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FESTIVAL DE TEATRO AMIR HADDAD, NO RIO, CELEBRA 86 ANOS DO DIRETOR COM EXTENSA PROGRAMAÇÃO

Junho 30, 2023
  1. CULTURA

CULTURA

Festival de Teatro Amir Haddad, no Rio, celebra 86 anos do diretor com extensa programação

“Antígona”, “Virginia”, “A alma imoral” e “Riobaldo” são algumas das peças com apresentação a preços populares

Redação

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

 

amir haddad
Aos 66 anos de atividade profissional, passa longe qualquer possibilidade de retiro ou aposentadoria para Amir – Divulgação

Uma das maiores referências do teatro nacional, o diretor e encenador Amir Haddad terá seus 86 anos celebrados com a mesma maestria que imprime em seus trabalhos. A famosa comemoração que acontece a cada 2 de julho entre amigos será, este ano, extensiva a todos. Entre 3 e 16 de julho acontece o 1º Festival de Teatro Amir Haddad, evento realizado no Centro Cultural Casa do Tá na Rua, na Lapa, centro do Rio, que vai reunir uma programação cultural vasta ao longo de 13 dias.

Idealizado e com curadoria assinada por Máximo Cutrim, ator e integrante do Tá na Rua, com patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/SMC e realizado pelo Instituto Tá Na Rua, o Festival exibirá espetáculos dirigidos por Amir com ingressos a preços populares (inteira a R$ 20), além de uma gama de atividades artísticas gratuitas.

O Festival vai apresentar uma seleção de peças teatrais de diversos gêneros, estilos e formatos, todas dirigidas e/ou supervisionadas por Amir, com diversos atores em trabalhos de importância para a cena teatral brasileira.

Dentre eles está Andrea Beltrão com sua “Antígona”; Pedro Cardoso com “Recém-Nascido”; Cláudia Abreu em “Virgínia”; Clarice Niskier apresentará em repertório “A Alma Imoral”, “A esperança na caixa de chicletes ping pong” e “Coração de Campanha”; Gilson de Barros com “Riobaldo” (trilogia “Grande Sertão, Veredas”); Vanessa Gerbelli em “Sombras no final da escadaria”; Lorena da Silva em “A mulher ideal”; o Teatro Universitário Carioca (Tuca) com “Re-acordar”, o Grupo Tá Na Rua com “Geografia Popular” e “Zaratustra”, com Viviane Mosé, que se apresentará com o próprio Amir interpretando Zaratustra, de Nietzsche.

O Festival realiza uma homenagem ao legado de Amir em vida, numa oportunidade de celebrar sua contribuição à cultura brasileira. Para o aniversariante homenageado, comemorar a nova idade recebendo um festival de teatro que leva o seu nome lhe causou surpresa.

Aos 66 anos de atividade profissional, passa longe qualquer possibilidade de retiro ou aposentadoria para Amir. “Eu trabalho intensamente. Eu nunca fiz outra coisa da minha vida, eu vivo e sempre vivi do teatro, sou muito grato por ter escolhido essa profissão. O teatro não me negou nada e eu me dei por inteiro”, afirma Haddad.

Além das apresentações teatrais, o festival também contará com uma série de atividades paralelas relacionadas à trajetória de Amir, como oficinas, conversas, exibição de filmes, performances musicais e uma exposição imersiva. Durante duas semanas, o Centro Cultural Casa do Tá Na Rua será espaço de aprendizado, troca de ideias e interação entre artistas, estudantes, amantes do teatro e toda a comunidade interessada.

Os ingressos para as peças, a preços populares, e as oficinas gratuitas serão disponibilizados ao público a partir do dia 19 de junho no Sympla (https://www.sympla.com.br/produtor/festivalamirhaddad )  As demais atividades terão suas senhas distribuídas no próprio local, uma hora antes do início. A programação completa do Festival pode ser conferida abaixo e no perfil @festivalamirhaddad.

Confira a programação

ESPETÁCULOS 

Espetáculo: Virgínia com Claudia Abreu

Data: 03/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 14 anos

Duração: 60 min

Sinopse: Claudia Abreu estreia seu primeiro monólogo, que foi idealizado e escrito por ela a partir da vida e da obra de Virginia Woolf (1882-1941). Em cena, a atriz interpreta a genial escritora inglesa, cuja trajetória foi marcada por tragédias pessoais e uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. A estrutura do texto se apoia no recurso mais característico da literatura da escritora: a alternância de fluxos de consciência, capaz de ‘dar corpo’ às vozes reais ou fictícias, sempre presentes em sua mente.

Espetáculo: Riobaldo com Gilson de Barros

Data: 04/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 16 anos

Duração: 70 min

Sinopse: Grande Sertão: Veredas – obra prima da nossa literatura, recebe leitura teatral. No recorte, o personagem central do romance, o ex jagunço Riobaldo, relembra sua vida e seus três grandes amores: Diadorim, Nhorinhá e Otacília. O incompreendido amor homossexual por Diadorim, o amigo que lhe apresentou a vida de jagunço e lhe abriu as portas do conhecimento da natureza e do humano, levando-o ao pacto fáustico; o amor carnal e sem julgamentos pela prostituta Nhorinhá; e o amor purificador por Otacília, a esposa, que o resgatou do pacto fáustico e o converteu num ‘homem de bem’. Em sua travessia, Riobaldo enfrenta questões que transcendem ao lugar sertão. O diabo existe? Houve o pacto fáustico? A trama Roseana transita entre o real e o misterioso, atingindo o universal. A sexualidade, a masculinidade, e, principalmente, o amor, em suas mais diversas formas são tratados magistralmente no espetáculo.

Espetáculo: A Alma Imoral com Clarice Niskier

Data: 05/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 18 anos

Duração: 90 min

Sinopse: Com humor fino e delicadeza, a atriz e dramaturga Clarice  Niskier leva à cena sua adaptação teatral do livro “A Alma  Imoral”, de Nilton Bonder. A peça está em cartaz há 16 anos  ininterruptos (parou apenas na pandemia) e já foi vista por mais  de 600 mil espectadores. A peça nos faz refletir sobre o certo e  o errado, a obediência e a desobediência, a tradição e a  transgressão, o corpo moral e a alma imoral. O texto aproxima temas como religião e biologia fazendo um paralelo sensível e  profundo entre reprodução/evolução com tradição/traição. O  poder das instruções do passado em tensão constante com o  poder das instruções do futuro. As fronteiras entre a letra da lei

e o espírito da lei. A marcha inevitável do homem e sua  constante mutação provocada pela alma imoral. Histórias do  Velho Testamento e parábolas judaicas compõem um  espetáculo que desperta nossa consciência para a legitimidade  da saída dos lugares estreitos. 

Espetáculo: TUCA: Re- Acordar

Data: 06/07/2023

Horário: 17:00
Classificação: Livre
Duração: 70 min

Sinopse: A partir de cenas de O Coronel de Macambira, poemas de Marta Klagsbrunn, músicas de Sérgio Ricardo, Re-Acordar conta a história de seu elenco, história que atravessa os anos da ditadura, as prisões, os exílios. E conta como esse elenco chegou ao hoje, vive o hoje, se projeta no futuro. Re-Acorda.

Re-Acordar conta a história de integrantes do elenco de O.Coronel de Macambira, desde 1966, quando o grupo se formou e criou o Teatro Universitário Carioca, até o momento atual. história que atravessa os anos da ditadura, as prisões, os exílios. E conta como esse elenco chegou ao hoje, vive o hoje, se projeta no futuro. Re-Acordar.

Espetáculo: Coração de Campanha com Clarice Niskier e Isio Ghelman

Data: 06/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 16 anos

Duração: 70 min

Sinopse: Coração de Campanha é um espetáculo teatral que aborda  a chegada da pandemia, causada pelo coronavírus, e as  mudanças e questões que ela trouxe para a vida íntima de  um casal às vésperas do divórcio. Ela (Clarice Niskier) e Ele  (Isio Ghelman), são surpreendidos pela quarentena em  plena crise conjugal. Ele, com a chave do novo apartamento  nas mãos, propõe a Ela uma cooperação amigável até que  tudo se acalme. Juntos eles aprendem a lidar com suas  emoções e ensaiam uma reaproximação. Um ano depois, a  separação ocorre, mas de forma muito mais amorosa e digna da  bela história de amor que eles viveram por 25 anos. O Espetáculo  estreou no CCBB do Rio de Janeiro, em 2021, depois partiu em  temporada por Brasília, Belo Horizonte e São Paulo. O texto é de  Clarice Niskier, com supervisão de direção de Amir Haddad.

Espetáculo: A Mulher Ideal com Lorena da Silva

Data: 07/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 12 anos

Duração: 60 min

Sinopse: O espetáculo conta a história de Vitória através de suas relações amorosas entremeadas com suas histórias no teatro. A Mulher Ideal constrói a trajetória de recuperação da própria voz de uma mulher para se tornar a mulher ideal para si mesma. Uma narrativa sobre amor nas relações e também por si mesma.

