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BRASIL DE FATO INDICA 15 LIVROS PARA LER DURANTE A QUARENTENA

Março 31, 2020

Redação do Brasil de Fato sugere obras para preencher o tempo do isolamento social com conteúdo de qualidade

Lu Sudré
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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As obras escolhidas pelos jornalistas abordam diversos temas, entre clássicos da literatura mundial a lançamentos – Foto: Sergi Ferreti

A notícia de que os brasileiros precisariam evitar ao máximo a aglomeração de pessoas para brecar a contaminação pelo novo coronavírus pegou a todos de surpresa. Neste momento, respeitando o isolamento social, muitos trabalhadores estão em casa, trabalhando de home office, assim como grande parte dos estudantes, que tiveram suas aulas suspensas.

Sabendo da importância da quarentena para a saúde pública, os jornalistas da redação do Brasil de Fato elaboraram uma lista com indicação de 15 livros para serem lidos durante esse período inédito em nosso país. 

As obras sugeridas vão de clássicos da literatura mundial a lançamentos, abordam diferentes temas e são de autoria de escritores de diversas nacionalidades.

Além de preencher o tempo com conteúdo de qualidade, a leitura pode ajudar a relaxar e prender a atenção em outros assuntos em meio a tantas notícias e preocupações causadas pela pandemia. Fica a dica!

Confira a lista.

1) Amora, de Natalia Borges Polesso

Indicação de Luiza Mançano, tradutora e editora da equipe do Brasil de Fato, o livro da autora gaúcha Natalia Borges Polesso reúne uma série de contos – longos e curtos – sobre a temática lésbica, com narrativas cotidianas sobre a invisibilidade, o preconceito, mas também a descoberta e a persistência do amor (e suas rupturas), com personagens que vão da infância à velhice. 

“É uma boa dica para dias de quarentena, para demonstrar que a resistência se faz também no cotidiano, na vida privada, e que queremos estar vivas e bem acompanhadas”, destaca Luiza.

Publicado pela editora Não Editora, o livro venceu o Prêmio Jabuti na categoria “Contos” em 2016 e o Prêmio Açorianos, na mesma categoria.

2) Mulheres, raça e classe, de Angela Davis

Referência para o movimento negro, o clássico da ativista estadunidense fala sobre a escravidão e sobre a forma pela qual a mulher negra foi desumanizada. Em Mulheres, raça e classe, Davis também apresenta o debate sobre o abolicionismo penal como imprescindível para o enfrentamento do racismo institucional.

Para a repórter Marina Duarte de Souza, que sugere a obra, Davis mostra o quanto é importante considerar raça, classe e gênero na luta contra as opressões para a construção de um novo modelo de sociedade. “Ela nos dá a dimensão da impossibilidade de se pensar um projeto de nação que desconsidere esses pontos e a centralidade do racismo”, comenta a jornalista.

3) Amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez

Lançado em 1985, o livro do colombiano Gabriel García Márquez, transcende gerações e se mantém vivo ano após ano. O romance de realismo fantástico conta a saga, de vida e amor, de Florentino Ariza e Fermina Daza num triângulo amoroso que dura 53 anos. A jornalista Vitoria Rocha, que trabalha na Agência CPMídias, parceira do Brasil de Fato, define a obra como “uma leitura que cativa e aquece e pode ser devorada em períodos de isolamento como este”. 

4) O que fazer, de Nikolai Tchernychevskii 

Imagine ler a íntegra de um livro que inspirou os jovens revolucionários da Rússia e que foi referência para Vladimir Lênin? Pois é! A obra O que fazer, de Nikolai Tchernychevskii, foi lançada pela editora Expressão Popular e não escapou da lista de leituras da jornalista Sheila Carvalho, também assessora da Agência CPMídias.

Ela destaca que o livro influenciou intelectuais russos a desistirem da tentativa de reformar um regime autoritário e passarem para o caminho da revolução. Além disso, não podíamos deixar de ressaltar, a obra traz um debate sobre direitos iguais entre homens e mulheres. 

