Archive for Março, 2012

UM MÉTODO PERIGOSO

Março 31, 2012

Um cinema de David Cronenberg

ESTRÉIA HOJE NOS CINEMAS

Cinema 3D, Martin Scorsese e Georges Méliès

Março 30, 2012

O cinema por si só é um espetáculo fabuloso que desde sua criação cria um grande fascínio e interesse tanto pela parte artísitica quanto pelo enredo. Porém para que o cinema existisse foram necessários diversas tecnologias que reproduzirem o filme celulóide em uma máquina projetora na velocidade em que o olho humano percebe o movimento, fazendo a persistência das impressões luminosas na retina- para isso o olho necessita de cerca 2/45 segundos para notarmos sua presença . Daí nasceu o cinema.

Muito mais do que um simples entretenimento a mágica do cinema foi usada para produzir novos tipos de imagens diferentes daquela que as pessoas estava acostumadas ver em seu cotidiano, criando novas formas de perceber, sentir e agir.

A indústria do cinema sempre esteve preocupada em maior parte com o espetáculo e lucros que ela gerasse. Porém como as outras atividades comerciais, inventou formas e produtos que fizessem as pessoas buscar esta atividade e consumir seus produtos, os espetáculos cinematográficos.

A tecnologia do 3D foi um destes experimentos empreendidos, assim como Dolby, Surround Sound, Technicolor, etc. Então vejamos um pouco da história do 3d, que foi derivado da fotografia estereográfica. A técnica da esteroscopia foi inventada pelo físico inglês Charles Wheatstone em 1840. No cinema o processo de filmes 3D foi patenteado no fim da década de 1890 pelo britânico e pioneiro William Friese-Greene.

Porém o uso em uma sala de cinema só ocorreu durante os anos 20, quando se exibiu o filme “Power of love (1922)” utilizando a simples técnica de anaglyph. Este é considerado o marco dos filmes 3D que se difundiram comercialmente nos anos 50 principalmente em filmes de terror como Bwana Devil, Man in the Dark, A Casa de Cera , e It Came from Outer Space. Porém por ser ainda muito caro o projeto não se sustentou a longo prazo. Nos anos 80 houve um breve retorno do 3D nos cinemas puxado pela tecnologia IMAX, mas logo caiu em desuso. Hoje com a digitalização das salas de projeção, a tecnologia 3D voltou a estar em voga.

COMO FUNCIONA O 3D E SEUS USOS

A imagem em 3 dimensões consiste na verdade na imagem polarizada, de forma em que haja duas imagens sobrepostas que sejam percebidas separadamente por cada olho. Ao utilizar um óculos 3D estas imagens se condensam e dão uma ilusão de profundidade. Uma aula de física sobre a formação da imagem no olho. As principais técnicas (e óculos) 3D são os passivos anaglyph, a polarização e o Eclipse (ou tecnologia ativa LCD shutter).

Deixando a tecnologia e partindo para o cinema, até onde o 3D deixa de ser um apelo comercial, e passa a ser algo necessário ao cinema?  O cinema (ao contrário dos filmes) não precisa de apelos de nenhuma forma, pois eles não se voltam ao entretenimento, mas a uma forma de transformação da percepções e produção de entendimentos. Desta forma o 3D como tecnologia apelativa seria sem importância.

Porém A invenção de Hugo Cabret, o novo cinema de Martin Scorsese em 3D deixa alguns rastros na mistura da magia do cinema aumentada em 3D.  Inclusive Scorcese dirigiu Hugo com um óculos 3D sobre suas lentes. Quem sabe aí o 3D não seja um engodo.

CINESQUIZO ENUNCIA

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

Diretor: Martin Scorsese

Ano/País: 2011/ Estados Unidos

Titúlo Original: Hugo

Atores: Ben Kingsley (Méliès), Asa Butterfield (Hugo), Chloë Grace Moretz (Isabelle), Christopher Lee (Monsieur Labisse), Sacha Baron Cohen (Inspetor da estação), Jude Law (pai de Hugo), Ray Winstone (Tio Claude).

Locação: La Sorbonne 5 em Paris

Hugo Cabret é um menino que mora em uma estação de trem. Desde pequeno aprendeu com seu finado pai o fascínio das máquinas, principalmente pelos relógios, de quem o garoto herdou todo o talento paterno. Agora o menino orfão, abandonado pelo tio passa a vagar só pela estação fugindo do inspetor e ajustando o relógio que marca a chegada e saida dos trens. A estação cheia de seus encantos possui também uma loja de brinquedos e alguns espaços memoráveis.

