Archive for Maio, 2014

“WALESA – O HOMEM DE ESPERANÇA”, DO ENGAJADO ANDRZEJ WADJA, TEM SUA ESTREIA

Maio 31, 2014

É uma história simples levando-se em consideração que “um trabalhador dever ser um artesão vital para o desenvolvimento social”, como diz Marx. Como é simples também saber que um trabalhador não pode ter impedido seu movimento como “artesão vital para o desenvolvimento social”, caso contrário ele, deixará de ser até, em seu emprego, quando ainda mantém, um trabalhador.

Ainda de acordo com Marx, a greve tem dois sentidos: um econômico, quando o trabalhador defende seus direitos. Outro político, quando se pretende mudar a estrutura política. Mas é quase impossível separar os dois sentidos. Foi o que ocorreu com o trabalhador polonês Lech Walesa que de um operário eletricista no estaleiro naval de Gdansk, transformou-se no maior líder de seu país conquistando garantias e defendendo direitos de sua classe. E tudo foi possível com a criação do Sindicato Solidariedade que lutou contra a opressão exercida pela empresa sobre os trabalhadores.

Como líder trabalhista-político Walesa chegou a ser presidente de seu país Polônia. Sua história tem grande repercussão nas transformações do Leste Europeu e queda do Muro de Berlim, além de ter influenciado à indicação do papa Karol Wojtyla. Ele liderou a movimento para o fim do comunismo em seu país que ainda seguia a linha stalinista.

Como presidente, Walesa, se direcionou as miríades do capitalismo revelando um grande grau de personalismo semelhante a Stalin e, até, posição contrária aos trabalhadores. Por tal, seu governo foi considerado impopular. A luta socialista degenerou diante da inércia do capitalismo.

Mas o engajado cinegrafista Andrzej Wadja, em seus produtivos 88 anos, em seu cinema não trata dessa parte. O suporte da trama é a entrevista que o líder polonês concedeu na década de 80 a jornalista italiana Oriana Fallaci. A entrevista é entremeada por cenas de suas lutas junto com os companheiros do sindicato Solidariedade, o primeiro sindicato de um regime comunista.

Walesa – O Homem de Esperança, que na tradução direta tem o título de Nós, o Povo, completa a trilogia de Wadja sobre o regime comunista em seu país. Antes ele realizou O Homem de Ferro, em 1981, e O Homem de Mármore, em 1987. No elenco estão Robert Wieckiewicz, interpretando Walesa, e Agnieszka Grochowska, interpretando a mulher de Walesa, Danuta.

Se alguém tivesse morrido durante as lutas de Walesa como líder do sindicato Solidariedade, teria o conhecimento somente do momento de sua existência de trabalhador “artesão vital para o desenvolvimento social”. Mas os que não morreram, sabem que Walesa também não se tornou o trabalhador que desenvolveu seus talentos tão perseguidos pelo socialismo. Nenhum homem pode produzir só a história. Porém, um homem que se propõe às lutas pelas liberdades, tem obrigação de conhecer os vícios burgueses que oprimem essas próprias liberdades. Walesa os conheceu.

Veja o trailer.

ARTISTAS DO FÓRUM DE CULTURA DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO REIVINDICAM APROVAÇÃO DE LEI PARA FOMENTO DE CULTURA

Maio 30, 2014

Os artistas que se encontram discutindo as pautas para criação cultural na periferia de São Paulo reivindicam uma lei especial para o fomento da cultura. Essa é uma das principais pautas do Fórum de Cultura que se realiza na Zona Leste de São Paulo. Em suma, eles querem somente que as regiões periféricas sejam beneficiadas com financiamentos para produção de seus projetos. Uma reivindicação que não deveria ficar localizada apenas em São Paulo, mas se estender pelo Brasil inteiro.

Uma reivindicação justa por se tratar de atividades que auxiliam no crescimento não só dos artistas, mas também da sociedade que vivencia as obras criadas. Reivindicação justa também, porque é de responsabilidade do Estado, e de empresas privadas, já que o país tem como base econômica e suporte de suas instituições o capitalismo. E financiar obras culturais é financiar o bem comum. Como se sabe cultura é bem comum. Não se sabe em que sociedade um artista criou só para ele. O que se sabe é que a arte é distributiva.

É certo que quando se trata de financiamento privado os empresários tremem, já que a arte não é mercadoria, o artista não é um trabalhador que cria mais-valor para o patrão aumentar sua riqueza derivada da exploração do trabalhador-mercadoria. Mas já que as empresas seguem as leis do Estado e vivem pelo consumo proporcionado pela sociedade, é mais do que obrigatório que os empresários também financiem os projetos culturais. A pesar de se saber que para o empresário o valor para ele é monetário e o valor da arte é de elevação da dimensão espiritual do homem expressada em sua sensibilidade e cognição.

E a questão fica mais distante do financiamento privado, porque a arte da periferia é uma arte com corpo revolucionário, uma arte divorciada dos tipos de entretenimento proporcionado pelos meios de comunicação de massa que por carregarem signos alienantes interessam aos empresários. Exemplos são os programas de TV do tipo Faustão, Luciano Hulk, que têm milionários patrocinadores que ao invés de proporcionar elevação espiritual do homem expressa em sua sensibilidade e cognição, os torna embrutecidos, ecolálicos, anoréticos intelectuais e atrofiados-sensoriais. Além de auxiliar na cristalização de uma mentalidade preconceituosa e inerte.