5) Terra Sonâmbula, de Mia Couto

A sugestão da Geisa Marques, editora da Rádio Brasil de Fato, é um romance escrito por Mia Couto e publicado em 1992. “Terra Sonâmbula” ganhou o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX. A obra retrata o Moçambique pós-independência, mergulhado em uma devastadora guerra civil, em que um velho e um menino mergulham em fantasias míticas. 

6) A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde, de Osmar Cabezas 

Este livro é um dos principais relatos  — ao mesmo tempo literário e político — da experiência do autor durante a guerrilha nicaraguense contra a ditadura de Somoza. Na opinião da técnica de áudio Lua Gatinoni, Osmar Cabezas consegue registrar fatos históricos por meio de uma linguagem fácil, que permite ao leitor visualizar os fatos históricos com clareza. 

Ela ressalta que a obra é importante para a organização popular de uma forma geral, pois traz a esperança de que a libertação do povo, mesmo com todas as dificuldades, é possível.

7) As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino

Relatos de viagens contados de uma maneira diferenciada, com descrições dos lugares feitas de um jeito único. É assim que As cidades invisíveis registra as conversas entre os personagens Marco Polo e Klubai Khan.

A dica dessa obra rica em detalhes é de Daniel Giovanaz, correspondente internacional do Brasil de Fato. “Uma escrita leve, com múltiplos sentidos, para estimular a imaginação dos que têm o privilégio de estar em casa nesses dias difíceis. Quem ler certamente verá sua cidade com outros olhos quando o pesadelo do isolamento terminar”, aposta o jornalista.

8) A era do capital improdutivo, de Ladislau Dowbor

Já se perguntou como os bancos registram lucros bilionários em plena recessão e desemprego? Como o capital financeiro atua? Se quiser conhecer a resposta para essas e outras perguntas relacionadas ao tema, é só seguir a sugestão de livro da comunicadora popular Larissa Gould, da equipe de Redes e Multimídia do Brasil de Fato.

Durante a quarentena, ela tem dividido seu tempo entre o trabalho em home office e a leitura da obra A era do capital improdutivo, do economista brasileiro Ladislau Dowbor. Larissa garante a qualidade do conteúdo e das reflexões propostas.

“É um baita livro para entender as ‘respostas ao mercado’, das quais tanto se fala nesse momento, como a crise afeta os mais pobres e por quê!”, afirma Larissa.

9) O pomar das almas perdidas, de Nadifa Mohamed

Um dos destaque da literatura africana, a escritora Nadifa Mohamed mergulha nos anos finais da década de 1980 na Somália em “O pomar das almas perdidas”. Ela descreve o período marcado por uma ditadura sangrenta às vésperas da revolução no país localizado no “chifre” da África, ao leste do continente. 

Para contar um pouco do país em que nasceu, Mohamed interlaça o sofrimento de três mulheres de idades e condições sociais bem diferentes: Kawsar, uma viúva de luto pela filha; Deqo, uma menina nascida e criada em um campo de refugiados; e Filsan, uma jovem soldado que se voluntaria na revolução. Em meio a fugas forçadas e conflitos irreparáveis, as três se reencontram para viver um destino final.

Segundo o repórter Erick Gimenes, correspondente em Brasília que indica a obra, no decorrer da leitura é possível sentir cheiros, gostos e cores do país por meio da escrita detalhadamente poética de Nadifa.

“A narrativa é tão rica em detalhes socioculturais, de língua, de povo, que chega perto de ser uma correção histórica por conhecermos tão pouco da Somália. O pomar das almas perdidas é, ao mesmo tempo, uma lição de história, uma lamentação nacional e um afago ao peito”, conta o jornalista.

A ambientação de “O pomar das almas perdidas” ocorre em Hargeisa, local onde a autora nasceu, a segunda maior cidade da Somália. 

10) A Peste, de Albert Camus

Clássico da literatura mundial, o livro do filósofo e romancista Albert Camus trata de uma doença que vai se alastrando em uma cidade da Argélia e mostra como ela muda a rotina e a vida das pessoas. Qualquer semelhança com o que estamos vivendo com a pandemia do novo coronavírus não é mera coincidência. 