Espetáculo: Zara Tustra com Amir Haddad, Viviane Mosé e grupo Tá na rua

Data: 10/07 e 13/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: Livre

Duração: 1h40

Sinopse: A afirmação do instante, do corpo, da necessidade de uma vida ousada e corajosa, e de um humano forte com os pés fincados na terra, capaz de realizar os mais altos voos; enfim, a afirmação de uma postura diante da vida que assume em seus diversos aspectos inclusive na dor, na perda, acompanhada da capacidade de potencializar esta perda em ação, em criação, é o que caracteriza tanto as afirmações do Zaratustra de Nietzsche quanto do trabalho e da vida do ator e diretor Amir Haddad. A peça, ambientada em uma praça da Idade Média, encena o prólogo do livro “Assim Falava Zaratustra”, inserido de outros trechos do livro, mas não deixa de trazer a fala do ator e diretor pra cena. Estarão em cena ainda, contracenando com o Zaratustra o próprio Nietzsche, interpretado pela filósofa Viviane Mosé, que também é a responsável pela dramaturgia e o Grupo Tá Na Rua com toda sua liberdade.


Espetáculo: A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong com Clarice Niskier

Data: 11/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: Livre

Duração: 60 min

Sinopse: “A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong” é um  espetáculo teatral escrito e estrelado por Clarice Niskier. O  texto é uma declaração de amor à cultura popular brasileira, inspirado na obra poético-musical de Zeca Baleiro. A peça  reúne 40 músicas do compositor e cantor, interligadas aos  pensamentos, sentimentos e memórias da atriz que procura  entender por que decidiu ficar no país quando teve a  oportunidade de ir embora. O que ancora uma artista em  seu próprio país quando a noção de futuro está abalada?  Quando a noção ética parece perdida? O que dizer às novas  gerações? O que significa o “amor pelo país”? A peça é uma  espécie de ¨fico¨ da atriz, que expõe poeticamente suas  razões para abraçar o Brasil ao invés de deixá-lo. Um  comovente testemunho, com fragmentos de textos do livro  Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda.

Espetáculo: Recém Nascido com Pedro Cardoso

Data: 12/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 12 anos

Duração: 60 min

Sinopse: Quem se lembra do próprio nascimento? Ninguém. Mas eu lembro do meu. Lembro de todos os detalhes do meu nascimento e da minha infância. E posso garantir: eu era muito mais feliz antes de eu nascer. Vida boa era a minha quando eu estava guardado ainda dentro de minha mãe! Silêncio, sossego, serviço de quarto… Aqui fora: barulho, bagunça, bando de ladrões… eu me sinto exilado no mundo. Mas se viver não tem remédio, temos ao menos o consolo da comédia.

Espetáculo: Antígona com Andrea Beltrão

Data: 14/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 14 anos

Duração: 60 min

Sinopse: Sucesso absoluto de público, com mais de 40 mil espectadores desde a estreia e vencedor do APCA de Melhor Atriz para Andrea Beltrão, em 2017, a peça Antígona participa do Festival Amir Haddad  em única apresentação, no dia 14 de Julho de 2023 às 20h00. A montagem do texto de Sófocles, traduzido por Millôr Fernandes, tem dramaturgia assinada a quatro mãos por Andrea Beltrão e Amir Haddad, que assina também a direção. 

A história se passa em Tebas, Escrita por Sófocles há 2.500 anos. O espetáculo traz Andrea Beltrão como a personagem-título da trama – a jovem princesa que enfrenta a ordem do rei Creonte de deixar seu irmão, que lutou na guerra, sem sepultura. Ao desobedecer a determinação real, ela paga com a própria vida. É estabelecido, então, o confronto entre o Estado e o cidadão.

Espetáculo: Cabaré Tá Na Rua: “Ópera das Malandras”

Data: 15/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 16 anos

Duração: 1:30

Sinopse: Inspirada na trilogia “A ópera dos Mendigos” de John Gay, “A ópera dos três vinténs” de Bertold Brecht, “A ópera do Malandro” de Chico Buarque e nos cabarés de todos os tempos, a irreverente trupe do Cabaré Tá Na Rua apresenta um recorte poético da exploração do humano pelo humano, e a delicadeza do matriarcado como possibilidade de um mundo melhor.

Espetáculo: Geografia Popular – Uma viagem pelo coração do cidadão carioca

com o Grupo Tá na rua 

Data: 16/07/2023

Horário: 17:00

Classificação: Livre

Duração: 90 min

Sinopse: A história do trem se confunde com a história do Rio de Janeiro, já que é fato que as estações, depois de criadas, deram origem a vários bairros ao longo da estrada de ferro. Neste espetáculo, cada estação vira uma menção ao povo, seu jeito de viver e se relacionar em sociedade. No nosso trem as estações têm nomes fictícios, que retratam o jeito de ser do povo carioca, como por exemplo “Estação Pagode”, “Estação Favela” e “Estação Memória”. O Tá Na Rua faz um embarque que passeia pela Geografia Popular do Rio de Janeiro. É uma homenagem aos mais importantes cartões postais do país: a cidade e o cidadão carioca.

Espetáculo: Sombras com Vanessa Gerbelli

Data: 16/07/2023

Horário: 20:00

Classificação: 16 anos

Duração: 90 min

Sinopse: Uma atriz sem nome (o autor dispensa o nome da personagem) e sem recursos ocupa um teatro e diz que só sairá de lá à força.  O espetáculo que ela apresenta à plateia é uma estapafúrdia embromação porque o pior pesadelo dos atores lhe acontece: ela se esquece completamente das falas após a estreia devastadora do dia anterior. Seu texto, a princípio, parece non-sense, vertiginoso e risível, mas vai se tornando confessional e direto, dolorido e rasgante.

OFICINAS

Oficina: Oficina de AFROFUNK com Taísa Machado

Data: 13/07

Horário: 17:00
Classificação: 16 anos

Duração: 1:30
Apresentação: Apresentação: A Oficina Afrofunk pesquisa movimentos pra soltar o quadril e jogar na cara da sociedade.

Treino afrocentrado com foco em difundir as tendências urbanas desenvolvidas pela cultura afrocarioca e suas heranças africanas

Espaço criativo, seguro e conectado com a cidade para pessoas que curtem rebolar

Lotação:  30 pessoas

Oficina: com CIA DE MYSTERIOS

Data: 11/07

Horário: 17:00
Classificação: 14 anos

Duração:1:30
Apresentação: Som e movimento e a música no corpo: a linguagem corporal no jogo teatral.

Abrir uma brecha no tempo e no espaço cotidiano da cidade, restabelecer jogos e rituais coletivos, cantos e danças, reflexões e experiências sobre o tempo em que vivemos.

Transitar por intensidades e dinâmicas musicais diversas para estimular no corpo uma expressão mais completa, livre e genuína.

Provocar em cada um a expressão do seu potencial criativo.

O teatro, a música e a dança para o jogo das personagens e redimensionamento da linguagem cênica.

Lotação:  30

Oficina: Danças Populares com Bárbara Vento

Data: 04/07

Horário: 17:00
Classificação: 14 anos

Duração: 1:30
Apresentação: O encontro pretende oferecer uma vivência corporal e rítmica através das danças populares brasileiras da região norte, e nordeste, com carimbós, siriás,lundus, marabaixos, coco, ciranda entre outros..  misturando assim, dança, ritmo” estimulando os brincantes a  interagirem com  raízes brasileiras, de uma forma divertida e contagiante.

Lotação:  30

Oficina: Oficina de Teatro do Oprimido

Data:14/07/2023

Horário: 16:00
Classificação: 14 anos

Duração: 1:30
Apresentação: A Oficina de Sensibilização em Teatro do Oprimido propõe, através de seus jogos e exercícios, breve vivência na metodologia teatral mais utilizada no mundo.

Lotação:  25

Oficina: Danças Populares com Ana Carneiro

Data: 06/07

Horário: 16:00

Classificação: 14 anos

Duração: 1:30
Apresentação: Oficina Teatro de Rua – o cordel como dramaturgia

Propõe apresentar o trabalho com a linguagem narrativa na cena teatral realizada nos espaços abertos da rua, a partir da utilização de textos de cordel como material dramatúrgico.

Historicamente, os cordéis fazem parte do processo de formação do grupo Tá na Rua (1980) e, consequentemente, do desenvolvimento da linguagem teatral de seus atores. Desde sua origem e ao longo de sua trajetória, foram diversos os textos de cordel trabalhados pelo grupo em suas apresentações.

Realizar essa oficina, nesse momento, significa retomar a história desse processo e apresentar, a seus participantes, a oportunidade de conhecer e se aproximar de parte importante da linguagem autoral do grupo.

Lotação:  25

FILMES

Beijo no Asfalto de Murilo Benício

Data: 03/07

Horário: 17:00

Classificação: 12 anos
Duração: 98 minutos

Sinopse: Baseado na peça homônima escrita por Nelson Rodrigues. Ao presenciar um atropelamento, Arandir, um bancário recém-casado, tenta socorrer a vítima, mas o homem, quase morto, só tem tempo de realizar um último pedido: um beijo. Arandir beija o homem, mas seu ato é flagrado por seu sogro Aprígio e fotografado por Amado Ribeiro, um repórter policial sensacionalista.

