Archive for Dezembro, 2018

LUIS NASSIF: VANDER LEE: O LÍRICO QUE A MPB ESQUECEU

Dezembro 31, 2018

O Jornal de todos Brasis

EM 31/12/2018

A primeira vez que me falaram de Vander Lee foi em um caso de amor em crise. Nas noites de solidão, a amada afogava as dores da solidão nas canções de Vander Lee, especialmente a música “Românticos”. Passou a informação e, nas noites solitárias de Higienópolis, o elo a unir dois corações complicados era o lirismo de Vander Lee. 

E fui tentar saber mais sobre ele. Era mineiro, de Belo Horizonte. Mas, o fato de não pertencer à árvore generosa do Clube da Esquina, o colocara em uma segunda divisão, dos compositores de cantigas românticas, aliás, um gênero tão lírico que merecia figurar no primeiro nível da MPB, juntando Vander Lee, Marcelo Jeneci e outros filhos de Chico César. Aliás, os nordestinos conseguiram mais reconhecimento, com os grandes Geraldo Azevedo, Vital Farias, Xangai.

Tempos depois, escrevi a contracapa do CD de Corina Magalhães, mineira de Cambuí que chegou à final da categoria Samba do Grammy Latino. No repertório, muito bem escolhido, o sincopado “Galo e Cruzeiro”, da melhor escola João Bosco-Aldir Blanc. Vou conferir o autor e era Vander Lee.

A partir dali, passei a garimpar Vander Lee no Youtube e em outros sites de música. E fui descobrindo o lírico de “Esperando aviões”

E o sincopado, perfeito na música e letra, como em “Sambado”

Escrevi sobre ele, manifestando meu espanto pelo pouco reconhecimento de sua obra pelos decanos da MPB (https://goo.gl/rm25eS). Na semana seguinte haveria um show no Ibiarpuera. Recebi um convite da produção e fomos, em dois casais, assistir. Foi um espetáculo inesquecível, com o auditório repleto de jovens acompanhando em coro todas as canções. Podia não ter reconhecimento da MPB. Mas tinha ganhado o coração de uma legião imensa de admiradores.

No final do show, nos convidou a ir ao camarim para receber um abraço. Saímos de lá com a sensação de ter conhecido um ser iluminado.

Pouco tempo depois, a notícia da sua morte, moço, aparentemente tranquilo, se bem que os líricos e românticos sabem esconder a intensidade dos sentimentos em versos delicados.

Naqueles dias, não saiu do player do computadora oração em forma de toada, o testamento lírico de Vander Lee, prenunciando a passagem próxima. O poeta conseguiu se poupar dos tempos de ódio que se formavam mais à frente.

 

RBA: UMA PRECE POR ANA ROSA KUCINSKI, QUE TEM HISTÓRIA RESGATADA EM LIVRO

Dezembro 30, 2018
MEMÓRIA
Pesquisadora narra trajetória de professora e militante, desaparecida em 1974 com seu companheiro. Escritor e jornalista Bernardo Kucinski procura até hoje pela irmã
por Vitor Nuzzi, da RBA.
TRECHO DE CAPA DE KADDISH/REPRODUÇÃO
Ana Rosa Kucinski

Livro sobre Ana Rosa Kucinski tem impressão após atingir meta de pedidos pelo site da editora

São Paulo – Kaddish (Prece por uma desaparecida) é o título do livro escrito por Ana Castro, que acaba de ser lançado pelo grupo editorial Livramento. No ritual judaico, é uma oração feita logo depois do sepultamento. Ana Rosa Kucinski Silva não foi sepultada. Desapareceu em 22 de abril de 1974, em São Paulo, aos 32 anos, juntamente com seu companheiro, Wilson Silva, com quem se casou em sigilo em 1970. Nunca mais se soube deles. O escritor e jornalista Bernardo Kucinski até hoje procura pela irmã, e seu ingresso na literatura de ficção, há quase uma década, foi inspirado na busca de seu pai por Ana Rosa.

A história sem fim é narrada por Ana Castro, pesquisadora e autora do documentário Coratio, que também trata da ditadura e da violência do Estado. O livro de 200 páginas foi escrito com base em depoimentos de amigos e colegas de Ana Rosa, que se formou em Química pela Universidade de São Paulo, do irmão Bernardo e da correspondência familiar que se preservou. Assim, é possível conhecer um pouco de sua trajetória e seu pensamento. Ela é descrita como uma pessoa direta no convívio, por vezes dura, mas afável com aqueles de quem gostava.

Pedidos podem ser feitos à editora Letramento, que volta de recesso em 7 de janeiro

Estudante e profissional na área de exatas, Ana Rosa sempre teve gosto por música (erudita em especial), teatro, literatura, cinema. E também era uma observadora crítica da realidade. Em suas cartas, traz sempre comentários sobre o momento político do país, que muitas vezes revelam uma incômoda proximidade com os tempos de hoje, e faz várias críticas à imprensa. Também revela uma relação familiar conturbada (além de Bernardo, havia outro irmão, Wulf) e muitos dilemas existenciais.

“Eu me conformo porque parece que não sou só eu que estou cheia, por aqui todo mundo anda cheio e, pelo que a Isa Mara me contou da Europa, por aí também as pessoas estão cheias”, escreveu em 1971 a Bernardo, que morava na Inglaterra, trabalhando na BBC. “Uma coisa que atrapalha também é isolamento. Todo mundo tem medo de todo mundo. Não tem zum-zum nenhum por aqui. É uma estagnação bárbara. Cada dia que a gente passa, apesar de inútil, parece um milagre, não sei…”

Durante bastante tempo, Ana teve uma “vida dupla”, com sua vida profissional e pessoal e a atividade de militante política. Depois da Ala Vermelha, ela integrou a Ação Libertadora Nacional (ALN), da qual Wilson Silva teria sido “peixe grande”, na avaliação de Bernardo.

