Archive for the ‘Histórias do Cinema’ Category

INCÊNDIO NA CINEMATECA BRASILEIRA DESTRIU ROLOS DE FILMES, MAS MINISTÉRIO DA CULTURA DIZ QUE TEM CÓPIAS DOS FILMES

Fevereiro 4, 2016

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A Cinemateca Brasileira, situada na zona sul de São Paulo, contém em seu acervo, o maior da América Latina, mais de 200 mil rolos de filmes distribuídos em longa-metragem, curta-metragem, livros, roteiros originais, revistas, foros, cartazes e 30 mil títulos de cinejornais. Ele também mantém os audiovisuais da primeira TV brasileira a TV Tupy que foi inaugurada no ano de 1950. Há também no acervo obras antigas criadas desde o ano de 1895 como obras de ficção, filmes publicitários e registros familiares nacionais e estrangeiros.

Na madrugada de ontem, parte da Cinemateca, propriamente na Câmara 3 do depósito de filmes onde se encontram filmes em nitrato de celulose que é o tipo de matéria usada na produção cinematográfica antes do ano de 1950, sofreu um incêndio consumindo alguns rolos de filmes.

Informado sobre o sinistro e o que ele consumiu o Ministério da Cultura diminuiu as preocupações. Divulgou que o Ministério tem as cópias dos rolos de filmes consumidos pelo fogo. Uma boa precaução para a história do cinema brasileiro, já que é comum se ouvir que o brasileiro não tem memória. Agora, diante dessa precaução positiva, já não se pode generalizar a afirmação. O Ministério da Cultura enfraqueceu essa sentença.

O que significa que o povo brasileiro pode afirmar: Tratando-se da história do cinema brasileiro, o brasileiro tem memória cinematográfica.

EXPOSIÇÃO TRUFFAUT – UM CINEASTA APAIXONADO

Julho 15, 2015

fotos_documentos_de_francois_triffautAté o dia 18 de outubro o público terá oportunidade de vivenciara no Museu da Imagem do Som, em São Paulo, 660 itens que compõem o desenrolar da estética cinematográfica de um dos mais aplaudidos cineasta do cinema francês e um dos mais célebres do mundo: Truffaut. Um dos fundadores da criativa e combativa, nouvelle vague.

fotos_documentos_de_francois_triffaut_1A mostra que reúne filmes conhecido, filmes inéditos, fotos, objetos pessoais, livros, revistas, croqui de figurinos, ensaios de atores e atrizes, correspondências, manuscritos, cadernos, entre outros objetos, foi produzida pela Cinemateca Francesa.

thumbO público poderá vivenciar a diferença entre a mostra realizada na França e a realizada no Brasil. A mostra do Museu da Imagem e Som apresentará a história de Truffaut através de sua continua relação com o cinema. Já na mostra da França Truffaut tem sua obra e vida apresentado de forma cronológica.

truffaut01_0Ainda na mostra serão ministrados três cursos, nos meses de agosto e setembro, que mostrarão os aspectos da obra do cinegrafista francês. Ocorrerão cinco encontros em que o crítico e professore Sérgio Rizzo vai mostrar os momentos mais importantes da carreira de Truffaut. Já o compositor Tony Berchmans, em três aulas, analisará a importância das composições na obra do cinegrafista O Último Metrô. Por seu lado, o professor Pedro Maciel Guimarães vai dissertar sobre a relação de Truffaut com seus atores e atrizes.  

Só não vai quem não pode ir, quem não gosta de cinema ou quem não gosta de Truffaut. As duas últimas condições são de lamentar. Não gostar de cinema e não gostar de Truffaut.

Para o bem do cinema tem aqueles que dizem: Se tru ffaut eu vou!

“MOSTRA EM FAMÍLIA” APRESENTA 28 LONGAS-METRAGENS COM TEMA FAMÍLIA

Fevereiro 6, 2015

8edbdc49-c4e8-47db-8b45-c93a9ffed5d8 (1)Até o dia 25 de fevereiro o Centro Cultural São Paulo (CCSP) estará apresentando a mostra 28 longas-metragens Mostra em Família. A mostra trata de filmes com o tema família. Como se sabe a família tida como célula social que serve de base para a construção da sociedade carrega vários elementos que lançam seus filhos ao contexto social.

