Archive for Fevereiro, 2024

ARTE É RESISTÊNCIA: VEJA AS ATRAÇÕES CULTURAIS APRESENTADAS NA JORNADA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA DE INTEGRAÇÃO DOS POVOS

Fevereiro 29, 2024
  1. CULTURA

INTEGRAÇÃO

Programação diversificada do evento em Foz do Iguaçu trouxe artistas e grupos de várias nacionalidades

Joyce Keli dos Santos

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

 

“A gente está aqui, a gente existe e a gente não vai embora”, afirma Sara Isabel Skupien, do grupo brasileiro Kaburé Maracatu – Foto: Instagram/ Kaburé Maracatu

Na Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos, realizada entre os dias 22 e 23 de fevereiro, em Foz do Iguaçu, a política também subiu ao palco através da arte.

Fizeram parte da programação artistas e grupos culturais como o Duo cubano Buena fé, o grupo brasileiro Clandestinas, o DJ Double D, o coco de roda Piseres de Embaúba, o maracatu Kaburé, a banda de ska La faísca, a formação haitiana Integração Compa e o DJ Damanobeat.

Com este elenco diversificado, o evento foi além das tradicionais arenas de debate e mesas redondas e apresentou manifestações artísticas que desafiam narrativas dominantes, ampliam vozes marginalizadas, reivindicam espaços e direitos.

América Latina unida

Abordando em suas letras questões sociais e políticas que permeiam a América Latina, Buena Fé compartilhou a importância da Jornada na promoção da integração regional e na identificação dos desafios comuns enfrentados pelos países. O duo é composto por Israel Rojas e Yoel Martínez, originários da província de Guantánamo, em Cuba.

“A América Latina tem que ser unida, uma só e uma só voz. É importante eventos como esses para que se busquem consensos políticos e de ações.”, diz Yoel Martínez. “Temos a oportunidade de conhecermos pessoas diferentes, novos movimentos de luta e de arte. O espaço é para cantarmos para o homem e seus problemas, muito mais que canções de amor, cantarmos a nossa realidade e a realidade latino-americana.”


Yoel Martínez à esquerda e Israel Rojas à direita / Foto: Darwin Torres

Para a diupla, o espaço também contribui para ampliar o alcance de sua música, já que um dos desafios postos a artistas contra hegemônicos é a falta de reconhecimento e até mesmo cerceamento por parte de grupos dominantes.

“Observamos uma tentativa constante de divisão e fragmentação por parte dos nossos opositores. A indústria cultural faz de tudo para impedir que nossa arte, verdadeiramente contestadora e transformadora, alcance o reconhecimento merecido. Cantamos sobre temas como a miséria e a pobreza, levando em consideração as realidades sociais que enfrentamos”, destacou Israel Rojas.

Arte como forma de luta

Composto por imigrantes do Brasil, Colômbia e Chile, o grupo Lá Faíska encarna a diversidade da identidade latino-americana. Para eles, a arte não é apenas entretenimento, mas uma ferramenta de luta e transformação social.

“Sempre tentamos fazer que a música traga uma mensagem revolucionária de qualquer contexto, seja tocando em um bar, em um evento como esse, sempre tentamos puxar uma linha política”, pontua Palki Rojas, saxofonista do grupo e natural do Chile. “Sentimos a necessidade de trazer esse discurso para cá, esse lado da cultura latino-americana, especificamente a cultura urbana, que tem essa estética de entender a arte revolucionária.”

Rojas explica que para Lá Faíska, a verdadeira mudança só pode ser alcançada através da mobilização popular e da organização das ruas. Eles lembram que a “luta não acabou só porque a gente escolheu um governo progressista, o povo só consegue avançar se ele próprio luta, se ele próprio se organiza“.

“Não estamos sozinhos, e jamais estaremos”

Trazendo a conexão entre o maracatu e a cultura afrodescendente da América Latina, o Kaburé Maracatu, cujo nome simboliza a miscigenação entre negros e indígenas, também ocupou a cena na Jornada.

Sara Isabel Skupien, batuqueira e integrante do grupo, destaca a importância do Kaburé como um baluarte de conhecimento e resistência. Ela enfatiza que o maracatu não é apenas um gênero musical, mas um conjunto de saberes conectados com a herança afro e com a religião afro-brasileira.

“O nosso grupo já vem, faz vários anos aqui na cidade, fazendo um trabalho de estudo e de vivência dos saberes do maracatu. O maracatu, no caso, de baque virado, da tradição de Recife, de toda essa região. Eu acho que dentro da cidade, para falar de uma coisa mais específica, a gente tem um papel bem importante mesmo. Por quê? Porque o maracatu em si é um estilo de música, um gênero e um saber muito mais de que só música”, explica Skupien.


Kaburé Maracatu / Foto: Instagram/ Kaburé Maracatu

A participação do Kaburé no evento é um momento significativo, pois representa não apenas uma celebração da cultura afro-indígena, mas também uma forma de resistência e crítica contra o preconceito religioso e a opressão.

“Ter lideranças de movimentos sociais é mais uma lembrança de que a gente não está só, de que a gente está aqui, de que a gente existe e de que a gente não vai embora. O evento é uma troca de saberes. Muitos de nós somos da academia, então a gente sempre quer troca, sempre quer conhecer pessoas novas. Mesmo para quem não é da academia, é aquela força e aquele fôlego que às vezes falta, sabe? A gente não está sozinho e a gente não vai estar nunca sozinho”, afirma a batuqueira.

Um povo, um sentimento

Ecoando as vozes guaranis, o Foro Social da Tríplice Fronteira do Paraguai destacou a importância da solidariedade e da resistência em meio aos desafios enfrentados pelos povos da região.

Joseto Benítez, integrante do grupo, ressaltou a importância de um povo unido, que compartilha os sofrimentos e aspirações de toda a América Latina, com a necessidade de fortalecer as organizações populares e avançar na luta por uma integração mais efetiva, cultural e solidária.

“O direito fundamental da humanidade é o alimento, saúde, a terra, o teto digno para viver fundamentalmente, e o direito à educação para os jovens seguirem avançando nesse processo de articulação. De forma unificada e denunciando os atos de invasões massivas dos grandes produtores para a comunidade de camponeses indígenas nestes últimos tempos”, aborda Benítez.


