Archive for the ‘Fábula’ Category

Fábula esquizopolitica

Janeiro 30, 2014

Era uma vez um príncipe triste e ressentido que chorava pela perda do trono. Ele e sua corte de desocupados tinha grande inveja de um sapo barbudo que vivia a cantar feliz ao povo e também da nova corte de quem este povo gostava mais. Mas o sapinho em sua sapiência animal, não estava nem um pouco preocupado com os que falavam mal sobre a vida no palácio por que a proba e bela rainha sabia como os sapos andar com facilidade sobre as marolinhas e dar grande saltos junto com o povo que a adorava. Com raiva da rainha, o ressentido príncipe sem trono e sua corja de invejosos, que incluía alguns grandes comerciantes, os desencefalados oradores dos mercados e parte da aristocracia ignara, espalhavam mentiras pelo reino sobre o sapo barbudo e a rainha D. Porém, mesmo com tanto ódio e tanta mentira até os minerais da lagoa, onde morava o sapo barbudo, sabiam que o povo com sua inteligência nunca ia deixar que as mentiras vindas dos afetos tristes afetassem sua liberdade. E assim a rainha D continuou reinando por muito sois enquanto o povo continuou livre em suas escolhas, sem influência das chorumelas e irracionalidade do príncipe e dos sem trono, que cada vez era ouvido menos, até que o dia em que o coaxar dos sapos e a inteligência do povo falavam muito mais alto do que qualquer palavra emitida pelos parentes daquele garoto de nariz grande. Mas esta é outra história. Quem gostou coaxe gostoso e quem quiser que conte outra… Mas sem manipulação

Devir/Dançar

Janeiro 3, 2013

devirdançarnatalino

Nosso movimento devir / dançar ainda está em clima de festas e traz hoje um tipo de cantoria, dança e folguedo popular : o Reisado ou Folia de Reis, que ocorre sempre entre o Natal e o dia de Reis (6 de janeiro) e envolve com muita beleza diversas manifestações populares. Esta manifestação folclórica é bastante lembrada pelos trajes coloridos, enfeites e os elementos como o boizinho, chapéus típicos como o chapéu de cidade, ou chapéu de casas ou igrejas colocados sobre a cabeça de alguns participantes.

Para tratarmos do reisado vemos o verbete de Luis da Câmara Cascudo sobre o tema e trazemos alguns trabalhos artísticos com o tema da folia de reis que inclui diversas danças. Neste próximo domingo postaremos vídeos com a dança da folia de reis em edição especial do Devir/Dançar. Afinal sentimos que todo encontro bailante é especial…

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Reisado folia de reis nordeste musica dança

“É denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera e dia de Reis (6 de janeiro). Em Portugal diz-se reisada e reiseiros, que tanto pode ser o cortejo de pedintes, cantando versos religiosos ou humorísticos, quanto os autos sacros, com motivos sagrados da história de Cristo. O reisado tem sua origem na Idade Média. Da dramacidade antiga guarda apenas as embaixadas e os diálogos, como o Reisado e o guerreiro. Ao centre ao ciclo natalino, é formado por grupos músicos, cantadores e dançadores que vão de porta em porta anunciar a chegada do Messias e homenagear os três reis Magos. O reisado é conhecido também com os nomes de Reis, Folia de Reis, Boi de Reis, e o enredo é sempre a Natividade, os Reis Magos e os pastores a caminho de Belém. No Brasil a denominação sem especificação maior, refere-se sempre aos Ranchos, Ternos, grupos que festejam o Natal e Reis. Vestem-se de Calça ou saiote, com guarda-peito, uma espécie de colete enfeitado com vidrilhos, lantejoulas, espelhinhos e fitas coloridas. O Reisado pode ser apenas a cantoria como também possuir enredo ou série de pequenos atos encadeados ou não. Este folguedo foi estudado por Théo Brandão e José Maria Tenório Rocha em Alagoas” Luiz de Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro, 11a ed.

rodrigues Lessa- folia de reis

Rodrigues Lessa- folia de reis

Erivaldo- folia de reis em xilogravura

Erivaldo- folia de reis em xilogravura

Artista Nordestino- Folia de Reis

Artista Nordestino- Folia de Reis

Assis Costa-reisado floral

Assis Costa-reisado floral

Assis Costa- Reisado na terra do sol  (2012)

Assis Costa- Reisado na terra do sol (2012)

Zenon Barreto- Rio Grande do Norte - Reisado 1990

Zenon Barreto- Rio Grande do Norte – Reisado 1990

FÁLUS FALA

Setembro 26, 2009

O fuso horário não contou. As regiões geo-políticas não contaram. Foram bilhões de homens no mesmo ato manual-sexual-virtual. Foram homens suados, dilacerados, acovardados, arrojados, heroicizados esgueirados nos banheiros das casas, quartos, salas, cozinhas, quintais, porões, sótãos, bares, boates, becos, ruas, vielas, muros…

Foram homens no paroxismo masturbador mortos, naufragados no oceano viscoso credor de Falos.

