Archive for Outubro, 2022

DRUMMOND, 120 ANOS; “TINHA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO”. AGORA NÃO TEM MAIS, LULA É PRESIDENTE!

Outubro 31, 2022

Nesta eleição, a democracia brasileira tinha enfrentado uma grande pedra no caminho, caso Jair Bolsonaro fosse reeleito, com todas as ameaças de regressão nas políticas sociais, ao Estado de Direito e o desprezo para com a educação e a cultura. Com a vitória de Lula, que reiterou seu compromisso pela Democracia perante o arco da sociedade que o apoiou no 2º turno, agora o Brasil não tem mais uma pedra no caminho da redemocratização. O mineiro de Itabira, hoje (segunda, 31) celebrado pelo 120º aniversário de seu nascimento, ganhou a admiração geral quando publicou, em 1928, na Revista de Antropologia, o poema ‘No Meio do Caminho’, sobre os obstáculos que as pessoas encontram na vida

CPDOC Jornal do Brasil
Por três décadas – de 1969 a 1984 – as páginas do JORNAL DO BRASIL tiveram a honra de abrigar as crônicas de Carlos Drummond de AndradeCredit…CPDOC Jornal do Brasil

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES

31 de outubro de 2022

A vitória do ex-presidente Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro, em eleição acirrada e decidida por 2,139 milhões de votos, não representa só a garantia da democracia. Ela abre possibilidades para o resgate de sentimentos de amor e fraternidade para com os mais desassistidos da sociedade brasileira. No campo cultural, o sol volta a raiar para nos devolver o “tempo da delicadeza”.

Nada mais adequado para relembrar o tempo da delicadeza, da retomada da política no seu sentido mais amplo, de compreensão e empatia para com o outro, do que revisitar a obra do nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade. O mineiro de Itabira, hoje (segunda, 31) celebrado pelo 120º aniversário de seu nascimento, ganhou a admiração geral quando publicou, em 1928, na Revista de Antropologia, o poema “No Meio do Caminho”, sobre os obstáculos que as pessoas encontram na vida.

Nesta eleição, a democracia brasileira tinha enfrentado uma grande pedra no caminho, caso Jair Bolsonaro fosse reeleito, com todas as ameaças de regressão nas políticas sociais, ao Estado de Direito e o desprezo para com a educação e a cultura. Com a vitória de Lula, que reiterou seu compromisso pela Democracia perante o arco da sociedade que o apoiou no 2º turno, agora o Brasil não tem mais uma pedra no caminho da redemocratização.

Mais matérias do jornal:

31/10/22

Drummond, 120 anos; ‘Tinha uma pedra no meio do caminho’. Agora não tem mais, Lula é presidente!

12/07/22

Entrevista inédita com Carlos Drummond de Andrade vai ao ar na rádio MEC

25/06/22

Vila Isabel e Noel Rosa

Drummond e o JB

Por três décadas – de 1969 a 1984 -, as páginas do JORNAL DO BRASIL tiveram a honra de abrigar as crônicas de Carlos Drummond de Andrade. O Caderno B era o seu refúgio, onde comentava fatos do cotidiano, geralmente notícias do próprio jornal, que resumia na sua visão diferenciada. Em vez de notas ou pílulas, Drummond batizou os pitacos de “Pipocas”.

Logo, o JB tratou de valorizar as pipocas mais disputadas pelos assinantes e pelos leitores que iam às bancas da esquina, com ilustrações do também mineiro, de Caratinga, Ziraldo Alves Pinto, o Ziraldo, que completou 90 anos semana passada. 

O enigma da pedra

Em 31 de outubro de 1987, em comemoração ao 85º aniversário de nascimento do poeta, que falecera poucos meses antes, em 17 de agosto de 1987, o Caderno B fez uma homenagem especial a Drummond publicando, como um brinde ao leitor, extensa matéria com a transcrição do poema, ilustrada por carinhosa charge de Ziraldo, que tornou-se grande amigo do conterrâneo. Drummond sacudiu as letras brasileiras quando publicou o poema “No Meio do Caminho”, que assim dizia em seus 10 versos

Macaque in the trees
Charge do Ziraldo sobre o poema ‘No meio do caminho’ (Foto: CPDOC Jornal do Brasil)


“No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra




Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra”

Macaque in the trees
No mês de novembro, a parceria entre Ziraldo e Carlos Drummond de Andrade vai ganhar edição comemorativa com o título de ‘O Pipoqueiro da Esquina’ (Foto: CPDOC Jornal do Brasil)




Livro vai reviver ‘O Pipoqueiro da Esquina’ 

Macaque in the trees
Drummond e Ziraldo, parceria que deu muito certo (Foto: CPDOC Jornal do Brasil)


No mês de novembro, a parceria entre Ziraldo e Carlos Drummond de Andrade vai ganhar edição comemorativa com o título de “O Pipoqueiro da Esquina”, livro lançado pelo Pasquim nos anos 1980, onde ficava patente a sintonia entre as crônicas de Drummond e as charges de Ziraldo.

Editada pela Filmes de Minas, a convite da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj), a obra juntará cada pipoca de Drummond à charge correspondente criada por Ziraldo, revelando também o afeto e admiração entre esses dois mineiros, descritos em cartas, bilhetes e textos da época.

As pipocas de Drummond foram publicadas na coluna do escritor no JB entre 1979 e 1981. Como um pipoqueiro, que vende suas pipocas observando atentamente a vida que pulsa ao seu redor, Drummond fez um registro acurado dos fatos políticos e sociais durante esses anos, criando frases relâmpagos cheias de humor, que retratavam criticamente o país.

E as pipocas eram, para Ziraldo, “enxutas, palavra pura, contêm a crítica, a observação aguda, a análise, a contundência, a revelação, a criatividade e o humor que uma charge exata deveria ter”. E o chargista diz que simplesmente tentou fazer uma transposição de linguagem: “Dizer com a caricatura o que Drummond disse com as palavras”. E o poeta, entusiasta do trabalho de seu conterrâneo, concordou com o convite de juntar texto e traço.

Ziraldo escolheu 100 pipocas para ilustrar, mostrando em suas charges todas as influências que definiram seu traço. Mas o livro original trazia apenas as charges inspiradas nas pipocas. “O que essa edição comemorativa apresenta são justamente as frases inspiradoras e as charges correspondentes, pela primeira vez juntas”, explica Tarcisio Vidigal, diretor da Filmes de Minas Edições. Segundo ele, várias preciosidades serão oferecidas como um extra aos leitores. Originais, correspondência trocada entre o escritor e o chargista, além de textos publicados à época, serão reunidos e levados a público pela primeira vez. Um trabalho de garimpagem que Vidigal, também mineiro e amigo de Ziraldo, costuma fazer no acervo do Instituto Ziraldo para idealizar projetos criativos.

Com projeto gráfico de Adriana Lins, diretora da Manifesto Design e do Instituto Ziraldo, e capa de Gê Alves Pinto, irmão caçula de Ziraldo que também ilustrou a capa do primeiro livro, a obra deixará para sempre registrada a parceria criativa desses dois ícones da cultura brasileira. Serão 240 páginas, em formato fechado 28×28, capa dura com laminação e guardas color plus.

Macaque in the trees
Drummond morreu em 17 de agosto de 1987 (Foto: CPDOC Jornal do Brasil)

Por três décadas – de 1969 a 1984 – as páginas do JORNAL DO BRASIL tiveram a honra de abrigar as crônicas de Carlos Drummond de Andrade

AOS 87 ANOS, JERRY LEE LEWIS, PIONEIRO DO ROCK ‘N’ ROLL, CHEGA AO FIM

Outubro 28, 2022

Assim como a guitarra de Chuck Berry, o piano de Lewis foi essencial na formação do rock ‘n’ roll em meados da década de 1950

28 de outubro de 2022.Jerry Lee Lewis - 09.03.2021Jerry Lee Lewis – 09.03.2021

(Reuters) – O pioneiro do rock americano Jerry Lee Lewis, que estava dividido entre sua educação bíblica e seu desejo de fazer rock ‘n’ roll infernal com sucessos como “Great Balls of Fire” e “Whole Lotta Shakin ‘ Goin’ On “, morreu aos 87 anos.

Lewis faleceu de causas naturais em sua casa em Desoto County, Mississippi, com sua esposa, Judith, ao seu lado, disse seu agente. O músico esteve doente nos últimos anos e sofreu um AVC em 2019.

Assim como a guitarra de Chuck Berry, o piano de Lewis foi essencial na formação do rock ‘n’ roll em meados da década de 1950. Ele fazia parte do deslumbrante grupo de talentos da Sun Records em Memphis, Tennessee, que incluía Elvis Presley, Johnny Cash, Carl Perkins e Roy Orbison. Lewis sobreviveu a todos eles.

Lewis, também conhecido pelo apelido de “The Killer”, foi um dos primeiros artistas introduzidos no Rock ‘n’ Roll Hall of Fame em 1986 e foi tão influente que quando John Lennon o conheceu nos bastidores de um show em Los Angeles, o Beatle caiu de joelhos e beijou os pés de Lewis.

Lewis encheu seus álbuns não apenas com rock inovador, mas com gospel, country e rhythm and blues, como “Me and Bobby McGee” e “To Make Love Sweeter for You”, enquanto ele enfrentava uma vida muitas vezes cheia de álcool, drogas e tragédia. . Sua música às vezes foi ofuscada por escândalos – incluindo seu casamento com sua prima de 13 anos, Myra, em 1957.

Em seu auge, ele se apresentou com ousadia, originalidade e um comportamento de palco lascivo de homem selvagem que emocionou seus jovens fãs tanto quanto agitou seus pais. Normalmente, Lewis chutava o banco do piano e batia no teclado com o pé enquanto seus longos cabelos loiros e ondulados caíam em seu rosto.

Segundo a lenda, Lewis uma vez ficou tão chateado por Chuck Berry ter sido escolhido para encerrar um show por causa dele que terminou seu set com um movimento difícil de superar – incendiar o piano e sair andando.

“Eu sou um filho da puta que toca piano, brincalhão e brincalhão”, Lewis disse uma vez à revista Time em seu sotaque da Louisiana. “Um filho da puta malvado. Mas um grande filho da puta.”

PRIMOS FAMOSOS

Lewis nasceu em 29 de setembro de 1935, em Ferriday, Louisiana, e cresceu pobre com dois primos também destinados à fama – o evangelista de televisão Jimmy Swaggart e o cantor country Mickey Gilley.

Ele se interessou pelo piano aos 4 anos e aos 10 já se esgueirava em casas de estrada para ouvir artistas de blues. Ele absorveu uma variedade de influências musicais, especialmente os discos de Jimmie Rodgers que pertenciam a seu pai, um fazendeiro que foi preso por contrabando.