As místicas realizadas ao longo da Jornada foram expressões artísticas e políticas que emocionaram o público / Foto: Secom/Unila

Para Carlos David, integrante da Coordenação do Movimento Latino-Americano e Caribenho de Meninos, Meninas e Adolescentes Trabalhadores (Molacnats), do Paraguai, o evento representou muito mais do que uma simples reunião: foi um espaço de encontro e troca entre companheiros de luta, onde experiências diversas foram compartilhadas e discutidas.

“Aqui, temos a oportunidade única de compartilhar com outras organizações as experiências cotidianas da luta social. Elevando a bandeira pela conquista dos direitos que atualmente se encontram vulneráveis, lutamos contra tentativas de supressão e pela garantia dos direitos que nos são negados”, diz David.

Narciso Berrel, líder espiritual guarani da comunidade Mulher Paraguaia Quilômetro 30, expressou gratidão aos companheiros e àqueles que lhe deram a oportunidade de representar sua comunidade do Paraguai. Ressaltou a importância da solidariedade e do apoio mútuo na jornada pela justiça e dignidade.

“Eu sou um líder religioso para levar em frente a nossa cultura. Estamos reunindo os camponeses para trabalharmos juntos neste espaço de solidariedade entre os povos, no sentido da liberdade de expressão e da liberdade da organização das comunidades e das bases. É essencial fortalecer a resistência dos companheiros indígenas e camponeses em suas comunidades, enfrentando juntos os desafios que surgem em nosso caminho”, finaliza.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini

ARNALDO D. CARDOSO: PORTINARI: ARTE EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL

Fevereiro 28, 2024

28 de fevereiro de 2024 –

Portinari: arte educação e inclusão social

por Arnaldo F. Cardoso

Entre os eventos comemorativos do aniversário de 470 anos da cidade de São Paulo completados no último 25 de janeiro, merece destaque a mostra em homenagem ao artista Cândido Portinari (1903-1962) instalada na estação Higienópolis Mackenzie do metrô.

A homenagem ao grande pintor paulista, filho de imigrantes italianos, nascido há 120 anos na cidade de Brodowski, coincidindo com o aniversário de 150 anos da imigração italiana para o Brasil, convida à revisitação dessa importante memória e à reflexão sobre a complexidade e contradições dessa cidade que figura entre as maiores do mundo e cujo povo, diverso e misturado, foi pioneiramente retratado em telas icônicas como  “Mestiço” (1934), “Lavrador de Café” (1934) e “Café” (1935) que integram a obra de Portinari e o insere entre os formadores da identidade brasileira.

A mencionada mostra é composta por conteúdos digitais e reproduções da obra de Portinari, adesivação de paredes, túneis da estação e composições dos trens e foi realizada por meio de uma parceria do Projeto Portinari com o Instituto CCR e integrante de um projeto maior batizado de Centenários. Além de Portinari, estão sendo homenageados artistas brasileiros centenários como Jorge Amado, Tomie Ohtake e outros, em diferentes estações do metrô, permitindo aos cidadãos em seus deslocamentos pela cidade, muitas vezes com os sentidos entorpecidos pela dureza da luta cotidiana, sentir a força da arte em seu olhar persistente na captura de beleza e esperança.

Na inauguração da mostra os presentes tiveram a oportunidade de ouvir o Coordenador Geral do Núcleo de Arte, Educação e Inclusão Social do Projeto Portinari, Guilherme de Almeida, que numa competente apresentação reuniu aspectos da vida e obra daquele que, nas palavras do escritor Jorge Amado “Foi um dos homens mais importante do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade”.

Catálogo raisonné

Quando em 1979 o professor João Cândido Portinari, filho único do pintor, fundou o Projeto Portinari, sua principal tarefa era reunir e documentar a obra de Portinari e isso foi plenamente alcançado em 2004 quando, na 26ª Bienal de São Paulo foi lançado o catálogo raisonné Candido Portinari – Obra Completa, em 5 volumes, contendo mais de 5,4 mil pinturas, desenhos e gravuras atribuídas ao pintor, além de mais de 25 mil documentos sobre sua vida e obra. Enriquece o material um Programa de História Oral com 74 depoimentos, totalizando 130 horas gravadas.

Com a organização e digitalização desse valioso acervo um passo importante na democratização do acesso foi realizado, servindo de fonte para a compreensão da vida e obra de Portinari abarcando suas preocupações estéticas, artísticas, culturais, sociais e políticas, face a um Brasil em busca de sua identidade e lugar no mundo.

Democratização do acesso

Na direção do Projeto Portinari, João Cândido tem empenhado esforços para que a obra de seu pai chegue àqueles que inspiraram o pintor, a gente brasileira. Em uma entrevista de 2022 ele disse “Eu não faço isso como filho de Portinari, como proprietário de Portinari, pois Portinari é do povo brasileiro”.

Tendo estudado Matemática e se doutorado em Engenharia de Telecomunicações pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e, de volta ao Brasil, sido um dos fundadores e professor do Departamento de Matemática da PUC-Rio, vê nas parcerias com empresas de tecnologia um instrumento para a democratização do acesso à arte com a transposição de barreiras objetivas e subjetivas. É certo que na atual sociedade da informação faz-se imperiosa uma profunda revisão da cultura e práticas de tradicionais instituições museológicas.

Um dos resultados dessas parcerias do Projeto Portinari é o portal digital “Portinari: O Pintor do Povo” do Google Arts & Culture, que além do acervo digital disponibiliza avançadas ferramentas tecnológicas que propiciam a pesquisadores e ao público em geral uma navegação com belas descobertas no universo Portinari.

Educação e Inclusão Social

O Núcleo de Arte Educação e Inclusão Social do Projeto Portinari já acumula diversas realizações para a promoção de uma cidadania plena, onde a educação e a arte se reafirmam como direitos.

Desde sua criação em 1997, a superação de obstáculos tecnológicos tornou factível o objetivo de democratizar o acesso ao legado de Portinari.

