Estudantes inquietos e engajados do Curso de Letras da Escola Norma Superior (ENS) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), promoveram na noite de ontem uma das mais sensíveis e epistemológicas expressões estética-política que há anos não se vivenciava nos territórios dos saberes e dizeres escolares de Manaus.
Uma heterogeneidade de produções artísticas-cognitivas se deslocaram no interior da escola que contou com as frequências de pessoas de várias idades e procedências. Uma enebriante festa. Diria o deus da alegria, Dionísio. Embora fosse Apolo, o deus da poesia, o ser estimulador da Sarrada Literária, entretanto, foi Dionísio quem prevaleceu com seu espírito lúdico-criativo-transgressor.
Uma mostra foi a apresentação do grupo de rap, hip-hop, composto por quatro jovens, As Minas, que encantaram a platéia com músicas cujos temas tratavam dos direitos-revolucionários e singulares das mulheres. No mesmo seguimento inquieto, houve a apresentação do grupo de teatro da Associação Filosofia Itinerante, Teatro Maquínico, com sua nova peça “Pois é, Seu Zé, Tudo é Política, Né?”. Jogo de capoeira, banda de rock, exposição de pinturas, charges, como a do artista plástico Ismael, fanzines, artesanatos, projeção de cinema, guloseimas, bebidas, entre outras ideias e objetos movimentaram a grande Sarrada do Bodozal cuja potência virtual foi atualizada pelas criativas e criativos discípulas/discípulos de Dionísio e Apolo Raquel, Jéssica, Ismael, Adriano, Matheus, entre outros festeiros sarradores.
Fiquem com as imagens criadas pela foto-poiética, Jéssica.
Em seu processual de produção coletiva de enunciados agenciadores de novas formas sentir, ver, ouvir e pensar a Associação Filosofia Itinerante (Afin) tem se movimentado em encadeamentos heterogênicos de conteúdos e expressões que pretendem uma nova forma de existir. Uma produção de novos saberes e novos dizeres. Sendo assim, a Afin – que se encontra em contínuo movimento produtivo com dizeres e saberes de múltiplos territórios -, aproveitou a sua sessão dominical de cinema para criança – que já se encontra em seu quinto ano, Kinemasófico, no Bairro Novo Aleixo, Zona Leste – o território mais pobre e abandonado pelos governos -, apara realização do Devir-Criança Consciência Negra.
Durante a noite de domingo, dia 24, as crianças foram, como sempre, as produtoras da festa. Foram exibidos alguns curtas com o tema negritude, o ser ontológico do negro, que permeou as comemorações da Consciência Negra durante a semana que passou. Embora seja um tema contínuo para novas formas de existir. As crianças no fim de cada exibição comentavam o conteúdo e manifestavam suas ideias. Depois das exibições dos curtas, as crianças passaram a usar recursos artísticos pessoais para expressarem suas relações com o tema, como a capoeira, a música, a poesia, a dança, as brincadeiras coletivas mostrando a subjugação dos negros pela força imperiosa dos brancos. Como foi a teatralização da fuga de alguns negros de uma fazenda. Nessa teatralização serviu de música incidental o trecho musical “Trabalha, trabalha negro. Trabalha, trabalha negro. O negro está cansado de tanto trabalhar…”
O que chamou muito a atenção foi o depoimento de crianças que afirmaram sofrer discriminação cotidianamente. Essas crianças afirmaram que são discriminadas nas ruas onde moram, na escola, e nos locais onde têm que ir algumas vezes, como nos comércios. Explicado para elas que a discriminação racial é crime, e que uma pessoa discriminada pode processar o discriminador, a criança Kailane, disse que ela ia processar todo dia muitas pessoas. Elas ficaram também contentes em saber que existe um ministério de Política para Igualdade Racial, criada no governo Lula. Foi fácil para elas entenderem a importância desse ministério, porque elas fazem parte do programa de transferência de renda o Bolsa Família. Compreendendo o objetivo do Bolsa Família, como política que visa diminuir a desigualdade social, o ministério de Política para Igualdade Racial, também tem esse objetivo. Elas apresentaram um saber por similitude.
Durante as brincadeiras elas foram homenageadas com troféu Valeu, Zumbi!, criado por elas mesmas sob a coordenação do afinado filósofo, artista plástico e escritor, Marcos Nei. No fim, antes do fim, como manda a verdade biológica, elas encararam o mata-broca africano da cocada, passando pelo aluá, o vatapá, entre outras iguarias da culinária negra.
Foi uma festa na potência libertária de Zumbi, Ganga Zumba e outros. Uma festa tão profundamente negra que no meio das comemorações, baixou a comunidade negritude em forma celestial: faltou energia elétrica e a noite se mostrou em sua negritude total. Depois de dessa revelação-negra-natural, a energia se fez presente. Logicamente mais energizada.
