Archive for Junho, 2019

DE CLÁSSICO A NOVIDADES, DEZ OBRAS PARA VISIBILIZAR A HOMOSSEXUALIDADE NA LITERATURA

Junho 30, 2019

Natalia Borges Polesso, Caio Fernando Abreu, Bárbara Esmênia e Abdellah Taia - Créditos: Arte: José Bruno Lima

Uma lista com livros sobre a experiência LGBT publicados no Brasil, metade deles nos últimos cinco anos

Luiza Mançano

Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Junho de 2019.

Natalia Borges Polesso, Caio Fernando Abreu, Bárbara Esmênia e Abdellah Taia / Arte: José Bruno Lima

Há 50 anos, tinha início a rebelião de Stonewall nos Estados Unidos (EUA). O protesto de 1969 é considerado o estopim das lutas LGBT, acendendo o pavio para a organização do movimento em todo o mundo.

Mais do que um movimento por reconhecimento institucional, a efervescência da mobilização ao final dos anos 1960, junto com outros movimentos, como o de direitos civis da população negra e o movimento feminista, se deu também no campo cultural. 

Na literatura, autores e autoras começaram a escrever mais abertamente e visibilizar experiências homossexuais em suas obras. Além disso, uma série de livros proibidos, esquecidos ou que abordavam de forma indireta o tema passaram a ser recuperados. 

Para visibilizar esta produção, o Brasil de Fato organizou uma lista de dez livros de literatura contemporânea publicados no país, entre clássicos e lançamentos, que abordam o tema da homossexualidade e da bissexualidade.

 

  1. LIVRO 9.jpgTerra estranha, de James Baldwin (1962)

Publicado alguns anos antes da rebelião de Stonewall, o romance do escritor afro-americano James Baldwin, protagonizado pelo personagem Rufus, aborda temas como a bissexualidade e relacionamentos entre pessoas negras e brancas nos EUA. O país, marcado pela segregação racial, vivia um crescente movimento pelos direitos civis da população negra. Foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras no ano passado.

  1. O beijo da mulher aranha, de Manuel Puig (1976)

A obra de Manuel Puig é considerado um dos primeiros a assumir o tema da homossexualidade na literatura argentina. O escritor argentino é um dos fundadores da Frente de Libertação Homossexual no país e exilou-se antes do início da ditadura por receber ameaças de morte na ocasião do lançamento de seu livro The Buenos Aires affair. Escrito no exílio, no México, O beijo da mulher aranha tem como personagens um preso político, Valentin Arregui, e Luis Molina, um homem gay amante de cinema e acusado de seduzir um menor de idade. Eles dividem uma cela na prisão durante a ditadura. O romance ganhou adaptação cinematográfica dirigida pelo cineasta Hector Babenco, em 1985, quando Puig vivia no Brasil.

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  1. Marcellina, de Cassandra Rios (1977)

A escritora brasileira Cassandra Rios (pseudônimo de Odete Rios) é uma figura ímpar na literatura do país, a primeira a escrever sobre homossexualidade feminina, com muitas obras eróticas publicadas em alta tiragem. Cassandra Rios teve seus livros censurados pela ditadura militar, foi perseguida e ficou conhecida como “a escritora maldita”. Neste seu romance, também censurado e republicado em 1980, a personagem Marcellina é uma prostituta que vive uma relação homoafetiva, mas que possui um discurso conservador, explorando as contradições das normas sociais da sociedade patriarcal.

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  1. Em breve cárcere, de Sylvia Molloy (1981)

O romance da escritora argentina também é reconhecido como um dos primeiros a tratar a obra da homossexualidade na literatura argentina, desta vez, com a perspectiva de uma mulher. No romance, a personagem – apresentada sem um nome – é escritora e tradutora e vive em um quarto onde anteriormente viveu um triângulo amoroso conflituoso com outras mulheres, Vera e Renata. A obra explora temas como a busca de uma identidade, o descobrimento do próprio corpo e a homossexualidade feminina.