Cirandeiro em Três Atos de Cláudio Boeckel

Data: 07/07

Horário: 16:00

Classificação: 12 anos

Duração: 71 min
Sinopse: O teatro além do palco. A rua como arena para o embate entre “Os trapos coloridos da fantasia” e a “Camisa de força da ideologia”. O ator e seu ofício. Parábola para uma reflexão a respeito da vida, do ser humano e do exercício de sua cidadania. Através de rico material, de ensaios, espetáculos, aulas e acervo, o filme passeia, de forma inusitada, pelo universo criativo do diretor Amir Haddad em seus 50 anos de atividade teatral. Paris, Paraty, Amapá, Rio de Janeiro, Cairo, Ceará. Praças do Brasil e do mundo como palco eterno das manifestações humanas.

O documentário revela o universo de um dos maiores pensadores de teatro do Brasil. À frente do grupo Tá Na Rua, Amir Haddad desenvolve mais que a desertificação dos espaços culturais e a demolição da institucionalização da Arte, escancara uma prática coletiva de afetividades decolonializadas.

Usando o teatro como metáfora da vida, numa celebração das expressividades autônomas, o diretor fertiliza os espaços públicos e planta a semente de uma cidadania poética por onde passa.

Cirandeiro em 3 atos, é mais do que o registro do processo criativo de um gênio, é uma ode à contribuição imprescindível e comprometimento absoluto de Amir com a democratização da cultura no Brasil.

É uma carta de amor ao poder de transformação do ser humano.

A Montagem Mão na Luva de Pedro Cardoso e Maria Padilha

Data: 12/07

Horário: 16:00

Classificação: 12 anos

Duração: 71 min
Sinopse: Um documentário sobre o processo de criação do espetáculo ”Mão da Luva” de Oduvaldo Vianna Filho em 2001, com direção de Amir Haddad e encenação de Maria Padilha e Pedro Cardoso. Após a exibição haverá roda de conversa com Pedro, Maria e Amir.

Cena Nua de Belisário Franca

Data: 13/07

Horário: 16:00

Classificação: 12 anos

Duração: 74 min
Sinopse: Como é o processo de criação de um diretor de teatro? E se esse diretor foi Amir Haddad? E se seu palco for a cidade do Rio de Janeiro, a Lapa, repleta de monumentos, ruas e personagens? Despido de convenções e adereços, o filme Cena Nua revela o processo de criação do teatrólogo, que, quase sempre acompanhado de sua trupe, o Tá na Rua, conduz debates e questionamentos mais profundos sobre o real papel dos atores em sociedade, sobre o conceito de seu teatro despido, sobre a própria vida e sobre como o Rio de Janeiro se transformou em um de seus personagens mais recorrentes.

CONVERSAS

Amir recebe Claudio Mendes, Gustavo Gasparini e Daniel Schenker

Tema: Livro “Amir Haddad de todos os teatros” e filme “Cirandeiros”

Data: 05/07

Horário: 17h

Classificação Livre

Amir recebe Silvio Tendler e Claudio Boeckel

Tema: A alegria do palhaço é ver o circo pegar fogo. Uma jornada do cineasta na vida do teatrólogo.

Data: 07/07

Horário: 17h

Classificação Livre

Amir recebe Catarina Abdalla

Tema: Por dentro do processo de atriz: reflexões, desafios e descobertas

Data: 10/07

Horário: 17:00

Classificação: Livre

Amir recebe os atores fundadores do grupo de teatro Tá na Rua

Tema: Origens e trajetórias do primeiro grupo de teatro de rua do Rio de Janeiro
Data: 14/07

Horário: 17:00

Classificação: Livre

MÚSICA

Atração: DJ MÁXIMA
Apresentação:
Data: 03/07
Horário: 21:00
Classificação: Livre
Entrada gratuita

Atração: Orunmila
Apresentação:  O Grupo Afro Cultural Òrúnmilà é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1989, no bairro do Catumbi, Comunidade da Mineira,  no Rio de Janeiro, objetivando a valorização da cultura afro brasileira com atuação na camada da população de periferia e de áreas de risco social, através da cultura e de ações afirmativas sócio culturais, obtendo sucesso através de sua proposta inovadora de fazer cultura a partir das comunidades carentes e de descobrir e divulgar talentos oriundos dessas comunidades.

Se tornou referência na cultura afro carioca e visa preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira utilizando atividades educacionais e culturais, sobretudo a música e a dança, como elementos de informação e de fortalecimento da identidade étnica.

Data: 04/07
Horário: 21:00
Classificação: Livre
Entrada gratuita


Atração: DJ Duhpovo

Data: 13/07

Horário: 21:00
Classificação: Livre
Entrada gratuita


Atração: Baque mulher

Apresentação: Movimento de empoderamento feminino por meio da difusão da cultura e das linguagens tradicionais do maracatu de baque virado.

Criado por Mestra Joana Cavalcante, em Recife, e fundado e coordenado no Rio de Janeiro pela Yabá Tenily Guian em 2016, tem como fundamento os saberes ancestrais de matriz africana e a valorização da cultura afro-brasileira.

Data: 14/07

Horário: 21:00 Classificação: Livre
Entrada gratuita


Atração: DJ GIORDANNA

Data: 15/07

Horário: 21:00
Classificação: Livre
Entrada gratuita

Atração: Bloco Carmelitas

Apresentação: O Bloco Carmelitas, as Carmelitas de Santa Teresa, surgiu em 1990 com o pessoal que batia uma bola ali no Parque das Ruínas (quando era uma ruína). Na resenha após as peladas, veio a ideia da brincadeira. No carnaval se reuníam na esquina da Dias de Barros (onde mora o Amir)  e brincavam com os moradores que passavam, pediam um pedágio, e assim foi indo. Haddad recebeu o Troféu Carmelitas, prêmio com o qual o bloco homenageia anualmente alguém com relevante contribuição ao carnaval e à cultura.

Ó nó aí tra veis, seu Amir e o Carmelitas, junto e misturado, é o que fazemos de melhor, certo?

Data: 16/07

Horário: 18:00

Classificação: Livre
Entrada gratuita

Atração: Bloco Céu na Terra
Apresentação: o Núcleo de Cultura Popular Céu na Terra, desde 1998, realiza pesquisas sobre a cultura popular brasileira e encena espetáculos teatrais, musicais, realiza projetos educativos e oficinas inspirados nos folguedos de nossa cultura. Fundado no bairro de Santa Teresa, RJ, o Céu na Terra agrega saberes da cultura local, articulando conhecimento e promovendo ações que se caracterizam pela sua pluralidade. Composto por educadores, músicos, artistas plásticos e contadores de história, o Céu na Terra movimenta mais de 400 artistas em todos os seus espetáculos e alcança diretamente uma média anual de 50 mil pessoas.

Data: 16/07

Horário: 18:30

Classificação: Livre
Entrada gratuita

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Eduardo Miranda

CARIJO NO RS RESGATA CULTURA INDÍGENA AO MOSTRAR TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ARTESANAL DE ERVA-MATE

Junho 29, 2023
  1. CULTURA

TRADIÇÃO

A ‘carijada’ será realizada nos dias 15 e 16 de julho, na cidade de Morro Reuter, no Rio Grande do Sul

Cátia Cylene*

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |

 

Participantes terão atividades de reconhecimento da planta e aprendizagem sobre todo o processo da erva-mate, cujo nome científico é Ilex paraguariensis – Foto: Matheus Beija Flor/Divulgação

Produzir a própria erva para o chimarrão, com sabor original e participação em todo processo, aprendendo sobre a cultura indígena, é a proposta do carijo que será realizado no Morro Reuter. A vivência será realizada nos dias 15 e 16 de julho, no organismo agrícola do produtor Marcos Wagner – localizado há 550 metros de altitude, na Fazenda Padre Eterno.

O carijo é uma estrutura tradicional utilizada para a secagem da erva-mate durante a sua produção artesanal. Neste final de semana, os participantes terão atividades de reconhecimento da planta e aprendizagem sobre todo o processo da erva-mate, cujo nome científico é Ilex paraguariensis. Durante a noite manterão o cuidado com o fogo e a erva que estará secando no carijo. No domingo a produção segue com o soque, a moagem, embalagem da erva.

Essa vivência, com oficina e acampamento, é organizada por muitas mãos e só será possível porque os agricultores Marcos Wagner, do Morro Reuter, e Fábio Dias, de Sapiranga, possuem algumas árvores de erva-mate para o fornecimento da planta.

Para coordenar a produção, o biólogo Moisés da Luz, multiplicador desta cultura indígena e campesina desde 2005, virá de Buenos Aires, onde reside atualmente, para compartilhar seus saberes. Além disso, indígenas de várias etnias foram convidados para integrar a vivência.

Moisés, natural de Panambi, na região Noroeste do estado, também é educador ambiental e autor da dissertação de mestrado “Carijos e Barbaquás no Rio Grande do Sul: resistência camponesa e conservação ambiental no âmbito da fabricação artesanal de erva-mate”, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Seu trabalho motivou a produção do “Carijo, o filme”, disponível no youtube do Coletivo Catarse, além de livro, cartilha e diversos eventos para a multiplicação deste resgate das culturas indígenas mbyá-guarani e kaingang.


