Archive for Dezembro, 2016

O bravo cinema que antecede o golpe

Dezembro 31, 2016

Em 2016, filmes como “Aquarius” e “Que horas ela volta” expressaram esperança num novo país. Neles repousa inspiração para resistir a quem nos exige humildade obrigatória.

Por Juliana Magalhães

Em um ano especialmente conturbado para a história recente do Brasil, ainda há muitas dificuldades em explicar os acontecimentos presentes sob uma limpidez inquestionável e ainda mais difícil interpretar tais explicações complexas sem um aglomerado de dúvidas que esvoaçam sobre a cabeça. Nos momentos iniciais e angustiantes do pós-golpe, vê-se o extermínio dos direitos sociais conquistados até aqui cada vez mais próximos. Há muito o que refletir sobre a miséria dos capítulos que se aproximam do tangível e que irá ruir as estruturas – ainda imaturas – de ascensão social das regiões mais pobres do país. E junto com a ruína dessa estrutura, vai-se também um bem imaterial construído com os programas sociais que impulsionaram o direito à dignidade: a autoestima – ainda fragilizada – dos brasileiros mais pobres.

Em meio às cinzas do céu de Brasília que expande para todos os céus do país e uma óbvia crise de humanidade, filmes grandiosos para o cinema brasileiro que imprimem traços do nosso tempo surgem no ano de 2015 e 2016: por exemplo Que horas ela volta, de Anna Muylaert e Aquarius, de Kléber Mendonça Filho. É o cinema do natural absurdo: filmes que nos apresentam forças que se colidem e nos fazem refletir, sobretudo, sobre o valor das pessoas e suas variáveis. Anna Muylaert nos apresenta esse desequilíbrio que sustenta e reflete os golpes diários: a ausência total da autoestima de uns e a presença excedida em outros. Esses “outros” que por possuírem essa característica tão acentuada, ainda consideram o direito à autoestima um artigo de luxo, que de forma alguma pode ser facilmente acessível para “qualquer um”.

Anna Muylaert recriou um espelho dramático do Brasil ao desafiar às leis físicas que diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. A cineasta apresenta esse confronto tácito como uma guerra fria entre esses dois corpos biologicamente e fisicamente iguais, mas de berços completamente diferentes. Um corpo é nascido no Nordeste do Brasil – que realiza esse movimento Nordeste – SP desde o século 19. Há nesse corpo uma humildade obrigatória e imposta nas entrelinhas por estar “invadindo” um território que não lhe pertence. E há outro corpo.  Esse corpo que é da elite da cidade de São Paulo – essa figura imponente e historicamente superior que “abre as suas portas” para os brasileiros que saem de seus estados em busca de uma vida melhor.

Vem deles essa quase exigência de que o invasor de terras alheias seja extremamente modesto e reconheça o seu lugar no mundo. Que para ser mais confortável, deve ser precisamente abaixo dele. No quarto dos fundos, longe da inteligência, das universidades, das obras de arte, do sorvete mais caro e da autoestima.  Ao “invasor” de bom senso, cabe o exercício diário de se olhar no espelho e reconhecer a pequenez de sua existência diante da grandeza do patrão.  Cabe esse respeito genuíno às leis da supremacia.

O incômodo é gerado quando uma nordestina se comporta como gente “normal” e subverte a ordem do cada lugar na sua coisa. Essa nordestina tem um problema irritante e estranho: é segura demais de si. Ela acha que tem valor (mas quem ela pensa que é para achar que tem?). Ela vai tentar entrar numa universidade concorrida. Ela é inteligente. Ela gosta de arte.

Como ela ousa ser tão suficientemente boa?

O cinema que antecedeu o golpe tem algo importante a nos dizer sobre os últimos anos: esse corpo que nasce, cresce e se desenvolve nos “subúrbios” brasileiros e que conquistou direitos básicos nos últimos anos está começando a ocupar lugares jamais imaginados – nem por eles, e nem pelos “outros”. Para esses “outros”, é inimaginável uma situação em que um “suburbano” tenha o mesmo nível – ou um nível superior – de instrução, inteligência ou autoestima que ele. É preciso possuir aquele ar acuado – sem nenhuma poesia – de quem sabe o seu lugar de inferioridade. É preciso abaixar a cabeça, sorrir, e estar sempre pedindo desculpas ou agradecendo por tudo. É preciso ter a consciência de sua mediocridade histórica. Após anos e anos de conquistas que fizeram muitos brasileiros acreditarem que podem ser gente e sonhar sonhos de gente – assim como a nordestina descrita acima –  chegamos a um ponto trágico da história: o pós Michel Temer que irá congelar os gastos sociais e destruir aos poucos essa ideia tão recente de que todo mundo pode se comportar feito gente e desejar coisas de gente. O pós golpe é esse produtor fatal de uma legião de corpos que não poderá mais sentir desejos. Não sem um dia sentir uma saudade doída dos tempos de gente.