405d69a5-b20c-49cd-aec7-816fe3ff7141 (1)corpos econômico, moral, psicológico, social, trabalhista, estético, religioso, antropológico etc., agenciam os membros das famílias dispondo-os as formas de condutas expressadas nas relações sociais. E são essas condutas que são tratadas pelos diretores dos filmes que serão exibidos.

A mostra é composta de obras internacionais e nacionais de realizadores como Ang Lee, Woody Allen, Julie Bertucelli, Yoli Yamada, Kiyoshi Kurosawa, Yasujiro Ozu, Ingman Bergman, o português Manuel de Oliveira e André Novais entre outros.

Todos os filmes carregam suas importâncias em função do tema, mas tem um que chama atenção. E o Gebo e a Sombra, do português Manuel de Oliveira, lançado quando o cinegrafista completou 104 anos.

47° FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO TEM ABERTURA COM “DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL”, GLAUBER ROCHA

Setembro 17, 2014

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O premiado e histórico cinema do cinegrafista revolucionário Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, abriu o 47° Festival de Brasília de Cinema Brasileiro. O cinema que foi lançado no ano do início da fase horrenda que o Brasil sofreu, a ditadura civil-militar, 1964, e completa 50 anos, foi indicada no Festival de Cannes ao Prêmio Palma de Ouro. A cópia exibida na abertura do festival foi restaurada.

Para Hamilton Pereira, secretário de Cultura do Distrito Federal, o cinema de Glauber Rocha é um marco da história do Brasil.

“Ele nos convoca, chama para colocar a nossa cara na frente do espelho, das nossas grandezas e misérias”, disse Hamilton Pereira.

Presente na abertura do festival, Paloma Rocha, filha do cineasta rebelde e revolucionário, disse se sentir orgulhosa pela homenagem ao seu pai e considerou com muito boa a forma como o festival está sendo apresentado.

“Eu recebo essa homenagem com carinho e orgulho. Acho que Deus e o Diabo abrir esse festival é uma honra. Estou feliz pela retomada do seu espírito, privilegiando a autoria, a invenção e a qualidade dos filmes que estão em competição. É um festival importantíssimo que tem a tradição de trazer para as telas o que há de mais interessante de inovação no cinema brasileiro, de linguagem e método de produção”, observou Paloma Rocha.

Sara Rocha, neta de Glauber Rocha e filha de Paloma, que trabalhou como coordenadora adjunta da restauração da obra do cineasta disse que Deus e o Diabo é um cinema é clássico do cinema nacional não só por sua beleza estética, mas pelo fato de ter sido produzido no alvorecer da ditadura.

“Dez anos depois dessa imersão, a gente pode coroar, premiar o festival de Brasília com essa exibição de abertura, deixando o legado para as próximas gerações. Nesse ano que tanto se falou em ditadura militar, desse período de cerceamento da criatividade, dos modos de produção do cinema. Deus e o Diabo na Terra do Sol é um filme incontestável, um clássico do cinema nacional que não podia passar despercebido”, comentou Sara Rocha.

 

 

 

 

A ÚLTIMA SESSÃO*

Setembro 8, 2014

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Ele era fã de Charles Chaplin. Tinha uma coleção completa do talentoso cômico. Um gosto que floresceu quando ainda era criança e fora estimulado pelos pais que pediam sempre algumas imitações do artista.

Quando cresceu se tornou agente policial. E como agente policial, no período da ditadura civil-militar, passou a usar o codinome Chaplin. Entre seus comparsas passou a ser assim tratado forçado pelo fato de continuar fazendo imitações do autor de Carlitos. Nos aniversários de sua família ou de colegas, ele não pedia a oportunidade para fazer as mímicas.

Todavia, o momento em que tinha mais prazer em recorrer ao cômico era quando interrogava um preso. O preso ficava algemado na frente dele, e, antes do interrogatório, ele fazia sua pantomímica. No meio do interrogatório ele parava e reiniciava sua apresentação mímica. Mas, o momento de maior júbilo para ele era quando ia realizar o último interrogatório e sabia que a partir daquele momento o preso desapareceria. Ele chegava, olha para o preso e dizia que aquele seria a última sessão.