Por alguns relatos, Ana Rosa, mesmo em perigo, não quis deixar o Brasil para ficar ao lado do companheiro. O historiador Moniz Bandeira, por exemplo, lembra de um pedido enfático de Ana para que ele tentasse convencer Wilson a sair do país, enquanto o próprio Wilson dizia que aquele seria seu último ano de vida. 

Naquele 22 de abril de 1974, Ana Rosa encontrou-se com a amiga Ignez Salas Martins, na Faculdade de Saúde Pública da USP. Ela queria ajuda para convencer o chefe a dar uma licença para tratamento médico – e assim, quem sabe, sumir por uns tempos, já que estava na mira da ditadura. Conversaram por volta das 11h.

Ana disse que voltaria às 14h para juntas conversarem com seu chefe e orientador. Explicou que tinha antes um compromisso na Praça da República. Ao sair do prédio, encontrou outra amiga, Sophia Szarfarc, e disse que estava sendo seguida. Nunca mais voltou.

No livro, Ana Castro lembra que o destino de Ana Rosa e Wilson Silva ainda é nebuloso. Ela teria sido presa perto de onde morava, na Pompeia, zona oeste de São Paulo. Ele, horas antes, capturado na Avenida 23 de Maio, região central. Ambos teriam sido levados para a chamada Casa da Morte, em Petrópolis (RJ).

Por um relato do ex-delegado do Dops Cláudio Guerra, os corpos foram incinerados em uma usina no norte do estado do Rio. “Nunca se soube quais eram as acusações formais contra eles”, lembra a autora. Em 26 de fevereiro, foi lavrada uma certidão de óbito de Ana Rosa Kucinski (ou Ana Rosa Kucinski Silva), tendo o irmão Bernardo como declarante.  

Em rede social, a autora do livro, que foi convidada por Bernardo para escrevê-lo, lembra que Ana Rosa é uma das 210 pessoas ainda desaparecidas desde a ditadura. “Que a memória da Ana Rosa possa reavivar em nós o espírito de resistência e a coragem para mudar o mundo. E que não nos falte ousadia para que gritemos bem alto: Ana Rosa, presente. E que isso nunca mais aconteça.”

 

AUGUSTO DINIZ: EM 2019 A MÚSICA DEVE BUSCAR CAMINHOS DA TRANSFORMAÇÃO

Dezembro 29, 2018
 29/12/2018.

Di Cavalcanti

Em 2019 a música deve buscar caminhos da transformação

por Augusto Diniz

Esses dois últimos anos foram marcados por uma queda acentuada de número de shows musicais no País. Instrumentistas que costumam acompanhar artistas de expressão em apresentações foram os que mais se queixaram dessa nova realidade – dou preferência a eles por que muitos são bastantes experientes (e ainda realizam trabalhos solos), conhecem a regularidade e a capacidade de shows de muitos intérpretes de ponta (por que já os acompanharam ou acompanham), e tem visão clara das demandas e ofertas do meio por serem exatamente os principais operários da indústria.

Em 2019, esse quadro não deve mudar muito. Embora se tenha otimismo – mais por vontade do que por real perspectiva, já que tudo depende das políticas econômicas a serem adotadas pelo novo governo e apoio do Congresso -, sabe-se que a recuperação será lenta e insuficiente para atender as necessidades visíveis a curto e médio prazos.

Deve-se contar também a dificuldade de governos estaduais e prefeituras em equilibrar as contas com arrecadação em baixa – assim, recursos para a cultura são impiedosamente cortados, empurrando projetos, festivais e atrações musicais em datas especiais para o fundo da gaveta.

O setor privado, já faz tempo, tem direcionado baixos investimentos para as suas áreas de marketing, apostando mais em ações diretas junto ao consumidor e cliente, e pouco em projetos institucionais e de imagem, onde abrigam as iniciativas com a participação da música e outras atividades alinhadas à cultura.

Sobram instituições e entidades independentes (como Sesc), extremamente importantes, mas com programações muito disputadas e sem espaço para todos. Além disso, não se sabe o futuro delas em meio às mudanças propostas pelo novo governo.

O que se verificou nesses últimos dois anos foram grandes artistas se apresentando até em locais acanhados – não necessariamente desqualificados -, que jamais tocariam em outros tempos. Mas não teve jeito. Tiveram que lutar pela sobrevivência ou manter alguma agenda musical, a senha do mercado para saber se o artista continua ou não conectado com seus fãs – ou em busca de novos.

Nesse final de ano teve o fechamento de mais uma casa de espetáculos da boa música brasileira. A Tupi or Not Tupi, na Vila Madalena (SP), depois de quase dois anos de funcionamento, encerrou suas atividades. O local nasceu e fechou no período de crise.

Mas há uma tendência clara nesse novo ciclo de espaços desse tipo – ao invés de grandes palcos. O problema são seus preços salgados por conta da capacidade de receber apenas pouco público, com shows intimistas – embora nem sempre o artista seja beneficiado no cachê por conta disso.