Fonte: Outras Palavras

Pensador alemão Karl Marx será tema de filme

Dezembro 30, 2016

O Jovem Marx

Vida do sociólogo revolucionário é enredo do filme “O Jovem Marx”, já em fase de pós-produção.

A vida do sociólogo alemão protagonista de alguns dos mais importantes estudos e críticas ao sistema capitalista, Karl Marx, é tema do filme “O Jovem Marx”, do diretor Raoul Peck. A película já está em processo de pós-produção e a estréia tem data prevista para 15 de junho de 2017.

O enredo se passa na época em que Marx conheceu o também teórico Friedrich Engels, ao lado do qual escreveria “O Manifesto Comunista” e seria precursor do socialismo científico, dando as primeiras bases concretas — e não só teóricas — para o caminho da luta dos trabalhadores. Engels era filho de um industrial e autor de um estudo sobre as péssimas condições de trabalho dos operários britânicos.

A produção, enredada no ano de 1844, aborda como os dois começaram uma parceria não só intelectual, mas também política, que incluiu manifestações populares e repressão policial ao longo dos anos.

O filme é protagonizado por Auguste Diehl no papel de Marx, Stefan Konarske como Engels e Vicky Krieps como Jenny, a esposa de Marx. Além deles, há vários personagens da época e localidade, como Moses Hess, ideólogo do movimento conhecido como sionismo trabalhista, e o socialista alemão Karl Grun.

O bravo cinema que antecede o golpe

Dezembro 28, 2016

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Em 2016, filmes como “Aquarius” e “Que horas ela volta” expressaram esperança num novo país. Neles repousa inspiração para resistir a quem nos exige humildade obrigatória

Por Juliana Magalhães

Em um ano especialmente conturbado para a história recente do Brasil, ainda há muitas dificuldades em explicar os acontecimentos presentes sob uma limpidez inquestionável e ainda mais difícil interpretar tais explicações complexas sem um aglomerado de dúvidas que esvoaçam sobre a cabeça. Nos momentos iniciais e angustiantes do pós-golpe, vê-se o extermínio dos direitos sociais conquistados até aqui cada vez mais próximos. Há muito o que refletir sobre a miséria dos capítulos que se aproximam do tangível e que irá ruir as estruturas – ainda imaturas – de ascensão social das regiões mais pobres do país. E junto com a ruína dessa estrutura, vai-se também um bem imaterial construído com os programas sociais que impulsionaram o direito à dignidade: a autoestima – ainda fragilizada – dos brasileiros mais pobres.

Em meio às cinzas do céu de Brasília que expande para todos os céus do país e uma óbvia crise de humanidade, filmes grandiosos para o cinema brasileiro que imprimem traços do nosso tempo surgem no ano de 2015 e 2016: por exemplo Que horas ela volta, de Anna Muylaert e Aquarius, de Kléber Mendonça Filho. É o cinema do natural absurdo: filmes que nos apresentam forças que se colidem e nos fazem refletir, sobretudo, sobre o valor das pessoas e suas variáveis. Anna Muylaert nos apresenta esse desequilíbrio que sustenta e reflete os golpes diários: a ausência total da autoestima de uns e a presença excedida em outros. Esses “outros” que por possuírem essa característica tão acentuada, ainda consideram o direito à autoestima um artigo de luxo, que de forma alguma pode ser facilmente acessível para “qualquer um”.