O dono da loja de brinquedos é Georges Méliès, um velho rabugento que não gosta de Hugo e que vive a reclamar . Porém um dia Hugo conhece Isabelle, neta de Georges, e descobre que ele além de um pouco ranzinza, por algum motivo proibiu Isabelle de assistir qualquer cinema. Hugo e sua amiga decidem embarcar em uma aventura na mágica do cinema e da amizade, e mostrará uma máquina autômato que seu pai pegou de um museu, mas que falta uma peça. Juntos eles buscarão decifrar os dois segregos: o porque o tio Georges não gosta de cinema e como concertar o autômato. Porém eles não sabe que por trás disto está a mágica do espetáculo cinematográfico.

O diretor Martin Scorsese foi um diretor que nunca escondeu sua fascinação pelo cinema de todo o mundo (inclusive demonstrando em documentários). A idéia ocorreu de filmar Hugo ocorreu quando sua filha lhe deu o livro “Hugo” de presente e pediu que um dia Martin filmasse a história.

Desta vez em sua paixão kinemica, ele decidiu homenagear o criador do espetáculo cinematográfico, dos efeitos especiais (que engloba praticamente tudo que temos hoje… matrix e avatar são tréplicas…), e da narrativa cinematográfica, Georges Méliès. Afinal Méliès era um mágico de palco e ele passou seu amor pelos truques para as telas, em suas histórias cheias de efeitos, magias e enredos muitas vezes cômicos.

No filme há várias referências a história do cinema. Na cena em que os cachorros salsicha estão se conhecendo na estação está tocando a canção “Le lieutenant Maréchal” que o personagem de Jean Gabin escuta no início do clássico “A grande Ilusão” de Jean Renoir. Outro fato interessante em Hugo é que um dos personagens (o historiador) se chama René Tabard, cujo o nome foi retirado do inesquecível “Zero de Conduta” de Jean Vigo, sendo René um recém-chegado que se rebela. A cena do descarrilhamento do trem te uma referência ao evento real ocorrido em 1895. Mas também evoca o quadro de René Magritte, O tempo Apunhalado (1833).

Há também trechos e posteres de vários cinemas como “O Homem Mosca” com Harold Lloyd, “O beijo”, os primeiros cinemas dos irmãos Lumière, “Intolerância” de D.W. Griffith, “Hell’s Hinges” de  Charles Swickard, “O gabinete do Dr. Caligari” de  Robert Wiene, “O garoto” de Charles Chaplin,  “Os quatro cavaleiros do apocalipse” de Rex Ingram e com Rudolph Valentino, “A caixa de Pandora” de Georg Wilhelm Pabst com Louise Brooks, “A general” de Buster Keaton,  “O ladrão de Bagdá” de Raoul Walsh com Douglas Fairbanks e muitos outros

GEORGES MÉLIÈS

O cinema Hugo vai além de uma biografia, trazendo a magia de todo o cinema e sua história. A figura central de Méliès é mostrada como se ele fosse o maestro de pioneiros, que atuou, escreveu, dirigiu e produziu mais de 500 cinemas, que ficaram muito tempo perdidos e destruidos (vendidos durante a guerra para fazer artigos bélicos), e que o levaram a abrir uma loja onde fazia brinquedos na estação de Montparnasse (fato verídico) ,e quase caisse no esquecimento.

Georges viu o cinema nascer na primeira sessão pública de cinema (Première séance de cinéma) dos Irmãos Lumière realizada no dia 28 de dezembro de 1895. Nela Méliès se encantou com a nova invenção, mas ao pedir para comprar uma câmera e um projetor (na verdade a câmera dos Lumière tinham as duas funções) de um dos irmãos recebeu a como resposta que cinema tinha apenas fins científicos e era ” uma invenção sem futuro”. Méliès decidiu criar sua própria câmera e começou a filmar, criando depois o lendário Star Studio.

Um fato interessante na primeira projeção é que um dos filmes apresentado foi “A chegada do trem na estação de Ciotat” (L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat) onde como o nome diz o trem chega na estação. Porém os incautos espectadores por nunca ter visto uma imagem projetada levaram um susto enquanto o trem se aproximava.