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  1. Morangos mofados, Caio Fernando Abreu (1982)

O livro de contos é a quarta obra do escritor Caio Fernando Abreu e foi publicado nos últimos anos da ditadura brasileira. Dividido em três partes, os contos exploram o tema da homoafetividade em um contexto de repressão e silenciamento, mas também de intensificação da contracultura e surgimento dos primeiros grupos de libertação homossexual no país. Em um dos contos, Os sobreviventes, um casal se frustra em sua tentativa de ser heterossexual, e há muitas referências a elementos da cultura homossexual do período, como o Ferro’s bar, conhecido como “Stonewall brasileiro”.

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  1. Argonautas, Maggie Nelson (2015)

A obra autobiográfica da escritora estadunidense Maggie Nelson foi publicada no Brasil em 2017 e tem como centro do relato o relacionamento entre a autora e o artista Harry Dodge. Uma família nada tradicional, composta por duas pessoas nascidas do sexo feminino, uma delas vivenciando um processo de transição de gênero (Harry) e a outra uma gestação. Uma obra sensível e íntima que explora temas como a transformação do corpo, a política conservadora dos EUA, com perseguição a grupos LGBT e as ameaças a direitos e conflitos internos relacionados à experiência queer e à maternidade.

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  1. Amora, de Natalia Borges Polesso (2015)

O livro da escritora brasileira Natalia Borges Polesso, vencedor do Prêmio Jabuti (2016), é composto  por 33 contos que exploram o tema da homossexualidade feminina, com enredos que exploram o descobrimento da sexualidade, rompimentos afetivos, preconceitos e histórias de amor atravessadas por ele, da juventude à velhice. Um dos contos, intitulado Vó, a senhora é lésbica?, foi tema de questões do Enem do ano passado, e a autora foi atacada por setores conservadores. Na contramão do ódio pregado, ganhou uma versão em curta-metragem em 2018.

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  1. Aquele que é digno de ser amado (2017)

Abdellah Taïa, cineasta marroquino, foi o primeiro escritor árabe a assumir sua homossexualidade publicamente. Seu livro Aquele que é digno de ser amado ganhou uma edição brasileira em 2017 pela editora independente Nós. Composto por quatro cartas ficcionais, todas atravessadas pela questão da homossexualidade, o livro aborda também questões como exílio e estrangeiridade, além de tensões entre a mitificada liberdade francesa e a exploração e subjugação dos povos africanos no colonialismo, cujas fraturas aparecem nos relacionamentos do personagem Ahmed. 

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  1. Tribadismo: mas não só, Bárbara Esmenia (2018)

O livro de poemas de Bárbara Esmenia foi publicado pela padê editorial, fundada em 2015 pela autora do livro junto a também poeta Tatiana Nascimento e voltada para a publicação artesanal de autoras negras, lésbicas, bissexuais e transsexuais. Os poemas de Tribadismo: mas não só, segundo poemário da autora, versam sobre a lesbianidade pensada para além da ideia de experiência moderna e ocidental, em uma escrita que evoca conceitos e imagens ancestrais para escrever a subversão das mulheres a partir da própria sexualidade como uma proposta política.

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  1. 3.255 km, de Helena Zelic e Mariana Lazzari

Publicado ao final de maio pela nosotros, editorial, o livro-caderno 3.255 km é uma troca de cartas entre as autoras durante o período em que viveram em países diferentes, Helena no Chile e Mariana no Brasil. Os poemas e fragmentos formam um mapa íntimo de um relacionamento entre mulheres tecido (e escrito) à distância, entre a espera e o encontro, uma celebração do amor lésbico para nossos dias de resistência pessoal e coletiva.

Fragmento do poema aula de poesia

    – a saudade é um imprevisto

que se alarga pelo continente,

poderia dizer

e mostrar tuas fotografias.

sinto falta do calor

mas vejo nas miragens.

o que meio primeiro, a palavra

ou o mundo?

questionaria ao país sem nome

já sabendo sua resposta –. 

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Edição: Aline Carrijo

BLOG DO CINEMA: ENQUANTO O MESSIAS NÃO VEM…

Junho 30, 2019

Por José Geraldo Couto, editor do Blog do Cinema

No afã de resumir Divino amor em poucas palavras, alguns de seus primeiros espectadores o definiram como uma distopia em que, no Brasil de 2027, o Carnaval foi abolido e instaurou-se uma espécie de teocracia evangélica. Fui ao filme com essa expectativa e saí desnorteado. O novo filme de Gabriel Mascaro é muito mais complexo, desconcertante, inapreensível em sua totalidade.

