Archive for the ‘História da arte’ Category

EM MANAUS, COMPANHIA DE TEATRO CAMCRU, MOSTRA LUZ NAS TREVAS (LUX IN TENEBRIS), DE BRECHT

Novembro 25, 2018

Produção Afinsophia.

Paduk, um homem perigoso, depois de gozar durante muito tempo, no bordel da senhora Hooge, dos prazeres que o sexo prostituído oferece através do capital, se viu expulso exatamente pela força daquilo que lhe permitia tal prazer: a falta do capital.

Proibido de frequentar o bordel pela madame Hooge, sua proprietária, por não ter mais dinheiro para bancar suas taras sexuais junto às meninas que vendiam seus corpos, ele não deixou barato: planejou uma forma de vingança. O mesmo que todo capitalista faz quando se sente impossibilitado do lucro. No caso de Paduk, a impossibilidade do sexo e do álcool usados para prostituir as meninas do bordel.

Para concretizar seu plano de vingança, ele montou uma barraca para exposição dos perigos das doenças sexuais ao lado do bordel, e, assim, atrair o público incauto e promover a falência da casa de tolerância. Usou o mesmo recurso que a moral capitalista oferece a todo despudorado: misturou religião, doenças venéreas e moral. Paduk fez o mesmo que a campanha eleitoral de Bolsonaro fez: aproveitou os baixos sentimentos da massa, como diz senhora Hooge, em forma de mistificação, superstição para conseguir público. Aproveitou o sentimento de culpa sexual da massa, o que o psiquiatra alemão W. Reich, chama de excitação sexual inconsciente sublimada no consciente como excitação religiosa usada pelo nazismo de Hitler, e passou a ganhar dinheiro. Essa repressão sexual sublimada em forma de religião foi o mesmo signo usado na campanha de Bolsonaro em forma de Fake News. Principalmente o delirante kit gay.

  Pode-se aventar que os mesmos tristes sentimentos que levaram o público de Paduk acreditar em suas conferências contra a prostituição e sua vocação para combater o mal, são os mesmos que levaram grande parte dos eleitores de Bolsonaro a votarem nele. É o que nos mostra a psiquiatria. Exaltação da culpa. Ou, com Freud, magnificação da histeria coletiva. Não esquecer que a peça Lux In Tenebris, Luz Nas Trevas, foi escrita em 1919. Vai fazer 100 anos e continua atualíssima, principalmente no Brasil. Coisa da pós-modernidade de Brecht.

Depois, como ocorre na lógica do capitalismo, quando a concorrência é muito forte a decisão mais mais economicamente certa é se unir com o inimigo. Foi o que fizeram madame Hooge e Paduk. 

A montagem da peça é o produto do Encontro Sobre a Práxis e a Poiesis na Estética Marxista criado com estudantes da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) executado pelo filósofo Marcos José sob a coordenação do filósofo e professor da instituição Vitor Leandro tendo como coadjuvante o historiador, ator e fotógrafo Alci Madureira.

Durante o movimento do tema do Encontro, occurso, como diz o filósofo Spinoza, os estudantes participaram de exercícios de criação do ator e direção teatral. Como resultado foi a montagem da peça e a criação da Companhia Artística Momento Cru (CAMCRU) que resultou na apresentação na UEA para uma platéia que, em sua maioria, nunca tinha assistido um espetáculo teatral e na sua totalidade muito menos uma peça de Bertolt Brecht. Foi uma noite inolvidável. Não podia ser diferente. Brecht mostrado pelas magníficas interpretações das atrizes e atores. O verdadeiro encontro spinozista com produção de afetos alegres. Aumento da potência de agir.

ELENCO

Paduak————————————Maurício 

Madame Hooge e outros————-Ayene

Jornalista e outros———————-Jamine

Capelão e outros————————Matheus

FICHA TÉCNICA

Encenação——————————Marcos José

Assistente——————————-Alci Madureira

Contra-Regar————————– Vitor Leandro                            

Música———————————–Composição Coletiva                                                                                                                                                             

A PEÇA “TRÁGICA.3” UM TEATRO NO TRÁGICO DO AMOR FATI

Maio 18, 2014

A palavra tragédia vem do termo grego, tragos, bode. No sentido dionisíaco, significa o canto do bode. Tragos é o bode das festas das colheitas da uva na Grécia agrária. Com sua manifestação libertária do espírito através de sua festa dionisíaca-musical-lírica, com o ditirambo, encontra a força de limitação apolínea. Então ocorre o ordenamento do Devir-Dionísio na forma Apolo. Para onde converge teatralmente como teatro-trágico.

