Para fortalecer e proporcionar a política de produção artística entre as mulheres negras, femininas, feministas, vindas da periferia, foi criado no ano de 2004, como zine, o Coletivo Mjiba, Jovem Mulher Revolucionária. E foi exatamente ele que ontem, dia 30, lançou o livro de poesia, Terra Fértil, da pernambucana que mora há 30 anos no Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo, Jenyffer Nascimento
O talento poético de Jenyffer Nascimento se revelou na adolescência quando ela encadeou palavras e ritmos com hip-hop. Pode-se afirmar que foi essa expressão própria da periferia que compôs o devir poético da poetisa. E foi essa estética literária que a levou a participar desde o ano de 2007, dos saraus da periferia paulistana. Essa sensibilidade é confirmada quando Jenyffer Nascimento afirma que foi “definitivamente arrebatada pela força transformadora da poesia”.
Para conhecer um pouco da poetisa, nada como observa o que escreveu no prefácio a organizadora da obra Terra Fértil, Carmen Faustina.
“Jenyffer Nascimento é mulher negra periférica, escritora, mãe, estudante, educadora, boêmia, raiz, ventania e liberdade… Mulheres negras são assim, escrevem, amam e lutam! Assim, tudo ao mesmo tempo, até porque para nós foi negado o direito à escolha, a dúvida e ao tempo do conhecimento. E ainda assim estamos em todos os cantos, espalhando sementes férteis de amor e luta mesmo invisíveis, a literatura negra feminina resiste, pois é forte e viva”, escreveu Carmen Fautsina.
O livro tem 168 páginas e custa apenas R$ 25. Um preço simbólico pela potência-poética que carrega.
Um pouco da elevação revolucionariamente poética de Jenyffer Nascimento, em seu poema O Grito.
“Carrego comigo o legado
De minha mãe, de minha avó
E de tantas outras que me antecederam.
O grito que carrego também é delas.
Pelos prazeres que não puderam ter
Pelo corpo feminino que não puderam explorar
Pelo voto e palavras negadas
Pelo potencial não exercido
Pelo choro em lágrimas secas.
Tenho um grito entalado na garganta.
Um grito denso, volumoso,
Um grito ardido, de veias saltadas.
E hoje ele vai sair.
– O corpo é meu!”