A protagonista, Joana (Dira Paes), que salvo engano nunca sai inteiramente de cena, é uma funcionária de cartório que procura convencer casais em processo de divórcio a dar uma “segunda chance” ao casamento. Leva-os a sua igreja, a Divino Amor, onde se realizam sessões de leitura da Bíblia e estranhas práticas erótico-espirituais.

Além da obsessão em reconciliar casais, Joana tem um drama íntimo: não consegue engravidar, por mais que tente. Seu marido, Danilo (Julio Machado), tem um problema de infertilidade que eles tentam resolver apelando para a fé e para a ciência. Danilo trabalha em casa compondo coroas de flores para funerais. Nascimento e morte concentrados na mesma casa, no mesmo casal.

Em que mundo esses dois seres se movimentam? Uma sociedade de consumo de classe média, com limpeza, conforto e segurança – quase como num comercial de TV. A repartição em que Joana trabalha é clara, espaçosa, moderna, e nela os cidadãos são atendidos com respeito e civilidade. Seu chefe imediato professa, com outras palavras, a defesa do estado laico e republicano.

Colapso da liberdade

Enfim, é sim uma distopia, mas sem os signos que costumam acompanhar esse tipo de antevisão apocalíptica: não há violência nem miséria explícitas, nem caos energético ou de transportes. Nada de Blade Runner ou Mad Max aqui. Trata-se de um apocalipse íntimo, silencioso, em que o que está em colapso é a liberdade pessoal, o desejo, o pensamento crítico, o livre arbítrio.

Nesse espaço límpido, sem sujeira e sem ruídos, tudo é sutilmente controlado pelos sensores eletrônicos (ao entrar num hipermercado uma mulher descobre que está grávida), pelos rituais sociais, pelas regras tácitas. Lembra, nesse aspecto, o futuro retratado em Ela (2013), de Spike Jonze, que parece se desenrolar numa enorme maquete.

Num dos achados cenográficos do filme, há um “drive-thru de orações”, em que o fiel, sem sair do carro, conta seu drama, ouve os conselhos de um pastor (Emílio de Mello), reza e canta junto com ele. É uma espécie de confessionário moderno, iluminado como um misto de templo e vitrine de revendedora de automóveis. Quando Joana não consegue resolver com o pastor suas angústias, é encaminhada para um “serviço de atendimento ao fiel”. A religião do futuro é a religião do mercado, do telemarketing, do encarceramento tecnológico.

Para além da sátira religiosa ou da alegoria política, há algo de mais profundo e perturbador em Divino amor, algo que corajosamente toca no âmbito do mistério. Tentando não estragar nenhuma surpresa, digamos apenas que o filme me lembrou o célebre e controverso Je vous salue, Marie (1985), de Godard, por trafegar na fronteira entre o profano e o sagrado, preservando inclusive a abertura para uma possível leitura baseada na fé e no milagre.

Milagre e aberração

O filme anterior de Mascaro, Boi néon (2015), terminava numa extraordinária cena de sexo com uma mulher em estágio final de gravidez. Também em Divino amor as cenas de sexo são surpreendentes e não-convencionais, e o tema da gravidez, ou da concepção, ganha um desdobramento metafísico inesperado. É um drama espiritual, nada menos. O contraponto dessa atribulação humana é o desejo animal em estado bruto (e livre): o cachorro de Joana e Danilo que pula o muro para emprenhar a cadela dos vizinhos.

Faltou falar do notável trabalho de fotografia (de Diego García) e direção de arte (de Thales Junqueira) na criação de um espaço semelhante ao nosso mundo urbano cotidiano e, ao mesmo tempo, banhado por luz e cores que lhe conferem uma outra dimensão. Os focos de luz não raro criam como que auras imateriais; as cores vibram, fluorescentes. Tudo é real e irreal ao mesmo tempo, num universo que, mesmo vigiado e controlado, é trespassado pelo mistério.

A certa altura, Danilo rejeita com mau humor o pedido de um cliente que queria uma coroa de flores azuis. “Flor azul não existe, é antinatural”, diz ele. No auge de sua crise, Joana colore flores brancas inserindo-as em jarras com tinta azul. Produz pessoalmente o seu milagre, que é também, evidentemente, uma aberração.