Agora, os brincantes não são mais os participantes das dionisíacas, eles são os espectadores da tragédia. Agora, eles não executam suas próprias purgações, seus êxtases por si mesmos, eles precisam dos atores e dos personagens. Seja através do Carro de Tespis, o primeiro ator do teatro grego, ou nas encenações das tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.

Mas o trágico não se resume ao teatro. O trágico é a forma de existência. O viver como atual, onde não se pode fugir do que se é, e do acontece. Existir sem trapaça, já que nada pode mudar o que eu sou agora, como diz o filósofo Nietzsche, com seu amor fati. “Minha fórmula para a grandeza no homem é Amor fati: nada querer diferente, seja para trás, seja para frente, seja em toda eternidade (Ecce Homo)”. Do qual o filosofo Clèment Rosset tomou como devir-filosófico.

Portanto, a tragédia grega não só expressa o teatro, mas também o princípio filosófico da existência. O Édipo Rei de Sófocles mostra uma verdadeira ventura trágica. O que Freud com seu Complexo de Édipo não entendeu. Consultado pelos resi de Tebas Laio e Jocasta, Oráculo de Delfos lhes diz que eles não devem ter filhos caso tenham, a desgraça abatera a cidade de Tebas, Laio será morto pelo filho e Jocasta o desposará. Eles têm o filho. A desgraça ocorre. Jocasta manda um soldado matar o filho na floresta. Lá um pastor o toma para si. Políbio, rei da cidade de Corinto, cuja mulher, Mérope, não pode ter filhos, recebe o menino do pastor, seu amigo, o conduz para o palácio e o cria como seu filho. Como ficou por muito tempo pendurado pelos pés em uma árvore, ficou com o pé torto, daí seu nome Édipo, aquele que tem o pé torto.

Um dia, em uma festa no palácio, Édipo encontra um bêbado que lhe diz que ele é um usurpador do trono de Corinto, e que não é filho de Políbio. Aí, começa a desventura de Édipo. A tragédia do desespero. Ele sai à procura de sua identidade. Na estrada mata seu pai, sem saber, e depois de decifrar o enigma da Esfinge, na frente do palácio, casa com a mãe que era a recompensa para o andarilho que decifrasse o enigma. Desse casamento nascem dois meninos Etéocles e Polinice, e duas meninas, Antígona e Ismênia.

O Édipo Rei tem como substrato trágico não só a busca de identidade de Édipo, mas fortemente a luta pelo poder de Tebas que é constantemente ambicionado por Creonte, irmão de Jocasta. Inimigo de parte da linhagem de Édipo, a ponto de impedir sua permanência em Tebas. Forçando a peregrinar por várias terras até chegar a Colono, onde é liberto da maldição. Além de proibir que Polinice seja enterrado em Tebas. O que é a luta de Antígona contra o tirano, Creonte.

 A peça Trágica.3 dirigida por Guilherme Leme, ordena uma trama envolvendo os trágicos gregos, Sófocles, com Antígona e Electra e Eurípedes, com Medeia. No encadeamento desenrolam-se os fios condutores do trágico. Embora tragédias de dois autores, esses fios, o singular da vida grega, se encadeiam sem se emaranharem-se. O que possibilita perceber os estilos dos dois trágicos.  Como se sabe, se a tragédia de Ésquilo tem como sentido os deuses, em Sófocles os deuses ainda atuam sobre os mortais, mas sendo os mortais responsáveis por seus destinos, como mostra Édipo. E já em Eurípedes todo o sentido trágico é humano. O que leva alguns críticos afirmarem que Eurípedes é o primeiro autor existencialista. Mas o certo mesmo, é que o teatrólogo alemão, Brecht, o teve também como inspiração para o seu teatro.  

No elenco encontram-se, a global (teatro não tem qualquer relação com o artificialismo das telenovelas), Letícia Sabatella, Denise Del Vecchio e Miwa Yanagizawa. Para assistir é preciso se deslocar para o Centro Cultural Banco do Brasil.

Se a encenação não agradar, pelo menos o público terá tido oportunidade de entrar em relação com alguns rastros do trágico.

Belém do Pará recebe importante curso gratuito sobre História da Arte

Julho 19, 2013

Serão apenas três dias, intensos, porém. De 8 a 10 de agosto, em parceria com o Itaú Cultural, traz o curso “História da Arte – da Moderna à Contemporânea”, de forma gratuita, como parte do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2011/2013, que está percorrendo nove cidades das regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste do país, promovendo cursos com especialistas da área.

