Kátia Bressane, Raquel Grabauska e Vika Schabbach oferecem as oficinas online; inscrições vão até o dia 3 de junho
RedaçãoBrasil de Fato | Porto Alegre (RS) | Maio de 2021.
Uma vídeo-poesia, fruto da pesquisa de linguagens e da relação das fotografias de Kátia Bressane com os escritos de Raquel Grabauska serão o ponto de partida da oficina de criação “Pela Janela – fotografia-vídeo-escrita”. A atividade será realizada em oito encontros virtuais, com uma hora de duração cada, às segundas e quintas-feiras, das 19h30 às 20h30, a partir do dia 7 de junho.
As artistas-orientadoras Kátia Bressane, Raquel Grabauska e Vika Schabbach apresentarão a vídeo-poesia para instigar cada participante a perceber o mundo pela sua janela, dando ênfase à importância que há no ato de parar para enxergar, no ato de olhar para escrever, e, por fim, contar a sua história de um jeito lúdico e inovador.
As inscrições são gratuitas, e estarão abertas até o dia 3 de junho. Podem ser feitas por meio do Whatsapp (51) 9 9684.3352 ou por formulário virtual (clique aqui para acessar).
As 20 vagas serão destinadas a pessoas que tenham a partir de 16 anos, moradoras e moradores de comunidades em vulnerabilidade social, com prioridade de inscrição para pessoas pretas, pardas, indígenas, quilombolas, ciganas, com deficiência (PCD) e idosas. As vagas remanescentes poderão ser preenchidas pelo público em geral.
Dinâmica das oficinas
Um celular e um olhar atento serão suficientes para a criação de álbuns virtuais, onde os participantes poderão guardar os seus registros fotográficos e literários. Cada álbum terá um elo entre os registros fotográficos que nele se encontram e os textos que essas imagens geram.
“A fotografia possui um papel educativo de extrema importância, pois possibilita várias formas de percepção do entorno, conforme a realidade de cada indivíduo. Com isso, pode-se partir para a escrita, de uma maneira orientada, desbravando espaços para além da fotografia e identificando os processos nela, que possam levar para uma escrita poética”, afirmam as realizadoras.
Mostra virtual
Em julho, em data a ser definida, os trabalhos produzidos serão apresentados na mostra virtual “Pela Janela”. O evento on-line contará com a participação dos oficinandos, que compartilharão os seus processos criativos.
“Pela Janela” é uma concepção de Raquel Grabauska, diretora e fundadora do “Grupo Cuidado Que Mancha” (CQM), e sua realização está a cargo de Kátia Bressane Fotografia e Vídeo e “Cuidado que Mancha Mais – Arte e dignidade para todos”, braço social do CQM, que atende 12 comunidades vulneráveis através da arrecadação de doações como roupas, produtos de higiene, fraldas e comida, acondicionamento, separação e distribuição de kits de alimentação e cestas básicas.
“Para o júbilo/ o planeta/ está imaturo. É preciso/ arrancar alegria/ ao futuro. Nesta vida/ morrer não é difícil. O difícil/ é a vida e seu ofício.” Maiakovski
Diante de uma pandemia que já vitimou mais de 450 mil brasileiros, o Brasil tem em 2021 um dos anos mais tenebrosos de sua história, conseguindo superar os já sombrios 2020 e 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu a presidência da República, após um 2018 marcado pelo assassinato da vereadora feminista Marielle Franco (PSOL-RJ) e da prisão do ex-presidente Lula (PT), então líder nas pesquisas eleitorais.
Além da tragédia notoriamente humanitária, o Brasil se vê diante do desmonte de políticas públicas consagradas na Saúde e na Educação e da destruição programada do meio-ambiente, sem falar nos ataques contumazes às liberdades individuais e na estigmatização das comunidades LGBTQIA+, indígenas e negras. Para enfrentar esse baixo-astral, a música brasileira dá o seu recado, em alto e bom som, com direito a roques, plumas, paetês, sambas e purpurinas.
Alçada ao posto de musa do movimento “Diretas Já” na década de 1980, a cantora Fafá de Belém não tem dúvidas de que “o país está cindido ao meio”. “É duro a gente sair de uma ditadura para discutir qual a melhor democracia, se a minha ou a sua. Eu não tolero qualquer tipo de autoritarismo ou medida extrema, seja da esquerda ou da direita”, declara.
Uma das faixas de “Humana”, disco lançado em 2019, toca diretamente nessa ferida. “Alinhamento Energético”, de Letrux, diz: “Que fase louca/ Que fase doida/ Que ano é esse?/ O que é que vem depois?/ Eu tô exausta, eu tô perdida”. “Há pessoas que continuam embaralhando o Brasil por interesses pessoais e partidários. Acredito na capacidade plural do nosso povo, temos a chance de nos unir em torno de uma pauta emblemática para o planeta, que são as queimadas na Amazônia”, afirma.
“Aburguesar” (tropicalista, 1972) – Tom Zé
A cantora e compositora Juliana Linhares, da banda Pietá, lança em 2021 “Nordeste Ficção”, o seu primeiro disco solo, em que apresenta parcerias com Zeca Baleiro, Chico César e nomes de sua geração, e também regrava as clássicas “Tareco e Mariola” e “Bolero de Isabel”, além de cantar, com Letrux, a irônica “Aburguesar”, canção escrita por Tom Zé em 1972, que permaneceu inédita.
Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, a potiguar aproveita o disco para questionar os estereótipos em torno da população nordestina. Ironicamente, “Aburguesar” foi considerada fora de moda por Tom Zé quando redescoberta pelo produtor Marcus Preto em 2014, durante a feitura do disco “Vira-Lata na Via Láctea”, com participações de Mallu Magalhães, Tim Bernardes, Criolo e outros expoentes da nova geração da nossa música popular.
