Archive for Dezembro, 2022

POVO PRETO NA TELA: CONFIRA DICAS DE FILMES E SÉRIES QUE VALORIZAM ARTE, LUTA E VIDAS NEGRAS

Dezembro 30, 2022

  1. CULTURA

FÉRIAS

Especial de humor, documentário musical, filmes baianos e animação infantil estão na lista

Vânia Dias

Brasil de Fato | Salvador (BA) |

 30 de Dezembro de 2022 –

“Sankofa, a África que te habita” está disponível no catálogo da Netflix – Divulgação

É verão na Bahia e apesar de toda agitação das ruas, dos ensaios de Carnaval, shows e festas, tem aquela hora sagrada de ficar em casa. Reunir amigos, compartilhar com seu dengo ou mesmo desfrutar sozinho de uma boa programação nas telinhas é sempre uma boa pedida. E se tiver a cara do nosso povo na frente e detrás nas telas, melhor ainda. Por isso, o Brasil de Fato Bahia reuniu dicas variadas do audiovisual para quem quiser curtir as férias e conhecer produções que valorizam a cultura baiana, africana e afrobrasileira. Confira!

Festival Humor Negro (2022)


O especial pode ser conferido na Globoblay / Reprodução

Com elenco totalmente preto, o Festival Humor Negro reúne um especial de comédia que fala de preto para preto. O trabalho, que brinca com o formato que mistura apresentações de stand-up comedy e esquetes, estreou na última segunda-feira, dia 19/12, no Multishow e no Globoplay. Dirigida por Rodrigo França, a atração, gravada em Salvador, reúne no palco nomes baianos como Tia Má, Sulivã Bispo, João Pimenta, Jhordan Matheus, Evaldo Macarrão e a brasiliense Niny Magalhães. O Festival promete causar um impacto enorme no imaginário da comédia brasileira. 

Idealizado pela produtora e jornalista Val Benvindo, o programa ressignifica a expressão “humor negro”, que ao longo do tempo ganhou uma conotação pejorativa. Gravado para uma plateia ao vivo no Teatro Vila Velha, em Salvador, os pretos e as mulheres saem do lugar de alvo e de objeto de risos para protagonizar suas narrativas debochadas com inteligência, irreverência e, sobretudo, respeito. 


Café com Canela (2017)


Depois de rodar diversos festivais nacionais e internacionais, o filme pode ser assistido na Prime Video / Divulgação

Primeiro longa-metragem dos diretores Ary Rosa e Glenda Nicácio, Café com Canela é um filme gestado no Recôncavo da Bahia que foi super premiado e reconhecido pela crítica mundo afora. Agora, o longa segue a sua história no streaming pela Prime Vídeo. O filme narra a vida de Margarida (Valdinéia Soriano, atriz fundadora e consagrada do Bando Teatro Olodum), que após perder o filho, vive isolada da sociedade. Ela se separa do marido Paulo e perde o contato com os amigos e as pessoas próximas. Um dia, Violeta (Aline Brunne) bate à sua porta. Trata-se de uma ex-aluna de Margarida, que assume a missão de devolver um pouco de luz àquela pessoa que havia sido importante para ela na juventude. 

O filme toca o público de muitas maneiras e é um convite a viajar nas emoções e nas transformações da protagonista. Quem acompanha o trabalho desta dupla de cineastas já sabe que eles estão com trabalhos mais atuais nas telonas, como os filmes “Mungunzá” e “Na Rédea Curta”, que circulam pelos cinemas do Brasil. O longa é um marco na carreira desses diretores que seguem um bonito caminho pelo cinema ao colocar a cidade de Cachoeira e o Recôncavo como ponto de partida dos seus trabalhos. 


Sankofa, a África que te habita (2021)


O filme traz imagens e histórias de nove países africanos que se conectam ao Brasil / Divulgação

Sankofa, a série de dez capítulos que está disponível na Netflix, é poesia, memória ancestral e aventura. A série viaja em uma expedição aos pontos de partida dos africanos que foram sequestrados, com o propósito de recuperar a memória da escravidão. Cada episódio trata de um país e apresenta a diversidade cultural e a exuberância natural de todos deles, ao mesmo tempo em que revela os vínculos que ligam o povo brasileiro aos seus antepassados africanos em Cabo Verde, Guiné-Bissau, Senegal, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Angola e Moçambique. O fotógrafo César Fraga e o Professor Maurício Barros percorreram os nove países africanos para conhecer os locais de memória do tráfico de pessoas negras escravizadas para o Brasil. 

A série chega a público com uma bagagem carregada de imagens e saberes que por séculos foram negados a nossa sociedade. O material possibilita um levante precioso da história negra que nos foi sequestrada, já que a história da diáspora africana é contada, em geral, pelo ponto de vista do colonizador.


Racionais: das ruas de São Paulo para o mundo (2022)


O aguardado documentário chegou ao topo da lista dos mais assistidos na Netflix / Divulgação

Depois de longa espera, o documentário sobre o grupo de rap Racionais MC’s foi lançado pela Netflix em novembro deste ano. O filme conta a história de mais de 30 anos de formação do grupo integrado por Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock. Imagens de arquivos dos anos 1990, recortes de jornais, além de acervos familiares dos próprios artistas e cenas inéditas gravadas ao longo da trajetória do grupo compõem o longa-metragem, que tem como pano de fundo o Capão Redondo, bairro periférico da Zona Sul de São Paulo onde o Racionais surgiu. A produção narra também a criação de discos icônicos do Racionais MC’s, como o marcante “Sobrevivendo no Inferno”, de 1997.

Um dia após o seu lançamento,  o documentário já conquistou o top 1 da Netflix. O conteúdo entrega entrevistas exclusivas e reforça o impacto e o legado dos músicos desde os primeiros shows nas ruas de São Paulo até os dias de hoje. Com produção da Preta Portê Filmes para a Netflix, o documentário tem direção de Juliana Vicente, que assina a produção executiva com Beatriz Carvalho e Gustavo Maximiliano. 


O Cavaleiro do Rei (2022)


O filme, cujos diálogos são em iorubá, pode ser assistido na Netflix / Divulgação

Após colher muitos elogios no Festival Internacional de Cinema de Toronto, o filme – na língua iorubá – chama a atenção e ganha, agora, distribuição mundial pela Netflix. Dirigido por Biyi Bandele, morto em agosto deste ano, “O Cavaleiro do Rei” deriva de uma peça de teatro homônima, baseada em um evento histórico na Nigéria na época do domínio colonial britânico do país. O filme se passa no Reino de Oyo, no sudoeste da Nigéria, no início da década de 1940. A tradição de Oyo exige que Elesin Oba, o cavaleiro do rei, cometa suicídio antes que o rei seja enterrado para que seu espírito leve o do rei ao grande além. Mas Elesin Oba falhou em seu dever. 

O filme é baseado na peça mais famosa da Nigéria, “Death and the King’s Horseman”, escrita em 1975 pelo autor, ativista e acadêmico vencedor do Prêmio Nobel, Wole Soyinka. Depois de estudar teatro no Reino Unido, Soyinka voltou para uma Nigéria recém independente em 1960 e se dedicou à pesquisa da cultura, música e dança iorubá. A peça acabou sendo fruto dessa pesquisa.