Anna Muylaert recriou um espelho dramático do Brasil ao desafiar às leis físicas que diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. A cineasta apresenta esse confronto tácito como uma guerra fria entre esses dois corpos biologicamente e fisicamente iguais, mas de berços completamente diferentes. Um corpo é nascido no Nordeste do Brasil – que realiza esse movimento Nordeste – SP desde o século XIX. Há nesse corpo uma humildade obrigatória e imposta nas entrelinhas por estar “invadindo” um território que não lhe pertence. E há outro corpo.  Esse corpo que é da elite da cidade de São Paulo – essa figura imponente e historicamente superior que “abre as suas portas” para os brasileiros que saem de seus estados em busca de uma vida melhor. Vem deles essa quase exigência de que o invasor de terras alheias seja extremamente modesto e reconheça o seu lugar no mundo. Que para ser mais confortável, deve ser precisamente abaixo dele. No quarto dos fundos, longe da inteligência, das universidades, das obras de arte, do sorvete mais caro e da autoestima.  Ao “invasor” de bom senso, cabe o exercício diário de se olhar no espelho e reconhecer a pequenez de sua existência diante da grandeza do patrão.  Cabe esse respeito genuíno às leis da supremacia.

O incômodo é gerado quando uma nordestina se comporta como gente “normal” e subverte a ordem do cada lugar na sua coisa. Essa nordestina tem um problema irritante e estranho: é segura demais de si. Ela acha que tem valor (mas quem ela pensa que é para achar que tem?). Ela vai tentar entrar numa universidade concorrida. Ela é inteligente. Ela gosta de arte.

Como ela ousa ser tão suficientemente boa?

O cinema que antecedeu o golpe tem algo importante a nos dizer sobre os últimos anos: esse corpo que nasce, cresce e se desenvolve nos “subúrbios” brasileiros e que conquistou direitos básicos nos últimos anos está começando a ocupar lugares jamais imaginados – nem por eles, e nem pelos “outros”. Para esses “outros”, é inimaginável uma situação em que um “suburbano” tenha o mesmo nível – ou um nível superior – de instrução, inteligência ou autoestima que ele. É preciso possuir aquele ar acuado – sem nenhuma poesia – de quem sabe o seu lugar de inferioridade. É preciso abaixar a cabeça, sorrir, e estar sempre pedindo desculpas ou agradecendo por tudo. É preciso ter a consciência de sua mediocridade histórica. Após anos e anos de conquistas que fizeram muitos brasileiros acreditarem que podem ser gente e sonhar sonhos de gente – assim como a nordestina descrita acima –  chegamos a um ponto trágico da história: o pós Michel Temer que irá congelar os gastos sociais e destruir aos poucos essa ideia tão recente de que todo mundo pode se comportar feito gente e desejar coisas de gente. O pós golpe é esse produtor fatal de uma legião de corpos que não poderá mais sentir desejos. Não sem um dia sentir uma saudade doída dos tempos de gente.

Livros trazem histórias da música brasileira para crianças

Dezembro 27, 2016
Coleção, que tem edições sobre samba e Bossa Nova, choro e música caipira e, agora, sobre a Jovem Guarda e Tropicália, é uma forma de os pais apresentarem aos filhos o que se escutava no passado.
São Paulo – Dois jornalistas e uma historiadora criaram a coleção Ritmos do Brasil, com o objetivo de contar histórias da música, de forma lúdica e informativa, para as crianças. A coleção, que tem edições sobre samba e bossa nova, choro e música caipira e, agora, sobre a Jovem Guarda e Tropicália, é uma forma de os pais apresentarem aos filhos o que se ouvia no passado – a ainda se ouve até hoje –, explica o jornalista Camilo Vannuchi, um dos autores da publicação .

Em entrevista ao Seu Jornal, da TVT, Camilo conta que a terceira edição da coleção vai além do lado musical e também explica o contexto histórico dos movimentos musicais e comportamentais. “A gente não consegue falar de Jovem guarda e Tropicália sem ter de primeiro explicar essa coisa da música americana chegando no Brasil. E quando se fala de Tropicália, tem de falar de ditadura e censura.”

Segundo o jornalista, são assuntos importantes da cultura e do cotidiano musical e com raros materiais para explicá-los de modo acessível ao público infantil, de 6 a 13 anos. o zelo com a linguagem, como ele define, foi um dos destaques do trabalho. “A gente parou para pensar como é ensinar o jazz para as crianças, ou como explicar a ditadura militar para elas.”

Assista.

MANGUEIRA FAZ SAMBA ENREDO QUE SERVE EM CHEIO PRA CRISE: “SÓ COM A AJUDA DO SANTO”

Dezembro 25, 2016

Mangueira

Redação do site Portal Forum.