Hoje, graças ao emprego das tecnologias digitais pode-se transpor aqueles custos de logística e burocracia próprios da realização das exposições com obras originais. Grandes mostras imersivas como a “Portinari para todos” que levou milhares de pessoas no primeiro semestre de 2022 ao MIS Experience, em São Paulo, se tornaram possíveis, bem como outros formatos de mostras, que têm viabilizado o objetivo maior de, ao democratizar o acesso a bens culturais, fazer fluir os benefícios que deles provém a um público cada vez maior.

Outro belo exemplo – que merece ser replicado – foi a exposição itinerante “Portinari, Arte e Meio-Ambiente”, idealizada pelo Núcleo de Arte Educação e Inclusão Social do Projeto Portinari, que chegou às comunidades de Santa Cruz, Rocinha, Pavuna, Madureira. Duque de Caxias e ao Instituto Nacional de Educação de Surdos em Laranjeiras, Rio de Janeiro, foi uma das experiências que reafirmou o potencial ainda pouco explorado desse recurso tão valioso para uma formação plena de indivíduos e, sobretudo, de cidadãos.

Arte educação e interdisciplinaridade

Outro aspecto a ser destacado é que as realizações do Projeto Portinari em arte educação tem posto em prática o princípio da interdisciplinaridade, tão acalentado nos meios acadêmicos, mas tão raramente praticado.

A variedade de temas presentes nas obras de Portinari como as migrações, as relações do homem com a terra e o trabalho, a guerra e a paz, abrem largas veredas para a reflexão crítica e promoção da educação em direitos humanos, cidadania, defesa da justiça social e ambiental, pertinentemente convergentes com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030 da ONU e abordáveis por meio de ferramentas teórico-conceituais de diversas disciplinas acadêmicas.

A força da imagem e demais recursos pictóricos das obras de Portinari revelam-se ferramentas poderosas na comunicação com crianças e jovens e no desafio de engajamento de atenção.

Aliás, a disposição em derrubar fronteiras entre saberes e gerar férteis encontros, desde cedo se firmou como uma das marcas da carreira de Portinari.

Exemplo disto foi a interação do pintor com importantes arquitetos de sua época, integrando sua arte com criações arquitetônicas como na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, projetada por Oscar Niemeyer. Também merece destaque a integração dos murais de Portinari no conjunto do Palácio Capanema, projetado pela equipe de Lúcio Costa, no Rio de Janeiro.

Também a arte de rua, manifestação artística tão característica de espaços urbanos como São Paulo, dá mostras dos benefícios da comunicação entre correntes artísticas. Artistas como Mundano, Kobra e Os Gêmeos já produziram belas obras através do diálogo com a pintura de Portinari, referendando sua contemporaneidade.

Ensino de Portinari na Itália

Desde 2009, a obra de Portinari faz parte de conteúdo ensinado a crianças e jovens na escola italiana Instituto Alessandro Faeda, localizada na comuna de Chiampo, província de Vicenza, região do Veneto, onde nasceu o pai do pintor, Giovan Battista.

Inserido em disciplina de Artes, o conteúdo permite também abordagens sobre temas de Sociologia, Economia e História. Em decorrência dos trabalhos de pesquisa de estudantes, a obra de Portinari já mereceu um número de uma revista publicada pela escola, como contou a então diretora Fiorella Menti.

Guerra e Paz em Roma

Neste ano, pela primeira vez na Itália, o Pallazzo delle Esposizioni de Roma receberá os monumentais painéis “Guerra e Paz” pintados por Portinari e presenteados pelo Brasil à ONU, na década de 1950. São 280 m2 – uma superfície maior que o Juízo Final de Michelangelo na Capela Sistina –. Cada painel tem catorze metros de altura.

Falando de “Guerra e Paz”, João Cândido que se lembra do pai pintando-os já com a saúde debilitada em função dos efeitos dos componentes tóxicos (chumbo, arsênico e cádmio) das tintas, avalia que “Guerra e Paz é a síntese de tudo que ele fez”.

E emenda “são um grito brasileiro em prol da paz mundial e continuam atuais mais de meio século depois”.

A tarefa de democratizar o acesso ao extraordinário acervo de Cândido Portinari já teve sua principal etapa concluída, podendo inspirar projetos de arte educação que realizem o potencial educativo e humanizador da arte.

Portinari ainda tem muito a nos dizer.

Arnaldo Francisco Cardoso, sociólogo e cientista político (PUC-SP), escritor e professor universitário.

MILHARES DE ARTISTAS PEDEM QUE BIENAL DE VENEZA EXCLUA ISRAEL POR GENOCÍDIO EM GAZA

Fevereiro 27, 2024

Manifesto online contabiliza cerca de 9 mil assinaturas

Casas e edifícios destruídos em ataques israelenses, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza
Casas e edifícios destruídos em ataques israelenses, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza (Foto: Reuters/Anas al-Shareef)

Reuters – Quase 9.000 pessoas, incluindo artistas, curadores e diretores de museus, assinaram um apelo online pedindo que Israel seja excluído da Bienal de Arte de Veneza deste ano, acusando o país de “genocídio” em Gaza.

Israel tem enfrentado críticas internacionais crescentes, inclusive no mundo das artes, sobre sua ofensiva no enclave palestino, que foi desencadeada por um ataque de militantes do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel. As ações israelenses em Gaza mataram cerca de 30.000 pessoas e deslocaram a maioria dos 2,3 milhões de habitantes do território, de acordo com as autoridades de saúde palestinas.

Israel rejeita veementemente qualquer acusação de que suas ações equivalem a genocídio.

“Qualquer representação oficial de Israel no cenário cultural internacional é um endosso de suas políticas e do genocídio em Gaza”, disse a declaração online do coletivo Art Not Genocide Alliance.

O coletivo destacou que a Bienal de Veneza já havia banido a África do Sul por causa de sua política de apartheid de domínio da minoria branca e excluído a Rússia na esteira da invasão da Ucrânia pelo Kremlin em 2022.

O ministro da Cultura italiano, Gennaro Sangiuliano, disse que o apelo era uma “imposição inaceitável, além de vergonhosa… daqueles que acreditam ser os guardiões da verdade e, com arrogância e ódio, pensam que podem ameaçar a liberdade de pensamento e de expressão criativa”.