No ano passado, o carijo foi realizado no Banco de Tempo Lomba Grande, zona rural de Novo Hamburgo / Foto: Matheus Beija Flor/Divulgação

Cultura e partilhas

Conforme o biólogo, “a produção artesanal e coletiva valoriza a arte do fazer junto, a importância de aprender esse processo de um alimento, uma bebida, de forma coletiva, além de gerar conhecimento sobre a origem da erva-mate, manejo agroflorestal, flora nativa e importância de preservar a biodiversidade”, salienta.

No sábado à noite, durante toda a madrugada enquanto cuida-se do fogo para a secagem da erva-mate, haverá roda de conversa e apresentações culturais. Um dos artistas confirmados é o músico Zé Martins, do grupo Unamérica.


O músico Zé Martins, do Grupo Unamérica, será uma das atrações culturais / Foto: Katia Marko

Esta carijada é uma promoção do Araçá – Grupo de Consumo Responsável e do Banco de Tempo Lomba Grande, com apoio de Agrofloresta Garupá, Produtos Biocêntricos e Circular Alimentos. As inscrições podem ser feitas com Camilo, pelo fone (51) 98318.7798.

* Jornalista, integrante do Banco de Tempo Lomba Grande

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko

O REAL JOGO-FOLGUEDO-LÚDICO DO BUMBA-MEU-BOI: BOI BARRICA DO MARANHÃO

Junho 28, 2023

DE AQUILES RIQUE REIS PARA AMBIENTALISTAS E APAIXONADOS PELA MÚSICA BRASILEIRA. Cc PARA CRISTINA SARAIVA

Junho 28, 2023

Hoje tratarei do álbum independente SOS. São onze canções, todas com versos de Cristina Saraiva, em parcerias diversas e cantadas

Aquiles Rique Reisjornalggn@gmail.com

De: Aquiles

Para: Ambientalistas e apaixonados pela música brasileira

Cc: Cristina Saraiva

Olha só, perdoem-me a amplidão desta mensagem, mas é que só assim explicito minha intenção de falar à Nação, recém-vilipendiada por um governo inescrupuloso. Coisa que farei através de Cristina Saraiva (www.cristinasaraiva.com.br), que, como está explícito, nos lê em cópia. Sugiro que vocês, que todos vocês, busquem conhecer essa compositora e ativista ambiental que, dentre tantas atividades, faz parte do grupo Em Frente.* A moça é múltipla!

Por isso, hoje tratarei do álbum independente SOS. São onze canções, todas com versos de Cristina Saraiva, em parcerias diversas e cantadas por Claudio Lins, Susana Gianini, Tutuca e Esther, dentre outros que logo nomearei. Produzido por Cristina e masterizado por Mario Gil, o disco foi gravado e mixado por Luiz Waack, que tocou violões e viola e fez nove arranjos. São de Breno Ruiz os outros dois.

Além de Waack, também tocaram Leandro Braga e Breno Ruiz (piano), Cássia Maria e Renato Braz (percussões), Fábio Tagliarri (viola), Igor Pimenta (baixo) e Toninho Ferragutti (acordeom).

Amigas e amigos, SOS é uma diatribe contra desmatadores, garimpeiros, pescadores ilegais, invasores de territórios indígenas e contra o tal “marco temporal”, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Um parêntese: demarcação de território indígena não é favor, mas um direito previsto na Constituição — e não me venham de borzeguins ao leito!

Olha só, enquanto escrevo, me emociono com a música que abre o CD, “SOS Amazônia”,** de Simone Guimarães, com versos de Cristina Saraiva e cantada por Simone e Alexandre Saraiva. Verde mata, mata virgem tanta vida, promissão/  A floresta guarda a história, a memória, a imensidão/  Guarda as lendas, prendas, dores, guarda o tempo, guarda o som/ Forma os rios voadores, tem a chuva em sua mão/  Se a terra sangrar, se o fogo arder/ Não vou descansar, ninguém vai vender/ Ipê, azulão, Tupã, cambará/ Ninguém vai vender meu chão, meu lugar.

Sublime indignação de quem não se cala e canta! E eu sigo me sentindo tocado agora por “Amazônia”*** (Breno Ruiz e Cristina Saraiva), cantada por Renato Braz: Pinta o rosto do anhangá/ Curupira e boitatá/ Vem do mato Jurupari/ Das estrelas, vem Guaraci/ Chama fogo e luar/ Que a guerra vai começar.

Mas vejam, amigas e amigos: ao ouvirem o CD, tentem não ceder à tentação de ver nas músicas algo superior as denúncias, posto que cada bela canção traz em si a convocação para “agir agora para que haja um depois” (Cristina Saraiva).

Antes da despedida, chamo a atenção dos inimigos que vivem a destruir a natureza e a infernizar a vida dos povos indígenas: véio, cês tão diante de um auto-de-fé que há de levá-los aos tribunais para pagar pelos crimes secularmente cometidos!

Saudações musicais e abraços cidadãos a todas as minhas amigas e todos os meus amigos de fé!

Aquiles

https://www.facebook.com/100092700918698/videos/798616975230485/

** https://youtu.be/Pa5ZhO4VwkI

*** https://youtu.be/0j_7omWkkIM

A VOZ QUE ACOMPANHA O BRASIL DE VOLTA A SI

Junho 27, 2023

Em meio à turnê Que tal um samba?, cantora relembra sua trajetória, desde quando topou com Chico Buarque nos bastidores de seu primeiro espetáculo, até estar ao seu lado – cantando todo o sentimento de um país em busca de reencontrar-se

OUTRASMÍDIAS

POÉTICAS

por Piauí

27/06/2023 –

Por Mônica Salmaso em depoimento a Thallys Braga na Piauí

Nossa primeira apresentação em São Paulo com o show Que tal um samba? aconteceu no dia 2 de março, quinta-feira. Eu estava apreensiva, as estreias sempre são assim. No meu caso, pesava ainda o fato de estrear na minha própria cidade, com uma plateia cheia de amigos e familiares. Eu me sentia insegura por causa disso, mas a realidade é que não tem muito como dar errado com um repertório como esse, um show tão bem feito por tanta gente boa no que faz e com a celebração, de base, de estarmos todos, palco e plateia, ao lado de Chico Buarque.

Tenho 28 anos de carreira, mas o que estou vivendo agora é uma experiência inédita. No final de 2020, Chico Buarque me convidou para participar de alguns shows que ele faria em comemoração aos 50 anos do disco Construção. Parecia um devaneio. Eu cresci ouvindo a voz do Chico na vitrola dos meus pais, no rádio do meu quarto e no fone de ouvido. Construção foi lançado no ano em que eu nasci. Cantar ao lado dele, saindo do gigantesco deslocamento da pandemia, seria catártico. Aceitei imediatamente. 

Mas houve uma nova onda de Covid, seguida de quarentena, e a ideia foi adiada e modificada – até que, em 6 de setembro de 2022, aconteceu a estreia, em João Pessoa, do show Que tal um samba?. A partir de então, começamos a percorrer o país.

A ideia do Chico, desde o início, era que eu me apresentasse sozinha na abertura e, depois em momentos pontuais, dividisse o palco com ele em algumas canções. Ele me deixou à vontade para que eu escolhesse aquilo que gostaria de fazer sozinha e, por e-mails e telefonemas, levantamos uma lista de possíveis duetos (considerando as formas, os assuntos e as tonalidades). Chico ensaiou com os músicos duas semanas e, comigo, mais cinco no Rio de Janeiro, entre julho e agosto de 2022. Os ensaios fizeram com que eu ganhasse mais segurança para interagir com ele, a equipe e os músicos – todos já meus amigos e conhecidos de longa data –, que formam, com o Chico, um corpo de trabalho de mais de trinta anos. Existe entre eles um modo de convivência tão calmo e respeitoso que faz com que a música aconteça da melhor maneira possível. Era curioso: um pedaço de mim sentia o peso da enorme responsabilidade, e outro, de cara, sentiu estar em um ambiente muito familiar.

Cheguei ao Rio crente que iria visitar os meus amigos, ver o Samba do Trabalhador, o Forró da Gávea, todos os eventos possíveis, cheia de saudade de viajar e encontrar todo mundo, depois de tanto tempo de pandemia. Mas rapidamente me dei conta de que não poderia fazer absolutamente nada disso porque precisaria fazer uma rigorosa preservação da minha voz, em vista do volume de ensaios e da gincana de viagens e shows. 

Todas as noites chego em casa falando pouco, quase nada, e bem baixinho. Faço exercícios de fonoaudiologia de aquecimento e de desaquecimento vocal antes e depois de cantar. Não como nem bebo o que faz mal para a voz. Vou ao otorrino (que chamo de luthier), sigo as ordens da fono. Meu filho, Théo, e meu marido, o músico Teco Cardoso, viraram parceiros incríveis nessa fase de seguidas viagens e da minha rotina de cuidados, que é mais fácil de seguir à risca quando estou viajando, porque chego no quarto do hotel e fico em silêncio até dormir. Aos 30 anos, eu me cuidava menos e tinha maior resistência. Aos 52, qualquer bobeada pode provocar um efeito-cascata porque não há tempo hábil para tratamento e recuperação, com tantos shows – nas temporadas do Rio de Janeiro e de São Paulo, quatro noites seguidas e três dias de descanso. Na condição de convidada, não quero prejudicar o Chico, o show, toda a equipe e o público. Muita responsabilidade e uma vontade enorme de viver essa experiência, esse presente, esse momento histórico da forma mais bonita possível.