 

Levando em consideração os principais eventos e movimentos artísticos do modernismo até a contemporaneidade, o curso está estruturado para acontecer em três dias, como desdobramento do programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural.

 

São três diferentes ministrantes para abranger em cada um dos módulos períodos que vão da década de 1980 até a atualidade, com Milton Machado; da década de 1950 a 1970, com Felipe Scovino e da década de 1920 a 1940, com Paulo Miyada. A iniciativa tem como objetivo aprimorar os conhecimentos dos profissionais de todas os segmentos artísticos e amplia a parceria que o IAP vem concretizando com Instituto Itaú Cultural.

 

 Saiba quem são os ministrantes Felipe Scovino é professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi curador das exposições Décio Vieira: investigações geométricas (Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, 2010), O lugar da linha (Paço das Artes, São Paulo e MAC, Niterói, 2010), Lygia Clark: uma retrospectiva (Itaú Cultural, São Paulo, 2012) ao lado de Paulo Sergio Duarte, entre outros.

 

 

É um dos curadores do Rumos Artes Visuais 2011-13. É organizador dos livros: Arquivo Contemporâneo (7Letras, 2009), Cildo Meireles (Azougue Editorial, 2009) e Carlos Zilio (Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 2010). Também é curador, ao lado de Pieter Tjabbes, da retrospectiva de Abraham Palatnik para o CCBB de Brasília.

 

Milton Machado é artista plástico, escritor e pesquisador. Arquiteto formado pela FAU-UFRJ (1970), Mestre em Planejamento Urbano pelo IPPUR-UFRJ (1985) e PhD em Artes Visuais pelo Goldsmiths College University of London (2000). É Professor Associado do Departamento de História e Teoria da Arte e do PPGAV-Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Escola de Belas Artes EBA/UFRJ.

 

Desde 1970, realizou inúmeras exposições individuais e participou de coletivas, no Brasil e no exterior. Tem textos publicados em meios impressos e digitais. É pesquisador do CNPq. Paulo Miyada é arquiteto e urbanista pela FAU-USP, onde cursa seu mestrado com orientação do Prof. Dr.

 

Agnaldo Farias, na área de História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo. Atualmente coordena o Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake. Trabalhou como assistente de curadoria da 29º Bienal Internacional de São Paulo e, como curador, nas exposições coletivas “Em Direto” (Nov 2011) e “É Preciso Confrontar as Imagens Vagas com os Gestos Claros” (Set 2012), ambas na Oficina Cultural Oswald de Andrade em SP.

 

 

Além de exposições que incluem a seção brasileira de “Beuys e bem além – Ensinar como Arte” (com Agnaldo Farias, no Instituto Tomie Ohtake, 2011), “Exposição” de Theo Craveiro (Galeria Mendes Wood, 2012) entre outras, Agnaldo também colaborou com o livro “Logo depois da vírgula – Livro de Geo-Grafia”, de Mattia Denisse (Portugal, 2011) e publicou ensaio crítico na revista Elástica n.2 (2012).

 

Ministra cursos livres no Instituto Tomie Ohtake desde 2011 e apresentou uma série de aulas de história da arte no Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga, em 2012. Serviço Curso História da Arte – da Moderna à Contemporânea. No IAP – Instituto de Artes do Pará – Praça Justo Chermont,235, Nazaré. De 8 a 10 de agosto, das 9h às 17h (intervalo: das 12h às 14h) – 70 vagas. Inscrições no IAP. Mais informações (91) 4006-2911.

Museu do Louvre deve expor crucifixo esculpido por Michelangelo do período do Renascimento

Junho 14, 2013

da Agência Brasil

 O Museu do Louvre, em Paris, na França, se prepara para colocar em exposição um crucifixo do período do Renascimento da Itália, entre os séculos 14 a 16, que pode ter sido esculpido por Michelangelo (1475–1564). A escultura em madeira tem 44 centímetros e está repleta de detalhes anatômicos do corpo de Cristo.

Após vários testes e consultas com cinco especialistas, o Louvre informou que a escultura é obra de artista florentino de “grande talento” e que foi criada por volta do ano de 1500. Mas o museu reconheceu que ainda há dúvidas sobre a autoria da obra.

