Archive for Dezembro, 2015

Chico, da Mangueira, cidadão brasileiro

Dezembro 31, 2015

Rennan Teixeira

Mais ainda que artista, Chico é cidadão brasileiro. Um dos cidadãos mais estimados do país, e o documentário sobre sua vida prova isso.

Léa Maria Aarão Reis*

Entre as histórias, vinhetas, músicas, e deliciosas lembranças que ele proporciona, no filme documentário de cerca de duas horas sobre sua vida e trajetória, um presente maior e “soberano” de fim de ano aos cinéfilos e não cinéfilos, uma observação de Chico Buarque resume sua maneira de ser. “Se eu precisasse me identificar, eu falaria ‘eu sou Chico, da Mangueira’, ele diz, em uma das oito entrevistas registradas no filme do seu amigo, o cineasta Miguel Faria Jr., com o título de Chico– Artista brasileiro. Mais ainda que artista, Chico é cidadão brasileiro. Um dos cidadãos mais estimados do país, dentro e fora do bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, onde foi abordado e insultado, na calçada, há dez dias, por meia dúzia de pilantras desocupados.

A bilheteria do filme que estreou um mês atrás e já vinha com um desempenho de sucesso embora concorrendo com um campeão de público, Guerra nas Estrelas, ganhou uma dimensão ampliada com a imediata, imensa e indignada repercussão nacional sobre o lamentável episódio em que Chico foi agredido por suas posições políticas.

Está sendo exibido em circuito nacional: Brasília, Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e Belo Horizonte. Ao final das sessões, que já vinham superlotadas, o documentário continua sendo aplaudido, e a sala se emociona. Como numa espécie de desagravo simbólico a um dos seus maiores ídolos da MPB; a um dos nossos escritores vivos mais interessantes, (em especial pelo seu livro O Irmão Alemão), mas, sobretudo ao cidadão exemplar que ele sempre foi e é.

Miguelzinho, (autor de mais dois outros lindos docs musicais; Vinícius e Lamartine Babo), como Faria Jr. é conhecido desde os anos 60, assíduo do mitológico restaurante Antonio’s, no Leblon, é amigo de longa data de Chico. Daqueles de andar no calçadão em sua companhia, em paz, sem que ninguém incomode ou perturbe o mito. “São cinco décadas de amizade; e agora, para o filme, 20 horas de gravações de entrevistas sem nada de recomendações particulares ou restrições por parte dele,” diz.

Sobre uma contradição sugerida por Chico, que se diz mais da ala literária, apesar de se ver de preferência como da “turma da música”, o diretor esclarece: “Acho que ele se refere a isso, de haver muita panelinha entre os autores. O pessoal da música é mais descontraído. Não tem aquela coisa, entre aspas, de ser escritor”.

Outro lance, no filme, revelador da sua elegância – no sentido total: educação, reserva, discrição e respeito pelos outros – características que faltam aos fascistas – é a história contada por um dos seus músicos. Chico gosta, antes dos shows, de sair do seu próprio camarim para bater um papo no espaço reservado aos músicos veteranos que o acompanham de longa data. “Quando bate na porta a gente já sabe. É ele. Só o Chico faria isso: bater na porta do camarim antes de entrar.”

Um entrevistador sempre invisível conduz a estrutura narrativa do doc intercalando falas do protagonista com preciosas imagens. Sequências de fotos de álbum de família – Maria Amélia, sua mãe, com o bebê Chico no colo, na Copacabana dos anos 40. Filmetes caseiros, trechos de shows históricos, arranjos emocionantes de autoria de Luiz Claudio Ramos. Interpretações antológicas: as de Ney Matogrosso e da portuguesa Carminho são de arrebatar;  e tem Betânia ontem e hoje; Péricles, Laila Garin, Monica Salmaso,  Calcanhoto, Mart’nália, e pequenas entrevistas/flashes com amigos de toda vida.