Ó Paí Ó, o filme (2008)


Sucesso de público, o longa ganha uma sequência que já está em produção / Divulgação

O Filme Ó Paí Ó 2 já está no forno. Com as gravações finalizadas em outubro deste ano, em Salvador, o filme promete atualizar as narrativas de suas personagens contadas há 15 anos. O filme, que nesta atualização tem o roteiro assinado por vários artistas e a direção da cineasta negra Viviane Ferreira, ainda será lançado em 2023. 

Enquanto esse momento não chega, a dica é rever e relembrar a adaptação da série exibida em 2008. O longa, que imortalizou o famoso bordão do nosso baianês “Ó Paí, Ó”, narra a vida dos moradores de um animado cortiço do Centro Histórico de Salvador e é o ponto de partida da história. Eles compartilham a paixão pelo carnaval e a antipatia pela síndica do prédio, Dona Joana, uma religiosa intransigente que ganha vida na interpretação da atriz Luciana Souza. 

O filme tem roteiro de Guel Arraes, Jorge Furtado, Mauro Lima e Mônica Gardenberg. A obra está disponível para assinantes da Globoplay. 

Tom Tamborim (2022) 


A animação pode ser assistida pelo Youtube / Divulgação

Para garotada, tem curta metragem novo e disponível no Youtube! O curta Tom Tamborim, que foi lançado este mês com exibição única na Sala de Arte Cinema do Museu, agora povoa a internet com a história de Tom. Tudo é ritmo e diversão na vida do protagonista. Alegre, inquieto e cheio de suingue, ele está batucando por onde passa, mesmo que isso atrapalhe a professora e os colegas da escola. Incansável na hora de solucionar um problema, Tom é capaz de criar algo que não existe para superar seus desafios, tendo a música como sua maior aliada. 

O filme conta com direção e edição de Maria Carolina, direção e animação de Igor Souza, trilha sonora original de Jarbas Bittencourt, roteiro e produção executiva de Mariana Vaz e Alessandro Vital.

Fonte: BdF Bahia

Edição: Lorena Carneiro

CINEMA: “TODO DIA ELA FAZ TUDO SEMPRE IGUAL”

Dezembro 29, 2022

Jeanne Dielman (1975) narra o cotidiano de uma jovem viúva que se prostitui para pagar as contas. Em pequenas fissuras, o drama sutilmente se infiltra, sem qualquer concessão, a partir de um olhar sem moralismos da mulher contemporânea

OUTRASPALAVRAS

POÉTICAS

Por José Geraldo Couto

Dezembro/2022 –

Por José Geraldo Couto, no Blog do Cinema do IMS

A grande surpresa deste final de ano, para os cinéfilos, foi a lista de “melhores de todos os tempos” da revista britânica Sight and Sound, que traz em primeiro lugar um azarão: Jeanne Dielman (1975), da belga Chantal Akerman. Como assim, um filme que nem sequer tinha aparecido entre os dez primeiros nas listas anteriores de repente desbanca clássicos como Cidadão Kane e Um corpo que cai?

Antes de abordar o filme propriamente dito, que está disponível na plataforma de streaming Filmicca, cabe contextualizar um pouco a questão. A lista da Sight and Sound é divulgada a cada dez anos dede 1952, a partir de enquete com críticos, curadores e pesquisadores de todo o mundo. Este ano houve um recorde de 1.639 votantes. Os “campeões” anteriores foram: Ladrões de bicicletas (em 1952), Cidadão Kane (em 1962, 1972, 1982, 1992 e 2002) e Um corpo que cai (2012).

A pequena surpresa de 2012, quando a obra-prima de Hitchcock desbancou meio século de hegemonia de Cidadão Kane, foi seguida agora pela grande surpresa de Jeanne Dielman, um filme de quase três horas e meia centrado no dia a dia de uma dona de casa viúva, mas ainda jovem (Delphine Seyrig), que se prostitui para pagar as contas no fim do mês e tocar a vida com seu filho adolescente.

Ao contrário de Kane e Um corpo que cai, em que acontece de tudo, aqui parece não acontecer quase nada. E é nesse “quase” que reside o encanto de Jeanne Dielman.

Hitchcock dizia que o drama (no teatro, no cinema) é “a vida sem as partes chatas”. Chantal Akerman, à primeira vista, parece se concentrar justamente nas partes chatas. Tudo aquilo que num filme de narrativa clássica seria elidido na montagem (ferver água para o café, descascar batatas, caminhar por um corredor até o elevador, abrir e fechar um sofá-cama) está no centro da observação da diretora.

Jeanne Dielman é de uma objetividade exasperante em seus longos planos fixos que captam as ações cotidianas da protagonista. A iluminação é uniforme, tudo está perfeitamente visível e em foco, há um rigor de simetria e perspectiva na composição, reforçando o caráter metódico de Jeanne, que dobra cuidadosamente cada peça de roupa mesmo quando o amante/cliente já a espera na cama.

Nas bordas do ritual

Como na canção, todo dia ela faz tudo sempre igual. Mas é nas bordas desse ritual diário, em suas pequenas fissuras e alterações, que o drama sutilmente se infiltra. Em frases soltas e angustiadas do filho antes de dormir, por exemplo, intuímos um pouco da vida conjugal pregressa da protagonista e do caráter do marido morto.

Nessa existência que funciona como um mecanismo preciso, basta pouca coisa para desarranjar a engrenagem. A imperturbável Jeanne é tão sistemática que coloca as batatas para cozinhar durante o tempo exato que durará seu intercurso com um cliente. Um dia, por algum motivo, o encontro se prolonga um pouco mais e as batatas se estragam. Ela é obrigada a sair do apartamento para comprar outras no mercadinho do bairro e começar tudo de novo, atrasando todo o processo. Quando o filho chega da escola o jantar não está pronto.

Para o próprio espectador, a essa altura já habituado à regularidade dos eventos, a alteração soa como uma perturbação. Outras pequenas mudanças se acumulam, até que a irrupção trágica final vem demonstrar que toda a ordem rigorosa anterior era construída a custo e que a vida interior da protagonista era muito mais rica, complexa e tumultuosa do que transparecia.

O espectador que já viu algum filme de Chantal Akerman – e há vários outros deles na mesma plataforma Filmicca – sabe que seu cinema é marcado por esse olhar rigoroso sobre o comportamento humano, em especial da mulher. As atuações “desdramatizadas”, com os atores dizendo suas falas sem ênfase, a virtual ausência de música, a precisão dos enquadramentos, tudo isso faz pensar na influência de Robert Bresson, mas temperada por uma sensibilidade feminina original e ousada.

É um cinema aparentemente contra o espetáculo e desprovido de qualquer tipo de concessão. A mulher contemporânea observada sem voyeurismo, sem moralismo e sem paternalismo. Quase uma pedagogia do olhar sobre a mulher, ou antes, sobre as mulheres, porque cada uma tem sua individualidade irredutível e impenetrável, seja ela Jeanne Dielman ou a Anna de Os encontros de Anna (1978) ou a Ariane de A prisioneira (2000), versão personalíssima do livro homônimo de Proust.

Em suma, a eleição de Jeanne Dielman foi uma surpresa e certamente é passível de discussão, mas está longe de ser um absurdo. É uma pena que Chantal Akerman (1950-2015) tenha morrido prematuramente sem ter essa satisfação.