Vivian Fernandes, coordenadora de jornalismo do BdF, conta que escolheu a obra porque, apesar de ter um lado um tanto sombrio, Camus mostra como é possível ver esperança no meio daquilo que parece só ter desesperança. 

“Como disse um colunista do New York Times ao falar sobre o livro, a gente nunca pode se sentir seguro, e é por isso que temos que amar outros seres humanos — nossos companheiros condenados — e trabalhar sem esperança ou desespero pela amenização do sofrimento”, comenta Vivian.
 
11) Tudo nela brilha e queima, de Ryane Leão

Um livro de poesia sobre as vivências femininas que deveria ser lido por todas as mulheres. É dessa forma que a repórter Lu Sudré indica a leitura dos versos da cuiabana Ryane Leão. 

Tudo nela brilha e queima reúne reflexões sobre questões subjetivas e comuns a todas as mulheres, atingidas pelas diversas formas de violência que existem em uma sociedade machista cotidianamente. 

Por outro lado, a obra também fala sobre a ancestralidade, o acolhimento e o cuidado que existe entre as mulheres, e, mais do que isso, a força e resistência inerente ao gênero feminino. 

Coleção Emergências

Para encerrar a lista de indicações de leitura do melhor jeito possível e não deixar de lado a conjuntura política, a redação do Brasil de Fato sugere a coleção Emergências, publicação da editora Expressão Popular. 


Kit “Emergências”, publicado pela Editora Expressão Popular / Foto: Júlia Chequer

12) Comunicações em tempos de crise – economia e política, de Helena Martins 

Controladas por empresas e corporações, as redes sociais podem fazer uma manipulação política e ideológica por meio da modulação algorítmica. Bastante discutido atualmente, esse é um dos assuntos abordados por Helena Martins, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutora em Comunicação no livro Comunicações em tempo de crise, nossa 12ª indicação.

A obra expõe uma analise sobre a uniformização de ideias e opiniões com base na concentração midiática, nos meios tradicionais e também na internet, discussão relevante para a compreensão de informações que vêm sendo disseminadas e como elas impactam no contexto político, econômico e social do Brasil.

13) Autoritarismo contra a universidade – o desafio de popularizar a defesa da educação pública, de Roberto Leher
 
O sucateamento da educação pública esteve presente nos noticiários durante todo o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. Em 2020, a continuidade das decisões  políticas do ministro da Educação, Abraham Weintraub, mostra que as perspectivas não são positivas para a área.
 
Nesta obra, o ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, abre uma discussão sobre o que está por trás do esvaziamento científico das instituições públicas do conhecimento e sobre a urgência da defesa da educação pública.
 
14) O colapso da democracia no Brasil – da Constituição ao golpe de 2016, de Luis Felipe Miguel
 
Publicado em 2019, o livro do cientista político traz um panorama pós-ditadura até o recente impeachment que tirou a presidente Dilma Rousseff do poder em 2016, auxiliando no entendimento do contexto político até os dias atuais.
 
15) Quando vier o silêncio – o problema mineral brasileiro, de Charles Trocate e Tádzio Coelho
 
A exemplo de crimes socioambientais como o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG) e da mineradora Vale em Brumadinho (MG), há pouco mais de um ano, indicamos a obra citada por questionar por que as grandes mineradoras têm causado graves problemas à população brasileira, sem descartar a importância da mineração na vida da humanidade ao longo de sua história.

Edição: Vivian Fernandes

LUIS NASSIF: SÉRGIO RICARDO, A VOZ DA RESISTÊNCIA

Março 31, 2020

CARTA CAPITAL: PARA OUVIR EM CASA: ÁLBUM RESGATA O SAMBA-CANÇÃO COM NOVOS INTERPRETES

Março 28, 2020

Copacabana (Foto: Selo Sesc/Divulgação)

COPACABANA (FOTO: SELO SESC/DIVULGAÇÃO)

Novo trabalho caminha pelo gênero a partir de livro de Zuza Homem de Mello

A intensa vida noturna de Copacabana fez despontar inúmeros músicos a partir da década de 1930, quando o bairro começou a ganhar prédios. Não se conhece outro local no país que tenha sido palco de tantos intérpretes, compositores e instrumentistas com reconhecido talento durante pelo menos 40 anos.

