Archive for the ‘Folclore’ Category

COLEÇÃO DISCOS MARCUS PEREIRA COMPLETA EM TORRENT

Abril 25, 2013

Como já haviamos escrito anteriormente sobre sua história, os Discos Marcus Pereira são uma grande contribuição deste publicitário, musicólogo e amante da música popular para a nossa cultura musical e humana. Nosso povo teve oportunidade de ter contato com aquilo que lhe pertence em sua constituição ontofilogenetica, mas que cada vez mais com a (m)idiotização das rádios e televisões (felizmente com algumas poucas exceções), com a imposição da subjetividade cultural norte-americana e de outros padrões da indústria cultural, o brasileiro deixou de conhecer sua música.

O acervo dos Discos Marcus Pereira que foi comprado pela extinta Copacabana, depois ABW, e hoje está engavetado no acervo da Odeon. Preciosidades de grandes músicos, interpretes e intrumentistas que puderam enfim lançar discos como Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Banda de Pífanos de Caruaru, Canhoto da Paraíba, Carlos Poyares, Cartola, Chico Buarque, Chico Maranhão, Dercio Marques, Dilermano Reis Donga, Elomar, Evandro do Bandolim, Jane Duboc, Leci Brandão,  Luperce Miranda, Luis Carlos Paraná, Marcus Vinicius, Noel Guarany, Papete,  Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial, Quinteto Villa-Lobos, Raul de Barros, Renato Teixeira, Tia Amélia, Tó Teixeira,  Walter Smetak entre outros.

Porém o acervo de Marcus Pereira foi recuperado na internet e catalogado com todo esforço e esmero do amigoblog 300 discos que contou com auxílio de vários outros blogs como Abracadabra, Um que tenha, Toque Musical, Preludiando, Acervo Origens e tantos outros.

A própria lei de direitos autorais afirma que não se pode restringir o acesso a educação e a cultura, algo que acontece no caso dos Discos Marcus Pereira que há um bom tempo o povo é vilipendiado tanto no acesso através dos meios de comunicação de massa tanto quanto pela indústria fonográfica.

Desta forma com auxílio de uma leva de pessoas que disponibilizaram sua coleção pessoal trazemos com toda esta moçada e muito carinho e respeito a nossa música uma coleção praticamente completa dos Discos Marcus Pereira em torrent. Há somente três compactos que foram lançados como MP e não estão na lista: um de Adauto Santos,  o primeiro de Leci Brandão, além de Walter E Tereza Santos (Pesquisa, Arranjos E Direção Musical – Folclore Musical Baiano).

BAIXE AQUI O MAGNET LINK/TORRENT DA COLEÇÃO COMPLETA DOS DISCOS MARCUS PEREIRA

Festa do Divino de Paraty agora é Patrimônio Cultural Brasileiro

Abril 5, 2013

da Agência Brasil

Festa do Divino de Paraty  coroação

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou hoje (3) o registro da Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, no Rio de Janeiro, como Patrimônio Cultural Brasileiro. A celebração é uma manifestação cultural e religiosa, de origem portuguesa. Em Paraty, é uma celebração que faz parte do cotidiano dos moradores.

Segundo a presidenta do Iphan, Jurema Machado, o registro de bens imateriais tem características diferentes do tombamento. “As manifestações culturais  mudam ao longo do tempo e isso não significa que elas percam o valor. O registro não significa uma tentativa de mantê-las intactas, mas fazer com que elas continuem existindo”. O reconhecimento deve, segundo a presidenta, dar maior visibilidade à celebração. Festa do Divino de Paraty  Rio de Janeiro ImperadorAcrescentou que o Iphan será um parceiro na busca de apoio material para a realização da celebração.

A Festa do Divino é realizada todos os anos. Inicia-se no domingo de Páscoa. As manifestações e rituais ocorrem ao longo da semana que antecede o Domingo de Pentecostes, considerado o principal dia da festa.

Festa do Divino de Paraty Rio de Janeiro enfeites

Os 100 anos do eterno Luiz “Lua” Gonzaga, o Gonzagão Rei do Baião

Dezembro 13, 2012

Luiz Gonzaga Lua Rei do Baião e festas juninas forros

Hoje, 13 de dezembro, se comemora uma grande festa dos 100 anos de nascimento de um dos grandes nomes da música brasileira: Luiz Gonzaga do Nascimento, o grande Lua, rei do baião e do povão. Muitos podem reclamar que a música do mestre Lua não evoluia, que ele não tinha um entendimento político, que é uma música resignada e deprimente, que era machista, entre outras queixas.