Os dez mais

Para quem tiver curiosidade, estes são os dez primeiros colocados da Sight and Sound, versão 2022: 1º) Jeanne Dielman (1975), de Chantal Akerman; 2º) Um corpo que cai (1958), de Alfred Hitchcock; 3º) Cidadão Kane (1941), de Orson Welles; 4º) Era uma vez em Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu; 5º) Amor à flor da pele (2000), de Wong Kar Wai; 6º) 2001: Uma odisseia no espaço (1968), de Stanley Kubrick; 7º) Bom trabalho (1998), de Claire Denis; 8º) Cidade dos sonhos (2001), de David Lynch; 9º Um homem com uma câmera (1929), de Dziga Vertov; 10º Cantando na chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen.

Todas as listas são controversas e respondem a inúmeras injunções históricas, políticas e comerciais. Uma ótima análise crítica da evolução histórica das enquetes da Sight and Sound foi publicada na Folha de S. Paulo no último domingo pelo crítico Filipe Furtado, sob o título “Lista de melhores filmes mais famosa do mundo expressa ideologia de cada época”.

Pessoalmente, entre os atuais “dez mais”, sinto falta sobretudo de A regra do jogo (1939), sempre presente entre os mais votados nas versões anteriores. Ao contrário de tantos clássicos datados e envelhecidos, a obra-prima de Jean Renoir me parece a cada dia mais viva e arrebatadora.

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LUIZA DE CASTRO: OS NOVOS GRANDES INSTRUMENTISTAS

Dezembro 28, 2022

Aurora Neiva nos brinda com o vídeo de sua filha talentosa, Luiza de Castro, interpretando Piazzolla

Luis Nassifjornalggn@gmail.com

Dezembro de 2022 –

Reprodução Vídeo Youtube

Recebo, de uma mãe orgulhosa da filha, o seguinte e-mail:

Meu caro Nassif

Como sei q vc admira jovens talentos musicais, envio-lhe um vídeo de minha filha violinista, Luísa de Castro, de 33 anos, solando As Quatro Estações Portenhas do Astor Piazzolla, em um arranjo do compositor russo Leonid Desiatnikov, feito p/ o grande violinista Gidon Kremer. O concerto foi aqui no Rio na Cidade das Artes com a Rio Villarmônica, uma nova orquestra. 

Com admiração e enorme respeito pelo seu trabalho jornalístico e musical. Obrigada pela luta incansável por um futuro democrático para a nosso país. 

Boas Festas e um 2023 grandioso! 

Aurora Neiva

ENTENDA A RELEVÂNCIA DO TEATRO NACIONAL PARA A CULTURA E A ARQUITETURA DE BRASÍLIA

Dezembro 27, 2022

  1. CULTURA

ÍCONE

Casa de espetáculos mais importante da cidade, fechada há 7 anos, finalmente será restaurada

Pedro Rafael Vilela

Brasil de Fato | Brasília (DF)* |

 Dezembro de 2022 –

Vista aérea do Teatro Nacional Claudio Santoro, localizado na zona central de Brasília – Divulgação/Secec-DF

A semana que antecedeu o Natal começou promissora para os amantes da cultura e da arquitetura da capital do país. Após uma longa e agônica espera, as obras de restauração do Teatro Nacional Claudio Santoro (TNCS), um dos edifícios mais icônicos e importantes de Brasília, finalmente começaram, na última terça-feira (21).

O pontapé foi dado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), que havia homologado, dias antes, o resultado final do edital de concorrência elaborado pela Novacap, que selecionou a Porto Belo Engenharia para a realização da reforma da Sala Martins Pena. Foi um longo trâmite jurídico, em meio a idas e vindas e complexidade de planejamento e execução da obra.

Com aporte de aproximadamente R$ 54 milhões, a empresa será responsável pela reforma das instalações prediais, sobretudo, elétrica e climatização; recuperação estrutural; restauração de pisos, revestimentos, esquadrias e de imobiliários, incluindo revestimento acústico; além de atualização tecnológica e de segurança das estruturas e dos mecanismos cênicos, respeitando os requisitos de acessibilidade.

“Essa será a grande obra da cultura, porque é uma ação que transcende Brasília, já que o Teatro Nacional é um símbolo da cultura nacional”, destacou o secretário de Cultura do DF, Bartolomeu Rodrigues. A previsão inicial é que esta primeira reforma tenha duração de seis meses. 

Fechamento e início das obras

Em janeiro de 2014, no rastro da tragédia da Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, o Teatro Nacional foi fechado por recomendação do Corpo de Bombeiros e do Ministério Público, por não atender a normas de acessibilidade e segurança vigentes. Foram identificados 132 não conformidades, à época. No mesmo ano, a então Secretaria de Cultura realizou licitação e posterior contratação do projeto executivo de reforma.

Nos anos seguintes, a crise econômica do país e uma delicada situação financeira do Distrito Federal tornaram inviável a realização da obra como um empreendimento único que demandaria a execução do valor integral previsto no projeto.

O governo Ibaneis Rocha (MDB) decidiu então fatiar a obra por etapas, começando pela Sala Martins Pena. As Salas Alberto Nepomuceno e Villa-Lobos e o Espaço Dercy Gonçalves, ficarão para etapas posteriores.


Segunda maior sala de espetáculos do Teatro Nacional, a Sala Martins Pena possui capacidade de 407 lugares; possui um painel acústico projetado por Athos Bulcão / Divulgação/Secec-DF

Projetado por Oscar Niemeyer, mas esculpido pelo talento de outros grandes nomes, é a principal casa de espetáculos da cidade, sendo a única sala de ópera e balé. A novela da reforma se arrasta, entre outros motivos, por causa da complexidade e do alto custo de uma reforma completa, que chegou a ser orçada em R$ 200 milhões. Por ser um bem tombado individualmente, o Teatro Nacional como um todo requer uma reforma sob rígidas normas de restauro.

No final de 2019, a Secretaria de Cultura captou, junto ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, R$ 33 milhões, que seriam destinados à reforma da Sala Martins Pena. Após assinatura de convênio com a Novacap para elaboração do processo licitatório de obras, formou-se um Grupo de Trabalho, com um mutirão de técnicos, engenheiros e gestores das duas pastas. No entanto, a falta de documentos e as inconsistências técnicas no projeto originário desenharam um verdadeiro périplo para entregar o projeto básico, que deveria ser aprovado pela Caixa Econômica Federal para liberação do recurso.

Foram mais de 400 plantas refeitas, e a equipe atendeu a mais de 2 mil pedidos de ajustes. Com o tempo exíguo e a urgência da reforma, o GDF resolveu desistir, em dezembro do ano passado, do Fundo, por meio de distrato, e resolveu aportar diretamente o recurso para o restauro. Assim, ao longo de 2022, correu o processo licitatório, que tem seu desfecho agora, com a assinatura da ordem de serviço para que a empresa selecionada inicie as obras.

Relevância cultural e arquitetônica

Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil seção DF (IAB-DF), Luiz Sarmento, que também é servidor concursado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), afirma que o Teatro Nacional “é a edificação de uso público que melhor reflete a noção de síntese das artes que foi norteadora da construção de Brasília”. 

“No Teatro Nacional há uma composição que envolve arquitetura, paisagismo, esculturas e obras de arte integradas à arquitetura, como os painéis em relevos que adornam as fachadas laterais da pirâmide, assim como as salas Martins Penna e Villa Lobos, além dos painéis em azulejos. Grandes nomes da cultura nacional foram agenciadas para construir esse bem: os arquitetos Oscar Niemeyer e Milton Ramos, o designer Sérgio Rodrigues, os artistas Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti e Marianne Peretti. Os jardins são de Burle Marx. Antes do fechamento podíamos ver (e ouvir, principalmente) a orquestra sinfônica com belos painéis da artista Betty Bettiol ao fundo. O logotipo da orquestra foi desenhado por Tomie Ohtake”, descreve.