“Todos os especialistas disseram que era uma obra de muito boa qualidade. Alguns veem a mão de Michelangelo, mas outros não”, disse o chefe do Departamento de Escultura do Museu do Louvre, Marc Bormand.  “A minha opinião é que é impossível determinar com certeza.”

O Departamento de Escultura do Museu do Louvre pretende apresentar o crucifixo como um trabalho com a seguinte inscrição: “[Autoria:] artista florentino por volta de 1500, Michelangelo?”.
Depois de ser restaurado, o crucifixo será colocado em exposição.

De acordo com especialistas, dos 70 anos dedicados à arte, Michelangelo defendia que a beleza e a harmonia devem ser associadas aos sentidos. Segundo ele, é importante unir o tato ao olhar.

O mundo da arte em uma obra

Maio 17, 2013

Nossa coluna de sexta-feira traz uma obra proveniente de uma das mais famosas vanguardas européias: o surrealismo. A obra é referência mundial na história da arte e já teve diversas releituras por artistas.

Porém mais do que uma simples obra do surrealismo trata-se em uma arte indagadora, sobre a sexualidade, o amor e a existência humana. Seu pintor auxiliou a pensar pelo surrealismo a presença do homem e suas ações na terra. O filósofo Michel Foucault fez um de seus livros com base em um questionamento presente em sua obra: Isto não é um cachimbo.

ESQUIZOFIA

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O MUNDO DA ARTE EM UNA OBRA

“Os amantes

De René Magritte
Rene Magritte - The lovers 1928 MoMa (le perreux sur marne )

“Há uma afinidade secreta entre certas imagens; ocorrem igualmente para as imagens que representam estas imagens (…) A palavra dá brilho a imagem, define a mágica.” 

Magritte_autograph signature

René Magritte ou René-François-Ghislain Magritte (1898-1967) foi um pintor, esbocista, gravurista, escultor, fotografo e cinegrafista belga, ligado ao movimento surrealista belga e posteriormente o movimento surrealista francês e que estudou na Academia de Belas Artes de Bruxelas.

O movimento surrealista tem boa influência na psicanálise principalmente na teoria da interpretação dos sonhos de Freud onde deram muita importância aos símbolos constituídos.

O pintor foi influenciado movimento de arte abstrata De Stijl e pelo pintor  Giorgio De Chirico, o criador da pintura metafísica ou metafílistica. Em seu trabalho embora falte o drama do desenvolvimento estilístico tradicional, teve grande popularidade e no fim de sua vida lhe rendeu um grande sucesso mundial.

A obra acima mostra como um ato de paixão pode se tornar frustrado e ser isolado. Há uma dificuldade de se tirar os véus, o que pode ser interpretado como a inabilidade de desvelar por completo a natureza real até mesmo dos nossos mais íntimos companheiros (quem sabe inclusive uma menção ao inconsciente freudiano).

Além disto muitos relacionam os trabalhos (há mais de um) de Magritte envolvendo o asfixiamento, com o fato de sua mãe ter cometido suícidio por afogamento, quando o artista tinha 14 anos, e testemunhou sua mãe sendo retirada do rio tendo sua cabeça envolta em sua camisola.

O próprio Magritte em condição de “analizado” descordava destas interpretações negando qualquer relação das pinturas e a morte de sua mãe. Ele escreveu “Minha pintura são imagens visíveis que não oculta nada (…) elas evocam mistério e, de fato, quando alguém vê uma de minhas pinturas, se pergunta esta simples questão “O que ela significa?” Ela não significa nada, pois mistério também não significa nada, é incogniscível”.

Eis aí a versão repressiva de Eros e Psique: dois seres, enclausurados num cubiculo e em suas vestes, sem corpo e sem rosto, enlaçados pelas convenções. Encontro sem contato (as bocas não se beijam, beijam trapos e sem intimidade, pois, no cubículo fechado e sob panos que cobrem seus corpos, se descobre a presença da sociedade inteira, vigiando o pobre par.

Marilena Chauí em Repressão Sexual essa nossa (des)conhecida

O mundo da arte em uma obra

Maio 10, 2013

Nossa coluna sextante traz uma obra pré-moderna mas que é considerada moderna. Realista mas quiça erótica. Poiética porém polêmica. Uma obra que por muito tempo foi escondida em coleções particulares e hoje está revelada.

Trata-se de uma das obras do realismo francês que traz a cena originária da existência por onde todos nós, independente das diferenças passamos. Corpos, vidas, realidades.

