Archive for Fevereiro, 2020

NOVA PEÇA DE ANTONIO E ROCCO PITANGA DISCUTE MEMÓRIA DELETADA DA POPULAÇÃO NEGRA

Fevereiro 29, 2020
TEATRO

Em entrevista ao Brasil de Fato, pai e filho falaram sobre a peça em cartaz “Embarque Imediato”

Caroline Oliveira
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 

Como se eu não fosse brasileiro e também não sou africano. Qual é a minha identidade?”, questiona Antonio. – Caroline Oliveira

A identidade é o todo inteiriço do ser humano. É o que preenche os interstícios das passadas e palavras. É também a unicidade de cada tempo no corpo e no semblante. Antonio Pitanga é negro. No meio da concretude da história e de saber quem se é, no entanto, firma-se o vazio de se perder na enxurrada do presente urgente e imediato, no vazio identitário de ser somente afrodescendente. 

“Como se eu não fosse brasileiro e também não sou africano. Qual é a minha identidade? Se eu não me reconheço como braço construtor desse país, parte integrante, de repente eu sou mais imigrante do que o imigrante, do que o alemão, austríaco, francês, português, holandês. Eu sou brasileiro.” 

Pitanga é braço construtor, brasileiro. Mas isso lhe negam. Pitanga também tem descendência africana, mas isso também lhe negaram quando Ruy Barbosa queimou documentos sobre a escravização de negros africanos, queimando assim suas origens. É nessa busca pelas origens e identidade que pai, filho e filha, Antonio, Rocco e Camila Pitanga, contracenam na peça teatral Embarque Imediato, numa narrativa que confunde o que é real com o que é encenação. 

“São três atores em cena, negros, e um pouco desse tema, desse projeto, dessa peça é um pouco da minha vida. Eu fui para a África, fiquei dois anos, e estou falando ao vivo para os meus filhos e para a plateia um pouco da minha caminhada. Eu não fui visitar a África, eu fui buscar informação de que África eu tinha vindo. Não basta eu só dizer de que África eu sou descendente. Eu quero saber de qual país eu vim, desse continente de mais de 54 países.” contou Antonio em entrevista ao Brasil de Fato sobre seu próprio embarque imediato.

A peça se dá em uma sala de um aeroporto internacional, em meio a um “clean” que deixa o personagem de Rocco em um desespero por sinais que o tirem dali, e o de Antonio numa calmaria anciã. De um lado, o jovem a caminho da Europa, em busca de seu doutorado, numa caminhada ocidentalizada e moderna. Do outro, a paciência de quem sabe que “alguma coisa segue seu curso”. 

Ambos foram deixados ali por perderem o documento de identidade, passaporte, registro geral. Na espera pelos documentos, discutem a identidade que luta para se firmar. “A identidade está no início, na trajetória ou no final? Onde está a sua identidade de fato? Ou no final? Quem é você? Você é o seu RG? Qual é a data de expedição do RG? São a mesma coisa?”, questionam durante a peça.

“Nessa caminhada, há uma tragédia. Há uma memória que é deletada, é dizimada”, afirma Antonio. Na mesma toada Rocco, cujo personagem assume diversas identidades num ritmo ocidentalizado, diz:

“Estamos indo ou estamos levando? O cidadão mais jovem está sendo levado e provocado pelo cidadão mais velho para ele entender quem ele é. E a partir daí profetizar o próprio caminho”, diz.

Para Rocco, a dificuldade de seu personagem é acreditar que é um jovem europeu. “Ele está indo para a Europa buscar outras fontes e completamente desligado da sua raiz, da sua terra, do seu planeta terra”, conta.

Na contramão, Antonio traz às luzes baixas do teatro, a história: quem matou Martin Luther King, quem tirou a vida de Malcolm X, quem afundou os navios negreiros no mar? Num lapso, Rocco vem e a atualiza a história com Marielle, mostrando que o passado é estático, mas se repete.

