Archive for Setembro, 2021

ARTISTAS, AFIRMAM QUE A GESTÃO DA CULTURA DO GOVERNO BOLSONARO É CONSIDERADA A PIOR DAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Setembro 30, 2021
  1. CULTURA

DESMONTE

Censura, cortes orçamentários e extinção de Ministério marcam a gestão

Ana Carolina CaldasBrasil de Fato | Curitiba (PR) | 30 de Setembro de 2021.

Matéria da edição especial impressa do Brasil de Fato Paraná, que circula nas ruas de Curitiba nesta quinta (30) – Foto: Giorgia Prates

Esvaziamento da pasta de Cultura, extinção do Ministério da Cultura, desmonte da Agência Nacional do Cinema (Ancine), acusações de censura, citações nazistas, alusão à ditadura militar, troca de gestores, moral religiosa para escolha de projetos a serem financiados são algumas marcas da gestão da Cultura do governo Bolsonaro, considerada pelos artistas ouvidos pelo Brasil de Fato Paraná a pior das últimas décadas.

Com uma medida provisória, em 2 de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro (sem partido) extinguiu o Ministério da Cultura (MinC). O conjunto de competências e órgãos articulados e dinamizados pelo MinC, em parte, foi distribuído para outros ministérios, outra parte acabou extinta.

A Secretaria Especial de Cultura está no Ministério do Turismo e entre suas funções está assessorar “o ministro do Turismo na formulação de políticas, programas, projetos e ações que promovam o turismo por meio da cultura”, conforme site oficial do órgão.

Além do esvaziamento, a troca de gestores foi marcada por pronunciamentos absurdos. Roberto Alvim protagonizou talvez o episódio mais emblemático de uma pessoa à frente da secretaria.

Reproduziu parte de discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda na Alemanha nazista, ao lançar o Prêmio Nacional das Artes. Ele foi substituído pela atriz Regina Duarte em março de 2020. Ela não conseguiu encaminhar nenhuma ação e, em uma entrevista à CNN Brasil, minimizou as mortes por Covid-19 e tentou atenuar a ditadura e suas práticas de tortura.

Após sua saída, assume o posto o ator conhecido pelo programa global “Malhação”, Mário Frias, que foi denunciado por trabalhar armado e ameaçar funcionários do MinC.

Em sua gestão, um festival de jazz realizado na Bahia teve captação de recursos pela Lei Rouanet negada. No parecer, é justificada a recusa como “desvio de objeto e risco à malversação do recurso público.” No documento, afirma-se que “o objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma.”

Brasil de Fato Paraná ouviu opiniões e análises de artistas paranaenses sobre o governo Bolsonaro e a cultura, para a edição especial impressa, que circula nas ruas de Curitiba nesta quinta (30). Veja algumas delas:

Projeto de desmonte 


Foto: Duda Dalzoto

Aly Muritiba, premiado como o melhor filme no Festival de Gramado:

“A começar pela extinção do Ministério da Cultura, depois as sucessivas indicações de pessoas desqualificadas para a pasta, paralisação de uma série de políticas publicas de cultura, abandono da Cinemateca com consequências terríveis, como o incêndio que recentemente destruiu parte do acervo do cinema nacional. A única política implementada por este governo é a perseguição aos fazedores de Cultura. Estamos vivendo um verdadeiro desastre.”

Acabar com políticas públicas para Cultura


Foto: Elenize Desgenieski

Nena Inoue, atriz paranaense premiada com o Prêmio Shell em 2019:

“Eu cito algumas frases do próprio presidente que já explicam esse projeto. Quando houve o incêndio da Cinemateca ele disse ’tá, e daí? Querem que eu faça o quê?’ Outra frase ‘se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine’, se referindo à censura em filmes, entre outras falas que expressam os ataques à cultura”, cita.

“Se antes tínhamos à frente da Cultura nomes como Juca Ferreira, Gilberto Gil e Ana de Holanda, que ampliaram as políticas para as diversas expressões culturais, agora temos só o desejo de silenciamento da cultura brasileira. Mas os artistas reagem. Mesmo com milhões de trabalhadores da Cultura desempregados, fizemos muita pressão e conseguimos aprovar a Lei Aldir Blanc, proposta pela deputada Benedita, e que garantiu auxílio emergencial a estes”, disse.

Alvo de ataques


Divulgação

Adriano Esturilho, presidente do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Paraná:

“Bolsonaro já deixava claro seu projeto de ataque aos artistas antes mesmo de chegar ao poder. Durante a campanha eleitoral, elegeu artistas e professores como alvos preferenciais de seus ataques. Isso se materializou em seu governo de uma forma ainda pior do que imaginávamos.” 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini

LAURA CAPRIGLIONE: PROPRIETÁRIOS DA PREVENT SENIOR, DONOS DE BANDA DE ROCK, CANTAM MÚSICA NAZISTA EM SHOWS

Setembro 29, 2021
Laura Capriglione: Nazismo explica adesão irrestrita de Bolsonaro à Prevent Senior; seus donos cantam música nazista em banda de rock; vídeo

DENÚNCIAS


29/09/2021.