Chico e Bob Marley numa pelada, no Rio, jogando futebol. “Sabe”, conta Chico, rindo, “que num museu que reúne tudo sobre Marley perguntaram a ele quem era aquela figura ao seu lado, aqui”, e aponta uma foto dos dois, com a bola, emoldurada, na parede do seu estúdio, entre outras tantas. “O guia disse: bem, este é um cantor alemão…”

O saudoso Hugo Carvana lembra o olhar do amigo dirigido a Marieta Severo quando a viu pela primeira vez, andando, na porta do teatro. “Perguntou: ‘quem é?’ Não era o olhar do homem para uma mulher que achava gostosa; era o olhar de quem está querendo saber o motivo do atraso da moça;  ‘mas onde ela estava que só apareceu agora?’ o seu olhar indagava.”

Há imagens dele com o grupo de escritores e intelectuais frequentadores da célebre cobertura de Rubem Braga, em Ipanema. Paulinho Mendes Campos, Tom, Sabino, Millor, Otto, o fotógrafo Paulo Garcez (são de Paulinho diversas fotos usadas no filme) e Chico, bem mais moço que todos, conversando com um Manuel Bandeira idoso, numa de suas raras e últimas aparições.

E há discrição nos assuntos da vida privada, do casamento e da família. Miúcha é entrevistada e três dos seus sete netos fazem música acompanhada por ele, no seu apartamento; antes da sessão, na cozinha, o avô serve bolachas guardadas dentro do pote. Comenta-se no filme a renovação do seu público.

O casal Chico e Marieta no exílio, em Roma, ele sendo entrevistado, responde em fluente italiano. O retorno ao país e a raiva pela censura sistemática às suas composições, e sua surpresa vendo a ditadura apoiada por grande maioria da sociedade civil. “Fiquei impressionado com a quantidade de carros com os adesivos de ‘Brasil ame-o ou deixe-o’.

Outro tema sobre o qual conversa, é o da memória e das lembranças. Também da “memória falsa”, irmã da “fantasia e da imaginação.” “Por exemplo, eu lembro que vi o Zepelin passando, do colo da minha avó; tenho certeza! É uma memória falsa. Naquela época não exista mais Zepelin voando para o Rio…”

Imagens para a passagem entre sequências, são da mata e da imensidão de um mar esparramado sob o janelão da sala de Chico, ao pé do emblemático Morro dos Dois Irmãos. Outras, dele em Berlim  onde foi parar buscando rastros deixados pelo irmão, Sergio Günther, que realmente existiu, foi cantor e compositor. Chico cantarola A Banda numa versão alemã.

A impecável montagem de Diana Vasconcellos de todo este material e a bela fotografia de Lauro Escorel – todos são trabalhos das amizades de Chico. A colaboração do escritor Eric Nepomuceno e das amigas jornalistas Martha Alencar e Regina Zappa. Os figurinos de Marília Carneiro.

Poético, jornalístico e de uma delicadeza muito particular, este Chico – artista brasileiro onde o compositor fala de uma solidão que não sente: “Gosto de estar sozinho; trabalho, leio, escrevo, vejo futebol na TV.” Disfarça e desmente, para surpresa geral, a imagem de grande tímido: “Na família, quando eu era menino, me chamavam de showboy.”

O tempo que passa deixando pouco tempo para projetos. Shows, músicas novas, gravações, livros. Faz as contas de quanto tempo levará para fazer tudo isto, desiste e ri. Ele ri muito.

Chico pertence a uma espécie que,  ao contrário do que se pensou, neste ano, não se encontra em extinção. A prova são as quase 40 mil pessoas que, pela internet, estão saudando o ano novo tomando uma cervejinha com Chico. Nós nos juntamos ao brinde. Que 2016 dê passagem para Chico Buarque de Holanda, cidadão brasileiro.

*Jornalista

VIVA O VINIL! – ROSA REIS – EU NÃO SEI ONDE DEIXEI MEU SANGUE, MESMO ASSIM AINDA PULSA…

Dezembro 30, 2015

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Olha aí, esquizovinilfílicos! Estamos adentrando no Estúdio Guidôn, no ano de 1993 para assistir a gravação independente da bolacha-crioula da talentosíssima Rosa Reis que na pia batismal recebeu o nome de Rosangela de Jesus Santos Reis. Com se observa, um nome fortemente abençoado. E apoiado nas pedras de cantaria, onde ela concebeu a capa da bolacha-crioula. Esse calçamento com pedra de cantaria é colonialmente histórico e narra os percursos dos personagens que por aí passaram construindo a cidade. Na verdade, uns construindo e outros traindo.