Embora tivesse a coleção de DVDs de Chaplin, ele gostava mais de assistir seu ídolo no cinema. Informado que uma casa de projeção estava passando um Festival Charles Chaplin, ele, contente, nos seus 74 anos como seguidor de Carlitos, foi assistir o ídolo.

Ele chegou e viu que a sala estava vazia. Sentou em uma poltrona no meio da sala, e logo em seguida começou a sessão. Quando iniciou O Garoto, ele sentiu uma intensa alegria. Olhou às poltronas vazias, só ele na sala, ficou mais alegre: Chaplin era definitivamente só seu.

Envolvido na comicidade de Carlitos, não viu quando dois rapazes sentaram na fila de poltronas em que ele estava sentado. Um na última poltrona da direita, e o outro na última poltrona da esquerda.

A sessão foi se sucedendo até que chegou ao seu final. As luzes foram acesas, e os dois rapazes começaram a imitar Chaplin. Ele viu a imitação, sorriu e também fez alguns gestos chaplianos. Os rapazes foram se aproximando dele, e ele sorrindo em sua imitação, ficou paralisado quando percebeu que os dois rapazes estavam armados, com duas pistolas lhe obrigando a entregar tudo que tinha de valor. Ele balançou a cabeça lembrando um gesto de Chaplin, e tentou sacar sua arma, mas foi inútil: os rapazes disparam quatro tiros em sua cabeça.

Em seguida, tiraram-lhe todos seus pertences, e saíram da sala dizendo que aquela era a última sessão do otário.

*Conto da obra, em realização, Contos Sem Dez Contos.

GERALDINE CHAPLIN É HOMENAGEADA NA 3º EDIÇÃO DO BRASÍLIA INTERNACIONAL FILME FESTIVAL (BIFF)

Agosto 30, 2014

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A Terceira Edição do Brasília Internacional Filme, O Biff, que começou no dia 28 e vai até o dia 6 de setembro, e tem uma programação variadíssima em espetáculos cinematográficos, homenageou a talentosa, carismática e comprometida Geraldine Chaplin, filha do mais conhecido comediante-engajado e criativo, Charles Chaplin. Uma ocorrência sublime do cinema internacional.

Durante sua permanência na sala do Cine Cultura Liberty Mall, em Brasília, a atriz esbanjou simpatia e empatia com todos que se encontravam presentes no recinto da sétima arte. Foi um espetáculo magnífico de envolvimento com público fora dos écrans. Geraldine falou sobre alguns temas de sua carreira e principalmente de seu pai Charles Chaplin, que considera seu ídolo.

E para tornar sua presença no Biff mais importante, o personagem criado pelo seu pai e que se tornou o mais famoso do cinema mundial, Carlitos, completa nesse ano de 2014, seu centenário. E, também, por isso, é homenageado no evento cinematográfico. Geraldine falou de suas interpretações em vários filmes como Doutor Jivago, de 1965, Fale Com Ela, de 2002. E sua participação no filme Chaplin, de 1992, sobre a vida de, onde interpreta sua própria avó, Hannah.

“Vivo à sombra do meu pai. É uma sombra maravilhosa e aconchegante. Quando não me perguntam sobre ele fico inquieta.

Carlitos é meu herói. É uma inspiração para todo mundo, porque representa a pessoa que dá patadas na autoridade, e isso é muito importante fazer. É alguém que cai e se levanta outra vez.

Eu vejo Carlitos com a pretensão de ser um pequeno burguês. É um vagabundo e essa pretensão dele nos dá esperança.

Sobre o filme Chaplin, foi uma grande alegria, porque era um papel belíssimo. Eu não pensava em ter nenhum papel no filme, porque eu era muito jovem para viver minha mãe e muito velha para outras mulheres. Não havia pensado na minha avó, porque não parecemos em nada. Ela era baixa, de olhos azuis e muito gorda”, disse a talentosa Geraldine Chaplin.

Durante o evento serão exibidos vários cinemas de Charles Chaplin.

PASSEIO KINEMA-HISTÓRICO

Agosto 16, 2014

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Sequenciando os instrumentos técnicos-kinema-históricos o passeio esquizo de hoje carrega boas revelações. Partindo do Praxinoscópio de Emile Reynard, vamos o fuzil-fotográfico do francês Ètienne Jules Marey, inventado no ano de 1882 que ele usou para fotografar pássaros voando. Mas as pesquisa não param e não param porque são importantes para a sustentação científica do capitalismo técnico-industrial.

