“Quando um muro separa uma ponte une… Você vem me agarra, alguém vem me solta… Você corta um verso eu escrevo. Você me prende vivo eu escapo morto. Olha eu de novo”, afirmam Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro.
O biólogo August Weismann com seu plasma germinal já defendia que o ser vivo é uma afirmação e continuidade da vida. O filósofo Spinoza também defendia a impossibilidade de destruir o ser vivo em razão sua potência-natural ou seu conatus. Sua forma de perseverar a vida.
O que significa que o homem, mesmo como sujeito cultural-social, não pode ser impedido de se mostrar em atuação como liberdade. Esse o dom e o tom da humanidade em cada um. Nisso se pode afirmar que nenhum mau, como materialização do ódio contra a humanidade, pode destruir esses elementos que afirmam a vida, enunciados pela ciência e a filosofia. Na verdade, pela natureza como vida movente.
É o que mostra, depois de observar e analisar a história recente da repressão no Brasil, jornalista Airton Centeno, em sua obra, publicada pela Geração Editorial, Os Vencedores – A Volta Por Cima das Gerações Esmagadas pela Ditadura de 1964. Personagens que formaram a geração de 40. Muitos adolescentes ou em fim da adolescência que ocorreu da ditadura que iria durar de 964 a 1985.
Para escrever o período de chumbo que passou a sociedade brasileira, tempo que alguns que lutaram pela liberdade democrática foram perseguidos e depois passaram à ser personagens respeitadas, Airton Centeno entrevistou vários desses personagens como Frei Beto, Dilma, José Abreu, José Genoíno, Tarso Genro, Gilberto Gil, José Celso Martinez, entre outros e outros que não quiseram conceder entrevista como Caetano Veloso e Gabeira.
“O fato de que os vencedores de 1964 hoje estão esquecidos enquanto derrotados de então eram, décadas depois, são os reais vitoriosos. O ponto de partida foi uma entrevista com a então ministra da Casa Civil e pré-candidata à presidência Dilma Rousseff, que eu havia feito em 2010.
Pode-se dizer que o material existente, os depoimentos a serem concedidos, as histórias a serem contadas dariam material para uma alentada coleção da resistência. Foi necessário fazer escolhas. A primeira delas foi a de ouvir apenas os resistentes. O livro, portanto, tem lado. O que significa que pretenda subverter a verdade factual. Quanto aos entrevistados potenciais, houve alguns que procurados, preferiram não se manifestar.
Na disputa pela memória, os perdedores venceram. Revolução, terrorismo, subversão deram lugar a golpe, tortura, resistência. Repisada a sério anos a fio, a expressão ‘Revolução Redentora’ é lida apenas pelo viés da galhofa. Mesmo a imprensa que quase sempre perfilou-se com os militares, agora refere-se a 1964 como golpe, sem nenhuma cerimônia.
Costumo dizer que a direita que está na rua em 2014 se faz direita menos por sua atividade intelectiva do que por sua operosidade intestinal. Mas, cuidado: todo mundo sabe perfeitamente que, adicionando agressividade e violência a este coquetel, o resultado é o fascismo.
Acho que o livro será útil mesmo para quem grita pela volta dos militares. Basta encará-lo com o espírito desarmado, sem milhares de certeza e nenhuma dúvida. É que Os Vencedores, entre outras tarefas, também cumpre a função de descrever algumas das situações e práticas que tornaram a ditadura uma experiência tão nefasta. Para nunca mais ser repetida”, disse o escritor.
Ele ainda pergunta: E como estão aqueles que perseguiram, torturaram e mataram nos porões da ditadura?