Archive for Abril, 2016

A loucura do coração

Abril 30, 2016

reprodução

‘Nise – o coração da loucura’ é um filme que deve fazer parte do ensino e pesquisa das universidades brasileiras tanto na área artística quanto médica.

José Carlos Peliano*

Um sinal do coração basta para que se abra um paraíso ou um inferno. Um limbo talvez se a batida paradisíaca ou infernal, irrompendo-se de repente e ao mesmo tempo, for do mesmo tom e intensidade, quando uma se contrapõe à outra. Esta é a sintonia-espera-distonia, a loucura, de cada coração no decurso de sua sinfonia quotidiana.

Nise: o coração da loucura, filme dirigido por Roberto Berliner, leva o coração a descompassar nos três estados evocados. As sequências de cenas transportam sentimentos de um lado a outro da tríade. Um rio de três margens ao se abrir um vértice de terra no meio do leito principal.

Enquanto o coração navega por esse rio, às vezes sombrio, outras ensolarado, muitas vezes caleidoscópico, quase nunca apaziguado, a tela se faz coração e pulsa pelos personagens que se encontram e desencontram entre si através de seus conflitos internos. Densamente povoados.

De fato, o filme se intromete no interior dos espectadores, em cada coração, e cada espectador ao revés vê seus sentimentos reverberados na tela. Uma conjugação de sentimentos visuais e sanguíneos na sequência de um roteiro limpo, exato, doce e seco, tateando como convém na busca da expressão da loucura.

Nise era bem assim. Limpa, exata, doce e seca, mas da textura do outono aprazível, não a do inverno cortante. Não era de poses melodramáticas, superficiais, contidas ou abundantes. Dizia muito em pouco. Seus olhos eram o mapa de seu coração, além de seus gestos largos ao se estenderem no trato do outro para compreender e enlaça-lo.

Uma folha seca saída do galho de uma frondosa árvore. Desce lenta, suave, tranquila, ave sem asas. Até se deitar mansamente no solo. Na verdade, o solo a espera desde seu desprendimento para acolhe-la de corpo inteiro. Admirado. Ninguém passou por Nise sem ser aguilhoado no doce ou no seco.

A face doce e a face seca disputavam lugar em Nise. O filme consegue mostrar esse enigma, rico enigma, humana composição, que a fez de uma pequena e frágil mulher ser imensa, inigualável, grandiosa, ainda que simples, amiga, companheira, ouvinte.

Glória Pires incorporou Nise no que ela tinha de mais substancial: a intuição da certeza nas coisas que acreditava e fazia acontecer. Uma glória de atriz, também simples, direta, econômica de gestos, mas transbordante de expressões. Uma interpretação marcante.

A batalha de Nise com o corpo psiquiátrico do Hospital do Engenho de Dentro foi um dos grandes marcos de sua vida. Uma flor agreste em meio a uma manada de búfalos. A humanidade viva, cristalina, em ebulição, contra a desumanidade dos choques elétricos, as lobotomias, o descarte da vida.

Berliner consegue transpor à tela a viral e descabida prepotência da classe médica diante de qualquer novidade clínica, fora dos padrões imperiosos estabelecidos, mesmo que singela, pura, criativa. Que se torna exuberante ao fim ao trazer dos recônditos da alma humana, ou de onde sabe-se lá de onde, a linguagem esquecida, atordoada, imersa, da dignidade humana, do amor nas pontas dos pinceis e dos dedos dançarinos.

Os atores que interpretaram os pacientes, ou clientes, ou internos, conseguiram transmitir as subjetividades de cada um. Realidades díspares, fragmentadas, sofridas, com o liame comum da vivência sem relógio, intervalo, sequência. Mas de um turbilhão no cruzamento conflituoso de ontem, agora e quando?

Todos acompanham o espírito da estória. A rebeldia, a tenacidade e a força de Nise perpassa por todos os atores. Uma bandeira de luta, persistência e emponderamento vai tomando corpo ao longo do filme, levando junto os espectadores. Uma união ao final.

Algumas salas de projeção presenciaram palmas quando terminou o filme. Outras muitos comentários e expressões ao longo da projeção. Na que eu estive, em São Paulo, uma plateia inquieta. Muitos ficaram para ver por fim os créditos do filme na tela. Até escurece-la por completo.

No mínimo, um filme que remexe com as pessoas, seus sentimentos, nossas fragilidades e fortalezas humanas. No máximo, um soco no estômago por nos mostrar o papel fulminante que Doutora Nise da Silveira desempenhou em sua vida em prol da vida dos internos. Teve o mérito de ter seu trabalho reverenciado por Carl Gustav Jung.

Considerados pela visão psiquiátrica convencional irrecuperáveis, escória da sociedade, tornam-se os internos verdadeiros artistas da pintura, reconhecidos, nada mais, nada menos, pela abalizada opinião do grande crítico de arte e literatura da época, Mário Pedrosa.

A vida médica de Nise, trazida ao conhecimento do grande público brasileiro pelo filme de Berliner, ressuscita com brilhantismo a atuação profissional de uma profissional responsável e de fibra. E do mesmo modo de humanismo e compaixão.

Além de servir o filme de libelo contra tendências conservadoras que ressurgem na sociedade médica brasileira, pretendendo trazer de volta os instrumentos de incapacitação total de internos sob o manto falso e hipócrita de avanços técnicos e científicos no tratamento de esquizofrênicos crônicos.