A música brasileira de qualidade não deve renascer em 2019. Teremos que aturar de novo o The Voice como falsa esperança, e as famigeradas listas dos “melhores” e “tops” da canção popular ligadas a esquemas de rádio e televisão e do que restou da indústria da música comandada pelas viciadas gravadoras.

Artistas e bandas nacionais seguem tentando abrir caminhos no exterior, notadamente na Europa, Estados Unidos e Japão, com o selo de word music ou de pop-rock universal. É conhecida a história de que parte dos músicos nas suas andanças fora do Brasil tem papel mais de apresentar trabalho – e valorizar agenda – do que ganhar grana, pois nem sempre se fatura tanto assim (só por que recebe em euro ou dólar americano…).

Apostas no lançamento gratuito de música na internet seguirão, com a cabeça de seu realizador focada em projetos físicos futuros com algum dinheiro. Relançamentos e discos especiais rememorando trabalhos anteriores já se esgotaram para o público.

O fato é que a música brasileira deve deixar de vez o culto a si e abraçar o engajamento para sobreviver – não necessariamente político, mas para atender anseios e demandas de um público não dominado em busca de transformações das anacrônicas ideias aí colocadas, contrapondo a essa realidade musical imposta, marcadamente de um pop de baixíssima qualidade cujo palco maior são as festas e exposições agropecuárias, agora ainda mais serelepe com os ventos ao seu favor.

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RBA: DOCUMENTÁRIO: A FACADA NO MITO

Dezembro 29, 2018

FACADA NO MITO

Postado há uma semana pelo canal no YouTube “True Or not”, documentário começa a ampliar audiência por levantar dúvidas e suspeitas que nem autoridades, nem mídia se empenham em resolver
por Redação RBA publicado 29/12/2018.
REPRODUÇÃO
Facada no mito

Organizadores identificam integrantes da equipe de segurança e avaliam como agiram no episódio de Juiz de Fora

São Paulo – O documentário A Facada no Mito, postado há uma semana no canal True Or Not, no YouTube, está se espalhando por meio das redes sociais. O trabalho, que não identifica seus autores, praticamente não traz imagens inéditas do episódio que vem sendo tratado como “atentado” contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro. Mas traz apontamentos minuciosamente elaborados em torno das cenas que antecederam à facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira.

Mostra o comportamento da equipe de segurança, levanta questões relacionadas à “logística” em torno do autor, relembra dúvidas em torno do atendimento e contradições em torno das reações de pessoas próximas a Bolsnoaro. Adélio agiu sozinho mesmo para organizar e executar o atentado? Por que tinha tantos celulares e laptop se usava lan house? São coincidências as mortes de pessoas ligadas a sua hospedagem? E o fato de o escritório de advocacia que o defende atender também envolvidos em confronto entre policiais de Minas e de São Paulo? São listadas, enfim, muitas perguntas sem respostas, como qual teria sido o desempenho de Bolsonaro se não tivesse ocorrido o crime.

“Não somos direita ou esquerda. Não estamos acima e nem abaixo. Somos nós, somos vocês, somos eles, somos todos… …e merecemos respostas”, dizem os responsáveis pelo canal, que abrem o documentário explicando não se tratar de uma “acusação”, mas de levantamento de pontos de vista que permitam “uma narrativa diferente da divulgada”.

Os responsáveis observam que até o momento a Polícia Federal apresentou uma conclusão que “deixa de fora muitas questões”. “Questões que queremos dividir com o público para que possamos exigir as devidas respostas.”

Para eles, o assunto não pode ser tratado como crime comum. “Trata-se de um crime de segurança nacional contra um candidato eleito presidente. Além de, como veremos, pode tratar-se de um crime de falsidade ideológica que poderia levar à cassação do mandato presidencial.”

Assista ao filme A Facada no Mito (57 minutos)

registrado em:    

BRASIL DE FATO: ANO NOVO: CONHEÇA TRADIÇÕES POPULARES PARA O RÉVEILLON NO BRASIL

Dezembro 28, 2018

VIRADA

Simpatias prometem trazer sorte, dinheiro, paz, amor e boas energias para o ano que se inicia

Marcos Barbosa

Brasil de Fato | Recife (PE)

Dezembro de 2018.

O uso de trajes brancos e rosas brancas para Iemanjá são tradições bastante tradicionais no Ano Novo - Créditos: Agência Brasil / EBC
O uso de trajes brancos e rosas brancas para Iemanjá são tradições bastante tradicionais no Ano Novo / Agência Brasil / EBC

Está se aproximando o momento de dar adeus ao ano de 2018 e boas-vindas a 2019. Sem dúvida alguma, após um ano tão controverso, já tem muita gente buscando simpatias que prometam boas vibrações para os próximos 365 dias. Confira nossa lista com algumas dicas de tradições populares e o que cada uma delas representa.

Pular sete ondas

Uma das mais populares no Brasil, a origem da tradição de pular sete ondas vem das culturas africanas. Para realizar a simpatia, a pessoa deve pular sete ondas e, a cada vez, fazer algum agradecimento ou pedido para o ano seguinte.

Oferendas a Iemanjá

Iemanjá é considerada pelas religiões de matriz africana uma entidade protetora das águas. Por isso, nas cidades litorâneas, existe o costume de presenteá-la para pedir proteção e paz no ano seguinte. As oferendas costumam ser itens de beleza, como espelhos e colares, mas também é bastante popular o envio de rosas brancas como presente.