Um importante salto científico para desembocar na possibilidade da produção do filme ocorreu no ano de 1887, quando o norte-americano Hannibal Williston Goodwin, patenteou uma película de celulose. Logo em seguida, em 1889, William Kenedy Dickson, que fora auxiliar de Thomas Edison, criou um processo para fazer passar uma película pelo interior de uma câmara. Para conceber a ideia de quem inventou a câmara cinematográfica se estabeleceu que ela fora inventada simultaneamente por Marey e William Freise-Greene. Claro que eles apenas foram combinando inventos anteriores até chegar à câmara cinematográfica. Sem os inventos anteriores eles não teriam chegado às suas invenções, é mais do óbvio, mano.capa 001 capa 002

Então, depois da criação da câmara cinematografia, apareceu o elemento necessário para complementação da arte cinematográfica: o projetor. Todos sabem que a arte cinematográfica tem dois corpos agenciadores de comunicação coletiva: a câmara filmadora e o projetor do filme. E novamente aparece a questão científica. Em 1890, alguns pesquisadores se dedicaram a essa tarefa. Em 1892, no Musée Grévin de Paris, Émile Reynard apresentou uma série de pantomimes lumineuses. Em 893, em Chicago, Muybridge, apresentou um aparelho camado de Zooscópio. Todavia, em uma loja da Broadway, Edison, expos o aparelho Cinetoscópio, inventado por seu auxiliar Dickson. Edison, não era otário. Era muito esperto. Alias, como essas pesquisas tinham como drive o capitalismo industrial-científico, nesse meio não havia gente ingênua.capa 003 capa 004

Ocorreu, porém, para perturbar a ambição de Edison, que o cinetoscópio tinha suas limitações. Ele não projetava imagens sobre uma tela grande e não trabalhava com filmes longa-metragem. Mas, como dizem os sábios capitalistas envolvidos no lucro que não há problema que não tenha solução para esse sistema econômico, em 1895, Woodville Latham, apresentou a solução: a famosa Curva de Latham. Ela regulava o movimento da bobina criando uma velocidade necessária para que o olho humeno pudesse captar a imagem. Porrada, meu! O mesmo não se pode falar do movimento da imagem-computada que é usado na televisão e internet, onde esse movimento é para seres de outras galáxias. É um movimento para ocultar a imagem. São truques computadorizados usados para ocultar a ausência de talento de seus realizadores. Por isso, que se afirma, sem receio de errar, que os filmes que usam esses recursos não podem ser tratados como cinema.capa 001 capa 002

Bem, moçada, a partir de 1895, o panorama do cinema estava arreganhado. Um exemplo. No mês de setembro desse mesmo ano, foi realizado na Exposição do Algodão, nos estados de Atlanta, Georgia, Thomas Armat realizou a exibição de alguns filmes. Em novembro, Max Skladanowski, realizou projeções no Wintergarten de Berlim, na Alemanha. Em 28 de dezembro, os nossos já conhecidos irmãos Lumière, em Paris, exibiram, em um porão, algumas fitas que deixaram o público ouriçado com a nova percepção. E, em fevereiro de 1896, em Londres, Robert W. Paul fez demonstrações como o revolucionário projetor.

Leiam essa onda e tirem o sarro que é possível. No dia 23 de abril de 1896, em uma sala do Koster and Bials Music Hall, em Nova York, o narcisista, esperto e ambicioso Thomas A. Edison, fez uma apresentação e proferiu essa sintomática sentença:

– “Essa é a primeira exibição pública da última maravilha de Edison”.

Gostaram? Estava aberta a temporada do cinema comercial. E tudo ficou muito claro: Edison não era um inventor, mas um empreendedor que fazia uso das invenções alheias. Aberração capitalista. Do jeito que o capitalista produz sua riqueza roubando a vida do trabalhador através de sua força de trabalho, eufemisticamente simbolizada como salário, Edison roubava os inventos dos outros pesquisadores como fez com seu auxiliar Dickson, inventou do cinetoscópio.

Deleitem-se com as imagens que outros passeios ocorrerão.

PASSEIO KINEMA-HISTÓRICO

Agosto 1, 2014

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 “Para mim, cinema é fotografia e o que é interessante é fotografar a realidade”.

