Archive for Julho, 2022

A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA VISTA POR TINHORÃO

Julho 31, 2022

Em livro essencial, crítico musical traça um panorama da cultura popular no país – da era colonial ao século XX – e de como o subdesenvolvimento desestrutura identidades culturais. Quem apoia nosso jornalismo concorre a dois exemplares

BLOGDAREDAÇÃO

Por Ana Sarabia

Julho-2022 –

Há aproximadamente um ano, no dia 3 de agosto de 2021, falecia José Ramos Tinhorão, um dos principais ensaístas e críticos da música popular brasileira. Alinhado à tradição marxista, propôs uma análise da nossa produção cultural enquanto historicamente localizada na sociedade de classes e, por isso, submetida às mazelas advindas da posição subalterna do Brasil no capitalismo global. 

Seguindo essa linha investigativa, História social da música popular brasileira, publicado pela primeira vez em 1990, descreve simultaneamente os elementos da cultura popular em cada época e as forças sociais que os engendraram, assim como suas transformações. Tinhorão analisa como a separação entre decisão econômica e poder político, característica das economias capitalistas dependentes, se reflete na cultura e gera novas tensões de caráter ideológico e produtivo entre as classes dirigentes, médias e populares — aqui, relacionados aos meios de comunicação e à indústria cultural.

Em seus capítulos, o livro traça um panorama abrangente da música popular com base nas grandes fases da história brasileira, partindo da marca portuguesa no século XVI e delineando os traços sociais da canção popular no decorrer do Império, da República e dos principais acontecimentos políticos do século XX — dentre eles, o nacionalismo varguista do Estado Novo e o movimento tropicalista durante a Ditadura Militar. 

Para relembrar a obra de Tinhorão e marcar a retomada da parceria editorial entre Outras Palavras Editora 34, quem contribui com o jornalismo de profundidade do Outras Palavras agora concorre a dois exemplares do livro e garante 30% de desconto em todo catálogo da editora. A seguir, publicamos a introdução da obra, escrita pelo próprio autor. Boa leitura!

História social da música popular brasileira, por José Ramos Tinhorão

Em exemplo de absoluta excepcionalidade — mas por isso mesmo carregado de muita significação — o presente livro, escrito por brasileiro para explicar o fenômeno da criação e evolução da música popular no Brasil, apareceu pela primeira vez em Portugal em maio de 1990, lançado pela Editorial Caminho, de Lisboa.

Praticamente esgotada essa edição “estrangeira” responsável pela expansão do conhecimento do livro não apenas nos países de expressão portuguesa na África, mas aos grandes centros interessados na produção cultural da Europa, a História social da música popular brasileira aparece agora em sua primeira edição destinada ao mercado nacional. Nesta oportunidade, o autor espera que seu trabalho continue a cumprir, no Brasil, os mesmos objetivos propostos na apresentação originalmente escrita no exterior, que aqui se reproduz.

Destinado basicamente a procurar o nexo entre a existência de uma música do homem das cidades e a realidade social que desde o século XVI a explica, este livro acaba por oferecer uma série de indicações não apenas sobre esse problema de cultura popular — objeto da pesquisa — mas sobre características da própria cultura.

A primeira dessas indicações oferecidas pela história da evolução da música popular urbana no Brasil é a de que, numa sociedade diversificada, o que se chama de cultura é a reunião de várias culturas correspondentes à realidade e ao grau de informação de cada camada em que a mesma sociedade se divide.

Assim como nos países capitalistas, entre os quais o Brasil se enquadra, o modo de produção determina a hierarquização da sociedade em diferentes classes, a cultura constitui, em última análise, uma cultura de classes.

Como os fatos historiados no livro demonstram, essa diversidade cultural é normalmente simplificada através da divisão da cultura em apenas dois planos: o da cultura das elites detentoras do poder político-econômico e das diretrizes para os meios de comunicação — que é a cultura do dominador — e a cultura das camadas mais baixas do povo urbano e das áreas rurais, sem poder de decisão política — que é a cultura do dominado.

Acontece que nas nações em que a capacidade de decisão econômica não pertence inteiramente aos detentores políticos do Poder, como é o caso de países de economia capitalista dependente — e entre eles o Brasil em estudo —, a própria cultura dominante revela-se uma cultura dominada.

Em resultado, a cultura das camadas pobres acaba sendo submetida a uma dupla dominação: em primeiro lugar, porque se situa em posição de desvantagem em relação à cultura das elites dirigentes do país; e, em segundo lugar, porque esta cultura dominante não é sequer nacional, mas importada e, por isso mesmo, dominada.

Assim, como os fatos alinhados no livro demonstram, quando se assume o ponto de vista da cultura que traduz a realidade da maioria do povo — que é inegavelmente a regional ou urbana mais ligada ao gosto e às expectativas das camadas pobres —, essa dupla dominação revela o impacto de uma agressão insuportável. É que a cultura realmente representativa da realidade do país como um todo — que são as culturas da gente pobre, sem oportunidade de escola e sem recursos — tem de enfrentar não apenas a concorrência da cultura da elite (que, por ser oficial, dispõe de escolas, teatros, conservatórios, orquestras, programas e verbas), mas ainda a da classe média que, enquanto consumidora de produtos da indústria cultural (e, assim, também ligada a modelos estéticos importados), se identifica mais com as elites do que com o povo, o que lhe garante maior espaço nos meios de divulgação.

Admitido que os fatos expostos no livro demonstram a realidade de tal observação, não se pode deixar de concluir que o problema da cultura é um problema político. No caso do Brasil, em especial, quando se considera o grau de dominação a que atualmente se submetem as maiorias com a imposição de modelos — e não apenas musicais — de cima para baixo, e de fora para dentro, a conclusão que parece impor-se é a de que, do ponto de vista da cultura dominada, a única forma de escapar à agressão seria a mobilização dos prejudicados no sentido de uma luta de libertação. Como, porém, conforme o livro demonstra, as elites e grande parte da classe média urbana se identificam mais com os interesses internacionais — por sua maior participação nos resultados do capitalismo — do que com os interesses das camadas menos favorecidas, tal luta só poderá vir a ser ao mesmo tempo insurrecional (pela necessidade de derrubar no campo interno os grupos interessados na continuação do modelo dependente) e de libertação nacional (pela necessidade de enfrentar a reação estrangeira que tal mudança das estruturas certamente acarretaria).

O que os fatos historiados no presente livro parecem demonstrar, pois, tomando o problema da música popular urbana como tema, é que as possibilidades de representatividade da cultura brasileira, dentro do próprio país, se ligam diretamente à realidade de um estado de dominação que resulta — até por herança colonial — do atrelamento do Brasil a um tipo de proposta de desenvolvimento que o torna necessariamente caudatário de decisões que escapam aos seus dirigentes. Tal fato é claramente comprovado no presente livro quando se demonstra que o colonialismo cultural, no campo das várias músicas brasileiras, se revela sob a forma da dominação econômica nos meios de comunicação e da indústria do lazer, com o objetivo capitalista estrito de obtenção de lucro.

Esse colonialismo cultural estrangeiro, na área da música popular, é imposto ao povo do país economicamente dominado — e o livro mostra-o com fatos — sob a forma de duas realidades: a de caráter econômico, propriamente dito, representada pela circunstância de a música popular destinada ao lazer urbano se prender a um complexo industrial eletroeletrônico de grande peso na economia mundial; e a de caráter ideológico, representada pelo fato de a música popular, graças às novas modas fabricadas por tais grupos industriais, projetar para os consumidores subdesenvolvidos uma ideia de modernidade, de conquista de status e de integração no que “de mais novo se produz no mundo”.

Ora, como a divulgação das produções musicais, para além das salas ou comunidades regionais em que são ouvidas, depende da divulgação pelos meios de comunicação, principalmente o rádio e a televisão, é a ocupação desses espaços que permite a universalização de sons musicais por todo o território do país e, em certa medida, também por todas as classes sociais. Acontece que, como tais canais de divulgação pertencem a empresários que dividem os espaços em tempo, que é vendido conforme determinados preços o segundo ou o minuto, será esse custo econômico das horas de veiculação das músicas que irá determinar quais, entre todos os gêneros ou estilos produzidos — no país ou no estrangeiro —, os que vão ser ouvidos.

É assim, pois — como no livro se demonstra —, que se fecha o círculo que, evidenciando a relação direta entre produção cultural e produção econômica no mundo capitalista, permite a projeção das leis de mercado para o campo da produção e divulgação das músicas populares. E isso porque, como dentre os muitos tipos de música existentes apenas os produzidos pelos grupos econômicos capazes de pagar sua divulgação pelo rádio e pela televisão serão dados a conhecer ao público e, por nenhuma coincidência, tais grupos econômicos são sempre as grandes fábricas de disco multinacionais, resulta daí que os únicos tipos de música passíveis de chegar aos ouvidos das maiorias serão os de escolha dessas mesmas empresas internacionais. E, por consequência, como uma das leis do capitalismo industrial, em termos de obtenção de lucro máximo, é a da busca de mercado mais amplo possível ao preço de custo de produção mais baixo capaz de ser obtido, a escolha desses tipos de música — que logo serão vendidos com a chancela de atual, de nova onda e de universal — serão aqueles que, já tendo sua produção paga no país de origem, terão a sua mensagem promovida nos países colonizados sem riscos de capital.

Assim — e esta História social da música popular brasileira deixa claro —, do ponto de vista cultural e ideológico tal realidade de dominação econômica traz para o povo dependente uma consequência cruel: é que, ao envolver a ideia de modernidade e de universalidade (quando se sabe que o que se chama de universal é o regional de alguém imposto para todo mundo), o som importado leva os consumidores nacionais ao desprezo pela música do seu próprio país, que passa então a ser julgada ultrapassada e pobre, por refletir naturalmente a realidade do seu subdesenvolvimento.