Nise lutou sozinha contra o sistema estabelecido na psiquiatria dos meados do século passado. Como a folha seca do outono. Dura quando preciso entre os pares, mas afetuosa quando sempre no convívio com os internos. O afeto que se encerra em nosso peito juvenil, levou Nise a compor o hino nacional dos brasileiros do Hospital de Engenho de Dentro. Hino de liberação, descobrimento, vida e comunhão.

Coube a Berliner e sua equipe tão bem resgatar a vida dessa brasileira inesquecível. Eu, como amigo dela, socialistamorena.com.br/nise-o-gato-e-… %u22C, senti-me presenteado com o filme. O rigor do roteiro e a sobriedade da direção não deixaram de me emocionar ao recordar todo o tempo que com ela convivi.

Um filme que deve fazer parte do ensino, pesquisa e didática das universidades brasileiras tanto na área artística quanto médica. No conhecimento científico brasileiro cabe um lugar exponencial o trabalho de Nise. Cujo maior mérito foi o de resgatar o princípio segundo o qual para se tornar igual ao seu semelhante,  sem querer ser mais, nem menos, cada um deve respeitar as diferenças e com elas conviver.

*colaborador da Carta Maior

‘Cultura periférica é vetor econômico e alternativa para manter jovens negros vivos’

Abril 27, 2016

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Para presidente estadual da Nação Hip Hop Brasil, cultura oferece alternativas nas periferias. “Lá estão os maiores filósofos e as melhores análises, só não está institucionalizado”.

por Sarah Fernandes

São Paulo – As manifestações culturais desenvolvidas nas periferias das cidades brasileiras por moradores locais são uma forma de movimentar a economia das comunidades e de oferecer alternativas para a juventude longe da violência, como afirmou o presidente estadual da Nação Hip Hop Brasil, Bob Controversista, que participou de um debate sobre o tema na noite de ontem (26,) na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, na zona oeste da capital. O evento fez parte do ciclo SP em Debate, promovido pelo Coletivo Ocupar e Construir, que até sexta-feira (29), vai discutir políticas públicas da cidade de São Paulo, fazendo uma análise da gestão atual, comparativamente às gestões passadas e avaliar as demandas futuras da capital. Os encontros ocorrem a partir das 18h, na PUC.

“A cultura periférica é um vetor socioeconômico e possibilita concretizar a manutenção da vida dos jovens pretos e pobres de São Paulo”, afirmou lembrando que nas periferias a principal presença do estado é pela polícia militar. “A cultura dá sentido para a vida dos jovens e fortalece a possibilidade de eles não serem assassinados antes dos 21 anos.”

Os negros entre 15 e 29 anos são as principais vítimas de homicídio no país, de acordo com o Mapa da Violência 2015. Do total de 42.416 óbitos por disparo de armas de fogo em 2012, 24.882 foram jovens, o equivalente a 59%. Proporcionalmente, morreram 142% mais negros que brancos por armas de fogo, sendo que 94% das vítimas fatais eram do sexo masculino e 95% jovens.

“Quando você ouve dizer que o Hip Hop salva vidas, pode apostar que ele salva mesmo, dá perspectiva e sonhos. Nos anos 2000, tivemos nossa primeira geração que foi para a universidade e se formou. Hoje já temos nas periferias advogados, professores, músicos”, disse a integrante da Frente Nacional das Mulheres no Hip Hop, Sharylaine. “Chegou o tempo que todo mundo diz de onde é, inclusive se for da favela.”

Para o coordenador de Políticas para a Juventude da prefeitura de São Paulo, Claudinho Silva, as manifestações culturais das periferias têm o potencial inclusive de tornar essas regiões mais seguras. “Não é levando polícia para lá que isso acontece, pelo contrário. É ocupando os espaços.”

Apesar do sigilo imposto a dados sobre a Polícia Militar pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), um levantamento da Secretaria da Segurança Pública divulgado em março mostra que, em média, duas pessoas foram mortas por dia pela PM de São Paulo em janeiro e fevereiro deste ano, com a grande maioria dos crimes ocorrida nos bairros periféricos.

A professora Ane Sarinara, que dá aula em unidades da Fundação Casa, avaliou que a cultura produzida na periferia tem o potencial de aumentar a autoestima dos jovens e de criar maior identificação entre os conteúdos ensinados. “O funk é muito forte entre eles e faço dele (em aula) um elemento de identificação”, disse. “As periferias não está nos livros de História. Como vou abordar a realidade do aluno pela Europa? Em geral eles têm a autoestima baixa, mas quando você dá valor para o que eles gostam eles passam a se reconhecer.”

O movimento

Os movimentos culturais nas periferias de São Paulo começaram por volta dos anos 1980 e se fortaleceram a partir de 1990, por meio de bailes que reuniam milhares de pessoas todos os fins de semana nos bairros mais pobres da cidade. Nos anos 2000, as produções culturais das periferias passam a ser amplamente difundidas, principalmente por meio dos saraus. “É lá que estão os maiores filósofos, sociólogos e as melhores análises de conjuntura, só não está institucionalizado”, defendeu Bob.

O presidente da nação Hip Hop reforçou que a cultura é uma alternativa de geração de renda. “Ela trabalha três partes: cooperativismo, associativismo e economia solidária. Essas são as únicas saídas para o capitalismo e uma das missões dos movimentos culturais das periferias”, disse. “Até hoje ainda tem pessoas que não tem R$7,20 para vir ao Centro usar os equipamentos de cultura, que não chegaram nas periferias. O jeito é fazer na quebrada.”