EXCLUSIVO: donos da Prevent Senior cantam música nazista em banda de rock

por Laura Capriglione, em Jornalistas Livres

Os irmãos Parrillo, Eduardo e Fernando, donos da Prevent Senior, são roqueiros.

A banda deles, que conseguiu a façanha de ser escalada tanto para Lollapalooza quanto para o Rock in Rio, chama-se “Doctor Pheabes”.

Diga-se de passagem que isso só foi possível porque a Prevent Senior era a patrocinadora dos dois festivais.

Pois bem, os irmãos compõem músicas em inglês.

Aqui, vocês têm uma canção deles, chamada de “Army of Sun”.

Leia a letra e constate a idéia megalomaníaca desses “roqueiros” que querem, custe o que custar, impor militarmente suas idéias ao mundo, como em uma guerra.

Porque, afinal, eles são o “Exército do Sol”.

“Exército do Sol”, aliás, era o nome das SS nazistas, que tinha o nome de Waffen Schwarze Sonne, Waffen-SS, que na tradução do alemão, resulta em “Exército do Sol Negro”.

O nome “Waffen Schutzstaffel”, nome oficial das SS foi escolhido exatamente para ressoar o original “Waffen Schwarze Sonne”, o “Exército do Sol Negro”, que se encontra na mitologia original nazista.

As Waffen-SS eram a guarda pessoal de Hitler.

Só podiam pertencer a ela jovens germânicos “puro sangue”, com condições físicas e mentais excepcionais para matar e que manifestassem fidelidade canina à ideologia nazista.

Army Of The Sun



I don’t mind if you pull the trigger
I don’t mind if you think your bigger
We’ll bleed, we’ll fight
You won’t get away won’t get away

I don’t care if you turn off the lights
I don’t think you’ll win the fight
We’ll see the light
You won’t get away won’t get away

Cause we
We are the power
We walk on water
We stand together, stand together

We
We are the power
We walk on water
We stand together
We are the Army Of The Sun
We are the Army Of The Sun

Never tell us what to do
We know a thing or two
We stand together, stand together
Never tell us what to be
In the end it’s you and me
We stand together, stand together

Cause we
We are the power
We walk on water
We stand together, stand together

We
We are the power
We walk on water
We stand together
We are the Army Of The Sun
We are the Army Of The Sun

Couse we
We are the power
We walk on water
We stand together, stand together

We
We are the power
We walk on water
We stand together
We are the Army Of The Sun

Veja a tradução:

Exército do sol

Eu não me importo se você puxar o gatilho
Eu não me importo se você pensa que é maior
Vamos sangrar, vamos lutar
Você não vai fugir, não vai fugir

Eu não me importo se você desligar as luzes
Eu não acho que você vai ganhar a luta
Vamos ver a luz
Você não vai fugir, não vai fugir

Porque nós
Nós somos o poder
Andamos na água
Estamos juntos, juntos

Nós
Nós somos o poder
Andamos na água
Nos ficamos juntos
Nós somos o Exército do Sol
Nós somos o Exército do Sol

Nunca nos diga o que fazer
Sabemos uma coisa ou duas
Estamos juntos, juntos
Nunca nos diga o que ser
No final, somos você e eu
Estamos juntos, juntos

Porque nós
Nós somos o poder
Andamos na água
Estamos juntos, juntos

Nós
Nós somos o poder
Andamos na água
Nos ficamos juntos
Nós somos o Exército do Sol
Nós somos o Exército do Sol

Porque nós
Nós somos o poder
Andamos na água
Estamos juntos, juntos

Nós
Nós somos o poder
Andamos na água
Nos ficamos juntos
Nós somos o Exército do Sol

Você já achou sinistro até aqui??? Tem mais:

Cartaz do filme “O Abominável Dr. Phibes”: Prevent Senior é o terror dos médicos

O nome da banda, Doctor Pheabes, é claramente inspirado em Doctor Phibes, o protagonista dos filmes de terror “O Abominável Dr. Phibes” e “A Câmara dos Horrores do Abominável Dr. Phibes”, estrelados por Vincent Price.

Nas duas películas, Dr. Phibes é um organista que se torna o terror dos médicos que cuidaram de sua esposa Victória, morta depois de uma cirurgia de emergência por ter sido diagnosticada com uma doença rara.

Phibes culpa a incompetência dos médicos pela morte da mulher e passa os anos seguintes planejando e executando uma terrível vingança contra todos os cirurgiões que atenderam Victória.

Alguém vê algo em comum com a Prevent Senior e seus proprietários “músicos”, que oprimem, humilham e destroem reputações de médicos?

Esse caso é de delírio assassino nazista. O Brasil está entregue a essa gente!

PS do Viomundo: O furo jornalístico de Laura Capriglione, do Jornalistas Livres, é mais uma demonstração inequívoca do apreço dos donos da Prevent Senior ao nazismo.

