Archive for Janeiro, 2011

Cri-ações: Frida Kahlo

Janeiro 31, 2011

Pintar é anuviar-se num sonho acordado

em coisas sem forma e sem razão

Cri-ações de uma produção social

Em preocupações com os olhos pobres

que contemplam em nova expressão

 


Fios tecidos que alimentam a vida

se soltam e ligam à outras linhas e-feme(r)as

e compõe as imagens que nos cega

permitindo sentir o olhar sem ver

como uma passagem que logo nos leva


Photo Graphein: Susan Meiselas

Janeiro 31, 2011

Histórias das músicas brasileiras

Janeiro 30, 2011

Elis Regina foi uma das maiores interpretes que a música popular conheceu. Famosa por cantar as músicas de João Bosco e Aldir Blanc,  Adoniran Barbosa, Gilberto Gil,  Ruy Guerra, Capinan, Edu Lobo,  Chico Buarque, Belchior entre outros. Gaucha Elis trabalhou no rádio e também na televisão onde dividiu o programa “Fino da Bossa” com Jair Rodrigues. Com uma carreira estrondosa e uma grande fama Elis viveu e decidiu partir em uma viagem muito louca de overdose.  Os três filhos de Elis atualmente são músicos.

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“Eu nasci em Porto Alegre em 1945 no dia 17 de março num domingo as 02:10 da tarde estragando o café da mamãe, aquele lanche maravilhoso. E eu fui a primeira filha muito esperada de um casal de dois anos de vida em comum; primeira neta e primeira sobrinha de uma família de 7 pessoas que se adoravam muitíssimo e resolveram me adotar como filha de todos. Eu achei tudo ótimo, tudo maravilhoso, principalmente o já talento comercial do papai por que ele olhou para mim e deve ter pensado assim que esta menina quando crescer vai ser cantora então um ótimo nome para cantora é Elis Regina. Entende? Por que você sabe é esquisito por que eu ia me chamar só Elis. Ele foi me registrar né, seu Romeu foi lá e disse vim registrar a menina minha filha que nasceu. Qual é o nome? Elis. Mas tem um pequeno problema meu senhor por que este nome serve para pessoas tanto do sexo masculino quanto pro sexo feminino então a gente tem que dar um jeito de diferenciar isto aí por que senão vai criar problemas para a criança mais tarde. Aí ele deve ter pensado de novo: vai ser cantora e Regina vai ficar muito bem ao lado de Elis e aí ele botou Elis Regina Carvalho Costa. E eu fui uma pessoa absolutamente mediocre a vida inteira, igual a todas as pessoas normais, muitissimo encabulada que é o que me diferenciava da família toda por incrível que isto possa te parecer; muito tímida e tudo até o dia que eu fiquei assanhadissima e sai cantando por aí. Meu pai é uma pessoa muito esquisita, se eu te disser até hoje que eu não sei exatamente quem é meu pai, você vai dizer que é mentira minha. Meu pai tem o cabelo preto, tem bigode, descende de índio se chama Romeu de Oliveira Costa, o pai se chamava Francisco, a mãe Idalina e é o máximo que eu sei dele. E eu sei que ele gosta muito de mim. Eu não tenho muitas referências a respeito do meu pai por que ele é uma pessoa que praticamente não fala… Ele entra em casa, lê o jornal… Ele é uma pessoa que infelizmente não participou muito da vida da gente. A minha mãe é mais parecida comigo. Minha mãe é alegre, minha mãe é extrovertida, minha mãe é risonha, minha mãe fala palavrão, faz tudo que toda mãe deveria fazer. Minha mãe é dedicadissima com os filhos, é uma incrível cozinheira, costura muito bem, uma figura realmente incrível, uma mulher muito bonita. Foi uma mulher bonita e hoje em dia é uma senhora com o cabelo branco, uma pele muito clara, é realmente uma mulher muito bonita e eu acho que deveriam inventar um complexo aí, por que de Elektra não da pé, quer dizer realmente eu não tenho este. Precisava inventar um complexo de fixação da figura materna, um nome para este complexo pelo menos.