O bairro foi perdendo força como cena musical nos anos 1960. Mas o samba-canção que fez residência no local permaneceu como um gênero síntese da união da batucada leve e cadenciada com a música dor de cotovelo.

O álbum recém-lançado Copacabana (Selo Sesc), com repertório de 14 faixas baseado no livro Copacabana: a trajetória do samba-canção, de Zuza Homem de Mello, que também concebeu e dirigiu este trabalho, dá um panorama expressivo em forma de música desse período.

 

O trabalho faz não só um excelente resgate das músicas que referenciam Copacabana ou se tornaram muito conhecidas nas boates e casas de espetáculo nos tempos áureos do bairro, mas também reúne um time pouco badalado, mas representativo de intérpretes da nova geração e da velha-guarda com grande afinidade com o gênero musical.

As faixas

O álbum abre com a clássica “Copacabana, princesinha do mar…” (João de Barro e Alberto Ribeiro) com as vozes tarimbadas de Luciana Alves e Zé Luiz Mazziotti, seguida de outro clássico: a música Acontece, de Cartola, na interpretação do jovem talento Ayrton Montarroyos.

A terceira do álbum, Linda Flor (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Marques Porto e Cândido Costa), Luciana Alves canta (bem) de novo. A Fracassos de Amor (Tito Madi e Milton Silva) vem com a nova intérprete Anna Setton, de voz reluzente.

 

No X do Problema, da obra conhecida de Noel Rosa, Luciana Alves reaparece em mais uma interpretação bem conduzida. A sexta faixa, Na Madrugada (Nilo Sergio), o acordeonista Toninho Ferragutti dita com virtuosismo a única faixa instrumental.

Ayrton Montarroyos coloca voz em Vingança (“O remorso talvez seja a causa de seu desespero…” de Lupicínio Rodrigues) e Luciana Alves em Fim de Caso (Dolores Duran).

Dóris Monteiro

Fecho Meus Olhos… Vejo Você (José Maria de Abreu) é regravada de forma emotiva por Dóris Monteiro aos 85 anos, uma das cantoras marcantes do samba-canção.

O trabalho segue com Não Tem Solução (Dorival Caymmi e Carlos Guinle) com Zé Luiz Mazziotti, e Você Não Sabe Amar (Dorival Caymmi, Hugo Lima e Carlos Guinle) com Luciana Alves, ambas na mesma faixa, e a pouco conhecida Solidão (Tom Jobim e Alcides Fernandes) com Ayton Montarroyos.

O antológico cantor performático Edy Star, que fez sucesso nos bares do Rio em meados do século passado, interpreta a música Meu Vício é Você (Adelino Moreira). Depois vem Ocultei (Ary Barroso) com Anna Setton.

Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle) encerra o álbum com Anna Setton, Ayrton Montarroyos, Luciana Alves e Zé Luiz Mazziotti.

Os arranjos e direção musical do álbum Copacabana é de Ronaldo Rayol.

Alguns sambas-canção badalados outros nem tanto, o trabalho comandado por Zuza Homem de Mello é agradável, delicado, sentimental e muito bom de se ouvir em tempos de isolamento domiciliar.

Augusto Diniz
AUGUSTO DINIZ

Jornalista há 25 anos, com passagem em diversas editorias. Foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

FESTIVAL ONLINE COM ARTISTAS NORDESTINOS COMEÇOU ONTEM, SEXTA-FEIRA

Março 28, 2020
FIM DE SEMANA

Pocket shows acontecem sexta (27), sábado (28) e domingo (29), sempre a partir das 19h

Da Redação
Brasil de Fato | Recife (PE) |
Elba Ramalho
Elba Ramalho é uma das atrações confirmadas – Fernanda Cruz/Agência Brasil

A famosa quarentena, como está sendo chamado nas redes sociais o isolamento social proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço do coronavírus, vai ter companhia neste final de semana.