Essa espécie de vergonha da própria realidade, desenvolvendo-se principalmente entre as camadas de classe média com caráter de autêntico complexo de subdesenvolvimento, conduz, assim, a uma progressiva perda ou desestruturação da identidade cultural, o que desemboca no ridículo de, ao procurarem tais consumidores colonizados apresentar-se como modernos, só conseguirem aparecer como estrangeiros dentro do seu próprio país.

Essa é a realidade que esta História social da música popular brasileira conta: quem achar que não, que conte outra.

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ANA SARABIA

COLEÇÃO TRAZ HISTÓRIAS DE COMUNIDADES TRADICIONAIS INVISIBILIZADAS PELA URBANIZAÇÃO NA AMAZÔNIA

Julho 30, 2022
  1. MOSAICO CULTURAL

DIVERSIDADE

Estudantes universitários contam histórias sobre os costumes e as transformações dos territórios onde vivem no Pará

Anelize Moreira

30 de Julho de 2022 –

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A coleção Turma da Beira possui seis livretos que trazem narrativas ilustradas e lúdicas sobre a vida amazônica. – Divulgação projeto Contracartografias

Ideia é dar visibilidade a territórios tradicionais que convivem entre práticas rurais e urbanas

“Olá, pessoal! Tudo bem com vocês? Meu nome é Zinquê, sou aqui de Santarém do Pará, moro com a minha família lá no bairro de Mapiri. Tenho muito orgulho do lugar onde eu nasci. Eu faço parte da Turma da Beira, que é um grupo de jovens que defendem seus territórios na Amazônia. Hoje eu vou trazer para vocês uma história de Alter do Chão da Dona Jacira, que é uma grande anciã que faz parte do povo indígena Borari”.

Essa é uma das histórias que estão na coleção de seis livros produzidos pela Turma da Beira. É por meio dessas narrativas que a pesquisa científica rompeu os muros da universidade e devolveu às comunidades o resultado dos estudos feitos na academia sobre esses territórios.  

Entre os temas abordados na coleção, estão os territórios do Pará, como a Ilha do Maracujá, os assentamentos de reforma agrária de Mosqueiro, as vozes dos estudantes quilombolas e indígenas da  Universidade Federal do Pará (UFPA) e de Alter do Chão e dos indígenas que vivem na cidade. 

O personagem Zinquê, que conta a história do território Borari, é Yuri Santana Rodrigues. Ele é morador de Santarém, formado em Gestão Pública pela UFPA, onde foi bolsista, e hoje pesquisa os processos urbanos e luta de movimentos sociais da região. 

“O projeto surgiu com a finalidade de dar visibilidade para territórios tradicionais que convivem entre práticas rurais e urbanas. Ele teve a orientação metodológica de ter o protagonismo e representação daqueles e daquelas que vivem nestes territórios, pois são eles que podem falar sobre esse lugar. Dando visibilidade para as suas cosmologias, para as suas ancestralidades, resistências e modos de vida e também a importância de preservação desses territórios que estão sob constante ameaça.”

::Do quilombo para periferia: SP receberá todo mês alimentos agroecológicos das roças quilombolas::

A palavra “beira” está associada a estar à margem ou na borda. A Turma da Beira surge como uma forma de descentralizar as formas de viver e ocupar o espaço. Ana Claudia Cardoso é uma das coordenadoras do projeto e que representa a UFPA no Projeto Contracartografias. 

“Na pandemia vimos que não ia dar para fazer trabalho de campo como era imaginava inicialmente. A minha estratégia foi contratar estudantes da Universidade Federal do Pará inseridos nestes contextos. Então a pessoa precisa ser morador, como é o caso do Edgar da Ilha do Maracujá, aluno de Nutrição, ou Noel, que é morador de um município da borda metropolitana, mas que é líder de um grupo de consumo agroecológico, responsável pela história dos assentamentos de reforma agrária do Mosqueiro, em Belém, aluno da geografia da UFPA”, explica. 


Os integrantes da Turma da Beira são estudantes e pesquisadores do projeto Contracartografias que são de diferentes lugares do Pará / Karina Pamplona

A pesquisadora diz que o trabalho realizado ajuda a romper preconceitos e a brutalidade contra os povos retratados nos livros. 

“Vemos todos os dias as notícias de violência, sabemos que os indígenas têm sido aguerridos há 522 anos e eles resistem nesses territórios. No entanto, nós sabíamos que era possível mostrar uma face bela e que encanta nessas culturas. Se observamos de que forma a comunidade quilombola cuida dos rios, dos quintais, de que forma os indígenas têm conexão com esses locais, especialmente os espaços sagrados e os elementos da natureza”. 

::Programa Bem Viver discute riscos do avanço da pecuária em áreas de preservação do Pantanal::

Os livros foram desenvolvidos por meio do projeto Contracartografias da Universidade Federal do Pará em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais que se debruça sobre as diversas mudanças no espaço urbano com avanço do agronegócio, da mineração e de outros empreendimentos. 

Noel Gonzaga Bastos, é um dos bolsistas, responsável pelas histórias dos territórios de reforma agrária. “São nestes territórios que centenas de famílias que saíram das periferias da região metropolitana de Belém se engajaram na luta pela terra e agora se dedicam a produção de alimentos para autoconsumo, mas também para alimentar famílias da cidade. Falar dos assentamentos de Mosqueiro é falar de resiliência camponesa, ou seja, superação de dificuldades pela vontade de permanecer na terra. É por essa vontade que as famílias aliam produção agroecológica que garantem preservação das florestas e das águas”, ressalta.

Os resultados da pesquisa foram adaptados. Dos relatórios, passaram a ser elaborados materiais didáticos, jogos, animações e materiais audiovisuais como forma de serem acessíveis também às pessoas que moram nestes territórios. 

Serviço: Coleção Turma da Beira. Seis livretos de 38 páginas cada. Disponível para acesso gratuito em: www.contracartografias.com

Edição: Douglas Matos

“NOSSO CHÃO, NOSSA HISTÓRIA”: ATIVIDADE PELA MEMÓRIA NEGRA DO BIXIGA ACONTECE NESTE SÁBADO

Julho 29, 2022

EM SÃO PAULO

Evento é parte de mobilização pela proteção de sítio arqueológico do Quilombo Saracura, descoberto nas obras do metrô

Gabriela Moncau

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 29 de Julho de 2022 –

Movimento quer construção de um memorial e que a futura estação se chama Saracura/Vai-Vai – Paulo Santiago

Roda de conversa, contação de história, oficina de bonecas Abayomis e lanche comunitário acontecem durante a tarde deste sábado (30) no bairro do Bixiga, região central de São Paulo. As atividades integram a mobilização em defesa da preservação do sítio arqueológico do Quilombo Saracura, descoberto ali durante as escavações de uma estação da linha 6 – laranja do metrô.  

Moradores do bairro, coletivos do movimento negro, sambistas da tradicional escola de samba Vai-Vai, pesquisadores e outros ativistas criaram, então, o coletivo Mobiliza Saracura Vai-Vai. “Não somos contra o metrô, somos contra o apagamento histórico”, explicam cartazes espalhados pelas ruas do Bixiga. 

Leia também: Ato cobra preservação de sítio arqueológico do Quilombo Saracura, no Bixiga

O coletivo reivindica que seja feito um memorial no local com uma exposição permanente dos objetos encontrados, que se implemente um projeto de educação patrimonial com a comunidade e que o nome da estação de metrô seja alterado de 14 Bis para Saracura Vai-Vai. Além de um manifesto e uma petição pública, a mobilização envolve atividades relacionadas ao passado, o presente e o futuro do bairro enquanto um território de resistência negra. 

Entre elas, a deste sábado (30), que acontece ao ar livre a partir das 15h na escadaria da rua 13 de Maio. Sob o título “Bixiga negro – nosso chão, nossa história”, a roda de conversa começa com relatos dos moradores mais antigos do bairro sobre as vivências na região do Saracura.  


“Há muitos exemplos de cidades recuperando a história apagada pelo racismo e o escravismo colonial. São Paulo não pode continuar no atraso”, diz o manifesto. / Divulgação

Em seguida, Gisele Brito, do Instituto de Referência Negra Peregum e da Uneafro e Pedro Mendonça, do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade da USP, falarão sobre os impactos raciais dos projetos de infraestrutura urbana. A oficina de confecção de bonecas Abayomis e a contação de história serão conduzidas pela pedagoga Luciana Makena.

“Agora que a existência deste patrimônio veio à tona, não podemos permitir que nossa história seja mais uma vez escondida”, afirma o manifesto da articulação: “É hora de devolver às gerações de descendentes negros do bairro seus direitos à memória, à terra e à presença neste solo”.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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PARQUE MADUREIRA (RJ) PROMOVE ENCONTRO DE POETAS POPULARES COM SHOW DE GRAÇA DE GERALDO AZEVEDO

Julho 28, 2022
  1. CULTURA

AGENDA CULTURAL

Evento de quatro dias terá mais de 30 horas de oficinas, debates e shows sobre a cultura da literatura de cordel

Redação

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

 28 de Julho de 2022 –

geraldo azevedo
Um dos destaques do evento será o show de encerramento com Geraldo Azevedo, no domingo (31) – Rafael Rocha/Dedoc

Desta quinta-feira (28) até domingo (31), das 14h às 20h, a Arena Carioca Fernando Torres, no Parque Madureira Mestre Monarco, na zona norte do Rio, será palco do 4º Encontro de Poetas Populares. Um dos destaques do evento será o show de encerramento com Geraldo Azevedo.