“AmarElo” (rap, 2019) – Emicida, Felipe Vassão e DJ Juh
Majur, que se define como não binária, ambientou o clipe de “Africaniei” na sua cidade natal, Salvador. “É uma aula sobre a história do nosso povo. Somos um país laico que tem a diversidade como qualidade”, aponta. A carreira artística teve início aos cinco anos de idade, no Coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador.
Em junho de 2019, ela gravou com Emicida e Pabllo Vittar o clipe de “AmarElo”, que considera “um ‘start’ para o mundo”. “Nós três temos histórias de luta e resistência e encontramos um jeito de deixar uma mensagem de ânimo, utilizando a música como tecnologia de afeto”, avaliza. Capitaneada pelo rapper Emicida, a composição traz com sample da música “Sujeito de Sorte”, lançada por Belchior em 1976, no histórico disco “Alucinação”.
“Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória” (MPB, 1973) – Gonzaguinha
Ao longo do repertório de “Planeta Fome”, Elza Soares reflete sobre um Brasil deitado e sem berço. “Só canto o que é atual”, diz ela, que registrou novas versões para “Comportamento Geral” e “Pequena Memória para um Tempo sem Memória”, ambas compostas por Gonzaguinha durante a ditadura militar. “Passei pela ditadura, me lembro daquele momento e vejo que hoje é mais ou menos parecido. O Brasil está passando por uma soneca, mas vai acordar, sou esperançosa”, afirma. Lançada originalmente por Gonzaguinha em 1973,
“Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória” foi cantada por ele durante a turnê que empreendeu ao lado do pai, Luiz Gonzaga, no ano de 1981, intitulada “Vida de Viajante”. A música também recebeu uma versão comovente do grupo “As Chicas”, que a interpretou em dezembro de 2008, na capital Rio Branco, no Acre, em homenagem ao líder ambientalista Chico Mendes, que foi assassinado.
“Esquadrão da Morte” (MPB, 2021) – Jorge Mautner e Cecília Beraba
“Esquadrão da Morte” nasceu de uma crônica escrita por Jorge Mautner na década de 1970, repercutindo a notícia assustadora de uma execução pela milícia carioca. “Morto, triturado/ Que nem porco/ Que nem gado/ No padrão e no esporte/ Às seis para as seis/ No facão e no corte/ Das leis sem leis/ Do esquadrão da morte”, descrevem os versos interpretados pela carioca Cecília Beraba, autora da melodia, que bramem contra a realidade de um país que elegeu a presidente da República o candidato que durante três décadas de atividade parlamentar defendeu e incentivou as milícias.
Em “Esquadrão da Morte”, Cecília ainda recita um poema sobre as diferenças entre bonobos e chimpanzés, duas espécies distintas de macacos: a primeira guiada pelo prazer sexual e, a segunda, pela violência. A música foi lançada no disco “Eterno Meio-Dia: Parcerias com Jorge Mautner”, estreia de Cecília no mercado.
“Samba da Utopia” (samba, 2018) – Jonathan Silva
“O ano de 2018 foi tão alucinante e influente para a história do Brasil, que é impossível destacar um só acontecimento ou personagem, por isso eu considero que há três protagonistas e três datas-chave, que são o assassinato da Marielle Franco em 14 de março; a prisão do Lula no dia 7 de abril; e o triunfo do Bolsonaro nas urnas em 28 de outubro. Essas três personagens são fundamentais porque concentram o que o ano tem de mais sombrio e luminoso, egoísta e generoso, tolerante e intolerante”.
A fala é do jornalista Mário Magalhães, autor do livro “Sobre Lutas e Lágrimas: Uma Biografia de 2018, o Ano em que o Brasil Flertou com o Apocalipse”. Foi nesse mesmo contexto que Jonathan Silva compôs o “Samba da Utopia”, interpretado ao lado da cantora Ceumar. “Se acontecer afinal/ De entrar em nosso quintal/ A palavra tirania/ Pegue o tambor e o ganzá/ Vamos pra rua gritar/ A palavra utopia”, dizem os versos finais dessa canção que permanece atual no Brasil de 2021 e pandemia.
“Tanto Faz” (indie rock, 2017) – Tim Bernardes
“Quando você me encontrar/ Não fale comigo, não olhe pra mim/ Eu posso chorar”. Os versos não são de Tim Bernardes, mas fizeram parte do show que o cantor apresentou. Embora baseado em seu primeiro disco solo, o autoral “Recomeçar”, no qual, para completar, ele toca a maioria dos instrumentos, o compositor percebeu uma ligação com a música “Soluços”, de Jards Macalé.
“São versões que batem em algum lugar e que eu acho que têm a ver com o clima do disco. Esse hibridismo entre esperança e solidão”, justifica. Canções da banda O Terno, a qual Bernardes faz parte, também marcaram presença. Mas o condutor da noite foi mesmo o novo trabalho. “O CD tem algo de ruína, sobre algo que acabou enquanto o novo ainda não começou”, define. Também é sobre ruínas e desencantos que versa “Tanto Faz”, outro indie rock de autoria de Tim.
“O Amor É Um Ato Revolucionário” (balada, 2019) – Chico César
A experiência acumulada como presidente da Fundação Cultural de João Pessoa e, posteriormente, secretário de Cultura da Paraíba, entre 2009 e 2014, trouxe para Chico César saudades de outro ambiente menos concreto e pedregoso.
“Depois de seis anos trabalhando com burocracia, vai se aniquilando a sua espontaneidade e, aos poucos, você começa a acreditar naquele universo. Eu precisava, física e mentalmente, voltar a essa pegada de deixar o fluxo correr. Não como uma corrente de metal, mas um rio corrente. Isso contaminou minha vida em geral, foi para a minha música, e o público percebeu”, comenta o cantor.