Em sua fala, Bob reconheceu que nos últimos anos houve um avanço considerável nas políticas de fomento aos grupos culturais das periferias, mas alertou que os coletivos ainda têm dificuldades de concorrer aos editais. “É um documento que muitas vezes nem interpretamos. Eles não foram feitos para as pessoas que se formaram em escolas sucateadas e com professores desmotivados. Por isso esses grupos as vezes voltam 10 casas neste tabuleiro.”

Claudinho, coordenador de Políticas para a Juventude de São Paulo, defendeu que os grupos culturais das periferias têm conquistado cada vez mais autonomia, independente da ação do poder público. “O que vivemos hoje demostra que a quebrada esta amadurecendo, sem a necessidade da mão do Estado”, disse. “Essas manifestações culturais são uma forma de resistência das periferias. A cultura está segurando a onda da educação, que é constantemente sucateada.”

Confira a programação do SP em Debate:

Dia 27| Educação: avanços, retrocessos e desafios (Auditório 117-A)
Emilia Cipriano (secretária-adjunta municipal de Educação)
Representação da Faculdade de Educação da PUC-SP
Ariovaldo Camargo (Apeoesp)

Dia 28| SP LGBT (Sala 102-A)
Phamela Godoy (ex-coordenadora-adjunta de políticas LGBT da SMDHC)
Ciara Pitima (Centro de Cidadania LGBT)
Rute Alonso (coordenadora do curso das Promotoras Legais Populares)

Dia 29| Direito à Moradia (Sala 102-A)
João Sette Whitaker (secretário municipal de Habitação)
Representação de Movimento de Moradia

Endereço da PUC: Rua Monte Alegre, 984, Perdizes, zona oeste

Peça itinerante em Heliópolis traz histórias de mulheres da comunidade

Abril 23, 2016

Com o espetáculo ‘Utopia’, Grupo Arte Simples percorre ruas, becos e vielas de Heliópolis todos os sábados e domingos, apresentando histórias extraídas de relatos de moradoras do bairro de São Paulo.

por Xandra Stefanel

O espetáculo itinerante Utopia é uma espécie de cortejo feito pelo Grupo Arte Simples de Teatro pelas ruas, becos e vielas de Heliópolis, a maior favela de São Paulo. A inspiração para a peça veio dos livros As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, Mãe Coragem e seus Filhos eÓpera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, e de relatos reais que a companhia ouviu de moradoras da comunidade. O fio condutor da peça é busca pela vida e pelo lugar ideal, seja ele uma cidade, um bairro ou uma casa idealizada.Itinerante

Dirigido por Tatiana Rehder e Tatiana Eivazian, integrantes do grupo formado só por mulheres, o espetáculo nasceu das andanças das atrizes pela região, que permitiram uma “imersão na biografia da comunidade por meio das histórias de vida, dos relatos de memórias, da oralidade, da improvisação da arquitetura, das relações dos moradores com o poder público, a polícia e os problemas locais”.

Desde 2013, a companhia percorreu ruas, frequentou casas e reuniões de movimentos sociais locais em busca de uma realidade que afirmam ser pouco dramatizada. “Não queremos dar uma conotação poética e romântica para a comunidade, mas mostrar o abandono dessas mulheres, sua força e independência para, diante das dificuldades e tragédias, dar a volta por cima, tocar a vida e cuidar dos filhos”, declara a diretora Tatiana Rehder.

Paulo LuzO personagem que conduz a trama é Paulo Luz, um técnico da companhia de eletricidade que carrega os simbólicos fios que entrelaçam as histórias das mulheres do bairro. Ruth detesta morar em Heliópolis e pretende se mudar. Drica sonha em ser jogadora de futebol. Salete é analfabeta e quer ser cantora. Mãe Coragem ouviu da polícia que tinha duas escolhas: atirar ela mesma no filho infrator ou deixá-lo morrer cruelmente nas mãos deles. Rita conta como levou uma facada do marido durante a final da Copa do Mundo de 1994. Claudinha vende crianças e Artificial vende fama. Maria do Socorro teve nove filhos, mas somente três “vingaram”. Nise, que se casou pela primeira vez aos 13 anos, tem a vida marcada por sofrimento, mas sempre arrumou força para se levantar e seguir em frente.

Com exceção de Claudinha e Artificial, todas as personagens foram compostas a partir de histórias reais. Segundo Tatiana Eivazian, a escolha do tema não foi por acaso. “Primeiro, porque o grupo é composto só de mulheres. Segundo, porque as maiores lideranças comunitárias de lá são mulheres. E não só as lideranças, a comunidade parece se organizar matriarcalmente, as mulheres têm muita voz lá, independentemente da profissão ou posição que ocupam. Terceiro, porque – talvez por conta de tudo isso – há um grupo de mulheres da comunidade que se reúne todo sábado de manhã para dividir histórias de opressão e, juntas buscarem empoderamento e ajuda”, diz a diretora. “Uma parte do elenco frequentou essas reuniões, e esse ponto foi crucial não só pelas histórias que ouvíamos, mas pela convivência com essas mulheres, que nos levaram ao entendimento mais fidedigno de como aquele mulherio forte age, pensa, sente.”

O Grupo Arte Simples de Teatro faz residência artística em Heliópolis há sete anos, e para as integrantes era importante que a peça fosse encenada nos lugares onde as histórias realmente aconteceram. “Queríamos pesquisar algo que nunca tínhamos feito, que é uma peça/cortejo itinerante no meio do local da nossa residência artística, contando histórias que aconteceram exatamente no mesmo chão que as atrizes e a plateia pisam”, pontua.