Depois de João Pessoa, a turnê passou por oito cidades antes de chegar em São Paulo. Neste ano, começamos com uma sequência de dezesseis apresentações no Rio de Janeiro, todas com ingressos esgotados e uma enorme procura. A produção e o Chico decidiram abrir mais duas datas extras com ingressos a preços mais acessíveis e sem mesas na pista para que mais gente pudesse ver o show. Acabamos gravando e filmando essas duas noites. Foram apoteóticas! 

Houve uma época na música brasileira em que temporadas de shows assim, com essa quantidade de datas seguidas, eram comuns, mas eu faço parte de uma geração de artistas em que isso não acontece com frequência. Nossas temporadas (quando acontecem como temporadas) são mais curtas e espaçadas.

Antes de estrear em São Paulo, tivemos o mês de fevereiro quase inteiro de férias, pude voltar para a minha casa, no bairro da Aclimação, e ficar um pouco mais com meu marido e meu filho, que tem 16 anos. Pudemos ir para nossa casa no interior de São Paulo, descansar. Essa pausa me encheu de vontade de voltar ao palco e começar tudo outra vez. A gente se acostuma com toda a equipe do espetáculo e, quando fica longe, sente saudades. Antes de a turnê começar, eu olhava para a agenda e pensava, assustada, no tanto de shows e de viagens, com medo de não dar conta. Agora que estamos prestes a encerrar a turnê, me bate uma dorzinha no peito. 

Assisti a vários shows do Chico Buarque na minha vida. Ele é certamente o artista que mais ouvi desde a infância. Depois que comecei a cantar, alguns compositores e estilos musicais viraram meus objetos de estudo e, naturalmente, acabei incorporando suas influências e seus aprendizados ao meu trabalho. Mas com o Chico não foi desse jeito. Como os discos dele fizeram parte da minha formação, eu os escutava sem pensar nas características que deveria absorver se quisesse me tornar cantora. Menina, eu nem sabia direito sobre os sentimentos adultos que ele descrevia tão bem, mas, mesmo sem entender algumas músicas, elas foram criando em mim um acervo de emoções. É o que a música faz, com a poesia costurada na melodia e vestida pela harmonia. Ouvir o Chico era assim: ele me despertava muitas vezes algo que eu não entendia e era incapaz de elaborar, mas que gerava tristeza, saudade, alegria, intensidade, tudo isso vivido de forma afetiva, não cerebral. Um movimento muito potente, enorme dentro de mim, e que me compõe.

Quando eu era criança, ninguém na minha casa fazia qualquer tipo de arte. Cresci sem conhecer nenhum artista pessoalmente. Mas meus pais compravam discos, e com isso eu me apaixonei pela música muito cedo. Escutava aqueles LPs coloridos de historinhas infantis com composições do Braguinha que ainda hoje acho maravilhosas. Eu me concentrava nos detalhes das músicas, e um mundo de prazer e emoções se abria para mim. Quando tinha 7 ou 8 anos, um grupo de amigos dos meus pais vinha em nossa casa (um sobradinho) algumas noites para tocar e cantar junto com um professor de violão. Eu descia do quarto, e os adultos me deixavam participar. O que quer que eles tocassem, eu tratava logo de aprender a cantar: Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento, Caetano Veloso, João Bosco, Gilberto Gil. E Chico Buarque.

Eu fazia um certo sucesso por ser tão pequena, interessada e afinada. Claro, isso me fazia bem. Uma vez, um dos presentes me deu um papel com a letra de O Cio Da Terra, do Milton Nascimento e do Chico, para eu decorar e cantar no próximo sarau. Tem um verso da música que diz “Cio da terra, propícia estação”, mas a pessoa tinha escrito a letra com uns garranchos, e a palavra “propícia” ficou parecendo “propécia”. Na noite do sarau, fui com tudo e cantei, cheia de vontade: “Cio da terra, propécia estação.” Todo mundo ficou se entreolhando e rindo. Quando descobri o erro, morri de vergonha. Hoje é uma lembrança divertida. Aqueles saraus foram o meu parquinho de diversões, e me deixava contente ouvir dos adultos que eu tinha inclinação para cantar. Um comentário assim funciona como estímulo: cantar virou o meu lugar do prazer e a atividade que eu sabia que me renderia elogios.

Durante a adolescência, nos anos 1980, fui aos shows de vários artistas da mpb, como Caetano Veloso, Gal Costa e Milton Nascimento. Também comecei a frequentar festivais de jazz em São Paulo. Eram espetáculos realizados em grandes espaços, para uma plateia gigantesca. Na época, eu não tinha o costume de ir a shows em teatros menores. Ser artista, para mim, significava pertencer a uma gravadora multinacional, aparecer nos programas de televisão e novelas, tocar em rádios e cantar em palcos enormes, e isso parecia estar longe demais da realidade, um sonho para muito poucos, o que anulava qualquer pretensão minha de virar cantora profissional.

Durante o ensino médio, que eu fiz no Colégio Equipe, comecei a tocar “violão de acampamento”. Tive também um amigo incrivelmente musical (hoje advogado) que cantava e tocava bem, fazia rodas de música e me chamava pra cantar. Um dia, andando pelo bairro da Vila Madalena, vi esse meu amigo saindo todo feliz da escola Espaço Musical. Ele me contou que estava fazendo aulas de guitarra e de percepção musical. Eu estava com 18 anos e fazia cursinho para o vestibular. Queria cursar jornalismo, por influência da minha prima, a jornalista Renata Lo Prete. 

O cursinho era uma experiência insuportável: a tradicional turma de Humanas (formada por todos aqueles que se reconhecem nessa área, como eu, e todos os outros que não têm ideia do que querem fazer), espremidos em uma sala sem janelas, com um professor tentando animá-los ora com musiquinhas para decorar, ora com lançamento de giz para acordá-los. Enfim, era o purgatório.

Decidi assistir a uma aula de canto da Espaço Musical e conheci a professora Regina Machado – hoje coordenadora do curso de canto da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e dona da escola Canto do Brasil –, que viria a se tornar a minha primeira referência de cantora profissional. Fiquei fascinada, porque ela não era uma estrela da tevê, mas uma trabalhadora comum, uma pessoa com quem eu poderia conversar e perguntar: “E aí, como é esse negócio de viver de música? Se eu escolher essa profissão, vou conseguir me sustentar, mesmo não sendo o equivalente ao Cristiano Ronaldo da indústria musical?”

Nas aulas de canto, com o auxílio do piano, pude me inteirar sobre a extensão da minha voz, entendi o papel da respiração, do apoio do diafragma. Minha voz fez ginástica, ganhou corpo, cresceu. Comecei a escutar os cantores de outra forma, a estudá-los. Dois meses depois, cheguei em casa e anunciei: “Pessoal, não quero mais fazer o vestibular de jornalismo porque vou viver de música. E descobri que isso é possível.” Como eu era uma jovem responsável e sempre fui bem na escola, meus pais concordaram, depois de fazerem algumas perguntas. O cenário da época apresentava novidades: os pequenos selos musicais se multiplicavam, e a Unicamp estava prestes a abrir inscrições para o curso de graduação em música popular de São Paulo.

Estudei por cerca de um ano e meio na Espaço Musical, intercalando as aulas teóricas com as de violão, canto e percepção musical. Estava diariamente cercada de outras pessoas que também viam a música como uma possibilidade de trabalho. Agora eu escutava os discos de outra maneira, buscando referências para aprender e pensar sobre música. Tentando entender como tudo funcionava e me conscientizar de quem eu seria ou como seria minha estrada. Um tempo depois, a mãe de uma amiga do ensino médio me elogiou para a atriz Rosi Campos, e ela, mesmo sem me conhecer, indicou o meu nome para o diretor de teatro Gabriel Villela. 

Ele estava para montar a peça O Concílio do Amor, no Centro Cultural São Paulo, um espetáculo que não era um musical, mas tinha uma personagem cantante, a Verônica, que vai na frente das procissões da Paixão de Cristo, abrindo o Santo Sudário e cantando diante das casas. Gabriel me ligou, fiz um teste e entrei para o elenco. Cantar, por si só, oferece à pessoa um lugar de destaque. Começar uma carreira no centro do palco, com a luz dos holofotes sobre si, pode ser assustador para iniciantes rígidos como eu era. Nenhuma pessoa está preparada para esse salto, principalmente se for tímida, como eu também era. Começar em uma companhia de teatro era o que eu precisava para ganhar segurança, porque o ambiente e os atores eram acolhedores, o papel era um entre muitos, mas importante como todos na composição geral da peça. Ensaiamos muito, costuramos figurinos, pintamos cenários e eu mergulhei fundo nas apresentações, que começaram em novembro de 1989, e a peça ficou em cartaz cerca de um ano, acho. Foi uma experiência linda que carrego para sempre.

