Archive for Abril, 2021

CINEASTA LUIZ BOLOGNESI: “O RELACIONAMENTO COM OS YANOMAMI MUDOU MINHA VIDA”

Abril 30, 2021
  1. BRASIL DE FATO ENTREVISTA

CINEMA

O documentário “A Última Floresta” mostra o modo de vida, as lutas e sonhos do povo Yanomami

Vanessa Nicolav30 de Abril de 2021.

Ouça o áudio:Play15:4424:21MuteDownload

Luiz Bolognesi e Davi Kopenawa, durante as filmagens de “A Última Floresta” – Reprodução Instagram

A verdadeira cultura faz pensar, ela aponta o dedo para as desigualdades, ela toca as feridas.

“Quando eu estava filmando ‘Ex-Pajé’, que é um documentário que tratava de uma comunidade em que o pajé está sendo destituído do seu poder, eu pensei, ‘agora eu preciso fazer o contrário, preciso fazer um documentário que mostre uma comunidade onde os pajés estejam muito fortes, resistindo à igreja e ao capital’”. É assim que o roteirista e diretor Luiz Bolognesi conta como nasceu a ideia do documentário “A Última Floresta”, que estreou no Festival de Berlim do início de março, e no Festival É Tudo Verdade em abril. 

A comunidade escolhida para rodar o filme foi a dos Watoriki, que vivem praticamente isolados no norte do país e ao sul da Venezuela. Além de protagonizarem todo o filme, os indígenas também colaboraram intensamente na produção. O xamã e liderança Yanomami Davi Kopenawa é inclusive co-roteirsta do documentário. 

“Eu já conhecia o Davi Kopenawa pela literatura, e por entrevistas, e sabia que ele era um xamã da resistência. No território Yanomami, por exemplo, ele não permite a entrada da igreja evangélica, e ele também resiste à entrada do modo de vida capitalista. Por exemplo, ele recusou o Bolsa Família, dizendo para a sociedade que o benefício iria tirar do jovens o ímpeto de caçar. Por isso, também, ele não permite que os jovens cacem com espingarda, ele e as lideranças locais impõem que a caça seja feita com arco e flecha”, relata Luiz.

Com mais de vinte anos de carreira, o roteirista e diretor fez filmes que retrataram de forma única, as lutas, sonhos e cotidianos do complexo emaranhado de culturas de nosso país.

“Bicho de Sete Cabeças” (2000), que conta com roteiro escrito por Bolognesi, retratou o cotidiano de violência e violação de direitos nos manicômios brasileiros, e contribuiu para a luta antimanicomial. Na produção de “Cine Mambembe, o Cinema Descobre o Brasil” (1999), Bolognesi viajou pelo interior do país, exibindo curtas-metragens brasileiros em praças públicas e assentamentos do MST. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, quadro que vai ao ar todas as sextas-feiras, às 20h, na Rede TVT, Bolognesi comenta sobre as possibilidades de luta e resistência por meio cinema, fala sobre o interesse pela questão indígena e detalha como foi a convivência com os Yanomami durante as gravações. 

Confira os principais trechos da conversa:

Brasil de Fato: Você possui diversos filmes dedicados às culturas indígenas, Ex-Pajé, Amazônia, Uma História de Som e Fúria, e agora, A Última Floresta. De onde vem esse interesse?

Luiz Bolognesi: O que me encanta é que esses povos todos é que eles desenvolveram ao longo de milhares de anos, uma tecnologia, ciência e tecnologia que a gente ignora. E que era capaz de prover, num modo de vida bastante coletivo e solidário, fartura alimentícia, fartura filosófica, metafísica e religiosa. Num ambiente de muita coletividade. São considerados por muitos sociedades contra o Estado, portanto sociedades anarquistas. Há dispositivos dentro das sociedades ameríndias que foram construídos ao longo de anos para evitar a formação do Estado. O próprio modo circular de viver, há estudos que mostram que isso é um impedimento de privilégios e vértices. Não é o comunismo, mas tem valores do pensamento utópico do Marx que foram desenvolvidos durante centenas de anos. A maneira coletiva como eles educam crianças, a noção de negar a propriedade privada, a noção de negar o feitiço da mercadoria. Tudo isso me encanta. Então eu desenvolvi um trabalho intelectual e o cinema se aproximou dessa descoberta. E o que eu entendo eu quero traduzir através do cinema para os não indígenas poderem conhecer para além dos preconceitos que foram construídos.

Leia também: Terra Yanomami: “Famílias inteiras com covid onde o garimpo está fora de controle”

Como foi a produção de “A Última Floresta”?

Eu conhecia o Davi Kopenawa pela literatura, e por entrevistas, sei que ele é um xamã da resistência. No território Yanomami ele não permite a entrada da igreja evangélica, e ele também resiste à entrada do modo de vida capitalista. Por exemplo, ele recusou o Bolsa Família, dizendo para a sociedade aqui, o Bolsa Família vai tirar do jovens o ímpeto de caçar. Ele não permite que os jovens cacem com espingarda, ele e as lideranças locais impõe que a caca seja feita com arco e flecha.Eles, claro, são um um grupo indígena que pode se dar a esse luxo porque o território deles permite isso. 

Aí eu decidi fazer um filme sobre isso, mergulhar na floresta. Porque eles vivem num lugar de difícil acesso, no coração da floresta Amazônica. E convidei ele não só para ser protagonista, mas também para ser autor. Eu o convidei para ser roteirista comigo e definir que histórias íamos contar e como íamos contar. Assim nasce o projeto.

Eu fiquei duas semanas com ele pensando no roteiro e nas histórias. Depois voltei com  uma equipe de cinco pessoas. E durante cinco semanas nós filmamos. Depois ficamos um ano montando esse filme.

Os Yanomami estão muito presentes no aqui agora. Eles conseguem fazer coisas mais bem feitas que a gente. 

Qual aprendizado você destacaria dessa relação com os Yanomami?

O relacionamento com os Yanomami foi uma coisa que mudou minha vida. E minha equipe faz o mesmo relato. São 200 pessoas que vivem num modo muito coletivo. A produção econômica é coletiva, os processos educativos são coletivos. 

Nós, brancos, temos dificuldade de entender os indígenas e criamos uma série de imagens muito deturpadas: que são vagabundos, que não são inteligentes, que não sabem escrever. Uma cortina de fumaça para justificar massacre, roubo de terra, estupro de mulheres e invasão. Quando você convive, nada disso cola. Eles trabalham muito, o tempo todo. Os homens trabalham muito e as mulheres mais que eles. Elas cuidam da roça, da comida e cuidam do fogo a noite inteira. É obrigação delas manter o fogo acesso. Às vezes um branco chega numa terra indígena e vê um cara às 10 da manhã na rede. Mas ele sabe que esse indígena acordou às 4 da manhã para caçar…

Fora isso, a gente nota que eles acham uma loucura essa coisa de viver tentando administrar o futuro. Tudo nosso tem hora marcada, segue o relógio. Eles acham um processo falido essa neurose de planejar tudo. Como administrar se vai chover ou não? Então calma, se chover você vai fazer uma coisa; se não chover, outra.

Eles estão muito presentes no aqui agora. Eles conseguem fazer coisas mais bem feitas que a gente. Conseguem tecer, cozinhar, caçar com calma. Ou mesmo ser ator de um filme, com um presença, com um foco que nenhum ator ou atriz branca com quem eu trabalhei consegue entregar. 


Além de mostrar o cotidiano da aldeia, “A Última Floresta” recria mitos Yanomami interpretados pelos próprios indígenas / Divulgação

Em “A Última Floresta”, você filmou não apenas o dia a dia, mas também a dimensão dos sonhos e da mitologia Yanomami. Como se deu essa escolha?

