No dia 4 de outubro, no Festival Cine Direitos Humanos, será lançado o documentário longa-metragem Atrás de Portas Fechadas, das documentaristas e pesquisadoras Danielle Gaspar e Krishna Tavares. O documentário apresenta entrevistas com mulheres que no período da ditadura civil-militar que dominou o Brasil entre os anos 1964 e 1985, lutaram contra a opressão e a falta de liberdade.
O documentário mostra a contradição política das muitas mulheres no país. De um lado as mulheres não-alienadas, engajadas, que lutavam contra a ditadura feroz que se apossou do Brasil, e do outro lado mulheres bem comportadas e satisfeitas que se opunham a luta pela liberdade afirmando que estavam defendendo o país do perigo comunista.
Um mote criado pelos Estados Unidos e os ditadores e seus simpatizantes, como até hoje ocorre de maneira farsesca. As mulheres que lutavam contra o chamado perigo comunista, seriam hoje as coxinhas. Muitas delas descendentes dessas coxinhas passadas. Deus, Pátria e Família é a clara demonstração desse tipo de personagem que aparece no documentário.
Maria Helena foi uma dessas mulheres que escolheu o comunismo para ser seu objeto de investimento libidinal do mal, já que não sabia que o mal que carregava era decorrente de suas repressões sofridas em famílias através de seus pais e que a levaram ater uma concepção de família totalmente burguesa: privada e egoísta. Ela foi participante da União Cívica Feminina (UFF) que auxiliava a repressão a combater os que lutavam pela liberdade.
“Que Brasil é este que nós vamos ter? Nós já tínhamos o exemplo de Cuba, do Che Guevara aquela desordem toda das quais tínhamos notícias constantes… E eu estava vendo o Brasil ir pelo mesmo caminho. Então, aquilo me deixava muito preocupada. Aí eu entrei na União Cívica Feminina (UCF) diretamente e fortemente, para fazer tudo que fosse possível.
Eu sabia que na Operação Bandeirantes eles tinham um trabalho muito grande de desbaratar aparelhos, que eram as células comunistas que se reuniam. Como nós fazíamos nossas reuniões, eles também faziam. Nós fazíamos as nossas porque eles faziam as deles. Então, eu me ofereci e disse: ‘Você me liguem quando tiverem alguma denúncia que eu vou guardar na minha memória visual chapas de carro para passar para vocês, para desbaratar aparelhos’. Assim eu consegui desbaratar muitos aparelhos”, afirma convicta e envaidecida Maria Helena.
O contraponto do documentário em relação as que trabalharam em benefício da ditadura surge no écran quando as cinegrafistas mostram o resultado da ditadura e a impunidade dos que a alimentaram.
“A impunidade dos crimes políticos perpetua-se nas mortes cotidianas, por meio das chacinas, massacres e outras arbitrariedades cometidas por policiais, grupos de extermínio e seus mandantes”, declara Atrás das Portas Fechadas.
As cinegrafistas explicam por que realizar um documentário com personagens reais que se posicionaram contra e a favor da ditadura.
“Existe uma questão histórica com relação às lutas políticas e ideológicas no Brasil que precisamos resgatar para responder essa pergunta. Em vários momentos da história dos movimentos da esquerda, no Brasil e na América Latina, vivemos a expectativa de mudanças sociais e políticas significativas que na maioria das vezes não s efetivou.
Além disso, historicamente, a esquerda latino-americana se fragmenta em dissidências, se fragiliza. Entender e escutar o outro, que é ideologicamente contrário, ou igual, faz-se necessário na medida em que se pretende refletir sobre esses processos históricos de forma mais orgânica ”, afirmam as cineastas Danielle Gaspar e Krishna Tavares.
A estreia é no Espaço Itaú, Shopping Frei Caneca, em São Paulo.