O samba enredo da Mangueira, atual campeã do carnaval carioca, para o próximo ano parece ter tudo a ver com estes tempos de crise e governo Temer. O título já diz tudo: “Só com a ajuda do santo”. O samba fala da religiosidade do brasileiro e as suas superstições para enfrentar o dia a dia. Com melodia forte e várias referências à mitologia do candomblé, “Só Com a Ajuda do Santo” é lindo e muito bem interpretado pelo Tinga, puxador da escola. Assista aqui o belo vídeo com a gravação do samba.

Samba Enredo 2017 – “Só Com a Ajuda do Santo”

G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ)

Compositores: Lequinho, Júnior Fionda, Flavinho Horta, Gabriel Martins e Igor Leal

Intérprete: Tinga

O meu tambor tem axé, Mangueira

Sou filho de fé do Povo de Aruanda

Nascido e criado pra vencer demanda

Batizado no altar do samba

O meu tambor tem axé, Mangueira

Sou filho de fé do Povo de Aruanda

Nascido e criado pra vencer demanda

Batizado no altar do samba

Mangueira, eu já benzi minha bandeira

Bati três vezes na madeira

Para a vitória alcançar

No peito patuá, arruda e guiné

Para provar que o meu povo nunca perde a fé

A vela acesa pro caminho iluminar

Um desejo no altar, ou no gongá

Vou festejar com a divina proteção

Num céu de estrelas enfeitado de balão

É verde e rosa o tom da minha devoção

Já virou religião

O manto a proteger, Mãezinha a me guiar

Valei-me meu Padim onde quer que eu vá

Levo oferendas á Rainha do Mar

Inaê, Marabô, Janaína

O manto a proteger, Mãezinha a me guiar

Valei-me meu Padim onde quer que eu vá

Levo oferendas à Rainha do Mar

Inaê, Marabô, Janaína

Abriram-se as portas do céu, choveu no roçado

Num laço de fita a menina pediu comunhão

Bala, cocada e guaraná pro Erê

Meu padroeiro irá sempre interceder

Clareia, tenho um guerreiro a me defender

Firmo o ponto pro meu orixá (no terreiro)

Pelas matas eu vou me cercar (mandingueiro)

Mel, marafo e abô

Só com a ajuda do santo eu vou (confirmar meu valor)

O morro em oração, clamando em uma só voz

Sou a Primeira Estação, rogai por nós!

O meu tambor tem axé, Mangueira

Sou filho de fé do Povo de Aruanda

Nascido e criado pra vencer demanda

Batizado no altar do samba

O meu tambor tem axé, Mangueira

Sou filho de fé do Povo de Aruanda

Nascido e criado pra vencer demanda

Batizado no altar do samba

Mangueira, eu já benzi minha bandeira

Bati três vezes na madeira

Para a vitória alcançar

No peito patuá, arruda e guiné

Para provar que o meu povo nunca perde a fé

A vela acesa pro caminho iluminar

Um desejo no altar, ou no gongá

Vou festejar com a divina proteção

Num céu de estrelas enfeitado de balão

É verde e rosa o tom da minha devoção

Já virou religião

O manto a proteger, Mãezinha a me guiar

Valei-me meu Padim onde quer que eu vá

Levo oferendas á Rainha do Mar

Inaê, Marabô, Janaína

O manto a proteger, Mãezinha a me guiar

Valei-me meu Padim onde quer que eu vá

Levo oferendas à Rainha do Mar

Inaê, Marabô, Janaína

Abriram-se as portas do céu, choveu no roçado

Num laço de fita a menina pediu comunhão

Bala, cocada e guaraná pro Erê

Meu padroeiro irá sempre interceder

Clareia, tenho um guerreiro a me defender

Firmo o ponto pro meu orixá (no terreiro)

Pelas matas eu vou me cercar (mandingueiro)

Mel, marafo e abô

Só com a ajuda do santo eu vou (confirmar meu valor)

O morro em oração, clamando em uma só voz

Sou a Primeira Estação, rogai por nós!

O meu tambor tem axé, Mangueira

Sou filho de fé do Povo de Aruanda

Nascido e criado pra vencer demanda

Batizado no altar do samba

O meu tambor tem axé, Mangueira

Sou filho de fé do Povo de Aruanda

Nascido e criado pra vencer demanda

Batizado no altar do samba.