Comer lentilha

Alimento popular nas ceias de réveillon, acredita-se que o consumo de lentilha na virada do ano pode trazer sorte e boas energias. Porém, esse tradicional ritual possui algumas regras: a pessoa deve subir em um lugar alto (cadeira, mesa ou degrau da escada) e comer sete garfadas de lentilha.  

Usar roupas brancas

Na cultura ocidental o branco simboliza a paz e é uma cor bastante utilizada em rituais que envolvem momentos de transição e espiritualidade. No Brasil, o hábito de usar roupas brancas foi difundido por praticantes do Candomblé e é uma forma de buscar purificação e proteção para o ano seguinte.

Lingerie colorida

Se a tradição de ano novo é usar trajes brancos, para as “roupas de baixo” a regra é bem diferente. Cada cor de peça íntima possui um significado para o ano novo e representa diferentes pedidos. O branco atrai paz, o rosa traz amor, o amarelo atrai riqueza, o verde fomenta a esperança e o azul traz boas energias e prosperidade.

Comer romã

As simpatias com semente de romã são realizadas para atrair prosperidade e fartura. Normalmente, o ritual acontece da seguinte maneira: se deve comer apenas a polpa do romã, que envolve as sementes, mas não mastigar as sementes nem engoli-las. Após isso, você deve guardar sete sementes embrulhadas em um papel até o Dia de Reis (6 de janeiro), quando deve colocá-las na carteira para atrair dinheiro.

Comer uvas

A tradição de comer doze uvas tem origem na Espanha. A simpatia mais comum funciona da seguinte maneira: deve-se ingerir as uvas a cada badalada do relógio, uma por vez, fazendo sempre um pedido. Não dá tempo de engolir as uvas entre uma badalada e outra, então a pessoa fica com a boca cheia de uvas. Muito cuidado para não engasgar. Cada uva representa um mês. Dessa forma, você irá atrair boas energias para o ano que começará.

Brindar com champanhe

Bebida sempre presente em jantares nobres, o champanhe lembra celebração e riqueza. Os supersticiosos costumam fazer um brinde e beber uma taça de champanhe logo no primeiro minuto do novo ano, como forma de celebrar o ano que se inicia e atrair prosperidade financeira.

Edição: Vinícius Sobreira

RBA: ESCRITOR ISRAELENSE AMOS OZ MORRE AOS 79 ANOS

Dezembro 28, 2018
MEMÓRIA
Escritor ficou mundialmente famoso por sua atuação como pacifista e na defesa de uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos
por Redação RBA publicado 28/12/2018 .
MICHIEL HENDRYCKX / CREATIVE COMMONS
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Nos seus livros, Amos Oz relatou a reconstrução do povo judeu após o holocausto e as disputas territoriais com Israel

São Paulo – Morreu hoje (28) o escritor israelense Amos Oz, aos 79 anos, em decorrência de complicações do câncer. A informação foi confirmada pela filha. O escritor ficou mundialmente conhecido por sua defesa na busca por soluções para o conflito entre israelenses e palestinos.

O israelense é fundador do movimento pacifista Paz Agora. Nos seus livros, relatou a reconstrução do povo judeu após o holocausto e as disputas territoriais envolvendo Israel.

Amos Oz nasceu em Jerusalém em 1939 em uma família de estudiosos e professores, alguns dos quais militantes de direita sionistas vindos da Rússia e da Polônia.

Desde a guerra de 1967, Amos Oz publicou artigos e ensaios sobre o conflito árabe-israelense, lançando opiniões em defesa do reconhecimento mútuo e da coexistência entre Israel e um Estado Palestino na Cisjordânia e em Gaza.

O autor recebeu o prêmio de maior prestígio de seu país: o Prêmio Israelense de Literatura em 1998. Em 2002, foi agraciado com o Prêmio de Liberdade de Expressão da União de Autores da Noruega e uma indicação para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2005, recebeu o prêmio Goethe e, em 2007, o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras.

Em 2004, Amos Oz e o acadêmico palestino Sari Nusseibeh receberam conjuntamente a Premi Internacional Catalunya pelo governo catalão por sua “contribuição decisiva para o desenvolvimento de valores culturais, científicos e humanos em todo o mundo”. 

Entre suas principais obras estão Uma História de Amor e TrevasUma Certa Paz e Pantera no Porão.

Com informações da DW, agência pública da Alemanha, e da Agência Brasil.

RBA: CANTORA MIÚCHA MORRE AOS 81 ANOS NO RIO DE JANEIRO

Dezembro 28, 2018
MEMÓRIA
Ela estava internada no Hospital Samaritano e sofreu uma parada respiratória em luta contra o câncer
por Redação RBA.
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Miúcha: velório e enterro serão realizados no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro

São Paulo – Morreu às 17h30 desta quinta-feira (27) a cantora Miúcha, aos 81 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. A cantora sofreu uma parada respiratória e estava internada para tratar de um câncer.

Irmã do cantor e compositor Chico Buarque e mãe de cantora Bebel Gilberto, Miúcha lançou 14 discos ao longo de 40 anos de carreira. Ela foi casada com o compositor João Gilberto.  

Segundo a Folha de S.Paulo, o velório e o enterro da cantora serão realizados no cemitério São João Batista, em Botafogo, Rio de Janeiro.

Miúcha era o apelido de Heloisa Maria Buarque de Holanda, filha do historiador e jornalista Sérgio Buarque de Holanda e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Ela nasceu no Rio de Janeiro.