Isso porque o perfil @DescubraPernambuco inaugura uma ação cultural em conjunto com artistas do Nordeste. A primeira edição do Festival Palco em Casa vai reunir nomes da cena musical da região, que farão pocket shows, nesta sexta (27), sábado (28) e domingo (29), sempre a partir das 19h. A ação é uma parceria da Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco e da Empetur com o cantor pernambucano André Rio. 

Quem abre a primeira noite do Festival Palco em Casa é o próprio André Rio, às 19h. Na sequência, a paraibana Elba Ramalho assume o comando do @descubrapernambuco, a partir das 20h30. A noite será encerrada com apresentação do guitarrista e arranjador Luciano Magno.

No sábado, a animação fica a cargo de Santana, o Cantador, que promete muito xote online. O Maestro Spok e a cantora Nena Queiroga apresentam-se na sequência, garantindo a dose do bom frevo pernambucano.

No último dia do primeiro fim de semana do festival – a ideia é fazer outras edições ao longo do período de quarentena –, o domingo, o sanfoneiro Cezzinha dá o tom do começo de noite. Logo após, às 20h30, haverá uma apresentação do Quinteto Violado e, encerrando o fim de semana de música online, Gerlane Lopes solta a voz com muito samba.

O Festival Palco em Casa não tem fins lucrativos e conta com o apoio dos artistas participantes.

Programação

Sexta-feira (27)

19h – André Rio

20h30 – Elba Ramalho

22h – Luciano Magno

 

Sábado (28)

19h – Santana, o Cantador

20h30 – Maestro Spok

22h – Nena Queiroga

 

Domingo (29)

19h – Cezzinha

20h30 – Quinteto Violado

22h – Gerlane Lopes

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Marcos Barbosa

XÊNIA FRANÇA: “DEFENDO MEU DIREITO DE PENSAR QUE SOU UMA MULHER BRASILEIRA”

Março 27, 2020
AFROFUTURISMO

Indicada ao Grammy, cantora avalia que as raízes brasileiras são identificações fundamentais para a luta do povo

Pamela Oliveira
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
xenia franca
Cantora Xênia França, indicada ao Grammy Latino 2018 em duas categorias, conversa com o Brasil de Fato no Aparelha Luzia – Pedro Aguiar Stropasolas

Ela reside na capital paulista há 16 anos, mas suas raízes estão fincadas em Camaçari, no interior baiano, há 50 km de Salvador. Xênia Érica Estrela França, ou apenas Xênia França, é uma cantora e compositora, filha de operários petroleiros, que tem alcançado altos voos em um breve tempo de carreira. 

Ex-modelo, Xênia adentrou ao meio musical em 2008 e a partir de 2011 fez parte do grupo paulistano Aláfia. Em 2017, a cantora lançou seu primeiro álbum solo, cujo sucesso projetou-a nacional e internacionalmente, levando-a dividir palco com o artista Seal e a ser eleita pelo jornal estadunidense The New York Times como uma das melhores performances da 17ª edição do festival novaiorquino Globalfest.

Com o álbum Xênia, a cantora foi indicada ao Grammy Latino de 2018 na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo, enquanto uma das faixas compostas por ela, a música “Para que me chamas?”, ficou entre as indicações do Grammy na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa. A versão para videoclipe contou com a direção de Fred Ouro Preto, conhecido por dirigir clipes de rappers como Emicida e Projota.

“Estamos sendo essa ancestralidade agora”, analisa cantora e compositora Xênia França / Pedro Aguiar Stropasolas

Xênia é a primeira pessoa de sua família “a fazer escolhas pautadas em seus sentimentos e sua visão de mundo”. Em uma conversa com o Brasil de Fato realizada no quilombo urbano e Centro Cultural Aparelha Luzia, a cantora fez avaliações sobre sua trajetória e refletiu a respeito da ancestralidade negra, e sobre como as influências afrofuturistas permeiam sua produção artística.