“E aí dá para ele entender e chega nos dias de hoje. Quem matou Mestre Moa, porque matou, ou matou Marielle. Quer dizer, atualiza e interage com a plateia que não fica só no passado”, afirma Antonio. 

A peça tem texto de Aldri Anunciação e encenação de Marcio Meirelles. Ao fundo, a voz de Camila Pitanga, num tom fantasmagórico, representando o aeroporto, impondo ordens e limites. 

Antonio e Rocco já pensaram em outras análises para a mesma peça: “A gente já chegou nesse lugar. Se o cidadão mais velho talvez seja a própria da consciência dele. Um momento de consciência. Ele passa uma hora de espetáculo onde todos esses conflitos aparecem na cabeça dele. Um momento de consciência talvez”, afirma Rocco. A Antonio complementa: “Uma coisa shakespeariana, hamletiana. Você está vivo? É um fantasma? É ele mesmo ou é a consciência? Eu não existo. Naquela sala clean.”. 

Importantíssima e atual

No passado que se repete, Antonio afirma que a peça é “importantíssima e muito atual politicamente. Hoje, um país virar de cabeça para baixo na questão racial. Um presidente que não gosta de negro, não gosta de mulher de LGBT, de índio. Aqui é uma tese, um debate. A gente tem que se manter vivo e a nossa contribuição é através do que a gente escolheu: teatro”. 

Sobre o atual governo brasileiro, o patriarca, um dos formadores do Cinema Novo, afirma que é mais um vento que está ventando, “e pode ventar todos os ventos do mundo que estaremos aqui de pé”. Com 80 anos, ele entende o seu país, assim como seu personagem entende a história, e ambos estão vivos. “Ninguém chega a 80 anos por um acaso, e negro. É como a arte da guerra, você trabalha com a guerra do outro. Meu foco está na frente. Como dizia Guarnieri, liberdade é pegar o sol com a mão”.   

Em consonância com o pai, Rocco afirma que há uma tentativa, hoje, de censurar o pensar fora do que é o padronizado. É o Brazil matando o Brasil, sua identidade e suas histórias, numa analogia à própria peça. “Eu acho que continuo Antonio e vou morrer Antonio. Eu fico muito emocionada quando eu vejo caras pretas aqui na plateia bebendo na fonte da história”, conclui Antonio. 

A peça fica em cartaz até o dia 8 de março, no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, em São Paulo. 

Edição: Leandro Melito

ORGANIZADORES DO FACADA FEST REBATEM MORO E PUBLICAM FOTO DO DESPACHO ASSINADO POR ELES

Fevereiro 29, 2020
FEVEREIRO DE 2020

É a primeira vez que um festival underground de punk chama tanta atenção

Depois de dizer que “a iniciativa do inquérito” contra os punks do Pará que realizam um festival chamado Facada Fest não havia sido dele e de ter se dito “surpreso” com a Folha de São Paulo, Sérgio Moro, ministro da Justiça, foi confrontado pelo perfil oficial do festival com uma foto do despacho que continha sua assinatura.

Sergio Moro

@SF_Moro

A iniciativa do inquérito não foi minha,como diz a Folha de SPaulo, mas poderia ter sido.Publicar cartazes ou anúncios com o PR ou qualquer cidadão empalado ou esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão.É apologia a crime, além de ofensivo.https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/02/sergio-moro-pede-inquerito-contra-punks-de-belem-por-cartazes-anti-bolsonaro.shtml 

Sergio Moro pede inquérito contra punks de Belém por cartazes anti-Bolsonaro – 27/02/2020 -…

Ilustrações com Bozo empalado e o presidente vomitando fezes em floresta colocaram o Facada Fest na mira do ministro

folha.uol.com.br

17,4 mil pessoas estão falando sobre isso

Facadafest@facadafest

A @folha não mente. Pelo contrário. A requisição, peça jurídica que foi condição de procedibilidade para o procedimento contra o Facada Fest, é assinada por Moro. O despacho é dele.