P1010607Rosa Reis é mais uma revelação musical da terra de Gonçalves Dias, onde os sabiás não cansam de pousar nas palmeiras para cantar em um gorjeio que não se encontra por cá. Rosa Reis antes de gravar essa original bolacha-crioula frequentava o Laborarte, templo da arte de artistas do Maranhão dirigido por Nelson Brito, e cantava nas noites aprazíveis de São Luiz. Cidade encantada como canta a lenda popular. E, além de ser foliã vibrante e cantante do carnaval de São Luiz que é verdadeiramente dionisíaco.

P1010606 P1010608 P1010609Essa joia raríssima que foi produzida pelo múltiplo-artista Nelson Brito, apresenta talentos como o conhecidíssimo Chico Maranhão, colega de faculdade, pelada e música de Chico Buarque, que as aberrações-urbanas invejam; Nicéas Drumond, Cecílio, Zé Pereira Godão, Nosly Junior, Gláucio Barbosa, Zeca Baleiro, Joãozinho Ribeiro, Chico César, Norberto Abadon e Tião Carvalho.

LADO – A

Senzalas/Gueno/Lances de Agora/Pirilampo Pereira/Te Gruda.

P1010611LADO – B

Mesmo Assim/Mama África/Os Cães/Nós/Mal Me Quer.

P1010612Direção Musical e Arranjos – Jayr Torres.

MÚSICOS

Guitarra, teclados e baixo: Jayr Torres, Serra Neto e Zeca Baleiro.

Percussão: Lázaro, Erivaldo Gomes e Peixinho.

Vocal: Rosa Reis e Leojane.

Animação: Erivaldo Gomes e Jayr Torres.

FICHA TÉCNICA

Técnico de gravação: Fernando Henrique.

Assistente de gravação: Nonato Silva e Murilo.

Técnicos de mixagem: Ezequias Aureliano e Fernando Henrique.

Fotos: Murilo Santos.

Arte Gráfica-Capa: Cláudio Vasconcelos.

Arte Gráfica-Encarte: Lithograf.

Agradecimento: Maestro Nonato, Marcelo Moreira, Ricardo Decelso, Leojane e Murilo Santos.

VIVA O VINIL!

Devoção a São Benedito marca festas no interior do Pará

Dezembro 29, 2015

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As cidades de Bragança e Santarém Novo, na região nordeste do Pará, realizam na segunda quinzena de dezembro festividades que homenageiam o santo. Em um misto de festa sacra e profana, as celebrações centenárias são marcadas por orações e músicas tradicionais como o retumbão e o carimbó.

Apesar de muito próximas geograficamente, as manifestações guardam muitas peculiaridades nas suas manifestações. Festividade com mais de 200 anos, a homenagem a São Benedito em Bragança ganha proporções gigantescas onde predomina o caráter sacro.

O ponto alto da festa que dura oito dias é a procissão de São Benedito que é realizada no dia 26 de dezembro. De acordo com organizadores da festa e da igreja católica a procissão deste ano reuniu de 100 a 200 mil participantes.

Entre este público uma boa parte se vestia de marujos, devotos de São Benedito que mantém a tradição das vestes em vermelho e branco e chapéus enfeitados, preservando uma tradição que foi herdada dos escravos.

A parte musical, no entanto, fica por conta das marujas que dançam o retumbão, em uma manifestação coordenada quase que exclusivamente pelas mulheres.

Território do carimbó

Ainda na ressaca do Festrimbó, que aconteceu de 18 a 20 de dezembro, a cidade de Santarém Novo realiza a festa de São Benedito de 21 a 31 de dezembro. São dez dias de ladainhas, alvoradas e muito carimbó no barracão da irmandade de São Benedito na cidade.

“Aqui, quase ninguém faz festa de fim de ano porque as pessoas não vão. Está todo mundo no barracão do carimbó”, explica Isaac Loureiro, ativista cultural, pesquisador e presidente da Irmandade do Carimbó de São Benedito.