O fórum foi elaborado durante quase um ano e resultou em um manifesto assinado por moradores de várias coletivos da região.

“É para gente conseguir fazer isso, não só no final da semana, em um tempinho que sobra, mas fazer isso nosso trabalho”, observou a artista Elaine Monteiro do Fórum de Cultura da ZL.

VIDE A CAPA

Maio 29, 2014

Hoje, o Vide a Capa é só obra de arte para arrepiar os sentidos e a cognição. Uma vitrine-esquiza que escapa das prateleiras das livrarias. Tudo pelo devir-capa, movimentado pelos artistas criadores das obras, meta-literárias.

As capas dos livros podem carregar três movimentos-enunciativos. Um a priori que antecede o conteúdo do livro. Outro que cria névoas de indiscernibilidades nos leitores antes da leitura do livro. E o terceiro, aquele que nega o conteúdo apesar de apresentar signos indicativos.

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São nesses movimentos-enunciativos que você videcapaesquizofílico vai compor novos corpos perceptivos e cognitivos encadeados pelos artistas criadores das capas. Aqui tem a primeira capa do Anti-Édipo escrito pelos filósofos Deleuze e Guattari. A potência revolucionária do desejo esquizoanalítico que fragmentou as estruturas da psicanálise no início da década de 70, ainda com os disjuntivos fluxos do Movimento de Maio de 68. A obra que libertou o desejo das cadeias inconsciente freudiano. Publicado no Brasil pela Editora Imago, em 1976, teve como autor da capa Mauro Keiman.

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A escritora russa Nina Berberova, exilada da Revolução de 1917, e autora do romance A Acompanhadora, desfila com seu conto de suspense, intrigas e mentiras, O Lacaio e A meretriz, publicado pela Editora Nova Fronteira, em 1989, tem como artista criador da capa, Victor Burton, o que predominou nas décadas de 70 e 80 criando obras para a mesma editora.

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Em seguida se manifesta o crítico de teatro inglês, Eric Bentley, com sua obra O Teatro Engajado que trata das concepções políticas daqueles que se encontram como sujeitos de produção teatral. Os chamados engajados cujo teatro faz crítica à sociedade capitalista com suas formas de opressões através de seus modos de produção e relações de produção alienando o homem em benefício de seu compulsivo impulso ao lucro máximo. E os chamados conservadores, os não-engajados, que realizam um teatro conservador, gastronômico, para embalar os sonhos e as preguiças da burguesia-ignara.

O Teatro Engajado foi publicado no Brasil, no ano de 1969 (época de dolorosa lembrança, um ano após a implantação do Ato I-5 pelo militares), pela Zahar Editores e teve como criador de sua capa, Érico.

E para enlouquecer os olhos, a obra-prima do realismo fantástico, a literatura que retira todos os pontos de apoio de referências realistas do leitor deixando esquizofrenizado para melhor entender que o real não é tão real como parece ser, como diz o compositor e cantor pernambucano, Flaviola.

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Não é nada mais nada menos do que o pirante Bestiário de Júlio Cortázar. Autor que nasceu em Bruxelas, mas passou a maior parte de sua existência na Argentina, e tinha como fonte de suas produções do realismo fantástico seus próprios sonhos que ele transformava em conto. Ele é o autor do romance respeitadíssimo em todo mundo, O Jogo da Amarelinha.

Bestiário foi publicado no Brasil no ano de 1986. E quem adivinha o criador da capa? Pista: Tem o sobrenome de ator canastrão norte-americano. É isso mesmo, o nosso já conhecido Victor Burton. O canastrão é Richard Burton.

Mande a capa que você mais gosta que nós publicaremos.  Ou faça sua capa para um livro real ou fictício.

VIVA O VINIL – “CANTATA PRA ALAGAMAR”

Maio 28, 2014

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Joia raríssima, relíquia da consciência dos trabalhadores da agricultura que na década de 70 sofriam com a força da ditadura civil-militar que tomou o Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Um tempo em que falar de trabalhadores rurais era subversão porque, para os repressores, tratava-se reforma agrária. Um anátema condenado pelos ditadores.

Mas, apesar de todas as ameaças, Marcus Pereira, em 1978, gravou essa obra-prima de José Alberto Kaplan e W. J. Solha com o Hino de Alagamar de Severino Izidro agricultor da Fazenda Alagamar.

Um corpo que torna essa obra mais rara, não por sua arte musical, é a apresentação do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, que embora no início tenha apoiado a ditadura (aquela estória (nada de história)– verdadeira estória fabulosa do capitalismo – de que comunismo era o mal maior contra o cristianismo ), depois passou a ser um ferrenho inimigo dedicando à protestos contra as atrocidades praticadas por seus agentes.

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O certo é que Cantata Pra Alagamar foi um verdadeiro passeio esquizo na época da ditadura. Um passeio que escapava que do estava posto pela força opressiva. É lógico, que o verbo no passado tem convite do presente. Cantata Pra Alagamar ainda é esquiza ainda hoje. Não tanto quanto na década de 70, mas a luta ainda é ferrenha. Principalmente a luta contra o agronegócio, o “veneno na mesa”.