“São muitos os grandes nomes que fizeram essa obra, o que por si só justifica sua preservação. Não é qualquer dia que um país consegue mobilizar tantas pessoas talentosas e construir um teatro mas, o mais importante do teatro nacional é que ele era um espaço vivo, querido pela população, onde tantos outros talentos se apresentavam e surgiam”, acrescenta Sarmento. 

Mais do que um teatro, o espaço é uma Casa de Espetáculos multiuso e já recebeu obras e nomes muito importantes da arte nacional e internacional. Entre os grandes nomes da música, da dança e do teatro que se apresentaram no Teatro Nacional Claudio Santoro, destacam-se Mercedes Sosa, Astor Piazzola, Yma Sumac, os balés russos Bolshoi e Kirov, o balé da Ópera de Paris.

Entre os artistas brasileiros, estão nomes como Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Glauce Rocha, Ziembinski, Márcia Haydé, Márika Gidali e o balé Stagium, Grupo Corpo, João Gilberto, Caetano Veloso, Maria Bethânia e praticamente todos os principais nomes da música popular brasileira.

Chamado inicialmente de “Teatro Nacional de Brasília”, a partir de 1989 passou a se chamar oficialmente “Teatro Nacional Claudio Santoro”, em homenagem ao maestro e compositor que fundou a orquestra do teatro em 1979 e dirigiu-a até sua morte em 1989.

Para Luiz Sarmento, “é simbólico que as obras comecem nessa virada de ano, que promete tantas mudanças e tudo indica que a Esplanada, reocupada, tenha a cultura e a preservação do patrimônio como um dos temas prioritários para o desenvolvimento do país”. O arquiteto pondera, no entanto, que essa obra abrange apenas uma das salas do teatro e é preciso ficar atento para a qualidade da reforma. 

“Ficaremos atentos em relação à qualidade do restauro, assim como continuaremos fazendo pressão para que o teatro completo seja reabilitado e volte a receber milhares de pessoas em seus espaços de arte”.

Saiba como é a estrutura

Localizado no Setor Cultural Norte, próximo à Rodoviária do Plano Piloto, é um marco do Eixo Monumental e o principal equipamento cultural de Brasília.

O Teatro Nacional possui 46 metros de altura, 136 metros de lateral, 95 metros na fachada oeste, 45 metros na fachada leste e e área total de 43 mil metros quadrados. Tem a forma geométrica de uma pirâmide, o que o torna um prédio singular na paisagem central de Brasília. Uma de suas características mais marcantes são os blocos de concreto instalados nas fachadas laterais, os poliedros. É uma criação do artista Athos Bulcão, feita em 1966.


Blocos de concreto são atração na arquitetura do Teatro / Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF

Ao todo, o Teatro Nacional possui sete espaços. O principal deles é a sala Villa-Lobos, única sala de ópera e balé da cidade. Com capacidade de 1.407 lugares, sua área possui um palco de 450 metros quadrados, com 17 metros de abertura e 25 metros de profundidade, além de dois elevadores, sete camarins e salas de ensaio.

Do lado externo, o Foyer da Sala Villa-Lobos é composto pelo piso do acesso principal do teatro, entre os níveis superior e inferior da Plataforma da Rodoviária, com mezanino. O foyer dá acesso tanto à Sala Villa-Lobos e quanto à Sala Alberto Nepomuceno. Além da escada helicoidal que leva ao mezanino, uma verdadeira obra de arte, ainda integram o Foyer obras de Alfredo Ceschiatti, Mariane Perreti, Athos Bulcão e os jardins de Burle Marx.


Foyer da Sala-Villa Lobos, no Teatro Nacional, possui paisagismo de Burle Marx e esculturas de artistas consagrados. / Divulgação/Secec-DF

Já a Sala Martins Pena possui capacidade de 407 lugares, palco de 235 metros quadrados, com 12 metros de abertura e 15 metros de profundidade, além de um elevador e 15 camarins. O Foyer da Sala Martins Pena conta com painel de azulejos de Athos Bulcão e é bastante utilizado para exposições. Possui um busto Beethoven, doado pela Embaixada da Alemanha, e destina-se principalmente a saraus, performances, lançamentos de livros, coquetéis e exposições, com área de 412 metros quadrados.

A Sala Alberto Nepomuceno tem capacidade de 95 lugares, palco de 14 metros quadrados e camarins. O Teatro Nacional também possui, no seu andar mais alto, Espaço Cultural Dercy Gonçalves. Projetado originalmente para ser um restaurante panorâmico, que chegou a funcionar por pouco tempo, o Espaço foi inaugurado em 2000 com a presença da própria Dercy Gonçalves. Tem 840 metros quadrados, dos quais 500 metros de área útil, com ampla copa e capacidade para 300 pessoas.

Ainda há Anexo do Teatro Nacional, que foi projetado por Milton Ramos, convocado por Niemeyer para detalhar e executar a obra inacabada do Teatro. Com 15 mil metros quadrados, essa área passou a abrigar a sede da Fundação de Cultura do DF e, posteriormente, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.

*Com informações da Secec-DF.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino

LUIS NASSIF: ASSIS VALENTE E O HINO DO NATAL BRASILEIRO

Dezembro 26, 2022

O “Boas Festas” de Assis Valente tornou-se o hino nacional do Natal brasileiro.

Luis Nassifjornalggn@gmail.com

Dezembro de 2022 –

A rica música brasileira tem subgêneros extraordinários. Um deles é o das músicas juninas. Outro, das músicas natalinas. Em ambos os casos, sobressai o gênio de Assis Valente.

É curiosa sua história.

Foi criado na Bahia por uma família de coronéis locais, antepassados de meu amigo Gutenberg, o Baiano, figura conhecida nas rodas de boemia antigas de São Paulo.

Segundo seus biógrafos, Assis foi tirado dos pais na infância, trabalhou como empregado e viajou com circo pelo interior da Bahia. Mas a família obrigou-o a estudar. Segundo seus biógrafos,  estudou desenho e escultura no Liceu de Artes e Ofício, foi limpador de frascos no Hospital Santa Izabel, trabalhou na farmácia do Hospital Municipal em Senhor do Bonfim, engajou-se no Circo Brasileiro e, em 1922, ingressou em um curso de prótese dentária.

Chegou ao Rio tentando a carreira de desenhista e conseguiu publicar alguma coisa no “Fon Fon” e na “Shimy”, revista que celebrava nús.

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Formou-se protético e, em determinada fase de sua vida, mudou-se para Poços de Caldas, para trabalhar com o consultório de um dentista conhecido da cidade, José Oscar de Souza Lima, avô paterno da futura cantora Paula Santoro.

O dentista era revolucionário. Chegou a desenvolver uma máquina de anestesia, que dava pequenos choques no dente do paciente, chamado de diatermia. Tratou até de uma dor de dente de Nelson Rockefeller.