Ele é um dos principais articuladores que fizeram de Santarém Novo um pólo catalisador da cultura tradicional no Pará. Mas não tem sido simples criar condições para a preservação da identidade do carimbó durante o ano inteiro.

Neste ano, por exemplo, a 13ª edição do festival aconteceu sem patrocínio, mesmo tendo o carimbó conseguido em 2014 o reconhecimento como patrimônio imaterial da cultura nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional  (Iphan). A campanha pelo reconhecimento começou no festival de Santarém Novo.

Novas gerações

carimbopequenos88489Na luta pela preservação dos saberes popular a irmandade de São Benedito e a comunidade de Santarém Novo vê o carimbo se revigorar através das novas gerações. Crianças e jovens da comunidade incorporaram os toques e a forma de apresentação do carimbó e se apresentam durante os dez dias de festa.

O tradicional conjunto de carimbó Os Quentes da Madrugada traz agora músicos da nova geração com as presenças dos cantores da tradição mestre Ticó e Candinho, que se revezam até as quatro da madrugada todos os dias da festa no barracão.

Em Santarém Novo o traje para dançar no salão é peculiar: para os homens terno e gravata e as mulheres de saias longas e rodadas e blusas de mangas. Tudo com muito rigor para homenagear o santo.

Do Portal Vermelho, com informações do Portal ORM News e Blog Festrimbó

A Vida de Brian: Pelos direitos humanos, contra a realidade

Dezembro 28, 2015

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No filme, religião e política se misturam. A religião é vista de maneira política e a política tratada como religião com seu elenco de verdades absoluta.

Léa Maria Aarão Reis*

Brian Cohen nasceu no ano de 33, na província da Judéia, quando a Roma imperial ocupava a região através do seu preposto, o prefeito Pôncio Pilatos. Brian nasceu no canto de uma manjedoura, vizinho de outro bebê que também viera a este mundo na mesma hora: o menino chamado Jesus. Desde os primeiros momentos, a existência de Brian foi atribulada por sempre confundirem-no com o bebê do lado. Quando sua execrável mãe enxotou os três Reis Magos e deles tentou surrupiar o ouro que traziam destinado na verdade ao bebê vizinho, a cupidez humana se mostra entranhada na sua saga. Mais adiante, a ignorância, a alienação da massa histérica repetindo dogmas e mantras de forma cega e robotizada, e o cinismo do ambiente são a moldura da breve vida de Brian, morto crucificado aos 33 anos por ordem do juiz Pilatos sem qualquer culpa formada – exceto a de exalar carisma, motivar e mobilizar as massas, e entusiasmar os indivíduos humildes, aqueles que eram “o problema”, no dizer dos personagens dos burgueses ricos.

Uma sucessão inacreditável de mal entendidos e de lances do acaso, (o mesmo acaso do qual fala Woody Allen nos seus filmes), pontuam a vida de Brian. Esta sua trajetória é narrada no brilhante filme Life of Brian, de 1979, hoje um clássico do cinema  inglês, de autoria do cineasta Terry Jones, integrante do genial grupo Monty Python*. O mesmo grupo que sacudiu a forma de fazer humor, no mundo inteiro, nas décadas dos 70/80, inclusive no Brasil, inspirando o gênero batizado aqui de besteirol.

O filme de Jones, quando estreou, foi criticado ferozmente e dividiu opiniões apaixonadas. Houve e há ainda quem o veja como um filme antissemita. Os católicos viram nele uma blasfêmia. Mas outros o avaliam como uma genial e demolidora crítica à sociedade, até hoje atual; o que o filme na verdade é.

No ano 33, na Judéia, Brian vive uma vida paralela à de Jesus Cristo e sofre por ser confundido com ele. A confusão começa quando finge ser um pregador para fugir dos centuriões, mas tem suas pregações levadas a sério, arrastando atrás de si uma horda de seguidores. Para escapar da perseguição dos romanos, Brian se alia a uma coligação de grupo de oposição ao regime, a esquerda (ou a guerrilha) da época: a mais radical, a Frente do Povo Judeu; a Frente Judaica do Povo e a Frente Popular, esta representada por apenas um único homem velho, remanescente.