Em depoimento à CPI da Covid nessa terça-feira (28/09), a advogada Bruna Morato, que representa os 12 médicos que denunciaram a empresa, afirmou que o lema “obediência e lealdade” é usado até hoje, inclusive pelo diretor-executivo, Pedro Benedito Batista Júnior.

“Obediência e Lealdade” era o lema das SS nazistas, organização paramilitar ligada ao Partido Nazista e a Adolf Hitler. Inicialmente, na Alemanha nazista e mais tarde na Europa ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

— Lema esse [Obediência e Lealdade] que ele [Batista Júnior] levou muito a sério e propagou para todos os seus subordinados. É lema da empresa, sempre foi lema, e continua sendo propagado. É graças a esse lema que a empresa continua usando a política de coerção — afirmou a advogada Bruna Morato.

Segundo a advogada, a Prevent também contava com funcionários chamados de “guardiões”, médicos que seriam responsáveis por garantir que plantonistas seguissem as normas da operadora e prescrevessem o “tratamento precoce” contra covid-19.

De acordo com a advogada, médicos da Prevent Senior tinham que “cantar o hino dos guardiões com a mão no peito”.

O “hino dos guardiões” (letra e música abaixo) é também de autoria dos donos da Prevent Senior, os irmãos Eduardo e Fernando Parrillo.

Veja a letra no hino:

Nascemos para trilhar
Um caminho a desbravar
Nascemos para viver
De lutas até morrer

E juntos nós estaremos
E juntos nós venceremos
Com espadas e com canhões

Nós somos os guardiões
Nós somos os guardiões
Nós somos os guardiões

O meu lema é teu escudo
Tanto faz na luz ou no escuro
E (inaudível) você e como eu

De nunca dizer adeus
E juntos nós estaremos
E juntos nós venceremos
Com espadas e com canhões

Nós somos os guardiões
Nós somos os guardiões
Nós somos os guardiões
Nós somos os guardiõe
s.

SÍTIO BURLE MARX SE TORNA OFICIALMENTE PATRIMÔNIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Setembro 28, 2021
  1. CULTURA

RECONHECIMENTO

Em julho deste ano, o local foi escolhido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas (ONU)

RedaçãoBrasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | Setembro de 2021.

Propriedade foi doada ao governo federal em 1985 e funcionou como um verdadeiro laboratório de experimentações de Marx – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O governador do Rio, Claudio Castro (PL), sancionou a lei 9.417/21, de autoria do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputado André Ceciliano (PT), que reconhece o Sítio Burle Marx, em Barra de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, como Patrimônio Cultural do Estado. A lei prevê que o Poder Executivo poderá realizar ações e convênios para financiamento de obras e ações de manutenção da propriedade.

O sítio, que ganhou o título de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em julho deste ano, é um banco com 3,5 mil espécies de plantas, 50 descobertas pelo paisagista, que organizou expedições e projetou jardins de várias capitais do Brasil e também de outros países. Burle Marx viveu por 20 anos no local, onde criou o conceito de jardim tropical moderno, rompendo com a tradição de jardins clássicos e românticos do século XIX e início do XX.

A propriedade foi doada ao governo federal em 1985 e funcionou como um verdadeiro laboratório de experimentações de Marx, que também foi artista plástico, pintor, escultor, designer de joias, figurinista, cenógrafo, ceramista e tapeceiro. Gerido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o centro cultural recebe, em média, 30 mil visitantes por ano. 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Jaqueline Deister

CARTA MAIOR CINEMA: DOIS PERDIDOS NUM PORTA-MALAS SUJO

Setembro 27, 2021

Um filme de sequestro inteiramente filmado dentro de um porta-malas? Ugo Giorgetti prova que é possível – e muito bom

Por Carlos Alberto Mattos 09/2021.

(Reprodução)

Créditos da foto: (Reprodução)

 
Existem duas formas extremas de se filmar um sequestro. Do ponto de vista de quem o pratica, com muita ação; e do ângulo de quem o sofre, no cativeiro. Em Dora e Gabriel, Ugo Giorgetti leva o padrão a um extremo, rodando um filme inteiro no interior de um porta-malas. Uma empreitada de coragem e inteligência.

O imigrante libanês Gabriel (Ari França) é surpreendido ao parar num sinal à noite por assaltantes que roubam o carro e o atiram dentro do porta-malas. Dora (Natalia Gonsales) é uma atriz de currículo duvidoso que passava casualmente por ali e é confinada junto com ele. Enquanto o carro se desloca por várias partes da cidade, os dois dividem a angústia de não saber para onde ou para quê estão sendo levados.

O êxito de Giorgetti se dá em vários níveis. A situação evolui do desespero inicial à procura de alternativas de salvação, e daí à gradual formação de um laço entre dois personagens tão díspares. Gabriel é sereno, quase conformado com as circunstâncias, a par de uma grave consciência quanto aos limites estreitos de sua existência. Dora, ao contrário, é ansiosa, preconceituosa, sofre de asma nervosa e tem autoestima elevada.