Eles sonham muito, como todos nós, só que para eles o sonho é real, eles não fazem separação. Eles leem como acontecimentos reais. Os seres mitológicos não são folclore, eles estão no dia a dia, explicam o sucesso de uma caça, explicam o desaparecimento de um caçador, uma doença que chegou. Então eu falei: ‘Poxa, se meu documentário é com os Yanomami, nós temos que filmar isso, mostrar de dentro para fora, que esse universo mágico, está no dia a dia’. Então nós começamos a filmar sonhos e mitos que eles escolheram da mesma maneira que a gente filmava o cotidiano deles, caçando, plantando, lidando com questões da comida.

E para fazer isso eles atuaram como atores e atrizes, representando os próprios sonhos que tinham, dando vida para os sonhos, para os mitos, para as histórias fantásticas de criação do mundo Yanomami pelos deuses Omama e Yoasi. Nós construímos a maneira de interpretar a direção de arte, juntos. 

Saiba mais: Garimpo ilegal desmatou o equivalente a 500 campos de futebol na TI Yanomami em 2020

Como você vê o papel do cinema na tarefa de contar histórias sobre o nosso país?

Eu vejo que cinema tem dois caminhos predominantes. Tem um que é um produto capitalista, de entretenimento. Ele vem para divertir a gente que está cansado, ele é um mergulho buscando uma experiência rápida de esquecer seus problemas, se divertir e encher os cofres de quem produziu. E tem um outro cinema, que é um cinema trincheira. O cinema pode construir narrativas de resistência. Ele tem esse poder, ele toca nosso coração. 

Por exemplo, esse desenho animado que eu fiz, “Uma História de Amor e Fúria”, ele é um filme que tenta contar a história do Brasil do ponto de vista dos vencidos, que estão na luta. “Bicho de Sete Cabeças” foi um filme que ajudou a luta antimanicomial e acabou fazendo com que mudasse a lei. Os hospitais psiquiátricos foram transformados em hospitais-dia. O filme acabou ajudando na luta para humanizar o tratamento de quem tem sofrimento mental. 

Esse cinema autoral vem sendo atacado pelo governo Bolsonaro. O projeto fascista detesta cultura. Porque a verdadeira cultura faz pensar, ela aponta o dedo para as desigualdades, ela toca as feridas. E esse projeto que eles vendem tenta esconder que temos ferida, que temos desigualdade. 

Edição: Raquel Setz

ARTISTAS SE UNEM AOS TRABALHADORES NO 1° DE MAIO DA CUT E CENTRAIS

Abril 29, 2021

BRASIL | CULTURA | MOVIMENTOS SOCIAIS | TRABAHO

Artistas se unem aos trabalhadores no 1º de Maio da CUT e centrais

Chico Buarque, Elza Soares, Renegado, Chico César Osmar Prado, Teresa Cristina, Spartakus, Elen Oléria e Lirinha são alguns dos artistas que participam do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora 29/04/2021.Alex Capuano/CUT

Um dos primeiros setores a parar em meio à pandemia do novo coronavírus, a classe artística terá ampla participação no 1º de Maio Unitário das Centrais Sindicais – CUT, Força, UGT, CTB, CSB, NCST, CGTB, Intersindical e Pública – neste sábado (1º).

O evento do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, que será virtual por causa da pandemia, será transmitido, às 14h, pela TVT e pelo Facebook da CUT. O tema é Vida, Democracia, Emprego, Vacina Para Todos e Auxílio de R$ 600, além do impacto da Covid-19 no setor cultural.

Os sindicalistas e políticos vão debater a atual conjuntura política, econômica e social do Brasil, destacando o desemprego, a escalada da inflação e medidas necessárias para combater a pandemia, gerar emprego e renda e acabar com a fome e a miséria.

Já artistas como Chico Buarque, Elza Soares, Renegado, Chico César, Osmar Prado, Teresa Cristina,  Spartakus, Elen Oléria e Lirinha, entre outrosvão garantir muita música boa, poesia e também reflexões sobre a situação do setor cultural, um dos mais afetados pela crise sanitária.

Sem trabalho há mais de um ano, cantores, atores, compositores e demais artistas ainda não têm data para voltar aos palcos porque suas atividades, em geral, costuma causar aglomerações e são realizadas na maioria das vezes em espaços fechados, sem janelas, não recomendado pelas autoridades da área da saúde porque pode aumentar a transmissão do vírus.

A necessidade de isolamento social suspendeu atividades em museus, casas de espetáculos, teatros, cinemas e outros segmentos,  o que impactou fortemente projetos em andamento, a manutenção de postos de trabalhos e a garantia da renda para profissionais que atuam em todo o país.

Todas as atividades, que dependem da aglomeração de gente e da venda de ingressos, foram interrompidas, mas não houve um plano do governo federal para suprir a renda dos profissionais do setor.

Para José Celestino Lourenço, secretário nacional de Cultura da CUT, a presença de vários artistas no 1º de Maio da classe trabalhadora expressa uma cultura progressista de esquerda que é fundamental porque a cultura não pode ser separada da política. Tino, como é chamado, ressalta que a presença dos artistas no dia internacional da classe trabalhadora é a expressão de uma cultura de resistência.

“Sem dúvida nenhuma vão abrilhantar o nosso dia da classe trabalhadora e muito mais que isso, vão possibilitar a compreensão de que aquilo que eles vão apresentar significa a expressão de resistência popular e social e, portanto, estarão unificados conosco”.

“De fato os artistas estão demonstrando na prática a solidariedade com classe trabalhadora. Estão comprometidos com as pautas da fome, do desemprego, da democracia e por vacinas para todos”, concorda Carmen Foro, secretária-Geral da CUT.

Desalento no setor da cultura

O cenário para a classe artística no país é desolador em meio à pandemia do coronavírus. Com o cancelamento de atividades para evitar aglomerações, multiplicam-se incertezas sobre como os profissionais da cultura conseguirão se manter uma vez que a pandemia ainda está descontrolada no país.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), o setor cultural envolvia, em 2018, mais de 5 milhões de trabalhadoras e trabalhadores, representando 5,7% do total de ocupados no país – 44% desses profissionais são autônomos.

A Lei Aldir Blanc, que foi aprovada em 2020, liberou R$ 3 bilhões para pagamento de auxílio emergencial para os trabalhadores do setor cultural, mas não chegou a quem mais precisava. Mais de 700 mil pessoas não tiveram acesso aos recursos, segundo Tino.

“Muita gente não teve acesso por uma lógica da Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro, que dificultou o acesso aos recursos a esses trabalhadores”, lembra o secretário.

Na última semana, a Câmara dos Deputados, aprovou em votação simbólica, um projeto de lei que prorroga o auxílio emergencial de trabalhadores do setor da cultura em razão da pandemia. O texto foi aprovado no Senado no fim de março e agora segue para sanção de Bolsonaro.

Cerca de R$ 773,9 milhões estão disponíveis para socorrer trabalhadores e também para manter espaços culturais, micro e pequenas empresas.

São em torno de 5 milhões de trabalhadores nessa área e a grande maioria não são formalizados e, por isso, que o nosso envolvimento também com a Lei Aldir Blanc foi fundamental porque como está dito, foi o primeiro setor que suspendeu suas atividades pela aglomeração e sem dúvida nenhuma será a última voltar”, finaliza Tino.

Do site da CUTCENTRAIS SINDICAISCUTLEI ALDIR BLANCPRIMEIRO DE MAIO

WILSON FERREIRA: NO VENCEDOR DO OSCAR ‘NOMADLAND’, AS ESTRADAS QUE NOS LEVAM A LUGAR NENHUM

Abril 28, 2021

abril, 2021  Wilson Roberto Vieira Ferreira

Um filme que começa pelo fim, assim como na cosmologia gnóstica: todos vivemos agarrados aos destroços do que sobrou da Criação que na verdade foi o Apocalipse. Uma cidade inteira acaba com o fim de uma fábrica. Uma viúva pega a estrada levando numa van tudo o que restou da sua vida, para conhecer a subcultura dos nômades: vítimas do desemprego, casamentos desfeitos, pensões que foram perdidas e valores familiares em colapso na esteira da Grande Recessão pós-2008. Vivendo em veículos e sobrevivendo em “bullshit jobs” do capitalismo de plataforma. Esse é o grande vencedor do Oscar “Nomadland” (2020). Um olhar de uma diretora estrangeira (Chloé Zhao) para aqueles que se sentem estrangeiros dentro do próprio país, em desérticas paisagens com estradas que levam a lugar nenhum – a melhor metáfora do atual espírito do tempo. 

