verissimo, que durante cerca de uma hora respondeu perguntas do público, falou também de seus próximos projetos editoriais. “Deve sair um livro infanto-juvenil pela Companhia das Letras e outra coleção de crônicas”. O título infanto-juvenil deverá se chamar A bailarina que perdeu as calças.

Mas o que mais interessou ao público no encontro foram a relação com a escrita, seus dados biográficos e influências literárias. Verissimo contou que só começou a escrever tardiamente, depois de tentar sem sucesso outras carreiras. “Eu não tinha a mínima ideia de ser escritor. Talvez pelo fato de ser filho de escritor (Érico Veríssimo, 1905-1975), até os 30 anos eu não tinha escrito nada”, afirmou.

Também foi proposta a Verissimo uma reflexão sobre o tempo, em vista do fato de que em setembro ele completará 80 anos. “Perguntaram-me o que eu achava da morte, eu disse: sou contra. A gente sempre tem desconfiança de que vai viver para sempre, mas isso é uma grande sacanagem”, afirmou, provocando risos.

A relação com o pai e as influências literárias foram objetos de várias perguntas. Sobre o primeiro tema, Verissimo disse que apesar de ter crescido achando que não poderia ser escritor, sempre teve uma boa relação com o pai. “O fato dele ser conhecido, abriu portas para mim quando eu comecei, e não foi nada traumática nossa convivência.”

Ao responder sobre suas leituras, Verissimo retorna à relação com o pai. “Atualmente, eu leio pouco por prazer e mais para me informar, mas seu eu fosse escolher um livro, seria O Continente (de 1949), que é o primeiro volume de O Tempo e o Vento (concluído por Érico em 1961)”. Verissimo contou que acompanhou de perto a confecção desse livro. “Eu lia assim que a folha saía da máquina de escrever”, disse.

No debate, Verissimo também foi perguntado se considera a crônica um gênero menor. “Não acho, nós temos grandes nomes no Brasil que atuam no gênero, como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos”, afirmou, destacando também que um dos melhores cronistas no país foi o escritor pernambucano Antônio Maria (1921-1964). “Ele soube aproveitar o fato de a crônica ser um gênero indefinido”, disse Verissimo.

Outro tema que passou pelo debate foi a paixão de Verissimo pelo Internacional, de Porto Alegre. Verissimo já dedicou diversos textos a essa paixão, e disse que nesse caso não precisa de pesquisa para escrever, porque acompanha o time desde criança.

Vamos levar o Brasil pra frente, aceita que dói menos, diz Karol Conka

Março 16, 2016

Karol Conka e MC Carol a rapper e a funkeira que levam o feminismo em suas músicas

A rapper feminista Karol Conka fez um dos melhores shows do domingo (13) no festival Lollalooza, na capital paulista. Sem titubear, ela mandou um recado: “Nós, feministas, vamos levar o Brasil para frente. Aceita que dói menos!”.

O auge da apresentação foi quando Karol convidou outra rapper feminista para o palco, a MC Carol. As duas defendem o empoderamento das mulheres na música e na vida, e levaram o público à loucura no festival.

Karol Conka é uma das poucas vozes femininas que conseguiram quebrar barreiras no rap nacional, gênero em que há predominância de homens e muitas letras machistas.

Já MC Carol, negra, gorda e feminista, rompe padrões de beleza em suas canções e discursos. Conka fez a plateia vibrar ainda mais quando cantou “Tombei”, sua canção mais famosa, e em seguida falou sobre as conquistas do feminismo.

Do Portal Vermelho