A convivência em posição incômoda e quase sem ar gera uma dependência mútua e leva a digressões ora metafísicas, ora vizinhas do absurdo. Retirar humor de tal conjuntura não é a menor das virtudes de Dora e Gabriel. Outro acerto do filme é colocar o espectador enfurnado com os personagens no porta-malas, dividindo com eles as especulações que chegam através dos ruídos e diálogos abafados do exterior e de um pequeno orifício que permite não só exergar uma fresta do interior do carro, mas também a passagem de um cano de revólver no sentido oposto. Assim é que a cidade apenas “soa”, em lugar de aparecer.

Giorgetti tem um pendor para retratar personagens encerrados em espaços restritos. Em Sábado (1994)uma equipe de filmagem e moradores de um prédio têm que dividir um elevador enguiçado. Festa (1989) mostra animadores de festa no salão de jogos de uma mansão à espera de serem chamados. Uma Noite em Sampa traz pessoas ricas “presas” no centro de São Paulo após saírem de um teatro.

A clausura dos personagens é um dispositivo que Giorgetti utiliza, com maior ou menor habilidade, para discutir questões de classe, modo de vida e formas de afeto, sempre na cidade de São Paulo. Dora e Gabriel, com seu formato minimalista e seus diálogos repletos de surpresa e ironia, é um dos melhores exemplares desse cinema de assinatura tão própria.

>> Dora e Gabriel estão nas plataformas iTunes, Google Play, Youtube Filmes, Now, Vivo Play e Looke.

https://youtu.be/ZsNVfhA3LTk

https://www.youtube.com/embed/ZsNVfhA3LTk


https://youtu.be/ZsNVfhA3LTk

COMEÇA FESTA NAS TRADIÇÕES DE RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E DO CATOLICISMO

Setembro 26, 2021
  1. CULTURA

COSME E DAMIÃO

27 de setembro é dia de São Cosme e São Damião; nas religiões de matriz africana, dia dos Ibejís

Josineide Costa*Brasil de Fato | Brasília (DF) | 26 de Setembro de 2021 às 14:00

Nos terreiros de Umbanda e no Candomblé a festa de Cosme e Damião é celebrada com muita fartura, alegria, enfeites coloridos, doces, bolos e frutas – Cáritas Regional Nordeste

A devoção aos santos Cosme e Damião no Brasil tem sua principal expressão na festa do dia 26 de setembro. Em alguns terreiros, a celebração tem duração de um mês, iniciando em 27 de setembro (Cosme e Damião) e terminando em 25 de outubro (Crispim e Crispiniano).

Nessa data, é ofertado às crianças nas ruas e bairros de algumas cidades no Brasil, de forma mais presente nos estados da Bahia e Rio de Janeiro, os saquinhos de doces e brinquedos distribuídos em homenagem aos santos gêmeos.

No entanto, essa tradição não é mantida somente nas religiões afro-brasileiras. Os adeptos do catolicismo também fazem homenagens e têm devoção a estes santos. É comum, por exemplo, ter nas casas da zona rural altares com imagens de Cosme e Damião, considerados protetores das crianças.

Essas Entidades são seres espirituais mestres nos conceitos do Bem e do Puro e que muito ajudam para a evolução dos médiuns*, ensinando que a única forma de se levar vantagem na vida é sendo puro, assim como as crianças.

Também não admitem a mentira, nem a maldade, trazendo sempre renovações e esperança, reforçando a natureza pura e ingênua dos seres humanos. É a linha que mais cativa as pessoas pelo ar inocente que traz na face do médium. É brincando e rindo que efetuam maravilhosos trabalhos.

Nos terreiros de Umbanda e no Candomblé, a festa de Cosme e Damião é celebrada com muita fartura, alegria, enfeites coloridos, doces, bolos e frutas, tudo organizado com muito axé e seguindo o rito da espiritualidade.

Nesta celebração, não pode faltar o Caruru de Cosme e Damião, principalmente na região Nordeste. É dia de casa cheia, as crianças fazem a festa, sendo elas as principais convidadas. Na Umbanda, aprendemos que o primeiro alimento deve ser servido para sete crianças, isso significa alimentar os sete irmãos de Cosme e Damião.

As crianças se fartam de doces. Alguns lugares têm a tradição de organizar grupos constituídos por pessoas devotas, aquelas que pediram alguma prece e esta foi atendida, na sua maioria quando é referente a saúde.

Os grupos transitam por ruas, praças, casas, vilas, igrejas católicas, terreiros de Umbanda e Candomblé, entre outros espaços nos quais a data é festejada. Nesse deslocamento, as crianças percorrem áreas da cidade que não frequentam rotineiramente.

Porém, é muito forte o preconceito que se tem com esta celebração, hoje muito mais pela intolerância religiosa. Associam o ato de oferta a um rito de maldição, impedindo até mesmo das crianças irem às festas nos terreiros, ou simplesmente não receberem os doces neste período.

O caráter festivo do Dia de Cosme e Damião instaura outra temporalidade e altera a dinâmica das relações sociais nas comunidades, levando a uma circulação extraordinária de coisas e pessoas cujo caráter é tanto lúdico quanto religioso, focando as dimensões da reciprocidade, das relações inter-religiosas e dos fluxos urbanos, principalmente nas áreas periféricas onde está a população mais empobrecida.