“Queríamos transformar nosso objeto de pesquisa em palco, e também transformar em plateia cativa nossos ‘colaboradores dramatúrgicos’, já que eles generosamente abriram suas memórias e cederem suas histórias para o grupo. Nada mais justo e gratificante (pelo menos para nós do grupo) do que levar essas histórias para bem perto de seus ‘donos’, que podem revê-las ressignificadas ali, todo sábado e domingo, num teatro na própria esquina da sua rua, casa, beco, laje”, declara Tatiana.

Utopia tem apresentações gratuitas todos os sábados e domingos até 12 de junho, saindo do pátio do CEU Heliópolis, às 16h. Excepcionalmente, não haverá espetáculo nos dias 24 de abril e 5 de junho.

Utopia
Quando: até 12/06, aos sábados e domingos, às 16h
Peça itinerante, com saída do pátio do CEU Heliópolis
Avenida Estrada das Lágrimas, 2385, Heliópolis, São Paulo
Quanto: grátis
Duração: 100 minutos
Classificação: adulto (livre)
Capacidade: 20 pessoas
Gênero: drama
Mais informações: (11) 96848-6554
Transporte grátis: van disponível na Estação Sacomã do Metrô (Rua Silva Bueno) – até o local da apresentação. Reservas pelo telefone (11) 96848-6554 ou reserva@artesimples.com.br
Recomendação: usar sapatos confortáveis
Em caso de chuva não haverá apresentação
Não haverá espetáculo nos dias 24/04 e 05/06

Ficha técnica
Com: Grupo Arte Simples de Teatro
Direção: Tatiana Rehder e Tatiana Eivazian
Elenco: Andrea Serrano, Eugenia Cecchini, Isadora Petrin, Marcela Arce e Marília Miyazawa
Dramaturgia: Grupo Arte Simples de Teatro e Verônica Gentilin
Figurino: Kleber Montanheiro
Preparação corporal: Antonio Salvador
Supervisão musical: Adilson Rodrigues
Músicas originais: Adilson Rodrigues e Grupo Arte Simples de Teatro
Produtor articulador: Daniel Gaggini / MUK
Produção executiva: Andrea Serrano e Tatiana Rehder
Contrarregra/assistência de produção: Larissa Souza
Fotografia: Cacá Bernardes

EM SUA SEXTA EDIÇÃO O PROGRAMA PALAVRAS CRUZADAS APESENTADO POR PAULO MARKUN NA TV BRASIL, POR SEU FORMATO CONSERVADOR, DESTOA DE OUTROS PROGRAMAS COMO ESPAÇO PÚBLICO

Abril 22, 2016

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A TV Brasil é a única emissora de televisão do país que produz os corpos essenciais da comunicação: serviço público e o princípio cívico. Sua grade de programação, ao contrário das televisões comerciais como a TV Globo, proporciona aos telespectadores corpos sensoriais, cognitivos e éticos fundamentais para composição das relações comunitárias. O fator social precípuo para as existências dos meios de comunicação de massa. O que a torna uma emissora de grandeza social antagônica das emissoras que praticam a programação grotesca que cristaliza a sensibilidade, a cognição e a ética dos telespectadores tornando-os passivos e desativados sujeitos-sujeitados.

A rede de programação da TV Brasil, em seu corpo singular, é composta pela multiplicidade não numérica, mas qualitativa de programas que se manifestam em desejos infantis, juvenis e adultos. Da programação para crianças, passando pela juventude e os adultos, tudo é novidade. A criança é tratada como criança ativa e criativa, o mesmo ocorre com os jovens, principalmente os das periferias que continuamente mostram suas criações musicais, grafiteiras, funkeiras, rockeiras, cinematográficas e seus contagiantes poéticos saraus.

Reportagens nacionais e internacionais cujos personagens são camadas populares e trabalhos científicos que jamais serão exibidos nas televisões comerciais, fazem da TV Brasil uma emissora ganhadora de vários prêmios nacionais e internacionais.

A TV Brasil também proporciona ao seu público, programas de debates como o Espaço Público, apresentado todas às terças-feiras às 11 horas de Brasília, pelo jornalista engajado Paulo Moreira Leite. O Bralianas.org, apresentado todas às segundas-feiras também às 11horas de Brasília, pelo combativo e engajado jornalista Luiz Nassif. Todos esses programas convidam para participar do debate pessoas  comprometidas com as consciências políticas. Consciências politicas, porque não existem consciências políticas reacionárias, já que política é potência de vontade intensivamente produtora do novo. E não imobilidade conservadora do que já se encontra posto como defendem as consciências reacionárias.

O programa Palavras Cruzadas apresentado todas às quartas-feiras às 10:30, horário de Brasília, pelo jornalista Paulo Markun, chegou a sua sexta edição. O programa, além de ser apresentado por Paulo Markun, ex-apresentador do programa Roda Viva na TV Educativa, e que afirma se encontrar envolvido em política desde o ano de 1967, e escreveu o livro Meu Querido Vlado, sobre o jornalista Vladimir Herzog assassinado pelo ídolo de Bolsonaro, coronel Ustra Brilhante, também conta com três jornalistas convidados e a inteligente, corajosa, ilustre e honesta jornalista Tereza Cruvinel, representante da TV Brasil, para entrevistarem os convidados.