Em determinado momento, depois de me apresentar na peça, comecei a cantar em bares, onde conheci outros músicos. Formei um primeiro grupo com amigos da minha geração, começamos a fazer shows e decidi que era hora de me dedicar a isso. Saí de O Concílio do Amor, mas fui assistir muitas vezes, inclusive no último dia de apresentação, quando Gabriel me disse para voltar para casa e me vestir toda de preto, porque naquele dia teríamos uma Verônica a mais. Fui sem piscar, e ao voltar ao teatro, esbaforida, abri a porta e dei de cara com Chico Buarque, Marieta Severo e Silvia Buarque, que estavam lá para assistir à peça. Puxei o ar com força e prendi a respiração. Por instantes, fiquei travada, com os olhos bem abertos, diante do Chico. Foi a primeira vez que me encontrei com ele. Estava atrasada demais para continuar ali e então saí correndo, sem falar nada.

Nessa época, os meus amigos começaram a frequentar os bares da Vila Madalena e de Pinheiros. Dois eram especialmente legais para escutar música ao vivo, o Café Paris e o Vou Vivendo. Os artistas eram bons, e aos poucos fui me introduzindo a eles, cantando uma música aqui, outra ali. Eu participava do show de todo mundo, era incansável. Se alguém me convidava, eu ia, mesmo depois de ter me apresentado em algum lugar, e cantava até não poder mais. Acabei sendo contratada.

O compositor Eduardo Gudin frequentava o Vou Vivendo e um dia me convidou para participar de um disco que queria fazer com outros cantores, chamado Notícias dum Brasil. Foi o meu primeiro trabalho profissional. O Gudin também me provocou para fazer um disco só meu. Um tanto insegura, respondi que não tinha um trabalho próprio, nem saberia criar um às pressas. Jamais faço alguma coisa se tenho dúvidas, não sei ser assim. Ele disse para eu ter calma porque era ainda muito jovem, com várias possibilidades por explorar, e me sugeriu gravar Os Afro-Sambas, de Baden Powell e Vinícius de Moraes. 

Dos Afro-Sambas, eu conhecia apenas os mais conhecidos, BerimbauCanto de Ossanha e Consolação, gravados por muitos cantores. Nunca tinha ouvido o disco original. A jornalista Maria Luiza Kfouri, estudiosa da música brasileira, amiga do Gudin e hoje minha amiga muito querida, me copiou uma fita cassete do LP original, de 1966, e fiquei embasbacada. Aquilo era coisa muito séria: no final da bossa nova, surgiu esse material com células rítmicas africanas, misturando a densidade amorosa do Vinicius de Moraes com os orixás. É um disco lindo, de um tipo de projeto raro na música brasileira. Achei que era um projeto seguro para eu começar a minha estrada e um presente imenso fazê-lo (também ideia do Gudin) com o violonista, compositor e arranjador Paulo Bellinati, músico incrível e generoso, que àquela altura já tinha uma carreira internacional de solista. Gravamos o disco em duo e o lançamos em 1995. Foi um desafio pra mim, um início honroso e uma escola musical.

Nos anos seguintes, gravei discos no selos Pau Brasil e Eldorado (por ter vencido o Prêmio Visa), viajei muito com o Bellinati com nosso show dos Afro-Sambas e recebi um convite para gravar três discos pela recém-criada gravadora Biscoito Fino (onde fiz até hoje oito CDs e dois DVDs). Em 2006, recebi com surpresa o convite do Chico para gravar com ele a música Imagina, parceria com Tom Jobim (que eu conhecia e amava há anos), no CD Carioca. Era inacreditável estar no estúdio com o ídolo da minha infância, cantando uma composição cuja letra eu conhecia de trás pra frente. Foi a segunda vez que o encontrei, desde aquele dia nos bastidores do teatro.

A gravação me deu vontade de agradecer a Chico Buarque, na forma de um disco dedicado à obra dele, o que eu sabia que faria em algum momento. No mesmo ano, comecei a selecionar as canções (eu era tão tímida que sequer considerei a possibilidade de convidá-lo para participar do projeto). Quando planejava esse disco, que chamei de Noites de Gala, Samba na Rua, já estava grávida do Théo, e decidi incluir a canção Você, Você, que o Chico escreveu para o primeiro neto. Cantei no estúdio “imaginando o imaginário” de alguém que ainda estava para nascer e que, desde sua chegada, se tornou um maravilhoso companheiro de viagem, um legítimo “filho de circo” ou um “menino-milhas” como a gente o apelidou. 

Em 2008, consegui, pela primeira vez, patrocínio para realizar uma turnê. A de Noites de Gala, Samba na Rua foi também a primeira de grande porte que eu fiz. Rodei o Brasil com ela. Eu e o Teco não paramos de trabalhar desde o nascimento do Théo, levando nosso filho nas viagens, até ficar inviável – não para nós, mas para ele. Todas as escolhas que fazíamos visavam garantir segurança e o melhor cuidado para o Théo. A gente se divertiu muito! Esse momento que estou vivendo de uma turnê grande novamente, com muitos dias fora de casa, aconteceu em uma hora boa e possível, já que o Théo está crescido e o Teco está trabalhando em casa, compondo e escrevendo arranjos para um trabalho solo, e escrevendo um livro. 

Vivi o período de isolamento social de maneira muito restrita, sentindo ansiedade, uma angústia absurda e também compaixão e vontade de ajudar o mundo. A pandemia interrompeu a minha agenda de shows e a do Teco, e tivemos que reduzir as despesas. Fizemos as malas e fomos com o nosso filho para uma chácara em Sarapuí, no interior de São Paulo, onde o custo de vida é bem menor que na capital. Havia quintal, espaço para pegar sol, cachorros, galinhas, varal para pendurar as roupas, segurança física e emocional, o que era fundamental naquele momento. 

Logo no início da pandemia, em março de 2020, entrei no Instagram e tentei cantar em uma live com Alfredo Del-Penho, meu amigo. Mas havia o delay que tornava impossível sincronizar a minha voz com a dele. Foi engraçado e curioso, e me dei conta de que não só estava impedida de trabalhar como não poderia cantar com os meus amigos.

No dia seguinte, acordei e disse ao Teco que queria consertar o embaraço daquela live. Fiz uma proposta ao Alfredo: “Você topa gravar comigo um vídeo cantando e tocando A Cor da Esperança, do Cartola e Roberto Nascimento? A gente combina a forma da música previamente, você grava da sua casa um vídeo, tocando e cantando, e deixa os vazios onde eu vou cantar. Manda pra mim que eu faço aqui a minha parte e depois junto um ao lado do outro, para a gente se encontrar.” O Teco sugeriu que eu cantasse olhando para um lado e o Alfredo para o outro, assim, depois de editar os vídeos, ficaria parecendo que estávamos interagindo. 

Publiquei o vídeo no Instagram e no YouTube, com o nome de Ô de Casas, em referência ao chamado das visitas no portão, embora ali, naquela gravação, cada um estivesse na sua casa. Fiquei feliz e aliviada com a brincadeira que me fez tão bem e afastou minha cabeça daquele momento difícil. Logo outros amigos viram e disseram que queriam fazer também. Foi uma enxurrada. Fizemos 75 vídeos seguidos, um por dia. Lotou a memória do iPad e do celular, precisei buscar o computador e um HD  externo em São Paulo. Assim como fiz com outros compositores amigos, a cada vez que uma música deles era gravada na série, eu mandava o link por e-mail ou WhatsApp, com o anúncio: “Saiu mais um pão quentinho”, mandava para o Chico as gravações das músicas dele. De vez em quando, inspirada no bem que esses vídeos caseiros e amorosos faziam para a gente e para as pessoas que passaram a esperar por eles (fizemos 175, no total), num ato de coragem que eu não tinha antes, eu convidava o Chico a gravar uma música. 

Um dia me lembrei de uma gravação ao vivo da música João e Maria, do Chico Buarque, no Tokio Marine Hall, o mesmo teatro em que nós dois estamos nos apresentando agora, em São Paulo. E convidei o Chico a gravar comigo essa música, no mesmo tom e arranjo, com a participação do Luiz Cláudio Ramos, que toca com ele há anos. O Teco poderia tocar a flauta, e eu cantaria os trechos que ele quisesse. Era uma sexta-feira. Ele me respondeu: “Pode ser na segunda-feira?” Fiquei exasperada. Combinamos o que cada um cantaria, liguei correndo para o Luiz Claudio, que topou e fez o primeiro vídeo. Gravei a minha parte em casa, mandei para o Chico, ele gravou a dele e me enviou. Dali a alguns dias, publicamos o vídeo.

O que se seguiu foi um incêndio numa caixa d’água. Acho que, como eu, as pessoas sentiram conforto em ver o rosto e escutar a voz de Chico Buarque num momento de tanta solidão e angústia, como aquele. E acho também que esse momento de convivência à distância, mas cheio de afeto, significado e confiança, foi um dos motivos de ele me convidar para o seu show.