Sua estreia como profissional da música ocorreu em 1975, quando fez sua primeira gravação no disco The Best of Two Worlds, uma parceria entre João Gilberto e Stan Getz. A cantora fez em seguida parcerias com Tom Jobim em dois discos, entre 1977 e 1979. Seu último trabalho, o disco Miúcha com Vinícius/Tom/João é de 2008.

registrado em:   

RBA: LEI ROUANET: ALVO DE DESINFORMAÇÃO NUMA GUERRA ANTICULTURA

Dezembro 27, 2018
CULTURA COMO ALVO
Bolsonaro volta a criticar legislação responsável pela maior parte dos recursos que fomentam a produção cultural brasileira e que traz retorno, inclusive financeiro, ao país
por Cláudia Motta, da RBA publicado 27/12/2018.
DIVULGAÇÃO
Exibição do Cine Solar em Edealina

Com recursos da Lei Rouanet, Cine Solar chega à cidade goiana de Edealina, com menos de 4 mil habitantes

São Paulo – “Cultura não é um objeto que se vende. É uma fruição, uma experiência. E essa experiência não uma prioridade na vida de muitos brasileiros, ainda mais pensando entre você ter de escolher entre comprar seu arroz e feijão ou ir a um espetáculo de cinema, de teatro.” Assim a produtora Cynthia Alário, sócia da Brazucah, define a importância da polêmica Lei Rouanet – que foi alvo de duras críticas durante toda da campanha presidencial do eleito Jair Bolsonaro.

“A gente fala de um produto que não é valorizado no nosso país (a cultura). Se não tem uma legislação por meio da qual a iniciativa privada tenha incentivo fiscal para esse tipo de ação, a gente teria um déficit cultural maior ainda do que já temos.”

Cynthia e a equipe da Brazucah transportam telas de cinema Brasil afora, seja por intermédio do Cine Solar, do Cine Autorama ou o CineB, único que funciona independentemente da legislação federal, graças ao apoio do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

“A gente trabalha com comunidades com baixo índice de desenvolvimento social e econômico. Nesses locais, se não tiver uma atividade que seja gratuita, essas pessoas não teriam acesso. Alguém precisa pagar a conta desse processo: como faz um projeto de cinema chegar às comunidades?”

A Lei Rouanet é o principal mecanismo de fomento à cultura do Brasil. De acordo com o site do Ministério da Cultura – que será extinto no governo Bolsonaro e fundido ao Ministério da Cidadania – a Lei 8.313/91 instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e estabelece normas de como o governo federal deve disponibilizar recursos para a realização de projetos artístico e culturais.

Esses projetos podem ser enquadrados no Artigo 18 ou no Artigo 26 da Lei Rouanet. O 18 dá direito ao apoiador de deduzir 100% do valor investido, desde que respeitado o limite de 4% do imposto devido para pessoa jurídica e 6% para pessoa física. O 26 estipula dedução do imposto de renda equivalente a 30% (no caso de patrocínio) ou 40% (no caso de doação), para pessoa jurídica; e 60% (no caso de patrocínio) ou 80% (no caso de doação), para pessoa física. 

Originalmente, a lei que leva o nome de seu criador, o diplomata Sérgio Paulo Rouanet, continha três mecanismos: o Fundo Nacional da Cultura (FNC), o Incentivo Fiscal e o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart). Esse último fundo nunca foi posto em prática. E,  diante da queda de investimentos diretos no setor via FNC, o Incentivo Fiscal – também conhecido por mecenato – tem cada vez maior proporção no Programa, a ponto de alguns acharem que a lei é somente isso. E já não seria pouca coisa.

Uma lei que dá lucro

Um estudo encomendado pelo Ministério da Cultura à Fundação Getulio Vargas (FGV) demonstra que R$ 49,78 bilhões foram injetados na economia desde o lançamento da Lei Rouanet, em 1991. Foram realizados 53.368 projetos em 27 anos, com patrocínios captados de R$ 31,2 bilhões, e retornos de R$ 18,5 bilhões para a sociedade de forma indireta. O estudo, segundo reportagem na revista Exame, também informa que 3,3 bilhões de ingressos, antes cobrados, foram distribuídos gratuitamente à população.

De acordo com o levantamento, nessas quase três décadas de existência da legislação, cada R$ 1 captado e executado via Lei Rouanet, ou seja, R$ 1 de renúncia em imposto, acabou gerando em média R$ 1,59 na economia local. As contas demonstram que o incentivo à cultura fomentou riquezas inclusive financeiras à sociedade.

Durante a divulgação da pesquisa, no dia 14 de dezembro, o ministro Sérgio Sá Leitão – que está deixando a cadeira para assumir a mesma pasta no governo de São Paulo – defendeu a lei dizendo que investimentos de R$ 1,6 bilhão em cultura se convertem em um milhão de empregos. Isso, segundo ele, prova que o incentivo à cultura não é menos importante que os do setor automobilístico.

Sá Leitão criticou ainda fake news sobre o assunto: “Quem desconhece os mecanismos da lei, acha que ela faz com que o Brasil perca dinheiro e o distribua o gratuitamente como se fosse um programa de televisão. O estudo demonstra que nada disso procede”.

O gerente de projetos da FGV, Luis Gustavo Barbosa, explica que o impacto indireto alcançado pela Lei Rouanet vem desde o emprego criado com as atividades culturais, até o alimento utilizado, que leva renda para a agricultura. “Essa lógica, a gente precisa entender. A agenda da cultura, como agenda econômica, é fundamental para o atual momento do Brasil.”