Leiamos sua apresentação dessa maravilha, Cantata Pra Alagamar, produzida por Discos Marcus Pereira.

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“Por que a “Cantata Pra Alagamar” merece ser ouvida por todas as pessoas de boa vontade, que amam a verdade e o belo, e sonham com um mundo mais respirável, mais justo e mais humano?

Há pessoas sinceras que, ao saber que 2/3 da Humanidade estão reduzidos a uma condição sub-humana, de miséria e de fome, pensam que isto pode acontecer longe daqui, jamais no Brasil.

Vem a “Cantata” e põe diante dos nossos olhos que “desenvolvimento” em nosso País vem sendo crescimento econômico de u1a minoria, que não chega a 20% de nossa população, e fabricação de miséria, em ritmo alarmante.

Mas, a “Cantata” nos traz a boa nova de que nossa gente sofrida:

 – sabe muito bem que seria loucura pegar em armas, cujos fabricantes são seus opressores;

– mas, não está, de modo algum acovardada e sem ação;

– aprende, sempre mais, que a força do povo é a união, não para pisar direitos dos outros, mas para não deixar que ninguém pise direitos seus, que não são presentes de governo ou de ricos, mas de próprio Deus.

Tudo isto a “Cantata Pra Alagamar” – de José Alberto Kaplan e W, J. Solha – nos faz ver, ouvir, sentir, viver…

 A “Cantata” que merece ser ouvida nos templos, no Parlamento, nas comunidades de base, nos bairros grã-finos, no Palácio da Alvorada…

Para quem tem ouvidos de ouvir, é “Cantata” de esperança e de amor!”

                                                        Helder Câmara

                                              Arcebispo de Olinda e Recife

Participaram desta gravação:

SOPRANOS

Nilzete Silva de Albuquerque e Melo – solista.

Eliza Cavalcante Leão – solista.

Celina de Almeida Bandeira, Emma Sagstetter e Vera Lúcia Medeiros Marques.

CONTRALTOS

Laura de Paula Conde, Raquel Maria de Lima e Vilma Fernandes da Silva.

TENORES

Alírio de Albuquerque e Melo – solista.

Almir Araújo de França, Gilberto Gomes Batista e Eduardo de Oliveira Nóbrega.

BAIXOS

Carlos Anísio de Oliveira e Silva, João Gadelha de Oliveira Filho e Luiz Carlos do Nascimento Souza.

FLAUTA E FLAUTIM

Gustavo Gines de Paco de Gea.

CRAVO

Norma Romano de Paco de Gea.

PERCUSSÃO

Poty Holanda Lucena – Triângulo.

Natal de Oliveira – Pandeiro.

Antônio Carlos B. Pinto – Zabumba.

NARRADOR

Fernando Antônio Teixeira.

JOGRAL

João de Souza Costa, Ronaldo Lira de Souza e Waldemar José Solha.

REGENTE

José Alberto Kaplan.

FICHA TÉCNICA

Produção: Discos Marcus Pereira

Direção Artística: Marcus Vinícius

Regência: José Alberto Kaplan

Gravado no Estúdio do Conservatório Pernambucano de Música

Fotos de Capa: Arquivo Arquidiocese da Paraíba.

VOCÊ QUER SURREALISMO? TEM EXPOSIÇÃO DAS OBRAS DE SALVADOR DALÍ

Maio 27, 2014

O Instituto Tomie Ohtake reuniu 150 peças distribuídas entre 80 desenhos e gravuras, 29 pinturas e documentos e fotografias concedidas pela Fundação Gala- Salvador Dalí (Figueres), Museu Nacional Centro de Artes Reina Sofia (Madri) e o Museu Salvador Dalí (Flórida) e preparou a Exposição Surrealista de Salvador Dalí com obras desde o ano de 1920. A exposição além de mostrar a técnica do artista multiestético mostra também, suas influências, recursos temáticos, referências ideológicas e simbolismos.

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Essa vivência das obras de Salvador Dalí, você poderá realizar a partir do dia 30 no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB/Rio) embora a abertura ocorra já no dia 29. As vivências ocorrerão das quartas-feiras às segundas-feiras. Haverá uma palestra com a curadora da exposição e diretor do Centro de Estudos Dalinianos da Fundação Gala-Salvador Dalí, Montse Aguer.

“Queremos mostrar o Dali surrealista, mas aquele que se antecipa ao seu tempo, que é audacioso, que defende a liberdade de imaginação do artista em sua própria criação. Ao mesmo tempo, a mostra passeia pela trajetória e pessoal de Salvador Dalí.

Após a visita todos entenderão sua importância como artista, não só no surrealismo, mas na história da arte. Isso significa uma importante ligação com a arte contemporânea, enquanto Dalí parte de uma profunda compreensão e respeito pela tradição”, disse a curadora.

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Para Marcelo Mendonça, gerente-geral do CCBB, a exposição tem magna importância, também, porque faz parte das comemorações da realização dos 25 anos do centro.             

“Em 2001, o CCBB exibiu uma das maiores mostras sobre o Surrealismo já realizadas no país. Foi um marco na história do Centro Cultural, tanto pelo acervo apresentado quanto pelo interesse do público.