“Enxergo meus colegas em atualização e sendo a ancestralidade agora. Tudo o que já foi feito está sendo acionado e exercido agora, numa tentativa da gente conseguir planejar o nosso futuro que, até outro dia, ou em muitas realidades, é uma perspectiva ainda bastante remota”, analisa. 

A musicista falou ainda sobre como sua arte funciona como um portal para expressão de seus sentimentos e pensamentos sobre si mesma e sobre a sociedade. “Eu vejo que estou ressignificando a minha existência”, declara.

Confira a entrevista na íntegra:

 

 

Edição: Rodrigo Chagas

A ARTE DE LAERTE EM MEIO AS POSIÇÕES ABERRANTES REFERENTE AO CORONAVÍRUS

Março 27, 2020

VÍDEO COM RENATO BRAZ E REBECA

Março 26, 2020

E o isolamento social recebe a luz da interpretação de Rebeca, acompanhada de Renato Braz.

WALNICE NOGUEIRA GALVÃO: SANGUE NOVO NO PANORAMA EDITORIAL

Março 25, 2020

 

Arte WallHere

Sangue novo no panorama editorial

por Walnice Nogueira Galvão

Uma nova geração de editoras mulheres, preparadíssimas, com títulos universitários e muita garra, está mudando a figura do panorama editorial e do próprio objeto-livro. Mais admirável ainda é que, de conteúdo erudito e da maior competência, o novo livro também seja um objeto gráfico de primeira linha, quase que de luxo – se o alvo fosse esse. Não é à toa que a toda hora ganham prêmios. Para completar, estas editoras não disputam os holofotes, são modestas e sérias trabalhadoras. Vamos ver alguns de seus feitos.

O primeiro livro vem da editora Florear, de Londrina, pertencente a Cassia Leslie. Trata-se de Na companhia de Bela: Contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII, de Susana Ventura. Resultado de pesquisa nos arquivos da França, já se vê que traduzir a língua dessa época exige perícia. Pequenos estudos, introduções e apresentações das contistas, tudo impecável, acompanham a matéria. Aprendemos que, conforme vetusta  prática patriarcal, o conto de Perrault A bela e a fera não é de Perrault, mas de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, e que Perrault apenas o perfilhou em sua famosa antologia.  As autoras foram apelidadas de preciosas, escritoras cultas que presidiam salões e – que atrevimento!-  se consideravam em pé de igualdade com os homens. Foram alvo do sarcasmo de Molière na peça As preciosas ridículas. E uma delas cunhou o título do gênero, batizando-o: “conto de fadas”. 

O livro de agora, que é resultado da colaboração entre três mulheres (autora, editora/co-tradutora, ilustradora), é uma beleza.  A começar pela capa, que é encadernada, rija, e por isso vai aguentar muito manuseio; o papel é um Polen de primeira. O livro inteiro é iluminado com  lindas ilustrações inéditas, da autoria da arquiteta e estudiosa da cultura infantil Roberta Asse, que também comanda o projeto gráfico.  

O segundo a ser destacado é a nova tradução publicada pela Ubu do Popol Vuh, o livro sagrado do povo maia, e, dizem, um de apenas quatro que escaparam à sanha incendiária dos conquistadores espanhóis. Até há pouco era negado que os maias tivessem escrita, e uma escrita em tudo paralela à egípcia, ou seja, são hieróglifos combinando imagens com sílabas (ou glifos logossilábicos).  A partir de sua decifração, a história da América pré-colombiana está sendo reconstruída.

A tradução de Josely Vianna Baptista a partir do original em língua quiché é devidamente escorada por uma erudita apresentação, que explicita suas opções. O volume traz estudos de especialistas e finíssimos desenhos, que transpõem com respeito a exuberante iconografia maia. E mais mapas, bibliografia, índice de documentos – tudo isso tornando este livro,  em papel Polen e capa cartonada tal como o anterior, uma obra de arte irretocável. A editora é a premiada Florência Ferrari, criadora da Ubu.