Por sua vez, pregam: “Jesus não percebe que abençoado é qualquer um bem vestido e à procura de status.”

As três organizações trabalham juntas “em defesa dos direitos humanos e contra a realidade”, em momentos específicos, por conveniência. Planejam sequestrar Pilatos. Na verdade, não se entendem e se detestam. Lutam por uma mesma causa, mas não conseguem conquistar uma vitória porque brigam e disputam todo o tempo entre si, nas intermináveis reuniões teóricas e até na violência física.

A farsa, para o Monty Python Terry Jones é permanente. Camelôs vendem pedras aos que se encaminham para assistir o espetáculo dos apedrejamentos. Algumas, pedras pontiagudas, outras achatadas, grandes ou pequenas, conforme o gosto do freguês. Alusão clara aos linchamentos da mídia e aos fetiches do consumo.

No filme, religião e política se misturam. A religião é vista de maneira política e a política tratada como religião com seu elenco de verdades absolutas. O Outro nunca conta, é claro.

Em uma das intermináveis reuniões dos grupos ‘guerrilheiros’ discutem-se quais os benefícios trazidos pelos romanos para os judeus. Para além dos aquedutos, das estradas, saneamento, irrigação, cultura vinícola, educação, casas de banho, medicina. “Mas e para nós? O que fizeram por nós?” eles se perguntam.

“Eu não sou o Messias,” berra Brian, tentando, desesperadamente, esclarecer a confusão de identidades. O povo insiste: “É, sim!” “Então vocês vão se f…”, responde Brian, desanimado e entregando os pontos. Mas a massa/zumbi insiste e pergunta: “E como devemos  nos f..?”

“Pensem pela sua cabeça porque vocês são independentes! Vocês devem cuidar de vocês mesmos! Não deixem que os outros mandem em vocês!” vocifera Brian, procurando se desvencilhar da horda.

O velho leproso, curado por um “maldito milagre”, se lamuria, num canto. Antes, como um leproso, era mais fácil para ele ganhar a vida pedindo esmolas.

Duas sequências de A Vida de Brian são particularmente empolgantes. Diálogos que manejam o virtuosismo da inteligência em alta voltagem. Uma, no palácio, com Pilatos, que sofre de um distúrbio da fala, a dislalia, e troca ‘rs’ pelos ‘ls’. O juiz que condenará Brian sem culpa formada – quanta atualidade aí para o espectador brasileiro, neste momento – interroga Brian e, ao mesmo tempo, submete seus guardas à tortura ao proibir os acessos de risos deles diante do ridículo das suas falas. Se os centuriões não conseguirem reprimir o riso, serão presos e executados.

Outra sequência magistral é a do grand finale com a crucificação. Dezenas de prisioneiros são encaminhados por um burocrata romano ao Gólgota. A fila e o controle social são bem organizados. Já pregados e amarrados nas cruzes, os castigados acabam cantando, em coro, como num musical de Hollywood, a bonita composição que se tornou célebre no mundo inteiro e se transformou na marca musical do Monty Python: ”Dê um sorriso e olhe sempre para o lado bom da vida. (Always look on the bright side of life).

O autor da canção é Eric Idle, ator, escritor, cantor, compositor e guitarrista, hoje com 72 anos. Foi um ativo membro do grupo britânico. Com essa sua célebre composição, Idle provoca no espectador, nesse final da vida de Brian, não gargalhadas, mas  sorrisos amarelos.

É que conviver com néscios é dureza. Só é suportável sorrindo.


*Jornalista


**Alusão ao general Bernard Montgomery, herói britânico da Segunda Guerra Mundial.

JANAÍNA OLIVEIRA DOUTORA EM HISTÓRIA DO INSTITUTO FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FALA DA ATUAÇÃO DA MULHER NEGRA NO CINEMA

Dezembro 27, 2015

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A doutora em história Janaína Oliveira que é coordenadora do Fórum Itinerante do Cinema Negro (Ficine) e curadora do Festival Panafricano  de Cinema e Televisão Ouagadougou (Fespaco) concedeu entrevista à jornalista Isabela Vieira, da Agência Brasil, e falou sobre a situação da mulher negra no cinema negro do Brasil. Para ela a mulher negra do cinema brasileiro já ocupou seu lugar no cenário nacional de internacional.