Méliès inventou um dos principais efeitos especiais usados até hoje, o stop motion, quando estava filmando uma rua de Paris. Enquanto filmava um ônibus e alguns pedestres, a câmera desligou e obrigou Georges a fazer alguns reparos. Passados alguns minutos ele continuou filmando. Ao assistir o resultado viu o ônibus se transformar em uma carroça e os homens em mulheres. Eis o início dos efeitos no cinema.

O filme mais célebre e memorável de Georges Méliès é “A viagem a Lua” (Le voyage dans la lune) de 1902, quando ele faz o homem chegar a lua e encontrar a magia do sobrenatural. Neste cinema a o cinema é transformada em espetáculo metafísico, onde a fantasia consegue vencer a realidade (como nas histórias de contos de fadas): neste caso a impossibilidade daquela época do homem ir a lua.

3D, GEORGER MÉLIÈS, SCORSESE E HUGO

Cena de Viagem através do Impossível

Cena de Viagem através do Impossível

Méliès não produziu nenhum cinema em 3D. A tecnologia passou a ser usada comercialmente bem depois da falência do Star Films…  Ele produziu toda a mágica do cinema sem nenhum efeito esteroscópico. Isto mostra que a tecnologia 3D não é necessária para criar outras realidades e percepções. Com uma câmera caseira, um estúdio de vidro, e experimentos, Georges criou centenas de filmes que misturavam ciência, lendas, mágicas, comédias, histórias e estórias, que já traziam em si o deslocamento cortante do olho. O relevo 3D não acrescentaria muito no filme de Méliès.

Porém talvez com Scorsese percebe-se outra coisa. Alguns elementos do 3D dão certa graciosidade ao filme, mesmo que eles sejam também belos sem eles. A primeira tomada de Hugo na chegada da estação,  seguida do descarrilamento do trem e as cenas da mecanização dos relógios e da própria cidade de Paris traz uma nova percepção da profundidade talvez imperceptível e com menor produção de novos significados sem o 3D.Além disso a cena do cachorro do inspetor é bem mais cômica com o 3D.

Martin usou o analógico na idéia da máquina com todo seu mecanicismo, na perfeição da relojoaria, junto com os olhos verdes do menino Hugo que observa a sincronia de uma cidade.  Esta tecnologia analógica como foi feito o cinematógrafo dos Irmãos Lumière, e como foi filmado grande parte dos filmes até algum tempo atrás, é mostrada com grande fascinação. Porém não se coloca esta fascinação na metafora de René Descartes do deus relojoeiro que gira todas engrenagens do universo. Hugo tem a fascinação pela produção humana do cinema, pela literatura e pelos relacionamentos. Nada preso ao sobrenatural.

O cinema 3D passou tanto pelo analógico quanto pelo digital. Além de um engodo comercial, a idéia de aproximar a tela em filmes de terror dava um suspense maior as películas.O 3D é uma ilusão que por si só não cria uma nova percepção, caso ele utilize as mesmas velhas imagens polarizadas para cada olho. O novo está na imagem em si seja ela em 3D ou não.

A idéia de Hugo ser em 3D, se juntou a criação de novas imagens e se misturoi com a própria nova imagem que é o cinema de Méliès, conseuindo criar um 3D Cinema ao contrário do 3D filme. Mas não pela tecnologia, mas pela imagem cinematográfica em si feita pela câmera 2D ou 3D.

Muitos podem brandar que Hugo é algo mainstream, vendido a indústria hollywoodiana,  algo apelativo por ter usado o 3D. Como dissemos o que faz de uma imagem nova não é o 3D, mas a própria imagem. Além disso, em Hugo se traz a magia do cinema a partir de imagens que vão além desta (in)capacidade enlatada da mercadoria cinema. Belissimas imagens que carregam o novo são engendradas.

Quando Hugo anda por dentro das engrenagens do relógio, há sempre uma névoa que o cobre, névoa de seu passado infeliz e de seu vir-a-ser futuro, que pode ser atualizado de várias formas. Hugo não é uma categorização de idade (criança, jovem), função (estudante, filho),  valor (pobre, burro, talentoso). Hugo está em uma névoa que é a vida e que vai além dos vapores dos trens da estação, fazendo a produção do homem ilimitada e sem finalidades. Assim como foi o cinema de Méliès, uma criação, que foi além dos outros corpos (já pois não sabemos até onde um corpo compõe). Mesmo em todas adversidades, podemos fazer brotar a vida, em um tempo que não é o mecânico, assim como o cinema se cria em outro tempo.