A assessoria de imprensa da Bienal de Veneza não respondeu imediatamente a um pedido de comentário nesta terça-feira.

Os signatários do apelo incluem o diretor do Museu da Palestina nos EUA, Faisal Saleh, a fotógrafa ativista norte-americana Nan Goldin e o artista visual britânico Jesse Darling, que ganhou o Prêmio Turner do ano passado.

Apelidada de “Olimpíadas do mundo da arte”, a Bienal é um dos principais eventos do calendário artístico internacional. A edição deste ano receberá pavilhões de 90 países entre 20 de abril e 24 de novembro.

PETROBRAS ABRE EDITAL PARA INVESTIR EM PROJETOS VOLTADOS À CULTURA BRASILEIRA

Fevereiro 26, 2024

Estatal vai destinar R$ 250 milhões para ações que incentivem a economia criativa, a diversidade e a inclusão nas cinco regiões do país

Tatiane Correiajornalggn@gmail.com

Arte: Divulgação Petrobras

A volta da Petrobras ao mercado cultural brasileiro foi oficializada nesta sexta-feira (23/02), com a abertura da Seleção Petrobras Cultural – Novos Eixos, que vai destinar R$ 250 milhões a novos projetos, o maior valor já direcionado à cultura pela estatal.

O foco é selecionar projetos com elementos de brasilidade para integrar os novos eixos do programa Petrobras Cultural: “Produção e Distribuição”, “Ícones de Cultura Brasileira”, “Cinema e Cultura Digital” e “Festivais e Festas Populares”.

Como forma de promover a diversidade, segmentando as oportunidades disponíveis pelos territórios e valorizando as regionalidades, a Seleção Petrobras vai atribuir pontuação adicional a projetos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (que historicamente recebem menos investimentos em projetos culturais), bem como para os projetos com ações em pelo menos três regiões brasileiras.

Cada região receberá pelo menos 15% do valor total da Seleção, e cada estado do país deverá ser local de realização das atividades de, no mínimo, dois projetos.

Além de exigência de ações que contemplem a diversidade nas propostas, haverá uma reserva de 25% das vagas para projetos propostos, liderados, ou que apresentem como tema principal: – mulheres;

  • pessoas negras;
  • pessoas oriundas de povos indígenas;
  • comunidades tradicionais (inclusive de terreiros e quilombos);
  • populações nômades e povos ciganos;
  • pessoas do segmento LGBTQIAPN+;
  • pessoas com deficiência; e
  • integrantes de outros grupos em situação de vulnerabilidade (ou sub-representação) na sociedade.

Para contar com o apoio, os projetos deverão estar inscritos na Lei Rouanet ou na Lei do Audiovisual — mas a inscrição poderá ser feita após o resultado do processo.

Poderão participar da seleção propostas de programação de espaços culturais, espetáculos artísticos, exposições, produção de filmes, manutenção de grupos artísticos, projetos digitais, festivais com temáticas diversas, festas regionais e outros, em um total de dez tipos diferentes de ações de patrocínio.

A realização dos projetos deve ser proposta com início entre 21 de agosto de 2024 e 20 de agosto de 2025, tendo duração máxima de doze meses – exceto longas metragens, que devem indicar como data inicial a previsão de lançamento nos cinemas ou em streaming.

Podem se inscrever na Seleção Petrobras Cultural pessoas jurídicas com CNPJ válido, de natureza cultural com ou sem fins lucrativos. Para este processo seletivo, não serão aceitas inscrições de pessoa física, MEI (microempresa individual), ou EI (empresa individual).

As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas exclusivamente na plataforma digital, clicando aqui.

Confira nos links ao lado o regulamentoas ações de patrocínio e as contrapartidas de referência.

Confira o calendário completo das etapas:

Inscrições – 23/02/24 a 08/04/24

Seleção dos projetos – abril a julho

Divulgação do resultado – julho

Início das contratações de patrocínios – a partir de julho

Início da vigência dos projetos – a partir de agosto

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

LAÉRCIO DE FREITAS E ARTHUR MOREIRA LIMA, EM GRAVAÇÃO CLÁSSICA

Fevereiro 25, 2024

Dois grandes músicos se juntam para interpretar “Apanhei-te cavaquinho”. Assista

Luis Nassifjornalggn@gmail.com

Laércio de Freitas e Arthur Moreira Lima juntos. | Imagem: Reprodução/Youtube

Um, Laércio de Freitas, foi considerado gênio por Radamés Gnatalli. O outro, Arthur Moreira Lima, tornou-se um dos maiores intérpretes mundiais de Chopin e, no Brasil, lançou dois LPs clássicos, com repertório de Ernesto Nazareth.

Aqui, ambos juntos em “Apanhei-te cavaquinho”:

Luis Nassif

DISPUTANDO FESTIVAL DE BERLIM, FILME NARRA MIGRAÇÕES FORÇADAS E HISTÓRIA DE REFUGIADA CLIMÁTICA

Fevereiro 23, 2024


BEM VIVER

‘CIDADE; CAMPO’

Ainda sem data para chegar ao Brasil, longa de Juliana Rojas concorre em três categorias em premiação internacional

Lucas Weber
23 de fevereiro de 2024 –

Na cena, da esquerda para direita, as personagens Mara (Bruna Linzmeyer) e Flavia (Mirella Façanha), que vivem um casal – Foto: Alice Drummond

Concorrendo nas categorias de melhor filme, melhor direção e júri popular, o longa Cidade; Campo retrata um Brasil forçado a se deslocar. Na mais recente produção dirigida por Juliana Rojas, as protagonistas vivem dilemas que as obrigam a deixar suas cidades, revelando uma dicotomia entre o meio urbano e o rural, representada pelo interior do Mato Grosso do Sul, na cidade de Dourados, e a capital São Paulo.

No elenco, o filme conta com Fernanda Vianna, Mirella Façanha e Bruna Linzmeyer.

Vianna interpreta a personagem Joana, que vivia em Minas Gerais e é obrigada a deixar sua cidade por conta do rompimento de uma barragem, tal qual aconteceu, em 2019, em Brumadinho, ou, em 2015, em Mariana. A personagem migra, então, para São Paulo.