O terceiro aqui comentado é o Livro do Armazém. Num trabalho com todos os cuidados científicos, uma equipe especializada transcreveu o livro contábil da fazenda do Pinhal. Tudo sob a coordenação editorial de Marta Garcia, experiente profissional egressa de longos anos na Companhia das Letras. As transações da casa de secos e molhados que funcionava na fazenda são escrupulosamente registradas ao longo de várias décadas, assim constituindo precioso instrumento para pesquisas. O belo volume apresenta-se em tamanho maior que o normal e em material da melhor qualidade. Marta Garcia agora dirige a Editora Chão, devotada a publicar textos raros.

Acrescentamos a esses livros o lugar especial onde estão disponíveis: a nova Livraria e Cafeteria Mandarina.  Pertencente a duas intrépidas jovens, Daniela Amendola e
Roberta Paixão, é dedicada à causa dos livros, das mulheres e do combate ao obscurantismo.  A livraria funciona como um animado centro cultural, oferecendo festas de lançamento, cursos com conferencistas abalizadas(os), noites de cinema, batepapos, rodas de conversa e muitas maravilhas mais. Elas gostam de livros, entendem de livros e põem em sua mão os livros que você desejar, por mais difícil que seja desencavá-los. A sede fica num aconchegante bangalô em Pinheiros, à rua Ferreira de Araújo, 373. Quem for uma vez, vai ficar fisgado(a).

Walnice Nogueira Galvão é Professora Emérita da FFLCH-USP

CENTRAL ÚNICA DAS FAVELAS LANÇA CAMPANHA PARA ALERTAR RISCOS DO CORONAVÍRUS

Março 24, 2020
MENSAGEM IMPORTANTE

Música e clipe mostram para os moradores das periferias que, com gestos simples como lavar as mão, a Covid-19 pode ter menos impacto

reprodução

A música foi escrita a 8 mãos: Dudu Nobre, Edi Rock (integrante do grupo Racionais MCs), Dexter e Ivo Meirelles

São Paulo – A Central Única das Favelas (Cufa) reuniu grandes nomes do rap, do samba e do funk para uma campanha de conscientização sobre a necessidade do prevenção ao coronavírus. A campanha, lançada no último domingo (22) busca dialogar com as populações dos bairros de periferia das cidades brasileiras para conter ao máximo a propagação do vírus.

A música mostra para os moradores das periferias que, com gestos simples como lavar as mãos por exemplo, o coronavírus poderá impactar menos a população brasileira.

A música foi escrita a oito mãos: os sambistas Dudu Nobre e Ivo Meirelles, e os rappers Edi Rock (integrante do grupo Racionais MCs) e Dexter. A obra é interpretada por nomes como: Xande de Pilares, Mumuzinho, Alcione, Péricles, Ferrugem, Karol Conka, Leo Santana, Sandra de Sá, Grupo Bom Gosto, Serjão Loroza, Pretinho da Serrinha, Andrezinho do Molejo, MC Menor MR, Raí BG, entre outros.

“A ideia surgiu num papo com um amigo chamado Sérgio Valente. Entendo que a música dentro da favela sempre foi muito potente. Por isso, através dela, queremos conscientizar seus moradores a tomarem os cuidados adequados contra o coronavírus. Por isso, escolhemos artistas que sabemos que falam a língua das favelas”, explicou Celso Athayde, fundador da CUFA.

Assista ao clipe exibido no Seu Jornal, da TVT

DJONGA: ‘A VINGANÇA É FICAR VIVO E LEMBRAR DOS NOSSOS’

Março 24, 2020
DE VERDADE

O rapper demonstra evolução em seu quatro álbum “Histórias da Minha Área”, com o objetivo de dividir suas conquistas com seu povo

Daniel Assis/Divulgação

Nascido na Favela do Índio, em Belo Horizonte, o Djonga é visto como o maior expoente do rap da região mineira

São Paulo – “Nem é cedo demais pra saber que a vida é desgraçada aqui.” É assim que começa o quarto álbum do rapper mineiro Gustavo Pereira, o Djonga. Citando uma frase do musical Madame SatãHistórias da Minha Área é lançado com o objetivo de celebrar a vida daqueles que estão aqui, mas também daqueles que se foram.