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O MUNDO DA ARTE EM UNA OBRA

“A origem do mundo

De Gustave Courbet
 Gustave Courbet- L'origine du monde The origin of the world 1966 Musee d'orsay

“Pintura é uma arte essencialmente concreta e pode somente consistir da representação de coisas reais e existentes. É uma linguagem completamente física, as palavras que consistem todos objetos visíveis. Um objeto que é abstrato, não visível, não existente, não está no domínio da pintura.” 

signature Gustave Courbet

Gustave Courbet foi um artista francês conhecido por ser o principal nome da arte realista em seu país. Conhecido por suas pinturas nada acadêmicas, Courbet foi uma das grandes influências para os pintores impressionistas e pós-impressionistas. Seu estilo impreciso, autodidata lhe rendeu muita admiração e também muitas críticas. Percebe na frase acima que o pintor apenas concebe a arte como uma representação do existente, do real constituído, mas que pode se tornar arte somente quando o transforma. 

O primeiro dono deste quadro, e muito provável que tenha sido encomendado, foi o diplomata turco Khalil-Bey. Futuramente esta pintura foi comprada e pertenceu ao famoso psicanalista francês Jacques Lacan. Para alguns estudiosos esta é uma das obras pioneiras da arte erótica moderna e muitos a consideram uma obra voyeurista.

Courbet acostumado em pintar de maneira libertina nús femininos, banhistas, entre outros aceitou a tarefa e se devotou a celebrar o corpo feminino. Com a imagem anatômica (quase genicológica) da genitália (ou sexo) feminina mostrando a origem do mundo, de onde todos saimos  o quadro, que vai aos limites da franqueza e ousadia, teve várias críticas principalmente dos mais puritanos que a consideraram obscena.

Graças a virtuosidade e o refinamento de seu esquema de cor âmbar, a pintura escapa de um status pornográficos. Esta nova linguagem direta e audaciosa  não teve contudo todas ligações com tradição: as pinceladas amplas e sensuais e o uso da cor lembram a pintura Veneziana de Ticiano, Veronese, Correggio e a tradição da pintura lírica carnal.

Em seu enfoque realista Courbet mostra a nudez feminina de uma forma realista e sem nenhum apelo a sensualidade. O corpo exposto revela uma mulher sem cabeça, quase anônima que assim como nossas mães colocou alguém no mundo. Mesmo com a noção de que “a mãe sempre é certa (no sentido filiativo)” esta mulher exposta mas reservada poderia ser nossa mãe, cujo o sexo e o desejo é edipianamente inconcebível se formos por um viés psicanalítico. Assim Courbet mostra uma mãe nua, que poderia ser a da nossa origem do mundo. Neste sentido o anonimato e o título nos coloca também em reflexão de que de que viemos deste lugar e continuaremos tendo o contato com a genitália replicada (no caso da mulher, ou trans a sua própria e do homem a de sua parceira).

No início deste ano o pesquisador Jean-Jacques Fernier acredita que Courbet pintou outro quadro com a cabeça da modelo de “A origem do mundo”. Porém nem o Musée d’Orsay onde a original está localizada e nem entidades ligadas ao pintor confirmaram a autenticidade. De qualquer forma colocamos abaixo uma suposta cabeça da modelo pintada em 1866 por Courbet. 

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O mundo da arte em uma obra

Maio 3, 2013

Nossa nova coluna semanal aborda a arte a partir de uma obra de arte. Junto com a obra falaremos um pouco sobre o contexto do artista dentro da história da arte e sobre uma obra. Uma que não é numero pois é único, una, infinita em si.

Cada nova obra, quando produção do novo, consegue elevar o estado de arte e desestabilizar o olhar que se espanta com o incogniscível do primeiro contato. Independente da prática cultural de um povo, ou da tradição de uma escola a obra de arte sempre é o novo, sempre tem partículas vibratórias de cor, formas e sentidos distintas. 

Esta é a razão de que é tão difícil ser artista, pois é preciso estar despojado do já conhecido para poder criar/ver o imperceptível. Assim nossa nova coluna “O mundo da arte em uma obra” inicia com 

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O MUNDO DA ARTE EM UNA OBRA

“Composição em vermelho, azul e amarelo

De Piet Mondrian
Piet Mondrian- Composition With Red, Blue and Yellow (1930), De stijl

“PARA APROXIMAR O ESPIRITUAL NA ARTE, SE DEVE FAZER O MENOR USO POSSÍVEL DA REALIDADE, POIS A REALIDADE É OPOSTA AO ESPIRITUAL” P.Mondrian

Piet Mondrian foi um artista holandês proveniente da Escola de Haia e que participou de diversas vanguardas europeias. Influenciado pelo Abstracionismo geométrico, o pintor passou pelo neo-plasticismo simbolismo, luminismo. neo-impressionismo, elementarismo e cubismo e passou por grupos artísticos como De Stijl and Nieuwe Beelding. Sua importância na história da arte está em ter um trabalho tão abrangente e rico em estilo sem esquecer também as diversas tendências da época que passam por sua obra.