Movimento inverso realizado pela personagem Flávia, interpretada por Mirella Façanha. “Minha personagem perdeu o pai e decide junto com a companheira dela, que é a Mara, [Bruna Linzmeyer]. Elas decidem ir para a casa do meu pai, no Mato Grosso do Sul, e viver no campo. Então essa segunda história é a migração da cidade para o campo”, relata Façanha em entrevista ao Bem Viver desta sexta-feira (23).

Cidade; Campo foi a estreia da atriz nas telonas. A trajetória da artista de 33 anos, até então, estava concentrada nos palcos e por trás das câmeras.

“Lá [no Mato Grosso do Sul] as personagens enfrentam a realidade de viver próximo à natureza”, explica Façanha.

O filme entra, então, num aspecto de “realismo fantástico sempre presente nas produções de Juliana Rojas”, comenta a artista, fazendo referência à diretora, que chegou ao seu 4º longa-metragem com Cidade; Campo. Antes, Rojas fez o curta O Duplo, que recebeu menção especial no festival de Cannes de 2012. Em série, ela participou de 3%, Supermax e Boca a Boca.


Primeira parte do filme se passa em São Paulo / Foto: Cris Lyra Main

Façanha revela ter se identificado com o roteiro por conta da história da sua família. “Minha família por parte de mãe é do Maranhão e minha família por parte de pai é de Minas Gerais e eu sou nascida em Brasília, e me mudei com 20 anos para São Paulo.”

“Eu acho que o tema [migrações] fica cada vez mais urgente no momento climático e político que a gente vive no mundo em geral. Histórias migratórias são cada vez mais colocadas em primeiro plano na vida da população”, ressalta Façanha.

Além da identificação com a história da personagem, a atriz se orgulha do roteiro do filme “contar a história de mulheres reais brasileiras” e quebrar estereótipos e estigmas construídos no imaginário da população.

“Eu sou uma mulher gorda, então obviamente isso no cinema tem também o seu lugar de imagem, as pessoas não estão acostumadas a verem pessoas gordas protagonizando filmes sem ser para estarem sendo exotizadas, fetichizadas ou sofrendo abusos e violência.”

Segundo Façanha, esse foi um dos temas mais debatidos após as exibições do filme no Festival de Berlim.


Cidade de Dourados (MS) representa meio rural explorado no filme / Foto: Alice Drummond

“O debate foi muito enriquecedor. Aconteceu algo que a gente imaginava. Na segunda parte do filme tem uma cena de sexo bem longa. É bem marcante, muito bonita, entre a Flávia e a Mara, que sou eu e a Bruna [Linzmeyer], então isso foi uma questão que o público perguntou bastante no debate e eu imagino que isso também vai repercutir aí no Brasil, porque a gente não está acostumado a ver corpos como o meu dentro da cena, sentindo prazer e tendo felicidade.”

O filme não tem data para estrear no Brasil. O longa é uma distribuição da Vitrine Filmes e segue circulando por festivais.

ÚNICO DISCO SOLO DE NOVELLI, BAIXISTA FUNDAMENTAL DA MPB, É LANÇADO NO BRASIL PELA PRIMEIRA VEZ

Fevereiro 22, 2024

“Canções Brasileiras”, que completa 40 anos em 2024, ganha edição em vinil com faixas bônus e realça a importância do músico pernambucano

Redaçãojornalggn@gmail.com

Eis que agora, “Canções Brasileiras” finalmente ganha lançamento no Brasil, graças ao projeto Rocinante Três Selos. | Foto: Acervo pessoal

por Bruno Mateus 

Basta olhar atentamente. Nas fichas técnicas de importantes discos lançados nos anos 1970 e no início da década seguinte encontra-se o nome de um recifense de 79 anos, batizado Djair de Barros e Silva, mas popularmente conhecido como Novelli – o nome artístico veio em meados dos anos 1960 por ter feito parte do Nouvelle Vague, conjunto se apresentava em bailes e festivais de Garanhuns e cidades vizinhas. Não foram poucos os artistas que contaram com os serviços de Novelli, cujo baixo aparece em álbuns de Marcos Valle, Gal Costa, Elis Regina, Naná Vasconcelos, Tom Jobim, Egberto Gismonti, Nara Leão, Beth Carvalho, Edu Lobo, Chico Buarque, João Donato, Raul Seixas, Alaíde Costa, Ney Matogrosso, Simone e tantos outros.

Da turma do Clube da Esquina, Novelli gravou com Lô Borges (“Lô Borges”, ou  o “disco do tênis”), Toninho Horta (“Terra dos Pássaros”), Beto Guedes (“A Página do Relâmpago Elétrico”) e, claro, Milton Nascimento. O baixista pernambucano integra a banda que registrou belezuras como “Milagre dos Peixes”, “Minas”, “Geraes”, “Milton & Chico” e “Clube da Esquina No. 2”, o qual também produziu, para citar alguns. 

Na discografia do multi-instrumentista, cantor e compositor constam alguns discos coletivos, caso de “Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli, Toninho Horta” (1973) e “Naná, Nelson Angelo, Novelli (1975)”, e um único disco solo: “Canções Brasileiras”, que completa 40 anos neste 2024. Em 1984, o LP, gravado no Studio Sextan, em Paris, que também abrigou Alceu Valença e seu “Saudade de Pernambuco” (1979), foi lançado somente na França, pelo pequeno selo independente Maracatu. 

Eis que agora, “Canções Brasileiras” finalmente ganha lançamento no Brasil, graças ao projeto Rocinante Três Selos, fruto da parceria inédita entre a fábrica de vinis e gravadora Rocinante, a gravadora Três Selos e a loja Tropicália Discos, sediada no centro do Rio de Janeiro. A partir desta quinta-feira (22), a jóia de Novelli, em edição de vinil, envelope com letras e texto do jornalista e pesquisador Bento Araujo, pode ser comprada exclusivamente pelo site do projeto (www.rocinantetresselos.com).