Assis morava na pensão da mãe de Newton Delgado, personagem folclórico da cidade, ex-pracinha e, depois, um dos expoentes do movimento gay na cidade. Newton saiu para a guerra namorando uma moça, futura freira. Voltou e não quis mais saber. As lendas da cidade diziam que ele foi vítima de uma bala dum-dum – bala que ficava no chão e estraçalhava as partes pudendas das vítimas. Depois, se soube que ele ficou em trabalhos administrativos. Mudou por gosto mesmo.

Em Poços, Assis Valente tornou-se amigo da juventude dourada local, entre os quais o futuro banqueiro Walther Moreira Salles. Não ocultava uma enorme paixão por Carmen Miranda, intérprete de suas principais canções. Mas já era um gay discreto.

No início dos anos 70, fui a Poços preparar uma matéria sobre os cassinos locais, e o filho do dentista me presenteou com uma foto de Assis Valente com seu namorado carioca.

Não foi o único compositor de renome a morar na cidade. Ari Barroso, então um estudante de Direito, abandonou tudo pelo piano e passava temporadas tocando na boate Ao Ponto, de Nico Duarte. Seguramente “Rancho Fundo” foi composta lá ou, pelo menos, inspirada por lá, já que era o nome do rancho de um dos Junqueira locais.

O drama de Assis Valente com sua bissexualidade, e a infância pesada acabaram levando-o a sete tentativas de suicídio. A última consumou-se. Mas deixa, para sempre, composições que ajudaram a firmar o perfil do brasileiro popular e, especialmente, cantou com um lirismo inigualável a miséria atávica do país.

O “Boas Festas” de Assis Valente tornou-se o hino nacional do Natal brasileiro.

Seja na forma sinfônica.

Na forma intimista.

Na forma Novos Baianos

Na Orquestra Maré do Amanhã

As Meninas Cantoras de Petrópolis

Os Diabos do Céu.

CONHEÇA O REISADO E O PASTORIL, FESTEJOS NATALINOS TRAICIOAIS NO NORDESTE

Dezembro 25, 2022

  1. CULTURA

CULTURA POPULAR

Com danças, musicas e muita festa, os festejos celebram o nascimento de Jesus; desafio é renovar a tradição

Rodolfo Rodrigo

Brasil de Fato | Recife (PE) |

 Dezembro de 2022 –

O Reisado São Francisco existe há vinte anos e é tradicional nas apresentações natalinas no Ceará – Secult CE

É só dezembro chegar que o clima natalino toma conta das casas e ruas do país. Árvores decoradas, cantatas de natal e muita iluminação são tradições que os brasileiros compartilham desde pequenininhos.

No nordeste, diversas expressões culturais são parte da agenda natalina. É o caso do reisado, no Ceará, formado por um cortejo composto por dois cordões, em comemoração ao nascimento do menino Jesus e em homenagem aos reis magos, tendo como personagens principais o rei e a rainha. Assista: 

Francisco Juventino ou Mestre Dodô, como é conhecido, é quem controla as apresentações do Reisado São Francisco, de Juazeiro do Norte, no Ceará.

Segundo o mestre, o Reisado São Francisco faz apresentações em toda a cidade no período. “Nosso grupo se apresenta em praça pública, nas ruas, em frente a prefeitura, nas casas particulares, na minha casa, por exemplo. mas, a diferença de 2019 pra cá foi a pandemia que veio muito forte, ficamos parados, houve até algumas apresentações, sendo live, mas uma coisa triste com poucas pessoas”, relembra ele.

O Reisado São Francisco existe há vinte anos e é tradicional nas apresentações natalinas do Juazeiro do Norte com o festejo, que representa o caminho dos três reis magos até o local onde nasceu jesus, saindo em procissão pelas ruas do Juazeiro.

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E a fé que reúne essas pessoas é passada de geração em geração, mantendo a tradição natalina. “A importância do reisado é porque é uma tradição que vem muito de longe, vem de avós para pais, para filhos, para netos, também não é diferente comigo. Não tenho filhos brincando reisado, mas  tenho neto, tenho irmãos, tenho sobrinho. Então, pra mim, quando a gente veste o traje já é uma festa, quem está doente já fica bom”, afirma Mestre Dodô.

Outro auto de natal presente no nordeste é o pastoril. Na tradição cristã, são os pastores quem primeiro recebe a notícia da vinda do filho de Deus e celebram num alegre teatro popular que une cultura, tradição e religiosidade.

Pastoril Giselly Andrade, de Olinda, é um dos grupos que se apresentam no ciclo natalino em Pernambuco. Segundo Giselly, o pastoril é a junção do teatro, da dança e da música. “No pastoril a gente encena a celebração do nascimento de Jesus. Então, as pastoras representam justamente essa jornada de irem ao encontro do menino jesus; a estrela guia as pastoras no caminho; o anjo anuncia o nascimento… então, tem toda uma uma história e é por isso que a gente diz que é teatro, é dança, é música”.


No pastoril se encena a celebração do nascimento de Jesus; Nome faz referência aos pastores, que são os primeiros a receber a notícia da vinda do filho de Deus / Miguel Solano

No pastoril, não pode faltar o cordão encarnado, o cordão azul e a Diana, personagens importantes na celebração que o Pastoril Giselly Andrade tenta preservar na tradição das gerações que se renovam.

Giselly, que fundou o grupo, fala da importância de manter a tradição “A gente tenta sempre trazer para a nova geração pra que essa cultura e essa manifestação não morra, não perca o brilho, porque antigamente, no tempo da minha mãe quando ela dançava, as pessoas dançavam pastoril na porta de casa”, afirma. 

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O Pastoril fica na comunidade de Água Fria, e ela afirma que há um cuidado em manter essa tradição “A gente tenta fazer esse resgate de envolver as crianças da comunidade de onde a gente tem a sede, que é em Água Fria, e aí uma traz a outra, que traz a prima, que traz a amiga, então a gente vai vendo esse sentimento de amor pela cultura passando de geração para geração”.

Seja em procissão, em apresentações abertas ou no teatro, a cultura natalina no nordeste encanta, porque é cheia de fé e significados, caracterizando a força da cultura popular nordestina.

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga

YAMANDU COSTA E PEDRO IACO APRESENTAM CHORO DE NATAL

Dezembro 24, 2022

Violonistas e compositores lançam single no dia 25 de dezembro nas plataformas digitais

Redaçãojornalggn@gmail.com

Dezembro de 2022 –

Uma melodia leve e inspiradora para trazer esperança nesse encerramento de ano. Assim é Choro de Natal (Yamandu Costa), single que será lançado no dia 25 de dezembro, nas plataformas digitais, pelos violonistas e compositores Yamandu Costa e Pedro Iaco. Uma música composta para ser uma história contada sem palavras, onde a voz se transforma em um violão e o outro violão se transforma em uma voz. Gravada em Lisboa, na casa do Yamandu, com mixagem e masterização de Adonias Jr. (Estúdio Arsis).

“Sou muito grato por esse choro simbolizar uma troca bonita musical com um violonista que me ensinou tanto sobre a minha própria voz, e que canta com o instrumento que toca”, diz Pedro. E Yamandu completa, “Muito feliz em ter a participação de Pedro Iaco nessa gravação. Ele cantou essa melodia num momento descontraído em minha casa em Lisboa, e imediatamente, tive vontade de registrar com ele esse tema.”

