O 8° Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África e Caribe que teve sua abertura no dia 27 e vai ser exibido até o dia 4 de junho, tem como objetivo a troca de experiência de diversos cineastas de outras localidades e resgatar a presença do negro no cinema nacional e internacional.
Durante esse período serão apresentadas várias obras cinematografias com a temática da cultura negra em sua total abrangência. São cinemas que não se reduzem apenas a mostrar o preconceito e as discriminações que sofre o negro, mas também mostrar seu princípio ontológico de ser em sua negritude. Negritude como dimensão política do negro em sua liberdade e identidade.
A abertura do encontro que ocorreu no Cine Odeon, teve como exibição o filme do guineense Cheick Fantamady Camara, Morbayassa.
De acordo com Joel Zito Araújo, curador do encontro, os negros devem se prepara para o diálogo com o Brasil inteiro e não entre eles nos “guetos” do movimento negro.
“Existe uma naturalidade das narrativas, como se o ser humano fosse naturalmente branco e o negro ou o índio a exceção. Há muita história para contra, não só da população negra, mas da representação do Brasil como um país da diversidade racial. Não queremos ficar no gueto nem ficar falando para o gueto.
A temática negra não é só a discussão do racismo, envolve também aspectos da cultura negra. É um olhar do negro sobre o mundo, sobre a sua contemporaneidade.
Hoje, efetivamente, há uma nova geração de participantes negros: no Rio o pessoal do Nós do Morro e do Cufa, na Bahia há um núcleo negro importante; em São Paulo também. Estamos em um novo momento no Brasil.
O negro deixou de ter vergonha de ser negro e começou a dizer: queremos mostrar o nosso ponto de vista sobre a realidade, os nossos sonhos, os nossos desejos, as nossas angústias, as nossas vergonhas, as nossas alegrias”, analisou Zito Aráujo.
Participando do encontro, a escritora Ana Maria Gonçalves, disse que as formas de expressões artísticas culturais dos negros é muito singular.
“O universo que a gente retrata ao contar histórias, ao escrever, ao fazer cinema, ou seja o que for, é um universo muito próprio nosso, de nossas experiências pessoas e até experiências externas.
Acho que a importância em se ter mais negros em posição de escolha, do que contar e como contar, permitirá que eles contem histórias próprias, de experiências, que não têm sido contadas pelo mercado branco elitizado.
Por anos, a oralidade do negro não foi considerada literatura, e, em muitos lugares, ainda não é. Talvez o cinema realize essa nossa luta de escritores negros para que a oralidade seja considerada literatura”, observou Ana Gonçalves.
Também participando do encontro, o escritor e roteiristas Paulo Lins, disse que o negro agora se define como um ser que está fazendo cinema.
“O pessoal negro está fazendo cinema. Antes não fazia. Só quem fazia era branco. O negro está ganhando espaço, está produzindo, usando novas tecnologias, fazendo videoclipe, botando no Youtuby”, disse Paulo Lins.
As sessões cinematográficas também poderão ser assistidas na Biblioteca Parque e no Museu de Arte do Rio. E o que também é bom: gratuitamente.
Quem necessitar de arte e pretender vivenciar novas formas visuais, auditivas e cognitivas, é o momento! É preciso fazer os sentidos e a cognição ultrapassarem o que já se encontra estabelecido como realidade-imutável e necessária como dogmática da vida