 

No Maranhão, democracia e inclusão rompem as décadas de oligarquia

Dezembro 23, 2016

Ao conversar com servidores públicos maranhense, uma palavra sempre recebe destaque: democracia. Neste estado marcado por décadas de oligarquia da família Sarney “democratizar acessos” é o primeiro passo para estabelecer uma relação saudável entre administração pública e população. Na área da Cultura não é diferente, segundo a secretária adjunta do Estado, Vanessa Leite, a principal mudança da gestão de Flávio Dino é a democratização do acesso aos artistas locais.

Por Mariana Serafini

Com o programa Mais Cultura e Turismo, o governo passou a mapear e catalogar os grupos folclóricos do Estado e fazer com que os artistas possam ser acessados facilmente para os eventos do calendário estadual oficial. Com isso também foi possível criar um intercâmbio entre os produtores culturais de São Luís e do interior, através de caravanas, promovidas pela Secretaria Estadual de Cultura que percorre as cidades levando e absorvendo a cultura local. “Antes o acesso dos grupos ao calendário anual de cultura era bastante restrito, nós conseguimos ampliar isso. As nossas dua âncoras são o Carnaval e o São João e dentre destas festas nós temos consegui contribuir”, explica Vanessa.

Com a caravana de cultura, o Estado leva os artistas da capital para o interior e nos municípios menores faz um mapeamento do que já existe para promover o intercâmbio e fomentar o desenvolvimento dos grupos folclóricos e dos artistas envolvidos em outras áreas. Além disso, há escolas públicas de teatro e música que já atendem na capital, mas agora passaram a viajar também com a caravana para oferecer cursos e oficinas nos municípios do interior.

Vanessa explica que a prioridade da nova gestão foi estabelecer um diálogo saudável com os artistas e produtores de cultura. “Nós temos o Plano Estadual de Cultura que quando nós assumimos o encontramos adormecido, engavetado e com cupim no armário. Precisava avançar nos municípios, então nós retomamos a relação do governo com o Conselho Estadual de Cultura, que é hoje é nossa principal veia de difusão do plano. Foi necessário reconstruir essa essa relação [com os artistas] porque o que existia era algo muito diferente do que deveria ser”.

Com a mudança do cenário nas eleições municipais deste ano, a Secretaria Estadual de Cultura vai passar a atuar com os novos prefeitos a partir de 2017 para esclarecer sobre a importância de dar prioridade a esta pasta. “Até agora, só 40% dos nossos municípios aderiram ao Plano de Cultura, vamos desenvolver um trabalho para ampliar este número. Pouquíssimas cidades têm Secretaria de Cultura porque isso era completamente ignorado em gestões anteriores. E agora precisamos realmente mudar a visão que os gestores têm sobre a cultura para fazer avançar”, explica a secretária.

Questionada sobre como o Maranhão está ampliando as ações na área da Cultura e promovendo políticas públicas e ações de inclusão ao passo que o Brasil faz justamente o contrário: corta investimentos e aplica uma politica austera, Vanessa explica que, na verdade, a Secretaria não lida com um orçamento maior, apenas distribui de uma forma distinta. “É uma opção de governo”.

Segundo a secretária, não há mais recursos atualmente na Secretaria, em relação ao que havia nos anos anteriores, o que mudou foi a forma de gerenciar o orçamento. “Começamos a cortar gastos desnecessários para poder investir no que realmente importa. Nós encontramos uma realidade que talvez não fosse a ideal, haviam contratos muito altos para a execução de ventos, gastava-se muito para obter resultados baixos. Hoje 80% da minha equipe trabalha nos eventos que promovemos, não subcontratamos ninguém para fazer o que nós mesmos podemos fazer, isso possibilita direcionar o orçamento para outras ações”.

Vanessa é produtora cultural há anos e conhece a cultura do Maranhão como a palma da mão, mas nunca tinha atuado na gestão pública. Assim como ela, existem outras dezenas de pessoas que agora ocupam cumprem funções em praticamente todas as secretarias estaduais “Este governo foi muito responsável ao priorizar em suas pastas funcionários com qualidades técnicas favoráveis. Todas as secretarias têm hoje bons quadros técnicos. O governador foi muito criterioso nesta questão e isso é algo que nos orgulha muito, não só porque é um governo de mudança que vem contrapor mais de 50 anos de oligarquia que havia neste estado, mas também porque existe uma visão de administração pública com mais responsabilidade, isso, pra mim, é a principal mudança”.

