Archive for the ‘Minicontos’ Category

O DIA QUE EU DEIXEI DE TORCER PELO FLAMENGO*

Setembro 26, 2014

bola de futebol

Não sei quando comecei a torcer pelo Flamengo. Só sei que quando dei por mim, já era mais um torcedor compondo a massa rubro-negra no Brasil. E quem sabe no mundo. Porque dizem que o Flamengo é como capital: encontra-se em todos os lugares. O que sei mesmo, é que sofri e vibrei de felicidade com as partidas que ele jogava.

Na rua onde morava, na escola e por todos os lugares que passava fazia questão de divulgar meu amor pelo mais querido do futebol brasileiro. Colecionava camisas, calções, chuteiras, álbuns de figurinha com seus jogadores, chaveiros, calendários com seu brasão, lápis, canetas, cadernos, DVDs de seus jogos, CDs com o hino gravado por várias orquestras e cantores. Tudo referente a ele. Eu era o que se poderia afirmar de verdadeiro fã.

Quando completei 11 anos, meu pai, que tinha uma irmã morando no Rio de Janeiro, decidiu que nós íamos passar as férias de julho na cidade maravilho. Foi uma notícia vibrante para mim. Era a oportunidade de conhecer o Maracanã, o maior palco do futebol do mundo, e, quem sabe, assistir um jogaço do meu time do coração, mente, corpo inteiro e alma. Desde o momento que meu pai deu a notícia, eu entrei em uma ansiedade flamenguista. Nunca o mês de julho foi tão importante para mim. Dormia e acordava pensando nesse importantíssimo mês.

Julho chegou e lá fomos nós, eu, minha irmãzinha, minha mãe e meu pai, para a terra do “Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara”. Era uma bela sexta-feira. Para mim, naquele momento, era a melhor sexta-feira de minha vida. Durante os minutos que antecediam a aterrissagem e que o avião sobrevoava a cidade, eu disputava a janela com minha irmã. No meu caso, louco para ver se conseguiu vislumbrar o Maracanã.

Já na casa de minha tia, depois dos abraços saudosos e a entrega das lembranças que meus pais haviam levado para ela e sua família, eu pedi ao meu pai para sair e ver a cidade para comprar alguma coisa sobre o Flamengo. Meu pai disse para esperar um pouco, porque estava cansado da viagem e ao mesmo tempo disse que tinha uma surpresa para mim. Contou que havia pedido ao meu tio para ele comprar dois ingressos para o jogo de domingo no Maracanã entre o Flamengo e o Vasco. Tive um ataque de loucura flamenguista. Envolvido pela expectativa da viagem não lembrei do jogaço entre os dois maiores rivais do futebol do mundo.

Chegou à tarde do domingo, e lá fomos nós para o templo da arte futebolística. Eu era verdadeiro pinto no meio do lixo de tanta alegria. Entramos no colosso do futebol, sentamos em nossas cadeiras numeradas, e aumentou minha ansiedade. Eu olhava o estádio em todos os seus pormenores. Era a alegria mesclada com o inusitado da ocasião. Todo momento perguntava para meu pai às horas. Não acredita no que ia vivenciar. Meu perguntava se eu queria alguma coisa como um refrigerante, e eu não queria nada, só ver meu Mengão e poder vibrar.

Quando o meu time despontou na entrada do gramado eu dei grito tamanho, cheio de emoção, que meu pai me segurou, passou a mão na minha cabeça, me deu um beijo e disse que meu sonho já era realidade. Começou o jogo e aconteceu comigo algo que eu não esperava. Eu pensei que quando visse o Flamengo jogando eu ia me concentrar só nele. Não, eu era atraído também pelas jogadas do Vasco. Envolvido, também, pela torcida com seu canto, eu entrei em uma névoa de indiscernibilidade. Parecia que eu havia desmaterializado. Foi então que eu comecei a entender o futebol. Quando eu via um dos times atacando em bando, como um encadeamento de potências, onde o jogador, como um ente individual desaparece, para fazer surgir o devir-jogo coletivo, eu dizia para mim que isso que era o futebol. Não me importava maias que fosse o meu Mengão ou o Vascão do meu tio. O que me importava era vivenciar esse movimento do bando. Essa contínua desterritorialidade. A atualização do virtual gol pelos encadeamentos produtivos proporcionados pelos jogadores-bando.