A Afin, por sua itinerância, transpassa o tempo cronos e produz suas atividades intempestivamente, ou seja, sem se preocupar com a limitação temporal imposta desde a eras mais longínquas. Desta forma no último domingo realizamos uma festa junina que reuniu os jovens e as crianças do Novo Aleixo com o som do verdadeiro forró junino com canções de Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Marinês, Gonzagão e muitos outros.
Antes da festança começar os fogos e foguetinhos foram lançados ao céu anunciando por todos os arredores a festança a ser realizada. Com muita animação rolou a tradicional quadrilha, que envolveu todos neste festejo parajunino.
E como toda boa quadrilha houve caracol, túnel, passeio na roça, dança dos namorados, anarriê e muitas outras brincadeiras que envolveram os participantes.
Houve também o tradicional casório do arraial onde duas crianças pequenas foram escolhidas o noivo e a noiva da festança. Como o padre na hora largou a batina para entrar na dança todos os presentes foram os legitimizadores do casamento.
Após a quadrilha houve uma série de atividades envolvendo as crianças como a dança do tortinho, onde as crianças tinham que dançar de maneira sinuosa e a dança do saci, onde cada um tinha que dançar em uma só perna.
Depois de tanta dançaria, as crianças participaram do sorteio junino. Desta vez o sorteio não envolveu a pescaria, e sim um número que foi entregue para cada criança e que correspondia a um presente junino. Dentre os brindes haviam kits de higiene infantil como sabonete, xampu, livros infantis, sandálias, cuecas novas, brincos, pulseiras, enfeites para o cabelo etc.
E como todo fim de festa tem que terminar bem a Afin preparou um banquete digno dos quitutes juninos com arroz com frango e vatapá, mingau de banana, bolo de chocolate, paçoca de amendoim.
Depois sobrou muitas lembranças de mais uma festança arretada que fica na história afinada de cada criança e que continuará na próxima comemoração junina. E Viva Santo Antônio, São Pedro e São João!
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou hoje (3) o registro da Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, no Rio de Janeiro, como Patrimônio Cultural Brasileiro. A celebração é uma manifestação cultural e religiosa, de origem portuguesa. Em Paraty, é uma celebração que faz parte do cotidiano dos moradores.
Segundo a presidenta do Iphan, Jurema Machado, o registro de bens imateriais tem características diferentes do tombamento. “As manifestações culturais mudam ao longo do tempo e isso não significa que elas percam o valor. O registro não significa uma tentativa de mantê-las intactas, mas fazer com que elas continuem existindo”. O reconhecimento deve, segundo a presidenta, dar maior visibilidade à celebração. Acrescentou que o Iphan será um parceiro na busca de apoio material para a realização da celebração.
A Festa do Divino é realizada todos os anos. Inicia-se no domingo de Páscoa. As manifestações e rituais ocorrem ao longo da semana que antecede o Domingo de Pentecostes, considerado o principal dia da festa.
Que alegria é essa Que alegria é essa Que alegria é essa
É a bandinha do outro lado Em plena rua Festa da criança Onde ninguém pode ficar fora da dança
A bandinha do outro lado é o puro carnaval Onde a criança mostra o quanto é genial
Por isso não fique aí, Por isso não fique aí, Pois a bandinha quer você brincando aqui (2X)
Neste último domingo (10) o bairro do Novo Aleixo foi inundado pela alegria dionisíaca da Bandinha de Outro Lado 2013, uma produção afinada carnavalizante que ocorre todo domingo gordo de carnaval. Neste ano em que a bandinha comemorou 5 anos do carnaval das crianças afinadas houve uma grande festa que começou com a concentração a partir das 17 horas na Rua Rio Jaú, nº 6, onde o esquenta da bandinha contagiou a todos.
Nem mesmo o período chuvoso da não-cidade de Manaus conseguiu impedir a bandinha de sair em mais um ano de alegria.
E como um dos lugares que o carnaval se deu foi na Grécia Antiga, nas festas pastoris ao Deus Dionísio, o desmedido, a Bandinha do Outro Lado traz o carnaval em uma prática filosófica que transforma o cotidiano.
Das festas dionisíacas trazemos o bode Tragos e seus sátiros para que com o festejante Sileno envolva todos na caminhada pelas ruas já conhecidas para que estas se transformem a partir dos cantos e danças do ditirambo.
Na foto acima vemos a criança afinada Hayssa que se transforma no tragos e conduz a bandinha do outro lado rumo a alegria e vida.
Após todas as crianças se fantasiarem e se prepararem a Bandinha foi para as ruas do Novo Aleixo em uma caminhada que traz o movimento carnavalesco ao bairro e faz todos sairem de suas casas para ver o Carnaval criança da Bandinha do Outro Lado.
E a festa que tomou as ruas do bairro do Novo Aleixo. Neste ano a Bandinha inovou com um carro de som do companheiro afinado Nelson Noel que convidou e chamou toda a comunidade a se reunir nesta celebração vital, e que serviu para que a marchinha deste ano da bandinha pudesse ser conhecida por todos.