Durante a entrevista a professora Janaína Oliveira mostra o que é o cinema negro, quem está produzindo cinema negro no Brasil, as expectativas do cinema negro cinema  no Brasil entre outros temas referentes a esta estética.

Leia a entrevista, analise e tome sua posição.

janaina-oliveira“Nos últimos dez anos nos acostumamos a ver mais negros nas telas fazendo alguma coisa. Mas é pontualmente, fazendo algumas coisas. Ainda estamos presos a um universo de estereótipo. Que não é só o do bandido, o do cafetão, mas o da falta de complexidade das personagens”

Qual foi sua primeira experiência com esse formato?

Sempre gostei de cinema e muito de cinema africano. O primeiro filme africano que vi foi no festival de Cinema do Rio, o Vida sobre a Terra, de Abderrahmane Sissako(diretor, escritor e cineasta da Mautiânia, autor deTimbuktu, longa-metragem que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2014 e a prêmio no Festival de Cannes no mesmo ano).

Quem está produzindo cinema negro hoje no Brasil?

Antes é importante esclarecer que estamos falando de curtas-metragens, falar de longa-metragem é outra coisa, são pouquíssimos os negros que fizeram filmes de longa-metragem de ficção na nova geração, aliás, fica a provocação. Nesse universo, onde as pessoas efetivamente produzem – seja com ajuda de editais, seja nas universidades –, o que temos, de filmes de expressão, que atingiram patamar de técnica e de qualidade são os filmes feitos por mulheres negras. E são várias.

Quais?

São as produções de Renata Martins, que fez Aquém das Nuvens e agora está fazendo uma websérie fenomenal, a Empoderadas, que só fala de mulheres negras, tem a Juliana Vicente, que fez o Cores e Botas e oMinas do Rap e está produzindo um filme sobre os Racionais MCs. Tem a Viviane Ferreira, que fez o Dia de Jerusa, que foi para Cannes. Tem uma menina que está nos Estados Unidos, Eliciana Nascimento, autora de O Tempo dos Orixás, tem Everlaine Morais, de Sergipe, que fez dois curtas muito bons e vai estudar cinema em Cuba. E do Tela Preta (coletivo de realizadoras negras ligado à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), a Larissa Fulana de Tal, que fez o Lápis de Cor e acabou de lançar o Cinzas. No Rio, o nome da vez é Yasmin Thayná, que está bombando com o Kbela. Um filmaço, no sentido da técnica e das referências. Quer mais?

Então há mais filmes com estética e cultura negra nos últimos anos?

Nos últimos dez anos nos acostumamos a ver mais negros nas telas fazendo alguma coisa. Mas é pontualmente, fazendo algumas coisas. Ainda estamos presos a um universo de estereótipo. Que não é só o do bandido, o do cafetão, mas o da falta de complexidade das personagens. Os relacionamentos amorosos, os dilemas da vida, onde estão essas coisas? Não estão nas telas.

Qual a novidade nas produções brasileiras que você tem levado aos festivais?

Uma coisa bacana é que nessa conexão com o continente africano, estamos redespertando debates. Em Moçambique, por exemplo, temos o retorno de que os vídeos sobre transição capilar (do cabelo alisado para o cabelo crespo, natural) tem ajudado mulheres e meninas de lá. Esses produtos, principalmente filmes disponíveis no Youtube, são feitos por meninas negras brasileiras. É quase uma rede de solidariedade. O audiovisual tem a capacidade de fazer isso.

E como aumentar a demanda por esse conteúdo no Brasil?

A formação de público é uma questão central. Os filmes precisam ser vistos. Mas mostrar os filmes (em salas de cinema ou televisão) não é suficiente, se fosse, o problema estava resolvido. As pessoas não veem porque elas não gostam e mudar o gosto leva muito tempo. Enquanto você tem uma novela premiada como a Lado a Lado, da Rede Globo (que recebeu o Emmy Internacional em 2013), passando às 18h, em 50 anos da principal emissora de TV do país, você tem uma série como o Sexo e as Negas, em horário nobre com forte divulgação comercial e circulação.

