DANIEL AFONSO DA SILVA: TAPEANDO O SOMBREIRO

Maio 13, 2024

Somos todos gaúchos. E vamos juntos superar mais essa. Um pouco da linda arte gaúcha. Nativismo.

Lourdes Nassifjornalggn@gmail.com

Tapeando o sombreiro

por Daniel Afonso da Silva

O sul, um dia vai falar por nós, com toda a sua voz!”.

Somos todos gaúchos. E vamos juntos superar mais essa.

Um pouco da linda arte gaúcha. Nativismo.

Tapeando o sombreiro”.

Composição de Gujo Teixeira, música de Mauro Moraes e interpretação de José Cláudio Machado (1948-2011).

*

Quem sabe os gaúchos, os homens do sul, da serra ou missões
Um dia por certo vão cantar para todos e falarem daqui
Quem sabe a campanha, a fronteira do pampa aqui do garrão
Um dia por certo vai guentar o tirão e vai pensar mais em si

Quem sabe um dia as guitarras campeiras, entoem milongas
Falando do campo, contando do sul, para o pago inteiro
E as nossas cordeonas acordem os vizinhos, que dormem a tempo
Com sons de clarins, dizendo a todos um buenas parceiro

O sul, um dia vai falar por nós, com toda a sua voz!
O sul, um dia vai falar por nós, com a sua própria voz!

Quem sabe um dia os cavalos crioulos aqui da fronteira
Esbarrem no norte erguendo poeira, com um freio de ouro
E o sangue dos pampas, dos dévons e angus
Corra pelas veias do Brasil central, parindo divisas
Além de outros touros

Quem sabe o rio grande vai servir um mate cevado a capricho
Pra adoçar a alma dos que se extraviaram por toda a nação
E assim um campeiro alcance outro mate com jujos na água
Recém camboneada do rio Araguaia, pra palma da mão

Quem sabe o rio grande ensine a todos a força de um povo
Que canta sua terra, que luta e trabalha e a conhece de cor
Quem sabe o gaúcho vai mostrar sua cara e por brasileiro
Tapeando o sombreiro, lhe olhem de perto e lhe vejam melhor

*

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

O PRIMEIRO DIA DAS MÃES NO BRASIL FOI CELEBRADO EM PORTO ALEGRE EM 1918

Maio 12, 2024
  1. CULTURA

EXEMPLO GAÚCHO

O que hoje é uma das principais datas no ano para o comércio teve origem pacifista

Redação

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

 

Cravos vermelhos e brancos, música e poesia: o primeiro Dia das Mães foi uma celebração delicada – ACM-RS

Há exatos 104 anos, no domingo 12 de maio de 1918, a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, realizou a primeira celebração do Dia das Mães no país. A iniciativa foi da Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul (ACM-RS).

Naquele segundo domingo de maio, também chovia na capital gaúcha. A ACM-RS conta que seu salão social foi aos poucos se enchendo de gente para celebrar a figura materna.

“Na ante-sala, em uma mesa, envelopes e papel de correspondência convidavam aqueles que tivessem as mães distantes para que lhes escrevessem uma mensagem de afeto. Na entrada do salão, vasos de cravos vermelhos e brancos enfeitavam o ambiente, e cada pessoa que entrava recebia uma flor que era colocada em sua lapela por Eula Kennedy Long, brasileira e esposa de Frank Millard Long, secretário-geral da ACM”, diz texto publicado no site da entidade.

Os cravos representavam uma simbologia delicada. Pessoas com mães vivas, usavam vermelhos nas lapelas, enquanto filhos de mães já falecidas, os brancos. Após discurso oficial, ocorreu uma  apresentação musical e declamação de poesias, feita pela escritora Júlia Lopes de Almeida.

O exemplo gaúcho se espalhou pelo país. No ano seguinte, a ACM do Rio de Janeiro celebrou a data, em 1921, a de São Paulo. Em 1932, Getúlio Vargas decretou que ela se tornasse feriado oficial e, em 1947, o dia foi incluído no calendário oficial da Igreja Católica.

Origem pacifista

Em 1918, o secretário geral da ACM-RS, Frank Long, importou a comemoração, inspirado em seu país, os Estados Unidos, onde a data era oficialmente celebrada – também no segundo domingo de maio – desde 1914. A conquista foi resultado de campanha conduzida desde 1907 por Anna Jarvis na Igreja Metodista da Virgínia Ocidental.

Sua intenção era honrar a memória de sua própria mãe, falecida dois anos antes – justamente no segundo domingo de maio. A mãe de Anna, Ann Reeves, havia sido uma ativista pela paz, que durante a Guerra Civil dos EUA, cuidou de feridos de ambos os lados.