Em “Canções Brasileiras”, Novelli canta e toca baixo, piano e órgão. “Teia de Aranha”, que abre o álbum, “Sem Fim” e “Profunda Solidão” foram escritas em parceria com o poeta mineiro Cacaso (1944-1987). A tocante e instrumental “Andorinha” é só Novelli e o piano.  Melancólica, a belíssima “Fábio Novellinho” é embalada pelo cello de Jean-Charles e pelo violão lamentoso de Thoninho Ramos. “Minas Geraes”, que anos antes saíra em “Geraes” (1976), de Milton Nascimento, é resultado da tabelinha entre Novelli e Ronaldo Bastos. A dupla também assina “Janela Aberta”. “Fim de Abril” tem coautoria de Marcio Borges. “Quem vai chorar seus mortos?/ Quem vai chorar você? Cheiro de sangue e vinho/ Cheiro de sangue e vinho”, canta Novelli.

A reedição de “Canções Brasileiras” traz novidades. Três canções extras gravadas por Novelli na década de 1980 – a inédita “Um bocadinho”, dele e de Cacaso, “Triste Baía da Guanabara”, que foi gravada por Djavan em seu álbum Alumbramento (1979), e “Alvorada”, parceria com Carlinhos Vergueiro – se juntam ao material lançado há 40 anos.

A reedição em vinil de “Canções Brasileiras” celebra o aniversário deste importante disco, faz um acerto de contas com o passado e realça os múltiplos talentos de Novelli, artista sensível que tem seu merecido lugar entre os grandes da nossa música popular. 

Em “Canções Brasileiras”, Novelli canta e toca baixo, piano e órgão. | Imagem do Disco Novelli – Rocinante Três Selos – Reprodução

“Canções Brasileiras” (Rocinante Três Selos)

Lado A

Teia de aranha (Novelli, Cacaso) 2:55

Sem fim (Novelli, Cacaso) 4:07

Profunda solidão (Novelli, Cacaso) 4:19

Andorinha (Novelli, Cacaso) 3:38

Valsa para Bill Evans (Novelli) 4:05

Triste Baía da Guanabara (Novelli, Cacaso) 3:03

Lado B

Fabio Novellinho (Novelli) 3:34

Minas Geraes (Novelli, Ronaldo Bastos) 4:05

Janela aberta (Novelli, Ronaldo Bastos) 3:17

Fim de abril (Novelli, Marcio Borges) 2:35

Um bocadinho (Novelli, Cacaso) 3:35

Alvorada (Novelli, Carlinhos Vergueiro) 3:06

Redação

DIA DO LIVRO VERMELHO: COMO EDITORAS INCENTIVAM LEITURA NO ANIVERSÁRIO DO MANIFESTO COMUNISTA

Fevereiro 21, 2024

CULTURA

21 DE FEVEREIRO

Data de lançamento da obra de Marx e Engels é celebrada no mundo todo com ações de estímulo à leitura

Kaique Santos

Brasil de Fato | São Paulo (SP)

21 de fevereiro de 2024 –

Publicado em 1848, o Manifesto Comunista completa 176 anos neste 21 de fevereiro – MST

Nesta quarta-feira (21), é comemorado o Dia Internacional do Livro Vermelho. A data celebra o lançamento da primeira edição do Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels. Fundamental para entender a luta de classes em todo o mundo, a obra inspira diversas outras relacionadas às estruturas de opressão da sociedade, consideras “livros vermelhos”.

A data foi proposta e instituída na Assembleia Internacional dos Povos por uma editora de livros indiana, a LeftWord Books, e pela União Indiana de Editores de Esquerda.

O Manifesto inspira a pensar a realidade e transformá-la, segundo o coordenador editorial da Livraria Expressão Popular, Miguel Yoshida. Publicado há 176 anos, simbolizou aproximação dos autores com a organização de trabalhadores chamada posteriormente de Liga Comunista.

Veja a reportagem em vídeo, exibida no Central do Brasil:

“O Marx e o Engels se juntam a esse grupo de operários e de trabalhadores de diversos países da Europa pra conseguir somar na luta dos trabalhadores, principalmente no campo teórico. Então, a partir das discussões nessa organização chamada Liga dos Justos, eles identificaram — como já tinham um acúmulo teórico em torno das questões do capitalismo e da luta dos trabalhadores — algumas lacunas que poderiam ser supridas. Foram elaborando a partir de debates coletivos o que eles pensavam ser uma síntese de um programa político para a classe trabalhadora. Então, o Manifesto Comunista é importante porque, na verdade, ele é um programa político dos trabalhadores do século XIX na Europa, que buscavam uma transformação social”, explica Yoshida.

“O Marx e o Engels dizem: ‘Os comunistas não ocultam suas opiniões e objetivos. Declaram abertamente que seus fins só serão alcançados com a derrubada violenta da ordem social existente. Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder nela, além de seus grilhões. Têm um mundo a conquistar. Proletários de todos os países, uni-vos'”, declama a jornalista e colaboradora da Livraria Expressão Popular, Cecília Luedemann, citando trecho do Manifesto.

Luedemann reflete e contextualiza o trecho recitado: “a gente só vai conseguir uma libertação quando a classe trabalhadora, todo mundo se unir. Veja o que está acontecendo lá na Palestina. Não é possível a gente ver um massacre como esse… Os povos todos procurando apoiar [a Palestina]… E a gente não consegue por quê? Porque nós também estamos amarrados em grilhões. [Em] cada país capitalista, ainda existe essa opressão.”

Desde 2020, a Expressão Popular uniu-se a outras editoras para promover o Dia do Livro Vermelho. Juntas, incentivam a leitura e discussão entre trabalhadores do Manifesto Comunista e de outros textos críticos ao capitalismo e pró-emancipação da classe trabalhadora.

“A gente chama de livros vermelhos todos os tipos de livros — pode ser teoria, reportagem, literatura — que nos trazem uma referência de emancipação. (…) A gente vê que o dia inteiro, em vários lugares do mundo, a classe trabalhadora se organiza para essa leitura. É uma campanha para que a gente volte a ler os livros importantes pra nossa formação política”, explica Luedemann.