                                 Jean Renoir

Hoje, o passeio é um real passeio esquizo dado suas decomposições cronológicas. Vamos passear enquanto seu lobo não vem. Vamos passear por percursos que o lobo não passa. Percursos históricos científicos-tecnológicos.

Antes, gostaríamos (não gostaríamos: gostamos), com a devida venha de todos, nos reportarmos ao comentário de um companheiro, o filósofo e economista, Anderson Litaif, que disse encontra-se aproveitando esse passeio kinema-histórico para fazer um curso de história do cinema. Agradecemos a parceria, mas não sabemos se se trata de um curso, mas que é um suave, alegre e cumpliciado passei, é. Com esse comentário você deixa nossos ‘amigos’ ouriçados.

Para o primeiro passo, uma pergunta não-didática: Quem inventou o cinema? Resposta paradidática: Ninguém. Segundo o talentoso historiador do cinema John Howard Lawson, criador da insigne obra, O Processo de Criação no Cinema, é impossível afirmar “a quem cabe o mérito da criação. Historicamente muitos indivíduos contribuíram para a criação do cinema. E mais, “a ideia de projetar imagens em movimento remonta há muitos séculos atrás”. Daí não se poder apresentar o proprietário da invenção. Ainda bem. Já que tudo não passa de imbricações e composições de corpos, como diz o filósofo Lucrécio.cinema 002

 Esse Lawson é um cara ‘malvado’. Em uma sociedade onde predomina o princípio da lógica da identidade aristotélica, é uma maldade não afirmar quem inventou o cinema. Uma sociedade que prima pela identificação: isto é isto, aquilo é aquilo, não é isto, é isto. Coisa de professores marcadores de poder.

Não saber quem inventou o cinema tem uma importância política. Já imaginaram em uma ditadura com uma censura braba, a força de repressão querer prender, torturar e matar o inventor do cinema, já que é uma arte revolucionária? Não é melhor assim. O cinema não tem inventor.

O que se pode tentar é compor corpos cinematográficos que surgiram nos transcursos históricos e encontrar alguns enunciados dos criadores. Vamos nessa.cinema 001

Athanasius Kirchener, em 1640, em Roma, apresentou a sua famosa lanterna-mágica Magia Catoptrica. Foi deslumbrante. A galera vibrou. Coisa de louco, mano. Em Viena, Simon Ritter Von Stampfer, no ano de 1832, mostrou o seu revolucionário Estroboscópio. A galera se estroboscopizou. William George Harner, em 1833, apresentou na Inglaterra o seu Dédalo mais conhecido como Roda do Diabo. O cara como inventor era o diabo. Abalava toda fé na impossibilidade de não se fazer a imagem ser projetada em movimento. Na Filadélfia, um engenheiro mecânico conhecido como Coleman Sellers, criou um aparelho chamado cinematoscópio que fora patenteado por ele no ano de 1861.

Saca só o grande salto qualitativo da criação. Os caras, em suas loucuras, sabiam que a comunicação entre o olho do homem e seu cérebro, ou seja, a imagem que é vista é retida em um tempo de um vigésimo a um décimo de segundo, tempo suficiente para que essa imagem se funda com a imagem ulterior. Com esse saque eles, com suas loucuras, experimentaram aparelhos que pudesse expressar essa realidade perceptiva e conceptiva do homem.

Aí, não deu outra. Eles criaram esses aparelhos com um disco rotatório que mostrava as imagens separadas em quadros que quando eram acionados, em um tempo suficiente, cada quadro era gravado na retina e fundido posteriormente com o quadro seguinte. Loucura, pura! Os quadros tinham como conteúdos, imagens desenhadas. Mas, Sellers, que era um pouco mais maluco, não usou desenhos, usou uma série de fotografias. Claro que ele já conhecia os outros aparelhos, por isso foi mais fácil para ele. E, também, a fotografia já era moda. Louis Daguerre, já a havia inventado no ano de 1839. O que não tira de Sellers, sua importante loucura.