A referência ao autômato de Méliès mostra um homem mecanico com vida. Uma engrenagem só existe ao ganhar vida e movimento junto com as outras. Porém ela pode ser modificada, e o homem pode criar outros encaixes para si e paras máquinas.

Quando Hugo se recorda do passado suas memórias trazem o barulho e a luz de uma engrenagem analógica do cinema em movimento, assim como o cinema modificou a maneira das pessoas pensar, ver e relembrar das coisas. Também estas recordações trazem uma força muito grande de algo perdido (analogia com os filmes de Méliès, o brilho do cinema de antigamente) mas que pode ser reconstruido de outras formas. O fim do homem é não ter fim.

Scorsese faz o espectador que não conhece Méliès, descobri-lo a partir da própria beleza do cinema e aos que já o conhecem criar um novo homem criador em si como Georges, através da figura de um garoto chamado Hugo, o futuro que sempre está presente.

Outras imagens muito interessantes são a que Hugo vê de dentro dos buracos da estação, como se a vida estivesse lá fora e ele fosse um espectador. Assim como ocorre no cinema, que embora esteja fora nos engendra uma produção como atores sociais,além da dita realidade imobilizante que  o capital tenta impor a todos momento.

Poderiamos ainda falar sobre os atores, e como a menina Isabelle (Clöe Grace Moretz) e Hugo (Asa Butterfield) atuaram bem e são grandes revelações. Assim como Taxi Driver de Scorsese impusionou Judie Foster. Ou ainda sobre outras atuações dos bons atores Ray Winstone, Christopher Lee. Mas creio que o que mais chamou atenção é a garota Isabelle que lembra muito em sua vivacidade a garotinha Estrella (Sonsoles Aranguren) no filme El Sur de Victor Erice.

Por fim a produção humana como própria ultrapassagem daquilo que se tenta padronizar como humano. A amizade, o cinema, a literatura, teatro, as artes, a filosofia fazem do humano ir além de sua condição humana. E por isso Hugo é um cinema, vai além daquilo já exposto.

MILLÔR FERNADES DEIXA DE PRODUZIR

Março 29, 2012

O desenhista, cartunista, chargista, dramaturgo, tradutor e jornalista, Millôr Fernandes, aos 88 anos, deixou de produzir. Millôr, cujo nome deveria ser Milton não fosse um erro do tabelião, sempre teve a produção como sua maior forma de afirmar sua existência. Com claro compromisso político socialista, sua produção carrega a expressividade do exame da sociedade através dos fluídos humorísticos.

Contribuiu com várias revistas, mas se projetou pelas folhas da revista O Cruzeiro, onde matinha uma coluna contestadora, Pif-Paf. Foi um grande interprete da sociedade brasileira no tempo da ditadura militar na revista Veja, na época de Mino Carta, antes desta se torna a voz da mídia nazi-fascista que hoje é.

Para o crítico de literatura, escritor Henrique Rodrigues, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), autor da tese sobre a obra de Millôr,” Millôr Fernandes: A Vitória do Humor Diante do Estabelecido”, Millôr tinha um espírito vanguardista.

“Ele fazia poemas concretos, antes de existir o movimento concretista. Ele já escrevia de forma concisa e em frases curtas muito antes de existir o computador e ferramentas como Twitter. A própria irreverência do Pasquim, do qual foi um dos fundadores, foi antecipada pelo Pif-Paf, uma coluna de humor político e contestatório que ele mantinha na imprensa”, considerou sobre Millôr, Henrique Rodrigues.  

Entre traduções de personagens ilustres da literatura mundial como Molière, Shakespeare, Sófocles e Brecht, fundou o Pasquim, jornal humorístico de crítica ácida ao sistema brasileiro.

Seu corpo, depois de ser velado no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, será cremado  de acordo com seu desejo.

Ademilde Fonseca foi responsável pela maior popularização do choro

Março 29, 2012

Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual.

