A não-cidade de Manaus em todo seu tempo de constituição nunca permitiu que a arte pudesse brotar. Não apenas pela escolha e governança de representantes anti-democráticos como ocorreu. Mas principalmente pela inexistências de artistas que fizessem uma leitura desta não-cidade e produzisse sua obra em uma síntese capaz de auxiliar em novas formas de pensar, ver e sentir a realidade da urbes.
Os arteiros amazonenses apenas produzem se subsidiados pelo governo e possuem todo o louro de dedicar e expor numa homenage, e sem nenhuma vergonha, em espaços públicos que são tomados pelos governos e não tem reverberação social nenhuma, ficando sempre em um abestalhamento da classe média. Não vemos nos artistas diplomados com curso superior uma motilidade no sentido de utilizar sua potência criadora na produção de uma obra que esteja ligada a sua realidade. Em outras palavras não era uma vez um homem e seu tempo belchioramente brasileiro.
DA SUBSERVIÊNCIA DA FALSA ARTE AOS GOVERNOS
Na não-cidade de Manaus a produção delirante das pessoas que se chamam de artistas sem ser tem uma ligação direta com a produção da realidade opressora dos governantes. Isto pois eles não se diferenciam da massa em suas atividades e não engajamento na modificação do já constituido. Estes falsos artista ajudaram a eleger o sucessor do atual prefeito Amazonino, o mensaleiro desonesto Arthur Virgílio. Assim para eles a arte é apenas um ofício como outro qualquer que assalariadamente busca produzir um bem de consumo tendo como fim o mercado.
Além destas limitações dos não-artistas, Manaus tem uma produção de cena cultural praticamente nula. A praça de São Sebastião por exemplo foi um espaço sequestrado pela Secretaria de Cultura que criou um controle policial coercitivo do espaço da praça e que impede a potência de produção social de realizar encontros e até eventos como já relatamos neste bloguinho na proibição da realização do Beijaço Gay no local. Além disso este sequestro da Praça São Sebastião e do Teatro Amazonas inclui em uma programação glamourizada e centralizadora naquele espaço em eventos como o Festival de Ópera, que gasta em favorecimento de uma cultura européia e reativa, e o total simulacro Festival de cinema de aventura, que além de não possuir nenhuma importância no cenário nacional e internacional é um espaço elitizado do glamour baré abestalhado.
Estes dois eventos somados com a cópia paulista do Virada Cultural englobam mais de 80% dos gastos da secretaria estadual isto sem contar na inoperante secretaria de cultura municipal desta não-cidade, que não tem uma produção também na maior parte da cidade. A virada cultural também não propicia nenhuma mudança perceptiva quanto a experimentação de novas formas artisticas musicais: é o pornoforro e brega pra chamada periferia (já que em Manaus a verdadeira periferia geográfica é o rio) e mpb, jazz, reggae e música clássica para os bairros nada nobres e a falsa elite. E alguns ritmos musicais são excluidos como o caso do rap que gerou a onda de protestos nos muros da cidade com E o rap…
UMA NÃO-CIDADE ONDE A ARTE NÃO TEM ESPAÇO
Somado a esta produção reativa está a inexistência de espaços culturais e sociais na periferia. Praticamente não há na maior parte da cidade, e principalmente nas áres mais empobrecidas como a Zona Leste e Zona Norte, espaços culturais e artisticos, centros esportivos, projetos conveniados com centros comunitários, a construção de uma casa de espetáculo (teatro) popular… E a assim a não-cidade continua em sua insignificância quanto a si mesmo.
A Afin, constituida a 11 anos, é um dos únicos trabalhos que percorre estas áreas ignoradas pelos desgovernantes de Manaus, levando o cinema aos bairros, discussões e teatro a escolas (e mesmo assim sendo censurado pela Secretaria de Educação-Seduc), centro comunitários, igrejas, centro espiritas, terreiros afro, eventos sociais, etc. E esta unicidade é muito ruim, pois se Manaus fosse uma cidade sua produção artística e social estava fervilhando em todas esquinas, havendo milhares de espaços artísticos.
Entretanto vemos que a arte não tem seu espaço na não-cidade, e todos os espaços existentes na cidade são envoltos em uma aura da burguesia ignara. Os artistas de fora (já que não há de dentro) quando vem para a não-cidade se deparam com esta realidade de não haver espaços para arte. Tirando os Teatros centralizados (como o Amazonas, da Instalação, Américo Medeiros), as casa de evento com sua ilusão luxuosa, e os espaços de shoppings centers (onde o amor do capital se une com a não-arte capital) não há nenhum espaço. E este espaços citados anteriormente já estão ensignados em uma cultura do vazio do glamour.
Veja o caso do talentoso músico carioca Luiz Melodia que vem para Manaus graças a um programa nacional financiado pela Petrobras, mas não há nenhum espaço para se apresentar. A solução foi um teatro construido literalmente (já que é um espaço privado cujo o proprietário é uma construtora) dentro do shopping mais ilusório e burguês da cidade. Como uma pessoa que gosta de boa música, que usa seu corpo e mente na construção da cidadania e na modificação das imposições neoliberais dos governos, pode ir a um shopping para assistir uma cantoria, mesmo sendo de um verdadeiro artista? Somente se ela tiver um transtorno esquizoide onde não se diferencia do mundo… Mas aí ela não ia ser este tipo de pessoa.
Infelizmente o manauara classe-média é abestalhado e escotomizado, vivendo em seu delírio de consumidor e nunca de produtor e cidadão de sua responsabilidade com o mundo e com a história.
Não sabemos até quando a não-cidade de Manaus vai continuar não dando espaço para a arte e as produções. Mas sabemos que afinadamente a presença de Luiz Melodia, quanto tantos outros artistas vai passar batido por aqui, até que o povo produza artistas que façam parte de sua história e auxiliem na transformação de seu tempo.