Archive for Setembro, 2016

‘Precisamos falar do assédio’ expõe de modo cru o drama da violência sexual

Setembro 30, 2016

Precisamos falar do assédio

Filmado dentro de uma van-estúdio, documentário da diretora Paula Sacchetta apresenta 26 depoimentos de mulheres vítimas de algum tipo de violência sexual.

por Redação RBA

São Paulo – Entra em cartaz hoje (29), no Cine Belas Artes, na região central de São Paulo, o documentárioPrecisamos falar do assédio, da diretora Paula Sacchetta, que o define como “bruto, duro, cru”. São 26 depoimentos de mulheres contando casos de violência sexual sofrida, em grande parte, durante a infância ou adolescência.

A força dos depoimentos tem ainda mais vitalidade em função da estética adotada pela diretora. Com um fundo escuro, os depoimentos são colhidos com apenas uma câmera parada e a mulher, em close, contando sua história. O filme tem a particularidade de ter sido um projeto-rodante, com as falas sendo tomados dentro de uma van-estúdio, uma espécie de confessionário, que percorreu cinco endereços da cidade de São Paulo e quatro do Rio de Janeiro durante a semana da mulher, em março deste ano.

Ao todo, foram 140 mulheres, entre 14 e 85 anos de idade, vítimas de qualquer tipo de assédio, que decidiram expor sua história. Os depoimentos são puros, sem qualquer tipo de interlocução ou entrevista, e podiam ser feitos mostrando o rosto ou usando máscaras. “No primeiro dia na rua, as mulheres foram tímidas, tentando entender o que estava acontecendo. Isso mudou a partir do segundo dia, quando, após o projeto ter aparecido na mídia, começou a haver uma mobilização das mulheres para encontrar a van e dar seu depoimento”, diz Paula, também diretora do documentário Verdade 12.528, sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade.

https://player.vimeo.com/video/182775713

“Falo das coisas mais tristes e feias do mundo, para tentar mudá-las”, afirma Paula. Ela explica que a ideia do filme surgiu após a grande repercussão nas redes sociais das campanhas #meuprimeiroassédio, #meuamigosecreto e #agoraéquesãoelas. Para a diretora, a partir do momento em que as mulheres se sentem parte de um problema maior, que envolve também milhares de outras mulheres, há mais coragem para falar sobre a violência sofrida.

“A gente naturaliza a violência e não olha para ela como deveria”, disse, ponderando que talvez muitas mulheres só lembrem do fato ocorrido após verem ou lerem outras comentando fatos semelhantes. “Aprendi o sentido mais profundo da palavra acolhimento”, disse, ao falar sobre o processo de produção do documentário. “Ouvir as histórias mais horríveis que eu podia ouvir, foi também muito bonito como um lugar de encontro.”

O filme tem sido comparado por críticos com documentários realizados pelo cineasta Eduardo Coutinho, morto em fevereiro de 2014. “Pra mim é uma honra escutar esse tipo de coisa, ele é um mestre do documentário”, afirma, dizendo-se satisfeita por fazer um filme sobre um tema tão difícil e que está sendo bem avaliado esteticamente.

Precisamos falar do assédio fica em cartaz até 5 de outubro, com sessão às 16h40. O Cine Belas Artes fica na Rua da Consolação, 2.423.

‘Frestas do Olhar’ valoriza diferentes tipos de corpo

Setembro 28, 2016

Dança

Produção da Cia. Dança sem Fronteiras estreia amanhã (28) e vai até 27 de novembro, em diversos locais públicos da cidade de São Paulo.

por Redação RBA

São Paulo – O espetáculo de dança “Frestas do Olhar”, da Cia. Dança sem Fronteiras, que reúne bailarinos com e sem deficiência em uma produção que se propõe a valorizar os diferentes tipos de corpo e de movimentos produzidos por eles, estreia amanhã (28), em São Paulo. O espetáculo, dirigido pela bailarina e coreógrafa Fernanda Amaral, vai até 27 de novembro, em diversos locais públicos da cidade, como parques, centros culturais e avenidas.

As coreografias e a dramaturgia da produção foram criadas a partir da individualidade dos bailarinos e de suas variadas formações em dança. A companhia pesquisou as possibilidades dos intérpretes de se mover com o auxílio de tecnologias assistivas, como muletas, andador e cadeira de rodas, tanto para facilitar o movimento como para modificá-lo e criar novas possibilidades na coreografia. Toda a pesquisa da companhia parte do pressuposto de que não existe um tipo certo ou errado de corpo.

“Trabalhamos com e pela diversidade. Em meu trabalho celebro as diferenças e não procuro minimizá-las ou disfarçá-las. No momento estamos promovendo muitas ações pela cidade de São Paulo e o público, sempre convidado, pode ver e experimentar uma verdadeira inclusão”, afirma Fernanda. A produção, fruto de um ano de pesquisa sobre as relações entre o corpo e a cidade, faz parte do projeto “Novas Fronteiras do Olhar”, contemplado pelo 19º edital de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo.

Além do espetáculo, a companhia realiza uma série de atividades que visam a promover a dança contemporânea como um bem cultural acessível a todos. Na agenda estão oficinas regulares que ocorrem todo primeiro domingo de cada mês no Centro Cultural São Paulo, ao lado da estação Vergueiro do metrô, na zona sul da cidade. Elas são ministradas por Fernanda Amaral, com participação de toda a companhia, e trabalham a dança e o improviso a partir de um denominador comum entre as sensações, relações, contextos e habilidades específicas de cada pessoa.

No mesmo local ocorrem também oficinas para profissionais e o fórum “Diversidade: Um Direito de Cidadania”. A Cia. Dança sem Fronteiras realiza uma série de atividades educacionais e artísticas em São Paulo, desenvolvendo pesquisa e atraindo novos bailarinos com e sem deficiência. A diversidade é um dos pilares do grupo, formado por intérpretes de diferentes habilidades, formações e idades.