Dor e glória

Não pode passar batido o novo filme de Pedro Almodóvar.

Dor e glória me parece uma notável obra de maturidade, não só porque o protagonista (Antonio Banderas, excepcional) é um homem de meia-idade, mas porque há nele (no personagem e no filme) uma visão serena da existência, em que a melancolia é matizada pela doçura e pela autoironia. O desejo ainda rege, soberano, mas todas as paixões, todas as loucuras, todo o som e fúria, estão no passado, mais ou menos apaziguados, e a vida agora consiste em manter o corpo funcionando com o mínimo de dor possível e em reconstituir sem nostalgia e sem rancor o que ficou para trás.

Como de hábito no cinema do diretor, ele parece amar incondicionalmente todas as suas criaturas, por mais que possam cometer desatinos e atrocidades. Coloca-se ao lado delas, ao alcance do toque, sem julgá-las, e nisso consiste seu profundo e radical humanismo.

VÍDEO: O CANTADOR, SANTANA

Junho 29, 2019

NO VASCO, QUADRILHA LAMBE FOICE SE APRESENTA NESSE FIM DE SEMANA

Junho 29, 2019

AGENDA CULTURA

Quadrilha organizada pelos moradores acontece há mais de 30 anos

Da Redação

Brasil de Fato | Recife (PE)

Junho de 2019.

 O encontro acontece na rua Canapi - Créditos: Divulgação
O encontro acontece na rua Canapi / Divulgação

Há mais de 30 anos, no bairro do Vasco da Gama, acontece a quadrilha “Lambe Foice”. Esta é uma reunião dos moradores e moradoras do bairro, organizada por eles, onde dançam uma quadrilha improvisada na rua.

Este ano o evento será neste sábado (29), a partir das 19h. Vai ter apresentação das bandas Galopeiros do Forró e Patrício e banda. O encontro é na rua Canapi, no Vasco da Gama, zona norte do Recife. 

Edição: Monyse Ravenna

SÃO PEDRO, PADROEIRO DOS PESCADORES, RECEBE PROCISSÃO MARÍTIMA EM BRASÍLIA TEIMOSA

Junho 29, 2019

RECIFE

Festa de São Pedro encerra os festejos juninos de 2019

Vanessa Gonzaga

Brasil de Fato | Recife (PE)

 Junho de 2019.

Procissão marítima inicia no Iate Clube, em Brasília Teimosa - Créditos: Andrea Rego Barros/PCR
Procissão marítima inicia no Iate Clube, em Brasília Teimosa / Andrea Rego Barros/PCR

O dia do último santo do calendário de festas juninas é próximo sábado. Na tradição católica, o dia de São Pedro é comemorado no dia 29 de junho, em honra ao martírio dele e de São Paulo, apóstolos condenados pelo imperador Nero. Como Jesus Cristo, São Pedro foi crucificado, mas de cabeça para baixo, por não se considerar digno de morrer como cristo. Além disso, ele é considerado o primeiro papa da igreja católica e é o padroeiro dos pescadores, já que em vida foi pescador, junto com seu irmão André. 

No Recife, uma das principais festas em devoção ao santo, acontece em Brasília Teimosa, na zona sul da cidade, que tem entre seus moradores um grande número de pescadores. Desde 1958, a festa organizada pelos pescadores da colônia Z-1 inicia às 5h da manhã na Praça de São Pedro, com fogos de artifício e uma missa campal. Depois, no bairro, uma procissão inicia na terra e segue para o mar, com um cortejo que vai do Iate Clube até o Farol Velho Boca da Barra, onde faz o retorno com dezenas de barcos lotados de moradores e devotos, agradecendo pelas graças alcançadas e a pescaria durante o ano que passou.

Durante a noite, a programação religiosa dá espaço às apresentações culturais, com grupos de coco, forró e outros estilos musicais. Nesse ano, a festa inicia às 17h com Coco de Mainha, Sereias Teimosas, Trio Solado do Sax, Balé Deveras, Trio Xote Moleque, Quadrilha Junina Evolução, Felicidade Cordel, do homenageado do São João 2019, Nando Cordel, e de Michele Monteiro. Já no local batizado com o nome do santo, a programação no Pátio de São Pedro fica por conta da Quadrilha Junina Sapeca, o Coco Popular de Aliança, Santanna, Maciel Melo, Em Canto e Poesia e Cristina Amaral.