O evento é gratuito e vai oferecer ao público uma série de oficinas, debates e shows sobre a cultura da literatura de cordel. Ao todo, 20 atrações vão compartilhar os seus conhecimentos, distribuídas em mais de 30 horas de atividades.

Leia mais: Parque Madureira comemora 10 anos no sábado com Mart’nália, Fernanda Abreu e 4 horas de shows

A programação contemplará tanto os poetas que há muito escrevem as suas rimas, quanto toda uma nova geração de cordelistas. Os dias começarão com uma oficina, cuja finalidade será aproximar o público dos fazeres dessa cultura, seguida por uma mostra visual, um bate-papo informal com poetas e violeiros, mediado pelo renomado cantor, compositor e poeta Sergival, de Aracaju.

Os bate-papos serão transmitidos e posteriormente disponibilizados online pelos perfis da Amo Cordel no Instagram e no YouTube. Haverá ainda um show para encerrar cada dia. A Associação Amo Cordel é a idealizadora do projeto.

Leia também: Para quem interessa a política de segurança pública que gera cada vez mais mortes no Rio?

“Pretendemos mostrar que a literatura de cordel permanece em constante evolução, para além de um gênero literário e fincando sólidos registros na cultura contemporânea, além de contribuir para o debate sobre a literatura e cultura popular produzidas no Brasil”, explica Rosário Pinto, poetisa e co-curadora do evento.

Quatro dias para todos os públicos 

O primeiro dia será bem focado no público infantil. Haverá, por exemplo, uma oficina de Literatura de Cordel com Severino Honorato e um bate-papo com Lobisomem e Tatiana Henrique para apresentar à garotada, usando a linguagem de cordel, figuras importantes da cultura carioca, como Dona Ivone Lara, Cartola e Jovelina Pérola Negra.

O segundo dia trará uma programação voltada aos pesquisadores e estudantes de universidade das áreas de letras, cultura, pedagogia, história e afins. Para convidar todos a olhar para o universo do cordel por dentro, a gravurista Luana Xavier fará uma Oficina de Xilogravura. O público será abrangente no terceiro e quarto dias, ideais para reunir toda a família.

O dia de atividades será encerrado com uma apresentação musical. Na quinta-feira (28), o show será do carioca Grupo Fera Show e Morais do Acordeon. A proposta deles é colocar o público para dançar até o amanhecer, elevando o forró pé de serra a um nível inusitado, com uma batida inovadora.

Na sexta (29), Lila e Mariana Secron, mãe e filha, criaram um show emocionante que percorre as trajetórias e os repertórios de pai, filho e neto ilustres: Gonzagão (1912-1989), Gonzaguinha (1945-1991) e Daniel Gonzaga, nascido em 1975.

No sábado (30), o público do 4º Encontro de Poetas Populares vai se deliciar com o som do Sexteto Sucupira, que desde 2015 realiza bailes memoráveis em casas do Rio de Janeiro e de São Paulo, recebendo, inclusive, músicos incríveis da cena instrumental brasileira e do forró.

Para encerrar o evento, no domingo (31), Geraldo Azevedo cantará sucessos em Madureira, abraçado ao violão. “Dia Branco”, “Táxi Lunar” e “Dona da Minha Cabeça” estão no roteiro de Geraldo, um dos grandes nomes da MPB que mais contribuem na difusão da música nordestina, unindo frevo, forró, xote, maracatu e baião nas suas composições.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Eduardo Miranda

84 ANOS DO FIM DO CANGAÇO: ENTENDA POR QUE DATA MARCA MORTE E NASCIMENTO DE MARIA BONITA

Julho 28, 2022

28 DE JULHO

Escritora Adriana Negreiros explica versões da origem do apelido Maria Bonita, que veio apenas após morte da cangaceira

Redação

28 de Julho de 2022 –

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Maria Bonita e Lampião posam para fotógrafo libanês-brasileiro, Benjamin Abraão, que fez registros únicos do cangaço – Foto: Benjamin Abraão

Foi uma mulher muito corajosa e a frente do seu tempo, conta escritora Adriana Negreiros.

Neste 28 de julho se completam 84 anos da emboscada armada pelas tropas volantes —  como era chamada a polícia que atuava no sertão no início do século XX —  que resultou na morte de Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, ou Maria de Déa, que, a partir deste episódio, seria conhecida como Maria Bonita.

:: Poeta, dançarino e artesão: conheça o outro lado de Virgulino Ferreira, o Lampião ::

 “A principal versão para a história é que um dos soldados que participou da chacina, ao mandar um telegrama para o comandante das forças, chamou ela de Maria Bonita, porque realmente achou ela bonita e não sabia o nome dela. E assim ficou o nome nos registros oficiais”, explica a jornalista e escritora Adriana Negreiros em entrevista ao programa Bem Viver, da Rádio Brasil de Fato. Ela é autora da biografia Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no Cangaço (Objetiva, 2018).


Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço foi lançado em 2018 pela editora Objetiva / Capa do livro/Editora Objetiva

Negreiros lembra que existe mais uma explicação pra mesma história: “A outra versão que circula é que nas redações de jornais do Rio de Janeiro já chamavam a mulher de Lampião de Maria Bonita, em alusão ao romance homônimo de Afrânio Peixoto, que também se passava no sertão da Bahia“. No entanto, a primeira é a mais aceita.

Em 28 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e mais um grupo de aproximadamente 30 cangaceiros estavam acampados na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe. O local era tido como de alta segurança por Lampião. No entanto, naquela madrugada, os cangaceiros foram surpreendidos com a chegada das tropas volantes que mataram o Rei e a Rainha do Cangaço e mais 10 pessoas que integravam o grupo.

:: Artigo | Lampião: o influencer das caatingas :: 

O episódio é tido por muitos historiadores como o fim do cangaço. “Há quem diga que o cangaço sobreviveu até 1940, quando morre Corisco [Cristino Gomes da Silva Cleto, outro importante personagem do cangaço]. Mas o movimento que ficou pra história teve a figura de Lampião como proeminente, então esse momento histórico encerra com a morte dele”, pondera Negreiros.

Rainha do Cangaço

Maria Bonita nasceu em Paulo Afonso, sertão baiano, em 1911. Logo cedo teve um casamento arranjado pelos pais, que não tardaria em acabar. 

“Ela teve algo que pouco existia na época e não era permitido para mulheres: o espírito de aventura. Logo ela deixou um casamento fracassado, saiu de casa e se juntou ao bando de Lampião”, conta a escritora. 

:: Ao lado de Lampião e Padre Cícero, Lula é figura mais presente em cordéis, diz autor :: 

“Foi uma mulher muito corajosa e a frente do seu tempo” 


Maria Bonita só recebeu este apelido após sua morte, em 28 de julho de 1938 / Foto: Benjamin Abraão

No entanto, a biografia de Maria Bonita não corrobora com a narrativa de que a Rainha do Cangaço foi uma liderança feminista. Segundo Negreiros, não há registros que apontem Maria Bonita “como uma mulher que, dentro do cangaço, defendeu questões de gênero, direitos das mulheres, lutando contra o domínio masculino”.

“Ela foi uma mulher que viveu no sertão da Bahia nos anos 1920 e 1930 num espaço onde o machismo imperava. O que não apaga, e não impede de negar, que Maria Bonita foi uma mulher muito corajosa e a frente do seu tempo”, pondera a escritora.

Entre humanidade e violência

Adriana Negreiros também pede calma nas exaltações romantizadas para a figura de Lampião. 

“O meu olhar crítico se tornou muito mais aguçado ao longo de minha pesquisa para o livro. No cangaço, houve uma série de violências cometidas pelos cangaceiros contra as mulheres, especialmente sexuais”, denuncia a escritora.

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Ao mesmo tempo, ela não duvida dos valores presentes na figura do Rei do Cangaço e em todo o seu bando. “A humanidade estava presente em todos eles, ele [Lampião] era um homem que tinha sua conduta ética e seus próprios valores morais, que eram extremamente respeitados.”

Amor no Cangaço

Por fim, Adriana Negreiros discorda que Maria Bonita teria sido a responsável por levar humanidade para Lampião. Ao longo do livro chama a atenção passagens em que Rainha do Cangaço faz embates contra Lampião e, por vezes, consegue impedi-lo de cometer gestos de crueldade contra a população local.

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Para Adriana Negreiros, Maria Bonita transformou Lampião de outra forma: “O ingresso de Maria Bonita no Cangaço fez com que Lampião experimentasse uma relação de afeto que ele não tinha tido até então. A despeito de todos os defeitos de Lampião, ele era um homem que realmente amava Maria Bonita. Entre eles havia um sentimento de amor genuíno.”

Edição: Lucas Weber

AQUILES RIQUE REIS: MENESTRÉIS DO PRESENTE

Julho 27, 2022

Por AQUILES RIQUE REIS, aquilesmpb4@esquizofia

julho de 2022 –

Hoje trataremos de Naus (selo Sonastério + Saravá Discos), álbum recém-chegado às plataformas digitais, reunindo sugestivamente os compositores Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro.

Em Naus estão registradas onze parcerias da dupla, onde, com cumplicidade e delicadeza, eles compartilham melodias, versos, vocais e instrumentos diversos com convidados especiais.

A tampa abre com “Relento”. Cantuária inicia o canto com o violão: “Viajante solitário na curva do tempo/ Vago na noite ao relento e caminho a esmo/ Sem destino, sem projeto e sem documento (…)”. Logo Baleiro assume o solo. A solidão impregna o canto. Um assobio soa como num filme de bangue-bangue, no qual o mocinho cavalga na campina, enquanto a levada clarifica a intenção dos versos (VC: violão, guitarra, percussão e palmas; ZB: baixo, acordeom, piano wurlitzer, assovio e palmas.).