Em 2014, ano que celebramos 25 anos da existência do CCBB, trazer para o Brasil o ícone do movimento surrealista é uma oportunidade para festejarmos o quanto o público das artes plásticas cresceu nos últimos tempos e como o Rio de Janeiro adquiriu uma nova imagem ao ser reconhecido como mais uma das grandes cidades do mundo a bater recordes de visitação em exposições de arte”, observou Marcelo.

Por sua vez, Ricardo Ohtake, presidente do instituto comentou como ocorreram os contatos para que a exposição fosse realizada.

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“Foram cinco anos de muitas tentativas e conversas com os detentores das grandes coleções de Dalí, para se concretizar as exposições do artista no Brasil, pela primeira vez com pinturas, e com maior concentração na fase Surrealista” comentou Ohtake.

A exposição vai ser uma loucura que só o Surrealismo pode proporcionar. Sabe lá o que é vivenciar algumas telas do período inicial do espanhol como Retrato del Padre y Casa de Es Llaner, de 1920 e Autorretrato Cubista do ano de 1923? Tudo expressando o seu conhecido método paranoico-crítico de interpretação da objetividade. Vivenciar sua contribuição para o cinema como Um Cão Andaluz, com Luiz Buñuel, A Idade do Ouro e Quando Fala o Coração dirigido por Hitchcock. Além de suas assinaturas em obras de outros famosíssimos surrealistas e dadaístas como André Breton e o marxista, Paul Eluard. Sem deixara de assinalar as ilustrações para os clássicos da literatura mundial como Don Quixote de La Mancha e Alice no País das Maravilhas.

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Nada melhor do que um salto para além do chamado mundo real transportado por Salvador Dalí.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CIRCO

Maio 26, 2014

Com o objetivo de humanizar a arte circense e diminuir o entendimento que predomina atualmente, dela ser uma arte das virtuoses, proporcionado pelos chamados circos modernos, estará sendo realizado até o dia ‘° de junho, no Sesc/São Paulo, o Festival Internacional de Circo.

Durante o festival várias atrações internacional e nacional das expressões circense, serão apresentadas, como o Belonging que é composto por artistas brasileiros e britânicos que são tidos pela linguagem classificatória como deficientes. Na verdade uma linguagem opressiva e limitadora porque, como diz o filósofo Spinoza, nenhum corpo é imperfeito ou como se cunhou, deficiente. Cada corpo compõe com o que pode sua essência. Por exemplo, uma pessoa cega não compõe com a luz, e nem por isso ela deve ser classificado como deficiente, já que os corpos que compõe o mundo não se reduz a luz.

Assim, no caso do Belonging, os acrobatas não devem ser classificados como deficientes, visto que eles compõem com o corpo-física: o equilíbrio e o movimento. Classificá-los como deficientes é querer a predominância de um mundo onde existem formas consideradas normais que servem de modelo. O que é uma estupidez do campeão da seleção, classificação e hierarquização de uma sociedade cuja classe dominante prima pela exclusão dos que não refletem suas formas e conteúdos.

O publico poderá assistir os talentos circenses proporcionados pela Companhia Família Bolondo/Ateneu 9 Barris e suas Maravilhas com paródias e números de animais amestrados (a triste zoo-violência) e engolidores de fogo, o EaEo com seus quatro belgas malabaristas que realizam a performance o tamanho das moradia atuais começando com 8 metros e terminado espremidos entre si, sem espaço.

Como atividade de inclusão social através do teatro, música e circo, se apresenta a peruana Tarumba. Já a multinacional Organización Efímera, de Barcelona, apresenta a sua encenação existencialista Data de Validade.

Por parte do naipe da casa, comemorando dez anos de criativa e alegre existência e inaugurando a unidade Sesc de Campo Limpo, se apresenta o Circo Zanni. També se farão presentes a Nau de Ícaros, que trabalha com a linguagem poética de Os Artistas, e os Parlapatões, com a linguagem dos Clássicos.

Uma boa indicação para marcar presença e confirmar que “a alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo”. É momento de circensiar.

SAMBADA DE COCO DE UMBIGADA DE MÃE BETH DE OXUM DE GUADALUPE

Maio 25, 2014

Olinda - Beth de Oxum, coordenadora do Ponto de Cultura Coco de Umbigada (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Foi na comunidade de Guadalupe, em Olinda, Pernambuco, que Mãe Beth de Oxum iniciou seu trabalho de resgate da cultura popular esquecida dos habitantes da região, e porque não dizer de outras partes do Brasil. Educadora e percussionista, Mãe Beth de Oxum, recorre à memória para realizar as transformações de vidas dos moradores da comunidade através dos instrumentos que cria juntos com seus companheiros.

O trabalho artístico-comunitário começou no quintal de sua casa, há mais de 10 anos, quando ela iniciou as rodas de Sambada de Coco de Umbigada. Foi nesse tempo que sua memória foi visitada de forma vital, como diria o filósofo Bergon, para extrair das névoas das imagens-lembranças visuais e sonoras as produções históricas dos seus antepassados. Assim, como também, o talento artístico para criação dos instrumentos necessários a execução da Sambada de Coco de Umbigada.