 

Edição: Monyse Ravenna

VÍDEO NOCAUTE: MAMBERTI REPUDIA INDICAÇÃO DE ALVIM POR BOLSONARO PARA A FUNARTE

Junho 29, 2019

 

POR QUE TANTO MISTÉRIO EM TORNO DO FILME QUE ENALTECE A LAVA JATO?

Junho 29, 2019
VAZA JATO
Ministério da Justiça ainda não esclareceu a abertura de arquivos da PF para equipe do filme. E a identidade revelada dos patrocinadores é falsa
 
FACEBOOK/VIA CONVERSA AFIADA

O então juiz federal Sergio Moro, símbolo da operação da PF

São Paulo – Os deputados federais pelo PT Paulo Pimenta (RS) e Paulo Teixeira (SP) vão protocolar novo requerimento de informações ao Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre o envolvimento da Polícia Federal na produção do filme Polícia Federal – A Lei é para todos, que enaltece os agentes e a própria operação Lava Jato.  O pedido anterior, formalizado em fevereiro de 2017 à pasta e que continha ainda a assinatura do ex-deputado Wadih Damous(PT-RJ), ainda não foi atendido.

A retomada da apuração, segundo Teixeira, foi motivada pela divulgação, pelo Intercept Brasil, das conversas entre o ex-juiz federal Sergio Moro, atual ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PSL), e o coordenador da operação, o procurador Deltan Dallagnol. A troca de mensagens pelo aplicativo Telegram demonstra que Moro dava as cartas na coordenação da Força Tarefa.

Os parlamentares querem explicações sobre o acordo em forma de consultoria que teria sido firmado entre a PF e a produção do filme. Na época, o produtor Tomislav Blazic e o diretor Marcelo Antunes chegaram a dizer em entrevista que, embora a polícia federal “não tem a tradição de ficar transmitindo informações, daquela vez tiveram interesse em torna-las públicas”. O ator Ary Fontoura, que interpretou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou à imprensa que a equipe teve acesso a arquivos da Polícia. Quem seriam os responsáveis pela abertura de informações?  Respaldados em qual legislação? Que equipamentos e armas do órgão teriam sido usados?

E mais: o fato da produção afirmar em entrevistas não ter dinheiro público envolvido, mas guardar sigilo quanto ao nome dos patrocinadores, não levantaria suspeitas sobre a procedência desse financiamento? A Polícia Federal sabe quem financiou o filme? Teve acesso à documentação da transação financeira para custear a produção? Qual o amparo legal para que uma atividade dessa natureza omita a origem dos recursos recebidos e guarde sigilo de seus patrocinadores?

Tamanho mistério sobre a identidade daqueles que teriam injetado os cerca de R$ 15 milhões correspondentes ao orçamento do longa metragem, tratado com naturalidade pelo produtor, ainda persiste sob o argumento do temor  de “patrulhamento ideológico”. Será?

Pista falsa

Em 27 de agosto de 2017, o jornalista Lauro Jardim, de O Globonoticiou que os financiadores de filme sobre a Lava Jato foram reunidos pela Saga Investimentos. E dava conta de que o grupo tinha sede em São Paulo. Dois dias depois, veículos da mídia alternativa publicaram reportagens sobre os supostos financiadores.

A empresa do setor financeiro informado por Jardim foi diretamente associada à Saga Investimento e Participações do Brasil S/A, comandada pelo empresário Sergio Antonio Garcia Amoroso. Com empresas no setor florestal, de mineração, celulose, agronegócio e financeiro entre outros, Amoroso rapidamente negou envolvimento. E afirmou haver outras empresas do mesmo ramo e com o mesmo nome.

Reprodução

Destaque da nota de Lauro Jardim, apontando financiamento para empresários ligados à Saga Investimentos, de Sérgio Amoroso

 

De fato. A reportagem da RBA encontrou a Saga Gestão de Investimentos Financeiros Ltda e a Sagapar Participações Ltda, ambas sediadas no mesmo endereço, na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. Entre os sócios está o empresário Rafael Zingales Icaza. De acordo com a Receita Federal, ele tem participação em 19 empreendimentos no setor financeiro, imobiliário cultural e de entretenimento. A Delphos Produções Artísticas, Delphos Soluções Culturais, Core Bar e Eventos Ltda e a Cinesystem S.A.