Foram pessoas que viram com estranheza, ao visitarem o santo campo, onde os corpos dos homens dilacerados foram sepultados, minúsculas flores faceadas em Falos e Vênus. Hermafroditas.

E nem era primavera!

                     A Lua flutua. No véu do céu.

                     A Lua é tua.   Um réu ao leu.

                    Tu és lunática. Ela é terráquea.

                    Há um abismo. E ela, disse:”É isso que cismo!”

                    “Ilusão Vital”

                     Sem anti-matéria:

                     Nem lua, nem céu.

                     Nem réu, nem leu.

                     Fim do amor!           

                     Quando nasci, minha mãe me disse:”Ama, que serás   amado!”

               Não contei desgraça! Fui pra cima!

               Amei, amei, amei, amei, amei, amei, amei até…

               Hoje estou esgotado. Esgotado de amor.

               Se a miséria esgota, a abundância, também.

               Às vezes não se deve ouvir a mãe.

               Mãe não erra!

               Ele era o fiel da balança.

Um dia roubaram a balança, e ele ficou só. Solidão.

Só, não suportou viver sem os pratos e os pesos da balança.

Nunca mais foi fiel.

DOS MALeFÍCIOS E DOS BENeFÍCIOS DO COMER

Setembro 24, 2009

____________|Comer é uma processual Bio/Afecto/Cognitivo. Come-se compondo com dois corpos, fome-instinto e nutriente-repouso, para produzir-se um terceiro: o vigor continuum da Vida. Come-se não para viver, mas para intensificar a Vida, pois a Vida por ela mesmo é vigor-intensidade, como a fome e os nutrientes são vivacidades.

Quando do êxtase cultural do comer não há fome-instinto, come-se como gula-cultural: comer para comer. Então, surge o suflê encantador. As coberturas e as larguras: a obscenidade da fome.

__________|Anoréxica, eu como a mim mesma. Comendo-me escapo da industria alimentícia que pretende me comer. Nutriente de mim esvazio espaços para outros corpos. Anoréxica, sou equitativa por essência. Anoréxica, não desperdiço. Anoréxica, sou a pura pureza.

_________________|”Ele me comeu com os olhos!” Disse, a jovem à sua amiga. “E depois?” Perguntou, a miga. “Ele deve ter ido ao sanitário, território para onde vão os que comem.

__________|”Dizem-me:”Come e bebe”! Mas como posso comer e beber se estou tirando a comida de quem tem fome e a bebida de quem tem sede? E no entanto, eu como e bebo”. Diz o Poema À Posteridade do teatrólogo alemão, Brecht.

“Como e bebo, e não preciso que ninguém me diga. Se eu não comer quem comerá por mim?” Diz a fome do burguês.

_______________|Para pagar uma dose de cana, sempre aparece alguém. Já para pagar um prato com comida, não aparece ninguém. É por isso que rouba-se por comida, e não por cana. São duas morais orgânicas contratantes.

_____|”Quem comeu, comeu. Quem não comeu, não come mais”. Máxima perfeita, do notório Pedrinho. Quem “comeu” esta saciado, não come mais. Quem “não come mais” é porque morreu, ou acabou a comida.

_________________________________|Ele cuspiu no prato que comeu. Cuspiu porque sua fome era outra. Agora, seu prato é diferente.

_____|Jaraqui frito, farinha, limão e uma caninha. Ulá lá! È o paraíso. Mas no paraíso ninguém come! Jaraqui frito, farinha, limão e uma caninha. Ulá lá! É a Terra.  

________________________|Ele morreu de tanto comer. Proposição falsa. Ninguém come de comer. Morre-se por ser comido.

________________|Meu tio não tinha um só dente, mas comia como um monstro. Pode isso? Pode! Os monstros não precisam de dentes.

__________________________________| Oração da Fome

Se tenho fome e não como

Continuo com fome.

Se tenho fome e como

Logo a fome volta.

_________________|Um dilema. Quero parar de comer. Uma solução. Pára de ter fome.

___|Quem come compulsivamente esta satisfazendo um desejo inconsciente. Entendo. O inconsciente é um estômago.

_____|Comer é um ato de fé. Ter fé é não desconfiar da fome.

__|Se conhece um homem pela intensidade de sua fome.

Cenas inscenas: do real ao subreal

Agosto 18, 2009

Policial 1 – Central, confirmando ação. Prender indivíduo suspeito que ronda as casas de Long Branch no meio desta tempestade e representa uma ameaça a seguridade nacional e a policia de Nova Jersey..