A família de Lewis frequentou a igreja Assembléia de Deus e sua mãe garantiu que ele estivesse completamente informado sobre os males do álcool, honky-tonks e promiscuidade. Mas Lewis tinha a intenção de experimentá-los em primeira mão e começou a tocar piano em bares ainda adolescente. Sua mãe, chateada com a ideia de seu filho tocar a música do diabo, o enviou para uma faculdade bíblica no Texas.

Acabou sendo uma breve estadia, com Lewis supostamente sendo demitido da escola por tocar uma versão boogie-woogie de “My God Is Real” durante uma assembléia. O incidente mostrou a dicotomia com a qual Lewis teve que conviver.

“O homem é torturado”, disse Myra Lewis à revista People. “Jerry Lee acha que Jerry Lee é muito mau para ser salvo.”

Como o próprio Lewis disse uma vez: “Estou arrastando o público para o inferno comigo”.

FAZENDO EM MEMPHIS

Lewis teve um filho e estava em seu segundo casamento antes de completar 20 anos, embora não tivesse se divorciado de sua primeira esposa. Ele estava determinado a ser músico e foi para Memphis.

Em 1957, ele gravou dois sucessos no topo das paradas da Sun – “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On” e “Great Balls of Fire”, que ele relutou em gravar porque considerava uma blasfêmia – que ajudaram a definir o início do rock ‘n’ ‘ lista. Lewis rapidamente seguiu com mais sucessos – “You Win Again”, “Breathless” e “High School Confidential”.

Sua carreira parou durante uma turnê de 1958 na Grã-Bretanha. Jornalistas descobriram que Lewis estava casado com Myra, filha de seu baixista, que não só tinha 13 anos, mas também era sua prima. A cobertura jornalística foi tão intensamente negativa que a turnê foi cancelada.

De volta aos Estados Unidos, a carreira de Lewis não foi revivida até que ele mudou de gênero e gravou sucessos country como “Another Place, Another Time”, “What’s Made Milwaukee Famous (Has Made a Loser Out of Me)” e “She Even Woke Eu para dizer adeus.”

A sequência de sucessos de Lewis foi igualada apenas pelas tragédias em sua vida. Seu filho Steve Allen Lewis se afogou em 1962 e outro filho, Jerry Lee Jr., morreu em um acidente de carro em 1973 aos 19 anos.

Após o divórcio de Myra no início dos anos 1970, ele se casou com Jaren Pate em 1971, mas ela se afogou em 1982. Eles estavam separados há oito anos, mas não se divorciaram.

Após apenas alguns meses de casamento, sua próxima esposa, Shawn Michelle Stevens, foi encontrada morta por overdose de drogas em sua casa em 1983. Oito meses depois, ele iniciou outro casamento tempestuoso com a sexta esposa Kerrie McCarver, que durou 20 anos antes de se divorciarem e ele se casou com sua sétima esposa, Judith Brown, em 2012.

GOLPE

Em 1976, Lewis acidentalmente atirou em seu baixista e no mesmo ano foi preso bêbado do lado de fora da mansão de Presley em Graceland, em Memphis, com uma pistola carregada, exigindo ver Presley.

Lewis, que viveu grande parte de sua vida posterior em um rancho em Nesbit, Mississippi, também enfrentou batalhas caras com autoridades fiscais dos EUA, uma úlcera perfurada quase fatal e um vício em analgésicos que o levou à Clínica Betty Ford.

Em seus últimos anos, ele se estabeleceu, mas o biógrafo Rick Bragg lembrou ter entrevistado Lewis para seu livro de 2014 “Jerry Lee Lewis: Suas próprias palavras”. Lewis mostrou a Bragg a pistola que ele mantinha debaixo do travesseiro em um quarto cheio de buracos de bala e uma faca Bowie presa na porta.

“Eu não acho que Jerry Lee Lewis teve que exagerar sua vida nem um pouco para torná-la interessante”, disse Bragg ao Atlanta Constitution Journal. “Ele realmente fez Elvis chorar. Ele realmente entregou mais Cadillacs do que a maioria das pessoas comprou no estado do Mississippi.”

As últimas gravações de Lewis incluíram convidados como Jimmy Page, Bruce Springsteen, Mick Jagger, Keith Richards, Neil Young, John Fogerty, Ringo Starr e outros roqueiros que ele influenciou.

Além da esposa Judith, Lewis deixa quatro filhos, uma irmã e muitos netos.

PARA REVIVER A CULTURA E VENCER O OBSCURATISMO

Outubro 27, 2022

Artistas pela Democracia convocam um ato súbito nesta sexta, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, e mandam recado na reta final das eleições: resgate do setor, capturado pelo que há de pior no governo Bolsonaro, dependerá do “voto certo”

OUTRASPALAVRAS

MOVIMENTOS E REBELDIAS

Por Günther Alexsander

Publicado 27/10/2022 –

Quatro anos de colonização dos múltiplos setores culturais ligados ao governo para sua autopromoção – da extinção do ministério da Cultura à nomeação de secretários ultrarreacionários à frente das políticas para a área – será uma das desastrosas heranças da gestão Bolsonaro. Por isso, na reta final para o segundo turno das eleições, centenas de artistas realizarão uma intervenção pela democracia nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, nesta sexta-feira (28), às 11h. O ato, batizado de “Grande Ato da Cultura – Arte pela Democracia”, tem como objetivo chamar a atenção da população para a importância de se fazer o “voto certo” nas eleições deste ano.

Os organizadores do evento são artistas, produtores culturais e ativistas que se uniram para defender a democracia no país. Eles acreditam que a arte pode e deve ser utilizada como um instrumento de transformação social e convocam a população para que vote em Lula e Fernando Haddad no próximo dia 30/10.

O movimento de trabalhadores da cultura, iniciado em 2016 e organizado pela classe artística, desde então alerta a população sobre os sucessivos desmanches no setor, em um governo que prega o obscurantismo e tenta apagar a memória de movimentos e lutas que marcaram a história sociocultural e política no país e intimidam violentamente seus opositores – inclusive a partir da apropriação de estética, estratégia e símbolos escancaradamente inspirados no fascismo.

Em um momento de grande polarização política no país, os artistas reafirmam a importância da união popular para garantir um futuro melhor para todos os brasileiros. A concentração será às entre 11h e 13h, seguida cortejo pelas ruas do centro da cidade de São Paulo, terminando nas escadarias da igreja da Sé.

“Separa seu instrumento, seu figurino, seu estandarte, seus bonecões, suas cores, e se não tiver nada disso, traga sua alegria pra colar nesse bonde.”

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GÜNTHER ALEXSANDER

Jornalista brasileiro da Agência Pressenza.

AQUILES RIQUE REIS: UM SER MUSICAL

Outubro 26, 2022

Por AQUILES RIQUE REIS, aquilesmpb4@gmail.com

Outubro de 2022 –

Antes de iniciar o meu comentário sobre o trabalho ao qual me dedicarei hoje, digo-lhes algumas palavras sobre quem o criou. Refiro-me a Vicente Barreto, compositor, violonista e cantor, nascido em Salgadália, distrito de Conceição do Coité, no interior baiano, mas criado na cidade de Serrinha-BA.

Assim, foi com alegria que recebi Paleorílico, seu novo álbum. Felicidade que só fez aumentar ao constatar o belo trabalho gráfico dispensado pelo Selo SESC-SP à confecção da capa e do libreto que acompanham o trabalho. Por isso, logo de cara, dedico meu olhar aos afazeres do músico, compositor e multiartista Manu Maltez, responsável pela criação da arte que embala de forma instigante a música de Barreto.

Macaque in the trees
Capa do CD (Foto: reprodução)

Além de diretor artístico geral, coube a ele e a Vicente conceberem o rumo conceitual do CD, cujo título Manu aclara: “(…) Paleorírico é o que fizemos do nosso sonho compartilhado/ Outro nome pra isso é música/ Que não é outra coisa senão tempo/ Liberto, desembestado/ Sem futuro presente passado”.

Sobre ele, Barreto revela no encarte: “Nesse caminho de retorno às paisagens da infância, me deparei com a ideia de um instrumento que existe no Nordeste, chamado sanfona de oito baixos, ou sanfona Pé de Bode (…) Este foi o mote e o esqueleto desse novo álbum. E eu trago a dinâmica dessa sanfona para o meu violão”.

Remoçado, antenado, VB trouxe para junto de si uma nova galera de músicos. Entre eles estão seu filho Rafa Barreto (guitarra, rabeca, programações, sinth e synth bass, coprodutor do CD e parceiro do pai em duas músicas, “Palavra Vital” e “Rasante Seco”, com levadas astutas), Maria Beraldo (clarone e clarinete) e Caê Rolfsen (produção, baixo, piano, programações, organelle, violão tenor, samples, synth, synth bass, cavaquinho, voz, arranjo de cordas e percussão). Ainda temos Alessandra Leão (voz), Rodrigo Caçapa (arranjos de cordas), Ricardo Herz (violino, violino tenor e rabeca), Rafael Cesário (violoncelo) e, na percussão, Bruno Prado, Victória dos Santos, Guegué Medeiros e Mauricio Badé.

Destaque para a participação do pernambucano Miró da Muribeca, poeta que declama “Quantos sacos de cimento há em ti, São Paulo”, e de Zeca Baleiro, juntos com VB em “Flor de Cimento” (Zeca e VB); além do já citado Manu Maltez (baixo acústico e voz em “Sanfoninha Pé de Bode”, dele e VB).

Em Paleorírico, a inspiração, a mão direita, o suingue e os graves de VB seguem firmes. A empatia com o passado vitaliza o seu presente. A tradição se mescla à contemporaneidade e saboreia a mais bela fusão: quando um artista maduro entrega sua música ao mundo – e o coro come!

Toda disponibilidade dispensada por Vicente Barreto a seu novo disco (onde não poderia vacilar) resultou num CD que o reafirma como um dos gigantes da MPB.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Ficha técnica: gravação: Rodrigo Funai Costa, Caê Rolfsen e Bruno Prado; gravações adicionais: home studios de Rafa Barreto, Ricardo Herz e Rafael Cesário; edições: Caê Rolfsen, Rafa Barreto e Bruno Prado.

Capa do CD

Aquiles Rique Reis

VIVA O ZIRALDO, QUE FAZ 90

Outubro 25, 2022

Divulgação
Ziraldo 90Credit…Divulgação

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES

Outubro de 2022 –

Conviver com o Ziraldo sempre foi um privilégio. Garoto, já era fã de suas tirinhas do Pererê, que o JORNAL DO BRASIL publicava nos anos 60. Em 1972, entrei no JB onde as charges do Ziraldo eram uma janela aberta para a contestação num país sob a censura da ditadura. Depois, ele se afastou do JB para mergulhar de cabeça na grande obra que foi O Pasquim. Mais adiante, ele veio com a satírica “Bundas” a debochar da “Caras”.