“Sol da Beleza” vem com percussão. ZB sola. Na sequência da puxada, VC se achega para 3as. As palmas pontuam os versos. (VC: violão, piano, percussão e palmas; ZB: percussão e palmas; mais as participações de Dadi: baixo e Rogério Delayon: guitarras e violão pizzicato).

Macaque in the trees
[Naus] Capa do CD (Foto: reprodução)

“Naus” é uma canção iniciada por VC demonstrando belos graves: “Não sei de onde vem/ O amor que tem no meu sonho (…)”. A delicadeza prossegue na voz de ZB. Juntos, caminham como se por sobre nuvens brotadas da sonoridade do piano. Também com belos graves, ZB sola, e VC vem e se ajunta ao som para acalentá-lo e adormecê-lo e fazê-lo sonhar. As vozes puxam o final. (VC: violão, guitarra e percussão; ZB: guitarra; participação de Ryuichi Sakamoto: piano).

Em “Carona”, ZB inicia o causo: “Ganhei coragem/ Perdi dinheiro/ Peguei carona/ Com um boiadeiro (…)”. VC se aproxima em 3as, logo sola para logo voltar ao duo vocal. A moda flui que é uma beleza. A percussão suinga. Alternando o canto em duo com solos, a prosa rola. A intenção do canto dos menestréis do presente é manter a delicadeza explicita em suas vozes – o que fazem com mestria. As 3as.voltam em aflitivo lamento. Fim. (VC: violão, percussão de boca e percussão; ZB: requinto e violão. participação de Cosme Vieira: acordeom).

“Flores de Invierno” es una bela canción con versos en español. (VC: violão e percussão; ZB: violão solo; participação de Walter Costa: sampler).

Em “O Dia em que Jeremias Vaqueiro Viu o Mar pela Primeira Vez”, o violão traz a nordestinidade. (VC: violão e percussão; ZB: baixo; participação de Flavio Venturini: órgão).

Fechando a tampa, “Retirada” tem linda melodia. A simplicidade vocal aguça a delicadeza do que sai da garganta dos menestréis. Enquanto sobe a luz que ilumina a imagem, ouvem-se efeitos das vozes à distância: “(…) Noite virá/ Luzes se apagarão/ Anjos do céu/ Nunca virão”. (VC: violão, guitarra e percussão; ZB: percussão de boca).

Fato: Naus revela a liberdade do canto que vem da mente de Vinícius Cantuária e Zeca Baleiro. Traz o que lhes diz à alma. O que os emociona. E a certeza de que a música os redimirá.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

TRÊS TONS DE TRAGÉDIA E UMA NOTA DE ESPERANÇA

Julho 26, 2022

O drama da ausência — de família, trabalho e moradia — em três autores das quebradas. A rua torna-se leito dos excluídos — e o sobreviver, uma epopeia cotidiana. Mas há flores nas fendas dos muros: a solidariedade e o encantamento da arte

OUTRASPALAVRAS

POÉTICAS

Por Eleilson Leite

Publicado 26/07/2022 –

Por Eleilson Leite, na coluna Literatura dos Arrabaldes

Compartilho a leitura que fiz de três livros: Viver dói, de Cristiano Augusto (Editora Alquimia, 2020); Sob o azul do céu – histórias das ruas, de Marcos Teles (Selo Povo, 2011) e Relato de um desgraçado sem endereço fixo, de Wesley Barbosa (Ficções, 2021). A análise conjunta dos livros se dá pela abordagem do flagelo dos que não têm onde morar e as tragédias pessoais e sociais que afligem jovens e adultos em situação de rua. Ainda que tenham esse traço comum, são três histórias bem distintas, de personagens também muito diferentes entre si como são os autores, embora todos sejam da periferia da zona sul de São Paulo.

Cristiano é um jovem de 25 anos, formado em Letras, professor da rede pública de ensino. É morador do Jardim Ângela onde atua no Sarau Apoema, entre outras ações culturais. Com veia empreendedora, criou sua própria editora, a Alquimia; Viver dói, é seu segundo livro. Marcos Teles passou dos 50; Sob o azul do céu é seu livro de estreia e, ao que me consta, o único até hoje. Ligado à música, Marcos é cantor da Banda Tecora e mora no Capão Redondo. Já Wesley Barbosa fez 32 anos em março e há mais de uma década se dedica à produção literária. Seu talento foi descoberto pelo escritor Ferréz que publicou seu primeiro livro O Diabo na mesa dos fundos (Selo Povo, 2015). Seu mais recente lançamento é o romance Viela Ensanguentada (Ficções, 2022). Barbosa é de Itapecerica da Serra, município da grande São Paulo que faz divisa com o Capão Redondo, berço da literatura marginal paulistana e onde ele se fez escritor.

Por meio de três jovens – Valdir, Vander e Vinícius – os autores nos conduzem por histórias marcadas por violência, abandono, miséria e desespero, mas também de compaixão, solidariedade, amizade e superação. A busca por moradia e trabalho aliado a conflitos e desagregação das famílias formam a chave de leitura conjunta das obras nas quais o gosto pela leitura está presente em tons diferentes, mas em todas como um dado que agrega aos personagens um traço que os diferenciam de seus pares. Isso não resulta, necessariamente, em um benefício; para um deles foi o contrário.

Viver dói

O livro de Cristiano conta a história de Valdir, um jovem perto de seus 30 anos que vive numa casa minúscula aparentemente numa favela em uma região periférica. Ele divide a precária moradia com a mãe velha e adoentada a quem devota um intenso afeto. Há poucos personagens no entorno de Valdir na fase inicial da história. Ele vive de catar material reciclado nas ruas, trabalho que lhe proporciona uma renda que mal dá para pagar o aluguel a Dona Mercedes, a proprietária do muquifo, comprar os remédios da mãe e algum alimento. Nessa vida ordinária e miserável ele nutre uma paixão por Tiffany, sobrinha da locatária.

Os capítulos do livro são identificados como retalhos. São 18 partes e ao final tenta fazer uma colcha por meio de um recurso narrativo ao estilo “moral da história”: um homem tão pobre que ajudou outros mais pobres ainda e que foi vítima de quem se beneficiou de sua generosidade. Cristiano tenta uma explicação filosófica sobre utopia e distopia e defende uma crença, segundo a qual, “existe uma cura para que ninguém precise sentir dor”. O livro não revela o antídoto.

O leitor fica perplexo em face das viradas e reviradas um tanto inverossímeis na vida do rapaz altruísta. Depois da morte da mãe, Valdir é obrigado a viver na rua. A geografia não fica nítida na história. Os espaços não são identificados, tampouco o tempo. Deduzi que a história se passa em São Paulo e que Valdir morava em algum local periférico e foi viver nas ruas do Centro. Depois de perambular a esmo, instala-se numa praça onde adormece exausto. Durante a noite seu carrinho é roubado. Ele que já havia perdido a mãe e a moradia, perde agora seu instrumento de trabalho. Conhece outros companheiros de rua: Mineiro, Eduardo, Sebastião e Alberto. Mineiro, cujo nome é Ismael, é o líder do grupo. Incrédulo, alcoólatra e temperamental, ele será o ponto dissonante na utopia traçada pelo autor sobre a generosidade humana.

Faminto e desesperado, Valdir é abordado por um homem que se sensibiliza diante de seu sofrimento. Peres, um jornalista aposentado, viúvo e solitário, nutre por Valdir um sentimento paterno. Encanta-se pelas esculturas que o rapaz faz com material reciclado recolhido no lixo. Começa lhe pagando uma refeição e depois vai aumentando as bondades. Traz o rapaz para morar em sua casa, lhe dá tratamento dentário, roupas, matricula-o na EJA. Valdir é grato pela ajuda, mas não se deslumbra com a nova vida. Visita os amigos da rua com os quais gostaria de dividir o que vem ganhando; todos ficam animados com sua nova vida, exceto Mineiro que o vê como traidor da causa.

Valdir passou a obter renda do seu artesanato de elevada qualidade artística. Tão elaborada eram suas peças que, por intermédio de Peres, foram objeto de reportagem de um importante jornal. A repercussão resultou num convite para exposição que foi um sucesso. No vernissage, fez questão da presença dos parças que vivem sob as marquises. Dona Mercedes, que o despejou de casa, também foi convidada e apareceu um tanto constrangida e acompanhada de Tiffany. A glória se anunciava.

O mecenas de Valdir, porém, veio a falecer. Sem herdeiros diretos, Peres deixou seus bens para o jovem artista. No inventário havia alguma quantia no banco, uma casa e carro modestos, além de seu bem mais precioso: uma grande biblioteca. Os livros foram distribuídos entre os colegas da EJA. A casa ele deu par a Tiffany que vivia sozinha com dois filhos pequenos e com o dinheiro do carro ele ajudou Sebastião, Eduardo e Alberto a reencontrarem suas famílias. Mineiro recusou a ajuda e se manteve na rua, “onde só os fortes sobrevivem”, gostava de dizer com soberba.

Dona Esmeralda, que havia se mudado com a sobrinha para a casa do falecido jornalista, também morreu após um período de tratamento médico, cujos custos foram cobertos por Valdir. Confirmando a máxima segundo a qual não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar, Valdir teve sua casa original, para qual havia voltado por conta da permuta com que fez com a casa de Peres, foi destruída pela Prefeitura num processo de despejo de ocupação irregular. Sem casa, foi procurar Tiffany e constatou que o cafajeste do ex-marido havia voltado a viver com ela. Não havia espaço para ele naquele lar.