Sincretismo religioso

Considerando o intenso trânsito religioso desses santos, faz-se necessário ressaltar que, conforme a tradição católica, os gêmeos Cosme e Damião teriam sido médicos anárgiros, que realizavam curas milagrosas de forma voluntária, praticando a caridade.

Somavam a sabedoria da medicina à cura pela espiritualidade. Nas religiões afro-brasileiras, os pedidos feitos aos Erês sempre são atendidos, mas em recompensa, a pessoa precisa fazer algo de doação para alguém, e se não cumprir a graça pode não ser alcançada.

No contexto da Diáspora Africana nas Américas, o culto aos santos gêmeos foi associado ao culto africano à gemelaridade, destacando-se, em terras brasileiras a hibridização entre Cosme e Damião e os orixás Ibejís, protetores dos gêmeos na tradição Iorubá. Nesse processo de articulação, tanto a função quanto a imagem de Cosme e Damião foram redefinidas.

Os santos passam a estar ligados à infância, considerados protetores não só dos gêmeos, mas das crianças de maneira geral. Em suas estátuas, Cosme e Damião adquiriram formas infantis e um novo personagem foi acrescido à sua imagem, como uma miniatura dos gêmeos, posicionada entre eles. Sendo três os irmãos: Cosme, Damião e Doum, este uma versão popularizada do termo iorubá Idowú, nome que se dá ao irmão nascido após os gêmeos Ibejís.

Associados aos orixás e infantilizados, os santos passaram a integrar panteões religiosos diversos, ultrapassando os limites do catolicismo, tornando-se presentes em religiões de matriz africana (Candomblé, Umbanda, Batuque, etc.).

É uma prática lúdica e religiosa tradicional no Brasil, que pertence à cultura popular brasileira, São Cosme e São Damião são os padroeiros das crianças. Como desde sempre tivemos que esconder nossa espiritualidade, nossos orixás africanos, como no caso dos Ibejís, tiveram que tomar novas formas e assim também é com Cosme e Damião, divindades gêmeas, que contrapõe às normas, a seriedade e autoridade.

Aproveite o dia de Cosme e Damião, a energia, a vibração e todo o entusiasmo dessas maravilhosas Entidades, dê uma pausa para pensar, desabafar e entender, embora de forma simples e pura, as profundas e sábias mensagens desses verdadeiros sábios, entidades de pureza cósmica.

Viva Cosme e Damião!
Salve todos os erês!
Salve Oni Beijada!

*Os médiuns na Umbanda são filhas e filhos da Casa que incorporam as entidades. A mediunidade está ligada ao trabalho de cura onde fazem os trabalhos de descarrego e repassam alguma mensagem espiritual.

**Josineide Costa, Assistente Social, pós-graduada em saúde da família, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), filha de Santo da Mãe Bethe de Iansã, no Terreiro de Umbanda Sol do Oriente, em Águas Linda de Goiás.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino

DEXTER E NINO BROWN SÃO HOMENAGEADOS COM NOME DE BIBLIOTECA EM BAIRRO ONDE CRESCERAM

Setembro 25, 2021
  1. CULTURA

HIP-HOP

Iniciativa é de coletivo que encontros na região para discutir cultura e os problemas sociais na região

Igor CarvalhoBrasil de Fato | São Paulo (SP) | 25 de Setembro de 2021.

Dexter passou a infância e a juventude no Jardim Calux, onde formou o grupo 509-E – Foto: Arquivo Pessoal

No próximo domingo (26), será inaugurada a Biblioteca Dexter King Nino Brown, no Jardim Calux, em São Bernardo do Campo. O nome é uma homenagem ao rapper Dexter e a Nino Brown, fundador da Zulu Nation Brasil.

Ouvir deles que meu rap é referência, que se descobriram, enquanto homens pretos e periféricos (…) é uma honra 

A iniciativa é do coletivo “Café, resenha e amigos”, que promove encontros na região para falar sobre cultura e os problemas sociais na região.

“O Dexter e o Nino são pessoas do bairro que venceram. Dexter não mora mais aqui, mas faz ações no bairro, shows e outras coisas. Os dois são importantes para o Hip-Hop e nada mais justo que dar essa homenagem em vida para os dois”, explica Nego Lock, integrante do grupo.

A dupla homenageada estará no evento. “Me sinto honrado e lisonjeado, de ter meu nome na biblioteca; isso é Hip-Hop também. Quando você lê, acessa o conhecimento, você se liberta”, diz Dexter, que cresceu no bairro e ali fundou o 509-E, um dos mais importantes grupos de rap da história brasileira.

Saiba maisDe alvo de racismo a “manual do rap brasileiro”: livro celebra “Sobrevivendo no Inferno”

Ainda de acordo com o rapper, a homenagem foi ideia de seus ‘parceiros da quebrada’. “Ouvir deles que meu rap é referência, que se descobriram, enquanto homens pretos e periféricos, e que trabalham em prol dessas pessoas que precisam dessa informação, é uma honra. Agradeço ao Calux por tudo que me deu e sempre me dará”, contou.