Na volta do JB às bancas, em 2018, projeto que coordenei, Ziraldo era um dos mais entusiasmados. Amigo de Omar Resende Peres (Catito), que ressuscitou o JB, conversávamos sempre, no final de 2017, no Bar Lagoa, sobre os planos para o novo velho JB. Ziraldo iria comandar o Caderno B (função que exerceu na gestão de Nelson Tanure, quando criou o Caderno Z) e fazer uma curadoria de novos talentos das charges e caricaturas. Eram papos de três entusiasmados, com a liderança invertida pela ordem alfabética. E Ziraldo já estava envolvido com a charge da capa sobre a volta do JB às bancas.

Nos despedimos num domingo e no sábado seguinte, no final de dezembro de 2017, Ziraldo chega meio trôpego no Lagoa, guiado pelas mãos da esposa Márcia, xará de minha mulher. Ficamos todos assustados. Catito perguntou: “O que houve, Ziraldo?”. E o mestre onipresente e incansável respondeu: “De repente, envelheci”. Ziraldo estava com uma hidrocefalia que lhe tolhia os movimentos. Os planos do Caderno B mudaram. Mas ele se recuperou e está festejando os 90 anos. Não é pouca coisa. Não há páginas para homenagear tanto talento.

Por isso, tomamos emprestado um texto delicado e amoroso escrito pela minha amiga Paula Guatimosim, mineira e sensível, como o mestre, e que foi publicado hoje, 24 de outubro, no site da Revista “Plurale, da também minha amiga Sônia Araripe, antiga colega de JB.

Ziraldo, Ziraldo …


Por Paula Guatimosim, Especial para Plurale

Conheci o Ziraldo pelas mãos do produtor Tarcisio Vidigal, também mineiro e meu primo. Colecionador de quadrinhos e outras centenas de revistas, amigo de longa data de Ziraldo, foi ele o produtor dos dois filmes O Menino Maluquinho, personagem de maior sucesso do escritor, que além de livro, virou filme, teatro, musical, ópera, série para a TV e agora ganhará a animação da Netflix. Foi em 2015 que Tarcisio me convidou para participar do projeto e da produção da exposição Pererê do Brasil, em homenagem a esse icônico personagem, que completava 55 anos.

Não poderia imaginar o quanto seria prazeroso esse trabalho, que teve início em Salvador, seguindo para Recife, Brasília e se encerrando, em janeiro de 2017, em Fortaleza. Todos os contratos com a Caixa Cultural previam a presença do autor na abertura de cada exposição. Então, para compensar o estresse típico da produção, que a gente só vai saber na hora da montagem, tive o privilégio de conviver por dois anos com o jornalista, cartunista, chargista, pintor, escritor, cartazista, caricaturista, poeta, cronista, desenhista (ufa!) Ziraldo, com sua dedicação, tiradas bem-humoradas e inspirações.

À época com mais de 80 anos, Ziraldo ainda fazia questão de promover sessões de autógrafos em todas as exposições, resistindo bravamente às intermináveis filas que duravam até três horas. E suas dedicatórias cuidadosas, com momentos de escuta, incluíam desenhos e frases que brincavam com nomes como Marisol, que ganhava ondas e sol. Muitas vezes ele também acompanhou grupos de estudantes às visitas guiadas da exposição. Seu interesse pelo que pensa a juventude e sua curiosidade pela língua portuguesa o fazia sempre interagir com crianças e jovens.

Sem papas na língua, Ziraldo fala tudo o que quer, na hora que lhe “dá na telha”, só para usar uma expressão típica dos mineiros. Sua disponibilidade para atender a imprensa também me surpreendeu. Veículo nenhum queria perder a chance de entrevistar pessoalmente o premiadíssimo autor de mais de 130 livros – com mais de 8 milhões de exemplares vendidos -; autor único dos 60 cartazes da Feira da Providência, possivelmente a mais duradoura parceria entre um artista e uma instituição; com o criador de Flicts, um dos livros que marcaram não só a minha infância como a de milhares de crianças; e pai do Menino Maluquinho. Em Brasília, deu entrevista passeando na Brasília Amarela do jornalista Daniel Zukko (#minhabrasilia), que tem mais de 70 mil seguidores e 2.546 publicações, ocasião em que confessou que, quando conheceu Monteiro Lobato, “se urinou todo”.

Conviver com o Zira é prazer, é aprendizado, é fácil. De quebra, fui conhecendo a família: Adriana Lins, sua sobrinha designer e responsável pelo projeto expográfico, virou parceira; Santinha, sua querida irmã, estava sempre presente quando Marcia, a esposa, não podia acompanhá-lo nas viagens. Eu não podia perder a chance, e numa manhã, no café, dei-lhe uma folha A4 e pedi: “Faz um desenho pra mim?”. Ele pegou a caneta e o lápis preto no bolso e desenhou um autorretrato. Ao longo da temporada da exposição, comemoramos aniversários e a vida, no prazer de ver a emoção de crianças, jovens e adultos encantados pelo Pererê e sua turma.

Entre 2018 e 2019 também tive o prazer de participar da produção do documentário de longa-metragem A Turma do Pererê.Doc, obra do Tarcisio Vidigal (Produtora Filmes de Minas), dirigida por Ricardo Favilla. Dessa vez, contar a história do Pererê incluía depoimentos de companheiros de luta em O Pasquim, como Jaguar, e colegas de profissão como Laerte e Maurício de Sousa, que diz que perdeu o nascimento da sua filha Mônica porque estava desenhando o Pererê, a pedido do Ziraldo. Nessa empreitada ele me proporcionou a chance de conhecer especialistas em quadrinhos e literatura como Ota, Álvaro de Moya (já falecido), Gonçalo Júnior, Franco Rosa e Ivan de Lima Gomes. Foi muito gostoso acompanhar Ziraldo em diversas locações para falar sobre seu personagem.

Mas quem é Pererê?

O personagem Pererê foi criado em 1960, em meio a movimentos importantes como a Bossa Nova, o Cinema Novo, o Teatro Oficina, o Centro Popular de Cultura; e até hoje continua atual. Em plena ditadura militar, Pererê adotava uma postura anti-imperialista e nacionalista tendo sido a primeira revista de quadrinhos brasileira a cores e de um único autor, criada para enfrentar as publicações estrangeiras como Luluzinha, Bolinha, Pato Donald.

Na Mata do Fundão, Ziraldo reuniu em torno do Pererê animais tipicamente brasileiros como onça, coelho, jabuti, macaco, tatu e coruja – inspirados em amigos da mocidade em Caratinga – além, claro, do indiozinho Tininim e sua namorada Tuiuiú. Pererê carrega a marca de ter sido o primeiro personagem brasileiro das histórias em quadrinhos a abraçar a bandeira da preservação da natureza, abordando também temas ligados à ética, inclusão social, reforma agrária, entre outros. Ziraldo também levava para as páginas da revista personalidades como o Cardeal D. Eugênio Sales e o cineasta Luiz Carlos Barreto. Em quatro anos foram publicadas 43 edições, com uma tiragem média de 120 mil exemplares. Mas com forte conteúdo político e crítico, não por acaso parou de circular em março de 1964, pouco antes do golpe militar.

A exposição para comemorar os 55 anos do Pererê tinha identidade visual com base na linguagem das histórias em quadrinhos, para explorar de forma lúdica a criação e desenvolvimento dos personagens, usando a alegria e o humor como fios condutores. Uma linha do tempo contava a trajetória do personagem em diversas mídias, como TV, teatro, desenhos animados, quadrinhos animados em formato digital, material gráfico de produtos licenciados, publicações de revistas e livros de várias editoras, campanhas publicitárias e cartilhas educativas. Todas as obras da mostra foram restauradas e ampliadas, inclusive as 60 capas. Entre as curiosidades, a capa da edição de maio de 1964, que nunca foi lançada.

Em Salvador, após um mês em cartaz, a exposição já havia acumulado o segundo maior público da Caixa naquele ano. O sucesso fez com que a mostra conquistasse itinerância, seguindo para Recife, Brasília e Fortaleza. Em Recife, atingiu seu maior público, mais de 40.0000 pessoas e 40 instituições de ensino (públicas e particulares), com atividades extras voltadas para crianças. Na Caixa Cultural Brasília, a exposição obteve o mais expressivo resultado de imprensa, com mais de 100 inserções nas diversas mídias, incluindo três capas no primeiro Caderno do Correio Braziliense. Em Fortaleza, ocupou as galerias 1 e 2, demandando um novo projeto expográfico, com mais vitrines e espaços e mais artes para fixação nas paredes.

No momento, está no prelo uma edição comemorativa do livro O Pipoqueiro da Esquina, uma parceria entre Carlos Drummond de Andrade e Ziraldo. Editado originalmente pelo Pasquim, e depois pelo Círculo do Livro, O Pipoqueiro da Esquina comemora os 90 anos do Ziraldo e os 120 de nascimento do Drummond. O livro apresentará 100 pipocas produzidas por Drummond e as respectivas charges, ‘transcritas’ por Ziraldo.

E, no dia 24 de outubro, estaremos todos, criança e adultos, a cantar, com emoção e agradecimento, os parabéns para esse admirável artista pelos seus 90 anos.

AOS 87 ANOS, LUIZ GALVÃO, UM DOS FUNDADORES DOS NOVOS BAIANOS

Outubro 24, 2022

CULTURA

LUTO

Causa da morte não foi confirmada pela família; ex-colegas de banda e artistas prestaram homenagens nas redes sociais

Redação

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 Outubro de 2022 –

Luiz Galvão nasceu em Juazeiro (BA), mas morte foi confirmada em São Paulo – Reprodução/Instagram

Foi confirmado, na virada do sábado (22) para o domingo (23), o falecimento, aos 87 anos, do músico e compositor Luiz Galvão, um dos principais nomes do grupo Novos Baianos. A informação foi divulgada pelas redes sociais do artista. 

A causa da morte ainda não foi confirmada pelos familiares. Porém, em setembro a família comunicou que o cantor passaria por um procedimento cirúrgico.

Inicialmente ele havia sido internado em uma unidade da Santa Casa de São Paulo (SP), mas desde a última semana estava no no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), também na capital paulista.

A família estava realizando uma campanha de financiamento coletivo para ajudar nas despesas dos procedimentos.