Dos encontros realizados sempre no primeiro sábado de cada mês, nasceram outros projetos. Todos relativos a mudanças de percepção, entendimento e transformação da vida da comunidade de Guadalupe. Nesse movimento criativo foi manifestado o projeto de “libertação e identidade negra”. Um projeto que tem como indicação fazer com que os participantes se envolvam com os signos de sua cultura não só os estabelecidos pelos colonizadores, como também os criados autenticamente pelos negros. E como é óbvio, signos que os meios de comunicação de massa não expressão.

Um caso próprio do sistema capitalista que só visa o lucro mostra ainda mais a potência criativa de Mãe Beth de Oxum e seus companheiros de produção cultural. O ponto de cultura ficava em uma casa alugada, mas por falta de possibilidade de pagar o aluguel eles tiveram que deixar a antiga sede e passaram a se encontra na laje da casa de Beth e na frente de sua casa. Acompanha pelo interesse da vizinhança, ela já tem sob sua criação educacional mais de 200 crianças.

“Precisamos entender a importância da cultura afrobrasileira na origem da identidade de nosso povo e na cultura brasileira. Identificando isso, a importância que isso tem, de onde isso vem, de territórios negros quilombolas, afro-brasileiros, afroindígenas. De posse disso, a pessoa percebe que tem um lugar, uma cor e um endereço, dos morros às periferias.

Não há como querer que os menores se reconheçam ou gostem daquilo que não conhecem. Aqui a gente brinca muito de afoxé e de coco. Na comunidade não existe outra agenda de esporte e lazer”, analisou Mãe Beth de Oxum de Guadalupe.

 

 

EXPOSIÇÃO MULTIMÍDIA: PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO – CELEBRAÇÃO VIVA DAS CULTURAS DOS POVOS

Maio 24, 2014

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Comidas, bebidas, lugares, formas de expressão, saberes e ofícios são os corpos-imateriais que a exposição multimídia Patrimônio Imaterial Brasileiro – Celebração Viva das Culturas dos Povos começou a exibir ontem, dia 23, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro e ficar em cartaz até o dia 20 de julho. Ultrapassa o temo da Copa. Por isso, não argumento contrário para não marcar presença.

São 30 corpos-imateriais selecionados e registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que serão exibidos na exposição. Tem desde a Cajuína de criação piauiense até o Tambor de Crioula, do Maranhão. Uma verdadeira heterogeneidade de dizeres enunciativos da produção cultural brasileira. Cada corpo-imaterial carrega encadeamentos históricos, econômicos, sociais, antropológicos, estéticos, religiosos, mitológicos, etc. que asseguram sua expressão intempestiva.

Como bem se sabe todo corpo seja imaterial ou material não acaba em si mesmo. Não acaba em sua forma e em seu conteúdo. Ele se expressa como multiplicidade de elementos processados nas relações de produção e nas relações sociais. Um breve exemplo, é o Bumba-Meu-Boi do Maranhão. Nada a ver com o Boi-Bumbá de Parintins, no Amazonas, que não passa de uma gritante degeneração dos corpos constitutivos do Bumba-Meu-Boi, do Maranhão que foi criado pelos encadeamentos de partículas econômicas, políticas, religiosas, antropológicas, étnicas e geográficas que se estruturam no período colonial.

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Ao contrário o Boi-Bumbá, de Parintins (tirando a sensibilidade dos artesãos), reflete o carnaval das Escolas de Samba do Rio, mais o narcisismo de um governador do Amazonas e mais a mídia psicodélica de mercado. Não nasceu dos encadeamentos singulares das partículas que manifestam a originalidade de um corpo-imaterial. A prova bem convincente, a diminuição acentuada dos que ainda gostam de apreciá-lo em Manaus. Local de sua explosão para o gosto do entretenimento de consumo.

Quem for apreciar a exposição vai vivenciar três blocos.

  1. Ambiente neutro com imagens e vozes.
  2. Três aldeias apresentam os bens imateriais, institucionalizados ou não que se misturam como corpos dos imigrantes africanos, japonês, italiano e português.
  3. Duas aldeias exibem objetos, além de imagens, vídeos e sons com informativos mostrando como são realizados seus registros.

Se você for, saca só o que você vai vivenciar, mano e mana.

Do Espírito Santo – Ofício das paneleiras de goiabeiras.

Minas Gerais – O toque dos sinos.

Do Amazonas, especificamente das etnias Uaupés e Papuri – Cachoeira Sagrada Iauaretê.

Do Amapá- Arte Kusiwa de pintura corporal e arte gráfica Wajãpi.

Do Pará – O Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

Do Maranhão – Bumba-Meu-Boi e Tambor Crioula.

De São Paulo – O Fandango Caiçara do litoral sul.

Mato Grosso – Ritual Yaokwa da etnia Enawene Nawe.

Dos Karajá – Produção das bonecas Karajá e Rtixòkò expressão artística e cosmologia

Marajó – Festividades de São Sebastião.

Recôncavo Baiano – Samba de Roda.

Rio de Janeiro – Matrizes do Samba.

Bahia – Festa do Senhor Bom Jesus do Bomfim.

E mais, feira de Caruaru, produção artesanal do queijo de Minas nas regiões dos Serros e das serras da Canastra e Salitre, produção da viola-de-cocho, da renda irlandesa, festas de Santa Ana de Caicó, na região do Seridó norte-rio-grandense, Divino Espírito de Paraty, sistema agrícola tradicional do Rio Negro, frevo, jongo, roda capoeira, ofício dos mestres de capoeira, e muito mais.