Criada há 25 anos por movimentos de esquerda, a Expressão Popular é uma editora que tem como uma das suas missões disponibilizar e difundir os livros vermelhos. Em processo de reforma no novo espaço, a Livraria da Editora tem no catálogo mais de 700 títulos sobre marxismo, revolução, opressão às mulheres, reforma agrária e movimento socialista. Miguel Yoshida espera que o hábito de celebrar o dia do livro vermelho seja fortalecido a cada ano.

“Naquele primeiro momento, em 2020, a gente propunha a leitura especificamente do Manifesto. Depois a gente viu que existem mais livros vermelhos, que são esses livros críticos ao capitalismo e que nos possibilitam pensar outra forma de organização social, outra forma de vida. Então, a gente pode até dizer que o Dia do Livro Vermelho propõe uma construção de uma nova sociedade tanto na forma, que são as experiências coletivas, quanto no conteúdo, que é recuperando essa tradição de luta, pra gente conseguir pensar as nossas lutas atuais e construir uma nova sociedade”, conclui o coordenador editorial.

Edição: Matheus Alves de Almeida

MOSTRA GRATUITA EXIBE FILMES MUDOS COM TRILHAS SONORAS IMPROVISADAS AO VIVO EM CURITIBA

Fevereiro 20, 2024


CULTURA

AGENDA CULTURAL
“CineConcertos – O cinema nunca foi mudo” acontece de 20 a 25 de fevereiro, na Caixa Cultural Curitiba

Redação Paraná

Curitiba (PR)

20 de fevereiro de 2024 –

Filme Limite (Brasil, 1931), único filme de Mário Peixoto, está na programação da Mostra CineConcertos, com trilha ao vivo executada por Carlos Ferreira e Diego Poloni – Reprodução
Começa nesta terça (20) e vai até domingo (25) a mostra CineConcertos – O cinema nunca foi mudo, com exibição de filmes silenciosos com trilhas sonoras improvisadas ao vivo. A programação tem cinco longas-metragens e uma sessão de 13 curtas, todos filmes clássicos do cinema mundial musicados por três grupos de diferentes músicos. As sessões serão sempre às 19h, com entrada gratuita, na Caixa Cultural Curitiba.

A retirada dos ingressos poderá ser feita uma hora antes de cada sessão, na bilheteria do teatro. A produção também recolherá alimentos não perecíveis que serão doados para pessoas em situação de vulnerabilidade e o público está convidado a contribuir.

Três das seis sessões serão seguidas por debates, uma delas, no dia 24, contará com audiodescrição e intérprete de libras. Em todas as sessões serão disponibilizados protetores auriculares para público com transtorno do espectro autista (TEA).

“O intuito de reunir filmes tão distintos uns dos outros foi mostrar ao público o quão rico e plural é o cinema silencioso. Era uma época de muita exploração da linguagem cinematográfica que abriu novos horizontes estéticos do cinema e influenciou o mundo. Limite, por exemplo, a produção brasileira que integra a mostra, é considerado por muitos estudiosos e cineastas o melhor filme realizado no país, entretanto poucos o conhecem”, conta Aristeu Araújo, cineasta, crítico de cinema e jornalista que assina a curadoria cinematográfica da mostra.

Criar a trilha para os filmes é o maior desafio do projeto, a proposta da curadoria musical foi reunir grupos e músicos com trabalhos diferentes entre si para proporcionar ao público diferentes sonoridades para cada filme. O trabalho é de improviso, ou seja, as trilhas para cada filme só vão acontecer uma única vez. Cada grupo de músicos irá musicar duas sessões. Os ensaios serão para conhecer os filmes, definir os instrumentos e determinar um acordo de improvisação.

“Vamos trabalhar com profissionais talentosos e experientes cujo objetivo será criar trilhas não convencionais explorando instrumentos e sons que não eram comuns na época que esses filmes foram produzidos. Será muito instigante acrescentar uma nova camada de sonoridade com texturas contemporâneas aos filmes clássicos”, destaca Luiz Lepchak, curador musical da mostra.

Os músicos convidados são: Antonio “Panda” Gianfratti (do Grupo Abaetetuba); Carlos Ferreira e Diego Poloni (música experimental, guitarra elétrica, sintetizadores e pedais de efeitos) e Juarez Neto Sexteto – grupo de jazz de Curitiba, criado especialmente para a Mostra, composto por: Lilian Nakahodo (pianista), Duda Comunello (guitarrista), Igor Loureiro (baixo elétrico), Gabi Bruel (percussionista) e Dani Dalessa (baterista).

Confira a programação

20/02 (terça) – 19h (*com debate na sequência):

Curtas de Alice Guy / França (1898 a 1907); duração: 48min; direção: Alice Guy

Música ao vivo: Juarez Neto Sexteto

Classificação: Livre

Filmes cedidos pelo Institut Français de Cinema que serão exibidos: Chez le magnétiseur, Chirurgie fin de siècle, Avenue de l’opéra, Chapellerie et charcuterie mécaniques, Chez le photographe, Questions indiscrètes, Madame a des envies, Les Résultats du féminisme, Le Lit à roulette, La Course à la saucisse, Alice Guy tourne une phonoscène?, Sur la barricade e Le Billet de banque.

Embora tenha sido apagada da história, Alice Guy foi a primeira a fazer ficção no cinema.

21/02 (quarta) – 19h

Nanook, O Esquimó / França, EUA (1922); duração: 78min; direção: Robert J. Flaherty

Música ao vivo: Juarez Neto Sexteto

Classificação: 12 anos

O filme é considerado o primeiro documentário formal da história do cinema. Documenta um ano da vida do esquimó Nanook e de sua família, que vivem em Hudson Bay, no Canadá. Retrata a caça (a animais como o leão marinho), a pesca e as migrações de um grupo que está totalmente à parte da industrialização da década de 20. Registra o cotidiano de uma família que realiza as atividades do dia-a-dia com foco basicamente em uma única questão: ter o que comer.

22/02 (quinta) – 19h (*com debate na sequência)

Nosferatu / Alemanha (1922); duração: 94min; direção: F.W. Murnau

Música ao vivo: Antonio Gianfratti

Classificação: 12 anos

Um clássico do cinema expressionista alemão. Hutter, agente imobiliário, viaja até os Montes Cárpatos para vender um castelo no Mar Báltico cujo proprietário, o excêntrico conde Graf Orlock, na verdade é um milenar vampiro. Buscando poder, o nobre muda-se para Bremen, Alemanha, espalhando o terror na região. Curiosamente quem pode reverter esta situação é Ellen, a esposa de Hutter, pois Orlock está atraído por ela.