Uma das últimas imagens públicas da cantora Ademilde Fonseca é no excelente DVD “Sexo MPB O Show”, que registra a edição de 2010 da entrega do troféu de mesmo nome, organizado pelo pesquisador musical, produtor e jornalista Rodrigo Faour. Naquela noite, ela foi a grande homenageada e, assim, glorificada pelos colegas deve ser sempre lembrada. Afinal, poucas cantoras fizeram tanto pela música brasileira, a ponto de ficar conhecida como “rainha do choro”.

“O choro de agora em diante volta a ser apenas solado, porque ninguém mais conseguirá cantar suas melodias sinuosas, com a velocidade, a graça e a afinação de Ademilde, que um dia, informalmente durante uma festa na casa de Benedito Lacerda, sacou do bolso uma letra que conseguira do velho choro “Tico-tico no Fubá”, e mostrou ao flautista. Ele, extasiado, tratou de encaminhá-la à gravadora Columbia (depois Continental). Isso foi em 1942. Com isso, sem saber, estava criando um gênero: o choro cantado”, conta Faour.

Ademilde Fonseca trabalhou por mais de dez anos na rádio Tupi e gravou centenas de discos, dos quais vendeu mais de meio milhão de cópias, numa época em que atingir esses números era algo tremendamente difícil. A interpretação dela para “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo, e “Tico-Tico no Fubá”, de Zequinha de Abreu, é inigualável e marcou uma virada na música brasileira, quando o choro deixou de ser basicamente instrumental e passou a ser também cantado. Outros clássicos indispensáveis em seu repertório foram “Urubu Malandro”, “Galo Garnizé”, “Pedacinhos do Céu” e “Na Baixa do Sapateiro”, entre tantos outros.

“Ela simplesmente teve a honra de lançar alguns clássicos da música brasileira com letra, caso de ‘Apanhei-te cavaquinho’, ‘O que vier eu traço’ e ‘Brasileirinho’ – pérolas imortais. E ainda ‘Pedacinhos do céu’ e o baião ‘Delicado’, de Waldir Azevedo, que correu o mundo. Também lançou ‘Teco-teco’, depois regravada por Gal Costa. E um sem-número de maravilhas que estarão no CD duplo da série ‘Super Divas’, que pretendo lançar via EMI Music até o meio do ano. Infelizmente, ela não ficou viva para ver este disco, mas pelo menos me ajudou a concretizá-lo, me ajudando a localizar fonogramas raros e tecendo comentários faixa a faixa sobre suas 36 faixas. Como se não bastasse, tinha uma cabeça maravilhosa. Numa das minhas festas, disse que era preciso respeitar os artistas jovens, porque ‘até esses meninos que fazem funk, se você for ver tem uma dificuldade. Se você quiser fazer aquilo, não vai conseguir’. Ou seja, não tinha um pingo de recalque”, acrescenta Faour.

Ademilde Fonseca tinha 91 anos e sofria de problemas cardíacos. De acordo com a neta, Ana Cristina, ela teve um mal súbito e morreu em casa, no Rio de Janeiro, na noite de terça-feira, 27 de março. Nascida no Rio Grande do Norte (RN), ela deixa uma filha, a cantora Eimar Fonseca, três netas e quatro bisnetos. Seu último registro em disco foi no CD da jovem cantora Anna Bello, produzido pelo músico Edu Krieger.

Devir/Dançar

Março 29, 2012

O Devir/Dançar em seu movimento semanal traz nesta quinta mais um encontro dançante que desta vez inclui uma nova biografia de uma das mais brilhantes dançarinas de ballet brasileiras da atualidade, a saudada bailaria principal do Royal Ballet de Londres, Roberta Marquez.

Com uma carreira internacional de sucesso desta brasileira já é reconhecida como uma das mais talentosas artistas em atuação hoje no mundo.

Roberta Marquez é uma bailarina conhecida mundialmente. Talvez ela seja a mais importante bailarina a representar o país na atualidade, onde ocupa o posto de bailarina principal do Royal Ballet de Londres. Pesando 43 quilos e com estatura de 1,56, Roberta é casada com o também bailarino André Valadão.

Nascida no Rio de Janeiro em 1980 , ela foi treinada na Escola Estadual Maria Olenewa de dança a partir dos oito anos de idade. Em 1994 ela entrou no Balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, trabalhando com Nathalia Makarova, se tornando a bailariana principal em 2002. Recebeu prêmios como Melhor dançarina do Ano (Rio, 2001) e a medalha de prata individual além de melhor casal (Competição Internacional de dança de Moscow,2001).

