Oscar Niemeyer não está preocupado com sua idade. Ele sempre carregou o si um conatus político, onde sua potência de criação sempre afirmando a vida, nunca deixando de reagir com o novo e a todo momento produzindo artisticamente sua existência. Também foi um homem de seu tempo, presente nas transformações e criações de nossa sociedade. Um político que com sua potência criadora participou de
Há muitos adjetivos para descrever Niemeyer, mas nenhum consegue em seu corpo de qualidades envolver uma pessoa cujo a existência foi repleta de vivências tão ricas e importantes para o Brasil e o mundo. Não pelo tempo cronológico de 104 anos (e quase mais um) que esteve presente, mas pela intensidade de sua presença.
OSCAR, O POLÍTICO
Simone de Beauvoir,Oscar Niemeyer, Jean-Paul Sartre, Jorge Amado
Niemeyer e Israel Pinheiro conversam com Fidel Castro no Palácio da Alvorada, em abril de 1959
Oscar Niemeyer e Roberto Freire PCB
Além de sua transformação das sociedades através da arte, Oscar como homem político, produtor de composições com o corpus democrático. Não apenas político por sua filiação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) do qual deixou em 1991, mas por seu posicionamento social e engajamento em diversas causas.
Sua convicção na mudança que lhe fez arquiteto, assim como lhe fez comunista. Esta luta pela liberdade e pela não aceitação das imposições do capitalismo que o fizeram proibido de trabalhar e morar nos Estados Unidos e posteriormente deixar o país durante a ditadura militar. Seu comunismo sempre foi na prática cotidiana em não aceitar imposição de uma cultura cultuadora da morte e da sabotagem da vida por uma alienação da importância de cada um nas práticas cotidianas.
Oscar Niemeyer e Fidel Castro
Envolvido em encontros que aumentaram sua potência democrática, Niemeyer esteve ao lado de Fidel Castro, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Lula, Jorge Amado, Luís Carlos Prestes, Hugo Chávez, Ulisses Guimarães, Dilma Vana Rousseff, entre diversos outros nomes políticos.
Artistas participam duma passeata contra a repressão aos estudantes. Rio, 1968.Carlos Scliar, Helio Pellegrino, Clarice Lispector, Oscar Niemeyer, Glauce Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento.
OSCAR, O ARTISTA
Sua carreira como artista começou com seu ingresso na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1929, e que dois anos depois seria dirigida, por Lucio Costa. Lá ele se formou arquiteto e participou de uma palestra de Le Corbusier. Seu primeiro grande trabalho foi o Ministério da Educação e Saúde, e foi seguido de outra obra que aconteceu quando ele conhece o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek (JK), em 1940 e assumiu o projeto da Pampulha. Na mesma década recebe reconhecimento internacional e projeta a Sede da ONU junto com outros arquitetos.
Seu grande impulso foi o convite de JK para a construção de Brasília em 1956, sendo ele nomeado diretor da Escola de Arquitetura da recém-criada Universidade de Brasília – UnB, cargo que manteve durante três anos e que terminou com protesto e pedido de demissão junto com vários acadêmicos devido o golpe militar. Impossibilitado de produzir devido as linhas duras da ditadura, Oscar ganhou o mundo, trabalhando em Paris e várias cidades da Europa durante 10 anos.
Oscar Niemeyer com funcionários do Departamento de Arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), em Brasília.
Desde criança Oscar desenhava no ar e sua produção continuou até o dia de ontem, quando foi interrompida. Seus traços produziram uma estética única que está presente em todo o mundo nos cinco continentes e em diversos prédios de importância mundial a Sede do Partido Comunista Francês, a Mesquita de Argel, o Centro Cultural Le Havre e vários outros. A simplicidade dos traços e curvas além da presença mais humana nas construções são características da obra de Niemeyer.
OSCAR, HUMANO
O arquiteto Oscar Niemeyer no ensaio da Beija-Flor de Nilópolis, Carnaval 2012
Como Oscar sempre soube que a vida não é algo divisível, sendo diversos percursos continuos, ele nunca caiu no conto da melhor idade, e não soube o que era ser estigmatizado de velho. É claro que seu corpo sentiu as mudanças fisico-químicas comuns aos seres humanos, mas devido a sua persistência no ser ele nunca deixou de produzir sua vida e sua arte, pois só assim nutria a existência.
Muitos podem criticar sua existência, mas dificilmente conseguirão alcançar a livre produção e o gozo de vida que Niemeyer sempre teve. Mesmo que digam sobre seus habitos como o tabagismo, Oscar estava presente e nunca negou a vida. Com sua vida ativou o pensamento, e com seu pensamento afirmou sua vida (Nietzche).
Lúcio Costa, Israel Pinheiro, Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer observam maquete da Praça dos Três Poderes no Rio de Janeiro, em novembro de 1958.
Um homem eterno em seus traços políticos que semeiou a quatro ventos novas visões da urbes. Oscar com uma caneta ou lápis na mão era capaz de criar uma nova realidade com algumas poucas linhas e curvas. Muitas destas estão concretizadas e outras surgirão, mas ambas o vivificam. Seu fazer continuará presente no mundo quando estes olhos que nos lêem verem os últimos raios de luz, e que estes sejam belos e produtivos como todo o traçado deste arquiteto que brasileiro sempre foi uma parte de nosso povo e nosso tempo, tanto que hoje nos brasileiros e todo o mundo está sorrindo para a celebração vida junto com os dedos curvados e a caneta repousada.
Oscar Niemeyer com o economista Celso Furtado e o antropólogo e amigo Darci Ribeiro em 1987
Este Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho, amante da existência, da transformação do que está constituido e busca se impor, da arte, da mulher, da possibilidade do novo. Seu patrimônio que hoje está presente em diversos paises no mundo nos mostra novas possibilidades de estarmos presente nos espaços e vermos que também podemos modifica-los com o tempo. E este espirito do tempo que com seus minutos, horas, anos impõe o real nos faz perene, muda nosso caminhar, mas mantem muitas construções em pé, principalmente como as de Oscar, que tanto demonstram vitalidade e humanidade. Assim, Oscar conseguiu com seus riscos na tinta e papel renovar, através de uma arquitetura não burguesa e não voltada aos interesses do mercado, uma estrutura massificadora em seus espaços e formas que nos interpelam negativamente. Com a tinta e papel, mostrou que nem sempre a tinta e o papel do capital é o que importa, pois esta apenas carrega linhas duras, enquanto a arte sempre se abre nas linhas de corte. Sempre para o novo, como Niemeyer viveu.