Muitas mães e pais acompanharam a caminhada e alguns trouxeram seus filhos já fantasiados como na fantasia do Incrível Hulk do menino Júnior ou da chapeuzinho vermelho de Rabi como se vê nas fotos acimas.
Na foto acima vemos uma das paradas da Bandinha do Outro Lado. Estas são um recurso da bandinha para repor as energias mas para chamar as pessoas a ouvir a bandinha e participar.
Após o percurso afinado pelas ruas do bairro as crianças retornaram para a concentração, no espaço onde a Afin produz o Kinemasófico todos os domingos, para que a festa carnavalesca pudesse continuar. Os irreverentes músicos da bandinha encheram todos de alegria com as marchinhas carnavalescas de grandes nomes como Noel Rosa, Braguinha, Lamartine Babo, Mário Lago, Chiquinha Gonzaga, Paquito, Heitor dos prazeres e muitos outros que sempre fazem a alegria dos carnavais.
No vídeo acima vemos o tradicional desfile de fantasias que foi seguido da escolha do rei e da rainha do carnaval. Com as crianças em um círculo, o bode rodou, sentiu a vibração de alegria dos corpos/criança e deu uma cabeçada em uma menina e um menino, sendo estes nomeados o rei e a rainha da Bandinha deste ano.
Abaixo você vê o bode com os dois escolhidos através da força de Dionísio para serem da realeza da Bandinha.
E depois de muitas músicas, danças e produção do devir-criança chegou como sempre a hora do mata-broca carnavalesco que neste ano veio recheado e estava repleto de delícias para repor as energias como Peru assado com arroz e farofa, bola de sardinha, sanduiches, maria mole, e o sorvete de Nelson Noel e Degust’ Gula.
Assim como a dança e a festa compõe com o corpo/criança, o alimento também nutre a alma de mais uma bandinha.
E como a alegria nunca acaba, a vida continua pulsando e a festa carnavalesca se esparrama durante todo o ano nas atividades afinadas para em fevereiro explodir de vez em uma nova Bandinha do Outro Lado.
BANDINHADO OUTROLADO
TODO DOMINGO GORDO PELAS RUAS E VEIAS DO SEMPRE NOVO ALEIXO
Eis um território esquizófico como desejo imanente atravessado pela Associação Filosofia Itinerante – AFIN. Um território movimentado por intensidades pulsantes. Eis um território esquizo de saberes encadeados como potências virtuais.
Território da poiésis, onde esquizo navega como conceito grego: divisão. Divisão como multiplicidade Ética/Estética/Política produtora de saberes e dizeres que escapam das armadilhas dos tirânicos conceitos dogmatizados.
Nada de divisão matemática e nem geométrica. Muito menos divisão como conceito esquizo da psiquiatria ortodoxa, que o estigmatizou como divisão psicótica da percepção e do entendimento manifestada em alucinações corporificadas como quadro clínico delirante no conceito normatizador da psicopatologia escrita no discurso da sociedade despótica capitalística.
Este território esquizófico, você, amigo internauta, está convidado a compor afetos que possam aumentar nossas potências de agir navegando com Fernando Pessoa, para quem “navegar é preciso” e o “necessário é criar”. Também com navegantes-poiéticos como Epicuro, Lucrécio, Spinoza, Maquiavel, Nietzsche, Marx, Bergson, Sartre, Foucault, Deleuze, Guattari, Toni Negri, Michael Hardt, Hannah Arendt, Beauvoir, Bárbara Cassin, Artaud, Van Gogh, Godard, Kafka, D.H. Lawrence, Becket, entre outras.
Aqui podemos compor bons encontros, mesmo quando as afecções pareçam más. Aqui tentaremos soltar o devir-louco. A intensidade criativa sofística tão ameaçante ao idealismo platônico com sua ordem ideal. Aqui, você, seja acessando, ou postando seus dizeres, atua como corpus que tece cartografias de desejos. Afinal, o desejo é uma enunciação coletiva produtora de comunalidade. E este Hiper-Corpo-Virtual pode muito bem servir de instrumento para esta produção.
Cartografemos esquizos saberes, pois!
“NÃO É APENAS DESENVOLVER INFORMAÇÕES,MAS EXPRIMIR POTÊNCIA…
Por que ter medo de perder-se no oceanos das informações? Sempre haverá uma informação que acrescente um valor à vida, um excedente que a impedirá de perder-se. Quando se navega na rede, surge não apenas o eterno paradoxo do infinito possível e da limitação do meio, mas uma outra tensão paradoxal: a de trabalhador explorado e do rebelde, do hacker, do sabotador: aqui há vida, irredutível, há astúcia e autovalorização. Desculpem a retórica filosófica: aqui estão Maquiavel e Marx”.