Confira a programação completa:

Espetáculo “Frestas do Olhar”

Quando: 28/9 a 30/9, às 18h e 1/10, às 16h
Onde: Rampa, corredores, área de convivência do Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso)

Quando: 23/10, às 16h
Onde: Avenida Paulista

Quando: 28/10, às 12h30; e 29/10, às 13h
Onde: Paço das Artes (Avenida São João, 281, Centro)

Quando: 30/10, às 16h
Onde: Parque Minhocão (Elevado João Goulart)

Quando: 5/11, às 11h e às 15h
Onde: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Parque Ibirapuera, Portão 3)

Quando: 20/11, às 15h
Onde: Parque da Luz (Praça da Luz, s/n, Bom Retiro)

Quando: 27/11, às 15h
Onde: Parque da Água Branca (Avenida Francisco Matarazzo, 455, Barra Funda)

Outras Atividades
Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso)

Oficina de Dança para Todos
Quando: 6/11 e 4/12, das 14h às 15h30

JAM de Dança para Todos
Quando: 2/10 e 4/12, das 14h às 15h30

Fórum “Diversidade: Um Direito de Cidadania”

Quando: 14/10, das 16h às 20h

Oficinas de Dança e Acessibilidade para Profissionais

Quando: 15 e 16/10, das 14h às 18h

Para mais informações, acesse os sites https://patuadanceability.wordpress.com/ ehttps://novasfronteirasdoolhar.wordpress.com/, além do canal no Youtube da Cia. Dança sem Fronteiras e também a página do grupo no Facebook.

Belchior que a crítica vulgar não viu

Setembro 24, 2016

Belchior critica vulgar política sociologia

Canções do compositor cearense debateram, desde os anos 1970, a alienação, as relações mercantis e a própria indústria cultural. Mas alguns procuraram enquadrá-lo como apenas um rapaz romântico.

Alberto Sartorelli,

Outras Palavras

Que tal a civilização
Cristã e ocidental…
Deploro essa herança na língua
Que me deram eles, afinal.
– BELCHIOR, “Quinhentos anos de quê?”
(Bahiuno, 1993)

A imagem de Belchior vendida pela indústria cultural é a do artista brega, de voz fanha e bigodão – uma figura! Poucos prestam atenção nas letras. A forma simples de suas canções possibilitou sua assimilação pela indústria fonográfica, que criou-lhe uma imagem caricata e reproduziu suas músicas em massa, entre shows, premiações e programas de auditório, fazendo tábula rasa de seu conteúdo crítico. Belchior foi reduzido a um mero cantor romântico.

Em estética, o artista engajado politicamente deve escolher entre dois caminhos: o da forma artística de difícil assimilação – e remuneração! – para o público e para a indústria cultural; ou o da forma mais simples, de fácil assimilação do público e do show business. Ambas as opções estão fadadas ao silêncio político: uma não apela, a outra tem seu apelo anulado pela caricaturização. No fim, a indústria cultural impede que qualquer artista seja levado muito a sério, por seu ostracismo ou por sua redução a uma imagem vendável.

A especificidade de Belchior é a sua consciência perante esse processo todo. “Aluguei minha canção / pra pagar meu aluguel / e uma dona que me disse / que o dinheiro é um deus cruel / […] hoje eu não toco por música / hoje eu toco por dinheiro / na emoção democrática / de quem canta no chuveiro / faço arte pela arte / sem cansar minha beleza / assim quando eu vejo porcos / lanço logo as minhas pérolas” (TOCANDO POR MÚSICA, Melodrama, 1987).

Belchior demonstra uma compreensão total do processo de nivelamento – por baixo – da cultura por parte da indústria cultural, dificultando demasiado a ocorrência de composições com alto grau de complexidade – os artistas que se propõem a tal correm sempre o risco da miséria material e do esquecimento. Os próprios arranjos dos discos de Belchior são bem simples, com o teclado tendendo ao “engraçado”. Não é da mesma maneira em relação às letras, sempre de uma profundidade abissal e crítica ácida.

Belchior, antes de músico no sentido geral, é um compositor de canções. Cada autor encontra uma forma para se expressar: o ensaio filosófico, a pintura não-figurativa, a ópera, a canção. A canção foi a forma adequada que Belchior encontrou para transpassar seus pensamentos. É preciso ter em mente, ao pensarmos a obra de Belchior, um autor de vasta erudição, de poesia refinadíssima, conhecedor das línguas latinas e da literatura clássica, e um artista engajado politicamente de maneira radicalíssima. A partir da forma canção, Belchior oferece uma visão do Brasil e do mundo que pouquíssimos filósofos nascidos em nossas terras puderam vislumbrar. Como diz Nietzsche, o homem verdadeiramente de seu tempo sempre está à frente de seu tempo. É o caso de Belchior.

Uma das críticas mais ferrenhas do cancionista sobralino é contra a arte alegre, moda da época nos anos 1960-70. O filósofo Theodor Adorno, em sua Teoria Estética (1969) diz que a arte se utiliza de elementos da vida enquanto seus materiais; se a vida social é cindida pela divisão do trabalho, que separa o homem de sua produção e da natureza, e impede a felicidade enquanto reconhecimento recíproco entre sujeito e objeto, a arte que imita essa vida deve ser triste, como a própria vida. A arte alegre seria, então, ideológica, uma falsa verdade. A Bahia alegríssima de Caetano Veloso dos anos 1970 (a triste é de Gregório de Matos) não passa de logro, ilusão. “Veloso / o sol não é tao brilhante pra que vem / do norte / e vai viver na rua” (FOTOGRAFIA 3X4, Alucinação, 1976). Surpreendente o jogo de ambiguidade: “veloso” pode ser tanto um adjetivo do Sol, velando pelo migrante e suas dificuldades na metrópole, ou assumir outro sentido completamente oposto, identificado com o próprio Caetano enquanto imperativo moral – “Veloso (Caetano), veja!, para quem sofre, o sol não é tão brilhante quanto dizes”. Ou então esta outra: “Mas trago de cabeça uma canção do rádio / em que um antigo compositor baiano me dizia / tudo é divino / tudo é maravilhoso / […] mas sei que nada é divino / nada, nada é maravilhoso / nada, nada é sagrado / nada, nada é misterioso, não” (APENAS UM RAPAZ LATINO-AMERICANO, Alucinação, 1976).