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Por causa do pedido de inquérito do ministro, “Facada Fest” foi parar nos trending topics do Twitter no começo dessa sexta-feira (28). A jornalista Mônica Bergamo chamou o fato de “sucesso”, o que irritou um dos filhos do presidente. Rachel Sheherazade também entrou na onda, publicando as ilustrações do grupo punk contra Bolsonaro: “Peço que não retuítem, pela honra do nosso presidente”.

É a primeira vez que um festival underground de punk chama tanta atenção.

HORA DO RANGO ENTREVISTA SÉRGIO SANTOS

Fevereiro 28, 2020

ENTREVISTA: LIA DE ITAMARACÁ E A “CIRANDA NO MEIO DO MUNDO”

Fevereiro 27, 2020
REFERÊNCIA

A “Rainha da Ciranda” fala sobre a sua trajetória e resistência de manter e levar adiante a cultura popular

José Eduardo Bernardes e Marina Duarte de Souza
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

 

https://www.brasildefato.com.br/attachments/eyJpZCI6IjE1ZTM2NWZlNTBlZmYyZjQyMjllOGU3MDkzYzEwNzhkLm1wMyIsInN0b3JhZ2UiOiJhdWRpb3MiLCJtZXRhZGF0YSI6eyJmaWxlbmFtZSI6IjI3LTAyLTIwLSBMSUEgREUgSVRBTUFSQUNBIC0gTUFSSU5BIERVQVJURSBERSBTT1VaQS5tcDMiLCJzaXplIjo4MDYyNTQwLCJtaW1lX3R5cGUiOiJhdWRpby9tcGVnIn19

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Lia de Itamaracá e seu vestido azul como o mar de Iemanjá, pouco antes de se arrumar para a homenagem do Ilú Obá de Min, em SP – José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato

“Na ciranda me batizei e estou aqui com a ciranda no meio do mundo”, afirmou Lia de Itamaracá, um dos grandes símbolos da identidade e cultura brasileira, ao ser homenageada pelo bloco afro-feminino Ilú Obá de Min na abertura do carnaval de São Paulo (SP), na última sexta-feira (21). 

Nas ruas do centro da capital paulista, o grupo, composto por 450 integrantes, cujo nome significa “mãos femininas que tocam tambor para o rei Xangô”, cantou e tocou para a maior representante da ciranda brasileira.
 


O bloco Ilú Obá de Min trouxe a homenagem à Lia de Itamaracá no carnaval 2020 e nos muros da cidade de São Paulo, obra feito pelo artista Zito Raúl / Reprodução Instagram @liadeitamaracaoficial

Os cantos da menina faceira da Ilha de Itamaracá, hoje com 76 anos, começaram ainda criança quando frequentava as rodas do Sargaço, Parque São Pedro, do Mestre Antônio Baracho e outros mestres da cultura popular.

“Todo meu sonho era cantar, eu achava bonito quem canta, quem dança. Eu dizia sempre assim, meu Deus, eu queria um dia ser uma cantora para cantar para muito público, muita gente, para eu sentir aquele povo todo, será que eu vou alcançar isso meu Deus?”, relembra Lia.

Não só alcançou, mas se tornou a Rainha da Ciranda e com sorriso aberto e brincadeiras recebeu o Brasil de Fato para contar algumas das histórias de como Maria Madalena Correia do Nascimento, seu nome de batismo, conseguiu superar inúmeros obstáculos e se transformar em Lia de Itamaracá, uma das grandes estrelas da cultura brasileira.

 


Iemanjá saúda simbolicamente Lia de Itamaracá durante o desfile do bloco Ilú Obá de Min / Marina Duarte de Souza/Brasil de Fato

“Teca Calazans, uma pesquisadora de música e artista, esteve na Ilha de Itamaracá, em 1961 para 1962, ela me ouvindo cantar pediu para cantar uma música para ela. Uma dessas músicas que eu solfejei para ela, surgiu essa ‘Quem me deu foi, Lia’. Ela disse: ‘essa música é um amor, eu vou por letra nisso e será uma ciranda em sua homenagem’”, conta a mestra que, assim como muitas meninas negras, trabalhava com os sete irmãos e a mãe em um sítio de uma família rica na ilha situada na capital pernambucana.