Pelo mundo, o Dia das Mães é celebrado em datas variadas. Em Portugal, e demais países lusófonos da África, ele ocorre no primeiro domingo de maio, mês das festividades de Santa Maria, mãe de Jesus. na Noruega, ele acontece em fevereiro, e na Argentina, em outubro.

Com o tempo, data foi se tornando uma das mais importantes do ano para o comércio. No Brasil, ela é a ocasião que mais aquece a economia no primeiro semestre – e a segunda no ano, atrás apenas do Natal – movimentando mais de R$ 30 bilhões. Mas sua ideia original era ser um momento de reflexão pela paz e o diálogo.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

PADURA: “MINHA CUBA À FLOR DA PELE”

Maio 11, 2024

Escritor desvela os dilemas do socialismo caribenho em novo livro. De esquerda crítica, retrata o submundo de Havana, desilusões de sua geração e o transe pós-Fidel. Avesso a “análises de conjuntura”, vê no cotidiano a chave do mundo

OUTRASPALAVRAS

POÉTICAS

por Rôney Rodrigues

11/05/2024 –

Foto: Adalberto Roque / AFP

— Vou começar pela grande protagonista de seus romances: Havana. Como é viver nesta cidade? O que te encanta? O que te assombra? O que te inspira?

— Sou um romancista de Havana e a cidade me dá tudo o que preciso para escrever: histórias, personagens, atmosfera, contexto, inclusive uma maneira de ver a vida e expressá-la verbalmente, literariamente — explica Leonardo Padura, 68 anos, o aclamado escritor cubano da tetralogia As quatro estações e de O homem que amava os cachorros, que José Padilha e Wagner Moura planejam verter para o cinema.

Apesar de charlarmos por e-mail, eu poderia dizer que é possível sentir no ecoar digital de suas palavras a brisa leste do Caribe — úmida, salgada e nostálgica — numa Havana de vielas históricas, casarões-cortiços, paladares… Da Praça da Revolução com Camilo Cienfuegos e Che Guevara rascunhados em empenas, de turistas europeus em tuk-tuk, da salsa, do merengue e até de reggaeton (que Padura detesta!) torando em caixas de som… Vã imaginação.

Padura prossegue:

— Sempre sinto que ela é uma cidade com a alma à flor da pele, que se você a conhece e a interroga, ela fala. E tudo isso é fonte de inspiração. Mas às vezes me assusta sentir que ela vai se transformando com o tempo, e nem sempre para melhor. Há um processo de empobrecimento que se reflete não apenas na deterioração de sua estrutura física, mas também na deterioração de seus habitantes. E a pobreza, por essência, é feia, agressiva, dilacerante.

A Havana de Padura nunca foi mágica, mas melancólica e atroz. Uma teia de relações intrincadas que escapa ao romantismo revolucionário ou à propaganda gusana de Miami. É uma cidade incompleta para muitos que lá vivem — e um pedaço insubstituível para aqueles que se desterraram.

Esta, portanto, é a Havana dos romances de Padura. Porém, em Pessoas Decentes, seu novo livro publicado pela Editora Boitempo, ela torna-se mais insólita. É 2016. Mick Jagger berra um “Boa noite, meu povo de Cuba” ao microfone, antes de requebrar com os Rolling Stones num gigantesco show que fez 1,2 milhão de cubanos espremerem-se nas ruas da capital. É o ano em que mister Barack Obama, o primeiro presidente estadunidense a pisar na Ilha, sugere perante a Raúl Castro que é tempo “de pensar num futuro juntos” e, num espanhol-yankee, diz com ares triunfalista: “Eu creio no povo cubano”. É o ano em que a Chanel levou a luxuosidade francesa à Cuba socialista, armando sua passarela em pleno El Paseo del Prado, um dos maiores cartões-postais de Havana, para receber a nata do mundo da moda, com desfile de Tilda Swinton, Vin Diesel e Gisele Bündchen, entre outros. (E, também, da morte de Fidel Castro aos 90 anos, cujas cinzas foram depositadas no Memorial José Martí, em Santiago de Cuba, cercado por uma multidão que fazia filas num raio de três quilômetros para prestar-lhe homenagens — e apoiar seu mantra “sim, é possível”, tanto para construir um futuro mais justo no mundo quanto para superar a crise cubana).