Mas ninguém pode negar a revolução que Luiz Gonzaga fez na música nordestina e na música popular brasileira. Gonzagão introduziu o terno (sanfona, zabumba e triângulo) em nossa música e foi responsável por introduzir as músicas e tradições juninas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste brasileiro.

Como negar a importância de composições juninas como Olha pro céu, Polca fogueteira, O maior tocadô, Forró no escuro, São João na roça, Lascando o cano Fogueira de São João, São João antigo, São João no arraiá, São João do Carneirinho, Piriri, Fogo sem fuzil, Lascando o cano, e muitas outras?

OS 07 GONZAGAS ALOÍSIO, SOCORRO, LUIZ GONZAGA, SEU JANUÁRIO, SEVERINO JANUÁRIO, ZÉ GONZAGA E CHIQUINHA GONZAGA.

OS 07 GONZAGAS: ALOÍSIO, SOCORRO, LUIZ GONZAGA, SEU JANUÁRIO, SEVERINO JANUÁRIO, ZÉ GONZAGA E CHIQUINHA GONZAGA.

Este pernambucano de Exú vem de uma família de tocadores e desde pequeno aprendeu a animar as festanças. Seu pai Januário, assim como Luiz, é um dos grandes nomes da sanfona no Nordeste e foi de grande importância para a cultura popular.

Luiz Lua Gonzaga foi pro Rio de Janeiro tocar e de lá expandiu seu mundo sonoro para o mundo. Foi pai do cantor romântico e filosofante Gonzaguinha e teve como parceiros fortes Zé Dantas, Humberto Teixeira, mas também José Fernandes, Lourival Passos, José Marcolino, Luiz Guimarães, João Silva, Luiz Queiroga,  Severino Ramos,  Nelson Valença entre outros.

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Nestes 100 anos de Lua o Brasil mudou muito, diversos novos músicos talentosos apareceram e muitos não tem a repercursão que Gonzaga conseguiu. Mesmo assim Gonzaga abriu muitas portas para que a produção musical nordestina pudesse entrar no Brasil e acabar (de diversas formas)  com o preconceito regional e musical. Infelizmente hoje temos uma cultura radiofônica doentia ditada por uma indústria musical impositora dos valores capitalismo e que se interessa em enfraquecer a música popular e regional tornando todos iguais.

Felizmente há espaços de corte como a internet, rádios comunitárias, iniciativas culturais mundo independente  que fazem um corte neste flanco duro e deixam passar a arte. Isto faz com que pessoas como Luiz Gonzaga continuem presentes nas nossas cultura musical e na memória da arte no Brasil.

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A música de Luiz se espalhou por todo o país e o tornou uma figura conhecida de norte a sul. A geração dos músicos da família Gonzaga que lançou Gonzaguinha, agora tem como representante Joquinha Gonzaga, o sobrinho de Luiz Gonzaga e Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha e neto de Gonzagão.

E o Brasil todo está em festa pra comemorar uma de suas raizes folclóricas e um de seus maiores nomes da música: Luiz Gonzaga. Em Brasília, São Paulo e São Cristovão já fizeram o forró. Em Recife  na Praça do Arsenal  e no Pátio de São Pedro haverá forrós e cantorias de hoje a domingo a partir das 20 horas com artistas locais e nacionais e gente como Fagner, Alceu Valença, Azulão,  Petrúcio Amorim, Silvério Pessoa e Anastácia, no domingo. Em Exú a festa é constante até o fim do ano.

Esta singularidade que foi Luiz Gonzaga continuará nos iluminando através da música como a Estrela D’Alva que está no céu.

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Grupos de bumba meu boi do Maranhão são patrimônio cultural brasileiro

Agosto 31, 2012

 

Uma dos mais importantes e presentes manifestações da cultura popular brasileira é o bumba-meu-boi. Sua importância não se deve apenas pela difusão que teve em praticamente todo o Brasil (em especial no norte, nordeste e em Santa Catarina. Este folguedo popular é uma rica tradição devido a presença das culturas dos negros, indios, brancos, mulatos, cafuzos, mamelucos em suas músicas, danças, gestuais e também nos personagens do folguedo que inclui os diversos tipos de nosso povo.