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Para Luciano Figueiredo, curado da mostra, o objetivo da exposição é apresentar “a importância desse legado para nossa história e continuidade”.

“A criação do patrimônio imaterial é bastante recente. Ele aparece na Constituição de 1988 e ganha um departamento no Iphan nos anos 2000. A maioria dos brasileiros não tem conhecimento sobre esses bens, por isso o nosso principal objetivo é mostrá-los à população. Queremos apresentar o que são os bens imateriais, como foram registrados e qual a importância desse legado para nossa história e continuidade como povo”, disse Luciano.   

MINHA AMIGA PROFESSORA*

Maio 23, 2014

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Os quatro jovens entraram no ônibus em paradas alternadas. Eram quase 19 horas quando eles, usando óculos escuros e um tipo de boné com abas caindo, quase cobrindo seus os rostos, tomaram seus pontos estratégicos dentro do ônibus. Um deles procurou ficar próximo do motorista, outro junto ao cobrador e os outros ficaram no corredor. De repente, quando o ônibus entrou em uma rua mais longa, o jovem que estava próximo do motorista, sacou de um revólver, mirou sua cabeça dizendo para ele não ser otário de mostrar qualquer reação se não quisesse que seus filhos ficassem sem o pai e a mulher sem marido passando fome. O motorista, tenso, continuou guiando o ônibus.

Então, ele anunciou o assalto dizendo que seria um jogo rápido se todos cooperassem entregando dinheiro, celulares, joias cartões com as senhas. Houve um início de pânico, mas quando os passageiros viram os quatros jovens todos com as armas nas mãos, se esforçaram para não desesperar. O jovem junto ao cobrador retirou todo o dinheiro do caixa, e continuou observando-o para que ele não esboçasse qualquer reação. Um jovem mais magro chegou ao meio do ônibus e pediu a bolsa de uma senhora que estava com ar despreocupado olhando pela janela como se nada ameaçador tivesse ocorrendo. Ela entregou a bolsa calmamente e continuou absorta olhando pela janela. O jovem abriu a bolsa dela para tirar o dinheiro e seus pertences quando viu um contracheque. Ele leu e perguntou se ela era professora, ao que ela balançou a cabeça afirmativamente. Ele então entregou a bolsa sem tirar nada.

O jovem mais taludo se aproximou e perguntou se ele já havia tirado as coisas da mulher, ele respondeu que sim. O jovem taludo, irritado, não acreditou afirmando que a bolsa dela estava fechada. E ele disse que ele estava enganado. O jovem taludo tentou pegar a bolsa da senhora, mas o jovem magro impediu afirmando que não iam tirar nada dela porque ela era professora. O jovem taludo, mais irritado ainda, disse que ia tirar tudo e ainda levar a bolsa dela para presentear uma tia, porque ele odiava professora. Que foi por causa de uma professora, que lhe perseguia na escola, que ele teve que deixar os estudos. E ainda advertiu, com violência, o jovem magro lembrando que ele não estava se saindo bem no lance como alguém que participava de seu primeiro assalto. Mas o jovem magro, resoluto, apontou o revolver na cabeça do taludo e disse se ele pegasse a bolsa da professora nunca mais ele iria dormir.

Nesse momento, o jovem que estava próximo ao motorista avisou que a festa estava acabada. Era hora de ‘sorta’ da parada. Eles desceram, entraram em uma rua estreita e escura, e o motorista acelerou o ônibus. Como eles se juntaram aleatoriamente para assaltar, aleatoriamente, depois de dividirem a grana e o que ficou com o motorista pedir as armas, cada um se mandou para seu mundo. Nenhum conhecia o outro.

O jovem magro jogou em um buraco fundo, os óculos e o boné, cujas abas cobriam seu rosto, foi até o asfalto, pegou um ônibus e desceu em um bairro distante. Chegou a uma lanchonete, pediu um refrigerante e um sanduiche, sentou em uma cadeira e ficou olhando a televisão que apresentava um jornal. Baixou a cabeça, ficou pensativo quando ouvi vindo da televisão um alarido. Voltou a olhar o aparelho e percebeu que se tratava do fim de mais uma marcha dos professores do ensino público que reivindicavam seus direitos trabalhistas junto aos governos. Ele, muito atento à notícia, ouviu quando uma professora disse ao repórter que no outro dia às 9 horas, eles iriam à Assembleia Legislativa do Estado protestar, porque os deputados iriam votar o reajuste de 5% que o governo tinha dado quando a categoria pedia 20%. Depois, pagou a conta e foi para casa.

No outro dia, ele acordou cedinho. Procurou a melhor roupa que tinha, limpou bem os sapatos, se vestiu, passou um pouco do perfume da irmã que estudava no Pronatec e foi pegar um ônibus. Antes das 9 horas, estava na frente da Assembleia Legislativa onda já havia centenas de professores. Passou entre os professores, ouviu algumas conversas sobre as pautas reivindicatórias, e viu quando a porta foi aberta e um homem fazia a triagem de quem poderia entrar. Ele se aproximou entre professores que estavam juntos ao homem que fazia a triagem e quando o homem deu um vacilo ele entrou.