Eu ouvia a Rádio Nacional da hora que eu acordava à hora que eu dormia assim como todas as casas do Brasil até o ano, sei lá, que a televisão chegou e bagunçou com a transação de rádio. Eu ouvia o Francisco Alves “Quando os ponteiros do relógio se encontram e dão as 12 badaladas” Boa noite amor “ A saudade vem chegando a tristeza me acompanha”, eu ouvia Marlene, eu ouvia Emilinha eu ouvia César de Alencar, eu ouvia estas coisas que todo mundo ouviu. Eu acho que eu devo ter sido muito amarrada no Boa noite amor por que   depois de um tempo eu acabei até gravando esta música. Eu devo ter sido muito amarrada por que foi uma coisa que me marcou muito entende, o Francisco Alves por que parava minha casa, todo mundo parava no domingo para ouvir o Francisco Alves e quando ele morreu meu pai ficou de luto uma semana, minha mãe ficou desesperada chorava parecia que tinha morrido alguém da família. Eu tenho impressão que por estas coisas todas por estas alterações todas que causaram na minha cabeça de criança, tenha ficado tão afixada.

Eu começei a cantar, eu sempre falo este negócio, eu acho que a minha realmente grande transa, quer dizer a transa maior da minha vida tinha que ser com música. Eu tinha sempre e sempre era requisitada em casa evidentemente para horas de arte. Talvez por que eles já achassem que eue tinha alguma coisa com isso de cantar, mas claro que eu não cantava. Eu queria era estudar piano, era o negócio maior na minha vida até que um dia eles realmente me puseram para estudar piano. Aí eu estudei piano estas coisas todas e tinha que ir pro conservatório né. A professora chegou um dia e disse: não tem mais nada para ensinar e o negócio é conservatório. Aí fui para lá, fiz o exame e passei. E teve a pergunta fatídica: “Você tem instrumento em casa?” eu disse Não. Mas então não pode, tem que ter pois precisa estudar. Aí entre comer e ter um piano, eles optaram por continuar comendo e eu também achei ótimo a longo prazo por que senão ter um piano e não ter mais nada ia ser realmente uma coisa incrível. Mas eu tinha que fazer alguma coisa, tinha muito som na minha cabeça que precisava. Aí eu cantei, começei a cantar atendendo um pedido da minha avó, um presente de aniversário que eu dava era participar do clube do Gury, o maior presente que ela podia receber. Quando foi pra eu dar um presente para eles ótimo, eu fui lá, cantei e as pessoas badalavam, fizeram almoço. Aí quando eu começei a gostar que eu começei a querer dar o presente para mim, aí quiseram cortar esta por que não podia, não ficava bem, afinal cantora de rádio, aquelas coisas… Mas aí eu não tinha mais jeito. É que nem gente que começa a beber e não pode parar. Pra mim é cantar e coçar é só começar.

A primeira gravação que fiz, eu morava em Porto Alegre e recebi um convite da Continental pra gravar e quem produziu meu disco foi Carlos Imperial. A Continental precisava de uma cantora que fizesse frente a Cely Campelo que na Odeon estava acabando com o baile. Mas eu de antemão já acho que este negócio de lançar alguém pra combater alguém uma pobreza total absoluta, sempre achei. E  eu não queria ser a sombra de quem quer que fosse eu queria ser eu, fazer minhas coisas. E aparte isto o repertório, que é um nome maravilhoso, não era assim dos mais maravilhosos  de você ouvir e rolar na sarjeta de paixão, aí ficou tudo esquisito mas tinha contrato, tinha que fazer, aquelas coisas sabe como é. A primeira música eu me lembro mas não vou dizer, por que você vai pedir pra eu cantar e eu não vou cantar.Aí eu sei você não sabe. Eu vim pro Rio muito depois disso em 64  e minha família ficou lá, a necesidade de trabalho era urgente tinha que me virar de qualquer maneira e eu não tive calma suficiente para fazer as coisas do jeito que eu achava que devia ser feito pelo mesmo motivo que um dia achei que tinha que deixar de estudar piano. Fui trabalhar na TV Rio e quem me levou foi Paulo Gracindo que me ouviu cantando não sei onde e achou ótimo, enfim cheguei nos lugares pelas mãos mais esquisitas, que menos a ver tinha comigo na época.