Agora que os encontros presenciais voltaram, descobri que há coisas, pessoas e modos de conduzir a vida dos quais não preciso mais e que parecem estar relacionados a vidas passadas. Tendo sido obrigada a parar tudo por causa da pandemia e me “encontrado” à distância com tanta gente, pude parar e ter, pela primeira vez, uma percepção que nunca tive: a de que consegui construir uma carreira. Fiz um site novo com esse olhar. Por quase dois anos, não trabalhei nem vi o público, e estava com uma vontade absurda de subir ao palco. O fato de estar fazendo a turnê do Chico e o modo como tenho me apresentado são o resultado de respostas encontradas por uma pessoa que viveu a pandemia dessa forma. É indissociável, como acho certo que seja, tamanho o deslocamento, tamanho o susto e as perdas que tivemos, especialmente no Brasil com sua condução desumana, irracional e negacionista. 

Quando começamos a conversar sobre o repertório do espetáculo, no ano passado, contei ao Chico que a cantora Teresa Cristina e eu fizemos algumas batalhas musicais temáticas no Instagram durante a pandemia. Nós somos muito amigas, e a Teresa estava naquela produção diária de transmitir lives com convidados. Em certa ocasião, o tema da batalha foi “canções para crianças”. Ela selecionou algumas, eu outras, e varamos a noite cantando. 

Já de madrugada, eu me lembrei de Todos Juntos, uma música linda do Chico para o espetáculo infantil Os Saltimbancos. Comecei a cantar totalmente desarmada e motivada pela saudade da infância, e a Teresa me acompanhou, numa alegria bonita de ver. Tudo ia bem até chegar nos versos “Ao meu lado há um amigo/Que é preciso proteger/Todos juntos somos fortes/Não há nada pra temer”. Naquela hora, em plena quarentena, a música ganhou o peso do seu real significado. Eu chorei de um lado, a Teresa do outro, as duas alagaram suas telas, enquanto as pessoas que nos assistiam enviavam uma chuva de centenas de emojis de choro. Chico deu risada dessa história, adorou. Perguntou se eu teria coragem de cantar Todos Juntos no show. E eu respondi: “Eu tenho!”.

Em casa, fui brincar de tocar a música na kalimba, um instrumento musical de origem africana que tem algo de caixinha de música. Tenho uma kalimba pequena, com um pesinho bom, que achei numa lojinha de artesanato de beira de estrada. Mostrei para Chico, Luiz Claudio Ramos e Vinícius França, que disse categórico: “Isso tem que abrir o show.” Pensei: “Vixe!” O público estaria esperando ansiosamente pelo Chico e, quando as cortinas se abrissem, apareceria eu, cantando uma música de criança com voz e kalimba. Mas a ideia era bonita, inclusive conceitualmente, porque localiza o momento em que o Chico entrou na vida de muitas pessoas. Há uma geração que cresceu escutando Os Saltimbancos. Eu mesma assisti ao show com meus pais, nos anos 1980, no Teatro Tuca, em São Paulo, uma das primeiras montagens do musical.

No início da turnê Que tal um samba?, nós vivemos um momento histórico muito agudo, com a proximidade e a chegada da eleição. O show começou a percorrer o país em setembro a partir do Nordeste, a região que poderia ser fundamental para o fim do governo Bolsonaro. Era catártico. A maioria das pessoas na plateia usava máscaras, para muitas delas era a primeira vez que iam a um show depois da pandemia, estavam em estado de euforia por estar no mesmo ambiente que Chico Buarque – o que seria em qualquer tempo um enorme acontecimento –, poder encontrar seus pares e sua própria identidade afetiva, assim como a do país em que se reconheciam. Atravessamos o período entre os dois turnos com agonia, somada a muita força e esperança. Os shows foram vividos com um grau de emoção difícil de explicar. E, depois das eleições, acrescentou-se o sentimento de alívio e confraternização de voltar para casa, uma casa machucada, cheia de estragos, mas que é onde a gente se reconhece.

De todas as rasteiras que o Brasil sofreu nos últimos anos, a pior delas foi pensar que nós, talvez, poderíamos ter perdido nossa identidade. O país foi parar em um tenebroso lugar de mentira e ódio institucionalizados. Um lugar desumano, não só por causa de sua histórica e imperdoável desigualdade social (que temos que resolver, como tantas outras coisas estruturais), mas desumano até mesmo no discurso. Uma espécie de Brasil bizarro, como um mundo paralelo, uma realidade paralela. Sem falar nas pessoas que perdemos para a Covid e para a ignorância. Viver isso distante dos amigos na pandemia potencializou a sensação de “Cadê a minha casa? Cadê todo mundo?”. E então, de uma hora para a outra, nos vimos dentro de um teatro lotado de pessoas, e todas elas são irmãs, porque se identificam umas com as outras – e o show do Chico virou catártico, afetivo, de um modo que eu nunca vi, por propiciar essa celebração da vida, quase da ordem do religioso. Era muito mais que estar no show de um artista de quem gostamos tanto. Para mim, foi um privilégio máximo viver esses momentos em cima do palco e ao lado do Chico.

Que tal um samba? não é um showmício. O Chico teve o cuidado de fazer uma setlist que capta a indignação e a denúncia social, mas também os afetos, os valores que devolvem a identidade de brasileiro. Tudo em nome da esperança. Isso é ainda mais forte, ainda mais profundo. Nós tememos o resultado das eleições. É bem possível que a turnê parasse caso o resultado fosse outro. Como renovar a esperança? O que iríamos dizer àquelas pessoas? Como conseguiríamos? Abraçaríamos o choro? Incentivaríamos a coragem?

E então veio o alívio. Sempre digo que essa turnê significa para mim dois presentes. Primeiro, ter a chance de ver esse momento da história do Brasil de cima do palco. Ver, oferecer e receber plateias enormes e emocionadas. O segundo presente é o Chico ter reconhecido no meu trabalho uma identidade com a música dele. A minha sensação é de que fiz as escolhas certas. Tomei as decisões certas, segui os caminhos coerentes e verdadeiros para mim. É um presente gigante.

A minha carreira se encaixou por muito tempo no que chamam de música de segmento. Eu a defino como sendo a carreira de uma “cantora-instrumentista”, porque fiz uma estrada que aprendi com colegas músicos que admiro. As oportunidades e as escolhas que fiz também colaboraram para eu me tornar uma artista autoral. Por causa disso, o meu público foi sendo construído com capilaridade, a indústria fonográfica (já na minha geração atravessando mudanças radicais) não impôs o meu trabalho a ninguém nem ele foi moldado por ela. Agora sei do meu ofício, moro nele, tenho uma vida nele há 28 anos. Isso conta e faz diferença.

As pessoas às vezes me perguntam o que eu acho que essa turnê vai representar para o futuro da minha carreira. Eu, honestamente, não tenho resposta. Se eu fosse mais nova, provavelmente olharia de outro jeito para o convite que recebi e teria outras expectativas com o que virá depois. Sei que esta turnê está me dando uma visibilidade maior e nova. Ficarei feliz se esse novo público se identificar com o meu trabalho e se somar à minha estrada. O combinado que eu fiz comigo mesma é viver da melhor maneira possível o período musical ao lado do Chico. Essa turnê é para mim, além de um presente muito bonito, uma experiência importante, um sonho lisérgico. Tenho plena consciência disso e brinco, cumprimentando o público: “Boa noite, aqui quem fala é a Cinderela.”

Lancei dois discos depois da pandemia, Cantor Sedutor, com o Dori Caymmi, e Milton, com o André Mehmari, que foram apresentados poucas vezes em shows. Sinto vontade de cantar essas músicas ao vivo para o público. E gostaria de gravar um monte de canções que aprendi durante o isolamento social. 

Minha vontade de cantar e o amor pelo meu ofício só aumentaram. Minha vida ganhou outros sentidos na pandemia, minha percepção, minha forma de viver, de ouvir o outro, de escolher o que vale ou não a pena, de me relacionar com o público através das redes sociais, tudo mudou muito. Mas meus pés estão bem no chão, enquanto meu coração está nas nuvens.

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FILME “URUBUS”, QUE RELEMBRA INVASÃO DA 28ª BIENAL DE SÃO PAULO POR PIXADORES, TEM RAP NA TRIHA

Junho 26, 2023

URUBUS


Premiado longa de Cláudio Borrelli traz as faixas Pixadores (Nocivo Shomon), “Criminal” (Felipe Flip, em parceria com Nego Max e SP Jungle), entre outras; veja trailer e clipe aqui

Cena de clipe de Felipe Flip – Criminal (feat. Nego Max & SpJungle).
Créditos: Reprodução de Vídeo

Por Julinho Bittencourt

CULTURA – 26/6/2023 · 

O filme “Urubus”, lançado nos cinemas em 1º de junho, traz algumas faixas do rap nacional para dar ritmo à trama de um dos maiores movimentos de contracultura da cidade de São Paulo: a “pixação” (com “x”, como os próprios se autodenominam).