No ano de 2004, entrou para o The Royal Ballet of London e já assumiu o papel de bailarina principal. Um ano antes ela havia sido convidada para dançar em A bela adormecida para substituir uma bailarina contundida, e ela encantou os britânicos. Desde que entrou no Royal já dançou O lago do cisne de Balanchine, Cinderela, A tarde de um Fauno, La fille mal gardée, e muitos outros.

Um sucesso tão grande de uma bailarina brasileira no exterior talvez só seja comparado ao de Márcia Haydée, ex-diretora do Balé Nacional de Stuttgart e parceira de Rudolf Nureyev, que brilhou em outra época.

No fim de 2011 Roberta participou do Dia Mundial de Luta contra a fome, de um projeto mundial contra a fome no espetáculo “The Royal Ballet’s Gary Avis and Friends”. O evento ocorreu na cidade americana de East Anglia.

Photo graphein: Harry Shunk

Março 29, 2012

Zé Geraldo na Quinta Cultural no dia 29 deste mês no Açougue T-Bone

Março 28, 2012

Kinemasófico: O pequeno Nicolau

Março 28, 2012

Neste domingo kinemasófico um novo cinemae nuita festa encheu de alegria a Rua Rio Jaú. Após um domingo de chuva que impossibilitou a projeção, neste domingo muita alegria ocorreu com a continuação do concurso de dança break que termina no próximo domingo, o tradicional mata-broca e a projeção do cinema francês

O PEQUENO NICOLAU


Título Original: Le Petit Nicolas
Ano: 2009

Diretor: Laurent Tirard

País: França

Duração : 91 minutos

Sinopse (Resumo da História do Filme) :Nicolau é um alegre garoto que estuda em uma escola francesa e tem diversos amigos, cada um com suas manias. Seu melhor amigo por exemplo adora comer, enquanto outro tem dificuldade de aprendizado, outro é milionário, outro só tira nota máxia e por aí vai. Seus pais vivem brigando e levam uma vida de stress. A vida escolar é sem grande entusiasmo, porém um dia um de seus amigos descobre que vai ter um irmãozinho e todos desconsolados vão buscar um jeito de sumir com a criança. Só que Nicolau descobre que ele também ganhará um irmão de presente. E agora o que fazer? Juntos eles vão se meter em diversas confusões…


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O Kinemasófico é um vetor cinematográfico que a Afin realiza todos os domingos à boca da noite, contando com um curso artístico (teatro, cinema…), sempre com a apresentação ao final da atividade de um cinema. Mais informações, clique aqui.

Tréplicas, réplicas…

Março 28, 2012

”Eu venho dêrne menino,
Dêrne munto pequenino,
Cumprindo o belo destino
Que me deu Nosso Senhô.
Eu nasci pra sê vaquêro,
Sou mais feliz brasilêro,
Eu não invejo dinhêro,
Nem diproma de dotô.

(…)

Tenho na vida um tesôro
Que vale mais de que ôro:
O meu liforme de coro,
Pernêra, chapéu, gibão.
Sou vaquêro destemido,
Dos fazendêro querido,
O meu grito é conhecido
Nos campo do meu sertão.

(…)

O dote de sê Vaquêro,
Resolvido marruêro,
Querido dos fazendêro
Do sertão do Ceará.
Não perciso maió gozo
Sou sertanejo ditoso,
O meu aboio sodoso
Faz quem tem amô chorá.”

Réplica: Patativa do Assaré – Poema “O Vaquêro”

Eu venho desde menino
Desde muito pequenino
Cumprindo o belo destino
Que me deu Nosso Senhor

Não nasci pra ser guerreiro
Nem infeliz estrangeiro
Eu num me entrego ao dinheiro
Só ao olhar do meu amor

Carrego nesse meus ombros
O sinal do Redentor
E tenho nessa parada
Quanto mais feliz eu sou

Eu nasci pra ser vaqueiro
Sou mais feliz brasileiro
Eu num invejo dinheiro
Nem diploma de doutor

Tréplica: Música “Sina” de Raimundo Fagner

UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Março 27, 2012
Londres , 11 de outubro de 1875

GRANDES NOMES DA LITERATURA

ERCKMANN-CHATRIAN

Fotografia de Émile Erckman e Alexandre Chatrian, publicada por Grasset et Gillot Galeria contemporânea, literária e artística, cerca 1875.