‘O QUE ESTÁ POR VIR”, CINEMA DE MIA-HANSEN-LOVE

Dezembro 21, 2016

Matéria de Xandra Stefanel, especial para Rede Brasil Atual.

A vida de Nathalie Chazeaux (Isabelle Huppert) parece quase perfeita: professora de Filosofia em um liceu em Paris, ela sente um imenso prazer em dividir seu conhecimento e incentivar seus jovens alunos a pensar por si próprios; sua vida intelectual é muito fértil; e seu casamento com o filósofo e tradutor Heinz (André Marcon) já dura 25 anos. Ela é uma mulher linda, madura, inteligente e ativa. Tudo parece em equilíbrio até que a vida dá um golpe surpresa e vira tudo de cabeça para baixo.

Filme sobre mulheres feito por uma mulher, O que Está por Vir, da diretora francesa Mia Hansen-Løve, estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas brasileiros. Trata-se de uma história sobre recomeços e sobre a dificuldade e a beleza de reiventar-se. O papel brilhantemente interpretado por Isabelle Huppert é forte, de uma mulher segura de si que divide seu tempo entre os alunos de Filosofia, seus livros, o trabalho para uma editora, o cuidado com a mãe idosa e depressiva (Édith Scob), sua casa, seu marido e os dois filhos.

De uma hora para outra, tudo começa a desmoronar: ela descobre que seu marido vai deixá-la para viver com uma mulher mais jovem, sua mãe morre, ela perde o emprego na editora e os filhos saem de casa. De repente, solidão e questionamentos. Mas Mia Hansen-Løve não deixa espaço para vítimas ou vilões. Nathalie toma o curso de sua vida nas mãos e, apesar de sofrer, supera os próprios medos.

A protagonista acaba percebendo o quanto mudou nos últimos 25 anos. Uma das cenas que evidenciam tais mudanças é quando ela ignora a greve dos estudantes por melhores condições de educação e contra as mudanças no regime previdenciário propostas pelo então presidente Sarkozy. Comunista durante a década de 1960, hoje ela já não quer saber de política ou protestos.

Mas esta juventude que ela considera “radical” está impregnada em seu ex-aluno preferido, Fabien (Roman Kolinka), um filósofo belo e brilhante com quem trabalha e divide suas inquietações pessoais. O fato de ele ter tomado caminhos distintos na filosofia e na vida alegra e entristece Nathalie ao mesmo tempo. Talvez ela reconheça nele os sonhos e a febre juvenil que tinha no passado e que a vida burguesa tratou de congelar.

Calma e segura, ela conta à Fabien que está se divorciando de Heinz: “Não se preocupe. Estou levando numa boa (…) Não é tão sério assim, minha vida não acabou. No fundo, já estava preparada. Não precisa ter pena de mim. Além do mais, tenho sorte por ser intelectualmente bem resolvida e isso basta para eu ser feliz”, afirma, mesmo que hora ou outra ela chore sozinha, machucada pela solidão.

Para refletir sobre a felicidade, Nathalie cita o filósofo Jean Jacques Rousseau em uma de suas aulas: “Conquanto o desejemos, podemos viver sem a felicidade. Esperamos para conquistá-la. Se a felicidade não vem, a esperança se prolonga e o charme da ilusão dura o mesmo tempo que a paixão que a causa. Assim, esse estado basta a si mesmo e a inquietude que ele traz é uma espécie de alegria que suplanta a realidade, talvez melhorando-a. Pena de quem não tem nada a desejar. Ele perde tudo aquilo que possui. Gostamos menos daquilo que obtemos do que daquilo que desejamos e ficamos felizes antes de realmente nos tornarmos”.

Em uma das cenas mais tocantes do longa, Nathalie nos dá a impressão de que o divórcio e todas as mudanças recentes fizeram com que ela voltasse a se encontrar com ela mesma: “Quando eu paro para pensar, meus filhos já saíram de casa, meu marido me abandonou, minha mãe morreu… Encontrei minha liberdade. Uma liberdade completa como nunca conheci. É incrível”, diz, ao som engajado do folk de Woody Guthrie.

O que Está por Vir não é um filme filosófico, muito menos pesado, ao contrário. Trata com leveza temas que são comuns na vida da maioria das pessoas: o envelhecimento, o caos trazido por mudanças inesperadas, a necessidade de se adaptar, a solidão da meia-idade… Tudo isso, à partir de uma visão feminina e um tanto feminista. Não é à toa que o quinto longa-metragem de Mia Hansen-Løve foi premiado com o Urso de Prata de Melhor Direção no 66º Festival de Berlim.