Tempos depois, Lia e a comunidade de Itamaracá ouviram a música no rádio. A partir daí ela, com 20 anos, resolveu “assumir a responsabilidade”, como define, e levar a ciranda pelas terras pernambucanas e, depois, mundo afora.

A rainha da ciranda

A fama se espalhou e Lia, que alguns apenas conheciam como um folclore nordestino da música, lançou em 1977 o LP Lia de Itamaracá – A rainha da ciranda.

Mesmo depois de ganhar na época a capa da revista Veja com o título “A lendária Lia de Itamaracá, 33 anos, lança seu álbum”, o ritmo das coisas diminuíram pela falta de valorização e retorno financeiro do antigo produtor. 

Com a parada durante os anos 1980 e 1990, Lia “lutou, lutou e lutou”, como ela mesmo disse, e buscou o sustento em outras formas de trabalho, enquanto cantava ciranda nas horas vagas.

No bar e restaurante Sargaço, localizado no bairro de Jaguaribe, próximo à sua morada, cozinhava durante o dia e, à noite,  encantava o público com ciranda. Depois passou a trabalhar como merendeira em uma escola da região, mas sem deixar a paixão pela música.

“Não abandonei a ciranda de jeito nenhum, na escola eu dançava e cantava a ciranda com os meninos, não abandonei não, era o que eu queria fazer, gostava de fazer. Estava sempre na ativa”, afirma Lia.

 O meu trabalho é mais reconhecido fora, no meu lugar, é a Deus dará. Eu tenho que sair para poder aproveitar o que Deus está me dando e a idade também que está chegando e daqui a pouco, Lia cadê?

 

A resiliência da brincante de ciranda deu frutos no final dos anos 1990, quando encontrou o produtor Beto Hees, parceiro de Lia há mais de duas décadas. Hoje ela vive um momento peculiar da carreira e lançou recentemente o álbum Ciranda sem fim (Natura Musical) – quarto álbum da discografia da cirandeira e o primeiro desde Ciranda de ritmos (2010) – , e uma biografia, “Lia de Itamaracá”, lançada em julho do ano passado em parceria com o jornalista conterrâneo Marcelo Henrique Andrade.

Referência e símbolo de luta para outras mulheres, Lia de Itamaracá é convidada há 10 anos para fazer a grande ciranda da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que acontece na Paraíba e reúne todo dia 8 de março agricultoras do Nordeste para dar visibilidade ao papel das camponesas na agricultura e denunciar todas as formas de violência contra a mulher.

Entretanto, mesmo com o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, a mestra de ciranda sofre com falta de valorização e apoio no próprio governo pernambucano. “O meu trabalho é mais reconhecido fora, no meu lugar, é a Deus dará. Eu tenho que sair para poder aproveitar o que Deus está me dando e a idade também que está chegando e daqui a pouco, Lia cadê? Lia não fez nada, nem amostrou-se”, afirma ela ao contar, entristecida, que este ano não toca nas festividades do carnaval do estado, que não quis pagar um cachê combatível com seu show, que conta com uma equipe de pelo menos 10 pessoas.

 A ciranda é muito bom, a ciranda é uma confraternização, é onde todo mundo dá-se as mãos, na maior satisfação, alegria

 

A reivindicação de Lia se estende a toda cultura popular local. “O que falta é apoio, que as festividades estão se fazendo, se plantando, mas não tem apoio. No Recife os governantes não chegam perto dos artistas, tem muitos mestres da cultura no Recife, tudo encostado, muitos já morrendo. Com tanta coisa boa, com tanto trabalho bonito, mas, infelizmente, ninguém chega perto, ninguém ajuda”.