Chamado de “antigo”, pois já havia deixado de ser vanguarda e caído no pop, encontramos mais uma crítica a Caetano e sua composição “Divino Maravilhoso” (1968), em parceria com Gilberto Gil e que foi imortalizada na voz de Gal Costa. Vale notar, sem dúvida, que a crítica de Belchior a Caetano provém de alguma admiração: em entrevista ao Pasquim em 1982, Belchior diz que Caetano Veloso é o melhor letrista da MPB, “o autor da modernidade musical no Brasil”. Todavia, é com enorme verve materialista que ele fortemente rebate a letra de Caetano – “nada é divino, maravilhoso, sagrado, misterioso!”

O materialismo é um dos fundamentos da música de Belchior. Seus grandes inimigos são os escapistas, os fugidios, aqueles que diante de crenças metafísicas falam de uma vida reconciliada, feliz. Musicalmente representada na Tropicália, essa ideia era disseminada pelos hippies, com a cabeça feita por alucinógenos e um mix de espiritualidade. A resposta do materialista é ácida [sic]. “Eu não estou interessado em nenhuma teoria / em nenhuma fantasia / nem no algo mais / nem em tinta pro meu rosto / oba oba, ou melodia / para acompanhar bocejos / sonhos matinais / eu não estou interessado em nenhuma teoria / nem nessas coisas do oriente / romances astrais / a minha alucinação é suportar o dia-a-dia / e meu delírio é a experiência / com coisas reais” (ALUCINAÇÃO, Alucinação, 1976). É como se Belchior dissesse que não é por estar num registro de experiência desconhecido que essa experiência é necessariamente divina; especular metafisicamente sobre isso não passa de teoria vazia. E que o importante não é o plano espiritual, mas este aqui, o da miséria e do sofrimento, a realidade empírica e social.

Aos 29 anos em 1976, quando do lançamento do álbum Alucinação, Belchior teve o tempo, a maturidade e o olhar aguçado para ver a dissolução do sonho pacifista de liberdade. Os libertários de outrora logo se tornaram os burgueses. “Já faz tempo / eu vi você na rua / cabelo ao vento / gente jovem reunida / na parede da memória / esta lembrança é o quadro que dói mais / minha dor é perceber / que apesar de termos feito / tudo, tudo o que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos / como os nossos pais / […] e hoje eu sei / que quem me deu a ideia / de uma nova consciência e juventude / está em casa guardado por Deus / contando seus metais” (COMO OS NOSSOS PAIS, Alucinação, 1976). É curioso notar que foi exatamente “Como os nossos pais”, na magnífica voz de Elis Regina, a canção que colocou Belchior de fato no mercado fonográfico.

O radicalismo político de Belchior tem seu principal fundamento na crítica do dinheiro em si e do trabalho alienado, uma crítica mais profunda do que a mera crítica do capitalismo. O dinheiro é tratado enquanto fetiche e abstração, mas também enquanto necessidade material e fonte da corrupção moral. “Tudo poderia ter mudado, sim / pelo trabalho que fizemos – tu e eu / mas o dinheiro é cruel / e um vento forte levou os amigos / para longe das conversas / dos cafés e dos abrigos / e nossa esperança de jovens / não aconteceu” (NÃO LEVE FLORES, Alucinação, 1976). E é o trabalho aquilo separa o homem da natureza, exterior e interior, desumanizando-o. “E no escritório em que eu trabalho e fico rico / quanto mais eu multiplico / diminui o meu amor” (PARALELAS, Coração Selvagem, 1977). Por isso, o aspecto político da obra de Belchior ultrapassa a defesa do socialismo centralista ou qualquer outro sistema que envolva a burocracia. O problema é um problema fundamental, primeiro, filosófico: a civilização. “Aqui sem sonhos maus, não há anhanguá / nem cruz nem dor / e o índio ia indo, inocente e nu / sem rei, sem lei, sem mais, ao som do sol / e do uirapuru” (NUM PAÍS FELIZ, Bahiuno, 1993). Profundo como um antropólogo anarquista, um Pierre Clastres da canção, a crítica mira o fundamento da coisa: a racionalidade ordenadora, dominadora, instrumental, como fora notado por Adorno e Horkheimer na Dialética do Esclarecimento (1946).

Belchior faz as denúncias fundamentais; sua arte é hegemonicamente negativa. Todavia, há um resquício de esperança nessa visão do Apocalipse, mesmo que a esperança fale sobre o que não deve ser. Nada absurdo para o cancionista sobralino, pois para ele a sociedade é ruim por excesso, não por falta. “Não quero regra nem nada / tudo tá como o diabo gosta, tá / já tenho este peso / que me fere as costas / e não vou, eu mesmo / atar minha mão / o que transforma o velho no novo / bendito fruto do povo será / e a única forma que pode ser norma / é nenhuma regra ter / é nunca fazer / nada que o mestre mandar / sempre desobedecer / nunca reverenciar.” (COMO O DIABO GOSTA, Alucinação, 1976). “Como o diabo gosta” deveria ter sido um hino da liberdade; passou despercebida, sem ninguém contestar a “Pra não dizer que não falei das flores” (Geraldo Vandré, 1968) o posto de canção de protesto.