Como prova dessa tese, ele lançou, em 2019, “O Amor É Um Ato Revolucionário”, em que transforma o afeto numa poderosa arma política. A canção tem tons religiosos que a carregam ao ambiente das preces e louvores.
“Androginismo” (pop rock, 1978) – Kledir Ramil
Os porões da ditadura militar brasileira estavam infestados de torturas sinistras enquanto, em 1978, o grupo gaúcho Almôndegas lançava “Androginismo”, música de Kledir Ramil. Em dezembro daquele ano, o Ato Institucional N º5, que, dentre outras medidas, fechou o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas, finalmente caiu, após uma década.
Passados 40 anos, o país elegeu um presidente que defendia a tortura e apoiava manifestações em favor da volta do AI-5, e Almério tornou a cantar os versos de Ramil: “Quem é esse rapaz que tanto androginiza/ Que tanto me convida pra carnavalizar?/ Que tanto se requebra no céu de um salto alto/ Que usa anéis e plumas a lantejoulizar?”.
A faixa integra “Desempena Vivo”, registro do álbum de estúdio gravado em 2017, o segundo da carreira solo do pernambucano Almério – que valeu a ele o Prêmio da Música Brasileira na categoria cantor revelação –, e apresenta, ao todo, 19 canções que foram interpretadas no Teatro Santa Isabel, no Recife.
“O Tempo Não Para” (rock, 1988) – Cazuza e Arnaldo Brandão
Todas as músicas do espetáculo de lançamento do álbum “Ideologia” já estavam definidas quando Cazuza apresentou a Ney Matogrosso uma novidade. O antigo vocalista do grupo Secos e Molhados era o responsável pela direção, iluminação e cenografia do show. Amigos de longa data, Cazuza e Ney haviam sido namorados em meados da década de 1970.
Ao se deparar com a letra arrebatadora de “O Tempo Não Para”, Ney não teve dúvidas de que a música daria nome à turnê. Parceria com Arnaldo Brandão, “O Tempo Não Para” mescla a batalha pela vida de Cazuza com as agonias de um país em constante crise. “A música é sobre essa velharia que está aí e vai passar. Vão ficar as ideias de uma nova geração”, afirmou Cazuza. Ney, Simone e Zélia Duncan a regravaram.
Além de cantor e compositor, Sargento também era admirável nas artes plásticas e no campo da escrita. Infelizmente, o sambista foi diagnosticado com o novo coronavírus na última sexta-feira (21), quando foi internado.
Para o professor e escritor Luiz Ricardo Leitão, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), “a herança deixada pelo Nelson para a nossa cultura, não tem preço”.
Leitão é doutor em estudos literários pela Universidad de La Habana, coordenador do Acervo Universitário do Samba e autor do livro Noel Rosa: Poeta da Vila, Cronista do Brasil e das biografias de Aluísio Machado, Zé Katimba e Rosa Magalhães. Ele diz que Sargento vai servir como um farol dando luz para todos aqueles que fazem parte da resistência pela cultura popular brasileira.
A seguir, leia a entrevista completa:
Brasil de Fato: Hoje a gente perdeu o Nelson Sargento, infelizmente. Na sua avaliação, qual o legado que ele deixa?
Luiz Ricardo Leitão: A herança deixada pelo Nelson para a nossa cultura não tem preço. Em primeiro lugar, vale lembrar que o talento de Sargento era multifacetado. Ele não era apenas cantor, compositor, mas atuou em grande estilo no “A Voz do Morro”, ao lado de Zé Kéti, Paulinho da Viola, Elton Medeiros… então, quer dizer, a nata que explodiu nos anos 60, mostrando a força da cultura popular no Brasil.
Mas ele também abraçou as artes plásticas. Ele era um pintor renomado e também esteve nas letras, ele escreveu crônicas, livros… ele, por um lado, é artista multifacetado, por outro lado, com aquele samba antológico do “Agoniza, Mas Não Morre”, ele foi um grande porta-voz da causa da resistência cultural no Brasil.
Como canta em Agoniza, Mas Não Morre:
Samba, Negro, forte, destemido, Foi duramente perseguido, Na esquina, no botequim, no terreiro.
Uma causa que já vem sendo gestada desde o início do século XX, quando o samba era perseguido, hostilizado, fustigado pela repressão na antiga capital federal. E ele nunca se intimidou e mostrou que o samba, no fundo, supera todas essas hostilidades e ele se afirma. Tanto que virou um ícone na era de Getúlio Vargas.
Portanto, ele foi o grande abre-alas, o grande porta-voz. Sua música, seu posicionamento, mostraram que é preciso resistir. E, nos dias de hoje, essa mensagem é amplificada e se reveste de uma relevância absolutamente incomensurável. Ele, de fato, deixa um grande legado para nós que vamos seguir abraçando essa causa.
BdF: Qual o impacto que a morte do Sargento causa para o samba?
LRL: Tudo na vida é dialético. Tudo traz consigo o seu oposto. A primeira impressão é de dor, é de pesar. Eu tenho visto nas redes sociais manifestações muito sentidas, comovidas. É um baque. Quando você perde um grande companheiro de criação e de resistência, você sente. O momento é adverso, a conjuntura não é a melhor que poderíamos ter. Então, o primeiro impacto é negativo: perdemos um bamba, perdemos um gigante. Perdemos um grande líder da cultura popular e do samba. Mas, em compensação, isso também desperta nas pessoas a consciência de que, se ele se foi, novos talentos surgem.
A própria Mangueira é uma demonstração disso. A Mangueira era aquela escola que, um dia, foi de Cartola, Carlos Cachaça, Babaú, que era um grupo que resistiu muito e que junto com Mano Elói, o Paulo da Portela, com outros pioneiros, em embaixadas, conformaram uma espécie de frente ampla em defesa da cultura popular naquele momento tão hostil da virada da primeira República para o início da Era Vargas. Houve esse fator, essa Mangueira inicial.