Cantor, compositor e violonista, Pedro Iaco é natural de São Paulo. Cresceu entre a pintura e a música, e enveredou-se pelo canto lírico antes de se dedicar a improvisação vocal. Aluno de Bobby McFerrin, trabalhou com Guinga, Mû Mbana e Tommy Emmanuel, entre outros. Sua música abre um portal entre realidade e fantasia, de uma voz que toca a um violão que canta. Lançou ‘Rio Escuro’ e ‘Pedro Iaco’, e prepara o lançamento de um novo disco com arranjos e produção de Elodie Bouny. Eleito o “Melhor Cantor” brasileiro em 2021 pelo Prêmio Profissionais da Música, o artista convida a um mergulho nas fábulas, lendas e mistérios de um Brasil profundo.

Aclamado pela crítica, Yamandu Costa carrega a marca da música do sul do continente americano, mas incursiona admiravelmente por diferentes gêneros musicais, formando junto com seu violão de sete cordas uma rara simbiose. Apesar de jovem, Yamandu Costa tem uma longa carreira. Nascido em uma família de músicos do sul do Brasil, subiu ao palco pela primeira vez aos cinco anos de idade, cantando; aos seis anos, ganhou seu primeiro violão. Aos 21 recebeu o Prêmio Visa Instrumental, que o possibilitou gravar seu primeiro álbum solo. A partir daí inicia uma profícua carreira: são diversos álbuns, solo ou em parcerias; muitos concertos no Brasil e no exterior; prêmios importantes, entre os últimos, o Grammy Latino em 2021, como melhor álbum de música instrumental com “Toquinho & Yamandu Costa – Bachianinha” (Live at the Rio Montreux Jazz Festival).

FICHA TÉCNICA: Choro de Natal

Composição: Yamandu Costa

Voz: Pedro Iaco

Violão: Yamandu Costa

Mixagem e Masterização: Adonias Jr. (Estúdio Arsis)

OS ALGORITMOS QUE SORVEM A VIDA – E O ANO QUE PASSOU

Dezembro 23, 2022

Aplicativos para dormir, acordar, beber água, transar… até quando cremos nos libertar. Já somos subjetividades de algoritmo? Mas afinal, o que importa? Compartilhe a lista das músicas “mais ouvidas” – o app já sabe o que (você) pensa (de si)

OUTRASPALAVRAS

DESCOLONIZAÇÕES

Por Fran Alavina

Dezembro/2022 –

Então, o Natal! Somos levados, talvez mais que em outros períodos do ano, por uma avalanche de algoritmos. Presos nas telas do capitalismo de esgotamento: aplicativos para dormir, acordar, comer, transar, se divertir. Os de divertimento, certamente, estão entre os mais perversos, pois controlam aquilo que nos libertaria da esfera do domínio cotidiano: o lazer, o ócio, o lúdico.  

Nos últimos dias, tal fica expresso na ostentação dos números dos aplicativos de música. Recaps musicais que tomaram o lugar da odiada canção natalina que outrora ouvíamos na voz de Simone. Ostentados, uma vez que são exibidos como exposição da vida privada, mas também como sinal do “bom gosto musical”. Exibidos como a dizer: “Vê aí, eu só curto música boa!”. Nas entrelinhas lemos: “e são boas porque as escuto!”. Parece que o padrão de qualidade é somente o maleável gosto “estético” do sujeito. Ou seria melhor dizer: o gosto estético do client

Talvez aqui, você leitor – ou melhor você ouvinte – já praguejou: “Que chato! Lá vem, mais uma crítica pedante. Onde eu vou ouvir minhas músicas? Todo mundo ouve nos aplicativos. Que troço chato: julgar o gosto alheio?”. Ocorre, melhor ouvinte, que nosso gosto estético deixou de ser apenas isso. Aliás, nunca foi só pura questão de gosto. Hoje, todavia, ele se transmuta em um novo tipo de mercadoria

Repare bem, ouça bem, os objetos artísticos já haviam se transformado em mercadoria bem antes. Até mesmo as instalações artísticas que achamos revolucionárias e de vanguarda. Contudo estamos a ver o próprio gosto (fruição, sensibilidade) se transformar em mercadoria. Patinando no “eu” que vai se transformando numa timeline de carne, um feed que anda e fala. É impressionante como a maior parte das nossas conversas em redes sociais se reduziu a envio de vídeos. Uma verdadeira aberração da inexpressividade. Ninguém fala, ninguém ouve; só assiste! Estaríamos diante de uma subjetividade algoritma?

Começamos, assim, a duvidar desse pretenso bom gosto quando ele nos aparece na forma da mercadoria de dados. Não escutamos as músicas que você mais gosta, querido ouvinte, quando a vemos reduzidas aos números de quantas vezes você a “ouviu”. Vemos uma lista, só isso. 

Esses dados, que são contabilizados e expostos no final do ano, é o troco da bodega que antes era dado com bala e pirulito. No caso dos aplicativos de músicas, o troco é dado na forma de um resumo matemático das músicas que você ouviu. Só que ao invés de você consumir a “bala”, você a dá para outros consumirem. Que o mundo saiba quantas vezes você degustou aquela música: infinitamente tocada no seu celular, mas não escutada! Como uma criança que ganhou o troco de guloseimas, você está feliz com a sua “bala”. Lambuzado, e talvez mais feliz que a criança, por que você supõe que escolheu a “bala” que ganhou de troco. É não só o seu gosto, mas ao seu gosto

Ficamos sabendo quais músicas nossos amigos, colegas e figurantes das nossas encenações cotidianas mais escutaram durante o ano. Igual naqueles programas de rádio FM que, ao chegar a noite, uma voz melosa anunciava em tom de publicidade: “agora, vamos ouvir a mais pedida: a mais tocada de hoje é!”. Daí a tal música ficava sendo mesmo a mais tocada, porque uma vez que lhe era dada a vitória, ela tocava de novo! Se o leitor lembrou certa cafonice auditiva desses programas de rádio, talvez deva perceber que você se tornou esse programa de rádio FM. Antes, porém, era possível desligar o rádio, hoje não mais. Nossas subjetividades se reduziram ao algoritmo, e as ostentamos como o que de melhor fizemos no ano. 

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FRAN ALAVINA

Fran de Oliveira Alavina é professor da UFVJM e Doutor em Filosofia pela USP

DOCUMENTÁRIO MOSTRA A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO MOVIMENTO LGBTQIA+ NO BRASIL

Dezembro 22, 2022

  1. CULTURA

MEMÓRIA

Estreia aconteceu nesta terça-feira (20), no Cine Brasília, seguida de roda de conversa sobre a obra

Redação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Dezembro de 2022 –

Longa-metragem que traz a visão de ativistas das décadas de 1970 e 1980, que ajudaram a construir o movimento LGBTQIA+ no Brasil – Reprodução

Chamado de “Quando ousamos existir – Uma história do Movimento LGBTI+ brasileiro”, o longa-metragem que traz a visão de ativistas das décadas de 70 e 80, sobre as trajetórias históricas deste movimento, foi exibido nesta terça-feira (20), no Cine Brasília. Após a exibição, uma roda de conversas com os diretores do filme e ativistas do Distrito Federal debateu o filme.
 
Com roteiro e direção de Cláudio Nascimento e Marcio Caetano, o documentário “Quando Ousamos Existir” aborda, através de entrevistas, as trajetórias históricas do Movimento Social LGBTI+, desde sua emergência em plena ditadura militar até a participação nos debates da Constituinte, passando pelos anos iniciais da epidemia de Aids e das lutas contra a patologização da homossexualidade.