Veja o trailer:

Entre as músicas da trilha sonora, destacam-se “Pixadores” e “Pixadores 2”, ambas de Nocivo Shomon. Em um momento de tensão do filme, também é possível ouvir o refrão de “Criminal”, uma música de Felipe Flip em parceria com Nego Max e SP Jungle, presente no álbum “Psicologia Reversa”.

“Estou muito feliz por ter uma música minha no cinema. ‘Criminal’ fala sobre São Paulo, cultura de rua, violência policial, rolê, pixação… tudo a ver com ‘Urubus'”, relata Flip. A faixa foi produzida por Dree BeatMaker (Ademafia) e ganhou um videoclipe dirigido por Anderson Tuca, experiente filmmaker e um dos membros do programa “Pela Rua” (Canal Off).



Confira o vídeo, que apresenta as ilustrações e rabiscos de Daniel FatDog, abaixo:


Classificado como um drama, o filme “Urubus” é dirigido por Cláudio Borrelli e baseado em fatos reais. Retrata um dos movimentos de transgressão mais marcantes da cidade de São Paulo: a pixação.

Na história, Trinchas (interpretado por Gustavo Garcez) lidera um grupo de pixadores da zona oeste de São Paulo, que escalam os prédios mais altos para deixar sua marca.

Ao longo da trama, Trinchas se apaixona por Valéria (interpretada por Bella Camero), uma estudante de pós-graduação em arte. Vindos de mundos diferentes, o casal enfrenta diversos conflitos, culminando na invasão da 28ª Bienal de São Paulo. A pixação passa a ocupar um lugar no mundo da arte, e o grupo de jovens invisíveis da periferia se torna protagonista de um controverso debate cultural.

TEMAS
urubus
Pixadores
28ª Bienal de São Paulo

SANTANA CANTADOR: ARRAIÁ DA CAPITÁ 2023 – JOÃO PESSOA – PARAÍBA

Junho 25, 2023

QUADRILHA: CONHEÇA A HISTÓRIA DE UM DOS SÍMBOLOS DAS FESTAS JUNINAS

Junho 24, 2023
  1. CULTURA

ANARRIÊ!

As quadrilhas estão relacionadas à realização de um casamento, uma homenagem a Santo Antônio, o ‘santo casamenteiro’

Redação

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

 

Cidade de Maricá (RJ) investe em apresentações de quadrilhas na programação junina do município – Foto: Marcos Fabrício/Prefeitura de Maricá

“Olha a cobra! É mentira!” Quem nunca se divertiu com as famosas brincadeiras da festa junina? Dançou? Comeu um saboroso arroz doce acompanhado de um quentão para espantar do frio? Os meses de junho e julho marcam a celebração desta festividade popular do Brasil que teve a sua origem nas homenagens a santos como São João e Santo Antônio. 

Um dos elementos desta tradição cultural das festas juninas é a quadrilha. A origem da dança é europeia, mais precisamente inglesa com influência francesa, e chega ao Brasil junto com a família real portuguesa, principalmente com apresentações nos salões da corte durante o século 19 em cidades como Rio de Janeiro e Salvador. 

Em entrevista ao Brasil de Fato da Paraíba no ano passado, a pesquisadora e professora do Curso de Dança da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Valéria, explicou que com a destituição da Monarquia e a chegada da República, os elementos ligados ao imaginário da Corte Portuguesa foram recusados pela então elite cultural.

“Foi nesse período que a prática da dança da quadrilha começou a se manter nas populações mais pobres e regiões rurais, onde se dançava em celebração à colheita do milho, criando assim uma tradição”, detalhou a pesquisadora.

As celebrações juninas como conhecemos hoje começaram a tomar mais forma no século 20 a partir da interiorização da festa pelo país. Ritmos brasileiros, indígenas e afro-americanos como o xaxado, a marcha, o galope, o baião e o coco foram incorporados às quadrilhas “abrasileirando” a manifestação europeia. 

Porém, a dança acabou ganhando um aspecto “caricatural” no meio urbano, principalmente por contrastar com uma visão de Brasil que, nos anos de 1950, vislumbrava a industrialização e não valorizava o povo do campo.

“Muitas das vezes a quadrilha refletia a visão de Brasil que se queria implementar com urbanização e industrialização, e o homem do campo não é reconhecido nessa época, então nas escolas as quadrilhas eram inseridas com esse homem sendo tratado de forma pejorativa e caricatural: pobre, de roupa remendada, dente preto, que não sabe falar, e esses são elementos que começam a fazer parte das quadrilhas da época, principalmente no ambiente escolar”, afirmou Valéria.

Caminho da roça

As quadrilhas estão relacionadas com a realização de um casamento, uma homenagem a Santo Antônio, popularmente conhecido como “santo casamenteiro”. No Nordeste, as apresentações mobilizam grupos, concursos e inúmeros ensaios ao longo do ano.

A cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba, detém o título de maior Festa de São João e também maior quadrilha do Brasil. Neste ano, o município bateu o seu próprio recorde ao reunir 2.142 dançarinos, formando 1.071 casais, no chamado “quadrilhão”.

No estado do Rio de Janeiro, não há nenhum município que se equipare a Campina Grande, mas existem iniciativas para valorizar esta tradição durante as festas juninas. A cidade de Maricá, na região metropolitana, por exemplo, inseriu as apresentações de quadrilhas em a programação junina do município. 

Neste final de semana, o “Arraiá de Maricá” estará em Ponta Negra, com apresentações de artistas locais e quadrilhas profissionais. O destaque desse fim de semana será o show da cantora e atriz Gaby Amarantos no sábado (24), a partir das 22h30, no palco da orla de Ponta Negra, localizado na Rua Carolino José do Nascimento. 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Jaqueline Deister

CACURIÁ ASSACANA – BATIZADO

Junho 23, 2023

QUAL A ORIGEM DO DIA DE SÃO JOÃO? SAIBA MAIS SOBRE A HISTÓRIA DA FESTA JUNINA

Junho 23, 2023

CULTURA24 DE JUNHO

Festividade religiosa da Península Ibérica chegou ao Brasil com a colonização e incorporou elementos da cultura popular

Redação

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

 

A homenagem aos santos juninos começa com Santo Antônio, o santo casamenteiro, no dia 13 de junho – CNT- Divulgação

O Dia de São João, marcado pelas tradicionais festas juninas no próximo sábado (24), tem origem na religiosidade da Península Ibérica. Ao chegar no Brasil com a colonização portuguesa, diversos elementos da cultura popular, como as comidas típicas da colheita do milho nessa época do ano, passaram a fazer parte da celebração dos santos do mês de junho.

Segundo a Igreja Católica, São João é na verdade João Batista. O personagem bíblico é considerado pela crença o precursor de Jesus e o último dos profetas. João Batista anunciou a chegada de Jesus Cristo e o batizou nas águas do Rio Jordão. Sua mãe, Santa Isabel, e Maria Mãe de Jesus seriam primas.

A homenagem aos santos juninos começa com Santo Antônio, o santo casamenteiro, no dia 13 de junho. Depois, o nascimento de São João é celebrado pela liturgia no dia 24; e São Pedro, no dia 29 de junho, encerra o mês de festejos acompanhados por danças, fogueiras e culinária típica. 

A fogueira de São João, um dos principais símbolos da festa junina, é acesa na noite do dia 23 de junho e preparada para queimar durante vários dias de festa. Na crença católica, a mãe de João Batista teria acendido uma fogueira no alto de uma montanha para avisar Maria sobre o nascimento de João. 


Ritmo que embala as festas do mês de junho, forró é patrimônio cultural imaterial do Brasil / Arnaldo Felix/Prefeitura de Caruaru.

Outra origem da tradição junina é a pagã, ou seja, anterior ao cristianismo. As celebrações homenageavam deuses da natureza e da fertilidade. 

A época da festividade teria relação com o solstício de verão, que ocorre em junho no hemisfério norte. Já no Brasil, com a chegada do solstício de inverno, a fogueira aquece e simboliza a união das pessoas ao seu redor.

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Há registros anteriores à Idade Média de povos camponeses em volta de fogueiras para agradecer a boa colheita e pedir proteção contra maus espíritos. O costume de acender grandes fogueiras nessa época do ano teria sido incorporado pelo cristianismo nas festas juninas. Assim, a Igreja Católica passou a adotar um tipo de fogueira para cada santo popular, sendo a redonda de São João, quadrada de Santo Antônio, e a triangular de São Pedro.

Trazida de Portugal como “Festa Joanina”, em referência a João Batista, logo as festas juninas caíram no gosto popular, principalmente no Nordeste.  A cultura e o modo de vida do interior são protagonistas das festas de junho, que também é sinônimo de mesa farta. 

Tanto é que Luiz Gonzaga eternizou na música “A Festa do Milho”, a importância do cultivo a tempo de festejar o São João com pamonha e canjica. “O sertanejo festeja / A grande festa do milho / Alegre igual a mamãe / De ver voltar o seu filho”, canta o Rei do Baião.

Para além dos significados religiosos, a influência de diversas culturas e crenças faz da tradição das festas juninas uma das maiores manifestações folclóricas do país. No Nordeste, Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, rivalizam entre si o título de “maior São João do mundo”, e a data é considerada feriado.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Clívia Mesquita