Transcrição do Programa MPB Especial.

Elis aos 11 anos já mostrava seus  dotes nos programas musicais infantis

Elis foi uma das maiores cantoras no palco. A força mulher se transformava em um espetáculo vibrante.


Elis teve três filhos (João Marcelo Bôscoli em um casamento com Ronaldo Bôscoli e no outro casamento com César Camargo Mariano teve Pedro Camargo Mariano e Maria Rita). Na foto Elis sorri com seus filhos Pedro Camargo e Maria Rita.

A música de Gil foi mostrada por Elis pelo amigo Edu Lobo. Logo ela admirou o bahiano de quem admirava e ficou amiga.

 

Elis também foi próxima de Gonzaguinha. Ambos participaram de festivais de música e Elis chegou a ganhar prêmios com a música Arrastão.

 


Notas biroscas

Janeiro 29, 2011

Luz, Camera, Warhol

  • Nesta terça (1) no Oi Futuro do Flameno abre a  exposição “Warhol TV” que reúne a importante e  pouco conhecida obra do artista feita para a  televisão. A mostra que já passou por Paris e  Lisboa vai expor programas e filmes como “Andy  Warhol’s Fifteen Minutes” (com Grace Jones,  Kenny Scharf, Marc Jacobs, Blondie, Keith  Haring, Basquiat e William Burroughs, entre  outros), “Andy Warhol’s TV”, “Fashion”, o raro  “screen test” com Marcel Duchamp, entre outras  maluquices. A exposição fica até dia 3 de  abril.

 

  • Para quem acha que o Carnaval é só em março  este ano estão enganados. Pelo menos em Olinda  este bloguinho vem mostrando que o Carnaval já  está em todo vapor. Neste domingo (30) na sede  da Pitombeira dos Quatro Cantos as 13 horas  acontece o ensaio dos frevos puxados pela  orquestra do Maestro Lessa. E para embalar toda  recife a partir das 17 horas o bloco sai a rua  embalando a todos. Que venha os frevos.

 

  • E falando em música a cidade de Salvador recebe neste domingo (30) o lançamento do CD e DVD “Fé  na Festa” de Gilberto Gil na Concha Acústica do  TCA às 18h30.

 

  • Para os que gostam de cinema e querem uma  surpresa não deixem de conferir na SaladeArte  Cinema da UFBA em Salvador de sexta a domingo  até dia 13 de fevereiro, as apresentações  surpresas que ocorrem antes da apresentação  cinematográfica.

  • No Rio de Janeiro o segundo mês começa com  programação da Mostra de cinema “Luc Moullet,  Cinema de contrabando” que começa nesta terça  (1) e vai até dia 20. Moullet é conhecido como  um dos expoentes do movimento da Nouvelle  Vague, e admirado por grandes cineastas como  Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub, Claire  Dennis, Raoul Ruiz e Carlos Reichenbach. O  próprio Moullet estará presente do encontro  marcado pro dia 12/02 (sábado). A mostra traz  41 títulos do diretor entre eles “A Terra de  Loucura”, “A Comédia do Trabalho”, “Gênese de  Uma Refeição”, “As Poltronas do Cine Alcazar”,  “Brigitte e Brigitte”, “Jean-Luc segundo Luc”,  “O homem da ravina”, entre outros.

 

  • Ainda no Centro BB do Rio começa nesta terça  (1) e vai até junho o projeto Lapa de todos os  sambas que vai reunir três gerações de bambas  neste tradicional reduto do samba.No cardápio   Elton Medeiros, Delcio Carvalho, o Sururu na  Roda, Elisa Addor e Roberta Nistra. Então se  ligue na Lapa do samba. A estreia será às 12h30  e às 19h com o grupo Anjos da Lua e  participação  especial do cantor e  percussionista Pedro Miranda.

 

  • Ontem aconteceu a abertura em Salvador da  exposição “Bença”, do fotógrafo João Milet  Meirelles, no Teatro Vila Velha que fica aberta  até o último dia de março. Trata-se do ensaio  fotográfico feito a partir da peça teatral que  comemora os 20 anos do Bando de Teatro Olodum.  Além destas fotos há outras que contracenam com  a criação dos mestres Pierre Verger e Carybé e  outros.

 

  • Nas comemorações da festas das águas onde  celebra-se o dia de Iemanjá que ocorre nesta  quarta-feira (2 de fevereiro) a cidade de São  Salvador está toda em festa. Dentre estas  comemorações a arte também está no meio. No  Atelier aberto de Sandro Abade Pimentel ocorre  hoje (29) das 13 às 22 horas “UM COPO DE MAR  PARA PAGU COM BEIJOS PARA YEMANJÁ” que trás  para Yemanjá 13 copos com água do mar que  recebem as imagens dos beijos. Estes serão  entregues a rainha do mar para que a criação  seja continua como o ósculo dos amantes.

  • Um dos grandes nomes do samba brasileiro e um  dos maiores tocadores de cavaquinho que já  ouvimos, o querido Nelson Cavaquinho faria 100  anos se estivesse por aqui. E neste embalo a  Estação Primeira de Mangueira já anunciara o  samba com o tema de Nelson. Agora o mais  interessante é um CD que vai sair em março com  gravações de músicas de Nelson. O CD vai contar  com grandes nomes do samba como Beth Carvalho,  Alcione, Lecy Brandão, Teresa Cristina, Benito  di Paula entre outros músicos.

 

  • A voz mais punk music de Patti Smith dará voz a  mais um livro segundo o New Music Express.  Trata-se agora de um romance policial. “Estou  trabalhando há dois anos em uma história sobre  um detetive, que começa na [igreja] St. Giles- in-the-Fields, em Londres.” A cantora que já te  o livro “Só Garotos” lançado por aqui logo  mandará mais um. Valeu Patti.

 

  • Boas novas no mundo do cinema. Nasceu o  primeiro rolo do filme do casal Penélope Cruz   e Javier Bardem. Nesta trama do cinema verdade  filho recem-nascido é americano de Los Angeles  e esperamos que seja uma criança atuante no  mundo e que herde o sangue latino e o inquietu (ra)de espanhola. Bambino…

 

  • A versão chilena do rockológico festival  Lollapalooza que vai ocorrer no dia 2 e 3 de  abril no Parque O’Higgins, em Santiago já está  com ingressos a vendas no Puntoticket. Dentre  as atrações já confirmadas Flaming Lips, Cat  Power, Devendra Banhart, Empire of the Sun,  Jane’s Addiction, Cypress Hill, Fatboy Slim  entre outros. Confira mais informações no sítio  oficial.


  • Outra cantora conhecida enveredará sua produção  artística existencial para outra praia. A  cantora Tori Amos vai preparar um musical que  estreiará no Teatro Nacional de Londres no ano  que vêm. Aguardamos as novas.

 

  • Nesta semana a cantora Lady Gaga publicou no  seu twitter a letra de uma música inédita “Born  this way” em primeira mão. A música mistura  cristianismo e familiaridade, mas em  compensação trabalha com auto-estima,  diversidade cultural e bons trocadilhos. O  refrão traz a frase ” Eu sou bela no meu jeito-  pois deus não comete erros- Estou no caminho  certo baby- Eu nasci deste jeito”.

 

  • Quem canta os males espanta ? Certissimo.  Segundo um estudo em um jardim de infância  franco-alemão da cidade de Wuppertal mostra que  o canto ajuda no aprendizado, no  desenvolvimento psico-afetivo e na saúde das  crianças. E o melhor a afinação não influência.

 

  • Nos palcos alemãos o diretor Christoph Bechtel  tem trabalhado algo pedagógico brechtiano  contra o trabalho da grande mídia: estranhar o  que não é estranho. Ou seja tornar estranho  para os espectador a guerra do Afeganistão,  país devastado pelos norte-americanos. O texto  vem de uma pesquisa detalhada sobre a  insensibilidade dos espectadores. Além disso  ele questiona a responsabilidade que a   Alemanha assumiu ao participar desta guerra  insana.

  • Nesta semana o Conselho Supremo de Antiguidades  do Egito exigiu mais uma vez que a Alemanha  devolva o busto da rainha Nefertiti.A estátua  foi para Alemanha como forma de pagamento ao  país que financiou a expedição arquológica.  Nosso blog sempre foi contra os saques  culturais e esperamos que os alemães devolvam  esta estátua.

UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Janeiro 28, 2011
Arles, 13 de agosto de 1888

 

As Pequenas Mendigas (1890), BOUGUEREAU



Petites Mendiantes, Nova Yorke, Syracuse University

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Van Gogh comenta seus planos de mudança tanto de cidade quanto de técnicas para suasobras e como sempre escreve sobre pintores que lhe inspiram. Mas o grande problema é a falta de modelos:

Espero fazer estes dias um estudo de loureiro-rosa. Se pintassemos polidamente como Bouguereau , as pessoas não teriam vergonha de se deixar pintar; mas creio que o fato de acharem o que faço “malfeito” , que não é mais que quadros cheios de pintura, me fez perder muitos modelos. Então as honradas putas tem medo de se comprometer e de que zombem de seus retratos. E há com o que quase se desanimar, quando sentimos que poderíamos fazer tantas coisas se as pessoas tivessem um pouco mais de boa vontade. Não posso me resignar a dizer que “as uvas estão verdes”, não me consolo por não ter mais modelos.

Enfim é preciso ter paciência e voltar a procurar outros.

Adolphe William Bouguereau foi um pintor francês de nus, cenas mitológicas e religiosas, conhecido por ser uma figura dominate na pintura acadêmica francesa durante a segunda metade do século XIX.Seu trabalho foi caracterizado por um acabamento de alto nível, um realismo tecnicamente impecável e uma interpretação sentimental de seus sujeitos. Seu perfeccionismo lhe rendeu muitos prêmios e honras.

Nascido em 30 de Novembro de 1825 na cidade francesa de La Rochelle. Ele entrou para a Escola de Belas Artes ( École des Beaux-Arts) onde foi pupilo de Picot em 1846 e foi premiado com o Prêmio de Roma (Prix de Rome) em 1850.  Após seu retorno para a França após estudos de 4 anos de duração na Itália, ele atraiu um amplo número de seguidores com suas pinturas alegóricas e mitológicas, apesar da sua produção de retratos terem maior estima atualmente.

Ele executou a decoração de murais da Catedral de  La Rochelle e em Paris as de Santa Clotilde, Santo Augustinho e São Vicente de Paula.

Alguns livros descreve sua rotina como algo frenético: acordava as 6 horas e se dirigia a seu atelier onde ficava até o cair da noite, saciando sua fome com ovos. Ele recebia convidados, fumava, conversava, contava piadas, mas nunca parava. Quando não havia luz para pintar, ele trabalhava em sua volumosa correspondência e depois se retirava para meditar e desenhar novos temas só parando na exaustão da noite.

Devido a seu forte amor pela pintora americana Elizabeth Gardner ele lutou pelo direto das mulheres como artistas e ajudou na abertura dos primeiros ateliers e cursos de artes para mulheres.

Ele morreu na sua cidade natal em 19 de agosto de 1905. Bouguereau sempre recusou ser ditado em relação aos temas pintados e podemos dizer que ele somente pintava o que o agradava, inclusive diversos retratos, que não eram tão bem vistos no meio acadêmico.


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Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.

Photo Graphein: Helen Levitt

Janeiro 27, 2011

E se eu mandasse que deixásseis…

Janeiro 27, 2011


A caverna da mente?
Há na luz do sol e no vento
Exercício mais conveniente.

A Moscou ou a Roma
Nunca vos mandei viajar,
Renunciai a esta maçada,
Chamai as Musas para o lar.

Procurai aquelas imagens
Que constituem a terra bruta,
O leão e a virgem,
A criança e a prostituta.

Uma águia voando
Achai no meio do ar,
Reconhecei as cinco
Que fazem as musas cantar.