As duas últimas têm particularidades curiosas. Localizada no Rio de Janeiro, a Core Bar é sócia da produtora do Polícia Federal – A Lei é para Todos New Cine & TV.  A reportagem tentou contato telefônico com a New Cine diversas vezes, mas as chamadas não foram atendidas.

Reprodução

Detalhe da ficha da empresa na Receita Federal

Mundo do cinema

Outra ligação de Icaza com o mundo do cinema é a sociedade na Cinesystem. Sediada em Maringá – coincidentemente a cidade natal do ex-juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro – a empresa é do ramo de salas de cinema em shoppings centers.

Aclamado pela imprensa conservadora como maior bilheteria nacional de 2017, o filme da Lava Jato vendeu 1,2 milhão de ingressos nas quatro primeiras semanas em cartaz. Mas não foi muito além. De acordo com o Observatório do Cinema e do Audiovisual da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o público total foi de 1,36 milhão. A  arrecadação com a venda de ingressos não passou de R$ 21,5 milhões. O Tropa de Elite 2, por exemplo, vendeu mais de 11,14 milhões de ingressos. E arrecadou R$ 103,4 milhões.

O fracasso da película talvez explique a demora na continuidade da “trilogia”. Segundo a produção, o segundo filme da franquia mostraria o processo de impeachment que destituiu Dilma Rousseff (PT) mesmo sem ter cometido crime de responsabilidade. E o terceiro, teria como ápice a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018 na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba – a mesma que participou ativamente da produção de A Lei é para Todos.

Ou será a razão pela qual os investidores preferem se manter no anonimato? Por pouco o filme não fica no vermelho.

VÍDEO: HORA DO RANGO MOACYR LUZ E O SAMBA DO TRABALHADOR

Junho 28, 2019

MARINÊS É DE TODA A NOSSA GENTE!

Junho 27, 2019

É DA TERRA

Conheça a primeira mulher a formar um grupo de forró

Cida Alves

Brasil de Fato | João Pessoa (PB)

Junho de 2019.

Marinês, a rainha do xaxado. - Créditos: Reprodução
Marinês, a rainha do xaxado. / Reprodução

Com mais de 40 discos gravados, Marinês foi uma das precursoras do forró, inclusive a primeira mulher a formar um grupo do gênero.

Nascida Inês Caetano de Oliveira, em 16/11/1935, Marinês como todos da sua época, iniciou a carreira como caloura na rádio local, em Campina Grande. Já em 1949 formou, com o marido Abdias, o Casal da Alegria e sempre realizavam apresentações nas praças das cidades onde Luis Gonzaga iria tocar.

Seu encontro com o Rei do Baião se deu na cidade de Propriá, em Sergipe. O rei lhes ensinou o xaxado e ela foi, então, batizada de “A Rainha do Xaxado”. Em 1957, gravou dois grandes sucessos, os xotes “Peba na pimenta” e “Pisa na fulô”. Ainda nessa época, a convite de Luiz Gonzaga, foram para o Rio de Janeiro, onde se apresentaram no programa “Caleidoscópio”, na Rádio Tupi. 

Participou do filme “Rico ri à toa”, dirigido por Roberto Faria, interpretando a música “Peba na pimenta”, de João do Vale, José Batista e Adelino Rivera, acompanhada por Abdias dos oito baixos na sanfona. Na cena, além de cantar, também dançou xaxado, ritmo do qual ficou conhecida como rainha. Gravou o LP “Outra vez Marinês”, que lhe rendeu um segundo troféu Euterpe, além de ter obtido o prêmio de melhor vendagem. 

Em 1984 apresentou-se em diversos shows em teatros da periferia do Rio de Janeiro dentro do projeto Pixinguinha. Em 1986, lançou o LP “Marinês e sua Gente – Tô chegando”, com a participação especial de Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Jorge de Altinho. Em 1998, com produção da cantora Elba Ramalho, lançou pela BMG o CD “Marinês e sua Gente”.