A invenção da fotografia é um maravilhoso elemento intensivo para o salto qualitativo que vai levar ao cinema. Ela possibilitou que a câmara realizasse além de uma série de imagens separadas imagens simultâneas que reproduzissem o movimento. O exemplo clássico foi fornecido pelo governador da Califórnia, Leland Stanford, que em 1872, talvez enfadado com sua posição de governador, resolveu apostar que um cavalo correndo levanta as quatro patas. “Não acredito! “Voar é com os Pássaros!” Alguém, ingenuamente, ou supersticiosamente apavorado, deve ter duvidado. E outro deve ter dito: “Cavalo voar nunca vi, mas boi voador, já. Perguntem aos monges da Idade Média”.cinema 004

O governador, que deitava na grana chamou Eadweard Muybridge, fotógrafo em São Francisco, e mandou o maluco realizar a façanha-cinematográfica. O cara que era também muito louco mandou ver. Resultado: não deu certo, cara. Que horror! O cavalou não voou. No lugar apareceram manchas confusas. Que tristeza. Mais tristeza ainda, porque o dinheiro para pagar o fotógrafo deveria ser público.

Mas não esquenta. Louco é louco e não pode viver sem o produto de sua loucura que quando chega à exterioridade lhe alimenta para novas loucuras. Cinco anos depois, o grande Muybridge, instalou uma bateria de 24 câmaras, acionadas por uma carente elétrica que quando o cavalo passasse diante delas disparava. Cara, loucura! Como diz Lawson, “as câmaras viram o que o olho não podia ver”! Claro, quem é o louco que vai ficar olhando para patas de cavalo. O cavalo voa. Suas patas ficam fora do chão quando ele corre. Não é loucura, é física. Einstein era também capaz de ver o que outros não viam. Nessa loucura-histórica-cinematográfica tem Newton e Einstein.

Muybrideg que era louco, mas não otário, patenteou seu invento como método e aparelhagem para fotografar objetos em movimento. Em 1882, Emile Reynard, em Paris, projetou sobre uma tela com seu invento Praxinoscópio, fotografias criadas por Muybridge…cinema 003

E o governador, ganhou a aposta? Nunca mais se ouviu falar sobre ele. Pelo menos nós.

Vejam algumas lâminas com texto do crítico de cinema, o português, Armindo Blanco. As lâminas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10. As lâminas 1 e 2 já foram publicadas no segundo passeio.

PASSEIO KINEMA-HISTÓRICO

Julho 25, 2014

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“Os iniciadores do processo cinematográfico foram os inventores, mas somente na obra dos artistas é que a invenção adquiriu sua função criadora”  John Howard Lawson.

O passeio de hoje percorre, além de alguns elementos da criação cinematográfica, imagens, também conhecidas como lâminas ou fotogramas e os primeiros estúdios. Como diria Godard: ”Cinema é a vida se repetindo 24 fotogramas por segundo”. Antes, porém, com toda vênia dos ilustres passageiros-kinema-históricos, gostaríamos de oferecer esse imagético passeio a um companheiro engajado nessa estética audiovisual. Que em verdade, é mais visual. O kinema-real é a arte da visão. A sonorização é um corpo sedutor acoplado no movimento imagético.

O companheiro em questão, é o cinegrafista argentino, Lyonel Lucini. Lyonel Lucini foi professor de cinema da Universidade Nacional de Brasília (UNB) cassado pelos militares no começo da década de 70 e criador de um dos melhores documentários sobre manifestação cultural-sacra: A Festa do Divino, além de outros documentários. Como cineclubista, foi também um dos criadores do Cine Clube de Brasília, um dos mais importantes do Brasil. Escreveu sobre cinema no Jornal Correio Brasiliense, no seu Caderno de Cultura.

Lyonel sabia da dimensão filosófica do olhar. Mesmo quando não estava com a câmara focada seus olhos pareciam evidenciar um objeto que logo era transposto para a situação de imagem. Há um fato na produção de Lyonel que poucas pessoas conhecem. Embora tenhamos tido pela primeira vez contato com ele em Brasília, todavia nossa relação permaneceu por alguns anos. Volta e meia ele se fazia presença aqui em Manaus. Numa dessas volta e meia ele participou de um trabalho sobre doença de Chagas feita com pescadores.capa 002 capa 004 capa 005

Uma companheira nossa, que é médica, ainda em 70 elaborava um trabalho de tese sobre a doença e seu campo de pesquisa era a beira do Mercado Municipal, onde ela colhia sangue dos pescadores que chegavam em seus barcos com seus pescados para distribuir aos vendedores. Lyonel durante o trabalho não desperdiçou a ocasião e passou a fotografar. Um trabalho inédito dele.