Barbosa relata que 68 áreas econômicas diferentes foram beneficiadas indiretamente pela lei de incentivo. E que 63,3% dos projetos foram destinados a pequenos empreendedores, com menos de R$ 100 mil.

REPRODUÇÃO/TV GLOBOAdriana Esteves Fernanda Montenegro Marieta Severo
Ao lado de Adriana Esteves e Marieta Severo, Fernanda Montenegro defende Lei Rouanet

Desconhecimento ou fake news?

“Penso que o presidente Bolsonaro está mal informado sobre os benefícios da Lei Rouanet e por isso é importante as pessoas saírem em defesa da arte, da cultura e do conhecimento. Essa tríade constrói a soberania de um país”, avalia a atriz Débora Duboc, sobre o tuíte divulgado pelo capitão nessa quarta-feira (26), em que ele afirma: “Há claro desperdício rotineiro de recursos que podem ser aplicados em áreas essenciais”.

Bolsonaro referia-se à liberação de R$ 7,3 milhões pela área de Responsabilidade Sociocultural de Furnas (subsidiária da Eletrobrás) para entidades do setor.

A estatal divulgou nota explicando que o valor mencionado pelo presidente eleito foi anunciado após informação da área financeira, no fim de novembro, sobre o montante previsto para o ano de 2018. E que “optou por usar R$ 6,8 milhões para patrocinar projetos sociais e culturais via Lei Rouanet e aproximadamente R$ 3 milhões para projetos esportivos”, que “prioriza projetos que visam a inclusão social, o acesso gratuito à cultura e o incentivo ao esporte amador” e que “todos os projetos aprovados estão sendo publicados no Diário Oficial”.

Ou seja, esse dinheiro só poderia ser destinado pela estatal para esse fim que, pela mensagem de Bolsonaro, parece não ser considerado essencial.

“Hoje a Lei Rouanet movimenta R$ 1,2 bi mais ou menos e isso é mais do que todo o orçamento que o Ministério da Cultura tem para investimento. Isso significa que ela é o principal mecanismo de suporte à cultura no Brasil hoje”, afirma João Brant, que trabalhou como assessor especial na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo na gestão de Fernando Haddad e como secretário-executivo do Ministério da Cultura na gestão de Juca Ferreira.

“Ruim com ela, pior sem ela”, observa Brant. “A maneira como está organizada faz com que tenha concentração de recursos regional em São Paulo e Rio de Janeiro. É um mecanismo de fomento ao mesmo tempo importante e muito problemático. Se não dá pra fazer modificações que ameacem o papel importante que ela cumpre, não dá pra deixar de apontar críticas à lei.”

Para ele, no entanto, os ataques de Bolsonaro fazem parte de sua campanha permanente, em uma guerra cultural contra a esquerda e contra valores progressistas no campo comportamental. “A cultura é importante para a atuação política. A cultura promove a afirmação de direitos civis, de uma visão crítica da política e tudo isso incomoda. Bolsonaro e sua turma têm relação completamente nula com a cultura. É diferente de setores conservadores que têm relação com a alta cultura que é diferente da cultura popular. Não gostam de nada que represente manifestações culturais e isso significa retrocesso muito grave para nossa sociedade.”

Débora Duboc concorda. “O que tenho sentido é uma criminalização dos artistas, uma propaganda depreciativa dos nossos ofícios e isso acontece porque artistas têm se colocado contra arbitrariedades e retrocessos.”

A atriz Fernanda Montenegro fez discurso parecido durante uma premiação em um programa televisivo. “Nós somos de uma profissão digna, nós somos parte de uma cultura teatral milenar. Não é possível fazerem de nós, gente de palco, atores de televisão e de cinema, responsáveis pela derrocada econômica deste país. Não somos corruptos, não somos responsáveis pela crise de corrupção que o Brasil está passando”, disse sob forte emoção (assista aqui).

“Se estende pelo país de forma ultrajante uma visão negativa, torpe, agressiva em cima de nós. Não somos responsáveis pela corrupção desse país através da Lei Rouanet. Não somos corruptos, gente! Eu sei que há uma terra de ninguém, que é a internet, tudo bem. Então temos que de uma maneira palpável, temos que nos posicionar”, reforçou a veterana atriz.

Fernanda tem 89 anos, estreou no rádio aos 15 e no teatro aos 21, e construiu uma respeitada carreira na dramaturgia brasileira. Para ela, a internet foi utilizada para veicular informações mentirosas que colocaram a Lei Roaunet sob o foco de acusações muitas vezes infundadas.

O próprio Bolsonaro fez uso muitas vezes desse mecanismo, como quando processou os candidatos Fernando Haddad e Manuela D’Avila por “abuso de poder econômico” por suposto uso dos benefícios da Lei Rouanet na turnê do cantor inglês Roger Waters. O ex-integrante da banda Pink Floyd manifestou-se contra o fascismo em todas as apresentações que fez no Brasil este ano. A turnê não recebeu recursos da lei

WILSON FERREIRA: A ILUSÃO DAS FESTAS DE ANO NOVO NO FILME “GOODBYE, 20TH CENTURY”

Dezembro 25, 2018
25 DE DEZEMBRO DE 2018.