Às vésperas de viajar para Curitiba, onde faria uma nova exposição, Valdir entra em desespero. A vida não fazia mais sentido para ele. No seu coração, porém, não havia ódio ou rancor, somente dor e tristeza. Foi tomado pela sensação de abandono em meio à vasta metrópole que lhe cercava. Voltou para praça que havia o acolhido. Agora não tinha mais nada que pudessem lhe tomar. Adormeceu sob a lua que se ocultava entre nuvens numa noite qualquer e neste cenário seu destino novamente será traçado, mas num outro plano.

Sob o azul do céu

A história contada por Marcos Teles é bem definida no tempo e no espaço. Começa em dezembro de 1979 e termina em fevereiro de 2000. A trama toda se passa nas ruas no entorno do Mercado Municipal, no Centro de São Paulo e no interior daquele estabelecimento em meio aos seus corredores estreitos e agitados. Vanderlício, um garoto de 13 anos começa a trabalhar ajudando a descarregar caminhões que abastecem o comércio da zona cerealista ou carregando sacolas dos compradores. Ali foi acolhido por outros adolescentes que se tornaram amigos pra a vida toda: Marcos, Tininha, Ziquita e Moema, uma turma destemida que chama a atenção pelo equilíbrio de gênero. O grupo lhe batizou de Vander.

Teles contextualiza a história que se passa no período em que o processo de redemocratização se inicia. Na TV se fala em democracia que, para os pobres, só faz sentido com direitos básicos assegurados: moradia, trabalho, educação, saúde e não só o direito de votar. É o que diz uma moradora da vila periférica onde Vander mora que foi entrevistada pela TV sobre o tema; a fala daquela lúcida senhora, porém, foi cortada da matéria, frustrando os vizinhos que se amontoaram no boteco para assistir à matéria no noticiário noturno.

Tão correto era o argumento da moradora que virou uma profecia anunciada. Março se aproximava com suas enxurradas. Numa delas, toda a vila onde morava Vander foi levada pela força das águas. Barracos e seus moradores foram arrastados morro abaixo. A família toda do garoto morreu na tragédia, confirmando o que disse a sábia senhora. E a TV que não mostrou a fala dela, fez uma vasta cobertura da desgraça que se abateu num bairro da periferia da zona sul de São Paulo.

Sozinho, Vander foi morar na rua com seus parças. Passou inúmeros perrengues; testemunhou assassinatos, conviveu com malandros, prostitutas, ladrões e bêbados. Mas o garoto também fez muitas amizades naquele território marginalizado do centro da cidade. Morou por um tempo num prédio abandonado, depois no vão de um viaduto, como se fosse um rato. No convívio cúmplice, a trajetória daquelas adolescentes vai se revelando. Tininha foi abandonada pela mãe que era prostituta e alcoólatra, como os pais de Marcos que morreram de hipotermia numa praça do Centro após um coma por conta de bebida. Órfão, foi parar na Febem onde conheceu Ziquita que, como ele, praticava atos infracionais pelas ruas. Já Moema fugiu dos pais que a obrigava a pedir esmolas e deles apanhava quando não lograva êxito como pedinte.

Nesse aspecto, Vander se diferenciava. Tinha família e casa. Muito pobre, mas tinha. O pai havia abandonado a mãe com vários filhos. Conheceu o Mercadão, pois vinha pegar restos de comida com os irmãos mais velhos. Uma vida muito difícil, mas em comparação com seus amigos, era quase um conto de fadas. Vander tinha o nível básico de letramento, gostava de livros, era trabalhador e sensível e com essa personalidade angariou muitos outros amigos, todos mais velhos.

Três dessas amizades foram fundamentais para ele organizar sua vida, passar pela juventude e chegar à vida adulta numa condição boa para os padrões de um trabalhador periférico. Uma delas foi Joana Preta, uma linda mulher negra que foi trazida de Diamantina por um malandro cafetão de nome Tarzan, cuja trajetória mereceu um capítulo no livro. Livre do cretino, Joana se estabeleceu longe da prostituição, salva por Dona Vera, “um anjo das ruas”, senhora que se dedica a ajudar as pessoas em situação de rua tentando suprir a ausência do Estado.

Outro amigão foi o Sr. Fausto, um “velhinho negro” que vivia nas ruas, tocando violão e cantando canções que embalaram a juventude de Vander. Já vivendo num cômodo sozinho, ele trouxe Fausto para dentro de casa. O velho cantador estava doente. Levado ao hospital certa vez, foi detectado que precisaria de uma transfusão de sangue. Por conta dessa necessidade, Vander descobriu um macabro mercado de ilegal de sangue organizado por mafiosos orientais instalados no bairro da Liberdade.

O trio de amigos se completou com o Sr. Franco, dono de um box de fruta no Mercadão do qual passou a ser funcionário. Vander, enfim foi registrado em carteira, depois de anos de ocupações precarizadas. Com o tempo, o patrão valorizou o empenho do jovem dando a ele a condição de gerente e depois de sócio. Vander, enfim, fez a vida no Mercado Central, como muita gente ao longo dos mais de 100 anos de existência do estabelecimento que é um marco da identidade paulistana.

Os adolescentes que cresceram com Vander, todos se deram bem. Moema e Tininha se tornaram profissionais da área social e participam de ações humanitárias internacionais. Ziquita foi morar no interior, onde tem plantações de mamão; Marcos seguia a vida de trabalhador urbano e formou família como Vander que casou com Samantha, uma menina do interior de São Paulo que conheceu nos corredores do Mercadão.

No dia 8 de fevereiro de 2000, toda essa turma se junta para comemorar o aniversário de 100 anos do Velho Fausto e ao fato de estarem todos vivos, inclusive o Trovão, um vagabundo de origem italiana que perambulava na Rua da Cantareira e tinha uma voz que justificava o apelido. Certa vez ele foi dado como morto devido a um mal súbito decorrente do consumo excessivo e permanente de álcool. O fato ocorreu durante um feriado prolongado e nenhum amigo se deu conta. Engavetado no IML por dois dias sem que ninguém viesse reconhecê-lo, seu corpo foi levado para autópsia. Quando estava prestes a ser cerrado, Trovão acorda e tem seu dia de Quincas Berro D’água.

Relato de um desgraçado sem endereço fixo

Wesley Barbosa define sua obra como uma novela, gênero pouco difundido no Brasil em termos de literatura. A novela estaria entre um conto e um romance, obedecendo um elemento que é rigoroso entre um e outro que é a ficção. E aí é que está a questão. O autor adianta em dois textos de apresentação o quanto tem de biográfico seu texto. Há também um poema que adensa essa introdução, além de fotos dele próprio que o retrata como andarilho nas ruas do centro com livros debaixo dos braços. Das 52 páginas do livro em formato de bolso, a história só ocupa 30. Lido a novela e todos os textos acessórios, ficamos com a nítida percepção de que Weley é uma persona um tanto autocentrada.

Na novela, Vinícius, alter ego do autor, é o centro de tudo e tudo em sua volta dá errado. Ele é um looser que, dado o gosto pela leitura, agrega um charme de intelectual, algo um tanto inusitado em vista do contexto de pobreza em que vive numa favela em bairro periférico. O autor não situa sua história no tempo e no espaço, mas, pelos paratextos é possível deduzir que se trata da cidade de São Paulo onde ele se desloca da periferia da zona sul para a periferia da região central.

Vinícius tem cerca de 19 anos e é um nem-nem: nem estuda, nem trabalha; concluiu o Ensino Médio e está desempregado. É o que as pesquisas de emprego chamam de desalentado, mas, par sua mãe e seu irmão mais novo, ele é um vagabundo mesmo. Os três vivem num cubículo. O pai dele abandonou a família. Dona Tereza teve que dar conta dela e dos dois filhos sozinha, traço social recorrente nas três histórias aqui comentadas, o que denota o quanto tal situação é também comum na vida real nas periferias, algo que pode ser comprovado estatisticamente pelo cadastro dos programas sociais de transferência de renda, como o extinto Bolsa Família.

A mãe de Vinícius trabalha como empregada doméstica. Ele e o irmão ficam em casa. A diferença é que o adolescente de 13 anos anseia por trabalhar; seu sonho é ser empacotador no mercado do bairro. Cheio de iniciativa, o menino se gaba de ter conseguido uns trocados ajudando na mudança de uma vizinha. Vinícius vê com desdém o ímpeto de seu irmão e ainda alega que ele não será remunerado pela mulher, esposa do pastor, tida como caloteira na quebrada. Essa postura cria uma tensão permanente na casa. Dona Tereza vive a cobrar enfaticamente seu primogênito que passa o dia lendo e escrevendo compulsivamente. O sonho dele é se tornar um escritor, algo que, de certo modo, já julga ser, mas para a mãe ele é um vadio incorrigível.

O fato é que a situação fica insustentável e Dona Tereza se vê na obrigação de colocar o rapaz para fora de casa. Resignado, Vinícius caiu no mundão carregando mais livros do que roupas e na sua mochila. Chega na região central e passa por uma situação laboral semelhante a que teve Vander e, assim como Valdir, viveu na rua. Conheceu um português que lhe apoiou dando trabalho e a indicação para procurar a Pensão da Dona Martha, onde enrolou o que pode a proprietária a quem dizia ser funcionário de uma empresa. Mas ele passava o dia na biblioteca pública lendo literatura russa.