Depois, ela teve momentos de menor brilho, mas, na última década, a Mangueira se tornou a grande agremiação, ou uma das grandes agremiações em defesa da democracia, da diversidade, da tolerância, das raízes da nossa cultura. Veja os últimos enredos da Mangueira como “Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá”, como a “História para ninar gente grande”, que fez uma releitura da História oficial de maneira crítica… enredos, todos esses concebidos por Leandro Vieira, que é outra personalidade muito consciente do papel do artista nessa sociedade de inequidade e de exclusão aguda, então… ele era o presidente de honra desta nação verde e rosa.
A Mangueira é uma escola que nunca teve grandes mecenas, que se sustentou essencialmente por sua comunidade fincada nesse território aqui vizinho à nossa Uerj. Essa agremiação sempre teve a força dessa comunidade nesse território da ancestralidade uma espécie de alento e ter o Nelson como presidente de honra, reafirmava isso.
Por outro lado, o Nelson vai servir de luz, de farol, para essas figuras que são inúmeras. Uma porta-bandeira como Squel Jorgea, que tem profunda consciência social, uma rainha fantástica como é a Evelyn [Bastos]… uma escola com nomes que perduram até hoje, quem não tem saudade de uma Beth Carvalho? Quem não respeita o trabalho que continua a fazer uma Leci Brandão? Essa escola não é brincadeira e o Nelson Sargento era exatamente o grande ícone dessa constelação da nossa arte popular.
BdF: O que você destacaria como sendo o mais importante na obra do Nelson?
LRL: Ele foi multifacetado porque fez samba de enredo e deixou essa marca. O “Cântico à Natureza”, muitos pensam que não tem a ver com enredo, mas foi o samba de enredo de 1955. Agora, imagine o autor que diz “O nosso amor é tão bonito, ela finge que me ama e eu finjo que acredito”, que é uma crônica sobre a condição humana. A defesa militante do samba, com “Agoniza, Mas Não Morre”, é inestimável.
Sua participação na “A Voz do Morro” é também absolutamente digno de nota, eu não poderia omitir essa informação. E vamos reconhecer que era um excelente pintor e também um escritor de mão cheia, com perfis, crônicas… mas, talvez, o público em geral grave mais como o autor de “Cântico à Natureza”, “Homenagem ao Mestre Cartola”, de “Falso Amor Sincero”, de “Agoniza, Mas Não Morre”. Talvez para o grande público seja o que desperta mais atenção.
Dizem que o “jovem de grande valor”, citado por Cartola no samba “Fiz por você o que pude”, é Nelson Sargento.
Entendo que não há glória maior do que a de ser homenageado em samba pelo divino Cartola. E, com o mesmo sangue na veia, Nelson Sargento seguiu. Com maestria empunhou o pavilhão verde e rosa. Cartola ao final do labor, do astral, com certeza, vive a sorrir.
É engraçado, dessas coincidências que a vida nos prega.
Dias atrás estava escutando um disco que fazia tempo que não punha para rodar. No disco de estreia do cantor paulista Tuco Pelegrino (“Peso é Peso” – 2010), Nelson dá uma rateada e esquece um pedaço da letra do samba em que responde, justamente, o samba citado acima. No final da gravação, Nelson Sargento pede desculpas e completa: “Tem horas que a emoção trai a gente. Acontece né?!”
Eu poderia falar aqui da importância do Nelson Sargento, “a mais alta patente do samba” para a Mangueira e o samba em geral, exaltar que talvez ele seja o último elo com as primeiras gerações das escolas de samba, falar dos grupos que ele integrou, como Os quatro crioulos (com Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro e Elton Medeiros), ou exaltar que é dele o grande hino do sambista brasileiro. Nelson Sargento é gigante. Tem tanta coisa que daria para falar dele, mas tem horas que a emoção, trai a gente.
Vai na paz meu professor. Com você a gente aprendeu que o morro é um encanto de paisagem, que a gente agoniza, mas não morre, etc. Resistiremos. Como você sempre nos ensinou.
Aqui, o lindo samba do Operário, de Alfredo Português, Cartola e Nelson Sargento:
Samba do Operário Se o operário soubesse Reconhecer o valor que tem seu dia Por certo que valeria Duas vezes mais o seu salário
Mas como não quer reconhecer É ele escravo sem ser De qualquer usurário
Abafa-se a voz do oprimido Com a dor e o gemido Não se pode desabafar
Trabalho feito por minha mão Só encontrei exploração em todo lugar
Assista à homenagem da Mangueira a Nelson Sargento, no seu último aniversário:
O sambista foi diagnosticado com o novo coronavírus na última sexta-feira (21), quando foi internado. Já na última quarta (26), a família autorizou sua intubação após piora do quadro.
Sargento recebeu a segunda dose da vacina contra a covid-19 em casa, em 26 de fevereiro. Além da idade avançada, Nelson sofreu com um câncer de próstata anos atrás.
No texto, Leitão relembra a história do sambista desde a infância até completar as 96 primaveras. Segundo o autor, a vida de Nelson se confunde com a própria história da Mangueira.
“Criada em abril de 1928 pela turma dos Arengueiros, ela traz consigo todas as marcas de um século de luta e resistência pela causa do samba. E o nosso luminoso aniversariante de 96 sublimes estações se tornaria um de seus griôs, preservando e transmitindo aos mais jovens os saberes, os cantos e os mitos da nação mangueirense”, diz trecho do texto.
Blowin’ in the wind, Mr. Tambourine Man e tantas outras canções foram a trilha sonora de várias gerações de jovens. Aclamado como ícone de protesto – à revelia – o compositor e cantor americano permanece enigmático.Minha música favorita de Bob Dylan é uma canção de ninar que ele escreveu para o filho Jesse, em 1966. Forever young sempre me toca no fundo do coração. Talvez porque eu também deseje ardentemente que meus dois filhos permaneçam fortes e corajosos, não importa o que a vida lhes traga.