Mas é preciso começar a estimular, não?

Ainda vivemos em um contexto de imagens que precisamos desconstruir. O cinema é uma indústria, uma indústria de dinheiro que constrói imagens que querem ser vistas. Temos um padrão de cinema de Hollywood, daquilo que você espera ver. E esse padrão repete as estruturas de um universo eurocêntrico onde muito claramente está dividido o lugar das pessoas negras e brancas. Então, o que você vê, em geral, são negros e negras em situação de subserviência, nunca em destaque, sempre com atributos negativos. Isso está no universo da colonização da cultura, do gosto, da estética. É a mesma razão para a gente falar “a coisa está preta” quando a situação é negativa. Por que “denegrir” é uma coisa ruim? Por que usar “a coisa fica preta” é ruim? A gente não inventou isso, a gente reproduz isso e isso está nas telas. O cinema que existe é um cinema eurocêntrico que determina padrões estéticos, narrativos, rítmicos e musicais. Se não é isso, pessoas não gostam. Os filmes brasileiros de sucesso, como Tropa de Elite, seguem esse padrão.

E o que é preciso fazer?

Formar redes de distribuição desses filmes. Se possível, junto com debates. É ir além da exibição. As novas imagens têm que chegar nas salas de aula, criar aderência. Além de mais editais, mais parcerias e a presença do Estado, que facilita a produção e a circulação.

TRÊS POEMINHAS DE CORA CORALINA, FERNANDO PESSOA E MANUEL BANDEIRA TOCANDO DE LEVE NO NATAL

Dezembro 26, 2015

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Então, fica combinado! É movimento natalino além da imobilidade da fantasia consumista que afasta Cristo dos iludidos que amam a aparência hipnogógica comandada pelo capitalismo-opulência.

Então, fica combinado! Cristo se movimenta poieticamente nas transposições dos poetas espiritualizados por seu Nascimento-Maria.

Cora Coralina, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira não permitem bandeiras despiritualizadas de Cristo-Natal.

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                           POESIA DE NATAL

                                                Cora Coralina   

Enfeite a árvore de sua vida

com guirlandas de gratidão!

Coloque no coração laços de cetim rosa,

 amarelo, azul, carmim.

Decore seu olhar com luzes brilhantes

estendendo as cores em seu semblante.

 

Em suas listas de presentes

em cada caixinha embrulhe

um pedacinho de amor,

carinho,

ternura,

reconciliação,

perdão! 

Tem presente de montão

no estoque do nosso coração

e não custa um tostão!

A hora é agora! Enfeite seu interior!  Sejas diferente1 Sejas reluzente!

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            CHOVE. É DIA DE NATAL

                                Fernando Pessoa

“Chove. É dia de Natal.

Lá para o Norte é melhor:

Há a neve que faz mal,

E o frio que ainda é pior.

 

E toda a gente é contente

Porque é dia de o ficar.

Chove o Natal presente.

Antes isso que nevar.

 

Pois apesar de ser esse

O Natal da convenção,

Quando o corpo me arrefece

Tenho o frio e Natal não.

 

Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem fez,

Pois se escrevo ainda outra quadra

Fico gelado dos pés”.

 

manuel

                        VERSOS DE NATAL

                                                        Manuel Bandeira

“Espelho, amigo verdadeiro,

Tu refletes as minhas rugas,

Os meus cabelos brancos,

Os meus olhos míopes e cansados.

Espelho, amigo verdadeiro,

Mestres do realismo exato e minucioso,

Obrigado, obrigado!

 

Mas se fosse mágico,

Penetrarias até o fundo desse homem triste,

Descobririas o menino que sustenta esse homem,

O menino que não quer morrer,

Que não morrera senão comigo,

O menino que todos os anos na véspera do Natal

Pensa ainda em por os seus chinelinhos atrás da porta”.

O TRONO DO ESTUDAR GRAVADO POR CHICO, DANI BLACK, ZÉLIA DUNCAN, PAULO MIKLOS E OUTROS É TRIBUTO A LIBERDADE DE SER

Dezembro 26, 2015

estudar

Quando o filósofo alemão Nietzsche movimenta sua Vontade de Potência ele só afirma no que a Vida se constitui: Devir-Produção contínnum do Novo. O homem é vida produtiva-natural. Quando o filósofo francês movimenta a sua Vontade de Saber ele apresenta o saber como a potência criativa do homem. Produzir e criar são do Homem, assim como na Natureza.