Para Belchior, as palavras são um instrumento de luta política, do despertar da consciência contra a opressão e seus mecanismos ideológicos. “Se você vier me perguntar por onde andei / no tempo em que você sonhava / de olhos abertos, lhe direi / amigo, eu me desesperava / […] e eu quero é que esse canto torto feito faca / corte a carne de vocês” (A PALO SECO, Alucinação, 1976). Para tal intento, sua canção deve ter um quê de dissonância para com o sistema estabelecido, e em vez de cantar as “grandezas do Brasil”, tem de denunciar os horrores de uma sociedade civil falida. “Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve / correta, branca, suave / muito limpa, muito leve / sons, palavras, são navalhas / e eu não posso cantar como convém / sem querer ferir ninguém / mas não se preocupe meu amigo / com os horrores que eu lhe digo / isso é somente uma canção / a vida realmente é diferente / quer dizer / a vida é muito pior” (APENAS UM RAPAZ LATINO-AMERICANO, Alucinação, 1976). Se a arte é a mímese da vida, toda arte, por mais verdadeira que seja enquanto parte, não dá conta do todo. A realidade é pior do que a tristeza que a arte transpassa, e pior do que o pesadelo em sonho. É essa realidade que importa mudar.

Um mecanismo utilizado nas letras e nas melodias de Belchior é o da aproximação perante o ouvinte. Cearense, migrante, que na cidade grande sofreu, tocou em puteiros, foi explorado para “fazer a vida”. “Pra quem não tem pra onde ir / a noite nunca tem fim / o meu canto tinha um dono e esse dono do meu canto / pra me explorar, me queria sempre bêbado de gim” (TER OU NÃO TER, Todos os sentidos, 1978). É assim, por meio de sua experiência de vida trash, que Belchior realiza o approche para com o ouvinte. Ritmo simples e letra aguda, essa foi a aposta do cancionista para a politização da massa. “A minha história é talvez / é talvez igual a tua / jovem que desceu do norte / que no sul viveu na rua / que ficou desnorteado / como é comum no seu tempo / que ficou desapontado / como é comum no seu tempo / que ficou apaixonado e violento como você / eu sou como você que me ouve agora” (FOTOGRAFIA 3X4, Alucinação, 1976). Ao dizer “eu sou como você”, Belchior almeja arrebatar o outro como identidade, e trazer à tona a revolta contra a opressão; seu público – alvo, escolhido a dedo, não é o intelectual burguês letrado, mas o pobre que vai ao boteco depois da jornada de trabalho; ele o reconhece como indivíduo ativo a ser despertado: o sujeito revolucionário. Mas é claro que a indústria cultural fez de tudo para anular esse conteúdo: em plena ditadura militar, transformaram Belchior numa personagem caricata, num astro romântico, o galã de “Todo sujo de batom” (Coração Selvagem, 1977).

Belchior sabe, desde muito tempo, que “Eles venceram / e o sinal está fechado pra nós / que somos jovens” (COMO OS NOSSOS PAIS, Alucinação, 1976). Mesmo assim, não foi em vão seu esforço: além de todas as canções citadas até agora, ainda há muitas outras de conteúdo crítico ferrenho, como por exemplo “Pequeno perfil de um cidadão comum” (Era uma vez um homem e seu tempo, 1979), uma epopeia sem o elemento épico, que fala de como é vã a vida do sujeito raso, de gosto pouco refinado, cuja finalidade é voltada ao trabalho; “Arte Final” (Bahiuno, 1993), grande canção sobre tudo aquilo que deveria ter acontecido e não aconteceu; ou “Meu cordial brasileiro” (Bahiuno, 1993), que identifica a tese do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Hollanda (Raízes do Brasil, 1936), o elemento diferenciador do brasileiro, com o aspecto consentido do nosso povo perante a política e o trabalho. Belchior teve sua poesia impregnada pela frustração de não ter podido colocar em prática o projeto por um mundo melhor, e sua música é mais verdadeira e mais revolucionária por isso: não promete a felicidade, mas escancara a impossibilidade dela no estado de coisas vigente.

No fim, em meio a essa cena sombria, nos tempos dele e no nosso tempo de agora, ainda há alguma esperança. Para Belchior, mais importante do que a filosofia ou a arte é a vida. “Primeiro o meu viver / segundo este vil cantar de amigo” (AMOR DE PERDIÇÃO, Elogio da Loucura, 1988). Sua filosofia é oposta à de Caetano: se para o compositor baiano, quem “mora na filosofia” está separado dos sentimentos humanos, a filosofia de Belchior provém da experiência; é pensamento vivo. “Deixando a profundidade de lado / eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia / fazendo tudo de novo / e dizendo sim à paixão / morando na filosofia” (DIVINA COMÉDIA HUMANA, Todos os sentidos, 1978).

Marcado no cancioneiro latino-americano como uma de suas grandes vozes, Belchior foi um mestre da poesia. Foi assimilado pela indústria cultural, de fato, como Mercedes Sosa ou Che Guevara. Ele se jogou na contradição da música popular, assim como qualquer um se joga nas contradições da lógica do trabalho. Assimilado, mas não rendido. “Marginal bem sucedido e amante da anarquia / eu não sou renegado sem causa” (LAMENTO DE UM MARGINAL BEM SUCEDIDO, Bahiuno, 1993). Não é por ter sido reproduzido e veiculado pela indústria cultural que Belchior perdeu totalmente a sua virulência: ela se mantém viva em ouvintes atentos que, como nós, encontram nele uma manifestação da consciência de seu tempo, e mais: a esperança de um mundo melhor, inteiramente outro. Por agora, o importante é viver. “Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa / e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza / sempre é dia de ironia no meu coração” (NÃO LEVE FLORES, Alucinação, 1976). Belchior, como Nietzsche, diz sim à vida, apesar de tudo, e talvez por isso tenha caído fora dessa loucura midiática que é a vida de um artista famoso sempre sob os holofotes.