O QUE ESTÁ POR VIR_trailer (lançamento Brasil) from Zeta Filmes on Vimeo.

O que Está por Vir
Direção: Mia Hansen-Løve
Roteiro: Mia Hansen-Løve
Direção de fotografia: Denis Lenoir
Montagem: Marion Monnier
Música: Raphael Hamburger
Produção: Charles Gillibert
Distribuição: Zeta Filmes
País: França
Ano: 2016
Duração: 102 minutos
Classificação: 14 anos

Registrado em:

Em dezembro, o carimbó do Pará segue vivo e festeiro em Santarém Novo

Dezembro 20, 2016

O carimbó no barracão da Irmandade de São Benedito em Santarém Novo (PA)

De 21 a 31 de dezembro os tambores começam a soar na cidade de Santarém Novo (PA), localizada há 136 km da capital paraense, Belém. É uma festa que homenageia São Benedito ao som do carimbó e uma das expressões do tradicional ritmo que vem do Pará. Como em várias localidades do Estado, o carimbó de Santarém Novo se mantém vivo através dos mestres, das novas gerações e da força da comunidade.

O carimbó no barracão da Irmandade de São Benedito em Santarém Novo (PA)

O Carimbó de São Benedito existe em Santarém Novo desde o século XIX. A tradição é preservada pela Irmandade do Carimbó de São Benedito. A comemoração é do povo da cidade, que durante 11 dias dança, come, bebe, canta, toca e homenageia o santo protetor.

“São 11 dias e noites de festa, com uma complexa programação envolvendo alvoradas (foto), levantação e derrubação de mastro, ladainhas, cortejos, festas de barracão e todo um patrimônio cultural esculpido pelo tempo e preservado pela oralidade comunitária”, explicou Isaac Loureiro, ativista cultural, pesquisador e presidente da Irmandade do Carimbó de São Benedito.
O carimbó é um batuque do norte do país de feição indígena mas marcado pela miscigenação das etnias que formaram o povo brasileiro. Em Santarém Novo o batuque é feito pelo tambor curimbó (foto), de produção artesanal do mestre Sabá, maracás e reque-reque. Na festa, que vai até o amanhecer, só se dança o carimbó de terno e gravata. Também não há instrumentos de sopro, o que dá à manifestação uma sonoridade de predominância percussiva.
O barracão da irmandade é onde se realiza a festa ao som do conjunto “Os Quentes da Madrugada”. Mestre Ticó (foto) é cantador do grupo e atual Diretor de Carimbó da comunidade. Ele começou no carimbó aos 12 anos levado pelo pai que cantava e tocava.
No documentário Pau & Corda – Histórias de Carimbó, de Robson Fonseca, Ticó relembra com orgulho os lugares do Brasil onde Os Quentes se apresentaram. “São Paulo, Rio, Niterói, Brasília, Fortaleza, duas vezes. Nunca esperei na minha vida eu ser privilegiado lá fora”, contou à equipe do documentário produzido pela TV Cultura do Pará.
O filme mostra Ticó também no seu ofício de preparar a farinha. Assim como ele, os demais integrantes do grupo são trabalhadores que atuam na roça, tirando caranguejo ou na pesca.
A energia e a força criativa dessa manifestação, onde não pode faltar o beju e a gengibirra, poderá ser confirmada nestes 11 dias de festa em Santarém Novo, no Pará. Um pouco da atmosfera está no cd “Carimbó da Irmandade de São Benedito – Os Quentes da Madrugada”, produzido em 2005 pelos músicos e produtores de projetos da cultura popular Renata Amaral e André Magalhães. Integrantes do grupo A Barca, criado em São Paulo, os dois vivenciaram de perto essa manifestação do Brasil indígena e caboclo.
Há dois anos, o carimbó passou a ser reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro após ser aprovado por unanimidade, em Brasília, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, integrado por representantes do governo federal e da sociedade civil organizada. Isaac Loureiro coordenou a campanha pelo registro.

O cd é um projeto da Maracá Produções é pode ser encomendado pelo e-mail maraca6@gmail.com. Custa 25 reais.

Os Quentes da Madrugada
Preparação do Beju

Gengibirra, bebida à base de cachaça e gengibre

Confira abaixo o documentário “Pau & Corda – Histórias de Carimbó” que traz, além de Santarém Novo, histórias de grupos de carimbó de Belém e dos municípios de Curuçá e Marapanim.