Central- Confirmado mr. officer. Lembre de quando voltar trazer o café com as rosquinhas… Hoje é seu dia.

Policial 1- Mas vocês não estão de regime?

Central- Mas você compra rosquinhas diets ora. Aquelas que são fritas em óleo de linho.

Policial 1- Ok cambio desligo…… Era só o que me faltava rosquinhas diet….  Parceiro aquele não é o suspeito? Parece um maluco andando pela chuva.  É um homem excentrico. Pare o carro.

Policial 2- Não esquece de levar o spray e as algemas.

Policial 1- Ok….. Ei senhor…. Me mostre os seus documentos por favor.

Suspeito- Me desculpem. Estou hospedado no hotel aqui perto e não os tenho.

Policial 2- Qual o seu nome?

Suspeito- Meu nome é Bob Dylan.

Policial 1- O senhor afirma ser Bob dylan ? O que um músico como Bob Dylan faria andando numa chuva sem seus seguranças? E ainda usando estas calças de agasalho preta toda leprosa enfiada nas suas botas…

Suspeito- Estou soprando no vento, Mr. Tamborim.  Se quiser dou uma palhinha pra saberem que sou eu.

Policial 2- Vamos leva-lo ao xerife. Antes que ele diga que é Michael Jackson. Algeme-o

Policial 1- Entre no carro senhor. Você tem o direito de permanecer calado até que seje levado ao tribunal. Tudo que disser pode ser usado contra você no tribunal. (colocando o suspeito no camburão)

Suspeito- Pra que dizer a quem não quer ouvir? Vou indo como uma pedra rolando.

Policial 2- Vamos levar este maluco pro xerife……. Acho que foi ele quem robou a loja do Mr. Brown ontem.

Policial 1- Talvez. Vamos pegar as rosquinhas depois…. Lá está o sargento… Pare o carro.

Policial 2- Sargento aqui está o homem que afirma ser Bob Dylan.

Xerife- Cade as rosquinhas?

Policial 2- Sargento……. aqui está o homem que afirma ser Bob Dylan.

Xerife- Isto é ridiculo. “Este não é Bob Dylan”.

Suspeito- Como o senhor afirma isto sem ver meus documentos. Ou você só enchergam rosquinhas? Já expliquei que meus documentos estão no hotel… Cade o senso de justiça de vocês?  Se me levarem ao hotel eu mostro os documentos… Hurricane…

Xerife- Que desacato… Eu vou leva-lo ao hotel e vocês tratem de buscar as rosquinhas senão já sabem…

Suspeito- Bate bate bate na porta do céu…

Xerife- Vamos… Aqui está o hotel. Agora vamos ver se você tem coragem de afirmar que é Bob Dylan… E se for eu não gosto da sua música… Preferia o The banana splits…

Recepcionista- Mr. Dylan. Estavamos preocupados onde andou. Arrumou alguma confusão que ele arrumou xerife.

Xerife- Mas ele não é Bob Dylan.

Recepcionista- Ele é o Sr. Dylan. Esta hospedado aqui

Bob Dylan- Não lhe disse, sr. Pancho. Estava caminhando e agora que arrumei um “Shelter for the storm” eu vou ” Going, going, gone”.

Xerife- Eu ainda não vi os documentos….

Bob Dylan- Oh “My precious angel” …..Vamos ao meu quarto… Aqui estamos. Abra aquela gaveta e lá esta meu documento. “You’re no good”. Hoje passei por umRainy Day Women #12 & 35″.

Xerife- Me desculpe o encomod mr. Dylan. É que o senhor continua tão jovem. Nem parece ter os teus 68 anos.

Bob Dylan- “See That My Grave Is Kept Clean”. Fez o teu trabalho xerife. Preste mais atenção da proxima vez

Xerife-Antes de ir o senhor não daria um autografo pra minha sogra? Ela já viu teu show… na prisão.

Bob Dylan e Allen Ginsberg - Eu não posso cantar

Bob Dylan e Allen Ginsberg em "Subterrean Alien Homesick" - Eu não posso cantar

Este fato é uma história qualquer. Qualquer semelhança com a realidade, não é uma concidência. É a prova de que a identidade em si não importa. Só a arte.

– Ai de mim,

Julho 27, 2009

franz-kafka

disse o rato – o mundo vai ficando dia a dia mais estreito.

— Outrora, tão grande era que ganhei medo e corri, corri até que finalmente fiquei contente por ver aparecerem muros de ambos os lados do horizonte, mas estes altos muros correm tão rapidamente um ao encontro do outro que eis-me já no fim do percurso, vendo ao fundo a ratoeira em que irei cair.

—                     Mas o que tens a fazer é mudar de direção – disse o gato, devorando-o.


Franz Kafka- Fábula curta


Aqueles que já querem ver um fim do caminho de suas existência mas não mudam a direção…