 


Ciranda com Lia nas ruas do centro de São Paulo com Ilú Obá de Min e as representações dos orixás das religiões de matriz africana / Marina Duarte de Souza/Brasil de Fato

Em tempos de retrocesso e intolerância, a mestra segue sua missão de disseminar a ciranda e suas formas de amor nas escolas da região, shows e no centro cultural que criou em Itamaracá, mas que segue sem fomento.

“A ciranda é muito bom, a ciranda é uma confraternização, é onde todo mundo dá-se as mãos, na maior satisfação, alegria. A ciranda não tem preconceito, dança branco, preto, criança, velhos, não tem preconceito. Caiu na roda, dança!”, brinca Lia, que tem consciência do símbolo e exemplo de luta que é, “Lia morre, mas fica a nota no mundo, o trabalho que Lia fez no mundo, já ficou”.

Edição: Rodrigo Chagas

POLÍTICA DE BOLSONARO PARA O CINEMA “É UM CRIME”, DIZ ATRIZ PORTUGUESA EM BERLIM

Fevereiro 27, 2020
FESTIVAL

Leonor Silveira atua em Todos os Mortos, filme brasileiro na competição internacional do Festival de Cinema de Berlim

Rui Martins
Brasil de Fato | Berlim* |

 

Leonor Silveira, atriz portuguesa descoberta por Manoel de Oliveira, atravessou o Atlântico para filmar no Brasil – Foto: John MACDOUGALL / AFP

Atriz portuguesa no filme Todos os Mortos, Leonor Silveira define como ” um crime,  uma vergonha mundial” o que o governo Bolsonaro está fazendo contra o cinema no Brasil. A declaração foi feita ao Brasil de Fato,  durante o Festival Internacional de Cinema de Berlim.

“Tenho pena por não perceberem o mal que estão a fazer ao Brasil. Mas também sei que foram se meter com quem não deviam, porque artista tem resistência como diz a Sara Silveira, para continuar a criar. E o artista brasileiro é muito bom em todas as áreas. E esse palco, como é o da Berlinale, que traz este ano 19 filmes brasileiros e outros que vierem no próximo ano, mostra e mostrará o que é a coragem e a capacidade do cinema brasileiro e não há nada que impeça que isso continue”, afirmou a atriz.

Na ocasião da estréia de Todos os Mortos no Festival, Sara Silveira, produtora do filme já havia alertado para os riscos colocados ao cinema nacional pelo governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro.

“Estamos sendo totalmente tolhidos, freados por um governo que não entende, talvez por lhe faltar inteligência. Já que são tão neoliberais porque não entendem que proporcionamos empregos, idéias, diversidade e, sobretudo, resistência”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato.

Primeira atuação no Brasil

Leonor Silveira, atriz portuguesa descoberta por Manoel de Oliveira, um dos maiores cineastas portugueses, atravessou o Atlântico para filmar pela primeira vez no Brasil. Ela faz parte do elenco de nove mulheres do filme Todos os Mortos, na competição internacional do Festival de Cinema de Berlim.

A presença de Leonor Silveira no filme dos brasileiros Caetano Gotardo e Marco Dutra, foi importante, pois Todos os Mortos lembra uma época em que o Brasil era ainda bastante próximo de Portugal, apenas dez anos após a proclamação da República, logo depois de ter acabado a escravatura dos descendentes dos negros levados da África.

“Nunca participei em filmes do cinema brasileiro, essa é a minha primeira vez e o fiz com muita satisfação e muito orgulho. Caetano e Marco vieram ao meu encontro em Portugal e me propuseram essa participação, uma oportunidade maravilhosa. Tivemos os primeiros contatos por email mas depois vieram a Lisboa”, conta.

Sobre algumas diferenças de linguagem, Leonor explica ter havido alguns momentos nos quais algumas palavras tiveram de ser trocadas para serem entendidas. E sua participação previa justamente o sotaque português de Portugal, pois na época do filme era grande a influência portuguesa no Brasil.