O cronista-gonzo Xico Sá, fãzão de Padura, sublinhou na orelha do livro um trecho-síntese desta estranha euforia:

Obama vem aí, cavalheiros!”, gritou alguém. “E, com Obama, um monte de estrangeiros com dólares, a moeda do inimigo da qual as pessoas tanto gostam, que resolve tantos problemas. Vamos abrir negócios, vamos dar a volta ao mundo, e talvez até suspendam o bloqueio e, com isso, consigamos sair de uma vez por todas do subdesenvolvimento e até do Terceiro Mundo. Havana está louca, Havana está sonhando.”

E, como uma cidade que sonha é, também, uma cidade que deve recordar, Padura assim o faz em Mantilla, bairro periférico que é mais um ecótono entre a paisagem urbana e rural, cortada por uma rodovia movimentada. Ali o escritor nasceu, criou-se e fincou raízes, assim como seu pai, seu avô e seu bisavô, que lá abriu um armazém, construiu uma casa e nunca mais saiu, tal como seus descendentes. Considera-se, portanto, mais mantillense que havanês.

Padura mora, hoje, com sua companheira Lucía López Coll, a quem dedica todos os seus livros “com amor e miséria”, na mesma casa de sua infância, erguida tijolo a tijolo pelas mãos do viejo bisavô Padura em 1954. Não têm filhos. Mas têm um calhambeque, privilégio na Ilha, e livros, e mais livros, e centenas de filmes e séries num HD que preenche a monotonia das noites mantillenses deste casal de cinéfilos.

Feitiço incondicional

Bolotas de pano com esparadrapo. Pedaços de madeira. E assim fazia-se a pelada beisebolista, com pequenos pitchers e os catchers do bairro. Como muitas crianças da Ilha, o sonho do niño Leonardo era ser jogador de beisebol, esporte que é a paixão nacional em Cuba. O escritor autoproclama-se um dos maiores conhecedores nesta matéria em Cuba — acredito, pois um nativo do País do Futebol dificilmente poderia pôr à prova sua expertise.

Isso, talvez, tenha marcado mais sua infância do que o terremoto político que abalou a América Latina, cujo epicentro era Cuba. Barbudos tenazes tomaram Havana e botaram o ditador Fulgencio Batista para correr, após dois anos de guerrilha. Era o primeiro dia de 1959, época de renovação de votos, e uma pomba branca — não é metáfora! — pousava insolitamente no ombro do destemido Fidel Castro. Um bom agouro para o ano novo cubano.

Desta época, quando a revolução engatinhava, Padura tem recordações vagas. Descreve uma cidade glamourosa, “cheia de um comércio vívido e colorido”, que apagou-se na época natalina: os costumeiros passeios pelo centro, onde a classe baixa ia para admirar de fora as reluzentes vitrines de lojas chiques e seus enfeites de Papai Noel, pinheiros ornamentados e neve falsa, não era uma prioridade para um governo que tinha a árdua tarefa de reconstruir um país.

Mas Padura rememora isso sem ressentimento, com uma pitada de saudosismo, vá lá, mas, em suma, sem ressentimento. A cidade continua glamourosa, bela e enfeitiçadora, até quando se deteriora, repete o escritor, sempre quando estrangeiros incrédulos querem saber por que ele ainda não se “autoexilou”… Abandonar Cuba, ao final, seria abandonar matérias-primas essenciais — e exilar-se dele mesmo. Por isso, quando vai aos Estados Unidos e encontra familiares e amigos, confessa que procura somente se divertir, evitando discutir política, pois “de fora as coisas cubanas são muitas vezes vistas em termos bastante preto e branco”.

O maratonista

A literatura é uma forma de vida, diz Padura. Porém, sem arroubo poético. É vida, pois é o ofício de onde tira o ordenado para pagar os boletos — um privilégio em qualquer parte do mundo, reconhece. Também é vida, afiança o escritor, pois abre portas para outros mundos. De novo, não é metáfora desgastada; é algo concreto. A carreira literária permite a Padura viajar para muitos países. Conhecer gente nova. Ouvir e ser ouvido em realidades tão díspares. Ir ao além-Cuba. Ele nunca imaginou que aquele jovem Leonardo do Período Especial cubano, um jornalista que revezava-se entre a cobertura policial e a crítica cultural, o mesmo Leonardo de quando lançou seu primeiro livro — Passado perfeito, ressuscitado após jazer por seis anos numa gaveta — por uma pequena editora mexicana, tornar-se-ia uma estrela da literatura mundial, autor do best-seller O Homem que Amava os Cachorros, com obras traduzidas para mais de 15 idiomas, vencedor de importantes prêmios, como o Princesa de Asturias, o Hammett e o Prix Initiales, e laureado com o diploma de doutor honoris causa pela Universidade Nacional Autônoma do México.