Homenagens

Ex-parceira de banda, Baby do Brasil foi uma das primeiras a fazer uma homenagem a Galvão. Em sua conta no Instagram, a cantora escreveu “Às 23:47 desse dia 22/10/22, ontem, recebi a notícia impactante em meu Zap: “ Galvão se foi ”, por sua esposa. Um silêncio espiritual se fez presente onde eu me encontrava com a minha produção”.

Também se manifestou Caetano Veloso. Em sua rede social, o cantor escreveu que “Galvão criou e liderou o grupo Novos Baianos, acontecimento que se coloca entre os que mudaram o rumo da história do Brasil.”

Caetano Veloso lembrou da parceria dele com João Gilberto: “Sendo de Juazeiro, atraiu João Gilberto para a casa coletiva em que viviam os membros do grupo. E isso definiu o caminho rico que se pode resumir no álbum Acabou Chorare mas que se desdobrou em muito mais.”

Biografia

Luís Dias Galvão nasceu em Juazeiro (BA) em 22 de outubro de 1987. Anos mais tarde, se mudou para a capital baiana, onde conheceu Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor, com os quais criou o conjunto Novos Baianos, em 1968.

Nos anos 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a viver comunitariamente com todos os músicos do grupo, em um sítio localizado em Vargem Grande. Local onde seria composto e gravado o antológico álbum Acabou Chorare, que completa 50 anos em 2022.

Galvão é o compositor de grandes clássicos do grupo, entre elas “Acabou Chorare”, “Preta Pretinha” e “Mistério do Planeta”.

Além dele, outro grande nome do Novos Baianos, Moraes Moreira morreu em 2020, aos 72 anos.

Edição: Lucas Weber

MOSTRA COOPERIFA: FABIANA COZZA, RAEL E KL JAY SÃO DESTAQUES DA 13ª EDIÇÃO; VEJA A PROGRAMAÇÃO

Outubro 23, 2022
  1. CULTURA

PERIFERIA UNIDA

As atividades são gratuitas e acontecem entre 5 e 13 de novembro em espaços culturais da zona sul da capital paulista

Gabriela Moncau

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 22 de Outubro de 2022 às 17:25

“Bora lutar. Bora viver. Quanto mais se vive, menos se morre”, diz poema de Sérgio Vaz, um dos fundadores da Cooperifa – Ricardo Vaz

Celebrando os 21 anos de atividades poéticas na periferia da zona sul de São Paulo, o sarau da Cooperifa realiza a 13ª edição da sua mostra cultural entre os dias 5 e 13 de novembro.  

Entre as atrações da programação estão shows de Fabiana Cozza, Rael e Ana Canãs cantando Belchior; oficina com a rapper Lourdes da Luz; bate papo com o DJ dos Racionais MC’s, KL Jay, e o poeta Sérgio Vaz; além de palestras com o advogado e filósofo Silvio Almeida e a jornalista e professora Rosane Borges. 

Espalhados em escolas, centros culturais, CEUs e no SESC Campo Limpo, os 35 eventos são gratuitos e incluem debates, peças de teatro, espetáculos de dança, saraus, oficinas, exposições, sessão de cinema e shows. 

“É tudo nosso” 

A Cooperifa, um dos saraus mais famosos do país, começou em 2001 de forma despretensiosa, quando um grupo de poetas começou a declamar seus versos em um bar no Taboão da Serra. Dois anos depois, o local de encontro se mudaria para o Bar do Zé Batidão, na zona sul de São Paulo, que abriga o sarau semanal até os dias de hoje.  

:: ‘Conseguimos dessacralizar a literatura’, diz Sérgio Vaz ao Programa Bem Viver ::

A ideia dos poetas Sérgio Vaz e Marco Pezão, cofundadores da Cooperifa, de criar uma espécie de Semana de Arte Moderna da Periferia surgiu em 2007. Com o objetivo de divulgar artistas do bairro, fazer pontes com artistas da região central e democratizar o acesso à cultura, nasceu naquele ano a Mostra Cultural da Cooperifa.  

“A periferia unida no centro de todas as coisas”, diz o enunciado que convoca a 13ª edição do evento: “É pela cor, pela dor e pelo amor. É tudo nosso”. 

Confira a programação completa: 

Sábado 05/11  

14h30 / Palestra: “Educação e Literatura: desenhando novos mundos e horizontes.”  

Com: Rosane Borges – Jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora convidada do Diversitas (FFLCH-USP), coordenadora da Escola Online Longa. Autora de diversos livros, entre eles: Espelho infiel: O negro no jornalismo brasileiro.  

16h / Palestra: “Gramáticas da diáspora: política, cultura e antirracismo no Brasil”

Com: Silvio Almeida – Advogado, filósofo e professor universitário. Também reconhecido como um dos grandes especialistas do Brasil acerca da questão racial. É autor do livro Racismo Estrutural (Polén, 2019) e preside o Instituto Luiz Gama.  

17h30 / Show: Ana Cañas canta Belchior  

Ana Cañas apresenta seu novo show “Ana Cañas Canta Belchior”. O projeto, iniciado durante a pandemia de covid-19, nasceu com a ideia de uma live única (que já foi assistida por mais de meio milhão de pessoas) e transformou-se em um álbum e uma turnê integralmente dedicados ao compositor cearense.  

Duração: 90 minutos Classificação: 10 anos  

Local: Sesc Campo Limpo: R. Nossa Sra. do Bom Conselho, 120 – Vila Prel  

Domingo 06/11  

8h / Festival Várzea Poética  

8h – PSA X LETÍCIA  

9h30 – SÓ QUEM É X PONTE PRETA  

11h – R2 X DEMOCRATA  

12h30 – CDHU X R 12  

14h – MORRO X ALIADOS  

Local: Campo do CDHU: R. José Manoel Camisa Nova, 110 – Jardim São Luís  

15h / Abertura da Exposição: “Ori”

De: Jair Guilherme

Obras de arte criadas a partir de pesquisas realizadas na intenção de representar a individualidade de cada orixá. Início: 06/ 11 – Término: 13/11  

16h / Debate: “Recriar o passado, transformar o presente e projetar um novo futuro: pensamentos, práticas e perspectivas sobre a identidade e tecnologia preta”.

Fábio Amarante – Publicitário, co-fundador e estrategista da agência Muvilab. Em 25 anos trabalhou em diversas agências de marketing e publicidade. Amante da tecnologia, tendências musicais, do cinema e da vida em movimento.

Tamires da Silva – Estudante de modelagem e apaixonada pelas expressões de arte e ocupação urbana. Em seus conteúdos de redes sociais, busca mostrar o seu ponto de vista sobre questões do cotidiano, a vida na periferia, arte, moda e autoconhecimento.

Maria Rita – Full Stack Developer, mãe, editora, curadora de conteúdo e consultora de negócios tecnológicos e inovação. Constrói sites, aplicativos e soluções web. WordPress é sua paixão e especialidade. Fundou a rara. work, estúdio de desenvolvimento digital e inovação tecnológica feito por mulheres negras.  

18h / Debate: “Poesia: De onde ela vem e para onde ela vai?”

Akins Kintê – Escritor e cineasta publicou os livros: Punga (2007), InCorPoros Nuances de Libido (2011) e Muzimba: na humildade sem maldade (2020). Dirigiu vários filmes. O último, em 2012: Zeca o Poeta da Casa Verde.

Raquel Almeida – Poeta, escritora, arte-educadora e produtora cultural. Co-fundadora do Coletivo literário Elo da Corrente. Iniciou seu trabalho artístico em 2005 cantando no grupo de Rap “Alerta ao Sistema”.

Mediação: Marcelino Freire – Professor de oficinas de criação literária, produtor cultural e escritor. Escreveu Contos Negreiros (2005), com o qual foi vencedor do Prêmio Jabuti. Criador e curador da Balada Literária, que desde 2006 reúne escritores nacionais e internacionais pelo bairro da Vila Madalena.  

20h / Música: Espetáculo Dáguas

Com: Izzy Gordon, Renato Gama, Tita Reis, Alldry Eloise e Ronaldo Gama. Esse encontro apresenta um repertório nutrido por nascentes da música e da poesia brasileira, propondo um encontro com a literatura cantada. As canções navegam pela produção ancestral mirando caminhos que afirmam o afrofuturismo, o samba e o jazz.  

Duração: 80 minutos Classificação: Livre.

Local: Fábrica de Cultura Jd. São Luís: R. Antônio Ramos Rosa, 651 – Jardim São Luís  

Segunda 07/11  

10h / Contação de História – “Tukano Roendo Pindó”

Com: Caiçaró Caiçaró. Do povo Tukano, ele nasceu na comunidade Duraka Kapuamu. Desenvolve, desde 2019 contação de história indígena.  

Local: EMEI Clarice Lispector: Rua Comendador Miguel Maluhy, 159 – Jardim Guarujá  

14h / Debate – “Identidades no Audiovisual Infanto-Juvenil da Periferia”

Juliana Jesus – Atua há 12 anos como iluminadora dos programas da TV Cultura, poeta, criadora do Sarau Pretas Peri, fotógrafa cinematográfica e cineasta. Em 2020, durante a pandemia, realizou o curta metragem Pipa.

Bárbara Magalhanis – Cientista social, mestranda, percussionista e cineasta. Atualmente desenvolve Anaya, projeto de desenho animado infantil afrocentrado e desenvolvido pela técnica de 3D.

Mediação – Renato Candido – Cineasta negro, diretor e roteirista. É bacharel em audiovisual e mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. E também sócio e proprietário da Produtora Dandara Produções Culturais e Audiovisuais.

Exibição do filme Pipa, de Juliana Jesus.  

15h30 / Teatro: Espetáculo – Awá – Tecendo Fios de Ouro

Com: Cia Quatro Ventos  

Sinopse: O espetáculo conta a história de Orisun e sua linhagem de mulheres negras da periferia, que com muita luta conseguiram manter o negócio familiar. Da arte de tecer ela tirou seu sustento e das três filhas. Herdou da mãe a sabedoria de saber fiar e do aprendizado de tecer, teceu fios e a vida. A família de Orisun era conhecida como poetisa dos tecidos.  

Duração: 50 minutos Classificação: 12 anos  

16h / Debate – “Prove 25 anos de formação, conquistas e desafios!”

Luciana Dias – Professora, filha do Santo Dias. É coautora do livro Santo Dias: Quando o passado se transforma em história. Uma das organizadoras do Projeto de Valorização do Educador e Melhoria da Qualidade de Ensino (PROVE).

Socorro Lacerda – Professora, graduada em história pela UNISA. Escreveu vários livros, sendo o mais recente As Aventuras de Martín (2018). Formadora do PROVE. Em 2013 foi homenageada como professora Emérita da cidade de SP.

