Londres, 6 de abril de 1875
Souvenir d’Amsterdam, THIJS MARIS
De Nieuwe Haarlemse Sluis bij het Singel (“Souvenir d’Amsterdam”, 1871), Óleo sobre tela – Rijksmuseum (Amsterdam)
“Uma velha cidade de Holanda, com fileiras de casas num castanho avermelhado com oitões em escadinha e patamares nas portas, telhados cinzas, e portas brancas ou amarelas, vãos e cornijas; canais com barcos e uma grande ponte levadiça branca sob a qual se encontra uma chata com um homem ao leme, a casinha do guarda da ponte que se vê pela janela sentado em sua pequena escrivaninha.
Um pouco mais longe no canal, uma ponte de pedra sobre a qual passam pessoas e uma charrete com cavalos brancos.
E movimento por toda parte; um homem com um carrinho de mão, um outro apoiado ao parapeito, olhando para a água, mulheres de preto com toucas brancas.
No primeiro plano, um cais com lajotas e um parapeito preto.
Ao longe, uma torre se ergue sobre as casas.
Acima disso tudo, o céu, num branco cinza.
É um pequeno quadro, vertical.”
Na aula passada, conversamos sobre o poema Meeresstille, de Heine, que Vincente diz a Théo recordar-lhe um quadro de Thijs Maris. O quadro a que ele se refere é este acima – De Nieuwe Haarlemse Sluis bij het Singel, conhecido como Souvenir d’Amsterdam –, acompanhado da descrição que o pintor apresenta da obra de seu contemporâneo.
Matthijs Maris ou Thijs Maris, como é conhecido, que é como Van Gogh o chamava, foi um artista holandês que tanto se destacou ao conseguir apreender em suas minúsculas telas o movimento e a força da paisagem holandesa, tão íntima deste quanto de seu conterrâneo Van Gogh.
Nascido em 17 de agosto de 1839 na Holanda, Thijs era o do meio de três irmãos pintores, Jacob o mais velho e Willem, o mais novo. Esses três irmãos foram os artistas mais notáveis da Hague School (Escola de Haia) que se constituía num grupo de pintores que viviam e trabalhavam em Haia (tal como funcionava a Escola de Barbizon na França, vide aula Millet) entre os períodos de 1860 e 1890, e utilizavam na maioria das vezes tonalidades escuras e sombrias.
Auto-retrato, Thijs Maris
Thijs Maris iniciou seu aprendizado artístico com Isaac Elink Sterk em 1851, durante os três anos seguintes ingressou na Academia de Haia. Em 1854, com 15 anos de idade, se juntou ao ateliê de Louis Meijer, aonde já trabalhava seu irmão Jacob. Com o auxílio e incentivo de Meijer, Thijs ganhou da Rainha Sophia, em 1855, uma bolsa de estudos para a Antuérpia, mudando-se para lá junto com seu irmão Jacob.
Desde muito jovem, Thijs já se interessava por paisagens românticas. Em 1861, empreendeu uma viajem para a Alemanha, onde esteve em contato com as pinturas românticas do século XIX e, logo depois, para Suíça, onde Thijs ficou bastante tocado pela paisagem que rodeava o Lago de Genebra. Segundo alguns escritos, esta foi uma das paisagens que mais o tocou profundamente e que ela demonstrava a vida real. Mudou-se para Paris em 1869 e lá desenvolveu um trabalho extremamente rico e diferenciado do que costumava fazer. Ao contrário de seu irmão, Thijs jamais voltou para a Holanda, decidiu passar os últimos anos de sua vida em Londres, de forma excêntrica e reclusa. Faleceu em Londres em 22 de agosto de 1917.
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Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.