O mito da fronteira foi o imaginário fundador da civilização americana. O sonho de, em vez de desaparecer na escuridão das grandes cidades, sumir nas extensões ilimitadas. Ir ao limite, sem ponto de retorno, nas imensidões desérticas do Oeste norte-americano. O deserto como o espaço que resta a percorrer e conquistar, a última fronteira antes de encontrar o muro do Oceano Pacífico.

A pureza e linearidade do deserto se contrapõem à decadência urbana dos marginalizados e exilados das grandes cidades. Essa terra de ninguém (nowhere) adquiriu diversos significados: dos heróis solitários e indômitos dos filmes western às viagens místicas de busca espiritual como no livro “On The Road” do beatnik Jack Kerouac.

 Nos anos 1960, músicas como “Magic Bus” do The Who e filmes como “Magical Mistery Tour” com The Beatles e “Easy Rider” com Peter Fonda e Denis Hooper ressoam na cultura pop a roadtrip como uma jornada espiritual de transformação espiritual. Seja em um ônibus (transporte solidário e coletivo) ou motocicleta (sempre em grupos), a viagem será tanto geográfica como mental por meio das drogas lisérgicas experimentadas no caminho.

É também a mitologia fundadora do individualismo norte-americano: acabar sozinho numa paisagem inóspita para se tornar alguém: substituir as memórias pela geografia. 

Aos poucos, esse mito fundador (libertário e heroico), vai se esvaziando quando o deserto começa a assumir a condição gnóstica humana nesse mundo. Seja nos cenários sci-fi pós-apocalípticos como A Estrada, até chegarmos aos slasher movies como O Massacre da Serra Elétrica, o deserto vira um cenário cataclísmico natural que nos cerca – um evento geológico e celeste, mas ao mesmo tempo cruel como uma armadilha cósmica perpetrada por um Deus que não nos ama.

De repente a linearidade da estrada que corta o deserto virou uma viagem que nos leva a lugar algum. Da liberdade ao auto exílio. Uma guinada existencial, mas com sólidas bases econômicas e políticas: as transformações das cadeias de produção global e a precarização do trabalho pelo chamado “capitalismo de

Esse é o sintoma cultural revelado pelo filme premiado com o Oscar de Melhor Filme, Atriz, Direção, Roteiro Adaptado, Fotografia e Montagem, Nomadland (2020), dirigido por Chloe Zhao – a primeira mulher não branca e a segunda mulher na história do Oscar a levar o prêmio de direção. 

Não é para menos que Nomadland foi o filme mais premiado da grande noite da Academia: o olhar de uma estrangeira (Chloe é chinesa) para personagens que se sentem estrangeiros dentro do próprio país. Americanos que foram expulsos de suas próprias vidas e jogados em uma viagem sem redenção. Apesar de ser o longa menos lucrativo a ganhar o Oscar (não é exatamente um filme com um final feliz e bem longe dos clichês motivacionais hollywoodianos), Nomadland acabou se impondo menos como produto e muito mais como um sintoma da época em que vivemos.

O fime é inspirado no livro-reportagem “Nomadland – Surviving America in Twenty-First Century”, de Jessica Bruder, uma pesquisa sobre pessoas que perderam tudo após o grande crash financeiro de 2008 e assumiram o nomadismo como a única forma de fugir das suas memórias e buscar no vazio das paisagens desérticas do Oeste uma forma de esquecerem de si próprios.

Com seu rosto crispado e vincado, a atriz France McDormand é a artista perfeita para figurar uma mulher de 60 e poucos anos que, após a morte do seu marido e o fechamento da indústria em que ele trabalhava (acabando com uma cidade inteira chamada Empire), decide pegar o pouco que restou, enfiar numa van branca, e sair sem destino pelo mítico Oeste norte-americano.

Mas o mito épico da fronteira acabou. Tudo o que restou foi o nowhere, o melancólico auto exílio, o grau zero da condição humana.

O Filme

O filme começa com o fim, lembrando a velha Cosmologia Gnóstica: a Criação já foi, em si mesma, o fim do mundo e, desde então, vivemos agarrados aos destroços da catástrofe do Gênesis.

O fim da cidade de Empire, Nevada, que vivia em torno de uma mina de gesso e branca uma fábrica: com o fechamento da linha de produção em 2010 a cidade desapareceu. E junto com ela, a vida do marido de Fern (Frances McDormad). Viúva, reúne umas poucas coisas (como, por exemplo, um jogo de pratos, presente do casamento), enfia tudo em uma van branca (que ela batiza de “vanguarda”) e sai para a rodovia. Para conhecer toda uma subcultura de americanos nômades que moram em seus veículos.

O que une essa tribo ao mesmo tempo dispersa e sedentária é que todos vivem na esteira da Grande Recessão e da turbulência econômica pós-crash de 2008. Todos, vítimas do desemprego, casamentos desfeitos, pensões que foram perdidas e valores familiares em colapso. 

Fern passa longas horas trabalhando no inverno em armazéns tayloristas pós-modernos da Amazon, o estado da arte do capitalismo de plataforma: o trabalho de curto prazo, precarizado, verdadeiros bullshit jobs. E no verão, o trabalho mal remunerado em parques nacionais e grandes áreas de estacionamento de trailers.

Diante das paisagens desérticas, rudes, que expressam uma estranha poética do fim do mundo, acompanhamos nômades perdidos e pressionados pela crescente desigualdade num país cuja rede de seguridade social está corroída e desgastada.

Nomadland tem um potencial de crítica social explosiva. Mas o olhar de Chloé Zhao suaviza a narrativa, para se concentrar nas particularidades práticas de um estilo de vida errante e nas qualidades pessoais – resiliência, solidariedade, a economia alternativa baseada no escambo etc.

Principalmente nas sequências em torno de um conclave anual de nômades, em Quartzsite (Arizona), convocado por um líder com longas barbas brancas chamado Bob Wells (escritor, vanweeler e youtuber) – um evento simultaneamente festival cultural e seminário de autoajuda. Neste evento, conhecemos personagens reais como Swankie e Linda May, a melhor amiga de Fern e personagem central no livro de Bruder.

Ruínas e simulacros

Nomadland oscila entre os polos da amizade e da solidão, com uma narrativa frouxa e episódica. Captura a agitação e tédio do cotidiano de Fern – as longas horas no volante e nos bullshit jobs, conflitos interpessoais, os problemas mecânicos no veículo, os apertos financeiros. Sem ser arrastado, o filme é lento, compassivo e aberto, convidando o espectador a vagar pelas paisagens maravilhosamente abandonadas.

Ruínas e simulacros tomam as paisagens, como cacos de um império americano que está se desfazendo: cidades-fantasmas, galpões e instalações industriais abandonadas coexistem com parque nacionais e temáticos com simulacros de outras épocas e lugares: um imenso brontossauro de fibra de vidro para turistas fazerem selfies, uma reprodução em gesso das gigantescas esculturas de ex-presidentes dos EUA no Monte Rushmore, parques temáticos com animais em ambientes naturais simulados.