May you always be courageous, stand upright and be strong, may you stay forever young – Que sejas sempre corajoso, tenhas a cabeça erguida e sejas forte, que fiques jovem para sempre. Como tantas canções de Dylan, ela tem incontáveis versões cover, de intérpretes tão diversos quanto Bruce Springsteen, Harry Belafonte, Meat Loaf e a maravilhosa Joan Baez.
Há versões em diversas línguas, até mesmo uma em inglês-kölsch, o dialeto da cidade que escolhi como lar, Colônia, no oeste da Alemanha. Conheci Bob Dylan muito antes de vir para Colônia: eu tinha 13 anos, e as músicas dele se tornaram a trilha sonora da minha juventude. Elas trouxeram o grande mundo lá fora para o lugarejo no sudeste alemão em que eu cresci nos anos 70. Lá, nas trilhas entre os vinhedos, nós fumamos escondidas o nosso primeiro cigarro, e arranhamos Blowin’ in the wind no violão, em torno da fogueira da colônia juvenil.
E na aula de inglês, eu preferia decifrar os versos dele, ocultos debaixo da carteira, do que aprender os diálogos do livro escolar. Nem sempre eu tinha sucesso: não consegui achar uma jingle jangle morning no dicionário da escola. Mas quando escutava Mr. Tambourine Man, eu a sentia: essa manhã depois de uma noite de farra, quando um cata-sonhos, aquele móbile dos nativos americanos, soa baixinho, balançando na brisa…
Essa foi a minha chave para a música de Dylan: eu entendia pouco, mas sentia muito. E, ao contrário das interpretações de textos na escola, não era importante o que ele queria dizer com as suas canções, mas sim o que o elas produziam em mim.
Da província ao estrelato
Também o cantor e compositor americano cresceu numa zona rural. Nascido em Duluth, no estado de Minnesota, em 24 de maio de 1941, como Robert Allen Zimmerman, sua família judaica de classe média mudou-se poucos anos depois para o lugarejo de mineradores Hibbing. O jovem Robert aprendeu piano e violão e, apesar de ser, de resto, antes reservado, fundou bandas de rock n’ roll e jazz, e se sentia perfeitamente em casa no palco.
Depois do ensino médio, inscreveu-se para estudar artes plásticas e música em Mineápolis. Contudo, em vez de assistir às aulas, preferia apresentar-se com canções de seu ídolo, Woody Guthrie, acompanhando-se no violão e na gaita. Foi nessa época que adotou o pseudônimo artístico Bob Dylan, inspirado pelo poeta galês Dylan Thomas, como revela em Crônicas, seu livro de memórias publicado em 2004.
Em breve, Mineápolis se torna pequena demais para o rapaz de 19 anos, que em janeiro de 1961 se muda para Nova York – num vagão de carga, afirma na época, reforçando a imagem de vagabundo que tão bem combina com suas canções. Só muito mais tarde admitiria que, na verdade, viajou bem cômodo, de carro. Com um repertório folk, cada vez mais complementado por suas próprias músicas, Dylan faz bicos nos bares e clubes do bairro de artistas Greenwich Village. Lá conhece também a compositora e cantora Joan Baez, na época já uma estrela da cena folk. Quando, em agosto de 1963, ela o leva junto numa turnê, Dylan já havia lançado dois álbuns.
Mas é com os shows conjuntos, diante de dezenas de milhares de espectadores, que vem a grande guinada: começava uma carreira sem igual.
Bob Dylan recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2016 / Divulgação/Governo dos EUA
Protesto que atravessa gerações
Em pouco tempo, o músico de 20 anos se transforma em ícone do movimento de protesto. Lado a lado com Baez e Martin Luther King, participa da marcha até Washington, em que mais de 200 mil protestam contra a guerra do Vietnã e a separação racial. É lá que King faz seu célebre discurso “Eu tenho um sonho”.
Em 1964, Dylan lança seu terceiro LP, The times they are a-changin‘, cuja canção-título, 15 anos mais tarde, se tornaria o brado de protesto perfeito para mim e meu grupo de amigos. “Mães e pais de todo o país, e não critiquem o que não conseguem entender, seus filhos e filhas estão além do seu comando.” É como se falasse do fundo do nosso coração: também a gente achava que os tempos tinham forçosamente que mudar.
Pois no fim dos anos 70 o mundo se encontrava em plena Guerra Fria, a Otan e os Estados do Pacto de Varsóvia se confrontavam, irreconciliáveis, a queda do Muro de Berlim ainda teria que esperar dez anos. Em janeiro de 1979 soou o primeiro alarme de smog na Alemanha; em março ficamos sabendo da fusão do reator em Harrisburg, EUA, na época o pior desastre da história da energia nuclear.
As letras de Bob Dylan pareciam feitas sob encomenda para nosso protesto juvenil contra as usinas nucleares e a poluição ambiental, assim como para nossa rebelião adolescente contra pais e professores.
Altos e baixos
Entretanto, a essa altura o autor estava longe de querer ser um ícone do protesto, o porta-voz de uma geração. A crer em sua autobiografia, ele nunca o quis: “Tudo o que eu fiz, foi cantar canções que iam direto ao assunto sem rodeios, peças tratando de potentes novas verdades”, escreve em Crônicas, referindo-se a meados da década de 1960.
“Eu tinha muito pouco em comum com a geração cuja voz eu deveria ser.” Mas o ano 1965 marcava também uma guinada musical: quando, no Newport Folk Festival, ele troca pela primeira vez o violão acústico pela guitarra elétrica, é vaiado pelos puristas do folk.