Aconteceu. E grande notoriedade exige grande responsabilidade, pois o romance é uma corrida de fundo, acredita Padura. Sentar-se todo dia em frente ao computador para escrever por cinco, seis horas, ou mais quando a imaterial (e imprevisível) inspiração bate, como faz hoje, exige condicionamento mental… e físico — tal como um enxadrista profissional, explica. Exercita-se, portanto, todos os dias. Abandonou o rum: bebe apenas vinho, e somente quando se reúne com amigos. Esforça-se para fumar menos de dez cigarros por dia. E, como um bom cubano, tem como praxe caminhar pelo Malecón, a orla de Havana, por horas ou mesmo cinco minutos, e sentar-se na mureta de 1 metro para contemplar a cidade, inescapável, de um lado, e o inalcançável oceano, de outro. Onde começa e termina o país, um lugar que é a síntese de Cuba, sempre destaca.

Apesar de calejado no ofício, adverte que cada romance é uma nova experiência. De novo, diz isso com pragmatismo, pois as últimas obras de Padura debruçam-se sobre eventos e personagens históricos — do século XIX ao XXI — e exige ampla pesquisa. O que realmente o corrói, admite, é o fantasma da autocrítica rondando cada página de seus manuscritos: é preciso afinar o estilo, a estrutura, o tom de certas passagens, e contar com imprescindíveis pitacos críticos de sua companheira… “Você está escrevendo merda e acha que é um gênio”, já disse. “É aí que você está ferrado”.

— Alguns dizem que a função da literatura é captar as mudanças imperceptíveis de uma época — preâmbulo eu, querendo saber qual sentido Padura vê nesta batalha contra a página em branco. — Antonio Candido disse que ela é uma necessidade humana básica: o direito à fabulação. Outros sustentam que sua importância é justamente não ter função alguma. E assim sucessivamente… E para você, qual a função da literatura?

— Da literatura em geral, é para criar beleza, para descobrir o que os outros não veem, para nos fazer pensar. Do romance, em particular, é mergulhar na alma dos indivíduos, na condição humana e, nessa perspectiva, dar-nos uma imagem de uma realidade, real ou fictícia, mas que amplia a nossa percepção do mundo.

— Alguns escritores confessam que, no processo de escrita, certos personagens parecem ganhar autonomia, escapar do controle do escritor, tomar seus próprios caminhos… Acontece isso com você?

— Claro… Mario Conde [protagonista da maior parte de seus romances] muitas vezes faz o que lhe dá vontade, sem minha permissão. Ou em Como poeira no vento (Boitempo, 2021), esses personagens começaram a crescer e a atuar de forma quase independente das minhas ideias originais. Acredito que quando se dá vida a uma criatura, pode-se educá-la, mas não decidir completamente os seus comportamentos. Isso acontece na vida real e, também, no romance.

Talvez em falsa modéstia, ele costuma dizer em outras entrevistas que é um escritor de “pouca imaginação”, pois custa-lhe ter uma ideia para um romance, o que o exaspera. Mas diz que sempre há uma luz no fim do túnel – e, em algum ponto do cérebro, uma luz se acende.

A criatura não muito bem-educada

Mario Conde é contemporâneo de Padura do Período Especial cubano, quando o colapso da União Soviética levou seu “satélite” latino-americano a uma gravíssima crise econômica — apagões, insegurança, mercado clandestino, êxodo… — que ainda não se cicatrizou muito bem. Os dois viveram poucas e boas juntos, portanto, Conde é criatura, sim, é verdade, mas também é um camarada fiel ao longo de décadas e mais de uma dezena de romances, comungando os dois dos mesmos dilemas existenciais. Conde é um detetive cubano encouraçado pelo humor pessimista, um tabagista inveterado que bafora profunda melancolia. Ressalta seu criador-camarada que Conde tem uma personalidade destonante da alma cubana, que é despreocupada, de viver um dia de cada vez, sin coger lucha, como se diz por lá.

Conde nunca quis ser policial, para começo de conversa. Fã de jazz e de Ernest Hemingway, sonhava ser um escritor — e, por isso, é afeito ao submundo havanês, nutrindo certa simpatia com as putas, os loucos e os bêbados. Tem a mesma idade de Padura e é atormentado por fantasmas do passado. Em Pessoas Decentes, ele é um homem ainda mais ressentido, que sobrevive de bicos e da venda de livros velhos, mas volta à ativa na Cuba de Rolling Stones e Obama a convite de um ex-colega policial, após o assassinato brutal de um burocrata hijo de puta de primeiro escalão que destruiu a vida e a carreira de vários artistas.

— Foi difícil desaposentar o detetive Mario Conde? — pergunto.