Um olhar de uma diretora estrangeira para uma América que se sente estrangeira de si mesma. O fato é que a Globalização (e a Grande Recessão pós-2008) só fez acelerar a mudança na cadeia de produção global: os postos de trabalho industrial migraram para a Ásia, na incessante busca do Capital por mão de obra sempre disponível e barata – incluindo o trabalho infantil. Restando aos americanos verem cidades que nasceram da indústria desaparecerem, enquanto os bullshit jobs do capitalismo de plataforma se tornarem a única forma precarizada de sobrevivência.

Chloé faz um réquiem para o sonho americano que está desaparecendo. Tal como os pioneiros do passado, Fern ruma em direção ao Oeste. Encontra até cidades com bairros de uma classe média orgulhosa por si mesma por especular com especulação imobiliária que, afinal, foi o motor da crise financeira de 2008: convencer famílias a fazerem empréstimos para comprar casas que jamais poderão ser pagas.

Por trás da estabilidade familiar daquelas lindas casas de subúrbios, esconde-se o buraco que arrasta vidas e sonhos.

Se no passado, os imensos horizontes desérticos do Meio Oeste inspiravam pureza e liberdade (como contraponto da hipocrisia da América urbana), agora apenas figuram estradas que levam a lugar algum. Ou melhor, levam para o abismo rochoso que faz fronteira com o Pacífico, como mostram as últimas cenas de Fern olhando para a imensidão oceânica. 

Nomadland não tem um final feliz. Mas, mesmo assim, a Academia de Cinema não poderia deixar de premiar o filme. Não tanto por buscar diversidade ao premiar uma diretora não branca. Mas porque a força de Nomadland está em ser um sintoma cultural do espírito do tempo: um filme produzido e distribuído pelos estúdios da Searchlight Pictures, pertencente a Walt Disney Studios. Uma das inúmeras divisões cinematográficas financiadas por fundos de hedges de Wall Street, da mesma banca financeira que destrói as vidas descritas pelo próprio filme.https://www.youtube.com/embed/_nOeh677C8U

Ficha Técnica 
Título: Nomadland
Diretor: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao baseado no livro de Jessica Bruder 
Elenco: Frances McDormand, David Strathairn, Linda May, Bob Wells, Angela Reyes
Produção: Cor Cordium Productions
Distribuição:  Searchlight Pictures
Ano: 2020
País: EUA

MINEIRA PAULA OLIVER LANÇA QUERO VOAR

Abril 27, 2021

Por Jornal GGN O jornal de todos os Brasis -27 de abril de 2021.

Com letras que falam de assédio e empoderamento feminino, sambista  apresenta álbum de estreia – part. Especial Dudu Nobre

 Jornal GGN – “Você não me permite respirar. Estou passando mal, é um sufoco. Até meu celular quer confiscar, precisa ter respeito pelo outro”. Assim começa o samba da mineira Paula Oliver Quero Voar e que dá nome ao seu primeiro EP, que acaba de lançar. Com temas relacionados ao empoderamento feminino ou até mesmo sobre assédio no samba, a cantora e compositora conta com parcerias preciosas na sua estreia, como Xande de Pilares, Dudu Nobre e Milton de Mori. O álbum já está em todas as plataformas digitais.

Gravado remotamente em função do isolamento social, o disco é composto pelos sambas A Cantada (Aldecir Jardim / Cello Garcia), Quero Voar (Aldecir Jardim, Cello Garcia e Paula Oliver), Lembranças (Aldecir Jardim, Cello Garcia e Paula Oliver), sendo essas três faixas com arranjos de Milton de Mori e Reza Forte (Dudu Nobre / Xande de Pilares), com arranjos de Rildo Hora. Milton de Mori (violões de 6 e 7 cordas, banjo e cavaquinho), Dudu Oliveira (Sax tenor e flauta), Fabiano Segalote (trombone) e Paulo Henrique de Mori (pandeiro, surdo, tantã, repique de mão, tamborim, agogô e ganzá) acompanham Paula nas três primeiras músicas.

Este trabalho traz um grito de libertação e de esperança para todas as mulheres. “Eu não quero gaiola, eu só quero voar! Com asas de andorinha, acompanhada ou sozinha, vou continuar” são versos que reforçam Paula como uma compositora atenta ao que as mulheres sofrem ao fazerem suas escolhas na vida, e traz esses assuntos para a roda de samba: “Deixa de ser malandro, com essa conversa não vai me ganhar. Tua fama tá correndo solta, só se eu for louca pra me entregar”, é trecho do partido alto A Cantada.

Foi num momento de repouso forçado, provocado por um pé quebrado em 2016, que Paula começou a questionar se já tinha conquistado tudo na vida. Formada em Direito, se preparando para ser juíza, tendo sido assistente de desembargador com passagens por Belo Horizonte, Campinas entre outras cidades do país, foi mesmo em Pouso Alegre (MG), onde mora, que chegou a conclusão: queria cantar. Foi então que se dividiu entre o trabalho na área jurídica, a criação de quatro filhas e na busca de seu sonho. Passou a estudar canto, se apresentou em igrejas e se arriscou em concursos, como o Festival Nacional de MPB de Ilha Solteira (SP), em 2017, com a canção Valsa da Pequenina (Amauri Falabella), ficando entre as finalistas e no Festival Nacional de MPB de Paraty (RJ).  Em 2019, também participou do programa Canta Comigo, da Rede Record.

Foi vocalista da Meyer Big Band e contralto no ensemble do Stúdio Marconi Araújo em São Paulo. Paula segue estudando e se conectando cada vez mais  com a música e com os músicos, num processo de autoconhecimento e muitas descobertas. No meio da pandemia, o término de um casamento de 24 anos foi o estopim para suas primeiras composições. “Quero Voar é praticamente um pedido de socorro”, conta a cantora que atribui seu início de carreira ao despertar pessoal e espiritual.

Para conhecer, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=Nx0Ju-pp91w

 e https://www.youtube.com/watch?v=Fw0LDpAsAfE

GURI CAPITAL E GRANDE SÃO PAULO ABRE INSCRIÇÕES PARA CURSOS ONLINE DE MÚSICA

Abril 27, 2021
  1. CULTURA

PRIVATIZAÇÃO

Projeto sobrevive a desmonte ao ser transferido para Organizações Sociais. Atualmente, 17 cursos são ofertados

Catarina BarbosaBelém (PA) | Brasil de Fato | Abril de 2021.

Ouça o áudio:Play01:0602:47MuteDownload

Há mais de dez anos, os governos paulistas, liderados pelo PSDB, iniciaram um processo gradativo de privatização, transferindo a gestão do projeto Guri do Estado para Organizações Sociais (OS). – Arquivo Conservatório de Tatuí

Estão abertas, até 29 de abril, as inscrições para o Guri Capital e Grande São Paulo, programa de educação musical e inclusão sociocultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. Gerido pela organização social Santa Marcelina Cultura, o edital contempla 13 mil vagas em 46 polos da Região Metropolitana de São Paulo.

:: Pixinguinha: 124 anos do maestro que fez do choro a matriz da música brasileira ::

Ao todo, são 17 cursos online divididos em quatro áreas temáticas. Serão nove aulas semanais oferecidas via Plataforma Zoom. As atividades terão início a partir da primeira semana de maio e serão ofertados recursos de acessibilidade mediante solicitação. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui

Área: música para educadores e educadoras

Engloba cursos como “A voz infantil e o(a) educador(a) que canta”, “Introdução à flauta doce para educadores (as)”, “Vivências musicais para educadores” e “O violão no ambiente de ensino-aprendizagem”.

Área: Música e tecnologia

Em Música e Tecnologia os interessados encontram cursos como “Introdução à editoração de partituras” e “Conhecendo os softwares para produção musical”.

Área: Música interativa

Já a seção de Música Interativa abrange cursos voltados para crianças e adolescentes (de 10 a 18 anos) como “O violão descomplicado e criativo” e “O piano: uma visão panorâmica do universo das teclas”.