O jogo terminou empatado em 1 a 1, e meu pai me disse que durante a partida tentou falar comigo, mas parecia que eu estava em transe e não falava nada. Ele me perguntou se eu havia gostado eu respondi que estava maravilhado e que havia feito uma grande descoberta. Ele me perguntou qual fora a descoberta. Eu respondi que eu não torcia pelo Flamengo. Ele tomou um susto e pediu que eu explicasse. E eu expliquei que durante todo esse tempo que dizia torcer pelo Flamengo não era verdade, porque eu não sabia o que era o futebol. Olhei bem em seus olhos, lembro como se fosse agora, e disse que eu descobrira que gostava mesmo era do futebol e que um time sozinho não podia criar. É preciso de outro time. O futebol só existe nos times. E completei afirmando que o Vasco me ajudou a fazer essa descoberta. Ele deu um sorriso meigo e cumplice e saímos do estádio.

De volta às aulas, em uma segunda-feira, ao entrar no pátio da escola, uns colegas vascaínos, tentaram tirar um sarro de mim falando que o Mengão havia perdido de 4 a 0 do Fogão. Eu fui em direção a eles pulando e gritando de alegria o nome do Fogão, Garrincha, Nilton Santos, Zagalo, Jairzinho Amarildo… Os colegas me abraçaram e fomos para a sala. 

*Conto do livro em preparação, Contos Sem Dez Contos.

JULIETA PASSEIA EM SEUS BLOCOS-ESQUIZOS*

Setembro 13, 2014

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Julieta saiu para passear entre a lei transcendente do déspota-paranoico. A casa, embora com seus segmentos em blocos de quarto, sala, corredor, cozinha, pátio, não deixa ninguém escapar dela. Ir para o quarto é permanecer nela. Ir para sala é permanecer nela. Ir para onde for é permanecer na casa, porque todos os segmentos estão em contiguidade e continuidade.

“Então, vou para a rua e escapo da casa!” Não, a casa é contígua à rua. Julieta passeia. Só há uma forma de escapar da casa: cortando a contiguidade e a continuidade com outras formas de expressão e conteúdo. Fazer segregar outros fluxos. Fluxos-esquizos!

Você chega com a sentença-perdão. Se eu lhe perdoou não me perdoou. Se eu não lhe perdoou me perdoou. Perdão, “o perdão não passa pelo sistema nervoso”. Que a lua me dê um sinal. Como se não bastasse o sol, o deserto também é arenoso. Mas há movimento nômade. Eu pretendia a cidade e o deserto. Fiquei na fronteira. Na fronteira eu vi o burguês e o árabe.

Julieta entrou no bar. “Há que endurecer sem jamais perder a ternura”. Imaginem um povo que não precisa de pastor. “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”. Havia miseráveis nas calçadas, mendigos e trabalhadores esmolando por falta de emprego. “O teu tempo é teu corpo e tua mente à minha disposição em forma de salário”. Por onde caminha teu salário, trabalhador, caminha a forma de tua velhice. “Amar para ser amado”. Amado, batista. Batista, batismo, basta bastardo! O povo quer terra. Sem terra ele não tem pés. Sem pés ele não se afirma. Fica flutuando.

Julieta sentou no bando da Praça da Matriz. Por um triz ela não viu a cicatriz no rosto do jovem que antes estava no mesmo banco. A criança maior empurrou a criança do meio que caiu sobre a menor que afundou no útero da mãe. O palhaço Chupeta chupou a criança com suas palhaçadas. O carro alegórico passou coberto com a máscara da candidata que prometia a Terra, o Céu e de quebra o paraíso. Pedro, sentado em seu trono, falou: “Coisa da Terra é coisa do homem. Coisa do Paraíso é coisa da alma. Não misturem alhos com bugalhos”. Alho é bom para gripe. Por isso, vampiro não gripa. E por falar em vampiro, a Bolsa de Valores furou. Quem gostou foram os pobres.

Julieta sorriu. Lembrou Marx citando o adágio popular: “Quando dois ladrões brigam, o mundo melhora”. O time precisa de 1 gol para ser campeão. Passaram 90 minutos e ele não fez o gol. Foi então que o juiz deu mais 1 minuto e o time não fez o gol. A questão crucial do time era o número 1. Ainda lembro-me que minha mãe dizia… O que ela dizia mesmo? Eu só tive um irmão. Ele era mais novo do que eu e isso fazia com que eu não gostasse dele. Sendo mais novo não havia como me sentir forte batendo nele. Se eu tivesse um irmão mais velho eu me sentiria forte batendo nele. Assim, sentiria o gosto da vitória. Só há vitória quando se vence quem é mais forte que você. Nunca me senti vitorioso. O meu irmão me venceu.