Em relação às dúvidas acerca de seu paradeiro, que me perdoem os escandalizados, mas a letra já estava dada há muito tempo. “Saia do meu caminho / eu prefiro andar sozinho / deixem que eu decido a minha vida” (COMENTÁRIO A RESPEITO DE JOHN, Era uma vez um homem e seu tempo, 1979).

 

Mostra reúne filmes premiados de diretoras latino-americanas

Setembro 23, 2016

‘Mulheres em Cena’, em cartaz no CCBB SP de amanhã (21) a 10 de outubro, exibe 18 longas e promove debates sobre o posicionamento da mulher latino-americana no mercado audiovisual.

por Redação RBA

A tela do Centro Cultural Banco do Brasil São Pauloapresenta entre amanhã (21) e 10 de outubro, a Mostra Mulheres em Cena, com 18 longas e vários curtas-metragens de importantes cineastas latino-americanas. Além da argentina Lucrecia Martel, da peruana Claudia Llosa, da venezuela Mariana Rondón, da paraguaia Paz Encina e da chilena Marialy Rivas, estarão em cartazfilmes das brasileiras Anna Muylaert, Tata Amaral, Laís Bodanzky e Lúcia Murat. De amanhã até 3 de outubro, a programação também será exibida no Centro Cultural do Banco do Brasil Rio de Janeiro.

Com curadoria das cineastas Andrea Armentano e da argentina Sofia Torre, a mostra também promove mesas de debate entre as cineastas convidadas e mulheres profissionais do audiovisual. Além de promover um intercâmbio cultural entre os países latino-americanos, a programação tem o intuito de refletir sobre o cinema sob a perspectiva do olhar feminino. “As cineastas selecionadas para a mostra pertencem à mesma geração, o que proporciona um diálogo entre seus trabalhos. Seus filmes lidam com temas como a diversidade sexual, a discriminação da mulher, devoção religiosa, contextos políticos e sociais, possibilitando uma visão ampla da realidade latino-americana por parte do espectador”, afirmam as curadoras.

A mostra em São Paulo será aberta nesta quarta-feira às 17h com o premiado Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert, que ganhou prêmios nos festivais de Sundance e Berlim e foi o indicado brasileiro a uma vaga ao Oscar 2016. Na sequência, às 19h30, será exibido Madeinusa, da peruana Claudia Llosa, sobre uma peculiar Semana Santa em um povoado nas montanhas do Peru, onde pode tudo desde a sexta-feira Santa até o domingo de Páscoa.

Entre os destaques da programação estão Jovem Aloucada, de Marialy Rivas, sobre o despertar sexual de uma adolescente bissexual reprimida pela restrita educação evangélica imposta pela família; Hamaca Paraguaya, de Paz Encina, sobre um casal de camponeses idosos que espera pela volta do filho, pela chuva e por dias melhores; Postais de Leningrado, de Mariana Rondón, traz as lembranças de uma menina, filha de guerrilheiros nos anos 1960 de forma autobiográfica e poética; A Mulher Sem Cabeça, de Lucrecia Martel, fala sobre um atropelamento em que a responsável não sabe se a vítima era um animal ou uma pessoa; e o recém-lançado Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert, é sobre um jovem que vive todas as alegrias, desventuras e inseguranças típicas da adolescência, mas que ainda sente um grande sofrimento por não se identificar com o corpo que tem e com a descoberta de uma nova família.

Também serão exibidos Um Céu de Estrelas, Trago Comigo e Hoje, de Tata Amaral; A Memória que Me Contam e Quase Dois Irmãos, de Lúcia Murat; Cartão Vermelho, Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade, de Laís Bodanzky; Pelo Malo, de Mariana Rondón, entre outros.

Os debates sobre “O posicionamento da mulher latino-americana no mercado audiovisual” serão realizados no próximo dias 25, às 16h, e 30 de setembro, 2, 5 e 7 de outubro às 19h30.

Para conferir a programação completa, visite o site do CCBB SP.

Mostra Mulheres em Cena
Quando: de 21 de setembro a 10 de outubro
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112, Centro, São Paulo (SP)
Quanto: R$ 5 (meia-entrada) e R$ 10
Mais informações: (11) 3113-3651

Os Amanticidas, time novo na vanguarda musical

Setembro 20, 2016

Batizada a partir de uma das faixas presente no disco Às Próprias Custas S.A (1983) do cantor e compositor Itamar Assumpção, Os Amanticidas chegam como titulares no time da nova vanguarda paulista.

Por Bruno Negromonte, do Musicaria Brasil

Formado por Alex Huszar (voz e baixo), João Sampaio (guitarras, bandolim e cavaquinho), Joera Rodrigues (bateria) e Luca Frazão (violão de sete cordas), Os Amanticidas estreiam no mercado fonográfico de modo independente com um álbum que conta com a participação de nomes como Arrigo Barnabé e Tom Zé. “Amanticidas”, primeiro álbum do quarteto, chega expondo tudo aquilo que os garotos absorveram, condensaram e transformaram de modo bastante original nas dez faixas autorais presentes no disco, produzido por Paulo Lepetit. Um detalhe interessante a ser observado é que mesmo influenciados pelos mais distintos elementos sonoros, o amálgama que os jovens conseguem formar neste projeto não os fazem perder a unidade, pelo contrário, todas as influências substanciaram a trilha do novo caminho que os músicos buscam de modo inovador.

Musicaria Brasil – Acho que a primeira pergunta que convencionalmente fazem a vocês é o modo como se conheceram e como resolveram formar os “Amanticidas”. Como tudo isso ocorreu?

Os Amanticidas – Na verdade três membros da banda, Alex, Joera e Luca, se conhecem desde os tempos de colégio, tocavam juntos desde essa época. Aí o Alex entrou em música na Unicamp, conheceu o Sampaio por lá e teve a ideia de juntar a banda. A gente acabou tocando juntos pela primeira vez no fim de 2011, e em 2012 começamos a fazer shows por São Paulo.