Foi ele que nos apresentou o cinema como uma arte revolucionária e necessária para desvelar a dominação sobre os sentidos e a inteligência. E ainda nos proporcionou um bom número de literatura kinemasófica quando do nosso primeiro encontro, em Brasília. Que por intenção, estão sendo usadas nesse Passeio Kinema-Histórico.

No ano de 2005, o engajado Lyonel Lucini, realizou seu Plano Panorâmico. Um plano em que a câmara se movimenta sobre seu eixo em 360º.capa 003 capa 007

Então os irmãos Lumieré diante de seu cinematógrafo disseram: “No futuro, o cinema só poderia vir a servir como curiosidade científica”. George Méliès imaginou: “Curiosidade científica, é? Pois tá! Deixa comigo”. Comprou, por um bom preço, dos desesperançados irmãos, o brevet, e com seu tino comercial, passou a realizar, com sua imaginação, filmes com crivo fantasioso através de truques inventados por ele. Em 1902, realizou a famosa Viagem à Lua. Na época, (e por que não dizer, ainda hoje?) os cenários arrepiaram os espectadores, assim como as indumentárias e adereços cênicos. Observemos as lâminas. Vejamos a Conquista do Polo e a Fantasia Submarina. Loucura, manos!capa 006

Mesmo assim, os irmãos cinematografamentedesesperançados, ainda realizaram  A Saída dos Operários da Fábrica, O regador, Regado, A Comida do Bebé, O Mar, a Pesca, a famosa Chegada do Trem na Estação da Cidade.

Vejamos mais duas lâminas, uma de Charles Pathé que aproveitou o Kinetoscípio de Edison e realizou várias películas. Outra do primeiro grande mestre do cinema David Wark Griffith. No caso em questão, Nascimento de Uma Nação. Uma apologia a luta sulista-racial da Ku Klux Klan contra os negros e A Queda da Babilônia.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     

A VOLTA DO PAULÍNIA FILME FESTIVAL

Julho 22, 2014

A partir de hoje, dia 22, reinicia o Paulínia Filme Festival, do Polo Cinematográfico de Paulínia, que ficou sem atividade durante dois anos. O festival vai até o dia 27, domingo. Durante o festival serão exibidos nove longas e oito curtas-metragens da filmografia brasileira, além de alguns estrangeiros e o Festivalzinho, cinema para crianças. O melhor filme de longa-metragem deverá receber o prêmio de R$ 300 mil dos R$ 800 mil para as 20 categorias. O festival será realizado no Theatro Municipal Paulo Gracindo e no Polo Cinematográfico de Paulínia.

Entre os filmes exibidos se encontram os longas Neblina, de Fernando Machado e Daniel Pátarro, e Aprendi a Jogar Com Você, de Murilo Salles, ambos documentários. Entre os filmes de ficção aparecem Infância, de Domingos Oliveira, Casa Grande, de Felipe Barbosa, Sangue Azul, de Lírio Ferreira, A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante e Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas.

Entre os curtas serão exibidos De Bom Tamanho, Alex Vidigal, Edifício Tatuapé Mahal, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum, Jessy, de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge, 190, de Germano Pereira, O Menino Que Sabia Voar, de Douglas Alves Ferreira e Recordação, de Marcelo Galvão.

Entre os estrangeiros, o filme Bem-Vindo À Nova York, de Abel Ferrara, que conta a saga erótica do economista e político do Partido Socialista Francês, Dominique Strauss-Khan que acusado de ter abusar sexualmente uma camareira em um hotel de Nova York e o Imigrante, de James Gey.

Já no Festivalzinho serão exibidos, entre outros, O Pequeno Nicolau, de Laurent Tirard, A Guerra dos Botões, de Yann Samuell, Amazônia, de Thierri Ragobert, Um Pé de Laranja Lima, de Marcos Bernstein, e Minhocas – O Filme, de Paolo Conti e Arthur Nunes.

 O festival ainda contará com a presença do cineasta Cacá Diegues que, para convidados, fará lançamento de seu livro Vida de Cinema – Antes, Durante e Depois do Cinema Novo. Durante a ocasião ele será homenageado pelos realizadores do festival.