Mediação: Elza Ferrari – Doutora em Educação pela FEUSP, coordenadora Pedagógica da EMEF Anna Silveira Pedreira e professora de Língua Portuguesa na Rede Estadual.  

Local: CEU Campo Limpo: Av. Carlos Lacerda, 678 – Vila Pirajussara  

20h / Cinema na Laje – Exibição do filme O Olhar de Edite  

Sinopse – Dona Edite (mineira de Pirapora – MG) é uma mestra da literatura periférica e da cultura popular em São Paulo, por meio de sua interpretação diversos personagens oprimidos da história ganham vida, as mulheres roceiras, as rezadeiras, o trabalhador das fábricas, as mães negras das favelas e tantas outras. Dona Edite é deficiente visual, mas vê o mundo pelos olhos da poesia, recitando textos e canções no Sarau da Cooperifa, onde é diva e rainha do lugar. Bate – Papo com cineasta: Daniel Fagundes  

Local: Bar do Zé Batidão: R. Bartolomeu dos Santos, 797 – Jardim Guarujá  

Terça 08/11  

9h / Oficina– “De Repente MC” – Escrevendo Rap no nosso país  

Com: Lourdes da Luz  

A oficina tem como objetivo principal a conscientização a respeito dos valores que fundamentam a cultura Hip Hop.  

10h / Dança: Espetáculo – “Fábrica de Bonecos”

Com: Grupo Magic Five  

O grupo interpreta a história de um habilidoso artesão e manipulador de bonecos que se vê envolvido, junto à suas criações.  

Local: EMEF Mauro Faccio Gonçalves Zacaria: Av. Raquel Alves Moreira, 823 – Parque Santo Antônio  

19h / Literatura: Sarau da Cooperifa – 21 anos

Movimento cultural que transformou um bar em um centro cultural na periferia de São Paulo. Tornou-se referência na disseminação da poesia que nasce nas periferias com a formação de público e incentivo à leitura.  

Local: Bar do Zé Batidão: R. Bartolomeu dos Santos, 797 – Jardim Guarujá  

Quarta 09/11  

10h30 / Teatro: Espetáculo – “O Grande Circo do Nanácio”  

Com: Nanácio e Convidados.

O espetáculo resgata a tradição circense e oferece um espetáculo de variedades, um formato tradicional no mundo do circo onde os artistas desenvolvem os mais variados números e demonstrações de habilidades.  

Local: Cieja Campo Limpo: R. Cabo Estácio da Conceição, 176 – Parque Maria Helena  

14h / Teatro: Espetáculo – “Monotrux”  

Com: Cia Monotrux  

Petúnio é um andarilho que leva consigo apenas um carrinho repleto de cacarecos tecnológicos que recolhe pelo caminho. Deles, sozinho, fez uma máquina sonora que busca captar algum sinal longe do pequeno universo onde vive.  

Local: EMEF Oliveira Viana: R. Professor Barroso do Amaral, 694 – Jardim Planalto  

19h / Música: Encontro Rap DJ Negão  

Começou sua trajetória em meados de 1998. Produziu o disco Quebra Cabeça (2011). Hoje é Dj do Rapper Cocão AVOZ.  

Kelly Neriah – Vocalista do grupo “Versão Popular”, mãe, MC, compositora e intérprete. Desenvolve oficinas ligadas a cultura Hip Hop e também faz trabalhos como repórter.  

Fino du Rap – Poeta, MC, educador e integrante do coletivo Resenha Poética da Várzea. Atuando na cena do rap desde 1997, lançou seis trabalhos independentes. No ano de 2021 lançou o Ep. “NohFi” Volume 1 em parceria com o Dj Jonathas Noh.  

Z’África Brasil – Formado em 1995. O grupo é conhecido por sua originalidade e criatividade musical. Em 2019 o grupo apresenta em edição especial, o vinil duplo do clássico “Antigamente Quilombos Hoje Periferia”. Composto por Gaspar, Funk Buia, Pitcho e Dj Tano. 

Local: Fábrica de Cultura Jd. São Luís: R. Antônio Ramos Rosa, 651 – Jardim São Luís  

Quinta 10/11  

9h / Oficina: “DuLixo”  

Com: Tubarão Arte-educador, idealizador do conceito de arte “Dulixo”.  

Desenvolve atividades e troca de ideias sobre reciclagem, consumo sustentável e sobre lixo. Promovendo a construção de arte coletiva com materiais recicláveis.  

10h / Dança: Maracatu  

Com: Baque Atitude

Grupo de estudos da cultura popular e afro-brasileira do Maracatu de baque virado. O coletivo traz em seu repertório toadas populares das nações de Recife e composições autorais.  

Local: EMEF Anna Silveira Pedreira: R. Nova do Tuparoquera, 1901 – Jardim Novo Santo Amaro  

14h / Contação de História: “E Viveram Felizes para Sempre?”  

Com: Magno Rodrigues

Você sabe guardar segredo? O que você inventaria para não fazer algo que lhe obrigam? Você se acha uma princesa? E um príncipe? Estes enigmas estão mais que presente na história.

Local: EMEF Fagundes Varella: Av. Augusto Barbosa Tavares, 716 – Jardim Maria Sampaio  

15h30 / Sarau: Cooperifa  

Movimento cultural que transformou um bar em um centro cultural na periferia de São Paulo. Tornou-se referência na disseminação da poesia que nasce nas periferias com a formação de público e incentivo à leitura.  

20h / Bate-Papo: “Arte e Ativismo”  – Encontros Poéticos  

Sergio Vaz – Poeta e agitador cultural, autor de oito livros. Co-fundador do Sarau da Cooperifa, criador do cinema na laje, Projeto Poesia nos muros, autor do Projeto Poesia contra violência, que percorre as escolas públicas da região batendo um papo sobre poesia e cultura.  

KL Jay – Começou sua carreira em 1987, realizando bailes em residências. Anos depois, se identificou e descobriu a arte dos toca-discos. Fundou juntamente com Edi Rock, Mano Brown e Ice Blue o grupo Racionais MC’s em 1989. Criou produtora de eventos e confecção conhecida como 4P. Também é sócio da gravadora Cosa Nostra, possui seu selo individual a KL MÚSICA, que já lançou os álbuns de muitos artistas do Rap.  

Manoel Soares – Atua há mais de 25 anos nas áreas de processos comunicacionais e gestão social. Conselheiro Nacional da CUFA e jornalista premiado – também atua como apresentador da TV Globo, escritor, palestrante e educador mediático. Pai de seis filhos, em suas mídias sociais desenvolve o projeto pessoal de combater a masculinidade tóxica e paternidade qualificada dentro da periferia.  

Local: Sesc Campo Limpo: R. Nossa Sra. do Bom Conselho, 120 – Vila Prel  

Sexta 11/11  

9h / Música: Pocket Show  

Jairo Periafricania – Trabalha com a música há 20 anos com 3 discos lançados. Membro e colaborador do Sarau da Cooperifa, empenhado com a literatura, poesia e cultura.  

Tati Botelho – MC, poeta e compositora, é comunicadora e educadora. Destacou- se em saraus e chegou no Rap com seus versos sólidos e sua maneira contundente de cantar.  

Cocão AVOZ – Músico está ligado à cultura Hip Hop desde 1999, quando iniciou sua carreira no grupo de rap “Versão Popular.” É colaborador do coletivo “Sarau da Cooperifa. Em 2019, lançou seu primeiro livro Pra Não Dizer Que Não Falei Das Ruas.  

Local: EMEF Sócrates Brasileiro Sampaio: R. Profa. Nina Stocco, 597 – Jardim Catanduva  

15h / Teatro: Espetáculo – “Refugo Urbano”  

Com: Trupe Dunavô

Cada ser humano está sujeito a encontros, desencontros e interações diferentes durante a vida. O espetáculo propõe uma reflexão sobre como esses sentimentos diversificados podem ser levados para o universo infantil.  

Local: CEU Casa Blanca: R. João Damasceno, 85 – Vila das Belezas  

20h / Música – Show de Tony Gordon  

Com mais de 32 anos de carreira, Tony Gordon lança-se em uma desbravada aventura pelo Blues, Soul e Jazz ao reunir um repertório de músicas consagradas e rearranjá-las ao seu estilo característico. Em 2019 sagrou-se vencedor da edição brasileira do programa The Voice Brasil.  

Local: Fábrica de Cultura Jd. São Luís: R. Antônio Ramos Rosa, 651 – Jardim São Luís  

Sábado 12/11  

16h / Debate: “Jornalismo Periférico”  

Bianca Pedrina – Jornalista graduada pela Unisant’Anna e co-fundadora do “Nós, mulheres da periferia”. Atuou como correspondente da Agência Mural de Jornalismo das periferias e atua com comunicação sindical. No “Nós” é gestora operacional.  

Stela Diogo – Graduada em jornalismo, atua na “Alma Preta Jornalismo” como coordenadora de produção audiovisual, buscando fortalecer as pautas voltadas para as questões raciais e acreditando no papel transformador da educação e da comunicação.  

Thais Siqueira – É jornalista, educadora, articuladora sociocultural e co-fundadora do “Desenrola E Não Me Enrola”. Uma das suas principais motivações é criar espaços de reflexão e valorização das potências da juventude preta e periférica e do campo do jornalismo das periferias.  

18h / Debate: “Literatura Negra Feminina: Territórios de afetos e renascimentos”  

Dinha – Poeta, editora independente, pós-doutora em Literatura e Sociedade pela Universidade de São Paulo. Autora dos livros: Diário do fim do mundo (2020) e Horas, minutas y segundas (2022), entre outros.  

Priscila Obaci – Mãe, multiartista e educadora. Matrigestora de Xirezinho e Kisânsi, atividades lúdicas que tem o candomblé como caminho pedagógico. Autora de Poesias Pós-parto (2020 – Oralituras). Formada em Comunicação das Artes do Corpo – PUC – SP.  

Mediação: Elizandra Souza – Escritora, poeta, jornalista, integrante do Sarau das Pretas e ativista cultural há 20 anos. Autora dos livros Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta?, 2021; Filha do fogo – 12 contos de amor e cura, 2012 (poesias); Punga (Edições Toró, 2007).  

19h30 / Teatro: Espetáculo “Águas queimam na encruzilhada”  

Com: Cia Teatro do Incêndio.  

Sinopse: Em um bairro que se despedaça e resiste ao tempo, histórias de dor e esperança de seus moradores e moradoras são apresentadas em um desfile de sonhos e perdas. Tendo como pano de fundo a paixão por uma escola de samba que faz com que as vidas se encontrem com afluentes de rios, histórias cotidianas são o ponto de partida para uma apoteose coletiva.  

Duração: 180 minutos

Classificação: 14 anos  

Local: Fábrica de Cultura Jd. São Luís: R. Antônio Ramos Rosa, 651 – Jardim São Luís  

Domingo 13/11  

Shows de Encerramento  

16h – Grupo Flor de Lis 

Formado em 2000, na Casa Popular de Cultura do M ́Boi Mirim. Composto em sua maioria por mulheres. O grupo, possui em seu repertório composições musicais e coreografias, de diferentes ritmos brasileiros (ciranda, samba de roda, dança indígena, cacuriá, carimbô, xaxado, maracatu, coco, cavalo-marinho, bumba-meu-boi, quadrilha junina, pastoril, frevo, congada…)  

17h – Grupo Espírito de Zumbi 

Grupo formado em 1985, oferece um trabalho educativo aliado ao lazer, esporte e cultura, através da prática da capoeira e das manifestações culturais afro-brasileiras, estimulando as trocas sociais e a construção de uma cidadania mais participativa.  

18h – Discopédia

É uma festa de hip hop criada e comandada por DJ Marco, DJ Dandan e DJ Nyack. Pautado em dois pilares: o incentivo e a valorização da cultura do vinil, e o resgate da essência de um dos elementos mais importantes da cultura hip hop, o DJ.  

19h – Fabiana Cozza  

Artista negra brasileira, cantora, intérprete, professora e pesquisadora. Sua caminhada passa pelo teatro, dança e música. Atuou em musicais com temática brasileira. Vencedora do Prêmio da Música Brasileira em 2012 e 2018, respectivamente “Melhor cantora de samba” e “Melhor CD de língua estrangeira”. Tem oito álbuns e três DVDs lançados, sendo o mais recente intitulado “DOS SANTOS” (2020).  

20h – Rael 

É cantor e compositor, tem uma levada leve e dançante. Sua história se confunde com a da cultura hip hop e a do rap nacional, isso se dá, pois, seu primeiro contato foi no Largo São Bento, berço do movimento no Brasil. O elemento break e os Racionais MC’s despertaram o seu interesse pelo movimento hip hop, pela arte, mas principalmente pela música.  

Local: Casa de Cultura M’Boi Mirim: Av. Inácio Dias da Silva, s/nº – Piraporinha 

Edição: Vivian Virissimo

1° FESTIVAL CULTURAL DA MULHER RURAL CELEBRA PRODUÇÃO DAS TRABALHADORAS DO CAMPO EM PERNAMBUCO

Outubro 21, 2022

CULTURA

CULTURA CAMPONESA

Mulheres da agricultura familiar de Pernambuco realizaram o primeiro evento voltado para celebrar as produções culturais

Lucila Bezerra

Brasil de Fato | Recife (PE) |

 Outubro de 2022 –

O evento contou apresentações de trancelim, reisado, xaxado, repente e maracatu, além de oficinas e mesas de debate – Lucila Bezerra/ Brasil de Fato PE

Mostrar que as trabalhadoras rurais também são importantes produtoras de cultura é o objetivo do primeiro Festival Cultural da Mulher Rural, que aconteceu neste mês de outubro. O evento foi organizado pelo Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR) em Pernambuco e contou apresentações de trancelim, reisado, xaxado, repente e maracatu, além de oficinas e  mesas de debate. Assista:

A homenageada

Esta edição de estreia homenageia a educadora popular Vanete Almeida. Nascida no município de Custódia, Vanete foi uma das fundadoras do MMTR e foi responsável por garantir que as trabalhadoras rurais fossem sindicalizadas na década de 1980, enquanto assessora da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape). Até então as mulheres só podiam se vincular à Federação ou aos Sindicatos da categoria como dependentes.


Vanete Almeida foi uma educadora popular nascida no município de Custódia e uma das fundadoras do MMTR / Reprodução

Cícera Nunes é agricultora familiar em Serra Talhada, no sertão pernambucano, e a primeira mulher a presidir a Fetape. Para ela, Vanete e o festival tem uma grande importância para a valorização do trabalho das mulheres do campo. “Nós temos muitos desafios, mas temos a conquista de poder dizer que somos da categoria da agricultura familiar e de ser sócia dos sindicatos com a contribuição de Vanete nos anos 80, que outras contribuições ela fez. Então, para nós, este é um legado que deve continuar”, aponta.

Agricultoras e produtoras culturais

A trabalhadora rural e uma das fundadoras do MMTR Auxiliadora Cabral destaca a função do evento em dar visibilidade à produção das mulheres. “Surge em função da gente compreender, nós mesmas, mulheres rurais, compreendermos que a gente tem muita coisa que não é valorizada no campo da cultura e a gente precisa ‘vomitar’ isso, e era muito estratégico a gente vomitar isso na capital do nosso estado a questão da visibilidade do movimento, a visibilidade das mulheres, a força da organização; porque a gente já perdeu muitas e muitas mulheres da luta nesse país”, destacou

Leia: Mais de 70% dos postos de trabalho fechados em 2020 no país eram ocupados por mulheres

Auxiliadora destaca o papel das mulheres na cultura. “Nós temos muitas trabalhadoras rurais não só de Pernambuco, que são poetisas, que são violeiras, que coordenam movimento de violeiros em todo o Nordeste, que são mulheres rurais. Então, elas vão quebrando e ocupando esses espaços, ocupados só pelos homens”, conclui.

Elaine Lima é trabalhadora rural e faz parte da comunidade quilombola do Barro Branco, em Belo Jardim, e fala da importância da valorização da cultura das mulheres de terreiro em eventos como este. “Essa diversidade de trazer os povos para este momento é muito importante, porque esse governo coloca muito a gente nas margens, né? E a gente quando se junta que vê outras companheiras, outras quilombolas, de outros terreiros, a comunidade indígena também por aqui, isso fortalece muito a gente”, acredita a quilombola.

Feira agroecológica

O festival também contou com uma feira de  produtos agroecológicos produzidos por mulheres da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão. elas fazem parte de povos indígenas, quilombolas e das águas. 

Geo de Oxum também é da comunidade quilombola do Barro Branco, em Belo Jardim, levou doce de mamão, lambedor e alguns tipos de café produzidos na sua comunidade. Para ela, o festival é uma oportunidade única. “Sempre fomos privada de tudo por sermos pequenas agricultoras. Trazer o nosso produto para comercializar é conhecimento. Então, é uma oportunidade única, que nem sempre a gente teve”, destaca.

Leia: “Quando chegamos, não chegamos sozinhos, chegamos como fruto de um movimento social”

Já a agricultora familiar, Maria Joana Silva, da cidade de Chã Grande, trouxe produtos in natura; como banana, alface e couve-flor, para comercializar. “A gente traz conhecimento, leva conhecimento, é maravilhoso”, conclui.

Para mais informações sobre os próximos eventos do movimento, acesse as redes sociais do MMTR
 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga

REGINA DUARTE CARLOS VEREZA, BOLSONARISTAS, REPUDIAM FADA MADRINHA GAY DE “CINDERELA” COM CAMILA CABELLO

Outubro 20, 2022

HOMOFOBIA

Com um ano de atraso, colegas bolsonaristas partiram pra cima de produção da Disney que está em cartaz na Amazon Prime

Regina Duarte e cena de Cinderela.Créditos: Reprodução de Vídeo/Divulgação/Montagem
Julinho Bittencourt

Por Julinho Bittencourt

CULTURA el 20/10/2022 ·

A ex-atriz Regina Duarte resolveu criticar, com um ano de atraso, a produção da Amazon Prime Vídeo, “Cinderela”, interpretada por Camila Cabello.

A ex-secretária de Cultura do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), pediu “socorro” aos pais, tios e avós ao saber que a fada madrinha do longa era gay através de um desabafo de ator Carlos Vereza

“Amigos de verdade da infância brasileira: Cinderela da Disney ameaça os valores de nossas crianças!”, escreveu ela na legenda do vídeo compartilhado pelo colega de profissão.

“Alerta”

Regina também agradeceu Vereza pelo “alerta”, que ele fez nesta terça-feira (18):

“Você está certíssimo. Precisamos protejer (Sic) nossas crianças”, disse, ao cometer um erro crasso de ortografia.

“Depois de um longo tempo volta a gravar nos meus canais e o que me fez voltar foi um motivo muito grave. O Walt Disney sempre se esmerou no respeito às crianças em seus desenhos e agora para o meu espanto, vejo no filme “Cinderela”, da Amazon, uma fada madrinha gay. No lugar de uma senhora bondosa tem um ator de vestido, salto alto e uma varinha”, começou Vereza.

Vereza escreveu ainda:

“Não se pode transmutar o sexo dos personagens infantis. O sexo do filho de Superman é bissexual! Não é possível que isso continue. As famílias desse país precisam se posicionarem e boicotarem esses desenhos”, pediu o ator.

Billy Porter

FabG, a fada madrinha gay da Cinderela, uma personagem não binária, é interpretada por Billy Porter, conhecido pela trajetória de luta por ser negro e gay em Hollywood. Sobre isso, ele declarou:

“Quero deixar bem claro que não sou contra a orientação sexual de cada um. Agora o que não pode é ser lobby. Essa Disney atual declarou recentemente que vai investir 50% de suas produções no movimento LGBT e uma infinidade de letras. Isso faz parte da nova ordem mundial de desconstruir a sexualidade das crianças.”

Veja o trailer abaixo:

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Com informações do F5

TEMAS

Regina DuarteCarlos VerezaCamila CabelloBilly Porter

A PEDAGOGIA REBELDE E DECOLONIAL DE DJONGA

Outubro 19, 2022

Seu refrão “fogo nos racistas!” tornou-se hino da juventude periférica. Como ocorreu com Césaire, o rapper mineiro é acusado de “racismo reverso”. Mas ele não recua e ensina a atualidade – e legitimidade – da raiva do povo preto

OUTRASPALAVRAS

MOVIMENTOS E REBELDIAS

Por Angélica de Freitas e Silva

Publicado 19/10/2022 –

Este é o terceiro texto de um ensaio intitulado: A pedagogia decolonial de “Fogo nos racistas!”. Leia os outros dois textos aqui: 1 e 2.

A consciência da identificação do sujeito histórico que ganha voz e vez no rap é a observação mais forte do rapper Djonga. Fora da cena nacional, Gustavo Pereira da Silva, também conhecido como Djonga, começou a fazer rap aos 23 anos durante as batalhas de freestyle no centro de Belo Horizonte. Apesar de ser uma das principais capitais com uma das maiores populações periféricas do país, Belo Horizonte nunca esteve no centro do rap nacional. A maior parte da produção e investimento de mídia e arte no Brasil está concentrada em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sem gravadora, da periferia da produção musical e fundamentalmente focado em sua realidade local, o rapper mineiro se torna “o rei”. Então, vamos “abrir alas para o rei”.

Fogo nos racistas!

“Arte é pra incomodar”, disse Djonga sorrindo, tomando cerveja gelada num copo lagoinha, típico dos botecos mineiros. Ele estava sendo entrevistado em casa pelo influente jornalista brasileiro Pedro Bial. A entrevista aconteceu remotamente, por conta das restrições da covid-19, no dia 17 de novembro de 2020. Semanas antes dessa entrevista, Djonga estampava a manchete do mais relevante telejornal brasileiro, o Jornal Nacional, que dizia: “com um trabalho focado em antirracismo, o rapper mineiro Djonga é o único representante brasileiro em um prêmio internacional de hip-hop”, anunciou ao vivo no horário nobre da TV aberta. A indicação foi de melhor artista internacional no BET Hip Hop Awards 2020, a primeira indicação brasileira de todos os tempos, motivada pela repercussão e crítica do quarto álbum de Djonga, Histórias da Minha Área (2020). O entrevistador pergunta:

Bial: ‘BET’ significa Black Entertainment Television, uma rede de arte negra que acaba de completar 40 anos. Ser indicado para este prêmio, como você foi… Este é o Oscar da arte negra?

Djonga: É assim… Do ponto de vista de um cara que faz rap no Brasil é ainda mais importante [a indicação ao BET Awards] por causa da barreira da língua… Vendo aquele hip-hop, o movimento hip hop começa lá [nos Estados Unidos], rompemos essa barreira de linguagem e fazemos com que as pessoas de lá nos notem aqui, e admirem nosso jeito de fazer rap, de fazer música, de fazer arte, de nos expressar politicamente. 

É realmente notável que um jovem negro então com 25 anos de idade, vindo das favelas de Belo Horizonte, estampasse as capas das revistas e fosse destaque no noticiário nacional em 2020 como uma conquista do país. O Brasil em 2020 deve ser observado no contexto do pico de desmonte de direitos do devastador governo de extrema-direita de Bolsonaro, com o legado de mais de 600 mil mortes por covid-19, e crescentes manifestações conservadoras violentas pelo país. Celebrar Djonga no noticiário nacional em tal conjectura poderia ser considerado uma forma de informar à nação que sua vida e obra valeriam a pena conhecer porque ele estava prestes a representar o Brasil internacionalmente. O que é marcante não é tanto o seu atual status de celebridade internacional, mas o que ele diz e representa. A arte de Djonga evidencia a consciência de sua subjetividade colonial e o poder de registrar a história ao mesmo tempo em que aborda as origens de sua alegria e dor. Ele preenche a lacuna linguística de uma maneira que informa e se estabelece como protagonista de reações na grande mídia.O single Olho de Tigre, de 2017, é um exemplo da combinação de consciência subjetiva e poder histórico. Lançada pelo selo Pineapple Storm TV no Youtube, a música tem mais de 23 milhões de visualizações nesta plataforma. O vídeo de Olho de Tigre faz parte de uma lista de perfis de vários artistas apresentando seus trabalhos relacionados à cena hip hop e ao rap. Olho de Tigre logo se tornou um hino antirracista por causa de seu refrão, fogo nos racistas!, carregando uma raiva lírica contra a branquitude e uma poderosa afirmação da negritude. Embora o single nunca tenha sido gravado em um álbum, a música é a mais esperada e mais cantada pelo público nos shows. No entanto, Djonga foi severamente criticado por ser muito zangado, sendo apontado por “racismo reverso” e por supostamente incitar a violência contra os brancos. A superficialidade de tal controvérsia informa que ao abordar as colonialidades do ser, do saber e do poder, deve haver uma reação controlada à violência colonial. Além disso, Djonga foi criticado por ocupar a grande mídia, sob as alegações de que isso poderia esvaziar a importante mensagem antirracista de seu significado, desviando a discussão ou limitando-a pejorativamente a uma manifestação irada. O rapper Emicida explica o fenômeno em “Mandume”, de 2015:

Eles querem que alguém
Que vem de onde nós vem
Seja mais humilde, baixe a cabeça
Nunca revide, finja que esqueceu
A coisa toda
Eu quero é que eles se…
(Emicida, “Mandume”2015, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa)

Até que ponto o alcance e a popularidade do refrão “fogo nos racistas! pode desempenhar um papel pedagógico decolonial de massa? Essa pergunta é respondida após o panorama das possibilidades pedagógicas para a conscientização das opressões, desencadeadas por movimentos artísticos e culturais como os exemplos da Négritude e o movimento hip hop. Os dois movimentos têm em comum a abordagem da subjetividade e do lirismo do ser racializado ao descrever, registrar e difundir a potência de sua existência. A experiência pedagógica de aprender com a arte está além da sala de aula, da teoria e do experimento científico. Dessa forma, a arte envolve os sentidos, a memória e as emoções com as informações que contém, em determinado contexto. Tanto a Négritude quanto os movimentos hip hop informam sobre a violência colonial e iluminam a consciência subjetiva.

Historicamente, os movimentos artísticos e culturais negros são fundamentais para a elaboração das subjetividades, impactando na forma como os jovens aprendem sobre si mesmos e sobre sua história. Isso porque os saberes predominantes ensinados nas escolas e na academia ignoram intencionalmente sua ferida colonial, impondo uma compreensão do mundo que conflita com suas percepções e experiências. Artistas e movimentos culturais negros subvertem as pedagogias eurocêntricas e possibilitam o aprendizado a partir de uma gama de fatores mais ampla e coerente, ultrapassando os limites permitidos pelo discurso dominante. Do início do movimento da Négritude na década de 1930 até a cena hip hop do século XXI, abordar a violência colonial é reagir a ela. Os expoentes de tais movimentos transmitem sua mensagem por meio de pedagogias subversivas decoloniais. Como o fogo, o aprendizado decolonial pode levar a consequências imprevisíveis, escapando ao controle dos colonizadores. Audre Lorde diria que as ferramentas dos patrões nunca desmantelarão a casa dos patrões (Lorde, 2017). As pedagogias subversivas decoloniais têm tal poder desmantelador. 


“Aquele Hitler o habita

Um boy branco me pediu um high five
Confundi com um Heil, Hitler
Quem tem minha cor é ladrão
Quem tem a cor de Eric Clapton é cleptomaníaco
Na hora do julgamento Deus é preto e brasileiro
E pra salvar o país Cristo é um ex-militar
Que acha que mulher reunida é puteiro

Sensação, sensacional
Sensação, sensacional
Sensação, sensacional
Firma, firma, firma
Fogo nos racistas!
(Djonga, Olho de Tigre, 2017)

Os dois primeiros versos de Olho de Tigre evidenciam a desconfiança em relação ao boy branco como um nazista em potencial: “Um boy branco me pediu um high five / confundi com um ‘heil, Hitler’”. A aproximação do menino branco fazendo o gesto de levantar uma mão sobre a cabeça como uma saudação ou comemoração, esperando bater a palma da mão contra a palma da outra pessoa, é percebida por Djonga como uma demonstração do que a branquitude apoia. Enquanto o boy branco convida para “comemorar juntos”, Djonga interpreta sua ação como o ato contínuo de violência racista. Referir-se ao “amigável” boy branco como nazista implica na percepção da branquitude como violência. Esse “Hitler interno” foi abordado por Aimé Césaire no clássico ensaio anticolonial Discurso Sobre o Colonialismo, publicado pela primeira vez em 1950. Para Césaire, o colonizador é brutalizado até a selvageria para justificar a colonização, aplicando sua própria violência contra si mesmo. Hitler e o hitlerismo não são exceções das potências europeias, mas sim sua própria natureza:

Sim, valeria a pena estudar clinicamente, em detalhes, os passos dados por Hitler e o hitlerismo e revelar ao burguês muito distinto, muito humanista, muito cristão do século XX que, sem que ele se desse conta, ele tem um Hitler dentro dele, que Hitler o habita, aquele Hitler é o seu demônio, que se o insulta, está a ser inconsistente e que, no fundo, o que não pode perdoar a Hitler não é o crime em si, o crime contra o homem, não é a humilhação do homem como tal, é o crime contra o homem branco, a humilhação do homem branco, e o fato de ter aplicado à Europa procedimentos colonialistas que até então eram reservados exclusivamente aos árabes da Argélia, o servos da Índia, e as pessoas negras da África (Césaire, 1955, p. 36; itálicos no original).

Tanto Djonga quanto Césaire abordam uma suposta “inocência” do homem branco, como no alegre gesto de high five do boy branco, ou do salvador humanista ocidental e seus direitos humanos universais (Césaire, 1955, p. 37). As duas obras mencionadas (a canção Olho de Tigre e o ensaio Discurso Sobre o Colonialismo) têm em comum o endereçamento da condição dos racistas: “ninguém coloniza inocentemente”. A assunção dos brancos como ameaças é uma identificação da subjetividade dos autores. Como constitutiva do sujeito colonial, a morte é uma ameaça constante, não “um fator individualizador” (Maldonado-Torres, 2007, p. 250), pois a constituição do “eu” do colonizado parte da desumanização e aniquilação de sua cultura e ancestralidade (Fanon, 1990, p. 190-99).Ao longo de suas vidas artísticas, Césaire e Djonga tiveram que lidar com a reação de abordar sua raiva lírica em relação à desumanização histórica repetida como consequência da opressão branca. Nesse sentido, chamar os brancos de “nazistas” ou “Hitler” parece ser mais problemático do que racismo. Ambos os poetas, em diferentes épocas históricas, foram acusados ​​de vitimização da raça negra, de “exagerar dramaticamente para fazer um ponto”, ou mesmo de que seu método de dar voz à sua revolta seria substituir um mal por outro. No ensaio Orfeu Negro, de 1951, Jean-Paul Sartre refere-se ao movimento da Négritude como um “racismo antirracista” (Sartre; Allen, 1951). A análise controversa de Sartre vê a Négritude como um estágio antitético em uma dialética histórica hegeliana a ser substituída eventualmente por uma síntese (Davis, 1997, p. 53; p. 188). Césaire discutiu a questão no ensaio Discours sur l’art africain (Discurso sobre a arte africana), de 1966:

Essa noção de negritude, alguns se perguntaram se não era racismo. Acredito que os textos falam por si. Basta lê-los e qualquer leitor de boa fé perceberá que, se a Négritude implica enraizar-se em determinado solo, a Négritude também é transcendência e expansão no universal. (…) O aparecimento da literatura da Négritude e da poesia da Négritude só produziram tal choque porque perturbavam a imagem que o branco tinha do negro, que marcavam com suas qualidades, com seus defeitos, portanto com sua carga de homem; no mundo de abstrações e estereótipos que o homem branco até então havia inventado unilateralmente sobre ele (Césaire, 1973, p. 103).

O aceno do boy branco é um sinal de pacificação, ao qual Djonga responde com memória histórica. O rapper informa a consciência de um elemento subjetivo constitutivo do boy branco “pacífico”: a certeza de que a superioridade branca vem à custa da opressão. O reconhecimento e a marca histórica da violência que estrutura a branquitude é recebido pelos brancos como a retribuição dessa violência. Na canção “Junho de 94”, do álbum O Menino Que Queria Ser Deus (2018), o rapper responde ao ódio sofrido:

Tive que ouvir que eu tava errado por falar pro ceis
Que seu povo me lembra Hitler
Carregam tradições escravocratas
E não aguentam ver um preto líder
(Djonga, “Junho de 1994”, O Menino Que Queria Ser Deus, 2018)

Como escreve Césaire, o choque causado pela manifestação artística raivosa reside na ruptura da diferença sub-ontológica (de sujeição) criada pela hierarquização das raças. As vítimas dessa estrutura de opressões são negadas, no sentido de que falar com o colonizador significaria falar a língua do colonizador, mas, nessa linguagem, os racializados são negados de qualquer humanidade e, portanto, não podem falar. No entanto, a verdade dos fatos históricos é obscurecida pela supressão ontológica e pela aniquilação epistêmica, alinhada com a violência física institucional. Isso levou a uma busca constante, por parte dos brancos ofendidos, de desculpas e explicações para tamanha raiva. Em 1966, Césaire foi obrigado a informar que o “leitor de boa fé” compreende que a Négritude visa a atribuição das palavras à existência epistêmica a partir do local ao universal. De forma semelhante, em 2020, Djonga teve que explicar o significado de seu hino “fogo nos racistas!” na entrevista com Pedro Bial:

Bial: Um dos seus hinos, diverso, mas com um bordão, como um slogan, é “fogo nos racistas!”. Quando você grita “fogo nos racistas!”, onde termina a poesia e começa o que poderia ser chamado de “incitação à violência”?

Djonga: Não sei. Não sei onde começa o Djonga nem onde termina o Gustavo. Como saberia onde está a poesia, se o que estou dizendo é verdade? Aquele cara que diz que não está com raiva… que não tem hora que ele quer se vingar da violência que está sofrendo… Esse cara está mentindo. Todo mundo sofre [violência]. Às vezes você expressa isso em ação, às vezes em palavras – isso é um fato. Quando eu disse aquilo ali, eu estava dizendo aquilo ali. É simples. Quando eu digo fogo nos racistas! estou dizendo: fogo nos racistas! É muito difícil para mim controlar as reações e saber até que ponto o que eu estava falando era um grito artístico ou um grito real. Eu seria um hipócrita se dissesse o contrário. Em um mundo onde esses caras nos incendiaram no passado, é muito triste saber que só de dizer isso em uma música, de alguma forma assumindo que… Porque eu nunca coloquei fogo em ninguém, sabe? Em um mundo onde esses caras [a polícia] vão na favela e colocam balas na cabeça de um garoto de 14, 13 anos, ou até mais novo, que não fez nada! Neste mundo, é estranho que as pessoas às vezes se aborreçam com as coisas que, ao lado de tudo isso, são coisas muito pequenas.

O rapper coloca em perspectiva as reações negativas contra sua raiva lírica. A sugestão de incitação à violência é, novamente, uma forma de inserir uma aura de ofensa criminal a um jovem negro. No direito penal brasileiro, os artigos 286 e 287 do Código Penal de 1940 tratam da incitação ao crime e da defesa de crime ou criminoso, respectivamente. Embora Pedro Bial não tenha usado a palavra “crime” como tipificado no Código Penal, ele usou a palavra “violência”, que poderia ser uma das muitas formas dominantes de descrevê-lo como crime na mídia. A distinção técnica entre incitar o crime (que é um crime) ou incitar a violência depende da interpretação do público, e a grande mídia sabe disso. Djonga, no entanto, vai ao encontro da descrição do criminoso historicamente construído, o suspeito padrão exaustivamente utilizado no jornalismo policial (Paulo, 2019), apesar de ser uma celebridade brasileira de fama internacional.

Você não ficaria preocupado?

Por meio de estereótipos racistas, a grande mídia explora a antipatia baseada em uma generalização imperfeita e inflexível que se dirige a um grupo inteiro ou a um indivíduo simplesmente por fazer parte desse grupo (Techio; Torres; Sousa, 2020). Não é exagero argumentar que quando o jornalista pergunta a Djonga se seu hino é uma incitação, o público acostumado ouve a sugestão de um crime relacionado a um jovem negro. A psicologia social informa que a violência policial é mais aceitável quando dirigida a membros de grupos minoritários. Portanto, a reação do rapper ao racismo estrutural é enquadrada como uma ofensa, em vez de uma informação. Como disse Césaire, a Négritude é um movimento literário e cultural de combate, choque, contra o racismo e o colonialismo. O poeta da Négritude odeia o racismo e o colonialismo porque são “barreiras que impedem que a comunicação se estabeleça” (Césaire, 1973, p. 104).

Independentemente da aprovação do público, Djonga e Césaire respondem com a mesma inflexão entediada, quase cansada: “les textes sont là” (os textos falam por si), e “quando eu disse aquilo ali, eu estava dizendo aquilo ali”. Como se o próprio reconhecimento de sua subjetividade ou da violência que sofrem devesse ser explicado repetidamente, até que as palavras perdessem suas punchlines. As reações contra as manifestações antirracistas podem desencorajar a juventude. Não obstante, a identificação com a luta é o próprio apelo à resistência.

Na música “Favela Vive 3”, a questão da violência contra a juventude negra e periférica não é tratada como dado científico ou apenas como informação infeliz do noticiário. A faixa é uma música emotiva que dá arrepios na espinha de quem vive a triste realidade brasileira. A violência é a principal causa de morte entre os jovens e 77% das vítimas de homicídio no Brasil são negras (Ipea, Atlas da Violência, 2021, p. 27; p. 49). “Favela Vive 3” é a terceira música da tetralogia “Favela Vive”. Usando um estilo cifrado de intercalar cinco MCs e seus respectivos versos, os rappers DK, do projeto ADL, Choice MC, Djonga, Menor do Chapa e Negra Li denunciam histórias reais. O primeiro verso, de DK, traz o assassinato de Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, por representantes do poder punitivo do estado do Rio de Janeiro. O adolescente foi morto no dia 20 de junho de 2018, com um tiro no estômago, dentro da escola de ensino fundamental Ciep Operário Vicente Mariano. Marcos Vinicius foi morto com o uniforme escolar, dentro da escola onde estudava, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. Ele foi atingido por um tiro durante uma operação da Polícia Civil em conjunto com o Exército. O rapper DK pede revolta:

Se tu não parar de marra, meu bonde vem e te para
Se tu não abraça o papo, o papo vem e te abraça
Mano, os cana peida de subir de madrugada
Sempre marca operação com a porta da creche lotada
Mais uma mãe revoltada, uma pergunta sem resposta
Como o policial não viu o seu uniforme da escola?
Vinícius é atingido com a mochila nas costas
Como é que eu vou gritar que a favela vive agora?
(DK ADL, “Favela Vive 3”, 2018)

A ação da polícia dentro das favelas do Rio de Janeiro tem forte apelo junto às áreas mais conservadoras da sociedade. Não por acaso, essa demografia é a mesma que sustenta e incentiva o bolsonarismo, ao mesmo tempo que prega a liberação total da economia para o mercado externo, a censura às manifestações artísticas e, acredite ou não, a volta da ditadura militar. Disfarçados de protetores da moral e anticorrupção, o corredor conservador da sociedade brasileira ocupou historicamente lugares de poder político, com representantes da política local ao congresso nacional. Apoiada pelos barões industriais, pelos reis do agronegócio, pelos líderes neopentecostais e pelos industriais de armas, a política colonial brasileira tem sido denunciada. A violência é o meio para que essas estruturas permaneçam de pé.

Djonga convida outros jovens negros a pensar coletivamente sobre como são alvos das múltiplas formas de violência: vitimização, violência policial e estereótipos raciais. A mensagem, no entanto, alcança mais públicos do que aqueles imediatamente relacionados à sua voz lírica. É um apelo coletivo à preocupação:

Eu sei, eu sei
É, parece que nóis só apanha
Mas no meu lugar se ponha, e suponha que
No século 21 a cada 23 minutos morre um jovem negro
E você é negro que nem eu, pretim, ó
Não ficaria preocupado?
Eu sei bem o que cê pensou daí
Rezando não tava, deve ser desocupado
Mas o menor tava voltando do trampo
Disseram que o tiro só foi precipitado
No mais, saudade dos amigo que se foi
P.J.L. pros irmão que tá na tranca
(Djonga, “Favela Vive 3”, 2018)

É imprescindível que a juventude brasileira reaja contra as forças conservadoras que visam a manutenção da era colonial. Embora seja improvável que Bolsonaro e seu fascismo ultraliberal sui generis permaneçam no Executivo após o fim de seu mandato presidencial, Bolsonaro permanece como ideologia. Dessa obscuridade, as gerações atuais, sejam elas chamadas de hip hop ou gerações decoloniais, têm sido impelidas a se conscientizar de sua missão para cumpri-la, como pede Fanon. Nesse sentido, gritar “fogo nos racistas!” tem o poder de desvendar colonialidades através da consciência da subjetividade histórica.

E firma! Firma!

Fogo nos racistas!

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ANGÉLICA DE FREITAS E SILVA

é uma articuladora multidisciplinar com foco em abordagens e práticas decoloniais para mobilização comunitária, planejamento de recursos, e políticas no Sul Global. Angélica é Fellow da British Higher Education Academy (2021) e foi professora na Westminster Business School de 2016 a 2022. É doutora pela Escola de Direito da Universidade de Westminster com a tese “Epistemologias Decoloniais para Planejamento Energético no Brasil” (2019) e mestra (LLM) em Soluções de Disputas Comerciais Internacionais (2015) pela mesma universidade.pesquisadora na Westminster Business School, e professora convidada na Escola de Direito da mesma universidade. Ela é uma das idealizadoras do grupo de pesquisa Law, Development and Conflict, no qual ela é responsável pelas atualizações do website, do blog e é coordenadora do grupo de estudo Third World in Theory Reading Group.
Contato: defreia@westminster.ac.uk
Twitter: @FreitasAngel