Olhando retrospectivamente, foi um momento histórico: o folk virou rock, e esse show, uma lenda. Nos anos seguintes, Bob Dylan cada vez mais se afasta da vida pública. Após um acidente de motocicleta em 1966, desaparece por meses; sequer dá as caras no lendário Festival de Woodstock, três anos mais tarde.
É uma época em que experimenta com diferentes estilos musicais, se arrisca também como ator em Pat Garrett e Billy the Kid (1973). No fim da década de 70, volta-se para o cristianismo e compõe gospels. Após o fim de seu primeiro casamento, casara-se uma segunda vez, agora é pai de seis filhos.
Após uma crise no começo dos anos 80, retorna no fim da década, lança novos discos, apresenta-se em centenas de shows por ano na Never Ending Tour iniciada em junho de 1988.
Só em 2020 a pandemia de covid-19 o força a pisar no freio. Artista incansável Bob Dylan coleciona prêmios: numerosos Grammys, um Oscar pela canção Things have changed, um Pulitzer.
O ex-presidente americano Barack Obama lhe concedeu a Presidential Medal of Freedom. Em 2016, por fim, se tornou o primeiro músico a receber o Nobel de Literatura: segundo o júri, ele “criou novas formas de expressão poética dentro da grande tradição da canção americana”.
Sua reação é no mais puro estilo Dylan: de início, nada. Para a entrega, envia a colega Patti Smith, que interpreta sua canção A hard rain’s a-gonna fall.
Por fim, vai apanhar o prêmio, mas em círculo pequeno, longe do público. Em vez do discurso de praxe, envia uma gravação de áudio, sua reverência diante de seus modelos musicais e literários.
Em 2020, por ocasião do lançamento de seu álbum mais recente, Rough and rowdy ways (que provavelmente não será o último), concedeu ao jornal The New York Times uma de suas raras entrevistas. Indagado como faz para se manter em forma, com a mente e o corpo “trabalhando em uníssono”, explicou:
“Eu gosto de imaginar a mente como espírito e o corpo como substância. Como integrar essas duas coisas, não tenho a menor ideia. Eu tento apenas ir numa linha reta e me manter nela, ficar no plano.”
É estranho parabenizar alguém com suas próprias palavras? Não, se elas são boas: May your heart always be joyful, may your song always be sung, and may you stay forever young – Que o teu coração seja sempre alegre, que tua canção seja sempre cantada, que fiques jovem para sempre. Happy birthday, Bob Dylan. 1
A influenciadora Rita Von Hunty, do Tempero Drag, gravou vídeos sobre o tema para entidades de servidores
RedaçãoBrasil de Fato | Brasília (DF) | 25 de Maio de 2021.
Com o avanço da tramitação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Reforma Administrativa na Câmara dos Deputados, uma coalizão de 23 associações e federações de serviços públicos se articula para frear os planos do presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP-AL), que encara o tema como prioridade de seu mandato.
Uma das principais ações do Movimento a Serviço do Brasil até o momento foi o lançamento de uma série audiovisual comandada pela youtuber Rita Von Hunty, do canal Tempero Drag. Em quatro episódios, a influenciadora contextualiza a proposta e apresenta os principais pontos aos quais os servidores se opõem.
A série foi publicada no próprio canal de Von Hunty, que tem mais de 800 mil inscritos. O vídeo que compila todos os episódios tem 227.327 visualizações. A ação tenta desmistificar preconceitos voltados ao serviço público e lista uma série de impactos no projeto. Veja uma lista com as principais críticas ao projeto feitas na série:
– Reduz em 25% a carga horária dos servidores públicos. Isso significa 25% menos médicos, 25% menos professores, 25% menos serviços básicos;
– Pelo menos 9 milhões de casos deixariam de ser solucionados com a diminuição de 25% na carga horária dos servidores do Judiciário;
– Diminui a imparcialidade do concurso público ao criar um processo subjetivo de avaliação.
A campanha também listou os impactos que a PEC pode trazer à sociedade como um todo. De acordo com o Movimento a Serviço do Brasil, há quatro implicações principais. Veja os pontos:
– Mais corrupção: políticos poderão interferir no serviço público;
– Menos eficiência: a sobrecarga de trabalho atrapalha a entrega dos serviços à população;
– Menos meritocracia: mais indicados e pessoas com pouca qualificação terão acesso aos cargos públicos;
– Menos qualidade: prejudica a capacitação de servidores públicos;
– Menos transparência: decisões importantes serão tomadas por decreto, sem participação da sociedade.
Tramitação acelerada: votação nesta 3ª
Na segunda-feira (24), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) chegou perto de terminar a discussão sobre a admissibilidade da reforma. Faltaram os discursos de alguns deputados, que devem falar nesta 3ª feira (25), no início da sessão em que o projeto poderá ser votado.
A proposta do governo para a reforma retira a estabilidade dos servidores públicos que vierem a ser contratados depois que o texto entrar em vigor. O projeto é uma das prioridades para o ministro da Economia, Paulo Guedes. O relator é o deputado Darci de Matos (PSD-SC).
A análise na CCJ é o primeiro passo da tramitação da proposta. O colegiado avalia a “admissibilidade” do projeto – se não há trechos contrários à Constituição.
A ideia de Bia Kicis e dos apoiadores do governo é que o texto seja aprovado nesta terça-feira (25). Depois, será necessário passar por uma comissão especial que analisará o mérito do projeto, antes de ir para o plenário.
Na votação em plenário, são necessário 308 dos 513 votos em 2 turnos de votação. Depois, o texto segue para o Senado.
Cineasta indicada ao Oscar faz um filme sobre a pandemia do novo coronavírusPor Julinho Bittencourt 24 maio 2021 –
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A cineasta Petra Costa, indicada ao Oscar por “Democracia em Vertigem” (2019), está fazendo há um ano um novo filme sobre a pandemia do coronavírus. Ela passou os últimos dias acompanhando e filmando senadores que integram a CPI da Covid.