O último capítulo da novela se passa todo na pensão e é muito bem escrito. É perceptível a influência dos escritores russos no texto, especialmente Tchekhov, dada a capacidade de síntese que demostra ter para caracterizar personagens com os quais convive na espelunca. São três os moradores que interagem com Vinícius. Um é o José Amaral, um motorista de ônibus corpulento, com corte de cabelo típico de policial, “olhos negros e pequeninos”. Há o Martins, um estudante universitário que não trabalha, mas é mantido pela família que mora no Interior. Completa o elenco da novela a faxineira Maria Helena, uma mulher quarentona que se vestia como uma periguete e se insinua para o rapaz.

A Dona Martha ele não descreve o perfil físico, mas numa passagem muito emblemática Wesley, com esmero narrativo, nos permite imaginar como ela é: “Martha, proprietária do local, estava recostada em sua janela de ferro me lançando um olhar questionador, provavelmente pensando em uma maneira de se ver livre de mim, ou me despejar do quartinho que ela tanto zelava de uma maneira que despertasse o bem-estar aos olhos de seus inquilinos”.

Vinícius vai enrolando Dona Martha, conseguindo se safar do despejo em virtude da pontualidade dos demais moradores da Pensão que acobertam tacitamente o inquilino inadimplente. Segue sem emprego, nem endereço fixo, passando o tempo na biblioteca e enchendo a mochila de escritos que um dia hão de ser publicados e lidos. Enquanto isso ele se via diante do “demônio” do atraso: três meses sem pagar o aluguel.

Até no lixão nasce flor

Como dito no início, as histórias aqui comentadas têm traços comuns embora sejam contextos e personagens bem distintos entre si. São histórias de ausências (família, trabalho, moradia); três tragédias, e uma esperança. Só um deles pode dizer que a favela venceu. Vander, de menino de rua biscateiro, virou trabalhador assalariado, gerente e patrão quando passou a ser sócio de um box no Mercadão que é um bom negócio. Constituiu família e manteve os amigos por perto, todos eles com vida resolvida.

Vinícius teve um caminho inverso. Teve uma infância pobre, mas debaixo de um teto sob os cuidados da mãe e em companhia do irmão. Um núcleo familiar que foi esfacelado em virtude da falta de trabalho para a juventude periférica e do excêntrico gosto por leitura do rapaz desempregado, hábito que o distanciava dos desafios e responsabilidade da vida real e dos amigos também que o considerava maluco. Expulso de casa, viveu como adulto aquilo que Vander passou na adolescência. Ele tem um sonho, mas parece inerte diante dele.

Valdir conseguiu fazer o giro de 360 graus; literalmente voltou para o ponto de partida e pior do que estava. Vivia num cômodo e cozinha alugado na periferia junto com a mãe que faleceu. Trabalhava por conta como catador de reciclado; foi despejado. Viveu nas ruas do centro. Conheceu uma pessoa que o tirou dessa situação lhe dando casa, comida, roupa lavada, estudo e profissão de artista. Herdou a grana do mecenas que subitamente morreu; distribuiu o dinheiro entre os desvalidos; deu a casa para a garota que amava e voltou para a quebrada de onde foi despejado pela Prefeitura retornando às ruas, sem família, moradia, trabalho e o amor de sua vida.

As trajetórias de Vander, Vinícius e Valdir parafraseiam a tese de Engels na qual o parceiro de Marx discorreu sobre a origem da família, da propriedade privada e do Estado, demonstrando serem esses os três pilares que sustentam a sociedade capitalista. As histórias que lemos aqui, por sua vez, demonstram como a ausência desses princípios inviabiliza a vida de um jovem pobre da periferia. Mas, as mazelas narradas trazem também um lampejo de encantamento por meio da arte.

Vander gostava de ler. Valdir era artesão e teve suas esculturas em material reciclado reconhecida pelo circuito de arte. Já Vinícius não teve na novela o destino que almejava, mas Wesley, seu criador, se tornou escritor talentoso e prestigiado, descoberto que foi pelo consagrado Ferréz, cuja origem se assemelha a dele. São histórias que demonstram que a arte é como aquela flor capaz de nascer na fenda do muro ou no lixão como diz o Racionais MC’s. Ela é a nota de esperança em meio à tragédia em aliteração: Vander, Valdir e Vinícius.

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RAINHA DA CIRANDA CELEBRA RETORNO E DIZ QUE SONHO NÃO TERMINOU:”QUERO SABER ATÉ ONDE LIA VAI”

Julho 25, 2022

DIA DA MULHER NEGRA

Em entrevista ao Brasil de Fato, Lia de Itamaracá relembra trajetória e reafirma importância da cultura popular

Pedro Stropasolas

Brasil de Fato | Recife (PE) | |

 25 de Julho de 2022 –

Lia na Praia de Jaguaribe, em Itamaracá (PE); estátua de Iemanjá é um dos locais preferidos para descansar – Pedro Stropasolas

Na Praia de Jaguaribe, uma das onze orlas da Ilha pernambucana de Itamaracá, a inspiração da Rainha da Ciranda vem das águas. 

“Eu me sento na praia, escrevo minhas músicas, a onda vem apaga, eu escrevo de novo, quando a onda vai, que volta, a música tá pronta”, revela Lia de Itamaracá, a mais célebre cirandeira do país.

Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco, Lia recebeu o Bem Viver na TV, uma produção do Brasil de Fato, na Embaixada da Ciranda, uma casa simples e confortável, na orla da praia, que simboliza o carinho pela Ilha onde nasceu, e que a formou mestra.

Entre os temas da entrevista, estão a trajetória de Lia, a história da ciranda, e a resistência de manter e levar adiante a cultura popular em meio ao governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Não tem nada perdido e nem desmanchado. Eu quero ver até onde é que Lia vai. Eu quero ver até onde eu posso chegar com esse sonho, com essa maravilha que é a música, com tudo que eu tenho vontade de fazer”, argumenta.

Lia e a ciranda

O mar de Lia, ou Maria Madalena Correia do Nascimento, também é guiado por outra rainha, a das águas, Iemanjá. “Ela me protege e não me despreza. Nunca me abandonou”.

Lia sempre viveu na Ilha, desde o nascimento, em 12 de janeiro de 1944. O início artístico, nas rodas de ciranda, se deu aos 12 anos de idade. Foi a única, dos 22 irmãos, a se dedicar à música. 

“Com 19 para 20 anos, assumi a responsabilidade de gravar, e disso aí tudo, de sair para o exterior, para o sul do país, levando a música do nordeste”, relembra a cantora, que conquistou o país a partir de 1977, com o lançamento do LP Lia de Itamaracá – A rainha da ciranda.


É no mar onde Lia de Itamaracá busca inspiração para as cirandas / Pedro Stropasolas

Antes do sucesso, a ciranda não era muito conhecida, nem mesmo em Itamaracá. O fascínio popular na Ilha ficava mais a cargo de ritmos como o cavalo marinho, o coco de roda e o fandango. 

A ciranda, na opinião dela, surge como uma forma de combater preconceitos, principalmente o racismo.

“A ciranda não tem preconceito. Dança preto, dança branco, dançam todos.  Não sei porque existe esse preconceito tão besta, tão horroroso e tão sem sentido. Nós somos todos iguais”, analisa

Raízes na Ilha

A Embaixada da Ciranda, em Itamaracá (PE), é hoje um memorial permanente sobre a história de Lia, repleto de livros, fotografias, figurinos, e muitos desenhos infantis – que pelo destaque que ganha na entrada, se imagina que desperta em Lia profunda admiração. 

O espaço também é um ponto de encontro para Lia observar o movimento da vizinhança, de onde se abastece com boas prosas. A mestra cultiva o hábito de caminhar pelas ruas para rever amizades, e comprar o próprio peixe nos ranchos e restaurantes de Jaguaribe. 

“Eu não posso abandonar a minha ilha, porque é aqui onde eu me inspiro, é aqui onde eu nasci, é aqui onde estão minhas raízes, minha família, minha comunidade, está todo mundo aqui. Eu não posso abandonar a minha ilha de jeito nenhum. Eu vou, faço o meu showzinho fora e volto”. 

Hoje, em Itamaracá, além da Embaixada, a cantora mantém um sonho maior: a criação do Centro Cultural Estrela de Lia. O projeto, que esbarra na falta de incentivo do poder público, visa promover apresentações e oficinas de ciranda, além de atividades pedagógicas para a comunidade.

“Tem quem procure um pedaço de pão e não acha”

Sua relação com as famílias do local não foi construída apenas por meio da música. Em paralelo à carreira artística, Lia era merendeira de uma escola estadual, onde trabalhou por quase três décadas.

Deste contato mais íntimo, foi percebendo os efeitos perversos da fome, realidade que se conecta com a história da própria família. 

“Por onde eu ando, sento na mesa, vejo aquela prato de alimentação. Depois que eu me alimento, eu penso: ‘eu já me alimentei, mas será que minha família se alimentou?’, questiona. 

“Você está com a sua barriguinha cheia, mas tem que olhar se os outros se alimentaram também. Tem quem procure um pedaço de pão e não acha. É cruel”, completa. 


Muitas crianças da comunidade tem Lia como um grande exemplo de acolhimento / Pedro Stropasolas

A reflexão sobre a fome é interrompida quando lembra das famílias atingidas pelas chuvas na Região Metropolitana em Recife, que deixou 128 vítimas e milhares de desabrigados.

“Cada dia vem um dilúvio d’água, é família se perdendo. Não sei até onde vai chegar isso não. Já houve essas tempestades, mas não foi tanto assim. Muitas pessoas, crianças embaixo da terra, sem poder se movimentar. A gente sofre da mesma forma”.

“O que vai fazer esse povo sem nenhum capital? Sem condição de fazer nada. Perderam tudo. A vida, a família. Eles querem uma moradia digna. Se estão embaixo das barreiras é porque não têm para onde ir”, lamenta Lia.