“UM RIO DE HISTÓRIAS”, DOCUMENTÁRIOS PRODUZIDOS PELA TELEVISÃO DOS TRABALHADORES (TVT) SOBRE A CATÁSTROFE DE MARIANA

Dezembro 18, 2016

Assista e analise os documentários, Um Rio de Histórias, sobre a catástrofe de Mariana e contaste a violência produzida pela ambição capitalista que se quer como a realidade única para o homem. Documentários onde os personagens principais são os moradores da cidade que desapareceu sob a força de Mamon, o deus da ambição do lucro. O lucro que não envergonha os seus fiéis.

Uma realização da Televisão dos Trabalhadores (TVT). A TV que entendem do ódio que a burguesia tem pelo trabalhador.

 

ENCICLOPÉDIA LATINOAMERICANA EM VERSÃO ELETRÔNICO E GRATUITA

Dezembro 18, 2016

Redação da Rede Brasil Atual.

Em 2007, a enciclopédia Latinoamericana (Boitempo Editorial, 1.344 págs.) ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Não-ficção. A obra, que trata sobre os temas mais importantes de todos os países e territórios da América Latina e Caribe, ganhou neste fim de ano uma versão eletrônica gratuita atualizada e ampliada. O portalEnciclopédia Latinoamericana traz mais de mil verbetes e é voltado a estudantes, professores, pesquisadores e ao público em geral.

O objetivo é democratizar o acesso ao conteúdo de um material rico que, originalmente, tem a participação de mais de 120 autores, muitos deles considerados alguns dos maiores pensadores latinoamericanos, como Eduardo Galeano, por exemplo. Segundo Ivana Jinkings, diretora editorial da Boitempo, a obra é importante por apresentar “a luta de resistência ao neoliberalismo e de resgate do continente com todas as suas dimensões históricas e culturais, políticas, econômicas e sociais”.

“A edição impressa A Latinoamericana é uma obra única, que reflete a diversidade da região e se tornou instrumento fundamental de autoconhecimento e de divulgação do nosso continente. Apresenta uma visão geral, a partir de múltiplos pontos de vista, porém resguardando a riqueza de abordagens e os estilos de seus mais de cem autores. A edição impressa, publicada em capa dura é, no entanto, bastante custosa. Um livro com essas proporções (tem mais de mil páginas), só é viável economicamente em grandes tiragens. Por isso buscamos apoio para criar o portal e dessa forma democratizar a totalidade dos verbetes que tratam dos fenômenos políticos, econômicos, educacionais, sociais, ambientais, étnicos, culturais, artísticos, midiáticos, científicos, tecnológicos e esportivos, com diferentes enfoques teóricos e metodológicos. Em um momento delicado da vida nacional (e, aliás, não apenas nacional), dispor o impressionante conteúdo da Latinoamericana ao público, de forma aberta, é muito significativo e nos deixa com o sentimento de dever cumprido”, afirma Ivana, que também é coordenadora do livro impresso, junto de Emir Sader, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile.

Levando em consideração os acontecimentos dos últimos anos, alguns verbetes do livro original foram atualizados e outros novos inseridos na versão digital. “Priorizamos principalmente as atualizações dos verbetes sobre os países, que foram retomados com um novo ensaio, por vezes assinado pelo mesmo autor do texto publicado na edição impressa de 2006, mas na maioria dos casos por membros da equipe do portal. Os textos são apresentados de maneira autônoma no portal, indicando até onde vai o texto original e a partir de onde inicia-se o ensaio a respeito da década que separa a publicação da edição impressa do lançamento na internet”, precisa a coordenadora do projeto.

Apesar do endereço do site trazer a palavra “wiki”, não se trata de um projeto colaborativo. “A ideia do portal Latinoamericana é apresentar conteúdo de qualidade elaborado por alguns dos maiores pesquisadores do continente. Como há uma autoria por trás do conteúdo dos verbetes, não prevemos por enquanto uma participação do leitor – apesar do ‘wiki’ no endereço, que tinha como função remeter à noção enciclopédica, mais do que à funcionalidade ao estilo colaborativo do Wikipédia”, pontua Ivana, que anuncia que em breve o portal também será lançado em espanhol.

Visite: http://latinoamericana.wiki.br