Foi a primeira mulher a formar um grupo de forró. Em 2000 lançou”Eu só quero um forró”. Em 2005, lançou o disco-homenagem “Marinês canta a Paraíba”, produzido por Noaldo Ribeiro, com patrocínio do governo do Estado O CD que tem a  participação da Orquestra Sinfônica da Paraíba.

Sofreu um acidente vascular cerebral no dia 5 de maio de 2007, vindo a falecer dez dias depois. 

 

Edição: Heloisa de Sousa

SAMBISTA MOACYR LUZ ABRE PARCERIA ENTRE SESC E RÁDIO BRASIL ATUAL NA PAULISTA

Junho 27, 2019
SAMBA DO TRABALHADOR
Criador do Samba do Trabalhador está no primeiro “Hora do Rango” a ser apresentado ao vivo da unidade da Paulista nesta sexta-feira, das 12h às 14h
 
LUCIANA WHITACKER/RBA

Moacyr Luz é o autor do histórico samba da escola Paraíso do Tuiuti em 2018 e mantém o Samba do Trabalhador há 12 anos

São Paulo — O programa Hora do Rango desta sexta-feira (28) marca o início de uma parceria entre a Rádio Brasil Atual e o Sesc de São Paulo. O programa será transmitido ao vivo e com plateia, diretamente do palco do Sesc Paulista (endereço abaixo), das 12h às 14h, com entrada gratuita. O convidado de estreia também é especial: o compositor carioca Moacyr Luz, líder do movimento Samba do Trabalhador.  

Moacyr tem carreira sólida como cantor e compositor, com 12 discos lançados e mais de 100 músicas gravadas por diversos nomes da MPB, como Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Beth Carvalho, Leny Andrade, Gilberto Gil e Leila Pinheiro, entre outros. É autor de clássicos da música brasileira, como Saudades da GuanabaraCoração Agreste e Pra Que Pedir Perdão?. Entre seus parceiros de composições, estão figuras como Aldir Blanc, Nei Lopes, Wilson Moreira, Wilson das Neves, Paulo César Pinheiro e Luiz Carlos da Vila.

Aos 61 anos, ”Moa”, como é chamado pelos mais próximos, já produziu vários projetos fonográficos, e é o criador do Samba de Trabalhador, uma roda de samba de resistência cultural que há 12 anos se reúne no Clube Renascença, no Andaraí, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, todas as segundas-feiras.

Autor de quatro livros, em 2018 ele lançou o Livro do Moa, reunindo 60 crônicas para celebrar os 60 anos de vida. O livro é resultado do olhar apurado de quem já morou em diversas regiões do Rio, de Bangu ao Flamengo, do Méier à Copacabana, passando pela Tijuca e pela Glória, um cidadão que conhece o espírito da cidade e de sua gente, para além dos cartões-postais turísticos.

O ano de 2018 também foi marcado pelo samba-enredo Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?, que emocionou o carnaval carioca e fez história no desfile da escola Paraíso do Tuiuti, alcançando um inédito segundo lugar no desfile do grupo especial. Em 2019, Moa voltou à Marquês de Sapucaí como compositor dos sambas-enredo da Paraíso da Tuiuti e da Grande Rio, ambas no grupo especial.

Seu último álbum, Natureza e Fé, lançado em 2018, tem como parceiros Martinho da Vila, Fagner, Zélia Duncan, Jorge Aragão e Teresa Cristina.

O programa

Hora do Rango, apresentado por Colibri Vitta e premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), recebe ao vivo, de segunda a sexta-feira, ao meio-dia, sempre um convidado diferente com algo de novo, inusitado ou histórico para dizer e cantar. Os melhores momentos da semana são compilados e reapresentados aos sábados e domingos, no mesmo horário.

Hora do Rango especial, com Moacyr Luz 
Sesc: Avenida Paulista, 119, próximo ao metrô Brigadeiro
Sexta (28), das 12h às 14h
Entrada gratuita

Rádio Brasil Atual: 98,9 FM (São Paulo) e 93,3 FM (litoral paulista).
Assista também o Hora do Rango pelo YouTube ou pelo Facebook. E você pode participar 
enviando perguntas e comentários pelo WhatsApp 11 96893-7672