Salta diante da inteligência e do comprometimento político dos telespectadores da TV Brasil o caráter destoante do programa Palavra Cruzadas quando relacionado com os programas Espaço Público e Brasilianas.org. Enquanto os dois programas sempre convidam personagens conhecedoras dos temas no plano para além do senso comum e do tagarelar atual, permitindo cortes nas estruturas semióticas-apolíticas no corpo do poder dominante, o programa Palavras Cruzadas em suas edições foi quase todo configurado por personagens conservadores. Lógico que excluindo a participação de Tereza Cruvinel e poucos jornalistas como André Barrocal, da Carta Capital. No mais, são sempre funcionários de jornais reacionários como Estadão e Folha de São Paulo.

Entre os seis personagens convidados pelo jornalista Paulo Markun, ex- apresentador do programa Roda Viva da TV Educativa, para serem entrevistados, cinco são claramente conservadores. Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia, ex-deputado federal Ibsen Pinheiro, membro do partido golpista PMDB, Francisco Rezek, ex-ministro dos desgovernos de Fernando Henrique, Edinho, ministro da Secretaria de Comunicação do governo Dilma e o cientista político Marco Aurélio Nogueira, entrevistado da quarta-feira passada que se mostrou contra o pronunciamento da presidenta na Organização das Nações Unidas (ONU) contra o golpe, afirmou que os movimentos sociais estão deprimidos depois da votação da Câmara Federal, e afirmou, também, que há crime para o impeachment.

Como até as pedras que não rolam, por isso criam limo, sabem, se os golpistas depuserem Dilma, todas as produções populares criadas por Lula e Dilma vão ser implodidas. Até a TV Brasil, já que a televisão ímpar para os golpistas é o modelo TV Globo. O exemplo claro foi o que o PSDB de São Paulo fez com a TV Cultura. Significando que se a TV Brasil permanecer ela não terá mais sua essencialidade pública.

Daí, que o telespectador inteligente e comprometido, é levado a inferir que com o caráter conservador do programa Palavras Cruzadas, que por seu sentido conservador não cruza nenhuma palavra, visto que as palavras estão sempre em movimento, sempre abertas, sempre em variações, o jornalista Paulo Markun deverá ser o único que permanecerá com seu programa.

Paulo Moreira Leite e Luiz Nassif vão rolar. Para não dizer dançar, pois pode ser que eles não saibam dançar. Rolar é mais fácil.

19 de abril: Dia de reconhecer o Brasil

Abril 20, 2016

“Meninos e meninas fazem papel de índio no Boi durante as festas juninas”, diz a música “Tudo Índio” do roraimense Eliakin Rufino.Nesta quarta-feira, 19 de abril, é dia do índio, e também dia de pintar o rosto e se enfeitar de cocares nas escolas pelo Brasil.“Tão perto geograficamente e tão distantes cultural e filosoficamente”, lembrou o ator Wesley Leal, um dos protagonistas da peça “Meu Vo(o) Apolinário”, baseada em obra do escritor indígena Daniel Munduruku.

Wesley (a esquerda), Daniel (centro) e J.Lopes Índio. Wesley (a esquerda), Daniel (centro) e J.Lopes Índio.
Ao contrário da visão predominante do tipo indígena “o primitivo de tanguinha que bate a mão na boca e faz “u-u-u”, o espetáculo desconstrói essa visão estereotipada, comentou Wesley.

“Levamos à cena a cultura dos Mundurukus, e a realidade desse povo durante a infância de Daniel Munduruku (minha personagem). Indígenas de bermudas e camisetas, como os encontraremos hoje”, explicou Wesley através de e-mail ao Portal Vermelho. Ele interpreta um adolescente indígena que sofre discriminação na cidade grande por sua origem.

Raízes e identidade
As dúvidas do jovem personagem começam a ser superadas a partir dos ensinamentos do avô Apolinário, interpretado por J. Lopes Índio, que transmite ao pequeno índio (foto) o orgulho das suas raízes. Nesse caso, a caracterização física mais próxima da realidade de muitos povos atualmente não o separa da própria história.

“Poucas vezes o público não se surpreendeu ao ver na cena, um outro conceito de índio diferente do pré-concebido. Gosto quando vejo o espanto sadio e curioso do público diante dessa descoberta”, disse Wesley.

Para o autor Daniel Munduruku, a peça estimula a reflexão sobre a identidade nacional. “O espetáculo oferece uma rara oportunidade no cenário brasileiro, ao tratar a temática dos povos indígenas sob a ótica de um autor indígena. O Brasil precisa caminhar para uma aceitação real da sua própria diversidade para construir, assim, sua própria identidade nacional”, diz Daniel.
Nova civilização
O escritor contou que a experiência de um casal de amigos que conhecem o mundo todo foi a inspiração para o livro falar das raízes. “Para eles os índios têm algo que falta ao brasileiro: a ancestralidade. Pensei sobre isso e descobri um bonito significado: raízes. Concluí que esses amigos diziam que ser índio é ter raízes. Isso me fez buscar – na memória – minhas raízes ancestrais. Aí me lembrei de meu avô. Foi ele quem me ensinou a ser índio.”
O jeito de interpretar o mundo que os povos indígenas têm é citado por Wesley como uma nova perspectiva de civilização. “No espetáculo, Apolinário diz ao seu neto “As angustias dos homens da cidade têm seu remédio na terra e eles olham para o céu”. Acredito que precisamos tirar os olhos do céu, do alto, do futuro e olhar para o agora, para a terra; é preciso viver o presente como um presente”, ponderou o ator paulista de 23 anos.
Vínculo comunitário
“O que define um índio como índio não é sua aparência, mas todas as relações que ele tem com sua comunidade”, define o portal Povos Indígenas no Brasil Mirim, projeto do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), que tem por objetivo desconstruir uma ideia genérica de que os povos indígenas ficaram no passado e que não existem mais no Brasil contemporâneo. Como mostra a peça Meu Vo (o) Apolinário eles continuam ligados às suas raízes mesmo usando roupas, por exemplo.
Acesse aqui o portal Povos Indígenas no Brasil Mirim para conhecer mais sobre a história dos povos indígenas. A peça Meu Vo (o) Apolinário tenta patrocínio através de editais para realizar novas apresentações. Em 2015, foram realizadas inúmeras apresentações em Centros Educacionais Unificados de São Paulo. Quem se interessar pode entrar em contato com José Sebastião pelo número (11) 3251-3070.