Van Gogh dá conselhos para seu irmão Theo sobre alguns escritores e para que ele possa entrar em contato ou não com a obra deles:

Você seguiu meu conselho, separou-se dos livros de Michelet, Renan, etc? Acho que isto o deixará mais tranquilo. A página de Michelet sobre o Retrato de Senhora, de Philippe de Champaigne, no entanto, é preciso não esquecê-la, e não se esqueça também de Renan. Contudo, afaste-o.. Você conhece Erckmann- Chartian: O Recruta, Waterloo e sobretudo O amigo Fritz e também A Senhora Tereza? Leia-os se puder. Mudar de alimento estimula o apetite“.

ERCKMANN-CHATRIAN, é um nome juntado de dois escritoires de contos, peças de teatro e romances franceses cuja colaboração fizeram em seus trabalhos a expressão de uma única personalidade.  Politicamente eles eram republicanos e nacionalistas. Eles são marcados por um genuine espírito democratic, e pelo real patriotism, que desenvolveram após 1870 em ódio dos alemães. Os autores atacavam o militarismo mostrando os horrores da guerra  nos termos mais simples.  Seus trabalhos tiveram um bom reconhecimento enquanto eles estavam vivos, sendo louvados por Victor Hugo e Émile Zola.

Émile Erckmann nasceu no  20 de maio de 1822 em Phalsbourg, estudando direito como formação e Louis Gratien Charles Alexandre Chatrian , filho de um vidreiro falido, no dia 18 de dezembro de 1826 Soldatenthal, Lorraine. Em 1847, eles começaram a escrever juntos quando eles passaram um verão juntos em Vosgues. Em 1852 Erckmann consegue um emprego na Companhia de caminhos de Ferro do Leste, e convence o amigo a mudar para Paris (trabalho do qual se aposentadoria  em 1884). Em 1871 Chartian se casa com Adélaïde Riberon.

A partir de 1885 Chartian começa a ter sua saude mental deteriorada, e em 1887 a amizade dos dois terminam.  Chartrian que morreu no dia 3 de setembro de 1890 em Villemomble. Erckmann ainda continua escrevendo algumas obras e lutando contra a loucura. Em 1888 é diagnosticado diabético e no  14 de março de 1899 faleceu em Luneville.

A lista de suas publicações é bastante longa indo de Histórias e contos fantásticos (1849), Madame Terese (1863), O amigo Fritz (1864), História de um camponês  (4 vols., 1868-1870), A história d plebiscito (1872), A taverna dos Trabans (1881). Sem nenhuma afirmação especial literária, suas histórias são distintas pela simplicidade e poder descritivo genuino, particularmente nas cenas de batalha em conexão com a vida camponesa da região de Alsacia.

Segundo Émile Zola escreveu em Meus Ódios: “O mundo de Erckmann-Chatrian é um mundo simples e ingênuo, real até na meticulosidade, falso até no otimismo. O que caracteriza, é sempre uma grande veracidade nos detalhes puramente fisicos e materiais, e uma mentira eterna nas pinturas da alma, sistematicamente adocicadas.”

Para Alphonse de Lamartine em seu Curso familiar de literatura de 1856 “ Um fenômeno, quero dizer um novo gênero de beleza na literatura, inventado como por um acidente, um tido de nascido, não responde a ninguém daqueles que os conceberam até aqui, não tendo sido nem preditos, nem anunciados, nem louvados de início, mas são nascidos de si mesmo, como um instinto inreflexivo, e conquistam a atenção como que pela força da natureza,  vindo se produzir inesperadamente entre nos. E qual é o autor ou quais são os autores deste fenômeno? Pois eles são dois, o que significam que eles são anônimos. Estes dois jovens, digo agora, se chamam um Erckmann, o outro Chatrian. Você perguntará a qual dos dois homens devemos a surpresa, a direção, a glória. Esperando, nos seguramos a coroa suspensa sobre dois tronos,  saido da coroação a sombra pra a realidade, ou o eco para a voz. Que eles se ajeitem; as grandes obras da humanidade são anônimas, um romance pode bem ser. Você gostaria depois de tanta adulação, colocar uma gota de verdade popular na memória de suas crianças? Não procure em nenhuma de suas histórias, mais no romance verdadeiro de Erckmann e Chatrian”.


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Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.