Originalmente o projeto seria um apanhado de depoimentos sobre o confinamento causado pela pandemia. Logo no início da produção, no entanto, ficou claro que a doença estava saindo do controle devido à politização e ao avanço de uma retórica da morte nas redes sociais bolsonaristas.PUBLICIDADE
“Eu acho que a pandemia revela muito do que não era óbvio para todos: essa retórica fascista estava escondida atrás da retórica do ódio pelo diferente, pela esquerda, pelo Partido dos Trabalhadores, pelos artistas, gays, mulheres. O que o coronavírus mostra é que se trata de um ódio pela humanidade. Um desejo pela morte”, disse a cineasta, em registro da revista Variety, em maio do ano passado.
Na época da entrevista, o projeto foi apresentado com o título de “Distopia”, mas isso pode mudar, conforme a produção ganha novos desdobramentos.
Jornalista, editor de Cultura da Fórum, cantor, compositor e violeiro com vários discos gravados, torcedor do Peixe, autor de peças e trilhas de teatro, ateu e devoto de São Gonçalo – o santo violeiro.
Além das redes do BdF, o programa é veiculado na Rede TVT, TVCom Maceió, TV Floripa e TVU Recife
RedaçãoBrasil de Fato | São Paulo (SP) | Maio de 2021.
No mês em que se celebra o Dia Nacional do Reggae, em 11 maio, o Programa Bem Viverse aventura no ritmo jamaicano que conquistou os maranhenses e hoje é parte inseparável da identidade local. A dança agarradinha é uma característica que só é encontrada por lá e será apresentada no quadro Mosaico Cultural.
O Bem Viver é uma produção do Brasil de Fato em parceria com a Rede TVT. Na emissora paulista, que abrange a Grande São Paulo, a produção vai ao ar às 13h30, com reprise no domingo às 6h30 e na terça-feira às 20h. Além disso, tem exibição na TVCom Maceió, na TV Floripa e na TVU Recife.
No quadro Alimento é Saúde, a terapeuta Sirlene Ieque, do Acampamento Zilda Arns, no Paraná, ensina a fazer o xarope de guaco, que tem propriedade expectorante. E quem explica os benefícios da planta é a Natália Neiva, especialista em medicina tradicional chinesa e integrante da Rede Nacional de Médicos Populares.
Ainda sobre saúde, o médico de família Aristóteles Cardona, também integrante da Rede de Médicos Populares, vai trazer alertas importantes sobre a vacinação contra a covid-19. Ele lembra que a segunda dose é fundamental para a total imunização contra o vírus.
Outros destaques
A entrevista da semana traz Davi Kopenawa, xamã e líder político dos yanomami, uma das maiores etnias indígenas brasileiras. Ele é reconhecido internacionalmente como embaixador pela luta dos povos indígenas e a preservação da Amazônia.
E café é o tema também do Momento Agroecológico. A repórter Nayá Tawane apresenta a produção de acampamentos e assentamentos do sul de Minas Gerais que fazem o Café Guaií.
Onde assistir: nas redes sociais do Brasil de Fato (Facebook e YouTube); na TVT, no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC; na TVCom Maceió, no canal 12 da NET; na TV Floripa, também no canal 12 da NET; e na TVU (Universitária) Recife no canal 40 UHF digital.
Quando: Na TVT: sábado às 13h30; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h. Na TVCom: sábados às 10h30, com reprise domingo às 10h. Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h.
Sintonize
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista.
A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da nossa lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: radio@brasildefato.com.br
A cantora realizou em abril o show virtual “Virada na Jiraya”, que arrecadou doações para campanhas de solidariedade
Júlia Vasconcelos e Iyalê TahyrineBrasil de Fato | Recife (PE) | 22 de Maio de 2021.
Em abril deste ano, a artista recifense Flaira Ferro performava seu segundo álbum da carreira como cantora em um show virtual, “Virada na Jiraya”. Mas esta não seria qualquer apresentação: para além de muita música, rock e poesia, seriam arrecadados R$ 18 mil reais para a doação de alimentos distribuídos entre oito cidades de Pernambuco. Com incentivo da Lei Aldir Blanc para toda a banda, a live solidária movimentou a cena musical pernambucana para levar comida a quem tem fome.
Com a situação mais grave no cenário nacional, o Nordeste apresenta 73,1% dos domicílios em situação de algum grau de insegurança alimentar. E em Pernambuco, projetos populares já estavam desde o começo da pandemia na linha de frente com ações solidárias. Nesse embalo, a artista Flaira se juntou a três desses projetos para direcionar as doações; foram elas a campanha Mãos Solidárias, o Afojubá Batuque Recife e o Clube de Mães, da comunidade de Caranguejo Tabaiares.
O Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Flaira Ferro para entender como foi a experiência. A artista também tratou sobre a importância do incentivo da Lei Aldir Blanc para trabalhadores da cultura e contou o que tem produzido durante a pandemia.
A doação e a importância da solidariedade
A ação distribuiu 400 cestas básicas com alimentos orgânicos produzidos pelos pequenos agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) PE; mil marmitas para moradores de ruas e de palafitas, além de ter direcionado também cestas básicas para trabalhadores da cultura e mulheres e mães desempregadas.
Flaira reforça que a solidariedade não deve se caracterizar por um ato isolado. “A solidariedade é algo que é uma força motriz, que convoca a gente a estar sempre operando nessa frequência. Não é só fazer uma ação e pronto”. Para ela, é um modo diferente de ver a vida. “É buscar um jeito de ver a vida pela solidariedade, atribuindo confiança entre as pessoas, criando vínculos, laços de amor, de cuidado com o outro. Entendendo que o alimento é um direito humano”, reforça.