Para Brown, a literatura e o Hip-Hop se cruzam na história e cooperaram para a sua trajetória nos bailes black da década de 1970 e 1980, quando se tornou uma referência importante para o movimento.

Leia também: Em Natal, batalhas de rap retratam o cotidiano das periferias por meio da arte de rua

“Primeiro que o Calux é onde eu comecei também. Mudei para o Calux em 1975. Eu morava na favela. Eu comecei a frequentar os bailes ali, então é uma grande honra. Estou muito feliz com essa homenagem. Agora, tem essa biblioteca para a garotada poder pesquisar e se informar”, disse Brown.

Edição: Douglas Matos

EM SUA SEXTA EDIÇÃO, A FEIRA DE LIVROS “SALÃO DO LIVRO POLÍTICO” COMEÇA NESTA SEXTA-FEIRA (24)

Setembro 24, 2021

FIQUE LIGADO

No total, 56 editoras irão comercializar livros com descontos de 20% a 50%

RedaçãoBrasil de Fato | São Paulo (SP) | 24 de Setembro de 2021.

A feira é organizada pelas editoras Alameda, Anita Garibaldi, Autonomia Literária e Boitempo – Salão do Livro Político/Divulgação

Tradicional feira de livros, a sexta edição do Salão do Livro Político começa nesta sexta-feira (24) e segue até o dia 3 de outubro. Diferentemente de outros anos, neste o evento será totalmente online, mas continua gratuito. 

No total, a feira, que é organizada pelas editoras Alameda, Anita Garibaldi, Autonomia Literária e Boitempo, contará com 56 editoras com venda de livros com descontos de 20% a 50%. Além da comercialização dos livros, a programação também terá debates e um curso sobre fascismo e autoritarismo, também com inscrição gratuita. Todas as mesas serão transmitidas ao vivo pelo canal da TV Boitempo e da PUC SP no Youtube.

De acordo com a organização do evento, “os temas debatidos nesta edição vão atravessar diversas áreas das ciências humanas e atualidades como militares na política, crise climática, pandemia da covid-19, América Latina, extrema direita, precarização do trabalho, neoliberalismo, guerra cultural, socialismo e muito mais”.

Slavoj Žižek, Manuela D’Ávila, Vladimir Safatle, Pedro Serrano, Raquel Rolnik e o escritor cubano Leonardo Padura são alguns dos nomes confirmados. 

Confira a programação completa dos debates:

24 de setembro – sexta-feira

18h | O Brasil e a superação das múltiplas crises com Sabrina Fernandes, Manuela D’ávila e Marilena Chauí.
20h | Pandemia e a reinvenção do comunismo com Slavoj Žižek e Vladimir Safatle.

25 de setembro – sábado

11h | Internacional: Precisamos ser camaradas! Sobreviver não é um ato político! com Jodi Dean e Christian Dunker.
16h | O socialismo cubano tem futuro? com Leonardo Padura, Joana Salém, Valério Arcary e Breno Altman.
20h | Crise climática: o que o capitalismo tem a ver com isso? com Tiago Ávila, Raquel Rolnik, Murillo van Der Laan e Alceu Castilho.

26 de setembro – domingo

11h | Internacional: O que as feministas soviéticas podem ensinar sobre família e estados na pandemia? com Wendy Goldman e Flávia Biroli.
16h | Como chegamos à maior crise do mercado editorial? com José Castilho, Mariana Bueno, Maria Borin e Lizandra Magon de Almeida.
20h | América do Sul insurgente com Atílio Boron, Ana Maria Prestes, Fabio Luis Barbosa e Natalia Urbán.

28 de setembro – terça-feira

20h | Da judicialização da política à institucionalização do fascismo com Aldo Arantes, Pedro Serrano, Alessandra Devulsky e Pedro Davoglio.

29 de setembro – quarta-feira

20h |Como colocar os militares de volta na caserna? com Cel. Marcelo Pimentel, João Quartim, Edson Teles e Eleonora Lucena.

30 de setembro – quinta-feira

20h | Lutas populares e organização política com Letícia Parks, Tabata Amaral, Edmilson Costa, Talíria Petrone e Fernando Garcia.

1º de outubro – sexta-feira

20h | Como voltar a crescer após a crise pandêmica com Pedro Rossi, Alexandre Freitas Barbosa, Juliane Furno e Antonio Martins.

2 de outubro – sábado

11h | Internacional: O fim da polícia! com Alex Vitale e Amauri Gonzo.
16h | O mundo paralelo e a guerra cultural (e virtual) da extrema direita com Rubens Casara, Sérgio Amadeu, Fabio Palácio, Ismail Xavier e Cynara Menezes.
20h | EUA X China: uma nova Guerra Fria? com Melissa Cambuhy, Elias Jabour, João Carvalho e Gabriel Landi.