Desde a capa do álbum, o artista apresenta seu equilíbrio entre o medo da morte e a vitória que conquistou por meio da música. Enquanto sorri, senta no chão ao lado de seu corpo cheio de sangue, com marcas de tiro. Outros quatro personagens estão de pé, mas também sobre outros mortos.

“Eu tenho muito medo de morrer, porque amo estar vivo. Nós que vemos tanta morte perto da gente, inclusive muitas injustas, questionamos se vamos voltar vivos da padaria. Eu posso morrer por uma coisa pequena, porque nasci num contexto violento”, explica.

Na faixa Eu Não Sei Rezar, a busca por vingança do rapper é sintetizada no verso “Enquanto não houver justiça pra nós/Juro que pra vocês não vai ter paz“, explicando que o objetivo é conscientizar os amigos do bairro para que possam viver muito.

“A gente ficava revoltado antigamente. Hoje, só queremos ficar vivos e a vingança é essa. Quando lembro do Neném, um dos símbolos dos nossos amigos que se foram, penso que ele estaria curtindo pra caramba, feliz com o sucesso que alcançamos. A vingança por quem morreu é ficar vivo e lembrar deles nesses momentos”, afirma Djonga.

Nascido na Favela do Índio, em Belo Horizonte, e criado no bairro de São Lucas, na zona leste da capital mineira, o artista é visto como o maior expoente do rap da região mineira. Em 2017, lançou seu primeiro álbum, Heresia, seguido por dois trabalhos premiados: O Menino Que Queria Ser Deus (2018) e Ladrão (2019). Todos lançados no dia 13 de março – uma referência ao número do galo no jogo do bicho, em homenagem ao Atlético Mineiro, seu time de coração.

Histórias da Minha Área é definido por ele como um disco fácil e difícil, ao mesmo tempo, de produzir. Relembrar sua trajetória e dos amigos, além de revisitar algumas memórias que ficaram no passado, foi a parte mais dura de todo o processo. “Mas é mais tranquilo porque é um disco de verdade, o tornou todo o processo natural”, acrescenta.

Para Djonga, a paternidade também mexeu com o processo de produção do álbum. Gustavo foi pai pela segunda vez há quatro meses, com o nascimento de Iolanda – irmã de Jorge, de 4 anos. “Eu boto fé demais que as crianças dão muita melodia e leveza para nossa vida”, conta.

Bolsonaro, um “bocó”

O rapper sempre se colocou contra o presidente da República, Jair Bolsonaro. Entretanto, já virou rotina ver em seus shows Djonga interromper o público, que levanta um coro de xingamento contra o atual presidente.

Em setembro do ano passado, durante um festival musical em Belo Horizonte, o artista mineiro explicou o porquê de pedir o fim dos gritos. “A grosso modo, a gente sabe que só gritar isso não vai mudar nada. Na prática, o que temos que fazer é ir atrás do que sabemos e tomar essa decisão conscientemente. E o que fazemos para mudar isso? É muito mais importante, mas muito mais, evitar que essa reeleição aconteça”, declarou ao público.

Para ele, Bolsonaro “é um bocó”, mas “um bocó dos perigosos”. O rapper alerta que o atual presidente possuem estrutura por trás que é prejudicial para o país. “Não é só mandar o Bolsonaro tomar naquele lugar, tem muita coisa rolando ao redor também, com bancos e instituições financeiras fodendo a gente. É um puxão de orelha que a gente precisa dar”, afirma.

Ele critica a replicação do ambiente da internet na vida real. “As pessoas xingam e gritam, mas não realizam um debate sério e maduro. O que adianta xingar o Bolsonaro e votar em alguém parecido na próxima eleição? Política não pode ser tratada como algo de quatro em quatro anos”, finaliza.