Quem conhece um pouco da biografia de vocês sabe que o nome do quarteto surgiu a partir de uma das canções presentes na discografia do Itamar Assumpção. Por que é que vocês foram buscar o nome do grupo de um disco lançado há mais de três décadas ?

Acho que a gente foi buscar no Itamar porque desde o começo da banda, quando nosso som não tinha ainda a cara própria que foi sendo construída nesses anos de ensaios e shows, a gente já tinha claro que o trabalho do Itamar era uma referência pra de alguma forma nos guiar na direção dessa identidade. O jeito que ele e o Tom Zé, principalmente, trabalham as canções são a base a partir da qual a gente tenta construir o nosso jeito.

Quando e como aconteceu o primeiro contato de vocês com os materiais fonográficos da chamada Vanguarda Paulista?

Pra todos nós foi a partir dos nossos pais, que pertencem à geração que acompanhou de perto a Vanguarda, frequentando o Lira Paulistana e tal. Então desde muito cedo ouvimos em casa os discos de Grupo Rumo, Premê, Arrigo e, claro, Itamar. Mas a gente só foi dar mais atenção pra esses artistas enquanto influência pro nosso próprio trabalho mais pra frente, na adolescência, quando começamos a decidir fazer isso da vida.

Fazer essa comparação do trabalho de vocês com o da turma da Vanguarda Paulista incomoda?

Não incomoda porque a gente não entra muito nessa de comparar. Temos total consciência do quanto devemos a eles (não por acaso o Paulo Lepetit, baixista do Isca de Policia, produziu o disco), mas estamos tentando começar nossa própria trajetória, num outro contexto, outro circuito. Também não achamos de forma alguma que estamos continuando a partir do que eles deixaram, porque afinal boa parte dos artistas daquela cena ainda estão por aí, lançando trabalhos novos e originais.

Foram cerca de quatro anos do surgimento do grupo até o lançamento do primeiro álbum. Neste ínterim quais as maiores dificuldades para a concretização deste marcante passo de vocês?

Bom, a maior dificuldade foi a nossa própria inexperiência. Na parte musical nós tivemos ajuda do Lepetit pra lidar com os problemas, então o desafio maior acabou sendo a parte burocrática que a gravação de disco envolve (registro das músicas, contato com fábricas para prensagem e etc.). Alem de outras dificuldades que todo artista enfrenta pra botar seu trabalho no mundo: algumas roubadas, frustrações, pouca grana, muito ensaio…

Quais foram os critérios para a escolha das dez faixas presentes no disco?

Na verdade foi bem simples, porque como é o primeiro disco ele registra um período mais longo do nosso trabalho. Tem canções ali compostas há vários anos, até antes da banda existir. Ao longo desse tempo a gente foi ajeitando cada uma nos shows e ensaios, montando o repertório com calma até sentir que tinha chegado o momento de registrar.

Assim como algumas referências musicais do grupo, vocês buscaram seguir um caminho fonográfico independente. É fato que a dificuldade é grande, mas a liberdade para a produção vem na mesma proporção (“Clara Crocodilo” é um exemplo). Para se ter essa liberdade na produção vale o preço pago?

Hoje em dia o mercado está bem diferente do que naquela época, se reorganizou de uma maneira que facilita a produção independente. Não que ainda não haja todo tipo de dificuldade, mas com a internet ficou mais viável conseguir um alcance legal pro trabalho sem precisar de meios tradicionais como gravadora, selo etc. Então esse caminho veio de uma forma bem natural pra gente, não foi uma escolha tão pesada; sempre soubemos que era isso que fazia mais sentido.

As diversas influências presentes no álbum não faz de “Amanticidas” um disco sem identidade sonora, pelo contrário, percebe-se a composição de uma unidade bastante coerente. Que tipo de cuidado vocês buscaram tomar para que tantas influências não acabassem descaracterizando este álbum de estreia?

A gente busca a unidade não tanto na composição, afinal como dissemos tem coisa no disco que foi composta antes da banda surgir, mas muito no arranjo. O resultado final das canções soa muitas vezes totalmente diferente do material bruto que chegou a partir de quem compôs. E isso a gente trabalha exaustivamente nos ensaios, tentando ao longo desses anos formular um jeito nosso de fazer arranjo, que, esse sim, parte muito do que a gente identifica nos jeitos do Itamar, do Tom Zé e outros.

O disco conta com a participação de dois relevantes nomes da nossa música que são o Tom Zé e o Arrigo Barnabé. Como surgiram estes convites e a ideia de inseri-los neste debute fonográfico de vocês?

Os convites vieram a partir do Paulo Lepetit, produtor do disco, que ouviu as faixas e na hora achou que combinavam com eles. A parte que o Tom Zé participa, verdade seja dita, era uma homenagem explícita a ele (o que só faz com que a participação fique mais especial ainda), mas o Arrigo em “Traste” foi uma ideia do Lepetit que a gente nunca tinha imaginado e acabou encaixando perfeitamente.

O show de lançamento do “Amanticidas” ocorreu recentemente. Como será a divulgação deste álbum daqui pra frente? Já há datas confirmadas para apresentação fora do eixo Rio-São Paulo?

A gente tem investido bastante na divulgação pela internet, porque achamos que as chances de alcançar gente que normalmente não nos conheceria é maior. E quanto aos shows, fizemos por enquanto três no interior do estado de São Paulo e dois na capital, além do lançamento. Ainda faremos um no Rio de Janeiro no dia 28 de outubro. Fora do eixo Rio-São Paulo ainda não temos nenhum show confirmado, mas esperamos ter em breve.