Nesta obra de 1930, “Compositie met rood, blauw, en geel” ou “Composition with red, blue and yellow” de Mondrian vemos a presença do abstracionismo geométrico que a compõe quadrados e retângulos no quadro. Além do branco e preto as formas quando não são preenchidas pelo branco são pelas cores primárias que são azul, vermelho e amarelo.

Este é um quadro do auge da carreira de Mondrian que desde a década de 1910 já usava bastante a forma geométrica para expressar formas como seus Tableaus, árvores como a “The Grey Tree / De grijze boom” e “Trees in Blossom. / Bloeiende bomen”, lugares como a igreja pintada em “Church at Damburg. / Kerk te Domburg” e até um auto-retrato.

Este estilo de formas geométricas feitas com linhas ortogonais influênciou suas obras mais tardias como Broadway Boogie-Woogie e até a inacabada Victory Boogie-Woogie. Além disto obras geométricas como esta influenciam até hoje o mundo da moda, gráfico e é claro o mundo da arte. Seu trabalho influenciou escolas como a de Bauhaus, e minimalistas como Donald Judd, Frank Stella, Robert Morris e Carl Andre, além de Alfredo Volpi e outros pintores brasileiros.

A pintura e a arte ready made de Marcel Duchamp

Março 27, 2013

young girl and man in spring 1911. oil on canvas. 65.7 x 50.2 cm. private collection.

42 duchamp fountain (signed r. mutt)

Duchamp - Paradiso

Duchamp - Il cespuglio

Duchamp - _tant donn_s

bride. oil on canvas. 89.5 x 55.25 cm. the philadelphia museum of art, philadelphia, pa, usa

bottle rack. 1914-64. readymade - bottle rack made of galvanized iron. 59 x 37 cm. original lost.

A arte frutífera vegetaica de Giuseppe Arcimboldo

Março 15, 2013

Arcimboldo-1Eve and the Apple with Counterpart 1578

Arcimboldo- Fire. 1566. Oil on wood

Arcimboldo- Librarian Stokholm

Arcimboldo- Rudolf II of Habsburg

Arcimboldo-The Lawyer. 1566. Oil on canvas

Arcimboldo-The Vegetable Gardener1590

 

 

 

UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Fevereiro 20, 2013
Haia, 2 de junho de 1882

O velho portão (1875), WALKER

The Old Gate 1874-5 by Frederick Walker 1840-1875

The old gate, London, Tate Gallery


Van Gogh nesta carta descreve a Theo as gravuras em madeira que possui:

“GRAVURAS DE MADEIRA QUE VINCENT POSSUI

1 Pasta Tipos populares irlandeses, mineiros, fábricas, pescadores, etc., na maioria pequenos esboços a pena.

1 pasta Paisagens e animais, Bodmer, Giacomelli, Lançon, a seguir algumas paisagens determinadas...

1 pasta Trabalhos do Campo de Millet, a seguir Breton, Feyen Perrin e lâminas inglesas de Herkomer, Boughton, Clausen, etc.

1 pasta Lançon

1 pasta Gavarni, completada por litografias, nenhuma rara.

1 pasta Ed. Morin

1 pasata G. Doré

1 pasta Du Maurier, muito cheia

1 pasta Ch. Keene e Sambourne

1 pasta J. Tenniel completada pelos cartoons de Beaconsfield

Falta John Leech, mas esta lacuna pode ser facilmente preenchida pois pode-se obter uma reimpressão destas gravuras em madeira, o que não é muito caro

1 pasta Barnard

1 pasta Fields e Charles Green, etc

1 pasta Pequenas gravuras em madeira francesas, álbum Boetzel, etc.

1 pasta Cenas a bordo de navios ingleses e croquis militares

1 pasta Heads of the Peole por Herkomer, completada por desenhos de outros artistas e por retratos.

1 pasta Cenas da vida popular londrina, desde os fumantes de ópio e White Chapel e The seven Dials, até figuras das damas mais elegantes, e Rotten Row of Westminter Park. Foram juntadas cenas correspondentes de Paris e Nova York. O conjunto é um curioso ‘Tale of those cities’.