Desta forma esta expressão que não se foca na comercialidade, no marketing e sim na produção coletiva continua sua manifestação a todo ano em geral nos meses juninos. E o bumba meu boi se apresenta em quatro formas diferentes: Boi de Matraca, Boi de Zabumba, Boi de Pindaré e Boi de Orquestra.

Por esta importância diversos grupos de bumba meu boi do estado do Maranhão receberam ontem do Ministério da Cultura títulos de Patrimônio Cultural Brasileiro. O enconto se deu no Teatro Alcione Nazaré em São Luís, durante o 2º Fórum Bumba Meu Boi do Maranhão – Patrimônio Cultural do Brasil.

Também foi assinado um termo de cooperação técnica para salvaguarda do bumba meu boi, com a instalação de um comitê gestor e  o lançamento do vídeo São Marçal, A Festa dos Bois da Ilha e de uma cartilha com informações sobre a manifestação cultural.

 

 

 

 

Devir/Dançar

Julho 5, 2012

O Devir/Dançar de hoje traz um tema que está dentro da época festiva junina-julina que estamos passando. Porém nossa coluna traz uma prática do folclore brasileiro que possui dança mas não é exatamente uma dança, e sim um folguedo popular conhecido como bumba-meu-boi.

Obviamente os personagens desta prática cultural que acontece em todo o Brasil cantam e dançam para seu público, ou para a dona da casa. Assim trazemos algumas pinturas nacionais que demonstram um pouco da verdadeira dança bovina de nosso povo.

Cláudio Portinari- Bumba-meu-boi (1956). Veja aqui uma outra versão.

A.Almeida- bumba-meu-boi

J.Borges- Bumba meu Boi

Aldemir Martins- Bumba-meu-boi (água -forte, 1959)

Eduardo Lima- Bumba meu boi

Viva a festa do São Bumba-meu-boi João

Junho 26, 2012

Eu conhecia do Bumba-meu-boi aquilo que se lê nos dicionários de folclore e nos raros livros disponíveis. Definições como a de Alceu Maynard de Araújo: “O bumba-meu-boi é um bailado popular largamente praticado no Brasil, no qual se nota a presença de vários elementos da arqueocivilização: animais que falam e dançam, a ressureição do boi, animal este que, para alguns autores, é um elemento totêmico. Há um pequeno enredo, de grande simplicidade, sendo que após algumas peripécias, matam o boi e sua carne é distribuída. É uma reminiscência do banquete totêmico ou tal distribuição simbólica, feita por um cantador, um trovador que sempre provoca hilariedade, não representará o antigo “pottlach ?”

Sabia que o Boi, em cada região do Brasil, apresentava-se com características absolutamente peculiares e que, no Maranhão, apresentava-se sob quatro formas diferentes: Boi de Matraca, Boi de Zabumba, Boi de Pindaré e Boi de Orquestra, cada qual com suas variantes. Sabia que, em algumas delas, o auto ainda é mantido enquanto que em outras permanecem alguns personagens (vaqueiros, caboclos de pena, Cazumbá, Pai Francisco, Mãe Catirina) e que a parte mais valorizada das “toadas de boi”, improvisos “puxados” pelos “amos do boi” durante toda a noite e repitidos pelo coro dos “brincantes”, como lá são chamados os participantes dos folguedos populares.

São Luiz

Naquela noite morna de São João, tive meu primeiro encontro com o Boi-Bumba do Maranhão. E meus olhos, meus ouvidos, meu coração foram pequenos para sentir toda a beleza, sem dúvida a mais incrível festa que eu já presenciei. Cesário, meu irmão e companheiro nessas andanças, seguia silencioso, ouvidos atentos, gravador em punho, procurando fazer com que pelo menos uma parte de tudo aquilo ficasse fielmente documentada. Foi graças a Américo Azevedo, um apaixonado pelo folclore maranhense, que conseguimos chegar mais perto do Boi. Seus amigos (entre eles, o Gregório Bacic, da TV cultura de São Paulo e velho admirador do Boi do Maranhão) nos levaram até o bairro Madre Deus, atravessando a cidade com suas ruas estreitas, seus velhos casarões, janelas, portões literalmente entupidos de gente alegre, viva, comunicativa.