Documentário mostra empoderamento de mulheres com o Bolsa Família

Setembro 17, 2016

bolsa família

O filme “Libertar – Relatos de Guaribanas do Bolsa Família” conta a história de 5 mulheres da cidade de Guaribas, no Piauí, o primeiro município beneficiado pelo programa, em 2003. Pesquisas realizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social mostram que o repasse feito em nome da mulher garante maior autonomia, liberdade e poder de escolha dentro de seus lares. Assista

Por Victor Labaki

O filme “Libertar – Relatos de Guaribanas do Bolsa Família”, gravado por três estudantes de jornalismo da ESPM, conta a história de 5 mulheres da cidade de Guaribas, no Piauí, que relatam as transformações que o programa social Bolsa família trouxe para a realidade das suas famílias.

No início dos anos 2000, Guaribas apresentava um dos menores IDH’s do Brasil e foi a primeira cidade que foi beneficiada pelo programa de distribuição de renda em 2003.

“Eles têm muitas coisas que eu não tive. Na verdade… tudo.  Naquele tempo a gente não tinha nem roupa, nem comida para comer.  Hoje eles trabalham na roça e estudam. Naquele tempo era só trabalho, trabalho, trabalho… escravidão. Hoje eles tem uma roupa para usar, roupa boa, comida boa, calçado bom, perfume bom… eu não tive nada disso”, relata Francisca, uma das personagens do filme.

Catharina Obeid, uma das responsáveis pelo documentário, contou o que chamou sua atenção sobre a importância do programa na vida destas mulheres.

“O fator mais importante é o de dar dignidade para essas mulheres para eles poderem dar para os filhos delas as coisas que elas não tiveram”, contou.

Em 2013, as mulheres foram apontadas como responsáveis por 93% do total de titulares do cartão do programa. Pesquisas realizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social mostram que o repasse feito em nome da mulher garante maior autonomia e liberdade às mulheres, que passam a ter poder de escolha e independência econômica dentro de seus lares.

“Disso você pode ter certeza: uma mulher sabe mais a necessidade. Porque ela se preocupa mais com a alimentação, com os filhos, vestimenta, calçado, se for o caso (…) Homem não, se ele pegar e for cachaceiro ele já vai para o bar beber com o próprio dinheiro do Bolsa Família. Se for um jogador, como eu conheço muitos, já pega o dinheiro e vai apostar, vai jogar. Uma mulher nunca vai fazer isso. Uma mãe nunca vai deixar de dar um alimento para seu filho, é preferível ela não comer do que não dar ao filho. Um homem não pensa assim”, afirma Elionete, ex-beneficiária do programa e uma das entrevistadas do documentário.

O documentário está disponível na íntegra no Youtube.

Não indicação de ‘Aquarius’ ao Oscar tem sintonia com realidade, diz diretor

Setembro 13, 2016

Kleber Mendonça Filho afirmou hoje (12) em sua conta pessoa no Facebook que decisão do Ministério da Cultura é “coerente e já esperada”

por Redação RBA

São Paulo – O diretor do aclamado filme Aquarius, Kleber Mendonça Filho, afirmou hoje (12) em sua conta pessoa no Facebook que o fato de Aquarius não ter sido indicado pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil como melhor filme estrangeiro na disputa do Oscar está “em sintonia” com a atual situação política do país e que, a partir daí, a decisão é “coerente e já esperada”. O dramaPequeno Segredo, de David Schurmann, representará o país.

“É bem possível que a decisão da comissão esteja em total sintonia com a realidade política do Brasil, ou seja, é coerente e já esperada”, disse o diretor, que está no Canadá, participando do Festival de Cinema de Toronto. A produção brasileira foi exibida e ovacionada na noite de ontem (11). Durante a estreia do filme no Festival de Cannes, na França, em maio, a equipe de Aquarius protestou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, levantando cartazes enquanto cruzavam o tapete vermelho com dizeres como “um golpe ocorreu no Brasil”, “Resistiremos” e “Brasil não é mais uma democracia”.

“No final das contas, Aquarius é um filme sobre o Brasil, que está no filme da maneira mais honesta possível. Talvez seja exatamente esta honestidade que tenha feito de Aquarius um filme forte como agente cultural, social e produto da nossa indústria do entretenimento”, disse Mendonça Filho pela rede social.

O filme ainda pode concorrer a indicações em outras categorias, já que estreia nos Estados Unidos no fim de outubro. Pelas regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, qualquer filme que estreie comercialmente em Los Angeles até 31 de dezembro de 2016 e fique em cartaz por pelo menos sete dias, com três sessões diárias, pode concorrer.

“Para além de decisões institucionais via Governo Brasileiro, Aquarius tem conquistado internacionalmente um tipo raro de prestígio, e isso inclui distribuição comercial em mais de 60 países enquanto já se aproxima dos 200 mil espectadores nos cinemas brasileiros, com um tipo de impacto popular também raro. Mais ainda, é um filme que já faz parte da cultura e desse tempo, num ano difícil no nosso país”, afirmou.

A diretora e roteirista Anna Muylaert criticou a escolha do Ministério da Cultua em seu perfil no Facebook. “O que esperar do futuro? Que os amigos de Michel Temer sejam daqui pra frente os grandes autores do cinema brasileiro – independentemente de sua qualidade ou mesmo de sua representatividade junto ao publico? A resposta é triste e é: provavelmente sim. Com esta escolha de hoje, enterramos muito mais que um filme. Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro. Quando se está vivendo sob a égide de um golpe nacional, porque haveria de ser diferente com o cinema?”, questionou.

“Do meu ponto de vista o maior prejudicado não foi nem é Kleber e sua equipe e sim o cinema brasileiro”, disse. “Ora Kleber Mendonça fez um filme – goste-se ou não – importante, extremamente bem dirigido e que conquistou uma vaga na competição de Cannes – a mais difícil do mundo. Além disso, está tendo sucesso de público e de critica no seu país de origem. Escolher outro filme para representar o Brasil agora – um filme que ninguém viu – não é apenas uma derrota para Aquarius – Filme, é antes de tudo uma mudança de rumo nos paradigmas de qualidade que viemos construindo todos nós juntos há anos.”