Confira os filmes brasileiros que participam do Festival de Berlim 

Este ano o Brasil alcançou o recorde de filmes brasileiros que serão exibidos no Festival, ao todo 19 produções brasileiras serão exibidas até o dia 1 de março.

Na mostra Panorama , cujo tema principal é a situação dos imigrantes, foram selecionadas cinco produções brasileiras. 

Cidade Pássaro (Brasil / França), de Matias Mariani
Nardjes A. (Argélia / França / Alemanha / Brasil / Qatar), de Karim Aïnouz
O Reflexo do Lago (Brasil), de Fernando Segtowick
Um Crímen Comun (Argentina / Brasil / Suíça), de Francisco Márquez
Vento Seco (Brasil), de Daniel Nolasco

A mostra Geração, selecionou quatro produções brasileiras. Dedicada a retratos da infância e da juventude, os filmes dessa mostra são divididos entre Kplus, apropriados ao público infantil, e 14plus, voltados aos adolescentes.

Kplus

, de Ana Flávia Cavalcanti e Júlia Zakia

14plus

Alice Júnior, de Gil Baroni
Irmã, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes
Meu Nome É Bagdá, de Caru Alves de Souza

Para as mostras  Forum e Forum Expanded, dedicadas ao cinema experimental, foram selecionadas sete produções brasileiras.

Forum

Vil, Má (Brasil), de Gustavo Vinagre
Luz nos Trópicos (Brasil), de Paula Gaitán
Chico Ventana También Quisiera Tener un Submarino (Uruguai / Argentina / Brasil / Holanda / Filipinas), de Alex Piperno

Forum Expanded

Apiyemiyekî? (Brasil / França / Holanda / Portugal), de Ana Vaz
Jogos Dirigidos (Brasil), de Jonathas de Andrade
(Outros) Fundamentos (Brasil), de Aline Motta
Vaga Carne (Brasil), de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.
Letter From a Guarani Woman in Search of the Land Without Evil (Brasil), de Patricia Ferreira Pará Yxapy

Na mostra Encounters, nova mostra competitiva consagrada a propostas estéticas inovadoras, será exibido Los Conductos, de Camilo Restrepo (coprodução Colômbia, França, Brasil)
 

***

*Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. É criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de LisboaCorreio do Brasil e RFI.

Edição: Leandro Melito

ESCOLA DE SAMBA VIRADOURO É CAMPEÃ DO CARNAVAL CARIOCA 2020

Fevereiro 26, 2020

PRODUÇÃO ESQUIZOFIA.

 

 

Unidos do Viradouro – Samba-Enredo 2020
Samba-Enredo

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[Enredo: Viradouro de Alma Lavada]

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã

Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê

Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê

São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!

Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã

Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê

Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê

São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!

Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar

Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!

Desfile completo da Viradouro.

 

COM HOMENAGEM A PAULO FREIRE, ÁGUIA DE OURO É CAMPEÃ DO CARNAVAL DE SÃO PAULO

Fevereiro 25, 2020
SABEDORIA
Escola de samba apresentou enredo com o tema educação, alvo de ataques do governo Bolsonaro, e puxou gritos de viva ao educador no sambódromo
José Cordeiro/SPTuris

Escola de samba afrontou governo Bolsonaro ao homenagear o educador brasileiro alvo constante de ódio do presidente

São Paulo – Em disputa acirrada e decidida no último quesito, a escola de samba Águia de Ouro sagrou-se a grande campeã do Carnaval de São Paulo 2020, com o enredo “O poder do saber – Se saber é poder….Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. O samba fala sobre a importância da educação, a evolução do conhecimento humano e homenageou o educador Paulo Freire, alvo constante de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem Partido), dos seus ministros e apoiadores.

Além de lembrar o patrono brasileiro da educação em uma das alegorias que lembrava uma escol, a Águias de Ouro lembrou uma das frases mais famosas do educador – “não se pode falar de educação sem amor” – e levou as arquibancadas a cantar repetir várias vezes “Viva Paulo Freire”.