A chegada no Bairro Madre Deus foi uma experiência extraordinária. Nos contaram que, até há pouco tempo atrás, era um bairro marginal, fechado, no qual “nem a polícia entrava”. Agora as coisas mudaram um pouco, mas continua difícil um forasteiro chegar lá. Madre Deus é um bairro pobre como tantos, em tantas cidades brasileiras. Mas na noite de São João, na noite do Boi, ele se transforma: as ruas ficam embandeiradas e, de espaço em espaço, grandes fogueiras iluminam as casas, os rostos dos homens que, junto ao fogo, afinam os grandes tambores do Boi. A sensação que tivemos foi a de atravessar um túnel do tempo, de entrar numa nova dimensão,num outro mundo.

Tabaco (Boi da Madre Deus)

Fomos à casa do Tabaco, o “dono do Boi’ da Madre Deus, quem organiza a festa e, antes disto, os ensaios (que começavam a se realizar em abril), quem distribui os vários papéis entre os “brincantes”, prepara a grande festa da morte do boi, lá pra fins de julho. Tabaco resolve todos os problemas: os da brincadeira do boi e os da pequena comunidade do bairro e, por força de sua liderança, acaba se transformando numa espécie de “prefeito” de Madre Deus. Quando falei disso, ele riu, satisfeito, acrescentando que “ser dono de boi é uma canseira danada, mas que vale a pena”.

Boi de Anthero

A  casa de tabaco vivia sua noite de glória e confusão. No meio da sala, vestido com um pequeno manto todo bordado de miçangas e pedrarias, a “pele” do Boi. No dia seguinte, Tabaco me mostrou uma dezena delas: todas bordadas com os motivos alegóricos de cada ano (A descoberta do Brasil, A primeira missa, Os mártires da Inconfidência, Alegria do povo, etc.). Nisso ele gasta um dinheirão. Mas, onde é que já se viu um Boi sem “pele” ? E por toda casa circulavam os “caboclos de pena” com suas incríveis fantasias de penas de ema (“ema, agora, não tem mais, então, a gente usa as penas daqueles espanadores, dos grandes, e cada fantasia fica num dinheirão”). Alguém já se encarregava de “molhar” o Boi e a garrafa de cachaça corria, fraternalmente de boca em boca, porque “boi seco” é um boi absolutamente desmoralizado.

Tabaco deu ordem para começar. Saímos de sua casa e fomos a um pequeno largo, pouco mais abaixo. E, realmente, a “coisa” começou. Não sei de onde, um som enorme tomou conta de tudo. Um som indescritível, uma batida, uma cadência que não tinha nada a ver com as que eu conhecia. Primeiro foi o “amo” “puxando a toada, depois os tambores-onça, depois as matracas (duas tabuinhas, semelhantes a dois pequenos tacos de assoalho), centenas delas batendo. Isso durou talvez meia hora, talvez mais. Depois tambores e matracas silenciaram e o povo começou a entrar numa capelinha, entoando rezas e ladainhas. Entramos também e lá, diante do altar repleto de imagens de santos e bandeirolas, estava o Boi, velas acesas sobre os chifres. Era o batizado do Boi, “porque não presta o Boi sair assim, pagão”.

Boi de Anthero

Só depois do batizado é que o Boi saiu à rua. Aí finalmente, o som dos tambores e das matracas, o canto, a dança e a brincadeira começaram. E só terminariam às nove horas da manhã seguinte, “quando o sol já estivesse alto, porque um Boi que volta para seu bairro antes do amanhecer é mal-falado o ano todo.

Na face A deste disco, tentamos dar uma ideia da Riqueza e beleza do Boi-bumbá do Norte. A beleza musical das toadas está exemplificada em “Me dá, me dá, Moreninha”, recolhida por Vicente Salles, na praia do Mosqueiro, Pará. “Boi-Bumbá” é um exemplo de um compositor erudito ou semi-erudito como Waldemar Henrique, inspirado em tema de Boi. Boi do Amazonas é outro tema de Boi, recolhido por Walter Santos. Com o Boi de Madre Deus fizemos uma colagem, reunindo toadas, batizado e entrevistas. Uma delas foi com Zé Igarapé, um velho “amo” de boi, da “turma de 1905”. Uma figura maravilhosa, respeitadíssimo e considerado pelo pessoal do Boi da Madre Deus uma espécie de patrono, de líder espiritual. Depois, seguem exemplos de Boi de Orquestra, Boi de Zabumba (Guarnicê) e Boi de Pindaré (Urrou), os vários sotaques do Boi maranhense. Guarnicê e Urrou são duas partes mais características da representação do Boi-bumbá. Finalizando mostramos uma gravação de 1938, realizada por uma equipe dirigida por Mário de Andrade, no tempo do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, o trabalho mais sério que já se fez (e isso há quase quarenta anos), no campo da cultura popular, e que prova a permanência das características fundamentais do Boi ao longo de todo esse tempo.