1 pasta As grandes lâminas de Graphic, London News, Harpers Weekly, etc, entre as quais, Frank Holl, Herkomer, P. Renouard,  Fred. Walker…

Frederick Walker ou Fred Walker foi um pintor, gravurista e talentoso ilustrador em inglês. Ele nunca foi fluidamente um esbocista natural e nunca alcançou alguma grande força dramática. Ele trabalhou como pintor de cenas do cotidiano e para os vitorianos parecia um observador sincero e não sentimental observador da vida rústica. Como ilustrador trabalhou no livro de Charles Dickens, Hard Times for These Times.

Nascido em Marylebone,Londres no dia 26 de maio de 1840 (embora haja relatos do dia 24 de maio), filho de um desenhista de joias e de uma família com interesses artísticos. Ele foi educado no North London Collegiate School e com apoio da mãe, ainda bem jovem, começou a desenhar antiguidades no Museu Britânico (British Museum), sendo aos 16 anos colocado no escritório de um arquiteto chamado Baker. A tarefa se mostrou desagradável; no fim de 18 meses ele retomou seu trabalho dos mármores Elgin no Museum Britânico e atendeu a Escola de artistas Leigh em Newman Street.

Em 31 de março de 1858 ele foi admitido como estudante na Academia Real. Mas seu estudo nas escolas da academia foi desconectada, e cessou antes que ele chegasse na aula de modelo vivo, já que ele estava ansioso para começar a ganhar a vida. Como um meio de terminar este trabalho, ele voltou sua atenção para o desenho feito para xilogravuristas, e trabalhou três vezes por semana durante 2 anos no atelier de J. W. Whymper, cuja a instrução ele rapidamente tornou mestre nas técnicas de desenho em madeira.

Sua primeira ilustração publicada aparece em 14 de Janeiro de 1860 no “Every Body’s Journal” para uma história de Edmond Abbott entitulada “The Round of Wrong.” Logo depois, suas primeiras ilustrações em livro aparecem em 1860 no Once a Week, um periódico no qual ele foi um contribuinte prolífico, como também para a Cornhill Magazine, onde seus admiráveis desenhos se parecem com os trabalhos de Thackeray, assim como para os trabalhos da filha de Thackeray. Estas xilogravuras, especialmente suas ilustrações para o livro de Thackeray as “Aventuras de Philip e Denis Duval”, estão entre seus trabalhos artísticos mais espirituosos de suas categorias, e  logo ele se entitula Walker para se enfileirar com Millais na ponta dos esbocistas que lidaram com cenas da vida contemporânea. Na verdade, somente com suas contribuições para Once a week ele fez uma reputação imediata como um artista de rara realização, e embora fosse associado aquele periódico com artistas como Millais, Holman Hunt, Leech, Sandys, Charles Keene, Tenniel e Du Maurier, ele mais do que se manteve contra seus competidores. Nos intervalos do trabalho como ilustrador de livros ele praticava, a partir de 1863, pintura em aquarela, seus temas sendo frequentemente mais consideradas e refinadas repetições em cores de seus desenhos preto e branco. Entre as mais notáveis produções em aquarela estão “Spring,” “A Fishmonger’s Shop,” “The Ferry,” e “Philip in Church,” que ganhou uma medalha na Exibição Internacional de Paris em 1867.

Ele foi eleito associado da Socieadade de pintores em aquarela em 1864 e membro completo em 1866; e em  26 de janeiro1871 ele se tornou associado da Academia Real. Neste mesmo ano ele se tornou membro honorário da Sociedade Belga de Pintores em Aquarela. Sua primeira pintura a óleo, “The Lost Path,”, O caminho perdido, foi exibida na Royal Academy em 1863, one foi seguida de As Banhistas em 1867, que seguiu alguns de seus melhores trabalhos: em 1868 “Os errantes”, agora na Galeria Nacional de Arte Britânica, em 1869 ” O velho portão”. Em 1870 exibe “O arado”, uma exposição poderosa e impressiva da luz ruborizada da noite, cuja paisagem foi estudada em Somerset.