Música em 9 Passos

Por fim, a área de Música em 9 Passos é destinada a pessoas a partir de 18 anos com cursos como “Piano em casa – introdução ao universo dos teclados”, “A teoria musical em 9 passos” e “Os ritmos brasileiros e a percussão”.  

Desmonte

Há mais de dez anos, os governos paulistas, liderados pelo PSDB, iniciaram um processo gradativo de privatização, transferindo a gestão do programa Guri Capital e Grande São Paulo do Estado para Organizações Sociais (OS). 

Leia também: Campanha denuncia demissões e extinção de cursos no Conservatório de Tatuí (SP)

Em 2020, mais de 15 mil pessoas assinaram uma petição virtual contra o desmonte do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí (SP). O Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos foi fundado em 1951 e é referência em produção e difusão musical. 

Quando a gestão era 100% pública, o Conservatório de Tatuí chegou a ser considerado o maior da América Latina.

:: :: Mestra Edite mantém a tradição do coco há mais de 40 anos no sul do Ceará :: 

A alteração para o modelo de OS, nos anos 2000, veio com a promessa de captação de recursos privados, para além da verba pública, porém, o percentual de recursos privados no Conservatório, via leis de incentivo fiscal, nunca superou 10%.

O que é o projeto Guri Capital e Grande São Paulo ?

É um programa que desenvolve o ensino musical e a inclusão sociocultural na capital e em cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Sob gestão da Santa Marcelina Cultura, Organização Social (OS) qualificada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, o programa proporciona a oportunidade de crescimento cultural e inclusão social por meio de uma educação musical de qualidade apoiada por um trabalho social efetivo. 

Santa Marcelina Cultura 

É uma associação sem fins lucrativos, qualificada como Organização Social de Cultura pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Criada em 2008, é responsável pela gestão do Guri na Capital e região Metropolitana de São Paulo e da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim (EMESP Tom Jobim). 

:: Mestra Edite mantém a tradição do coco há mais de 40 anos no sul do Ceará :: 

Desde maio de 2017, a Santa Marcelina Cultura também gere o Theatro São Pedro, voltado à formação de jovens cantores e instrumentistas para a prática e o repertório operístico.

Para acompanhar a programação artístico-pedagógica do Guri Capital e Grande São Paulo, da EMESP Tom Jobim e do Theatro São Pedro, é possível baixar o aplicativo da Santa Marcelina Cultura. A plataforma está disponível para download gratuito nos sistemas operacionais Android, na Play Store, e iOS, na App Store. Para baixar o app, basta acessar a loja e digitar na busca “Santa Marcelina Cultura”.

Edição: Daniel Lamir

JOVEM CINEASTA LUAN CARDOSO LANÇA DESÁGUA

Abril 26, 2021

Por Jornal GGN O jornal de todos os Brasis -26 de abril de 2021.

Cineasta estreia filme com a banda pernambucana MOMBOJÓ no dia 1 de maio no canal Music Box Brazil

Jornal GGN – No momento em que comemora 20 anos de carreira, o grupo pernambucano Mombojó, o cineasta Luan Cardoso e a roteirista Ana Souto,  apresentam Deságua, longa metragem de ficção dividido em nove episódios (clipes) da banda. O lançamento será no dia 1 de maio, no canal Music Box Brazil, às 22h35. O filme conta a saga de um pai, que após a morte de sua esposa,  vem do Nordeste com os dois filhos para viver na caótica cidade de São Paulo, no fim da década passada e passam por situações instáveis que acabam tocando em temas específicos do mundo contemporâneo: a sensação de deslocamento, a fragilidade dos relacionamentos, vícios, a perda e a divisão de um país. O projeto ainda conta com as participações de Lenine, Guilherme Arantes e Herve Salters da banda francesa General Elektriks.

“A idéia era lançar os clipes fazendo que o público aos poucos fossem sacando os personagens repetidos e que a história, devido aos diálogos gigantes, não ficava só em um clipe, dando pistas de uma história maior. Com as novas peças desse quebra-cabeças, vamos apresentar novos personagens e contar as histórias que não têm música de fundo, ouvindo então a voz dessas personagens”, conta Luan Cardoso.

Nesse momento, Luan, aos 26 anos, também comemora a participação e a premiação de seu primeiro longa de ficção “Ménage” (2020) em alguns festivais, como o “8° Festival de Cinema de Caruaru”, o “2°Inhapim CineFest”, o reconhecido “XVII FANTASPOA” em Porto Alegre e as competição anuais e mensais do “Lisbon Cine Festival 2021” em Portugal, onde levou o prêmio de “Melhor Filme de Baixo Orçamento”, o “Anatolia International FilmFest” em Istambul, o Grego “Athens International Montly Art Film” que escolheu o filme como “Melhor Roteiro Original” e o “5º Festival Rio Fantastik”, onde ganhou o “Cramulhão” de Melhor Filme, Melhor Diretor e Menção Honrosa de Melhor Ator para Vinicius Ferreira no papel de Ariel Albuquerque. O filme conta sobre três políticos que se envolvem em uma trama de sexo, corrupção e traição.

Sem nenhum incentivo fiscal, Luan trabalhou nas duas produções com um orçamento pequeno e contou com uma equipe de parceiros e apoiadores nessa sua missão de produzir cinema com pouco. “Esses projetos foram desenvolvidos na raça, contando com o total apoio de amigos e também com muitas trocas de trabalho, escambos, principalmente para a finalização dos filmes que é a fase mais cara por vezes.” Mas conclui, “Claro que essa não é a situação ideal para se produzir arte nem de longe, mas tem sido a forma que temos encontrado para defender a existência de projetos como esse através do cinema, que é uma arte muito excludente quando não se é bem nascido no Brasil.” 

E por fim, comemora-se em setembro, os 10 anos da Quixó Produções, produtora pela qual Luan e seus colaboradores assinam os projetos. 


SERVIÇO

Longa-metragem ‘Deságua’

Canal de TV por assinatura: Music Box Brazil

Exibições:  01/05, 22h35. 2/5, 10h30. 11/5, 12h. 27/5, 20h25https://55ddc924832c5228e9925a8ffb7b2692.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Duração: 72 minutos

Classificação indicativa: Livre

Principais operadoras: Claro HD/Net HD (623), Claro/Net (123), Oi TV (145) Vivo TV (637)

Para conhecer, acesse: www.quixo.com.br

A história de Luan Cardoso 

Nascido em Guarulhos, filho de pai segurança e mãe costureira, ambos Alagoanos que vieram para SP no início dos anos 90. Com o crescimento da violência da capital paulista no começo do novo século e as políticas afirmativas na região norte do país, a família de Luan faz o caminho de volta e permanece por cinco anos entre as cidades de Cândido Salles, na Bahia e Maceió, em Alagoas. As dificuldades financeiras e a luta incansável para sobrevivência de uma família de pai, mãe e dois filhos, nunca foram empecilhos para os sonhos de Luan. Desde muito cedo, o garoto sabia que só o estudo o permitiria viver da arte, e determinado, volta a viver em São Paulo no Jardim Fontalis, zona norte da capital, onde efetivamente começa a trilhar seu caminho. Em 2008, com 12 anos, Luan e mais três amigos publicam “O Segredo dos Amuletos”, um projeto de escrita coletiva. Dois anos depois, o grupo escreve um segundo volume do livro, e passa pela Bienal de São Paulo e também pela FLIP, em Paraty (RJ). Mas em 2010, Luan deixa a literatura como segundo plano e já estudando na Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, passa a se interessar ainda mais pelo cinema. Luan e os amigos decidem contar pequenas histórias através de curtas metragens, utilizando o que tinham  à disposição. Era o início da Quixó Produções. Mesmo sem grande pretensão, enviaram seus pequenos curtas para festivais e, logo em 2011, uma dessas experiências ganhou o prêmio Festival do Minuto. Com o dinheiro do prêmio, o grupo adquiriu seus primeiros equipamentos que permitiram novas experimentações e projetos mais ousados, como o documentário me média metragem “Cine Belas Artes – Consolação, 2423” dirigido por Luan Cardoso em 2012. 