Indicação

Schurmann, que dirige Pequeno Segredo, é membro da família que foi a primeira tripulação brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro. O filme conta a história de Kat, a menina portadora de HIV adotada pela família em uma de suas viagens. No elenco estão as atrizes Julia Lemmertz, Maria Flor e o ator Marcelo Antony. O filme chegará aos cinemas apenas em 10 de novembro mas, para poder concorrer ao Oscar, haverá uma pré-estreia limitada antes de 30 de setembro.

O diretor agradeceu a indicação em sua página no Facebook: “Obrigado a todos os que acreditam nesse filme. Meu profundo respeito a todos os maravilhosos filmes inscritos. Tenham certeza que faremos de tudo e não economizaremos energias para representar nosso país na premiação do Oscar 2017. Obrigado, Obrigado, obrigado!”.

Festival de Gramado encerra com ‘Fora Temer’ e consagração de ‘Barata Ribeiro, 716’

Setembro 9, 2016

festival-de-cinema-de-gramado-fora-temer-rosinha.jpgAtores fazem manifestações em defesa da democracia na sessão de encerramento do festival na noite deste sábado (3); público adere às manifestações e grita em coro ‘Fora Temer’

Sul 21 – O 44º Festival de Cinema de Gramado foi encerrado na noite deste sábado (3) com a entrega do prêmio Kikito para os melhores filmes da mostra competitiva. O grande vencedor foi o filme “Barata Ribeiro, 716”, que levou os prêmios de melhor filme, melhor direção para Domingos Oliveira e melhor trilha musical. O filme levou ainda o prêmio de melhor atriz coadjuvante, para Glauce Guima. No entanto, um festival que abriu com protesto contra o então ainda governo interino de Michel Temer no filme “Aquarius”, não poderia se encerrar sem manifestações políticas.

Paulo Tiefenthaler, que recebeu o Kikito de melhor ator por “O Roubo da Taça”, fez críticas ao agora efetivo governo e incluiu o bordão “Fora Temer” em seus discurso.

Gui Campos, do curta “Rosinha”, subiu ao palco com faixas pedindo “Diretas Já” e “Resistir Sempre”. “Nós aqui presentes nos pronunciamos contra o golpe e a favor da democracia brasileira”, disse ele.

Parte do público apoiou a manifestação de Campos e se uniu a ele em um coro de “Fora Temer”. O público também participou do protesto contra o governo ao vaiar a aparição do logo do Ministério da Cultura durante o anúncio dos patrocinadores.

Confira a lista de todos os ganhadores:

Longas-metragens brasileiros
Melhor fotografia: Ralph Strelow, por “O Roubo da Taça”
Melhor trilha musical: Domingos de Oliveira, por “Barata Ribeiro, 716”
Melhor direção de arte: Fábio Goldfarb, por “O Roubo da Taça”
Melhor desenho de som: Daniel Turini, Fernando Henna, Armando Torres Jr e Fabian Oliver, por “O Silêncio do Céu”
Melhor montagem: Tiago Feliciano, por “Elis”
Melhor ator coadjuvante: Bruno Kott, por “El Mate”
Melhor atriz coadjuvante: Glauce Guima, por “Barata Ribeiro, 716”
Melhor roteiro: Lucas Silvestre e Caíto Ortiz, por “O Roubo da Taça”
Melhor atriz: Andreia Horta, por “Elis”
Melhor ator: Paulo Tiefenthaler, por “O Roubo da Taça”
Melhor direção: Domingos de Oliveira, por “Barata Ribeiro, 716”
Prêmio especial do júri: “O Silêncio do Céu”, de Marco Dutra
Melhor filme, eleito pelo júri da crítica: “O Silêncio do Céu”, de Marco Dutra
Melhor filme, eleito pelo júri popular: “Elis”, de Hugo Prata
Melhor filme: “Barata Ribeiro, 716”, de Domingos de Oliveira

Curtas-metragens brasileiros
Melhor fotografia: Bruno Polidoro, por “Horas”
Prêmio especial do júri: Elke Maravilha, por “Super Oldboy, e Maria Alice Vergueiro por “Rosinha”
Melhor trilha musical: Kito Siqueira, por “Super Oldboy”
Melhor desenho de som: Jeferson Mandu, por “O Ex-Mágico”
Melhor montagem: André Francioli, por “Memória da Pedra”
Melhor roteiro: Gui Campos, por “Rosinha”
Prêmio Canal Brasil: Gui Campos, por “Rosinha”
Melhor atriz: Luciana Paes, por “Aqueles Cinco Segundos”
Melhor ator: Allan Souza de Lima, por “O Que Teria Acontecido ou Não Naquela Calma e Misteriosa Tarde de Domingo no Jardim Zoológico”
Melhor direção: Felipe Saleme, por “Aqueles Cinco Segundos”
Melhor filme, eleito pelo júri da crítica: “Lúcida”, de Fabio Rodrigo
Melhor filme, eleito pelo júri popular: “Super Oldboy”, de Eliane Coster
Melhor filme: “Rosinha”, de Gui Campos

Longas-metragens estrangeiros
Melhor fotografia: Andrés Garcés, por “Sin Norte”
Prêmio especial do júri: “Esteros”, de Papu Curotto
Melhor roteiro: Luiz Zorraquin e Simon Franco, por “Guarani”
Melhor atriz: Veronica Perotta, por “Las Toninhas Van al Leste”
Melhor ator: Emilio Barreto, por “Guarani”
Melhor direção: Fernando Lavanderos, por “Sin Norte”
Melhor filme, eleito pelo júri da crítica: “Sin Norte”, de Fernando Lavanderos
Melhor filme, eleito pelo júri popular: “Esteros”, de Papu Curotto
Melhor filme: “Guarani”, de Luis Zorraquín