Julieta! Eu gostaria de ser amado, mas eu não sei amar. Um dia eu encontrei uma menina e acreditei que lhe amava. Fiquei muito feliz. Mas depois descobri que não era amor. Eu estava triste quando conheci a menina. Atalhos do amor. A nuvem passa e sol sorrir. Não, o sol não sorrir. Sou eu quem está contente. O abismo se abriu sob meus pés. Apavorei-me. Quis acordar. Não pude. Não era sonho. É terrível descobrir que a vida não é um sonho, como disse o poeta.

Julieta imaginou voltar para casa, mas não havia rua. E consequentemente, não havia casa e muito menos a lei transcendente e o déspota-paranoico. Julieta descobriu que o passeio é uma infinita efetuação.  

*Conto do livro em realização Contos Sem Dez Contos.

AS VERDADEIRAS PIADAS DO POETA LUSITANO MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE E SUA PERVERSIDADE NO CIBERESPAÇO

Abril 6, 2014

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Manuel Maria Barbosa do Bocage nasceu no dia 15 de setembro de a1765, em Setúbal, Portugal. Foi membro da Escola Francesa também conhecida como Arcádia. Lá Du Bocage era conhecido pelo pseudônimo de Elmano Sadino.

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Bocage foi um homem muito inteligente e criativo, além de criar sonetos, epigramas, trovas e seletas piadas teve uma existência profundamente movimentada e rica. Foi boêmio, viajou para Índia como soldado, foi preso, condenado por se dizer ateu, levado à Inquisição, frustrado apaixonado por Maria Vicência que não casou com ele por ele ser  ateu e assim cumprir um pedido de sua mãe, traduziu o livro Metamorfoses de Ovídio, a 5ª Bucólica de Virgílio, foi internado no hospício das Necessidades…, e outras riquezas mais.

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Du Bocage bem que procurou a fama e o reconhecimento, só que às 10horas da manhã do dia 21 de dezembro de 1805, ele morreu pobre, na miséria, na casa de uma irmã. Embora o povo tivesse passado todo o tempo de sua enfermidade orando na frente da casa. Era um poeta do povo.

Agora, esse blog esquizofia em suas indiscernibilidades movimenta para além do ciberespaço na tirania-dissipadora da informática a perversidade de expressar um livro que escapa dessa tirania-dissipadora permitindo que você possa sofrer em não poder molhar a ponta do dedo e saltar de folha em filha desse livro, mesmo com as folhas em sua frente. Uma perversidade produzida pela cibernética. Você tem o livro, mas não tem. Porque o que você tem na tela não tem perspectiva tridimensional que envolve a percepção. Porque nessa perversidade-informática você tem que se contentar com um livro-virtual sem sombra, sem rastro e sem consequência e sequência. Sem a sensualidade de um livro publicado em 1956. Sem poder tocar em suas páginas amarelecidas. Sentir o cheiro do mofo. Imaginar seus percursos como ente literário. Que perversidade.

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Essa a piada mais verdadeira de Bocage. O autor que no Brasil, erroneamente, foi tido como o piadista da pornografia e da pornofonia.

Minicontos

Março 18, 2012

Passei toda a vida a sentir os cheiros pelas narinas que meu espelho não enxerga. Hoje, sacudo a disformidade que pendura o meu nariz e beijo de frente o temor de me verem atingir com o olhar os rostos de quem passa.

Monólogo do sem rosto

 

Eles eram feitos de açúcar, de tão doces sucumbiam a uma estranhesa invulgar. Ela tinha boca de papel que se desfazia na saliva dele. E ambos, roíam-se como maçãs à luz da lua. Ele não tinha dedos, tinha pequenos ramos que lhe saiam das mãos e no explorar do corpo dela, percebeu finalmente, que ela era o mel que a sua boca processava. E este era o amor daqueles dois.

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Era muda, tinha a cara sardenta e um olhar encharcado de sentimento.Todos os dias sentava-se com o seu cão junto ao mar que contemplava e fantasiava outra vida. Um dia, o mar bateu forte e as sardas ficaram estampadas na areia e o cão uivava e a noite veio e o sol se foi.