Mesmo realizado com os precários equipamentos e as economias do jovem estudante do segundo ano do ensino médio que vendia algodão doce aos fins de semana, o filme de 35 minutos teve boa recepção do público, ganhando a atenção dos movimentos de resistência da cultura e do patrimônio histórico, tornando o filme um dos documentos fundamentais na negociação instaurada em torno da reabertura do cinema entre 2013 e 2014, legitimando o papel do Cine Belas Artes como património cultural da cidade. 

Ganhando seu primeiro edital em 2014 – Programa VAI da Prefeitura de SP para a produção de um curta metragem, o grupo produz “Identidades”. Como contrapartida, em parceria com a ETEC das Artes – Zona Norte de SP, realiza o embrião do curso de formação que fariam no ano seguinte apoiado pelo mesmo edital. Em 2015, o curso formou mais de 70 jovens de zonas periféricas da cidade, incentivando o despertar de cineastas independentes. O curso deu tão certo, que ganhou continuidade em parceria com o núcleo “Teatro da Rotina”, coordenado pelo ator Leonardo Medeiros, em 2016 e 2017. Em 2018 o projeto de formação passou a integrar o programa de difusão cinematográfica do Museu da Imagem e do Som – MIS SP – através do programa “Pontos MIS” como curso regular, com aulas ministradas por Luan Cardoso, acontecendo em cidades do interior de São Paulo. https://55ddc924832c5228e9925a8ffb7b2692.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Nesses 10 anos, Luan já realizou mais de 30 trabalhos como Diretor de Fotografia, dirigiu e fotografou 12 curtas, mais de 40 videoclipes e diversas web séries documentais como “Acessa” série sobre os mestres e mestras da Cultura popular Pernambucana e Paraibana ao lado da cantora Alessandra Leão, do pesquisador e músico Rodrigo Caçapa e a artista plástica Vânia Medeiros. Na música, trabalhou criativamente com diversos artistas importantes como João Donato, Ná Ozzetti, Juçara Marçal, Alessandra Leão, Mombojó, Lenine, Salomão Soares, Alaíde Costa, Hermeto Pascoal, Vitor Araujo, Fafá de Belém, Manu Maltez, Toninho Ferragutti, Filipe Catto, Ayrton Montarroyos, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Metá Metá, Tom Zé, Siba Veloso, Vicente Barreto, Maria Alcina, Angela Maria, Agnaldo Timóteo, Benjamim Taubkin, Ricardo Herz, Nelson Ayres e muitos outros. Entre os projetos que estão inéditos mas prontos junto a produtora, está o documentário de longa metragem “Precárias e Resilientes” sobre a gritante precariedade que recai sobre mais da metade da população brasileira – que é feminina. O filme ainda inédito no Brasil, participa em Novembro na cidade de Lyon na França do “15° Documental – L’Amérique latine par l’image” e conta com depoimentos inéditos de personalidades como Raquel Trindade.  

Para conhecer, acesse: www.quixo.com.br

LIVRO: AUTOR MOSTRA QUE “OS BOLSONAROS SEMPRE FORAM OS REPRESENTANTES IDEOLÓGICOS DOS GRUPOS MILICIANOS”

Abril 25, 2021

Autor do livro A República das milícias, Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, traça a relação íntima do clã Bolsonaro com os grupos de milicianos que tomaram o poder no Rio de Janeiro a partir da comunidade de Rio das PedrasPor Plinio Teodoro 25 abr 2021.

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Jair., Carlos e Flávio Bolsonaro (Reprodução/Flickr)
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Autor do livro A República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro (Editora Todavia), o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), desvendou na obra toda a ligação íntima do clã presidencial com os grupos milicianos e diz que a família Bolsonaro sempre foi a representante ideológico dos policiais que passaram, a partir da comunidade de Rio das Pedras, a usar a violência para ocupar o vácuo de poder deixado por traficantes no Rio de Janeiro.

“Os Bolsonaro sempre foram os representantes ideológicos dos grupos milicianos. Eles podem não ter uma ligação direta com os grupos que fazem negócios nestas comunidades, mas sempre fizeram discursos favoráveis a eles”, disse Manso em entrevista ao El País.

Reportagem de Sérgio Ramalho no site The Intercept Brasil neste sábado (24) revela que escutas telefônicas da investigação sobre Adriano da Nóbrega, que comandava o chamado “Escritório do Crime” – braço de extermínio ligado à milícia de Rio das Pedras – mostram que milicianos teriam feito contato com uma pessoa identificada como “Jair”, “cara da casa de vidro” e “presidente” após a morte do ex-capitão do Bope em uma ação da polícia da Bahia no dia 9 de fevereiro de 2020. Casa de vidro seria referência ao Palácio do Planalto

Segundo o pesquisador, existem afinidades ideológicas entre o clã Bolsonaro e os milicianos “principalmente quanto ao uso da violência como ferramenta para estabelecer ordem nesses lugares”.por taboolaLinks promovidosVocê pode gostarGlobo obedece Lula no Jornal Nacional e Bolsonaro perde a narrativaAssinatura de Cervejas IPA LoversClube do MalteCoronavírus: Bolsonaro acha que está doente e pede para não receber visitasEduardo Bolsonaro ataca Cid Gomes e Ciro responde: “Será necessário que nos matem antes”

Paes Manso conta em seu livro a importância do amigo de décadas de Bolsonaro, Fabrício Queiroz, na articulação principalmente dos filhos do presidente com policiais ligados às milícias.

“Ele era a pessoa que fazia a ponte da família com a base eleitoral da Polícia Militar, da Polícia Civil, com policiais da zona oeste, e com os familiares dessas pessoas”, diz sobre Queiroz, que atuou no batalhão da PM em Jacarepaguá, que sempre foi muito ligado aos grupos milicianos.

“Quando começa a crise política pós-junho de 2013, com a Operação Lava Jato e tudo o mais, o discurso do Bolsonaro de guerra à corrupção e uso de violência começa a fazer sentido para um grupo maior de pessoas, não mais apenas para o nicho representado por Queiroz”, diz o jornalista, que relata que, a partir de então, Queiroz se tornou “peça burocrática no gabinete [de Flávio Bolsonaro, na Alerj], responsável por organizar a rachadinha”.

Na entrevista, Paes Manso ainda sinaliza os motivos de Bolsonaro apostar sempre no caos para se manter no comando, seja dos grupos ligados às milícias ou na Presidência.

“Quanto mais desacreditadas as instituições, mais força ganham estes grupos, pois passam a ser fiadores da ordem nos territórios. Se você não tem para onde correr, estes grupos oferecem alguma proteção. E claro, impõe um domínio tirânico”, diz ele, sobre o terro imposto pela milícia para comandar.

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Plinio Teodoro

Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas.

CINEMA: SERTÂNIA, A VOLTA AO NORDESTE E SEUS SÍMBOLOS

Abril 24, 2021

Longa-metragem de Geraldo Sarno faz revisão sobre a mitologia sertaneja e a formação histórico-social do país. Se inicia com Canudos, versa sobre a migração ao sudeste e a volta à origem – com forte sentido político e ousadia na linguagemOUTRASPALAVRASPOÉTICASpor José Geraldo Couto

Publicado 04/2021.