No filme Goodbye, 20th Century (Zbogum na dvaesetiot vek, 1998), uma viagem da câmera através do ralo de um banheiro para chegarmos em um shopping center durante as comemorações do ano novo do final de milênio

Foto: Divulgação

Sombrio, artístico, apocalíptico e surreal. Essas palavras sintetizam “Goodbye, 20th Century” (Zbogum na dvaesetiot vek, 1998), definitivamente um filme para cinéfilos aventureiros. Dirigido por dois diretores macedônios, Darko Mitrevski e Aleksandar Popovski, começa num deserto pós-apocalíptico ao estilo Mad Max para terminar num velório que se degenera em sangue e violência ao som de “My Way”, na versão punk rock de Sid Vicious. Um filme cujo pôster promocional da época resumia o filme da seguinte maneira: “como o Papai Noel, em fúria, destruiu o nosso mundo”.  Uma reflexão para as festas de final de ano de que, na verdade, tanto o Tempo como a “passagem de ano” não existem. São uma persistente ilusão que escondem um eterno retorno. E como esquecemos do principal simbolismo das festas de Ano Novo: a dupla face do deus Janus – uma que olha esperançoso para o futuro; e a outra que procura entender os erros do passado. Assista ao filme no “Cinegnose”.

O período das festas de final de ano sempre é um momento de renovação de sonhos e esperanças. De que o próximo ano sempre será melhor do que aquele que estamos deixando. Mas, parafraseando Theodor Adorno em sua célebre resposta a Walter Benjamin sobre a necessidade de haver esperança: “Sim! A esperança existe, mas não para pessoas como nós…”.

Como já está no nome desse blog (“Cinegnose”), esse é um site gnóstico. Então, desde já, agora parafraseando “A Divina Comédia” de Dante Alighieri, “Deixai toda esperança, vós que entrais”. Simplesmente porque a perspectiva do Tempo para o Gnosticismo é a de uma ilusão: a distinção entre passado, presente e futuro é falsa, embora seja “uma ilusão persistente”, como ironizava Einstein.

Desde Parmênides na Grécia Antiga, a filosofia grega acreditava que o universo é o conjunto de todos os eventos de uma só vez – toda história do Universo simplesmente é. Uma visão que na Literatura e no Cinema é partilhada com o filme gnóstico Matadouro Cinco (1972, baseado no romance homônimo de Kurt Vonnegut – clique aqui). Para os alienígenas “Tralfamadorianos” visitar o passado e o futuro seria nada mais do que atravessar a rua.

E no filme Goodbye, 20th Century (Zbogum na dvaesetiot vek, 1998), uma viagem da câmera através do ralo de um banheiro para chegarmos em um shopping center durante as comemorações do ano novo do final de milênio.

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Essa produção da Macedônia, dirigida por Darko Mitrevski e Aleksandar Popovski, partilha dessa percepção gnóstica da ausência do Tempo. Mas de uma forma mais cínica e sombria – como é repetido em algumas linhas de diálogo: “o futuro é incerto, mas sempre será tão ferrado quanto o passado!”.

A dupla face de Janus

O filme partilha principalmente do significado mais profundo (e, por isso, esquecido por todos) das comemorações de final do ano e do nome do primeiro mês que abre o ano novo – “Janeiro” é o nome derivado do deus duas faces com o nome latino de “Janus”: uma face olhando para o passado e a outra para o futuro. Olha o futuro com esperanças, mas também relembra os erros e oportunidades perdidas no passado. Porém, incentivados pelo espírito descartável da sociedade de consumo, fazemos exatamente o contrário – nos livramos do “ano velho”.

O filme Goodbye, 20th Century viveu toda a histeria de final de milênio, e foi um dos poucos filmes que nadou contra um movimento pendular que dominava o zeitgeist de final de século: ou o século XXI seria a realização de toda a utopia da tecnologia e Globalização; ou o “bug do milênio” e as profecias de Nostradamus nos jogariam de volta para a Idade Média depois da catástrofe.

É um filme para cinéfilos aventureiros: é sombrio, artístico, apocalíptico e surreal. Muitas vezes não sabemos, afinal, do quê trata a narrativa – de cara, parecem três narrativas mal amarradas que confundem o espectador. Mas a ideia de que “o futuro será tão ferrado quanto o passado” perpassa as estórias, como se o Tempo não existisse e, por trás da ilusão, apenas se revelasse um eterno retorno.

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O Filme

Goodbye, 20th Century tem um pouco das reflexões metafísicas de Jodorowsky (El Topo A Montanha Sagrada) e A Cidade das Crianças Perdidas de Jean-Pierre Jaunet. O filme abre em um deserto pós-apocalíptico ao estilo Mad Max. Estamos no ano 2019 e acompanhamos um grupo trajando roupas cyberpunk e se lamentando por não haver mais árvores. Conduzem um homem chamado Kuzman (Nokola Ristanovski) para ser executado no meio do deserto, através de um ritual que vagamente lembra um ritual católico.

Ele é considerado o culpado pela maldição que se abateu sobre aquela comunidade: a morte em série de diversas crianças. Ele teria cometido uma blasfêmia: profanou um afresco religioso de uma santa. Há uma cova aberta pronta para enterrá-lo, mas os tiros não o matam: cheio de buracos, continua vivo – a terra parece não o querer.

Mais tarde Kusman conhece um “profeta barbeiro” (se é que assim podemos defini-lo) que diz que ele deve ir para a “Cidade de Vidro”, matar o “homem de cabelo verde” (Toni Mihajlovski, numa versão ciberpunk do Coringa) que guarda o muro onde está escrito tanto o passado quanto o futuro. Para depois tudo terminar numa relação incestuosa com a própria irmã.