Só há conhecimento fenomenal e científico porque há Vontade de Saber. E só há saber em função da disposição de se atuar como produtor-criador no Mundo. Assim, estudar é trabalhar com o que foi produzido e criado em encadeamento com a Vontade de Potência e Vontade de Saber que movimentam novas formas de saberes e dizeres.

Como potência é política, já que política é poieses e práxis, estudar é um caso de politica. Logo, o a práxis-poiética dos estudantes que lutaram para anular o plano de ‘reorganização’ do ensino público apresentado pelo governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do partido PSDB, o partido que tem o pior sentido do educar, exemplo Fernando Henrique, foi à realização da Vontade de Potência pela Vontade de Saber.

Foi por ser movimentado como produção e criação de novas formas de se mostrar estudante, que artistas como Chico Buarque, Zélia Duncan, Paulo Miklos e outros, gravaram a composição do músico Dani Black, O Trono do Estudar criada para compor com o movimento produzido e criado pelos estudantes das escolas públicas.

Uma potência-musical! Ouça o vídeo, analise e forme sua consciência produtiva-criativa!

Conto de Natal: Feliz Ano Novo Charlie Brown

Dezembro 25, 2015

Conto de Natal: É Natal De Novo Charlie Brown

Dezembro 24, 2015

DEVIR-POLÍTICO DE ESTUDANTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE SÃO PAULO LEVA ARTISTAS, COMO CHICO, GRAVAREM “O TRONO DO ESTUDAR”

Dezembro 23, 2015

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O plano de ensino antidemocrático do governador do estado de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) teve uma importância que não se deve desprezar: levou os estudantes das escolas publicar a revelarem seu devir-político.

Enquanto Alckmin acreditava que seria fácil despachar estudantes para longe das escolas das comunidades onde estavam matriculados, realizando desta forma uma visível violência educacional que mexeria com as estruturas das famílias, os estudantes passavam a revelar sua potência. Ou, como diria o filósofo Nietzsche, sua vontade d saber.

Como forma de garantir seus direitos democráticos de estudantes, eles deixaram a posição passiva de aluno que somente recebe e engole os conteúdos programáticos e as ordens da direção da escola, e passaram a condição positiva de produtores de suas realidades. Resistiram a arbitrariedade de uma plano que não ouviu a comunidade e muito menos os estudantes usando formas variadas de corpos de defesa.

Ocupar suas escolas foi uma delas que deu resultado chegando a afetar a sociedade de São Paulo como também a sociedade de outros estados do Brasil. E como era já esperado, em situação como esta não faltou à violência policial e o conluio das mídias reacionárias que esconderam o que realmente estava acontecendo.

Como se trata de um verdadeiro movimento, visto que muda a estrutura fossilizada defendida pelo governo, outros seguimentos político-social passaram a apoiar os secundaristas, como foi o caso dos artistas. Foi assim que afetado por corpos alegres o cantor-compositor Dani Black compôs a música O Trono Estudar que foi apresentada na Virada Ocupação em homenagem as estudantes.

“No Brasil, como em qualquer país, o estudar tem que ser o Rei. E como maior honra. Vamos Brasil. Ninguém tira o sonho do estudar.

Em apenas dois dias, a música se espalho pela rede de modo violento, tendo milhares de compartilhamento e mais de 500 mil visualizações. Mas melhor do que isso: virou ação”, disse o cantor-compositor.

Agora, artistas como Chico Buarque, Dado Villa-Lobos, Paulo Miklos e mais 15 artistas vão gravar a música para fortalecer mais ainda a resistência dos estudantes diante do plano antidemocrático.

No último dia 4, o governador suspendeu o plano de ‘reorganização’, mas os estudantes prometeram continuar engajado na luta, porque é impossível deter um devir-político.

Veja e ouça a interpretação livre de Dani Black da música O Trono do Estudar. Faça sua análise e tome sua posição.