O samba enredo campeão abordou a história do conhecimento, partindo da Idade da Pedra. A escola ainda incluiu em suas alas mensagens sobre diversidade e pessoas com deficiência.

É a primeira vez que a escola, que tem sede no bairro da Pompeia, zona oeste da capital, conquista a disputa no Grupo Especial. A Mancha Verde ficou em segundo lugar, seguida da Mocidade Alegre, em terceiro. As três, mais Acadêmicos do Tatuapé, que ficou em quarto, e Dragões da Real (quinto), voltam à avenida na próxima sexta-feira (28) para o Desfile das Campeãs.

As tradicionais X-9 Paulistana e Pérola Negra ficaram respectivamente em 13º e 14º lugares e foram rebaixadas para o Grupo de Acesso do Carnaval de São Paulo no ano que vem.

Com problemas técnicos em seu desfile, a Gaviões da Fiel ficou em 11º lugar, escapando do rebaixamento por 0,5 ponto.

Haddad irônico

O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) parabenizou a escola vencedora e aproveitou para provocar o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Educação, Abraham Weintraub.

“Quem sabe o Bolsonaro se anima, lê um livro do Paulo Freire e alfabetiza seu ministro. Parabéns Águia de Ouro: campeã do Carnaval 2020 de São Paulo”, postou no Twitter, ironizando a falta de conhecimento e leitura da dupla.

Fernando Haddad

@Haddad_Fernando

Quem sabe o Bolsonaro se anima, lê um livro do Paulo Freire e alfabetiza seu ministro. Parabéns Águia de Ouro: campeã do Carnaval 2020 de São Paulo. https://www.uol.com.br/carnaval/2020/noticias/redacao/2020/02/25/aguia-de-ouro-e-a-campea-do-carnaval-2020-de-sao-paulo.htm  via @UOLEstilo @UOL

Águia de Ouro é a campeã do Carnaval 2020 de São Paulo

Águia de Ouro é a grande campeã do Carnaval 2020 de São Paulo após levar para a avenida um…

uol.com.br

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O CARNAVAL DA CRÍTICA POLÍTICA DOS BLOCOS ÀS ESCOLAS DE SAMBA

Fevereiro 25, 2020

Parte do Brasil que foi aos sambódromos e tomou as ruas satiriza o presidente Jair Bolsonaro, critica escândalos, se queixa de frases polêmicas de ministros e convida o país à reflexão na era das fake news

Humorista Marcelo Adnet.
Humorista Marcelo Adnet.RICARDO MORAES / REUTERS (REUTERS)

Imagine o atual contexto político brasileiro contado por fantasias irreverentes, cartazes debochados e uma interpretação no mínimo caricata de protagonistas da cena pública do país. No Carnaval do Brasil, é como se o noticiário inteiro desfilasse pelas ruas. De norte a sul, os blocos estão cheios de domésticas indo para a Disney ―uma alusão às declarações do ministro Paulo Guedes― e de ‘senadores’ Cid Gomes dirigindo uma retroescavadeira enquanto ameaçam entrar num quartel com policiais amotinados. As alfinetadas políticas dos tradicionais blocos carnavalescos também gritam dos sambódromos, lá em cima de pomposos carros alegóricos. O grande destaque da última segunda-feira foi o humorista Marcelo Adnet fantasiado de presidente Jair Bolsonaro no desfile da escola de samba São Clemente, no Rio de Janeiro.

Adnet fazia arminha com a mão e as famosas “flexões de braço” atribuídas a Bolsonaro enquanto desfilava em uma alegoria intitulada Malandro Oficial. Ao seu redor, muitos cartazes com frases como “acabou a mamata”, “tá ok” ou “foi o Leonardo di Caprio”, esta última uma referência à acusação de envolvimento do ator hollywoodiano com os incêndios na Amazônia. Sobrava ironia em todo o enredo chamado O Conto do Vigário para falar da desinformação que tem imergido na guerra de narrativa do Brasil polarizado, como por exemplo o terraplanismo e o movimento antivacina. “Brasil compartilhou, viralizou, nem viu. E o país inteiro assim sambou, caiu nas fake news”, dizia o samba composto também por Adnet.