W.B Yeats

UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Janeiro 25, 2011

 

x

Arles, 09 de agosto de 1888

 

As Fiandeiras (1657), VELÁZQUEZ


Las Hilanderas ou La Fábula de Aracne, Madrid, Museu Nacional del Prado

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Van Gogh compara uma de suas obras com um outro quadro que muito admira e que Theo possui:

Este restaurante em que estou é bem curioso, é inteiramente cinza, o assoalho é de betume cinza com uma calçada, papel cinza nas paredes. Persianas verdes sempre fechadas, uma grande cortina verde frente à porta sempre aberta, impedindo a poeira de entrar.


Isso já e de um cinza Velázquez – como nas Fiandeiras -, não falta nem mesmo o raio de sol muito fino e muito violento através de uma persiana, como aquele que atravessa o quadro de V. Mesinhas com toalhas brancas naturalmente. E, depois, atrás deste aposento cinza-velázquez, percebe-se a antiga cozinha, limpa como uma cozinha holandesa, assoalho de lajotas muito vermelhas, legumes verdes armários de carvalho, fogão de cozinha com os cobres luzentes, de ladrinhos azuis e brancos, e o grande fogo laranja-claro .”

Diego Rodríguez da Silva y Velázquez foi um dos maiores coloristas do século XVII. Os retratos representam a grande maioria de seu trabalho atestando neles toda sua genialidade no que tange as possibilidades de exploração dos efeitos das cores. É ainda sobre esta questão que Van Gogh se utiliza para ilustrar o ambiente na qual se encontra, um restaurante parisiense que cheira à la Velázquez. Este pintor retratista emerge na corte espanhola de Filipe IV que, por sua vez, andava mal das pernas, envolvida em escândalos e economicamente abalada. A decadência da corte espanhola é transformada por Velázquez numa explosão de simplicidade e realismo.

Velázquez, espanhol nascido em Sevilha em 6 de junho de  1599,  filho de uma família da baixa nobreza. No inicio de sua juventude se tornou aprendiz de Francisco Pacheco, um famoso pintor, teorista e conhecedor de arte daquela cidade. Com esta convivência de aprendizagem foram ensinadas as técnicas do desenho e da pintura, o estilo dos retratos, naturezas mortas e ainda as técnicas inovadoras de seu tempo, representadas pelos trabalhos de Caravaggio, como o jogo luz-sombreado. Quando finaliza seus estudos com Pacheco em 1617, Velázquez abre seu próprio atelier e, no ano seguinte, casa-se com Juana, filha de seu mestre. A vida, no entanto, é ganha com trabalhos religiosos. Por meio de alguns contatos, o sogro de Velásquez consegue que ele pinte o retrato do jovem rei da Espanha, Filipe IV. O retrato, portanto, se tornou admirável aos olhos do rei que o convidou imediatamente a adentrar o círculo dos funcionários reais no ano de 1623 como um pintor da corte, e o único autorizado a lhe pintar.

O trabalho na corte espanhola proporcionou a Velázquez conhecer a magnífica coleção das obras de arte da realeza. O jovem pintor mergulha no estudo detalhado de cada obra da coleção (principalmente os artista Venezianos como Ticiano) tornando seu trabalho cada vez mais refinado. Ao observar cuidadosamente as obras do início de sua carreira com aquelas que realizadas a partir de 1630 notamos a intensidade harmônica de sua paleta de cores. Ocorre que o famoso pintor flamengo Peter Paul Rubens, em visita a corte madrilena em 1628 conhece Velázquez e se impressiona com a atmosfera de sua pintura. Rubens orienta ao pintor que busque empreender uma viagem à Itália, aonde possa ver de perto, conhecer e estudar os grandes pintores. Assim, Velázquez obtém a licença para uma primeira e breve viagem em 1630. Esta viagem foi essencial para que ele criasse seu estilo original de pintura, baseado na notável aplicação de pigmento para criar efeitos de luz e cor que aproximam este fenômeno natural a um grau extraordiário.

De volta a Espanha, Velázquez é promovido para Assistente de Guarda-roupa, um cargo de alta confiança e responsabilidade com a imagem da realeza. Mas obviamente o pintor continua a ser o pintor da corte e pinta cada vez mais retratos do rei, rainha, seus filhos, súditos além das construções reais como o Palacio del Buen Retiro e a Torre de la Parada por exemplo.