Ela conta que, apesar de ter feito algumas participações em lives solidárias e ter feito publicações para divulgar projetos, nunca tinha tido o recurso necessário para fazer a própria live. Foi com o incentivo da Lei Aldir Blanc que isso se tornou possível. “É muito emocionante chegar e ver as pessoas recebendo as cestas. E para além do emocionante, também é muito triste saber que tem tanta gente passando por tanta dificuldade”, conta.
A artista partilha que para ela existia um apelo pessoal que era o de fortalecer a doação para mulheres, mães e trabalhadores da cultura. Através do Clube de Mães, as doações foram direcionadas para mulheres gestantes e mães que estão na zona de risco.
“Já o Mãos Solidárias é um projeto muito grande. Na verdade, é um projeto que abraça várias outras organizações. Então, para ele foi a maior parte das doações”, explica. Através do Mãos Solidárias, Flaira acompanhou o movimento da colheita dos alimentos no assentamento. “Eu queria muito ver como era, até porque isso dá muito mais sustentação para a própria ação”. Ela conta que se envolver com a ação foi algo que, inclusive, a fortaleceu artisticamente. “Saber da dimensão da vida, que vem em todo esse movimento que constrói a solidariedade lá do início, desde quando o alimento é tirado da terra, me dá muito mais força pro meu trabalho, enquanto artista e enquanto ser humano”, relata.
Flaira enfatiza que a Lei Aldir Blanc foi uma conquista da classe artística e que, sem ele, muitos trabalhadores da cultura sequer estariam se alimentando. “Quando se fala de trabalhadores da cultura, muitas vezes se pensa logo no artista [famoso]. Mas existe uma gama de profissionais que trabalham nos bastidores, que são fundamentais e não têm opção de trabalho nesse momento”, e cita como exemplo os técnicos de som, de luz, carregadores, operadores de show, de cena e os artistas de circo.
Para ela, não só essa lei é essencial, como outras devem ser incentivadas para que mais recursos das atividades culturais cheguem na categoria. “Se as atividades culturais das cidades não podem acontecer, como o Carnaval e o São João, esse recurso fica aonde? Não pode ficar parado, porque a vida continua aqui”.
Flaira ainda explica que fala de um lugar de privilégio, mas que muitos artistas ainda estão sem cadastro e sem serem tidos como artistas legitimados diante do poder público. “E sem cultura, o que seria de nós? É isso que está sustentando algum sentimento de esperança na gente”.
Projetos da artista
Quando perguntada sobre estar ou não desenvolvendo outros projetos durante esse período de isolamento e proibição de shows, Flaira não hesita em dizer que para ela, criar vem como uma forma de sobrevivência, e nunca é pontual. “Se eu parar de criar, eu fico muito infeliz. Por uma questão de manter a alegria e o sentimento da vida, estou sempre compondo”.
No momento, dois projetos têm sido seu foco. “Um deles é um disco novo que estou em elaboração junto com outra artista. Não posso dar muitos detalhes, porque é surpresa”. O outro é a entrega do documentário “Dita Curva”, que é um espetáculo idealizado pela cantora e outros dez artistas do Recife e mistura poesia, dança e música para refletir o feminino. Além disso, a cantora segue apresentando o que já criou, como o disco “Virado na Jiraya”.
Eis um território esquizófico como desejo imanente atravessado pela Associação Filosofia Itinerante – AFIN. Um território movimentado por intensidades pulsantes. Eis um território esquizo de saberes encadeados como potências virtuais.
Território da poiésis, onde esquizo navega como conceito grego: divisão. Divisão como multiplicidade Ética/Estética/Política produtora de saberes e dizeres que escapam das armadilhas dos tirânicos conceitos dogmatizados.
Nada de divisão matemática e nem geométrica. Muito menos divisão como conceito esquizo da psiquiatria ortodoxa, que o estigmatizou como divisão psicótica da percepção e do entendimento manifestada em alucinações corporificadas como quadro clínico delirante no conceito normatizador da psicopatologia escrita no discurso da sociedade despótica capitalística.
Este território esquizófico, você, amigo internauta, está convidado a compor afetos que possam aumentar nossas potências de agir navegando com Fernando Pessoa, para quem “navegar é preciso” e o “necessário é criar”. Também com navegantes-poiéticos como Epicuro, Lucrécio, Spinoza, Maquiavel, Nietzsche, Marx, Bergson, Sartre, Foucault, Deleuze, Guattari, Toni Negri, Michael Hardt, Hannah Arendt, Beauvoir, Bárbara Cassin, Artaud, Van Gogh, Godard, Kafka, D.H. Lawrence, Becket, entre outras.
Aqui podemos compor bons encontros, mesmo quando as afecções pareçam más. Aqui tentaremos soltar o devir-louco. A intensidade criativa sofística tão ameaçante ao idealismo platônico com sua ordem ideal. Aqui, você, seja acessando, ou postando seus dizeres, atua como corpus que tece cartografias de desejos. Afinal, o desejo é uma enunciação coletiva produtora de comunalidade. E este Hiper-Corpo-Virtual pode muito bem servir de instrumento para esta produção.
Cartografemos esquizos saberes, pois!
“NÃO É APENAS DESENVOLVER INFORMAÇÕES,MAS EXPRIMIR POTÊNCIA…
Por que ter medo de perder-se no oceanos das informações? Sempre haverá uma informação que acrescente um valor à vida, um excedente que a impedirá de perder-se. Quando se navega na rede, surge não apenas o eterno paradoxo do infinito possível e da limitação do meio, mas uma outra tensão paradoxal: a de trabalhador explorado e do rebelde, do hacker, do sabotador: aqui há vida, irredutível, há astúcia e autovalorização. Desculpem a retórica filosófica: aqui estão Maquiavel e Marx”.