Já no interior do órgão sentou em uma poltrona perto de uma professora que estava muito triste. Conforme os deputados iam chegando e sentando displicentemente nas poltronas, ele ia entendendo quem eram eles. Por último, chegou um deputado que sentou no meio de todos os deputados e ele entendeu de vez qual seria o resultado da votação. A sessão começou e alguns representantes dos professores foram à tribuna expor as reivindicações da categoria. Ele viu que enquanto os professores falavam quase todos os deputados mostravam total desinteresse com a matéria. Uns folheavam jornais, outros tomavam café, outros conversavam ao celular, um total desprezo aos professores.

Quando o presidente da mesa avisou que iria iniciar a votação do reajuste de 5% concedido pelo governo, ele levantou a mão e disse que queria fazer um breve pronunciamento. O presidente da mesa quis impedir, mas um deputado da oposição pediu que fosse respeitado o interesse do jovem. Muito contrariado e com profundo ódio, o presidente concedeu o pedido.

Ele foi à tribuna, deu um sorriso largo e seguro, e se apresentou afirmando que era professor. Os professores se entreolharam querendo saber quem era aquele professor que a categoria não conhecia. Ele então disse que fazia parte de um movimento de educadores conhecido nas periferias e nos municípios do estado como Movimento Conatus. Os professores, como também os deputados, ficaram intrigados quase que dizendo que não estavam entendendo nada. Ele, então, começou explanar em se constituía o Movimento Conatus. Disse que ele e mais duzentos professores de todos os bairros da cidade e outros municípios do estado, há mais de oito meses estavam realizando uma pesquisa para saber quantas escolas existem no estado e, principalmente, em Manaus, quantos alunos estão matriculados e quantas famílias estes alunos compõem. E quantos trabalham no distrito.

Parou por um momento, olhou firmemente para o presidente da mesa, e continuou sua explanação dizendo que durante todos esses meses, eles têm realizados encontros com todas as famílias desses alunos e todas as famílias estão coesas com os propósitos do Movimento Conatus do qual elas também são vozes ativas. Nesse momento, o presidente da mesa tentou cortar sua fala alegando que o tempo havia esgotado. Entretanto, outro deputado da oposição, disse que concedia seu tempo para ele falar. Ele agradeceu e continuou, afirmando que segundo a pesquisa deles, em 90% das famílias dos bairros da e dos municípios têm, no mínimo, quatro eleitores. Nesse ínterim, os deputados largaram os jornais, os celulares, os cafezinhos, mexeram-se nas poltronas, olharam-se e depois passaram a cochichar entre eles.

Ele ficou olhando os deputados e depois começou a explicar o caso da categoria e aproveitou para lembrar a alguns professores que eles deveriam compreender a importância que eles têm para o mundo, como sujeitos de transformação. Compreender, que mesmo sem saberem, eles são também conatus: a potência que persevera a essência da vida que faz dos trabalhadores a produção de um mundo gratificante. E que, mesmo havendo entre eles, discordâncias ideológicas, eles, querendo ou não querendo, são essa potência que aumenta a alegria de viver. E que nenhum governo, por mais tirânico que seja, consegue destruí-la.

Ele tirou um celular do bolso da calça, simulou, falando alto, que estava se comunicando com alguém, dizendo que tudo estava correndo bem e que logo, logo, mantinha contato. Sorriu, afirmando que eram outros membros do Movimento Conatus que estavam do lado de fora querendo saber notícias. Bateu três cinco vezes na madeira, e começou a contar o motivo real da presença dele naquela casa do povo. Então, os deputados reacionários ouviram o que eles jamais imaginavam em suas existências ouvir. O, jovem, calmamente, disse que se eles não aprovassem o reajuste dos professores em 20%, mais o Vale Transporte, Vale Refeição, HTP, Plano de Saúde, eles jamais seriam eleitos no Amazonas porque ninguém de todas essas famílias que pertenciam ao Movimento Conatus iria votar em nenhum deles. E mais, que eles iriam fazer a maior marcha de toda a história do Norte até o Palácio do Governo e Prefeitura. E mais ainda, como uma grande parte dos pais e estudantes trabalha no distrito e no comércio, no dia da grande marcha, eles não iriam trabalhar. O que significaria prejuízos de bilhões ao comércio e a indústria. E de quebra, ao estado e a prefeitura.  

Foi uma loucura, os deputados foram ao delírio. Os dois que estavam próximos do presidente exigiram que a votação fosse feita naquele momento com os 20%, e com efeito retroativo. Um deputado considerado o mais baba-ovo, disse que por ele o aumento, devido à defasagem, deveria ser de 40%, porque o estado e a prefeitura têm arrecado muito. O presidente respondeu agitado, que por ele era pra já e o governador não poderia de jeito nenhum anular a votação, é a voz do povo.

Foi uma votação relâmpago. Nem Zeus seria mais rápido. Os professores comemoraram. Acabaram as diferenças ideológicas referentes às causas da categoria. Um deputado, que trazia sempre guardado no bolso uma garrafa de uísque, ofereceu goles aos presentes. Cantaram o Hino Nacional, e os mais exaltados ufanistas, bradaram: Brasil, zil, zil, zil, zil, zil! Outros mais obstinados cantaram a Internacional. Um deputado pegou o microfone e gritou que esse sim, era um verdadeiro dia histórico, logo foi acompanhado de aplausos.  