Por José Geraldo Couto, no Blog do Cinema do Instituto Moreira Salles

Sertânia, de Geraldo Sarno, em cartaz no 47º Festival Sesc Melhores Filmes, não é apenas “mais um” filme sobre o sertão nordestino e sua saga multissecular de beatos, cangaceiros, jagunços e retirantes que se matam uns aos outros para perpetuar o poder das oligarquias. Até que surja outra à altura, é a obra “definitiva” sobre esse universo, ao passar em revista sua história, sua mitologia e sua iconografia, e com isso oferecer não apenas um retrato vívido da região, mas uma leitura da formação histórico-social de todo o país.https://www.youtube.com/embed/Ojuubx2dEq0?feature=oembed

Num breve preâmbulo, um homem com sua viola, à luz do luar, anuncia a história que se contará. É uma fórmula clássica, que bebe na fonte da literatura de cordel e na tradição dos cantadores de feira. Em seguida, vemos um homem ferido rastejando com grande esforço pela caatinga, acompanhado por uma câmera ao rés do chão. É a história desse homem, Antão (Vertin Moura), vulgo Jararaca, vulgo Gavião, que será narrada, de modo descontínuo e delirante.

Estado mental

O filme todo, aliás, pode ser visto como uma projeção do estado mental desse sertanejo moribundo, o que justifica não apenas os avanços e recuos no tempo como também a sobreposição de várias dimensões: a da memória, a da alucinação, a do mito. E a acidentada biografia de Antão ilumina eventos e situações cruciais da história do Nordeste e do país.

O fato primordial, tanto no percurso do personagem como na constituição do Brasil moderno, é o massacre de Canudos, em que, ao que parece, o pai de Antão foi morto. Nos alvores da república, o país nascia sob o signo da violência e da exclusão social. Antão, ainda criança, é levado a São Paulo junto com a mãe (Kecia Prado) por um oficial que participou do massacre, o major Solon (Lourinelson Valdmir). Ela trabalha de doméstica e ele cresce sob a égide do militar, que o alista na força pública para reprimir greves e movimentos operários.

Já está presente aí um tema caro ao veterano diretor Geraldo Sarno, a migração de nordestinos para o sudeste, à qual dedicou um documentário fundamental dos anos 1960, Viramundo. Fica nítida também a mirada política do diretor, um corte social que aproxima os sertanejos pobres de Canudos e os operários combativos do início do século 20 em São Paulo como estorvos ao projeto de modernização conservadora dos donos da república. Uns e outros oprimidos com a mesma truculência estatal e paraestatal.

Mas Antão volta ao sertão, onde se desenrolará todo o restante do filme. Sua trajetória, como jagunço do Capitão Jesuíno (Julio Adrião), “o encourado, maioral do sertão”, lançará luz sobre as complexas e sujas relações entre o cangaço, a Igreja, os latifundiários e comerciantes da região – com os sertanejos pobres sempre como vítimas preferenciais da violência e da fome.

Não é o caso de antecipar os numerosos episódios desse jorro narrativo de força ímpar. O importante é que, a par de uma leitura lúcida e coerente da violenta história social do sertão, Sertânia empreende uma revisão da mitologia sertaneja consagrada em sua cultura (já falamos do cordel e dos cantadores de feira) e em sua iconografia, que inclui o registro documental-etnográfico (os rostos, corpos, objetos e afazeres dos homens e mulheres do interior) e todo o repertório cinematográfico do chamado nordestern.

Mais que as remissões pontuais a clássicos como Vidas secasOs fuzis e Deus e o diabo na terra do sol, cabe atentar para a fotografia excepcional (de Miguel Vassy) em preto e branco, em especial o uso radical e criativo da “luz estourada” – uma transgressão explorada pelo cinema novo do início dos anos 1960 –, que em certos momentos deriva para o alto-contraste e cria grafismos de grande beleza.

Sertão sem fronteiras

Junte-se a isso o recurso frequente a névoas e fumaças, bem como uma orquestração precisa dos ruídos e da música (quase toda do compositor baiano Lindembergue Cardoso) e o resultado é um universo sem fronteiras e sem referências, embora a materialidade da terra e da vegetação sertaneja estejam sempre presentes, até mesmo na representação do mundo além da morte. O sertão, afinal, está em toda parte, como dizia Guimarães Rosa.

É nesse mundo sem limites entre o real e o imaginário que se justifica uma menção “antirrealista” à pintura do pré-renascentista italiano Giotto, num plano fixo em que os membros de um coro de igreja, filmados de perfil, ostentam leques redondos à volta da cabeça, fazendo as vezes de auréolas de santos. Veja a cena aqui:https://www.youtube.com/embed/VyTdklEcV-Y?feature=oembed

Do documento cru à epifania religiosa, tudo cabe no turbilhão criativo desse cineasta octogenário que filma com o vigor e a ousadia de um garoto.

Faltou dizer que alguns atores encarnam mais de um personagem. Por exemplo, Lourinelson Vladmir, além do major Solon, interpreta também os coronéis nordestinos Militão e Delmiro Gouveia (ao qual Sarno dedicou um longa-metragem de ficção em 1978). Julio Adrião é o Capitão Jesuíno e também o pai de Antão. Esse procedimento, mais do que um mero jogo metalinguístico, serve para adensar o sentido político da narrativa, ampliando suas possibilidades de leitura e instigando o espectador a fazer conexões entre os vários papéis sociais e psicológicos.

À parte isso, há dois momentos de intervenção metalinguística mais direta, em que são expostas as circunstâncias de filmagem, verdadeiros safanões “brechtianos” para lembrar que tudo é construção, invenção, faz de conta. Mas a vida real, dolorosa e inescapável, pulsa a cada plano.

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BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS GARANTEM ACESSO À LEITURA PARA JOVENS DA PERIFERIA DE RECIFE

Abril 23, 2021
  1. CULTURA

DIA MUNDIAL DO LIVRO

O contexto pandêmico escancara a falta de políticas eficazes para o fortalecimento da leitura e das bibliotecas

Rani de MendonçaBrasil de Fato | Recife (PE) | 23 de Abril de 2021.

Durante a pandemia a biblioteca está funcionando de forma diferente, fazendo encontros online e levando sacolas com alguns exemplares para as casas dos leitores – Divulgação

“Se eu pudesse falar alguma coisa para as pessoas que não lêem, diria que elas não sabem o que estão perdendo”, é o que defende Rhayanne Ketyne, estudante e moradora do Alto José Bonifácio, bairro da zona norte do Recife. Leitora assídua e frequentadora da Bliblioteca Comunitária Amigos da Leitura, que fica na rua da sua casa, ela é um exemplo de que quando garantido o acesso ao livro, ele se torna item presente no cotidiano da vida das pessoas.

E é o livro o melhor amigo de Jadilson Rodrigues, que tem 13 anos e está terminando de ler uma série de sete romances de fantasia, Harry Potter, escrita pela autora britânica J. K. Rowling. Jadilson prefere ler quadrinhos e crônicas e teve acesso aos livros desde muito cedo.

“Na creche, que eu estudava tinha um dia na semana que a tia levava a gente e lia histórias muito legais. Eu gosto de ler porque fico imerso naquela história e sinto todos os sentimentos dos personagens”, conta. O adolescente é freqüentador da Biblioteca Lar Meimei, que fica localizada em Bairro Novo, em Olinda.

::Aplicativo conecta leitores e bibliotecas comunitárias em todo o país::

Ainda que o Brasil ocupe a 60ª posição entre 70 países de baixa média mundial em leitura, histórias como a de Rhayanne e a de Jadilson são possíveis pelo incessante trabalho das Bibliotecas Comunitárias espalhadas pelos bairros de todo o país. Muitas delas nascem da necessidade de garantir atividades para as crianças e os adolescentes moradoras das periferias e passam a ser referência de mobilizações e lutas, como é o caso da Amigos da Leitura.

Criada para entreter os alunos no intervalo das aulas de futebol, a Amigos da Leitura começou sendo uma mala de livros aberta na quadra em que acontecia o projeto social da comunidade. Agora, com uma sede no Alto José Bonifácio, coordenada pela Associação Cultural Esportiva Social Amigos, a Biblioteca muda a vida de muita gente.