— Eu nunca o apaguei! — aponta Padura. — Pelo contrário, venho reforçando as suas características e, inclusive, acrescentando outras que o complementam, por exemplo, a sua percepção da passagem do tempo físico, humano, o que chamamos de envelhecimento. No início da série ele tinha 35 anos, agora tem 62 em Pessoas Decentes e, com esse processo temporal, tornou-se mais cético, mais irônico, mais desencantado, mais pessimista. Mas tudo isso estava se gestando desde que o esbocei pela primeira vez. A grande mudança foi deixar de ser policial, mas agora continua fazendo investigações policiais e sempre, antes e agora, dando um diagnóstico da realidade cubana.

— Muitos meios de comunicação e críticos literários especulam se personagens de ficção são alter egos de seus escritores. Você é Mario Conde? Tem algo dele?

— Mario Conde é Mario Conde e eu sou eu. Nada de alter ego. É claro, ele é meus olhos para ver a realidade, minha sensibilidade para assumi-la. Somos cubanos da mesma geração, com experiências comuns, com inclinações para a literatura, amantes da contemplação da beleza feminina, mas cada um à sua maneira… embora sejamos muito parecidos.

Detetive da Havana profunda

Vamos, então, ao berço de Conde, criado em frente a uma Olivetti — ou Mignon, Hermes, Remington, sei lá… O casmurro detetive fez-se vida a partir da pretensão de Padura em escrever romances policiais que seriam, sobretudo, romances sociais. Um Sam Spade caribenho! Um Philip Marlowe do submundo socialista. Nos anos 70 e 80, havia uma produção profícua deste gênero literário em Cuba, estimulada pelo governo. Mas era aquela velha coisa das pulp fiction estadunidenses: um detetive-herói, mas com o “comprometimento revolucionário”.

Conde não é propriamente um anti-herói, observa Padura, mas um protagonista carrancudo em conflito consigo mesmo e com a sociedade cubana, um malparido que lida com malparidos e que personifica as desilusões de uma geração — a geração de Padura. Algo que o jornalismo oficialista cubano nunca poderia fazer, afirma o escritor, em diversas entrevista.

Nos anos 80, o ganha-pão de Padura era o jornalismo — e ele sofria em espremer histórias em três mil toques: a experiência humana da realidade, acredita ainda, ao menos para o então aspirante a romancista, não poderia ter uma camisa de força de caracteres. Ele escrevia para o Juventud Rebelde, jornal oficial da ala juvenil do Partido Comunista de Cuba, e para a revista literária El Caimán Barbudo. Era a “mídia jovem” cubana que, ao contrário do Granma, o “órgão oficial” do Partido, podia ocasionalmente contar histórias mais ousadas, como a do aumento da prostituição na década de 1990 e da “dinastia do rum Bacardi”. Por fim, Padura foi chefe de redação da Gaceta de Cuba, revista de la Unión de Escritores, quando abandonou o jornalismo para dedicar-se somente à literatura.

Ficou, então, algo de jornalista nele na busca de investigar as complexidades da sociedade cubana, o que as mídias oficialistas nunca poderiam fazer, porém sem perseguir o ritmo frenético, caliente, dos acontecimentos.

— Você foi jornalista por um tempo. Peço licença para propor uma situação imaginária: se você fosse entrevistar o detetive Conde de Pessoas Decentes, qual seria a primeira pergunta?

— Essa é fácil: nesta Cuba onde você mora agora… de que adianta ser uma pessoa decente?… É que quando a sobrevivência se impõe, a ética nem sempre sai bem no embate.

Parece meio pessimista, não acha?

Lendo inúmeras entrevistas que o escritor concedeu nos últimos dez anos, sei que Padura nunca romantizou a passagem do tempo; as primaveras em nada são generosas. Ele gosta de lembrar, como se precisasse pelear contra o clichê de que mechas brancas seriam provedoras de sabedoria, que o corpo definha, a memória fraqueja, o cansaço cambaleia o corpo, a visão fica turva. E isso nem é o pior. A auréola da nostalgia pesa sobre a cabeça. As expectativas de que tudo vai se ajeitar desmoronam. Não, não vai. E a crença de um futuro melhor se esvai. Talvez até haja pessoas decentes no mundo. Mas a sensação é de que “algo que se acaba, de um tempo que não se pode recuperar, que se repete e que sempre termina nos esmagando”, disse certa vez. “Você se sente derrotado pela História como acontece com Conde e com muitos de sua geração”.

Em O Homem que Amava os Cães, Padura escreve que “a Utopia foi traída e, pior ainda, reduzida a uma fraude aos maiores desejos humanos”.