MAIS UM HINO CONTRA O GOLPE – MÚSICA PELA DEMOCRACIA: GOLPE NÃO

Abril 15, 2016

golpe, não

A democracia é um regime político universal. Onde ela sofre atentado contra sua substância vozes se levantam em um único canto na defesa de si mesmas, já que todos, como substância-singular democrática, somos a unicidade democrática. Um único hino, em uma polivocidade.  

O que está ocorrendo em relação à democracia brasileira ameaçada por forças nazifascistas golpistas de todas facetas. Por causa dessa maquinação obscurantista que pretende render o Brasil às forças tirânicas, se compôs tanto no país como em outras partes do mundo ações para evitar a concretização da força da dor.

Organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização das Nações Unidas (ONU), outras entidades internacionais, intelectuas, artistas, esportistas internacionais, e, principalmente, entidades brasileiras estão em posição geral de defesa da soberania da democracia-brasileira. Um breve exemplo internacional. Domingo, em Barcelona, organizações pela paz e movimentos sociais irão realizar um ato contra o golpe no Brasil praticado pelas direitas usurpadoras.

No Brasil, muitos compositores e atores criaram obras musicais protestando contra o golpe em defesa da democracia. E entre as muitas composições musicais se encontra o hino a Música pela Democracia, Golpe Não, que tem Chico César, Ava Rocha, Coruja BC1, Luiz Felipe Gama, Vanessa, Rico Dalasam, Max BO, LG Lopes, Pequeno Cidadão, Taciana Barros, Cacá Machado, Guisado, Ana Tréa, Lucas Santtana, Fioti, Arrigo Barnabé, Edgar Scandurra, Jovem Cerebral, Alice Caymmi, Liga do Funk, Drik Barbosa, passando pelo talentosíssimo João Donato.

Escute a música, se delicie, analise e forme sua opinião. Você também é a democracia.

Golpe Não.

GOLPE NÃO!

(Chico César/Coruja BC1/Luis Felipe Gama/Rico Dalasam/Vanessa/Drik Barbosa/LG Lopes)
.
O sistema é bruto, o processo é lento
Nosso sentimento, não vai recuar
Amor, liberdade, verdade, alimento
Não tinha e agora querem golpear
.
As velhas raposas querem o galinheiro
Roubaram dinheiro mas fingem que não
Querem que o petróleo seja do estrangeiro
Pra esconder ligeiro sua corrupção
.
Refrão:
Não, Não, Golpe Não!
Quem não teve voto tem de respeitar
Não, Não, Golpe Não!
Nossa voz na rua vem para lutar
.
Tentam nos cegar nas telas e nas bancas
Com papo de patrão, não vi a gente lá
Meu povo precisa ter a voz ativa
Golpe é fogo na favela, não vou apoiar
.
Mulher no front aqui tem voz de monte
E menos que isso não vou acatar
Avisa o gueto avisa o gueto, desperta que é golpe
Ninguém vai impedir o meu jeito de amar
.
(Refrão)
.
Eu não abro mão do que sonhamos juntos
De todas as cores que eu quero usar
De todas as formas de ganhar amores
De todos os amores que eu quero dar
.
Se eu uso vermelho ou vou de amarelo
Não tô num duelo, quero conversar
Mano, mina, mona todo mundo é belo
Nesse arco-iris todos têm lugar
.
(Refrão)
.
Golpe é ditadura, digo nunca mais
A vontade das urnas prevalecerá
Pois quem distorce os fatos em telejornais
Quer inflamar o ódio pro gueto sangrar
.
O machismo mata, a imprensa mente
Mas a internet é nosso canal
Somos a guerrilha na nova trincheira
A nação guerreira do bem contra o mal
.
(Refrão)
.
A Democracia é nossa bandeira
Golpe é uma história que já sei de cor
Todos nós queremos um País mais Justo
Todos nós queremos um País Melhor
.
Não queremos menos do que já tivemos
Nós queremos muito, muito, muito mais
Toda Liberdade, Amor, Paz, Respeito
E ninguém por isso vai andar pra trás
.
(Refrão 2x)

Teatro: um conto de fadas contra a homofobia

Abril 14, 2016

Produzida e encenada pelo Teatro da Conspiração de Santo André, a peça ‘A Princesa e a Costureira’ aguça reflexão sobre respeito às diferenças.

por Xandra Stefane

“E a princesa e o príncipe viveram felizes para sempre…”É geralmente assim que terminam os contos de fadas, como se o amor apenas fosse possível entre pessoas de gêneros diferentes. Foi pensando em quebrar este referencial reducionista que a psicóloga Janaína Leslão se enveredou pelos caminhos da literatura infanto-juvenil. Depois de cinco anos procurando uma editora, ela lançou, em 2015, o livro A Princesa e a Costureira, que chega agora aos palcos em montagem do Teatro da Conspiração de Santo André.