3 de outubro – domingo

16h | O problema das Forças Armadas na democracia com Perpetua Almeida, Raul Jungman, Aldo Rebelo e Fabio Pannunzio 
20h | A uberização do trabalho: luta de classes na era digital com Rafael Grohmann, Ricardo Antunes, Renata Mielli e Márcio Pochmann.

Edição: Vivian Virissimo

NÚCLEO PIRATININGA DE COMUNICAÇÃO LANÇA VAQUINHA ONLINE PARA DAR CONTINUIDADE ÀS ATIVIDADES

Setembro 23, 2021

NPC trabalha há mais de 29 anos para melhorar a comunicação de movimentos populares, sindicatos e outros coletivos

RedaçãoBrasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | 23 de Setembro de 2021.

NPC é integrado por comunicadores, jornalistas, professores , artistas, ilustradores e fotógrafos
NPC é integrado por comunicadores, jornalistas, professores , artistas, ilustradores e fotógrafos – Foto: NPC

O Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) lançou uma vaquinha online nesta semana para manter o funcionamento das suas atividades até o fim do ano. As doações na plataforma online podem ser feitas em qualquer quantia. A meta da iniciativa é atingir R$ 25 mil, valor exato das despesas para os próximos meses.

O NPC é constituído por um grupo de comunicadores, jornalistas, professores universitários, artistas gráficos, ilustradores e fotógrafos que trabalham com o objetivo de melhorar a comunicação, tanto de movimentos comunitários ou populares, quanto de sindicatos e outros coletivos. 

Suas atividades se iniciaram há 29 anos e o acúmulo destas culminou na sua formalização jurídica em 1997, tornando-se uma organização civil sem fins lucrativos, com sede no Rio de Janeiro e atuação nacional. 

Ao longo do período de pandemia e de isolamento social, instaurado desde março de 2020, o NPC manteve suas atividades. Entre elas, o curso de Comunicação Popular e o curso Anual, desta vez em formato virtual, e o programa “Quintas Resistentes”, que fez uma entrevista histórica com o fotógrafo Januário Garcia, que faleceu poucos meses depois, em junho deste ano.


Curso do NPC é referência para sindicalistas, jornalistas, militantes sociais, professores e estudantes de comunicação de todo o país / Divulgação

Outro destaque foi o “Diário da Pandemia na Periferia”, um site que reuniu uma série de matérias jornalísticas feitas por alunos, ex-alunos e colaboradores do NPC sobre os impactos da covid-19 na vida dos trabalhadores e favelas do Rio de Janeiro e outras cidades do Brasil. O Brasil de Fato RJ republicou grande parte das reportagens produzidas pelo Diário durante o ano de 2020.

Em 2021, o NPC lançou o projeto “6 e Meia no NPC”, um programa veiculado no YouTube e no Facebook da organização para falar de experiências de comunicação sindical. Além disso, há a previsão de lançamento do Almanaque da Comunicação Popular e Sindical nos próximos meses e a edição deste ano do Curso Anual.

“Por isso, queremos chamar você, amiga e amigo do Núcleo Piratininga de Comunicação, que entende a importância deste trabalho, sobretudo em um contexto de forte ataque aos movimentos populares, aos trabalhadores e favelas, a contribuir com a nossa vaquinha e assim superarmos mais este desafio que se coloca à nossa frente. Prestaremos conta de cada centavo”, diz o NPC em nota. 

Para mais informações sobre outras formas de ajudar é só entrar em contato pelo e-mail npiratininga@piratininga.org.br.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse

VICTOR SERGE: NO FIO DA NAVALHA

Setembro 22, 2021

Por Nara H. Machado 09/2021.

 

 
Em Meia-noite no século, escrito em 1936-1938, publicado inicialmente em Paris em 1939, Victor Serge nos conduz às profundezas da repressão stalinista contra aqueles que ousaram mobilizar-se, protestar ou discordar dos crescentes desvios a que foi submetida a já não tão jovem Revolução de Outubro. No geral, eram trotskistas ou próximos a eles. Mas houve muitos outros, dezenas de milhares, de diversas procedências político-ideológicas.

Nesta obra romanceada, duríssima, Serge quase nos força, aqui e ali, a se deter, a tomar fôlego, a respirar, para, então, voltar à leitura. Se nos faz sentir o alcance dos braços da repressão e dos infames mecanismos que utiliza, nos coloca também em contato com a resistência de personagens, no mais das vezes anônimos, que ousaram levantar a cabeça e dizer não, muitas vezes à custa da própria vida e da perseguição a seus familiares.

O belga-russo Victor Serge (Bruxelas, 1890 – México,1947) viveu na antiga URSS por vários anos. Militou na Oposição de Esquerda. Preso em 1928, e, novamente em 1933, foi deportado para Orenburg, pequena cidade na fronteira da Rússia européia e asiática. Em 1936, graças à campanha internacional, foi libertado e banido da Rússia. É com os olhos de quem viveu situações dramáticas da repressão burocrática e stalinista e delas teve relatos, na prisão e na deportação, que envereda em sua dolorosa ficção, perpassada por múltiplos personagens. Alguns apenas buscam a sobrevivência. Outros se conformam, são cooptados, destruídos. Há aqueles – o foco central de sua ficção – que resistem, mesmo sabendo que sobreviviam no fio de navalha implacável. Se um pessimismo feroz quase transborda Meia-noite no século, nele também está presente uma grande confiança na capacidade humana de resistir, nas condições mais penosas, de construir seu futuro, na luta por sociedade justa, igualitária, socialista, da qual depende a sorte da humanidade.