Por isso, insisto.

— Você é uma pessoa otimista? Ou acredita que este sentimento humano é perecível com o passar do tempo?

E cavuco mais:

— Há espaço, hoje em dia, para as utopias?

— Passo do otimismo ao pessimismo com muita facilidade, embora às vezes fique preso no pessimismo por mais tempo — quem fala isso, só pode ser um verdadeiro pessimista, claro. — Acredito que a sociedade humana avançou muito em muitas áreas, a ciência, por exemplo, mas acredito ao mesmo tempo, que muitos outros valores foram vulgarizados ou se perderam definitivamente. E não vejo espaço para a promoção de novas utopias, mas sim de distopias.

E prossegue:

— Quem me dera que houvesse um pensamento que organizasse melhor o presente e, inclusive, o futuro, mas vejo ao meu redor cada vez mais ameaças à democracia, desde a Rússia de Putin até os Estados Unidos de Trump, não importa se ele é presidente ou não, passando por uma Europa que se volta à direita e, mais perto, do El Salvador de Bukele ou da própria Cuba de hoje, onde os direitos de expressão, de descontentamento e de dissidência são violados. Nós estamos fodidos!

Sim, don Padura. Convém, então, discutirmos mais sobre Literatura? Ou…

Seria melhor falarmos de beisebol?

Cuba é uma ditadura, mister Padura? Qual a solução aos mais de 60 anos de embargo econômico? O senhor acredita que o comunismo fracassou? E a Venezuela? E a China e Putin? Qual o painel socioeconômico da Olha após a morte de Fidel Castro? Miguel Díaz-Canel está cedendo ao neoliberalismo?

Ele é educado ao responder perguntas como essas, mas pinça palavras – e muito poucas – para não deixar entrevistadores no vácuo. Brinca que sempre que está em turnê no exterior “as pessoas vêm até mim e me dizem não o quão bem escrevo, mas o quão corajoso sou para escrever o que escrevo em Cuba”.

Não é que Padura não goste de falar de política, mas isso não é algo fácil para qualquer cubano, escritores ou não, que são sempre fustigados a se posicionarem contra ou a favor do socialismo caribenho. Em uma entrevista de meia hora, queixa-se, passa 25 minutos respondendo perguntas políticas. Mas ele adoraria falar, também, de literatura, música, cinema, esportes, o beisebol que tanto ama… — como um escritor normal. Ninguém coloca Paul Auster nesta sinuca de bico, suspirou em um de seus ensaios: “Auster nunca é interrogado sobre a possível direção que a economia americana está tomando” ou “por que ele continuou vivendo em seu país durante o anos horríveis do governo George W. Bush”.

Não sou especialista em análises de conjuntura política, murmurou certa vez, “vou dar respostas que poderiam ser obtidas com qualquer outra pessoa”, mas, quando perguntado sobre literatura, “todas as minhas respostas podem ter leituras políticas”.

Padura está longe de ser gusano, que fique claro, como más-línguas poderiam sugerir. É mais um crítico, sem a obrigatoriedade de ser construtivo. Ao longo das décadas, perdeu o viço para analisar por conta própria ou ser arguido por terceiros sobre a política institucional cubana. É verdade que ele sempre reitera que falta uma absoluta liberdade de expressão na Ilha, embora nunca tenha sido censurado ou molestado por burocratas — e nem considere que houve “excessos” em Cuba, como ocorreram na URSS. Mas aponta que o projeto de criação do novo homem socialista castrou subjetividades, pois jovens como ele não podiam cultivar uma cabeleira, usar calças apertadas, curtir o som dos Beatles ou ler certos autores “malditos”. É gozado. Ele nunca militou em causa alguma, menos ainda no Partido, porém um novo livro de Padura é sempre tomado como um documento para destrinçar a realidade cubana – seja em maior ou menor grau, à direito ou esquerda.

Nem ao céu nem ao inferno

Padura é direito, como sempre: Cuba não é uma ditadura sanguinária nem um romântico paraíso socialista. É, mais bem, um “purgatório” — palavra dele. Um lusco-fusco, caso queiramos corromper com otimismo a imagem católica evocada pelo escritor.