Vencedora do Programa de Acão Cultural (ProAC) 2015, a peça homônima estreia neste sábado (16), às 16h, no Centro Livre de Artes Cênicas (CLAC), de São Bernardo do Campo, onde será reapresentada no domingo (17) no mesmo horário. Na quarta-feira, dia 27, às 19h, a montagem estará em cartaz no Teatro Municipal de Santo André. As três apresentações são gratuitas.

O livro e a peça contam a história de Cíntia, uma princesa negra do reino de EntreRios que se casaria com Febo, príncipe de EntreLagos. Tudo estava certo: a cerimônia e o baile seriam realizados no primeiro dia da primavera e faltavam poucos detalhes a serem acertados. Um deles era o vestido da noiva. Sabendo que uma nova e talentosa costureira havia chegado de um reino distante, Cintia foi procurá-la a fim de ter uma roupa à altura do tão esperado evento. Assim que Ishtar tocou as costas da princesa, as duas foram envolvidas por uma magia que nunca haviam sentido.

Segundo a autora do livro que inspirou a peça, a intenção da história é promover a diversidade. “Muitas pessoas, especialmente jovens adultos, me procuram e dizem: ‘Nossa, que maravilha! Queria tanto ter lido isso quando eu era adolescente. Acho que não teria passado por tanto conflito’. Ou então: ‘Eu me senti representada, nunca tinha visto uma princesa negra e ainda por cima lésbica, como eu’. As pessoas me dizem que os contos de fadas com os quais todo mundo sonhava, nunca puderam representá-las”, afirma Janaína Leslão.

Segundo ela, a ideia principal era incluir pessoas que não estavam nas narrativas originais. “No meu livro, a princesa gosta de outra mulher, ela é negra, a irmã, Selene, não tem uma mão… Então, tem outras narrativas nas quais eu tentei incluir o máximo possível de pessoas que não estavam representadas antes nos contos originais”, completa.

Com uma linguagem dinâmica e acessível para o público infanto-juvenil, a peça traz músicas compostas originalmente para o espetáculo, além de adereços cênicos e figurinos que se transformam de acordo com o enredo. As constantes mudanças de personagens feitas entre os atores do Teatro da Conspiração invocam uma espécie de jogo, que sugere a necessidade de o espectador colocar-se no lugar do outro para entender e respeitar as diferentes formas de ser e viver.

Teatro: A Princesa e a Costureira
São Bernardo do Campo:
Dias 16 e 17 de abril, às 16h, no Clac
Praça Cônego Lázaro Equini, 240, Baeta Neves
Grátis
Santo André:
Dia 27 de abril, às 19h, no Teatro Municipal
Praça do IV Centenário, no Centro
Grátis

Ficha técnica
Adaptação: livro homônimo de Janaína Leslão
Dramaturgia: Solange Dias a partir da obra de Janaína Leslão
Direção: Antônio Correa Neto
Atores: Erika Coracini, Mariana Sancar e Marcio Ribeiro
Direção musical e música original: Elaine Marin
Música A Costura da Vida cedida por Sérgio Pererê
Figurinos, cenografia e arte gráfica: Mauro Martorelli
Iluminação: Cássio Castelan
Produção: Erika Coracini
Duração: 60 minutos
Classificação: a partir dos 5 anos

VAI UM CINEMINHA? O DO CUMENTÁRIO “CINCO CÂMERAS QUEBRADAS”, DE ERMAD BURNAT E GUI DAVIDI

Abril 10, 2016

Um documentário sobre a potência e a singeleza de uma terra que é arrasada pelas forças opressoras. Oliveiras, famílias, animais todos arrancados de sua terra. Foram cinco câmeras que filmaram as atrocidades e foram destruídas pelos israelenses, cujos conteúdos históricos cinematográficos foram salvos e transformados no documentário.

Para conseguir legenda em português basta apertar na engrenagem na parte de baixo a direita do vídeo, e selecionar.

São 1.34.26 de duração

VIVA O VINIL! ELIS

Abril 8, 2016

P1010746

Estamos no ano de 1980, esquizovinilfílicos, no Estúdio EMI-ODEON para vivenciar a bolacha-crioula histórica da pimentinha Elis Regina. Joia raríssima! Singeleza pura!

P1010748 P1010747 P1010749Não vamos nos alongar dado o que vocês já conhecem da voz que revolucionou as décadas de 60 e 70 da música popular brasileira. Sem contar o seu engajamento político como mulher militante pelos direitos de todas diante da opressão imposta pela ditadura civil-militar que barrou a liberdade dos brasileiros entre os anos de 1964 e 1985.

Sem delongas, vamos a apresentação da bolacha-crioula pela pimentinha como forma de agradecimento aos seus companheiros.

P1010750 P1010751 P1010752 P1010753“Obrigado mesmo

Mayrton, Márcia, Gonzaguinha, Beto, Natan,

Fernando, Yone, Lê, Ronaldo, Guilherme,

Nivaldo, Franklin, Marisa, Milikas, Magrão,

Bangla, Guilherme, Vergara, David, Chico,

Daniel, Vinicius.

Meu coração aos meus companheiros de som.

Dedico este disco a meu ídolo, minha amiga

E colega de internato Rita Lee.