Victor Serge jamais abandonou seus ideais socialistas. Eles permearam toda a sua vida, até sua morte precoce, sem que jamais tenha desistido da luta por sua consecução, em um viés revolucionário e radicalmente libertário.

Nara H. Machado é arquiteta e historiadora.

Aquira aqui: https://clubedeautores.com.br/livro/meia-noite-no-seculo

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Confira abaixo o sumário da obra que conta com tradução de Florence Carboni e posfácio do historiador Mário Maestri sobre os fatos atinentes à narrativa de Serge e à sua vida.

Sumário da Obra:

Breves considerações sobre a presente tradução – Florence Carboni, 7

I. O Caos, 10

II. As Águas Negras, 44

III. As Mensagens, 84

IV. As Diretivas, 140

V. O Início, 154

Victor Serge: Uma Vida pelo Trabalho e pela Revolução – Mário Maestri, 211

AQUILES RIQUE REIS: PAIXÃO IRRESISTÍVEL

Setembro 21, 2021

Para começo de conversa, vou logo avisando: não contem com a minha isenção para redigir uma resenha sobre o que venho ouvindo há algumas semanas – Peguei a Reta (Kuarup), o novo álbum do clarinetista Paulo Sérgio Santos.Por Aquiles Rique Reis -21 de setembro de 2021.

Paixão irresistível

por Aquiles Rique Reis

Hoje a música instrumental está na área. Para começo de conversa, vou logo avisando: não contem com a minha isenção para redigir uma resenha sobre o que venho ouvindo há algumas semanas – Peguei a Reta (Kuarup), o novo álbum do clarinetista Paulo Sérgio Santos. Por ser seu fã, minhas palavras serão sempre de júbilo em louvor ao talento do músico instrumentista brasileiro. Com Paulo Sérgio Santos estão Diego Zangado (batera e percussão) e Caio Márcio Santos (violões).

Não consigo me lembrar se conheço Paulo Sérgio Santos pessoalmente. O que posso afiançar é que aprecio o timbre de sua clarineta desde sempre – ao ouvi-la pela primeira vez, chapei.

A clarineta é um instrumento que permite ao bom clarinetista trazer à luz sons extranaturais. Aliás, reza a lenda que quando a clarineta se apaixona pelo clarinetista, tal fenômeno chama-se Paulo Sérgio Santos… Eu acredito piamente nesta assertiva – não fosse ela proclamada pelo autor deste texto, ora bolas.

A sonoridade da clarineta resta ainda mais encorpada ao soar embelezada pelos violões, pela batera e pela percussão. Os arranjos têm como que uma volúpia desconcertante. Escritos por Caio Márcio Santos, cada um traz o som para mais perto do ouvinte. Ao abraçá-lo, a alma de toda a gente agita – enquanto isso, o trio vibra na mesma frequência, num entrosamento de alta voltagem.

A tampa abre com “Apanhei-te Cavaquinho”. A obra-prima de Ernesto Nazareth e Ubaldo ganha ainda mais força quando, num arroubo virtuosístico, o andamento é multiplicado por mil. É como se o arranjo fosse uma montanha-russa: vem de leve, curtindo a melodia, engrandecendo a harmonia, num suingue que faz o pelo arrepiar.

Mas aos poucos o trio, suingado como ele só, vem como que subindo lentamente ao ponto mais alto da montanha-russa. Hora de prender a respiração. Os acordes sugerem que o trenzinho chegou e deu um tempo no topo… O arranjo parece sugerir que o ouvinte levante os braços e comece a gritar. O andamento sai em desabalada carreira. Sem respirar, chego a temer que os três tropecem na própria rapidez. Qual o quê, os três tiram de letra o affrettando mágico.

Um tempo para respirar e lá vão Paulo Sérgio Santos, Caio Márcio Santos e Diego Zangado levando o arranjo ao final. Sorridente, a clarineta lança um olhar apaixonado a quem lhe dá vida – paixão irresistível. Meu Deus!

Seguem-se as treze músicas do álbum, onde cada uma é como um passeio na praia. Desenhos, em uníssono ou abertos em notas, só fazem reafirmar que o trio soa à perfeição. O batera usa as peças de seu instrumento com sábio comedimento. Os violões se mostram prontos para sempre timbrar… E assim, o álbum expõe um primor de repertório e instrumentação.

Viva a música instrumental brasileira!

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Ficha Técnica:

produção – Caio Márcio Santos e Mario de Aratanha

coordenação de produção – Chico Lobo

mixagem e masterização – Caio Márcio Santos

técnicos de gravação – Sérgio Lima Netto, Ricardo Calafate e Ricardo Cidade