Purgatório ou lusco-fusco, é uma Cuba sem Fidel nem ao céu nem ao inferno que hoje tenta abrir-se ao capital internacional — o que Padura vê com bons olhos — após 66 anos de um embargo econômico criminoso imposto pelos Estados Unidos — “um ato de guerra econômica em tempos de paz”, como afiançou o chanceler cubano Bruno Rodríguez — e sustentado até hoje, embora a Assembleia Geral das Nações Unidas denuncie a ilegalidade. A paz, portanto, é complexa quando um país não está em condições normais de temperatura e pressão. Vide 2021, quando centenas de milhares de cubanos, em plena pandemia, saíram às ruas — instigados por grupos cubano-estadunidenses de direita, como acredita o governo, ou não, mas que revela um clima de descontentamento no país. Neste ano, massas voltaram às rua de Havana, após frequentes apagões na Ilha, alta do preço do combustível e escassez de alimentos. Por supuesto, o embargo econômico não pode ser naturalizado diante da crise cubana, mas há também a “crise de horizontes — que se observa muito claramente no potencial migratório — e uma crise de confiança nos espaços políticos e institucionais. […] Em resumo, uma lição importante parece ser que enfrentar a crise por meio da expansão de direitos – tanto políticos quanto sociais – é o caminho mais firme para as soluções futuras”, analisou Julio Cesar Guanche, professor da Universidade de Havana, em artigo publicado no Outras Palavras.

E aí entra o repórter, no caso eu, impelido a provocar um assunto que Padura evita com delicadeza ou mostra-se ranzinza, pois é um escritor, não um cientista político, como ele cansa em dizer. Mas poderíamos, então, arriscar uma filosofadas despretensiosas sobre este mundo vasto mundo cujas crises já não podem ser contadas nos dedos de uma mão?

Bem, vamos arriscar — e, assim, tento comer pelas beiradas sua vibe política.

— Parece que o capitalismo está se transmutando com a chamada “digitalização da vida” — é bom destacar: Padura é avesso a redes sociais; é um homem analógico, com orgulho geracional. — Você acredita que isso está levando à construção de uma nova subjetividade?

— Não sei. Só sei que sempre, nos últimos séculos, cada geração tem suas próprias características. E também que a “digitalização da vida” tem gerado uma quantidade de mudanças que nos leva a uma nova era da evolução da humanidade… e não sabemos bem para onde vamos.

— Talvez esta pergunta seja uma extensão da anterior. Uma vez te perguntaram qual era o “futuro da vida socialista” e você respondeu: a liberdade individual. Você acredita que os discursos de “coletividade”, “massas” e “povo” podem, de certa forma, soarem alienantes, sendo um obstáculo à compreensão das singularidades humanas?

— É claro que limitam a expressão da individualidade com a liberdade que deveríamos ter. Em qualquer caso, a defesa dos nossos direitos e liberdades pessoais deve ser realizada num âmbito social onde estão os outros, e esses outros devem ser considerados e respeitados. O homem é um ser social, está integrado num coletivo humano, é parte de uma massa e culturalmente faz parte de um povo. Portanto, esses conceitos devem ser tratados com cuidado. O problema está na sua manipulação… e esse outro mal social, os políticos, cuidam disso com muita paixão.

O homem que abandonou os cachorros

Escritores são seres cheios de obsessões. A História — com H maiúsculo — é a de Padura. O romancista é um contador de mentiras que tem que convencer seu leitor de que o que conta é verdade, já disse ele, como certo clichê. Mas não é, pois Padura é sempre objetivo, pragmático, como já falamos, afeito a sua educação materialista-histórica, traçando desenhos lógicos — e dialéticos. Em suma, ele refere-se às técnicas de seu ofício, pois um escritor deve estar sempre atento aos pequeníssimos elementos que escapam ao olhar de um historiador. Ao retratar o poeta José Heredia em La Novela de Mi Vida, por exemplo, a informação de rodapé de que ele gostava de um guisado de quimbombó [uma variação do quiabo] foi fundamental — além de ser um prato que Padura saboreia com devoção. É a História a partir do agá minúsculo.

A morte de Leon Trótski foi uma destas obsessões.

Por décadas, o revolucionário soviético era um expurgado em Cuba, por assim dizer. O pouco que era sabido sobre ele na Ilha devia-se, de acordo com Padura, a Che Guevara, cujo sangue borbulhante por “um, dois, três, muitos Vietnãs” e de anseio pelo novo homem a ser construído, permitia-lhe dar umas escapulidas do dogmatismo stalinista cubano, e flertar na surdina com grupos trotskistas da doce Havana.

A primeira vez que Leonardo Padura ouviu falar de Trotsky, o “traidor da classe operária”, foi na universidade, quando cursava Letras. Era muito estranho: o soviético sequer era caluniado, mas apagado de qualquer charla política. O escritor ficou encucado — e não tinha quase nada para ler sobre este revolucionário apócrifo. Em 1989, Padura visitou pela primeira vez a Cidade do México e foi conhecer a casa de Coyoacán onde o Leão russo exilado foi assassinado, aos 60 anos. “Era um lugar escuro, sombrio…”, descreveria tempos depois, “parecia mais uma prisão ou um castelo”… Mas aquele ambiente lúgubre, onde Ramón Mercader, um jovem espanhol “kamikaze” que logrou infiltrar-se no círculo íntimo do trotskismo, e golpeou a cabeça alva de uma figura histórica com uma picareta de alpinista, o emocionou.