Amo a música. Acredito na melhora do planeta,

confio em que nem tudo está perdido, creio na

bondade do ser humano e intuo que loucura é

fundamental.

Agora só me faltam “carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim”.

Viver é ótimo!”

                                    Elis.

LADO – A

Sai dessa/Rebento/Nova Estação/O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre.

P1010755LADO – B

Aprendendo a Jogar/Só Deus é Quem Sabe/O Trem Azul/Vento de Maio/Calcanhar de Aquiles.

P1010754Direção de Produção: Renato Correia.

Direção musical: César Camargo Mariano.

Arte e projeto gráfico: Vergara.

Foto arte da capa: Bina Fonyat e Luiz Affonso.

Arte da capa sobre detalhe: Pedro Martineli.

Fotos encarte: Wilton Motenegro.

Coordenação gráfica: Tadeu Valério.

 

                                                       VIVA O VINIL!

Documentário sobre a dupla Luhli e Lucina estreia nesta quinta

Abril 7, 2016

‘Yorimatã’, de Rafael Saar, resgata a intensa história das cantoras: da profunda conexão com a natureza às duras batalhas contra a indústria fonográfica e contra o moralismo.

por Xandra Stefanel

“Yorimatã é uma palavra mágica (…) Quer dizer ‘salve a criança da mata’. Era o nome de uma música nossa, depois virou o título de um show, o subtítulo do nosso segundo LP independente e se tornou mais do que isso. É uma palavra de abre-alas, de abre-caminhos: ‘Yorimatã’! E tudo dá certo! É um talismã”, explica Luhli na abertura do documentário dirigido por Rafael Saar, que estreia nos cinemas amanhã (7).

O filme Yorimatã conta a fascinante história da dupla Luhli e Lucina, cantoras, compositoras e multi-instrumentistas que fizeram mais de 800 composições e traduziram a liberdade para a linguagem musical. São elas as autoras dos clássicos O Vira, eternizado pelo grupo Secos e Molhados, e Bandoleiro e Fala, canções que ficaram famosas na voz de Ney Matogrosso, que participa do documentário. Além dele, dão depoimentos sobre a dupla Gilberto Gil, Joyce Moreno, Tetê Espíndola, Alzira Espíndola, Zélia Duncan, Antonio Adolfo e Luiz Carlos Sá, da dupla Sá e Guarabyra.

FamíliaMais do que resgatar a enorme importância e o pioneirismo de Luhli e Lucina para a Música Popular Brasileira, Yorimatã mostra como a dupla desafiou regras sociais e do mercado fonográfico nas décadas 1970 e 1980. Além de serem consideradas as primeiras mulheres a tocar percussão e de terem rompido com gravadoras em nome da liberdade artística, as duas viveram intensa e longamente uma história de amor a três com o fotógrafo e cineasta Luiz Fernando Borges da Fonseca.

“A gente teve quase três anos de amizade mesmo. A gente viajava, a gente curtiu muito. Um belo dia, o Luiz deu uma declaração: ‘Tudo bem, eu já conversei com a Luhli’”, relembra Lucina no filme. “Então, em vez de eu perder ele e ela, eu abri. E ele passou a ter em mim uma confidente. Isso criou uma nova dimensão de cumplicidade entre nós, que varreu as brigas, e a relação se reciclou. Ela salvou o nosso casamento (…) Nós éramos, mais que tudo, três pessoas juntas. Por acaso era um homem e duas mulheres. A energia circulava para todos os lados. E, desde o começo, sempre houve uma quarta pessoa, que era a própria música, que tomava um tempo enorme, uma dedicação enorme”, declara Luhli.

Ney Matogrosso afirma no longa-metragem que não é possível dissociar a música de Luhli e Lucina do modo de viver do trio: “Nunca consigo ver vocês apenas como artistas. Eu vejo a existência de vocês naquele contexto de vocês duas e do Fernando. E eu vi que houve uma reação de muita gente a vocês. Porque vocês eram uma coisa que talvez fosse idealizada por muita gente, mas que ninguém realizava. Vocês realizaram às claras. Eu sei que o fato de vocês terem realizado tudo às claras afastou muita gente, mesmo assim, vocês exiladas, disseram ‘Não tem impotância, nós estamos exiladas mas estamos com a verdade’. Enfrentaram as famílias, a hipocrisia organizada da sociedade, que é [assim] até hoje. E eu pensei: ‘Não estou sozinho neste mundo’”, confessa o cantor.

Reencontro

Gilberto Gil, por sua vez, valoriza a diversidade musical da dupla, que teve forte influência dos batuques da umbanda: “Na coisa de vocês, a gente percebe as raízes brasileiras todas, as urbanas e as interioranas. O Brasil todo é perpassado por essa coisa negra… Todo mundo logo cedo batucou alguma coisa, trocou as pernas, sacudiu os pés”, diz.

Yorimatã faz um passeio sonoro pela música, pela vivência hippie de amor livre e desapego material, pela intensa conexão com a natureza e seus mistérios, pela inspiração vinda da umbanda, passando pela construção dos próprios instrumentos musicais e pelo preconceito que a dupla sofreu por causa do relacionamento a três.

Rafael Saar usa em seu filme imagens de arquivo (muitas delas registradas por Luiz Fernando) e atuais para contar uma história cheia de magia e de coragem de duas talentosas mulheres muito à frente de seu tempo. Uma história emocionante de duas artistas que viveram intensamente a busca pela liberdade e cuja obra tem valor fundamental para a cultura brasileira.