Na alegria contagiante, ninguém viu quando o jovem saiu. Ele dirigiu-se ao porto, pegou um barco e foi embora para Belém. Como já havia terminado o ensino médio, prestou vestibular no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), passou, concluiu o curso de medicina e trabalhou durante anos no interior do Pará.

Aproveitou alguns tempos de férias, viajou pelo mundo, principalmente países pobres da África, Ásia e América Latina. De volta, resolveu morar no Nordeste e, junto com amigos, criou a Faculdade Livre de Filosofia.

*Conto da obra, Contos Sem Descontos, de autores da Associação Filosofia Itinerante (Afin), em preparação. Mande o seu que nós publicamos gratíssimo.

VIVA O VINIL! CARTOLA – DOCUMENTO INÉDITO

Maio 22, 2014

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O passeio esquizo da bolacha crioula de hoje é a joia rara, a verdadeira relíquia do vinilesquizofílico, Cartola – Documento Inédito, gravado em 1982, pelo Estúdio Eldorado, Série: Luxo.

Como já é do conhecimento até do mundo mineral, como diz o jornalista-filósofo, Mino Carta, o Estúdio Eldorado tem um trabalho similar ao de Marcus Pereira: produzindo obras de cantores e compositores que escaparam e escapam da captura do buraco negro das gravadoras multinacionais que proporcionam dejetos musicais a ouvintes com audição obstruída. Isso porque seu fator maior é o som alienante de mercado. No estilo Roberto Carlos, Chitãozinho e Chororó, Paula Fernandes e congêneres.

O Estúdio Eldorado tem trabalhos da música verdadeiramente caipira ou sertaneja, dependendo da audição e inteligência de cada uma, passando pelo samba e outras maravilhas das variadas localidade deste Brasil de tantos e ocultos talentos. Desfilam nessa bolacha crioula as joias raras como Inverno do Meu Tempo, Autonomia, Quem Me Vê Sorrindo, Dê-me graças, senhora entre outras relíquias poéticas musicais.

E mais, a apresentação é feita por ninguém mais talentoso no ofício do que Aluízio Falcão. Falcão traça coerentemente, no texto que escreveu o trabalho desse Cartola – Documento Inédito. Vejamos! Ou melhor, leiamos!

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“Este LP contém um depoimento de Cartola e mais oito obras-primas que eles mesmo canta, acompanhando-se ao violão. É a reprodução de um programa com o fundador da Mangueira na Rádio Eldorado de São Paulo, pouco antes de sua morte. Foi a última vez que Cartola entrou em um estúdio de gravação. Ele estava feliz com um novo disco, mas já era visível o abatimento provocado pela doença que o mataria meses depois.

Quis poupá-lo de uma conversa demasiadamente inquiridora e cansativa. Pedi que ele próprio escolhesse as músicas e as comentasse rapidamente, durante a gravação. Tudo transcorreu como um encontro de boteco. Conversa, violão e conhaque. Mas Cartola falou mais do que a encomenda e, graças a isso, podemos agora apresentar esse documento inédito.

O que Agenor de Oliveira diz nessa conversa musicada já é mais ou menos sabido pelos estudiosos da nossa canção popular, porém acho importante que também seja conhecido pelo ouvinte comum. Até brinquei com ele no começo do papo: “Vou te fazer uma pergunta originalíssimas, de onde vem esse apelido de Cartola?” É que todo repórter jovem, ao entrevistá-lo, começa desse jeito. Essa e outras respostas, entretanto, perderam-se em publicações efêmeras de jornal. Agora, registrada por ele, mesmo em disco, soam como um registro importante, levam ao grande público alguns traços básicos de sua biografia.

São informações prestadas pela fonte mais confiável, o próprio biografado. Só quando fala na idade das suas músicas, Cartola, não é mais exato. O samba “Quem me vê sorrindo” nasceu antes de 1940 e neste depoimento, prestado em fins de 1979, ele calculou “vinte ou trinta anos”.

Este disco é u auto-retrato falado onde aparecem, dissimuladas , rugas que marcaram sua vida. Cartola não era uma pessoa queixosa, ressentida, como tantas que habitam o território da arte. E aqui fala sem amargura das vicissitudes que o obrigaram a vender direitos a intérpretes famosos (Chico Alves, por exemplo). Do tardio aparecimento em disco próprio. Da paciência com que enfrentou a obscuridade até quase o final da existência. E, entre outras revelações, afirma sua curiosa preferência pelo samba-canção.

Participei do lançamento do LP de estreia de Cartola na “Discos Marcus Pereira”. Eu era o diretor artístico da gravadora e o produtor João Carlos Botezelli (Pelão) procurou-me num bar, certa noite de 1974, para sugerir o trabalho. Fiquei empolgado. Botezelli, com o seu exagero peninsular, implorou dramaticamente a produção imediata do disco. Respondi, lembrando a renúncia de Jânio Quadros, que estávamos bebendo e não era aquele momento adequado para uma decisão histórica.

Adiei a resposta para o dia seguinte, quando falei com Marcus e, juntos, decidimos lançar aquele famoso primeiro LP. Agora, estou escrevendo essa nota de apresentação para o último LP. Um disco sem divisão de faixa, arranjos, orquestrais, convenções. Um disco original, simples e bom como o velho Cartola”

São Paulo, junho de 1982.

Aluízio Falcão