 

CAROLINA ANDRADE, Companheira de Marcus Pereira e coordenadora do projeto “Mapa Musical do Brasil” da nossa música popular. Os textos e fotos estão presente no disco “Música Popular do Norte vol.2” lançado como parte do projeto citado acima pelos Discos Marcus Pereira, e que até hoje é um dos principais registros de nossa cultura, música popular, danças e folclore.

Para baixar este disco ou conhecer mais sobre a coleção “Mapa Musical do Brasil”, clique aqui.

ENTES DO FOLCLORE BRASILEIRO: O Curupira

Junho 25, 2012

CURUPIRA. Um dos mais espantosos e populares entes fantásticos das matas brasileiras. De curu, contração de curumi,e pira, corpo, corpo de menino, segundo Stradelli. O Curupira é representado por um anão, cabeleira rubra, peãs ao inverso, calcanhares para a frente. A mais antiga menção de seu nome fê-la o venerável José de Anchieta, de São Vicente, 30 de maio de 1560: “ É coisa sabida e pela boca de todos que há certos demônios e que os brasis chamam Corupira, que acometem aos índios muitas vezes no mato, dão-lhe de açoites, machucam-nos e matam-nos. São testemunhas disso os nossos irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles. Por isso, costumam os índios deixar em certo caminho, que por ásperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras coisas semelhantes, como uma espécie de oferenda, rogando fervorosamente aos Curupiras que não lhes façam mal”. Nenhum outro fantasma brasileiro colonial determinou oferenda propiciatória. Demônio da floresta, explicador dos rumores misteriosos, do desaparecimento de caçadores, do esquecimento de caminhos, de pavores súbitos, inexplicáveis, foi lentamente o Curupira recebendo atributos e formas físicas que pertenciam a outros entes ameaçadores e perdidos na antiguidade clássica. Sempre com os pés voltados para trás e de prodigiosa força física, engana caçadores e viajantes, fazendo-os perder o rumo certo, transviando-os dentro da floresta, com assobios e sinais falsos. Ver: Barbosa Rodrigues, Poranduba Amazonense; Osvaldo Orico, Mitos Ameríndios; Luís da Câmara Cascudo, Geografia dos Mitos Brasileiros e notas a  Poranduba, edição Briguiet. Do Maranhão para o sul até o Espírito Santo, o seu apelido constante é caipora. Ver Caipora, Kilaino, Matuiús. Eduardo Galvão, Santos e Visagens, Brasiliana, São Paulo, 1955, informa: “Currupira é um gênio da floresta. Na cidade ou nas capoeiras de sua vizinhança imediata não existem currupiras. Habitam mais para longe, muito dentro da mata. A gente da cidade acredita em sua existência, mas ela não é motivo de preocupação porque os Currupiras não gostam de locais muito habitados. Gostam imensamente de fumo e de pinga. Seringueiros e roceiros deixam esses presentes nas trilhas que atravessam, de modo a agrada-los ou pelo menos distraí-los. Na mata os gritos longos e estridentes dos Currupiras são muitas vezes ouvidos pelo caboclo. Também imitam a voz humana, num grito de chamada para atrair as vítimas. O inocente que ouve os gritos e não se apercebe que é um Currupira e dele se aproxima perde inteiramente a noção do rumo”. O estado de São Paulo, pela lei de 11 de setembro de 1970, assinada pelo governador Roberto Costa de Abreu Sodré, “institui o Curupira como o símbolo estadual do guardião das florestas e animais que nelas vivem”. No município de Olímpia, neste estado, por mais de trinta anos consecutivos não são assinados quaisquer documentos oficiais durante a semana em que ocorre o Festival de Folclore, no mês de agosto, período em que a autoridade municipal é representada pelo Curupira, que exerce seu poder protegendo a população local e os visitantes que ali comparecem, pássaros, matas, etc. No Horto Florestal da capital paulista há um monumento ao Curupira, inaugurado no Dia da Árvore, 21 de setembro.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore brasileiro. São Paulo: Global, 2001, 11ª Ed.  

Para baixar e ler o gibi do curupira clique aqui