Em 1643 ele é promovido novamente como Superintendente dos trabalhos no palácio e Cavalheiro dos quartos. Em 1647 ele é o escolhido para modernizar o velho Palácio de Alcázar. Com  o rei tendo sua confiança cada vez maior no pintor, houveram várias promoções para cargos da alta administração real, sobrando assim pouco tempo para pintar. Por isso seu genro Juan Bautista Martinez de Mazo o auxiliou a fazer várias cópias oficiais de suas pinturas.

Em uma segunda viagem, o pintor tem mais tempo para a apreciação dos grandes mestres e é também quando realiza o retrato do Papa Inocêncio X além do famoso Rokeby Venus.

Em 1658, o pintor foi nomeado Cavaleiro de Santiago, uma grande honraria que mereceu pelo seu apoio e devoção ao rei. Dois anos depois, após o retorno de uma longa viagem  para a fronteira com a França a pedido do rei e da corte, Velázquez adoeceu e morreu em 6 de agosto 1660 na cidade de Madrid, seguido de sua esposa que se foi apenas uma semana depois.

Velázquez trabalhou em uma época  conhecida como “Século de Ouro” da cultura espanhola, onde grandes obras como Don Quijote e as peças de Lope de Vega foram escritas. A obra de Velázquez é repleta de cinzas, tons castanhos e esverdeados. O interessante de suas pinturas são o realismo sem o exagero do detalhismo. É aí que mora a grande sacada das cores, as finas e as espessas camadas de tinta são usadas de forma a sobressair o que há de mais profundo no tema-assunto.


Sobre a Obra


Representação complexa e altamente intelectual do mito clásico de Aracne. Segundo a fábula narrada pelo autor romano Ovidio (Metamorfosis, Livro VI, I), Aracne era uma joven lidia (região da Ásia Menor) mestra na arte de tecer, que desafiou Atena, deusa da Sabedoria, a supera-la em habilidade. Esta, consciente durante l competição da supremacia da mortal e vendo sua chacota ao representar em seu tapete a infidelidade de seu pai Zeus, convertendo-se em touro e raptando a ninfa Europa, converteu a Aracne em aranha.

O mito aparece representado em dois planos: em baixo a aparênciai de um dia cotidiano na Fábrica de tapetes de Santa Isabel. Ao fundo da cena o rapto de Europa aparece fiado no tapete pendurado na parede e, ante Atena, vestida com armadura, castiga a Aracne. As mulheres que observam o sucesso, e que poderiamos confundir com as clientes da fábrica, seriam na realidade as jovens lidias testemunhas no momento. No primeiro término as fiaderas representariam o desenvolvimento do concurso. Atena fiando a roda e Aracne desfiando uma meada.

Esta obra tem sido interpretada pelos estudiosos como uma alegoria a nobreza da arte da pintura e uma afirmação da supremacia do própio Velázquez. A complexidade iconográfica elevaria la criação pictórica a  altura de oturas artes melhor consideradas no século XVII, como a poesia ou a música, e as referências aos grandes pintores, como Tiziano e Rubens elevariam Velázquez à  altura dos grandes gênios da Historia da Arte.

Este quadro foi pintado para don Pedro de Arce, montero Real. Suas dimensiones foram ampliadas no alto e na largura depois do dano sofrido na obra no incêndio de Alcázar de Madrid em 1734.

Esteve no Palácio del Buen Retiro entre 1734 e 1772, entre 1772 e 1794 no Palácio Real de Madrid. Ingressou nas coleções do Museo del Prado em 1819.


Auto Retrato retirado da obra As Meninas (Las Meninas de 1656) que pode ser vista abaixo.


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Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.

Cri-ações: Georges Braque

Janeiro 24, 2011

A pintura mesmo estando retratada

nunca se fecha ou completa

Ela se encontra a cada novo olhar

Do movimento movente em fauves

que pelas cri-ações intempestivas

emtempestades deste  mar

 

A perspectiva geométrica do cubo

que desorienta as linhas duras

que pesam nas vidas do mundo

fazem com que a tensão aumente

e o novo possa brotar

assim como uma pedra atinge o fundo.

Photo Graphein: Walker Evans

Janeiro 24, 2011

Metrô de Nova Yorke (1938)