Pandemia 

Na pandemia, enquanto permanecia em isolamento, não parou de trabalhar: fazia vídeos, lives, fotos, e o que lhe fosse permitido. Mas admite a falta que sentia do contato mais próximo com os fãs.

“Quem é que não tinha saudade dos palcos? Todo mundo tinha, de estar no seu palco, na sua terra”, opina.

Com o avanço da vacinação, aos poucos, ela foi retomando a agenda de apresentações. O repertório mais recente está no disco Ciranda Sem Fim, construído em parceria com DJ Dolores. 

O álbum, lançado em 2019, é uma viagem para além da ciranda, e também se aprofunda na cultura pop. Nele, a rainha canta boleros e cúbicas, populares em outros países da América Latina, como a Colômbia.

A obra é uma constatação de que Lia, aos 78 anos, continua a se reinventar. 

“Aonde eu vou o público é dez. Se for para o teatro, o teatro está cheio, é casa lotada. Eu sou povão. As crianças, adultos, pescadores, tudo adora o meu trabalho”, conta.

Mestres da cultura popular

Mas apesar da animação, ela ainda teme os efeitos do vírus que se espalhou pelo mundo. “Eu me preparo para não pegar esse vírus, porque é muito horroroso ele e quanto mais vacinar melhor”, desabafa.

Em relação aos mestres da cultura popular, Lia lamenta a falta de incentivo, principalmente com a paralisação dos eventos durante a pandemia. 

“Para esses mestres que têm famílias, que têm crianças em cama de hospital, sem ter um auxílio digno para levantar essa família. Como é que a nação pode chegar a essa família? 

“Tem um monte de cirandeiras em Recife. Muitas. E eu venho carregando isso tudinho comigo, incentivando elas”, completa


Lia recebeu o título de Cidadã Paulistana na Câmara de São Paulo, em projeto de honraria apresentado pela Mandata Coletiva Quilombo Periférico. / Pedro Stropasolas

Atuação política

Recentemente, Lia recebeu o título de Cidadã Paulistana. O projeto de honraria aprovado na Câmara de Vereadores de São Paulo foi uma iniciativa do mandato coletivo Quilombo Periférico.

Referência e símbolo de luta para outras mulheres, a cantora organiza “a grande ciranda”  da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que acontece anualmente na Paraíba, no dia 8 de março.

O evento, que ocorre na região de Borborema (PB), reúne agricultores e agricultoras de todo o Nordeste, para denunciar as violações de direitos humanos e violências promovidas contra as camponesas.

Em junho, Lia também foi uma das artistas a se apresentar na primeira edição da Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária, que reuniu mais de 1.200 agricultores e agricultoras nordestinas, em Natal (RN).

Outras Lias

O posicionamento político e a forma de se relacionar com o mundo também é construído em outras áreas, como no cinema. “Eu não sou só uma cirandeira. Eu sou uma intérprete também. Sou uma atriz. Tenho vários filmes que participei”, comenta. 

A lista de filmes é mesmo extensa: Paraíba, Mulher MachoRiacho DoceRecife Frio; Sangue Azul; e a atuação que Lia lembra com mais afeição, a de Dona Carmelita, em Bacurau, de Kléber Mendonça Filho.

“Gostei, amei. E ainda estou com Bacurau na cabeça, ele só não faz voar”, relembra a cantora.

A dedicação aos outros universos faz do sonho de Lia algo contínuo, que não se restringe às conquistas que a música proporcionou. É algo maior: vai no caminho da luta por um mundo mais inclusivo, brincante, e solidário. 

“Daqui para frente, os mestres da cultura não devem se curvar. Devem levantar a cabeça, levantar a bandeira e gritar: eu sou mestre, e vou adquirir o que eu quero. Eu não me curvo, eu não paro, eu grito, eu amo o que eu faço”, finaliza a cantora.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

2° CONCURSO NORDESTINO DE FREVO HOMENAGEIA GETÚLIO CAVALCANTI E CONVIDA ARTISTAS A COMPOR

Julho 24, 2022
  1. CULTURA

FREVO

A competição premiará os melhores frevos de Rua, de Bloco, Canção, Livres Instrumentais; bem como intérprete e arranjo

Lucila Bezerra

Brasil de Fato | Recife (PE) |

 24 de Julho de 2022 –

O compositor Getúlio Cavalcanti, conhecido pelo frevo “O Último Regresso”, é o homenageado do evento – Divulgação

“Para um compositor, meu Deus do céu, você saber que a música em todo o lugar que chega é executada, todo mundo canta, é a glória”, disse o cantor e compositor Getúlio Cavalcanti, de 80 anos, dos quais 60 foram dedicados ao frevo. Ele é autor da música “O Último Regresso”, um frevo de bloco lançado em 1981 e regravado por mais de 50 artistas. 

A composição se tornou uma marca dos blocos pernambucanos, principalmente do Bloco da Saudade, no carnaval do Recife. Este ano, Getúlio é o homenageado da segunda edição do Concurso Nordestino de Frevo, uma realização da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) que incentiva cantores e compositores de toda a região a inscreverem frevos inéditos.

Leia: História e diferentes tipos de frevo são tema do Revista Brasil de Fato Pernambuco

“No concurso do ano passado, tivemos algo em torno trezentas inscrições. Foram trezentas pessoas pensando e produzindo o frevo na contemporaneidade. Do ponto de vista da produção, a realização de um concurso é colocar na pauta esse tema e colocar as pessoas para produzirem, incentivar essa produção”, destacou o bibliotecário e chefe da Divisão do Centro de Documentação e Pesquisa da Fundaj, Lino Madureira, fala das expectativas da fundação.

Sobre o concurso

A competição deve premiar os melhores nas categorias Frevo de Rua, Frevo de Bloco, Frevo Canção, Frevos Livres Instrumentais, Intérprete e Arranjo. Além disso, trouxe o lançamento do livro “Ao Compasso do Frevo” e de um álbum com as composições da edição anterior.

“É importante essa consolidação, tem muita coisa para ser incentivada, muitos gêneros, mas estamos cumprindo essa pauta importante para a cultura, para a região de uma temática que perpassa por todo o Nordeste e também por todo o Brasil”, avalia Lino Madureira.

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O frevo pode falar de tudo

Na última edição, Getúlio, hoje homenageado, foi vencedor na categoria frevo de bloco com o lançamento da música “É Fantasia”. Para ele, o ritmo pode ser o que os compositores e compositoras quiserem fazer dele. 

“Muitos críticos falam que a música pernambucana, que o frevo pernambucano, ele tem uma temática de saudade, de tristeza e de uma paixão sofrida, essa coisa toda. Eu sou de um lado de que o frevo, as letras podem falar o que quiserem. Existe espaço para você falar de tudo o que for necessário. Eu mesmo gosto de fazer elegias, assim como gosto de falar de entidades que fazem parte do nosso histórico musical”, acredita o compositor.

Quer saber mais?

Para o concurso, foi lançado o site onde estão disponíveis gratuitamente o e-book da primeira edição e as músicas. Em breve, a fundação deve disponibilizar o edital para as inscrições. As obras premiadas vão integrar o acervo do Centro de Documentação e de Estudos da História do Brasil (Cehibra), o maior acervo fonográfico da região Nordeste.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Elen Carvalho

FIM DE SEMANA COM ATIVIDADES CULTURAIS NO DF; CONFIRA OS DESTAQUES

Julho 23, 2022

AGENDA CULTURAL

Uma das atrações é o espetáculo “Abra-me com Cuidado”

Pedro Caroca*

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

 23 de Julho de 2022 –

Espetáculo Abra-me com cuidado em cartaz nos dias 23, 24, 29, 30 e 31 de julho – Foto: Fernanda Resende

O Empório Cultural da Asa Norte recebe o espetáculo “Abra-me com Cuidado” do Coletivo Teatral Poetizar.

Com direção de Rômulo Mendes, o espetáculo conta a história de amor entre a poetisa americana Emily Dickinson e sua cunhada Susan Gilbert, por meio das mais de 800 cartas e quase duas mil poesias que Dickinson escreveu durante o período de 25 anos que ficou em seu quarto.

Sentimentos silenciados, em uma época em que o tradicionalismo, o machismo e a homofobia ditavam os costumes e comportamentos da sociedade. E se pudéssemos preencher essas lacunas? E se pudéssemos imaginar o que levou Emily a se prender em seu quarto por 25 anos? 

Ambientado em um centro criado para fomentar a integração das diversas linguagens artísticas, o Empório Cultural visa proporcionar ao público um novo contato com as artes, oferecendo cursos regulares de teatro musical, teoria musical, canto, instrumentos, dança contemporânea, jazz funk, sapateado, entre outros.

Espetáculo Abra-me com cuidado

Dias 23, 24, 29, 30 e 31 de julho

Sábados e domingos às 20h

Ingressos R$ 40,00 (à venda no Sympla)

SCRN 706/707, Bloco D, Loja 06, Asa Norte – Empório Cultural (Teatro Anna Noceti)

:: Confira a programação do Festival Latinidades ::

Teatro Lambe-lambe


As Caixeiras Cia. de Bonecas promovem uma série de atividades até agosto / Foto: Tatiana Reis

Neste sábado, 23 de julho, As Caixeiras apresentam quatro espetáculos, “Amor- Título Provisório e Inalterável”, “Amor de Cão”, “Revoar” e a “Trilogia Enquanto Houver Amor Eu Me Transformo”. O evento acontece às 15 horas, na praça Zumbi dos Palmares, no Setor de Diversões Sul.