Durante a pandemia a biblioteca está funcionando de forma diferente, fazendo encontros online e levando sacolas com alguns exemplares para as casas dos leitores. “Deixamos nas casas e eles depois devolvem com 1 mês ou 15 dias. Aí esses livros são guardados por um tempo para depois voltarem ao uso novamente, para não contribuir com a circulação do coronavírus”, conta Fábio Rogério Rodrigues, que é gestor e articulador da Amigos da Leitura.


Contexto pandêmico escancara ainda mais a falta de políticas eficazes para o fortalecimento das bibliotecas comunitárias / Divulgação

E é também nesse momento de pandemia que a Biblioteca vem construindo atividades de solidariedade, como forma de garantir a vida. “Estamos também e com foco na arrecadação de alimentos. Ano passado nós distribuímos milhares de cestas básicas e dentro delas tinham sempre um livro. Nós somos uma biblioteca que luta para garantir o acesso humano à literatura, o acesso aos livros, mas, também entendemos as muitas faces que precisamos garantir para que as pessoas consigam ler”, diz Fábio.

O contexto pandêmico também escancara ainda mais a falta de políticas eficazes para o fortalecimento das bibliotecas comunitárias. Em Pernambuco, está em vigor o Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de Pernambuco desde Agosto de 2020.

Entre as diretrizes do Plano estão o reconhecimento da literatura e da leitura como direitos humanos, por seu valor simbólico na construção de subjetividades, dos saberes e das identidades culturais; a democratização de acesso ao livro e à leitura como instrumento transformador da sociedade e mecanismo de exercício pleno da cidadania e a valorização e fortalecimento das bibliotecas públicas, escolares e comunitárias como equipamentos culturais dinâmicos, potencializadores de práticas de leitura e de vivências culturais numa perspectiva solidária. Mas, na realidade há pouco investimento público neste sentido.

Para o pesquisador Gabriel Santana, que desenvolveu um trabalho de mapeamento de bibliotecas comunitárias em Pernambuco, dividido em 4 etapas, o plano cumpre um papel importante no quesito da narrativa, mas, pouco na efetividade.

“O Estado tem uma política que discute o acesso ao livro, tem agentes mobilizados, mas, ele ainda atribui pouquíssimo recurso. Pra gente ver efetivamente a implementação da política, basta ver a quantidade de recurso que está sendo investido. Se formos ver na pasta de cultura do estado o que está sendo investido em biblioteca, é uma quantia pífia. Inclusive na biblioteca pública do estado. Em termos de política, legal, mas a realidade ainda mantém um cenário muito precário para as bibliotecas”, defende.

Gabriel também ressalta que os sujeitos que têm construído a resistência da política de acesso aos livros, e também a manutenção desses espaços, que não são públicos, mas, de uso público, que são as bibliotecas comunitárias, têm sido a sociedade civil organizada. “Se você for às bibliotecas comunitárias na cidade do Recife você vai encontrar os melhores acervos da literatura infanto-juvenil, sem sombra de dúvidas. Em detrimento até das bibliotecas públicas do estado e do município”.

Rede

Para conseguirem construir ainda mais possibilidades de funcionamento, mas não só, as bibliotecas têm se organizado em redes.  A começar pela Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias, até as redes estaduais, como é o caso das Biblioteca Amigos da Leitura e Lar Meimei, que é faz compõem a “Releitura – Bibliotecas comunitárias em Rede”.

A Releitura além de aglutinar bibliotecas pernambucanas, promove diversas ações de incentivo à leitura e dos direitos humanos, como mediações de leitura, cortejo poético, correio poético, mala de leitura, leitura em espaços públicos e debates que envolvem a cultura, direitos humanos e literatura.

A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) reúne 11 redes de bibliotecas, como a Releitura e mais de 115 bibliotecas comunitárias, além também de produzir conteúdos sobre o cenário e os desafios dessas instituições. Além disso, a RNBC desenvolveu um aplicativo que conecta bibliotecas comunitárias entre si e com leitores, voluntários, colaboradores e parceiros. O Mapa da Leitura também indica a Biblioteca mais perto da sua localização.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga

AQUILES RIQUE REIS: WAGNER TISO E VICTOR BIGLIONE, DOIS FERAS

Abril 21, 2021

Wagner Tiso e Victor Biglione, dois feras, por Aquiles Rique Reis

Por Aquiles Rique Reis – abril de 2021.

Os caras e os seus instrumentos: ouvindo Tiso no piano acústico e Biglione nas cordas de aço do violão, só não se surpreendeu quem já conhecia suas aptidões; mas quem ainda não os ouviu tocar, caiu-lhes o queixo.

Dois feras

por Aquiles Rique Reis

Ainda que tardiamente, Wagner Tiso e Victor Biglione estão lançando The Finland Concert (independente). Um disco digital que é sério candidato a figurar nos catálogos de melhores CDs instrumentais de 2021. Eu disse tardiamente? Sim, posto que ele foi gravado em 2014.https://138428d78a11d2ae5fd2662168ab135b.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Guardado em casa por conta da pandemia, Biglione encontrou no fundo de um arquivo o áudio de um show apresentado por ele e Tiso no Martinus Concert Hall, na cidade finlandesa de Vantaa.

Desse achado surgiu o atual The Finland Concert. Valendo-se de um material considerado por eles de boa qualidade técnica, com sonoridade virtuosa e soberbamente calibrada, brilhou uma luz nos olhos dos parceiros.

Porque assim, ó: eu não estava lá, certo? Mas sei, de ouvir dizer, que os instrumentistas se entreolharam e sacaram que, já que as suas interpretações os satisfaziam, por que não as utilizar em um novo disco? Claro! E sem pestanejar, partiram pra dentro. (Neste momento, eu me intrometo para afirmar que também a mim suas atuações satisfizeram plenamente).

Assim, renascia um repertório de grande brilho, composições de grandes nomes da música brasileira: “Na cadência do samba” (Ataulpho Alves e Paulo Gesta), “Saudades da Bahia” (Dorival Caymmi), “Sonho de Um Carnaval” (Chico Buarque de Holanda), “Procissão e Expresso 2222” (Gilberto Gil), “Eu Sei Que Vou Te Amar” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “As Rosas Não Falam” (Cartola), “Samba de Uma Nota Só” (Tom Jobim e Newton Mendonça), “Autumm Leaves” (Joseph Kosma e Jacques Prevert),  “Poema finlandês” (Wagner Tiso), “Variações Sobre Doce de Coco” (Jacob do Bandolim e Hermínio B. de Carvalho).

Os caras e os seus instrumentos: ouvindo Tiso no piano acústico e Biglione nas cordas de aço do violão, só não se surpreendeu quem já conhecia suas aptidões; mas quem ainda não os ouviu tocar, caiu-lhes o queixo.

Improvisos plenos de notas ou econômicos ao usá-las, têm como marca a criatividade das harmonias. Desenhos que passeiam juntos, ora pelas mãos dos dois, ora com uníssonos de arrepiar, tamanhas são suas afinações.

O suingue é febril. Rallentandos e affrettandos são irresistíveis, bem como arrebatadora é a hora em que um ou outro solam a melodia. Íntegros, os caras têm assuntos a tratar e o fazem tocando com prazer, mostrando um ao outro do que são capazes. Nesse “papo de músico”, ganhamos nós, os ouvintes.

Assim, é impossível imaginá-los tocando só por tocar. Sente-se que, em respeito à música, eles se debruçaram tenazmente sobre o repertório, até torná-lo irretocável.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

PS. Uma ficha técnica de responsa contribuiu para criação de um belo CD. Produção musical: Wagner Tiso, Victor Biglione e Ricardo Queiroz; produção executiva: Affonso Nunes; produção cultural (Finlândia): Kimo Tamivaara. Gravado no Martinus Concert Hall de Vantaa (Finlândia). Engenheiros de gravação: Esa Lindroos (Finlândia) e Ricardo Queiroz (Brasil); edição e masterização: João Thiré; projeto gráfico: Marcelinho Silva; distribuição digital: CD Baby.