23/02 (sexta) – 19h

São Paulo, Sinfonia da Metrópole / Brasil (1929); duração: 90min; direção: Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny

Música ao vivo: Antonio Gianfratti

Classificação: 10 anos

A cidade de São Paulo no final da década de 20. Urbanismo, moda, monumentos públicos, industrialização, fatos históricos, expansão do café, educação e o burburinho do cotidiano. Baseados no clássico Berlim – Sinfonia da Cidade (1927), os húngaros Adalberto Kemeny e Rodolfo Lustig, donos de um dos melhores laboratórios de cinema da época, produziram este documentário.

24/02 (sábado) – 19h (*sessão com audiodescrição e debate na sequência com intérprete de libras)

Pour Don Carlos / França (1921); duração: 90min; direção: Musidora e Jacques Lasseyne

Música ao vivo: Carlos Ferreira e Diego Poloni

Classificação: 12 anos

Baseado no livro de Pierre Benoît, o filme retrata a guerra civil entre o governo republicano local e os Carlistas, apoiadores do pretendente ao trono da Espanha, no final do século XIX. Um jovem subprefeito cai em uma armadilha elaborada pela musa da insurreição Carlista antes de se juntar à causa.

25/02 (domingo) – 19h

Limite / Brasil (1931); duração: 120min; direção: Mário Peixoto

Música ao vivo: Carlos Ferreira e Diego Poloni

Classificação: 12 anos

Único filme de Mário Peixoto. Em um pequeno barco à deriva, duas mulheres e um homem relembram seu passado recente. Uma das mulheres escapou da prisão; a outra estava desesperada; e o homem tinha perdido sua amante. Cansados, eles param de remar e conformam-se com a morte, relembrando (através de flashbacks) as situações de seu passado. Eles não têm mais força ou desejo de viver e atingiram o limite de suas existências.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini

ANA LAURA PRATES: QUANTAS VEZES UM PAI PRECISA CAIR?

Fevereiro 19, 2024

Quantas vezes um pai precisa cair?

por Ana Laura Prates

Quantas vezes um pai precisa cair para que se possa atravessar a fantasia d’O Pai que garanta que “A vida é bela”, tal como no filme de Roberto Benigni. O filme “Anatomia de uma queda” de Justine Triet não é definitivamente apenas sobre as peripécias do tribunal do júri (embora debata amplamente a relação com a Lei), tampouco somente um debate filosófico e desgastado (mas ainda pertinente e atual) sobre a realidade e a verdade. Aliás, em diversas passagens se escuta da boca do advogado Vincent (Swann Arlaud) que naquele julgamento “não se trata de realidade”. Nos termos da moda, poderíamos dizer que se trata de uma disputa de narrativas.

Mas o filme é muito mais radical, e disseca a anatomia da montagem da realidade que é, estruturalmente, sempre uma montagem discursiva. O recurso de criar as personagens de Sandra (Sandra Huller) e Samuel (Samuel Theis) como escritores de literatura de autoficção é mais um brilhante recurso irônico da diretora, aliás redobrado pelo espelhamento dos nomes dos atores nas personagens).

Ora, por mais que Sandra tenha um discurso libertário, aparentemente feminista e se declare bissexual, ela não está imune (que mulher está?) à alienação fundante do patriarcado: a sustentação a qualquer preço (e que preço!) da imagem do Pai ideal, potente e infalível, ainda que em versão soft e participativa das tarefas do lar e do cotidiano.

Mas a chave do filme está em Daniel (Milo Machado Graber), o filho. Aliás, mais um filme de uma bem vinda leva que resgata a dignidade da infância! Daniel é um antídoto da paixão da ignorância que Édipo encarna: ele, ao contrário de Édipo, quer saber, quer ouvir e quer ver (a cegueira aqui como metáfora da castração não é casual). Sua relação com a lei é paradigmática do que podemos esperar de um sujeito que atravessa uma análise e ele pode, finalmente, ver a queda do pai. Afinal, como argumenta com a juiza, ele já está magoado. E escolhe a via do desejo de saber como tratamento possível! Que a personagem da mediadora Marge (Jehnny Beth) encarne a dignidade da não resposta, compatível com a posição do discurso do analista, tampouco é casual e contrasta com o patético depoimento do psiquiatra de Samuel no tribunal (dissecando, também, por tabela, a encruzilhada da psiquiatria contemporânea ao descartar o sujeito do inconsciente). É de Marge, inclusive, a frase que melhor define a posição ética do filme: diante da dúvida, é precio tomar para si o ato da escolha. Daniel pergunta: mas então é preciso inventar uma certeza? E ela responde: não, é preciso decidir! É diferente!

E será, finalmente, o ato da criança que revelará a única verdade ofuscada pelo véu secular que nos transforma em édipos: a imagem do pai precisa cair! Mas o cadáver do patriarcado ainda está a ser dissecado! Haja anatomia pra tanta queda!

Após rever o filme, acrescento, em tempo: “Anatomia de uma queda” também é um filme sobre velhas e novas (felizmente) formas de amar. E uma aposta no futuro! Afinal, um pai às vezes é “apenas” um cão e um cão pode exercer a função paterna!

Ana Laura Prates é dona de casa e mãe, psicanalista, escritora e editora. É autora, dentre outros de “Feminilidade e experiência psicanalítica” e “Da fantasia de infância ao infantil na fantasia” (Larvatus Prodeo Editora). Doutora pela USP, Pós-Doutora pela UERJ e Pesquisadora da UNICAMP. É membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano e do coletivo Psicanalistas Unidos pela Democracia (PUD).

Ana Laura Prates

Ana Laura Prates é graduada em Psicologia pela USP (1989), mestre em Psicologia Clínica pela USP (1996), doutora em Psicologia Clínica pela USP (2006) e possui pós-doutorado em Psicanálise pela UERJ (2012).