Por meio das narrativas de ativistas, revive-se a intensa luta político-cultural pela liberação e afirmação homossexual no Brasil até as primeiras ações de promoção da cidadania. Em mais de 40 anos, o movimento homossexual tornou-se LGBTI+, e suas transformações acompanharam e contribuíram para importantes mudanças na sociedade e na atuação do Estado brasileiro em defesa da democracia cidadã.

A expectativa de Cláudio Nascimento é que a exibição do filme contribua para que a comunidade Lgbti+ conheça sua história de resiliência, resistências, lutas e conquistas. 

“É um momento especial, de alegria, de ver o trabalho de realização do primeiro documentário sobre a história do Movimento Lgbti Brasileiro. É mais que uma história, é uma ode a luta e que só chegamos até aqui no Brasil por que muitas pessoas antes de nós, já estavam lá empunhando a bandeira da liberdade e igualdade de direitos. Nossa ancestralidade Lgbti+ brasileira é potente e inspiradora”.

“O filme originou-se de uma preocupação com a invisibilidade das trajetórias do Movimento lgbti+ nas lutas políticas pela democracia no Brasil, em especial nos tempos da ditadura cívico-militar e abertura política. Foi assim que juntamos esforços e recursos pessoais para percorrermos o Brasil, ouvindo relatos de experiências valiosas das histórias políticas do movimento. Estamos muito felizes em poder oferecer humildemente esse trabalho para a comunidade lgbti+ e para a sociedade brasileira”, explica o professor Márcio Caetano, doutor na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ativista dos direitos humanos e civis da população LGBTI+, co-coordenador do Centro de Memórias João Antônio Mascarenhas .

Segundo Michel Platini, ativista LGBTI+ e Coordenador Geral da Parada do Orgulho LGBTI+ de Taguatinga e presidente do CENTRODH,  o documentário é o retrato que a sociedade precisa relembrar. “Para não repetir as mesmas violências e violações que a população LGBTI+ foi submetida nos períodos mais duros e longos da humanidade. Os exemplos de vida e caminhada da primeira geração do movimento LGBTI+ nos convoca a continuar na luta por um país livre da LGBTIfobia e do ódio”.

Gravado entre 2017 e 2019, com ativistas que atuaram nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Sergipe e Ceará, nas décadas de 1970 e 1980, a equipe desafiou a extensão territorial brasileira para reencontrar algumas das pessoas que fundaram o movimento LGBTI+ brasileiro. Entre idas e vindas pelas estradas desse imenso país, reencontraram-se algumas das memórias em defesa da democracia e cidadania LGBTI+.
 
“Quando ousamos existir” mostra uma fotografia de ativistas brasileiros no cenário LGBTI+ do Brasil, num período histórico de mais de 40 anos. Entre os inúmeros entrevistados, todas as pessoas ativistas, como por exemplo João W. Nery, o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil, em 1977, ativista pelos direitos LGBTI+, falecido em 2018; Rita Colaço, advogada, pesquisadora e ativista do Movimento LGBTI+ do Rio de Janeiro desde 1978 até o momento, Jorge Caê Rodrigues, professor do IFRJ, participou em 1980 do I Encontro Brasileiro de Homossexuais em São Paulo e atuou no Rio de Janeiro no Grupo Somos e depois foi para o Grupo Auê de Afirmação Homossexual, no início dos anos 80,   Regina Fachinni, ativista de direitos humanos, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu (Unicamp); Marcely Malta, coordenadora da ONG Igualdade – RS, travesti militante do Movimento Trans e de Direitos Humanos de Porto Alegre até Paulo Fatal, que integrou o Grupo Triângulo Rosa do Rio de Janeiro e um dos primeiros ativistas a se posicionar pelo enfrentamento à epidemia de HIV nos anos de 1980. 

O filme ainda traz João Silvério Trevisan, escritor e um dos ativistas fundadores do Grupo Somos de São Paulo, criado em 1978, juntamente com o escritor e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Edward MacRae, e o professor da Universidade de Brown, James Green. A enfermeira e atual presidente da Associação da Parada de São Paulo, Cláudia Regina, que foi participante em 1979 do Grupo Somos e Marisa Fernandes, que além do Somos fundou juntamente com outras lésbicas o Grupo de Ação Lésbica Feminista. Jovanna Cardoso, atual presidente do Fonatrans, o Fórum Nacional de Pessoas Trans Negras, que iniciou a organização do movimento de pessoas trans no fim dos anos 70 e Luiz Mott, professor da UFBA e fundador do Grupo Gay da Bahia, em 1980, são os outras das lideranças entrevistadas no documentário.
 
A produção é uma iniciativa universitária e ativista, sem fins lucrativos e a realização é do Centro de Memória João Antônio Mascarenhas, vinculado à Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal do Rio Grande, Universidade Federal do Espírito Santo e Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ do Rio de Janeiro.

O evento de estreia foi uma realização do Centro Brasiliense de Direitos Humanos (CENTRODH), e integra a programação de atividades realizadas pelo projeto Parada do Orgulho LGBTS de Taguatinga, da 15ª parada do Orgulho LGBTS de Taguatinga, executado por meio do Termo de Parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal e a Cooperativa Central Base de Apoio do Sistema Ecosol no Distrito Federal – Base Brasília, em colaboração com o Centro João Antônio Mascarenhas, com a Universidade Federal de Pelotas, a Universidade Federal do Rio Grande, Universidade Federal do Espírito Santo e do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ do Rio de Janeiro, além de contar com apoio da Cine Brasília, @Abiocinza e parceria cultural com a Aliança Nacional LGBTI+.

 
Serviço
Exibição do documentário e roda de conversa com seus diretores e pessoas ativistas convidadas.
Data: 20/12 (terça-feira) às 20h
Local: Cine Brasília – SHCS EQS 106/107 – Brasília, DF.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino

FREAR DESMONTE E AVANÇAR NA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SÃO DESAFIOS DO GOVERNO LULA

Dezembro 21, 2022

Sociedade civil se organiza para apresentação de propostas para uma mídia mais democrática

Elaine Dal Gobbo e Franciani Bernardes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 21 de Dezembro de 2022 –

As produções da EBC não podem ficar restritas ao eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, devendo abarcar a produção independente de todas as regiões do Brasil – Divulgação/Comunicação FeCCI

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais traz expectativas de ações que promovam avanços nos mais diversos segmentos, entre eles, a Comunicação. Entidades da sociedade civil, profissionais da área e ativistas têm elencado uma série de propostas, contemplando questões como universalização dos serviços essenciais de internet e telecomunicações, apoio à tecnologia nacional, fortalecimento do sistema público de comunicação e das rádios e TVs comunitárias e diretrizes mais acertadas em torno da educação para a mídia.

Um exemplo dessas movimentações é o documento intitulado “Comunicação democrática é vital para a democracia”, publicado logo após o final das eleições deste ano. Ainda aberto a adesões, o documento já foi assinado por 89 instituições da sociedade civil e mais de 280 ativistas, jornalistas e outros profissionais da comunicação. 

A integrante da coordenação executiva do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Ramênia Vieira, destaca que a organização é signatária do documento e aponta como um dos principais desafios a regulação da radiodifusão, uma vez que se criou um falso argumento de que isso fere a liberdade de expressão, quando na verdade promove pluralidade e diversidade ao promover a quebra do monopólio.  

