Os discos de vinil sofrem a todo o momento a comparação com o cd e outras mídias. O cd foi escolhido o suporte do mercado devido ao menor custo, capacidade e tamanho. Porém uma das coisas que o cd não consegue superar o vinil é a arte gráfica do vinil. Obviamente a capa do vinil é maior do que a do cd. Porém este tamanho permitia uma série de tipos de incrementos nas capas com capas duplas,com livretos, capa e contracapa acopláveis formando imagens, livro-discos entre outras coisas.
O esta edição do Viva o Vinil trazemos um disco que teve dois formatos de capa lançados: a primeira bem simples como um álbum comum e a segunda que misturava visualmente todo o potencial da arte vinílica. Obviamente estamos trazendo a segunda versão com a capa bem elaborada. Este mesmo disco possui ainda uma versão ao vivo que também é vibrante, mas que tem uma seleção musical bastante distinta.
VIVA O VINIL!
e
TOQUES ESQUIZOMUSICAIS
ENUNCIAM
MILAGRE DOS PEIXES (1973)
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Certa vez um poeta amigo meu disse que o que diferenciava Milton Nascimento de outros cantores populares era que ele cantava com a alma e conseguimos sentir a vida presente em suas músicas. Milton tem uma produção musical bastante forte com raizes fincadas nos cantos negros quilombola, nas músicas sertanejas dos confins do Brasil, nos aboios, da música mourisca, dos cantos religiosos católicos, umbandisticos e das musicas rancheiras. E Milton juntou tudo e criou sua música uma música cheia de vida.
Os músicos do disco são Nelson Angelo, Novelli, Naná Vasconcelos, Nivaldo, Wagner Tiso, Giancarlo Pareschi (spalla), Paulo Moura (sax), Radamés Gnatalli (regência), Daudeth de Azevedo, Paulinho (bateria), Sirlan, Paulinho Batera e contou com Direção Musical do Maestro Gaya e capa de Noguchi. Dentro da contracapa mostrada em cima está um portifólio que contem o disco e as letras impressas em papel colorido dando um belo toque estético.
Veja aqui o outro lado
O disco começa com um forte canto negro em Escravos de Jó que é feito com a participação de Clementina de Jesus num canto forte, cheio da potência produtiva dos negros e instrumentos de percurssão como atabaque (abatás), xequerê entre outros. A segunda faixa Carlos, Lucia, Chico e Thiago (eu sou uma preta velha aqui sentada ao sol) também mostra uma força vinda da força cantada de Milton que vive pela música rodeada de outros cantos. Depois das faixa instrumentais vêm a faixa tema do disco: Milagre dos peixes, que tem uma letra muito ligada a natureza que o homem faz parte e é composta por Milton e Fernando Brant
Eu vejo esses peixes e vou de coração
Eu vejo essas matas e vou de coração à natureza
Telas falam colorido de crianças coloridas
De um gênio televisor
E no ardor de nossos novos santos
O sinal de velhos tempos
Morte, morte, morte ao amor
Eles não falam do mar e dos peixes
Nem deixam ver a moça, pura canção
Nem ver nascer a flor, nem ver nascer o sol
E eu apenas sou um a mais, um a mais
A falar dessa dor, a nossa dor
Desenhando nessas pedras
Tenho em mim todas as cores
Quando falo coisas reais
E no silêncio dessa natureza
Eu que amo meus amigos
Livre, quero poder dizer
Eu vejo esses peixes e dou de coração
O lado A do disco termina Apesar deste lado possuir apenas uma música que não seja instrumental, sentimos ele como uma unidade, onde as faixas se acoplam uma na outra criando uma unidade de disco
O Lado B começa com a faixa Pablo 2 (A festa), uma música instrumental leve e bela com uma composição vocal que tem em sua festa a presença de Maurício Mendonça e Gonzaguinha (que também aparece em Hoje é o dia de Del Rey. E como o nome diz o disco continua festejante da nossa produção por aqui. O disco que prima por uma bela instrumentalidade e um coro que envolve qualquer silêncio.
Logo em sequência vem Tema dos Deuses e Hoje é dia de del rey cujo o toque de violão é marcante. A última sessão de cinema e Cadê tem uma bela percurssão sendo que esta última tem a letra de Milton com o músico e cineasta de Moçambique Ruy Guerra. Por fim temos Sacramento e Pablo. Esta última Milton nos envolve em um universo onírico da infância em uma letra que mostra o envolvimento da criança com o mundo, e principalmente sua ligação onde ela percebe que também é natureza.
Pablo (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
meu nome é pablo
como um trator é vermelho
incêndio nos cabelos
pó de nuvem nos sapatos
meu nome é pablo
nasci num rio qualquer
meu nome é rio
e rio é meu corpo
meu nome é vento
e vento é meu corpo
incêndio nos cabelos
pó de nuvem nos sapatos
como um trator é vermelho
pablo é meu nome
meu nome é pedra
e pedra é meu corpo