Enquanto a performance do humorista virava um dos assuntos mais comentados do Twitter na manhã desta segunda-feira, o próprio presidente Jair Bolsonaro resolveu usar a rede social para fazer seu próprio contraponto às críticas carnavalescas. Compartilhou um post de uma página de procedência duvidosa chamada Pau de Arara Opressor, agradecendo os supostos aplausos de foliões num desfile de bonecos gigantes dele e de seus ministros em Pernambuco. A internet não o perdoou. Começaram a viralizar vídeos dos bonecos sendo vaiados e xingados em Olinda.

Jair M. Bolsonaro

@jairbolsonaro

Obrigado pela consideração, OLINDA-PE!

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Poucos dias antes da treta carnavalesca que tomou o Twitter, a cantora Elza Soares interrompeu xingamentos ao presidente durante um show no carnaval pernambucano e pediu aos foliões para subir o nível das críticas ao Governo. “Não adianta mandar o cara tomar aqui, tomar ali gente. O negócio é ir para a rua. É bobagem, a gente não tem que mandar nada, tem que ir para a rua, é na rua que a gente faz a reviravolta, nas ruas”, defendeu.

E foi justo esse tom mais elevado que a Mangueira levou para a Marquês de Sapucaí neste Carnaval, com um Jesus que causou alvoroço nas redes sociais, entre elogios pela analogia com o sofrimento das minorias e críticas sobre ofensas religiosas. A escola de samba ressignificou a vida de Jesus Cristo. Levou para a avenida ‘jesuses’ do morro, negros, pobres, indígenas, mulheres, gays. Um Jesus crucificado e morto por policiais.

Desfile da Mangueira no Carnaval do Rio.
Desfile da Mangueira no Carnaval do Rio.RICARDO MORAES / REUTERS (REUTERS)

Em São Paulo também não faltou crítica política nos desfiles. A Mancha Verde levou figurantes fantasiadas de empregadas domésticas ao sambódromo, com a carteira de trabalho na mão. Também apresentou a ala “Meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, uma referência à frase polêmica da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Já a escola Tom Maior levou uma alegoria gigante da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros em 2018.

ESCOLA DE SAMBA UNIÃO DA ILHA COLOCA BOLSONARO E SUA TURMA NA LATRINA

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BANDINHA DO OUTRO LADO, DA ASSOCIAÇÃO FILOSOFIA ITINERANTE (AFIN), REALIZA MAIS UMA FOLIA DIONISÍACA-INFANTIL

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PRODUÇÃO ESQUIZOFIA

Pela décima terceira vez, a Bandinha do Outro Lado, folia das crianças, da Associação Filosofia Itinerante (AFIN) realizou seu carnaval. Desta vez, com a parceria do Clube de Mães do Amazonas Voluntários Sem Fronteira. Como não poderia ser diferente, as criança mostraram que também se identificam com as marchinhas de carnaval que historicamente criaram o caráter da folia nacional. Cantar e dançar só marchinhas de carnaval, é o tom da Bandinha do Outro Lado. Sé é carnaval, é carnaval! Nada mais do que carnaval. 

O folguedo carnavalesco infantil, neste ano contou com a presença do famoso saxofonista Antônio Frazão que no auge de seus 84 anos deitou e rolou com seu som no embalo das crianças e seus pais. Frazão é um músico com história-musical invejável. Já tocou em todo o estado do Amazonas. Principalmente nas cidades do interior. Sua participação foi sua contribuição para a política pedagógica da comunidade na qual ele é envolvido.

A folia da Bandinha do Outro Lado é dividida em quatro partes: A dança e o canto em si. A dança individual do frevo. O desfile das fantasias, criadas pelas próprias crianças, e e o enfrentamento gastronômico: o encontro com as comidas e sucos. Além, da pipoca, bom-bom e sorvete. 

Valeu, criançada!