Corta! Vamos então para um filme antigo do primeiro casamento supostamente capturado por uma câmera, no início de 1900. Um casal profundamente apaixonado se casa numa cerimônia rápida. Até que os convidados descobrem que na verdade são irmãos. Revoltados com a relação incestuosa, dão tiros e matam ali mesmo o casal. Novamente, o tema do incesto.

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E, através de um plano sequência no ralo de um banheiro, chegamos à última noite do século XX. Agora acompanhamos um estranho homem vestido de Papai Noel (Lazar Ristovski) que entra em um prédio e depois numa sala em fundo infinito. Um grupo de personagens fellinianos está velando o corpo de alguém chamado Peter (um militar condecorado). Todos discutem diversas teorias sobre o que será o século XXI. Até que, seriamente, o Papai Noel afirma que o Tempo como conhecemos irá parar antes da meia-noite, e jamais o milênio terminará. Tudo com um toque entre David Lynch e Stanley Kubrick

Assim como nas outras estórias, o luto solene irá se degenerar em sangue e violência. Tudo ao som do punk rock de Sid Vicious “My Way”.

Imortalidade e incesto

Aqui retorna o tema da imortalidade: Peter ressuscitada no meio de toda loucura, e batendo continência…

O filme foi premiado apenas em festivais de cinema underground, como Cinequest Film Festival ou o festival de cinema B em Syracuse, EUA, onde ganhou prêmios de melhor edição e melhor Set Design. Mas a crítica foi implacável: “parece mais um filme feito por adolescentes obcecados por sangue e incesto!”, escreveu Maryann Johanson no Flick Filosopher.

Goodbye, 20th Century é, afinal, um título irônico: uma parábola sobre como o mundo sempre foi um lugar ruim. Jamais deixamos o século XX porque, simplesmente, o Tempo não existe. Pelo menos não no sentido tridimensional: uma seta que nos encaminha do passado ao futuro.

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O tempo do filme é gnóstico: circular, ausente. Ninguém consegue de fato morrer, porque nem mesmo a morte consegue nos tirar desse eterno retorno – ou a “Roda do Sansara” – o termo budista para designar o fluxo contínuo da existência e suas sucessivas encarnações. Uma roda que somente pode ser quebrada através da prática espiritual – a gnose.

Mas o filme figura o contrário: a brutalidade e a falta de moralidade na véspera do fim de milênio. E, principalmente, a quebra do princípio civilizatório que separa a Natureza da Cultura: a proibição do incesto.

Essa é a principal mensagem que Goodbye, 20th Century quer passar para nós: em meio às festas, esquecemos do principal simbolismo de todo “final de ano”, a dupla face de Janus – o olhar simultâneo para o passado e o futuro. Sem essa atitude, o futuro continuará tão “ferrado” quanto o passado.

Abaixo o filme na íntegra, com legendas em inglês.

BRASIL DE FATO: GRUPO UNAMÉRICA COMEMORA 35 ANOS DE ESTRADA

Dezembro 24, 2018

MÚSICA

Um grande encontro marcou a comemoração dos 35 anos no palco da Sociedade Ginástica de São Leopoldo (RS)

Katia Marco

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS)

O Grupo Unamérica nasceu no início da década de 1980, formado originariamente por Dão Real e Zé Martins - Créditos: Foto: Katia Marko
O Grupo Unamérica nasceu no início da década de 1980, formado originariamente por Dão Real e Zé Martins / Foto: Katia Marko

Músicos que fizeram parte da história do Unamérica tocaram as canções que marcaram a trajetória do grupo. Subiram ao palco com Dão Real e Zé Martins, Cezar Flor, Luciano Camargo, Delcio Beleza, Cláudio Nilson, Betinho, Toninho Cardoso, Rodrigo Ruivo, Carlos Walter Soares e Joca Przyczynski. Quem estava lá, reviveu momentos importantes destes 35 anos de música, arte e engajamento com a cultura popular latino-americana e as causas sociais em busca de um mundo melhor.

No show, foram relembradas músicas gravadas nos dois LPs e no CD dos 15 anos do grupo, como América Morena, Gaúchos Doidos, Rosa Amarela, Andante, Mulungu, Guarira Faceira, Menina Ciça, entre outras, além de composições consagradas da música popular brasileira e latino-americana como Guantanamera e Pra não dizer que não falei de flores, que finalizou a noite. Também foi um reencontro com instrumentos nativos, como o Charango, o Bombo Leguero, o Quatro Venezuelano, as Ocarinas e as Zampoñas, mesclando os ritmos folclóricos e tradicionais com poesias que mostram o homem e o meio em que ele vive, contando que somos iguais, só não falamos a mesma língua.

Cultura popular e regional

Nesta noite foi possível compreender porque o Unamérica marcou a história da música gaúcha. São mais de três décadas desenvolvendo um trabalho musical identificado com a cultura popular e regional, tendo como proposta a difusão da música latino-americana. Sempre em defesa da rica diversidade das culturas dos povos deste continente, considerados elementos de universalização e congregação.

O Grupo Unamérica nasceu no início da década de 1980, mais precisamente em 1983, no Vale dos Sinos/RS, formado originariamente por Dão Real, Zé Martins e Protásio Prates (já falecido). No início da década de 1980, a cena musical no Rio Grande do Sul era efervescente e propiciava ao novo. Havia muitos festivais nativistas pelas cidades do interior do estado, festivais universitários, festivais de canções populares e o rock gaúcho, com o surgimento de muitas bandas, transformando-se em uma referencia nacional.


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 8) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

Edição: Marcelo Ferreira