:: Companhia precursora de teatro Lambe-lambe no DF completa 15 anos  ::

As apresentações têm duração de 2 a 6 min, a depender da peça. As obras serão apresentadas ao longo de 1h30. Todas as apresentações são gratuitas e de classificação indicativa livre para todos os públicos.

Teatro Lambe-lambe

Sábado – 23 de julho (evento gratuito)

Às 15 horas

Praça Zumbi dos Palmares, Setor de Diversões Sul

Melhor idade


Espetáculo “Outra História de Amor” em cartaz nos dias 23 e 24 de julho, entrada gratuita / Foto: Nath Britto

Neste final de semana Taguatinga poderá conferir o espetáculo “Outra História de Amor”, no Teatro Sesc Paulo Autran.

Com direção e dramaturgia de Zé Regino e elenco formado por Ruth Guimarães e Humberto Pedrancini, a peça fala sobre a quebra de estigmas do envelhecer por meio de um casal de idosos juntos há 45 anos.

Conflitos e descobertas de um casal de mais de 70 anos que começa a refletir sobre o tempo, sobre as relações amorosas, sobre a vida e sobre a morte. Ruth e Humberto dão vida a um casal que em uma etapa natural da vida – a velhice – começa a desconstruir estereótipos por meio de uma história de amor.

Com entrada franca e recursos de acessibilidade para pessoas surdas (libras) e cegas (audiodescrição), o projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

Espetáculo “Outra História de Amor”

Dias 23 e 24 de julho (evento gratuito)

Sábado e domingo às 20h

CNB 12, Área Especial 2/3, Taguatinga Norte – Teatro Sesc Paulo Autran

Culturas populares


Exposição reúne fotografias de Davi Mello sobre culturas populares no DF / Foto: Davi Mello

Neste sábado, 23, será lançada a exposição fotográfica PAREIADA – Memórias Brincantes das Culturas Populares do Distrito Federal, no Espaço Cultural Renato Russo.

A exposição apresenta 30 imagens registradas pelo fotógrafo Davi Mello, nos últimos seis anos, a partir da convivência, amizade e pesquisa imagética de Davi junto a grupos, artistas e mestres brincantes.

O lançamento acontece de 15h às 18h, com roda de prosa e show com o grupo As Fulô do Cerrado. Depois, a exposição fica aberta para visitação até 23 de agosto, sempre de terça a domingo.

Exposição Pareiada

Sábado, 23 de julho  (evento gratuito)

15h às 18h

Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul)

Fotografia


Mostra traz imagens fotográficas que foram realizadas a partir de 2004 até 2020 / Foto: Kazuo Okubo

Em cartaz no Espaço Cultural Renato Russo a mostra “Vê Nus”, do fotógrafo Kazuo Okubo.

Com curadoria de Rosely Nakagawa, a mostra traz imagens fotográficas que foram realizadas de 2004 até 2020 com voluntárias que autorizaram o fotógrafo a retratar e revelar suas intimidades anonimamente.

São 58 fotografias de mulheres que participaram dos ensaios fotográficos voluntariamente. “Sei que é uma grande ousadia revelar a intimidade das pessoas dentro de uma cultura conservadora, e que encontraríamos muitas dificuldades no caminho”, afirma Kazuo Okubo.

Para o projeto “Vê Nus”, que tem apoio do FAC DF, Kazuo Okubo utilizou uma técnica de superexposição da imagem. High-key é uma técnica que usa iluminação excepcionalmente brilhante para reduzir ou eliminar completamente as sombras na imagem. 

Exposição Vê Nus

Até 28 de agosto (evento gratuito)

De terça a domingo, das 10h às 20h

508 Sul, Asa Sul – Espaço Cultural Renato Russo (Galeria Rubem Valentim)

Luminosidade


Exposição fica em cartaz até 30 de julho / Divulgação

Últimos dias para conferir a mostra coletiva “Sob a Luz Azul” na Galeria Pilastra, localizada no Guará.

“Sob a Luz Azul”, remete à onda luminosa que ecoa das telas de celulares e computadores. Com o afastamento social e a virtualização das relações, praticamente todas as trocas sociais foram feitas sob a luz azul durante o ano de 2020. 

A exposição, composta por obras do grupo de acompanhamento crítico realizado durante 2020 sob orientação das curadas Gisele Lima e Mariana Destro, convida a refletir a sobre este momento e como fomos afetados ao nos relacionarmos com o outro, com nós mesmos, nossa história e nossa casa.

Participam da mostra Andresa Augstroze, Charles Cunha, Eduardo Moraes, Fabiana Barbosa, Fernanda Azou, Gabriela Titon, ISADORA, Jadson Rocha, Jamila Maria, Júlia Aiz, Lídice Silveira, Ludmila Lima de Morais, Marcelo Camara, Patrícia Abbott, Taís Koshino e TAIOM.

Exposição Sob a Luz Azul

Até 30 de julho (evento gratuito)

Quinta e sexta, da 10h às 18h, sábado das 14h às 18h

SMBS 01, Lote 1, Loja 01, QE 40, Guará II – A Pilastra

Mulheres Negras

Casa Jasmim promove Semana da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha até 30 de julho com programação diversa, no formato presencial e online.

O evento é em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho. A programação conta com diversas atividades culturais, e oficinas de autocuidado tem apoio da Secretaria de Economia Criativa do Distrito Federal.

Mais do que celebrar a história e a importância de personalidades femininas que lutaram contra o racismo, sexismo e misoginia na sociedade, a iniciativa também tem como objetivo chamar atenção para a importância do autocuidado com a saúde física, emocional e psicológica das mulheres negras afrolatinas.

Serão seis dias de evento com diversas atividades culturais como concurso de fotografia, apresentações musicais, feiras, sessões de cinema, aulas de yoga, mesa de debates e oficinas de autocuidado. O público-alvo são mulheres profissionais da saúde, educadores, artistas, estudantes das áreas das ciências sociais aplicadas e moradoras do Distrito Federal e Entorno.

Semana da Mulher – Jasminas Cultural 

De 25 a 30 de julho (evento híbrido e gratuito)

Programação completa

Domingo no Parque


Programação acontece neste domingo (24), a partir das 14h30, em São Sebastião / Foto: Nanah Farias

Acontece neste domingo (24) a segunda edição do “Domingo no Parque – Revitalização, já!”, no Parque Distrital de São Sebastião, também conhecido como Parque do Bosque. A programação ocorre na área próxima ao antigo anfiteatro e à oficina da natureza. A entrada é gratuita.

“Já tivemos uma boa resposta no primeiro processo de revitalização do Parque, em 2010, quando tivemos menor índice de violência e o parque ecológico deixou de ser depósito de lixo e entulhos, para ser ocupado pela comunidade, com arte, cultura, esporte e lazer. Agora, reivindicamos as melhorias previstas no Plano de Manejo do Parque”, defende Isaac Mendes, coordenador geral do Movimento Cultural Supernova.

Entre as reivindicações da comunidades estão a revitalização do espaço esportivo (pista de cooper, quadra poliesportiva, campo de futebol), do espaço cultural (anfiteatro e oficina da natureza), construção de uma sede administrativa, de quiosques, bicicletários, trilha educativa, torre de segurança, horta comunitária.

A programação do Domingo no Parque trará muita literatura, com poesia e performance de Codo e Rapoza Suj, além da participação de Devana Babu com a banda Niilismo. A Quadrilha Santo Afonso trará a alegria e o balanço dos festejos juninos e haverá apresentação musical de Carol Bastos e Bia Estiano. Além de feira literária, artesanato e comida.

A Ação Cultural Domingo no Parque será realizada entre julho e novembro, com uma edição mensal, sendo exceção o mês de julho, de férias escolares, quando acontecerão duas edições.

Domingo no Parque

Domingo, 24 de julho (evento gratuito)

A partir das 14h30

Parque Distrital de São Sebastião (Parque do Bosque)

Segue em cartaz

Ateliê aberto da exposição “Um Dia Abri os Olhos e Era Brasília”

Durante o mês de julho (evento gratuito)

segundas, sábados (exceto no dia 30) e no dia 22 (sexta), das 14 às 18h

SHTN Trecho 1 – Museu de Arte de Brasília (MAB)

Programação infantil do Liberty Mall

Até 30 de julho (evento gratuito)

Sábados às 14h (oficinas) e 15h (teatro)

SCN Quadra, 2 Bloco D, Asa Norte – Shopping Liberty Mall

Mostra Naturezas mortas, retratos e paisagens

Até 31 de julho (evento gratuito)

Terça a sábado, das 14h às 22h e domingo, das 12h às 20h

SGCV Lote 22 – Casapark 

15 anos de As Caixeiras Cia. de Bonecas

Até 06 de agosto (evento gratuito)

Programação completa

OSDRAMÁTIKOS

Até 29 de novembro

Terças-feira às 20h

Ingressos a partir de R$ 10,00 (pelo Sympla)

SEPS 713/913, Via W4 Sul, Asa Sul – Teatro Sesc Garagem

Programa Portfólio Sala Brasília

Até 07 de dezembro (evento online gratuito)

Quartas-feiras às 20h30

Transmissões pelo Youtube

Cineclube Raimunda

Todas às quartas, às 15h e 19h30  (evento gratuito)

Informações: (61) 99654-7815

Rua Hugo Lobo Quadra 46 Casa 790, Planaltina – Mini Teatro Lieta de Ló

Cine Le Corbusier

Permanente  (evento gratuito)

Todas as quartas-feiras, às 19h

SES Av. das Nações, Quadra 801, Lote 04, Asa Sul – Embaixada da França no Brasil

*Pedro Caroca é ator, produtor e gestor cultural na V4 Cultural é colaborador do Brasil de Fato na editoria de Cultura

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino