O carnaval carioca, depois que cortou suas raízes dionisíacas, deixando a alegria euforizante do brincar coletivo, como ocorria na Grécia agrária, passando a ser a expectativa oficial da classe média em forma de escola de samba, submissa aos interesses e particularidades dos jurados, há muito vem sendo objeto de análise dos que pensam o carnaval como uma manifestação livre.
Daí que como se tornou uma espécie de campeonato disputadíssimo com direito até de deboche, as escolas vêm se tornando uma entidade, não mais da simplicidade, mas da ostentação do poder econômico para a realização de seus objetivos carnavalescos oficiais. O que significa aderir aos gostos dos jurados como das mídias do tipo da TV Globo, a manipuladora.
O desfile das escolas de samba deste ano proporcionou tema para uma análise que vaia além da Marquês de Sapucaí. Trata-se da classificação da Escola de Samba Beija-Flor que para construir suas parafernálias ilusórias recorreu ao apoio financeiro do ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang. Que, segundo já foi divulgado, concedeu um auxílio financeiro de R$ 10 milhões para escola de Neguinho da Beija-Flor.
O fato de uma escola ser financiada por um ditador, que há três décadas domina um povo, por si só expressa uma grave preocupação moral. Entretanto, o que é mais grave ainda, é que esse ditador impõe situações perversas a esse povo. Perversidades que atingem a saúde, a moradia, a escola, trabalho e o direito de liberdade de opinião. O que o impossibilitaria de patrocinar uma manifestação em cujo país o governo tenta, apesar dos inimigos, dirimir a miséria e proporcionar a liberdade de opinião.
Diante do ocorrido, o militante guinéu-equatoriano, Tutu Alicante, através do site Conectas, protestou classificando de humilhante o fato do gasto do dinheiro pátrio quando sua população sofre contundentemente.
“Foi horrível, humilhante, um tapa na cara das pessoas do meu país. Não tenho nada contra os brasileiros dançarem se divertirem, mas faze isso com dinheiro de gente pobre que não educação, saúde, nem liberdade para reclamar dessa falta não é certo. E pior, passa a imagem que vai tudo bem no país, quando não vai.
Se, por exemplo, você pede permissão para realizar um pequeno e pacato protesto, nunca consegue e, caso resolva ir em frente, pode ser detido. Os ativistas lá não podem usar a internet livremente porque ela é censurada e o acesso, limitado. Restam então mensagem de textos e ligações telefônicas. Quanto à moratória na pena de morte, isso não aconteceu. Nenhum projeto foi sequer apresentado e execuções extraoficiais continuam.
Não tenho esperança de que a Beija-Flor desista do prêmio conquistado, mas espero que os brasileiro prefiram ficar do lado do meu povo do que de seu governo corrupto e opressor”, disse o ativista da EG-Justice eu promove os direitos humanos.
Mas não se sabe se por muitas lantejoulas, brilhos e paetês, nada disso sensibilizou Neguinho da Beija-Flor, que analisando suas sentenças carnavalescas nos possibilita o entendimento de que pouco importa o sofrimento de um povo quando encontra-se em questão o orgulho-fálico da ilusão de campeão.
Neguinho da Beija-Flor confirmou sua alienação em uma entrevista concedida à Rádio Gaúcha onde defendeu a contravenção como patrocinadora das escolas. E ainda dedurou outras coirmãs sem ser forçado pela delação premiada que se encontra em moda. E que irmãs.
“Se não fosse a contravenção meter a mão no bolso, organizar, estaríamos ainda naquele negócio de arquibancada caindo, desfile terminando duas horas da tarde, cada escola desfilando duas, três horas e a hora que quer. E a coisa se organizou. Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção.
Não tenho conhecimento dos R$ 10 milhões. Deixa falar. Deu mídia. Deixa falar. A Portela também teve um patrocínio muito forte. O governador do Rio de Janeiro, Pezão, queria que a Portela ganhasse. Vai dizer que ele não fez investimento? O prefeito é portelense doente. Vai dizer que não colocaram dinheiro na Portela”, externou sua inteligência e sua moral Neguinho da Beija-Flor.