Em 1871 ele exibiu sua trágica pintura em tamanho real “Uma prisioneira feminina na barra”, uma pintura que se perdeu e que agora existe somente em um estudo em óleo, Nela o pintor posteriormente pode obliterar a cabeça, com que ele ficou insatisfeito, mas foi impedido pela morte de completa-la. O último de seus trabalhos de sucesso foi “Um porto de refúgio” exibido em 1872; em “The Right of Way,” exibido em 1875 mostra signos evidentes da força falha do artista. Ele sofreu por alguns anos de uma tendência tísica; em 1868 ele fez uma viagem marítima pelo bem de sua saúde, para Veneza, onde ficou com Orchardson e Birket Foster, e no fim de  1873 ele foi por um tempo para Argélia com J.W.North, na esperança que poeria ter um benefício com a mudança de clima. Mas, voltando para a amarga primavera ingles, ele foi novamente prostado e morreu  de tuberculose em St. Fillian,Perthshire na Escócia no dia 4 de junho de 1875 (ou 5 de junho).

Seus trabalhos são completamente originais e individuais, ambos em qualidade de suas cores e manejo, além de sua vista da natureza e humanidade. Como pintor trabalhou uma técnica guache que deve muito a William Henry Hunt e Myles Birket Forster.Suas cores, especialmente aquarelas, são distintas, poderosas e cheias de gradações delicadas. Ele teve um admirável senso de desenho, e as figuras dos camponeses em sua labuta diária mostra uma graça e vasta largura da linha na qual pode ser planamente traçada o efeito produzido a seus gosto através de seus estudos iniciais de antiguidades; ao mesmo tempo o sentimento de seus temas é infalivelmente refinado em poético. Seu vigor de desenho pode ser visto em seu poster para A mulher de branco para Wilkie Collins que atualmente está na National Gallery of British Art. Após sua morte houe uma legião de seguidores de seu trabalho.

Walker se tornou envolvido com uma associação livre de artistas conhecidos como Os Idílicos (The Idyllists) ou Escola Idílica de artistas vitorianos, e sua sensíveis e belas aquarelas pastorais, com seus detalhes intrínsecos, e bela coloração estão entre as mais completas e satisfatórias pinturas de sua época. Para ele “Composição é a arte de preserver o olhar acidental”. Devido as suas pinturas socio-realistas ele deve ter sido bastante idealistas e até hoje suas pinturas possuem um impacto.

 Um número muito grande de estudos especulam que ele morreu como resultado de seu temperament, quando é mais provavel que seus problemas de comportamentos resutaram da severidade de sua doença e da baixa espectativa de vida. Ele foi nervoso, tímido, reticente, rabugento, estressado, agonizante e trabalhador meticuloso.

 Ele conseguiu uma medalha de segunda classe na Exibição Internacional de Paris em 1867. No fim de 1860 ele visita Veneza e Paris, e nesta última fica amigo de François Millet, cuja tradição da pintura ao ar livre (en plein air) da Escola de Barbizon influênciou Fred em seus trabalhos posteriores. No inverno de 1873-4 ele viajou para Argélia, mas só para conseguir uma folga temporária de sua doença mortal que estava o perseguindo. Na primavera de 1975 parecia haver uma melhora em sua saúde, mas no dia 4 de Junho ele morreu e foi enterrado em Cookham junto com a mãe e o irmão.

 O Jornal The Times falou sobre o pintor:— “Hoje sera jazido no adro separado de Cookham, ao lado de um de seus irmãos e de sua mãe, Frederick Walker, A.R.A., um jovem pintor de gênio raro, cortado prematuramente de seus poderes em uma maré de primavera. Em pouco mais de trinta anos Walker tinha já feito seus poderes cairem nos três campos da arte- como um desenhista em Madeira, como pintor aquarelista e em tinta óleo- de maneira possível somente por um gênio. Suas últimas realizações foram longe para excederem a recoleção de seus primeiros trabalhos como xilogravurista; mas neste personagem ele tinha a mesma influência ampla e bem marcada de seus contemporâneos e sucessores como ele também tinha tido na geração mais jovem de suas pinturas de aquarelas, e como ele prometera, ele tinha de fato começão a exercer além dos pintores a óleo de seu tempo”.

Frederick Walker- Rain (1867) Royal Academy of Arts, London

Frederick Walker- Rain (1867) Royal Academy of Arts, London

Refreshment exhibited 1864 by Frederick Walker 1840-1875

Frederick Walker- Refreshment (1864) Tate Gallery, London

Frederick Walker- self portrait (1896) London, Royal Academy of Arts
Frederick Walker- Autoretrato. Para ver uma outra versão deste auto-retrato, clique aqui. Ou veja ainda uma fotografia de Fred Walker

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Todas as terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor mon(o)t0-ista Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui. UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH