Nesta última quinta-feira começou na cidade de Manaus a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul que pela quarta vez está na cidade. A mostra que fica até a próxima terça (11) no Teatro da Instalação, no centro da cidade, traz para as 27 capitais nacionais o melhor da produção nacional e latina sobre os direitos humanos com 37 filmes no total. O homenageado desta edição é o documentarista brasileiro Eduardo Coutinho que recebeu espaço de três de suas obras na ocasião: Santo Forte, o raríssimo O fio da memória e Cabra Marcado para Morrer (com cópia em 35 mm restaurada pela Cinemateca Brasileira).
Na abertura de festival além de diversos estudantes e eternos estudantes estiveram presente a coordenadora nacional da produção da mostra Etienne Yamamoto, a represenante da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Iolete Silva que também é presidenta do Conselho Regional de Psicologia, representantes do movimento LGBT entre outros.
Dentre os filmes da mostra estão documentários importantes como O Dia que Durou 21 Anos de Camilo Tavares, Marighella de Isa Grinspum Ferraz , O Veneno Está na Mesa de Silvio Tendlero equatoriano Com o meu Coração em Yambo de María Fernanda Restrepo e À Margem da Imagem de Evaldo Mocarzel.
A coordenadora do Festival Etienne Yamamoto, que também trabalha na Cinemateca Brasileira em São Paulo, abriu o festival comentando sobre a importância da programação que é a mesma para todos estados do país e pois em todos os lugares é importante discutir os temas difíceis do direitos humanos através do cinema. Para o próximo ano é esperado que a mostra se expanda para cidades dos interiores, para haver maior incursão do cinema no Brasil.
A coordenadora da mostra ainda comentou que todos os filmes da mostra tem legenda para os deficientes auditivos (que inclue também os sons ou barulhos que acontecem no filme) e também haverão sessões com audiodescrição, onde todas as cenas projetadas serão descritas.
A representante da Secretaria de Direitos Humanos Iolete Silva falou sobre o projeto especial da Secretaria voltado para Educação e cultura em direitos humanos.
Iolete ainda falou sobre a mostra, que também é engendrada pela Secretaria, e uma produção de uma cultura pró-direitos humanos com materiais que podem ser utilizados em vários espaços que trabalham esta temática, sendo um recurso a mais com estratégias mais inclusivas através da arte cinematográfica.
A platéia que compareceu em grande número lotou o pequeno teatro para conferir esta programação tão especial que contou neste primeiro dia com quatro curtas: O Cadeado de Leon Sampaio; A Galinha que Burlou o Sistema de Quico Meirelles; Menino do Cinco de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira; e A Fábrica de Aly Muritiba
Diversos estudantes (escolares ou não) aproveitaram a inexistênciade uma programação cultural de qualidade na cidade (ainda mais nas zonas leste e norte, onde não dá marketing pra a classe mediana ver) e que o diguem de cinema, já que o que se chama de festival amazonense é mais um desfile dos canastrões da fina flor televisiva e da classe média provinciana da não-cidade .
Aproveitando esta oportunidade rara em Manaus de usar a inteligência a platéia esteve concentradíssima e todos se se deleitaram, e quando as luzes do teatro se acenderam podia-se ver a alegria da vontade de saber que se multiplicará nas praticas de cada espectador. Por fim foram distribuidos os kits da mostra que é patrocinada pela Petrobrás e produzida pela Cinemateca Brasileira e Ministério da Cultura com apoio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), SESC entre outros.
E neste amor pelas novas imagens, a festa continua em Manaus até terça-feira, tendo amanhã (8) às 18 horas a projeção o documentário sobre o guerrilheiro que combateu a ditadura Carlos Marighella da realizadora Isa Grinspum Ferraz.
Em conversa com a equipe afinada presente no local a atenciosa coordenadora da Mostra, comentou sobre o extenso processo de organização da mostra que começa em fevereiro de cada ano a partir de várias etapas como a produção do novo projeto cultural da nova mostra, contato com o patrocinador, debate com a Secretaria dos Direitos Humanos sobre as demandas e orçamentos reais, enquadramento na lei de Incentivos, pautas das salas a serem negociadas com cada estado, convocatória pública via internet, televisão, escolha de curador que seleciona alguns filmes, produção dos filmes sem legendas para ser aplicado as captions e logo a produção das cópias, contratos e do material de divulgação.
Segundo Etienne, neste ano o festival trouxe com destaque os temas dos direitos humanos: pela população em situação de rua (com filme específico A Margem da Imagem), combate a tortura (Batismo de Sangue) e o sempre presente na mostra o direito a memória e a verdade (o Dia que durou 21 anos). O curador busca também abordar temas importantes como igualdade racial, povos originários, população afrodescendente, direito da mulher, da criança e do adolescente, do idoso, a preservação do meio ambiente, a alimentação adequadra.
Foi comentado também sobre o projeto Cine Educação e Direitos Humanos feito pela Cinemateca Brasileira junto com a Via Gutemberg que ocorre atualmente em Rio Branco, Recife, Brasília, São Paulo e Porto Alegre, onde se faz a formação de professores para trabalhar alguns filmes sobre os temas nas escolas públicas, sempre com o debate voltado as experiências da vida de cada estudante.
Esta experiência de trabalhar questões que agreguem um significado, que auxilie na transformação do espectador e muitas vezes auxiliar em debates que ultrapassem as relações cotidianas das comunidades.
Por fim Etienne falou sobre o desafio de levar o cinema e as dicussões sobre os direitos humanos para todo o país, principalmente para o Norte e Nordeste que tem uma riqueza artística e cultural mas que em geral não tem acesso a outros festivais. Assim a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul engloba de norte a sul as discussões e envolve o povo brasileiro para que nossos direitos sejam sempre defendidos e nunca sejam violados.