Letargia

Três contos internáuticos de Eugênia

Minicontos

Março 11, 2012

 

Na sala de projeção, as unhas malfeitas, o cabelo suado e o cansaço das pernas ansiavam pelo aparecimento de mais um bendito Cisne Negro.

Negativos 

 

 

Lavando a louça, Ester não aguentava mais o bang-bang do faroeste que Waldercy assistia. Os tiros eram dissonantes com os pratos e copos sujos e com o classificado intacto sobre a mesa. Um copo quebra, ela enxuga a mão, pega o jornal e diz “Cadê o cowboy dos velhos tempos?”.

 

Bravura Indômita

Contos internáuticos de Sir Don Corleone

 

 

Minicontos

Fevereiro 26, 2012


Gostava de ler os minicontos com acento lusitano daquela moça, cujo nome era um pouco vaidoso, e a alma era dada a profundezas.

 O Acento Lusitano


– Sabia que eu tenho um irmãozinho?
– Ah, é? E onde ele está?
– Na barriga da minha mãe.

Ao Que Vai Chegar

– Você não acha que eu me pareço com a Grace Kelly?
Não achava. Mas como se livrar daquele enrosco? Pensou depressa e respondeu com toda a delicadeza:
– Parece, parece sim, quase irmãs. Mas é que eu prefiro a Judy Garland.

 

Parecenças

Contos internáuticos de Pami

Minicontos

Fevereiro 5, 2012

Leituras

Se ele a conhece tão bem foi por já ter lido e relido sua alma. Em braile. E ela, passiva, anseia por outra leitura. Se ela o conhece tão bem, foi por ele ter-lhe escancarado a alma. E ela leu tudo. Ao contrário. E ele pensa que a enganou.

 

Botânica

 

Viu-se sozinho, quando lhe disse que ela cheirava a camélia. Até hoje, não sabe onde errou.

 

Remorso

 

Esmagou-lhe as palavras sem pensar. Ignoraram-na pela prepotência. E ela, arrependida, submetia-se.

 

Remorso II

Por conta da estética, perdeu a classe. Agora, revira-se em letras mal resolvidas.

Contos internáuticos de Lu Stocker

Minicontos

Janeiro 15, 2012

Falsas identidades em noites intensas entre longos prazeres em terra de césares em ruínas,recolhendo sonhos na festa do teu olhar fazendo dos nossos corpos o duble de nossa almas onde o seu corpo é extensão do meu e tu bailando como uma bailarina em meu corpo no refúgio do prazer,entre o duelo entre estranhos no limite diante a dor e prazer recriando o coliseu em nossa cama e incendiando cidades,petrificando imagens ecoando vozes e evocando fantasmas no espetáculo da vida em busca de vestígios de um novo renascimento.

Hiro Yoshikawa- Quantas madrugas tem a noite

Ninguém ama sem querer, o amor é uma espécie de astro rei mas sem luz própria, somos nós quem o ilumina e foi aí que Zupan percebeu o seu erro. Ele teve toda uma vida à procura do que nunca existira, um ser que o encobrisse de si mesmo. “- Que tolo fui. Uma vida em busca de outras vidas sem sequer abraçar a mim mesmo.” E de repente, solta-se um grito e Zupan cai feito um pedaço de madeira e balbucia os últimos disparates que havia desejado falar. “- Merda para tanta estupidez!”

Conto internauticos de Eugênia

Mini-contos

Janeiro 8, 2012

Ele a convidara para ver a tão esperada estreia no cinema. Ela aceitou, pois a melancolia já lhe doía o peito. No findar do filme, ele percebeu as lágrimas escorrendo dos olhos de sua amada. Pensou ele: “a película lhe foi emocionante”! Mal sabia, o pobre, que as lágrimas que caíam, eram de dores de amor.

Engano

O oceano que nos separa não é mais profundo do que o fado que nos une.

O Que Eu Disse A Ela No Dia Do Seu Aniversário

(Para a Eugenia)

Contos Inter-náuticos de Travis Bickle

Minicontos

Dezembro 4, 2011

Desavisado

Amores e aventuras, muito distantes ou tão perto quanto o desconhecido ao seu lado, na frente da tela sonhava animado com a vida que, coitado, não imaginava que poderia ter.

Marginal

Voava pelo asfalto fugindo das tristezas que lhe freavam a vida quando um carro o fez aterrissar em outra tragédia.

Miniconto do náutico Grykaz