Para Ramênia, a regulação das plataformas digitais – como forma de coibir a violação de direitos humanos na internet e de garantir um ambiente digital equilibrado plural, equilibrado e respeitoso – é outra medida essencial e não representa qualquer ameaça à liberdade de expressão.  

Dentre outras propostas do documento, estão: a garantia da diversidade e do pluralismo, a partir da adoção de políticas públicas que evitem a concentração do controle sobre o debate público; e a regulamentação dos dispositivos da Constituição de 1988 sobre complementariedade entre os sistemas público, privado e estatal, sobre vedação aos monopólios e oligopólios e sobre fomento à produção regional e independente.

A carta, que foi entregue a membros da transição governamental, também indica a necessidade de “uuniversalização do acesso à internet, via o desenvolvimento de políticas públicas para garantir o acesso universal, significativo e de qualidade para todos, com preços acessíveis e sem limitação de franquia de dados móveis”.

Para os signatários do documento, a universalização deve se dar “tanto pela ação direta do Estado no provimento de conexão a partir de redes públicas, como pela definição da modicidade tarifária, de metas de conectividade para as empresas privadas, de políticas de fomento aos pequenos e médios provedores e iniciativas de acesso à internet comunitária”. 

O “fortalecimento das mídias alternativas, independentes, comunitárias, populares e periféricas, de todo um grupo de veículos e iniciativas que nasceram fora dos grandes oligopólios privados da comunicação no país e que requerem políticas públicas de incentivo para sua consolidação e ampliação” é também outra reivindicação. 

Comunicação Pública 

Vale destacar ainda, como uma das propostas do documento, a “recuperação da autonomia e do caráter público e fortalecimento da EBC e do sistema de emissoras e agências públicas ligadas a ela”. As entidades e ativistas que assinam a carta defendem que “por sua estrutura e capilaridade, a EBC pode converter-se em espaço para difusão dos conteúdos produzidos pela multiplicidade de sujeitos comunicativos que queremos estimular, com autonomia e sob governança da sociedade brasileira, através da reinstalação do Conselho Curador”. 

Criada em 2007, a EBC é uma empresa pública federal que presta serviços de radiodifusão pública e gere as emissoras de rádio e televisão públicas federais. A empresa tem sofrido um processo de desmonte que começou no governo de Michel Temer (MDB) e se aprofundou no de Bolsonaro, sendo um dos desafios da próxima gestão frear esse processo. Uma das primeiras coisas que é preciso enfatizar, segundo Guilherme Strozi, jornalista da EBC, é que a empresa “não é do governo”.  

Guilherme já foi integrante do Conselho Curador da EBC, extinto por Michel Temer por meio de uma Medida Provisória (MP) que impossibilitou a participação popular na fiscalização das diretrizes e objetivos da empresa. Composto por 22 membros, sendo 15 da sociedade civil, 4 do Governo Federal, 2 do Congresso Nacional e 1 dos trabalhadores(as), o Conselho Curador também tinha a prerrogativa de destituir o presidente da EBC caso ele não cumprisse as diretrizes, a exemplo da necessária autonomia editorial em relação ao governo. 

Com a extinção da principal instância de participação da sociedade na EBC, essa atribuição passou a ser do presidente da República. Por isso, com Temer e, posteriormente, com Bolsonaro, tornaram-se comuns os casos de censura e assédio contra trabalhadores(as) da Agência Brasil, da TV Brasil e das emissoras de rádio vinculadas à empresa. Por isso, a reativação do Conselho Curador é vista como uma prioridade. 

Um outro problema atual da EBC foi a fusão dos conteúdos da TV Nacional do Brasil (NBR) com a programação da TV Brasil, o que significa, em verdade, uma tentativa de transformação da comunicação pública em aparelho de divulgação das ações governamentais. Visando o fortalecimento do caráter público da EBC, Guilherme entende que a separação da TV NBR da TV Brasil deve ser uma das primeiras ações a partir do próximo mês de janeiro.  

Outra iniciativa que precisa ser retomada é a destinação dos recursos da Contribuição ao Fomento da Radiodifusão Pública para a EBC. Guilherme explica que 15% das contas de internet que a população paga vai para o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações. Desse total, 85% eram destinados para a empresa pública. Entretanto, usando a justificativa do enfrentamento à pandemia do coronavírus, o governo Bolsonaro não repassou mais a totalidade dos recursos.  

Além disso, o servidor acredita que as produções da EBC não podem ficar restritas ao eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, devendo abarcar a produção independente de todas as regiões do Brasil. Para isso, defende a necessidade de mudar o perfil dos gestores. “Não dá mais para ser gerida por homens brancos, como gabinete de comunicação social da presidência. A EBC tem que chegar às favelas, às periferias, aos centros urbanos, ao Pantanal, precisa ser mais popular. Precisa de um olhar mais negro, feminino, feminista, nordestino, amazônico, de gente que tem história de luta, que dialoga com as mais diversas expressões religiosas”, diz.  

A diretora do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e servidora da EBC, Juliana Nunes, que participa do GT de transição de Comunicação Social, acrescenta que é preciso que a sede da estatal no Maranhão, que foi desativada, volte a funcionar. Diz ainda que é preciso que programas com temáticas ambientais e indígenas, além das agendas negra e quilombola, voltem para a grade das rádios Nacional da Amazônia e Nacional do Alto Solimões. Também defende a execução de projetos internacionais, com uma comunicação pública decolonial e troca de conteúdo com emissoras de outros países da América Latina.  

Equipe de transição 

No processo de transição de governo, há dois grupos de trabalho dedicados ao setor, o GT de Comunicação Social e o GT de Comunicação. O primeiro discute questões como comunicação governamental e publicidade e propaganda; o segundo, assuntos como política de rádio e TV comercial, acesso à internet, regulamentação da comunicação comercial e questões de telefonia. O foco dos GTs, vale lembrar, é solicitar ao atual governo informações que irão constar em relatórios e diagnósticos norteadores das ações a serem implementadas a partir de 1º de janeiro de 2023. 

Entre essas informações estão as que dizem respeito, por exemplo, a orçamentos e estruturas disponíveis, possibilitando que sejam feitos, entre outros apontamentos, o levantamento dos riscos iminentes e de questões “que merecem mais atenção”, conforme afirma o jornalista e diretor geral da TV e Rádio públicas da Bahia (IRDEB), Flávio Gonçalves, que integra o GT de Comunicação Social. Ele destaca que o trabalho feito pode servir, inclusive, para que o próximo governo “avalie criticamente o que foi feito nos últimos quatro anos, com eventuais responsabilizações, se necessário”.  

“O Governo Federal é obrigado por lei a repassar as informações, que são públicas. Pode ser por meio de documento formal, por exemplo. Esperamos que o Governo Federal entregue, para que a próxima gestão tenha condições de tomar decisões sobre políticas que têm impacto imediato na vida das pessoas”, defende Flávio.  

*Esta matéria integra a série “Ideias para um Brasil democrático”, conjunto de textos que pretendem contribuir com a reconstrução do Brasil e com a necessária democratização da nossa democracia. A série é uma iniciativa do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

**Elaine Dal Gobbo é jornalista e mestra em Comunicação & Territorialidades. Franciani Bernardes é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação e professora da rede estadual de ensino do Espírito Santo. Ambas são associadas ao Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação.

Edição: Glauco Faria