Não é que ele tornou-se trotskista; longe disso. Mas “existe uma simpatia natural pelos derrotados, pelos que perderam”, explica. Trotsky era uma liderança intelectualizada que, segundo Padura, manteve sempre um pensamento utópico de que a revolução era possível — além de sua história ter um elemento essencial em qualquer “jornada do herói”: um terrível antagonista, no caso, Josef Stalin.

Mas continuando. Após a visita à casa de Trotsky na Cidade do México, Padura ficou com essa história na cabeça até 2005, quando começou a escrever o aclamado O homem que amava os cachorros, um baita thriller com três frentes narrativas: um cubano fodido com a crise cubana dos anos 90 que conhece um homem misterioso que sempre levava seus cachorros para passeios na praia; a epopeia de um Trotsky exilado da União Soviética, melancólico, porém ávido de construir outros rumos para o comunismo internacional em um “castelo mexicano” cercado por seguranças, outros comunistas e seus cachorros; e o apaixonado Ramón Mercader, enredado num complexo jogo de poder e fadado entrar tragicamente para a História: uma vítima do seu tempo. Padura diz que filosofava – antes e depois de escrever o livro: pode um crime ser justificado mesmo para uma grande ideia, se o futuro melhor da humanidade precisa do crime?

De Trotsky, Padura tinha farto material para construir a narrativa, como a autobiografia Minha Vida. Pensou até em utilizá-la como fio condutor, em primeira pessoa, para o eixo narrativo que trataria do revolucionário soviético. Viu que era melhor não. Quanto a Mercader, havia pouco material disponível — alguns depoimentos, entrevistas e a biografia sentimental de seu irmão. Isso deu-lhe certa liberdade para explorar mais este personagem, a partir de outros arquivos, obscuros ou não, mas críveis sobre a vida do jovem espanhol e de “agentes soviéticos infiltrados”, como este personagem.

Um detalhe instigou ainda mais Padura: Ramón Mercader viveu por décadas em Havana, sob identidade secreta, com o pseudônimo de Jaime Lopez, depois de sumir do mapa ao ser liberado de uma prisão mexicana. O escritor, com verve jornalística, logo procurou fontes, quem poderia ter conhecido, interagido, qualquer coisa, com o jovem espanhol. Ninguém disse um “A”.

O fio condutor estava formado: o assassino de Trotsky amava os cachorros — assim como Padura e o próprio Trotsky. Em uma entrevista, o escritor empolgou-se em apontar, após cansativa pesquisa, que em Los sobrivivientes, um filme de 1979 sobre uma família burguesa cubana que isola-se do mundo por acreditar que a revolução era coisa passageira, teve a participação de dois borsóis russos de… Ramón Mercader!

Essa é a deixa para eu apresentar a última pergunta.

— Pensei em fazer ou não esta pergunta. Me pareceu idiota… e talvez seja mesmo. Mas decidi fazê-la. Você disse, em uma entrevista, que é apaixonado pelos cachorros, que já teve alguns inesquecíveis… E que devido a suas constantes viagens, escolheu ter gatos. Isso me fez querer saber mais sobre o escritor que amava os cachorros e, agora, ama os gatos…

— Ainda sou amante dos cachorros. E lamento muito não poder ter alguns devido aos meus compromissos de trabalho fora de Cuba. Os gatos são muito na deles e não sinto afinidade por eles. Eu os alimento e aí termina minha relação com eles… Com os cães, porém, é possível conversar e eles me entendem melhor do que muitas pessoas.

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Rôney Rodrigues

Editor de Outras Palavras. Formado em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), colaborou com veículos como Superinteressante, Caros Amigos, Brasil de Fato, Rede Brasil Atual e Revista Móbile. Assessorou movimentos sociais e entidades envolvidas na pauta urbana. Especializado na cobertura de temas relativos ao direito à cidade e em conflitos urbanos, mantém o blog outraspalavras.net/doispontos

Maio 10, 2024
  1. CULTURA

CULTURA

Versão cômica do espetáculo Julieta estreia em Brasília nesta sexta (10)

Apresentações acontecem de 10 a 19 de maio com entrada gratuita no Sesi Taguatinga; veja como conseguir ingressos

Redação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

 

Espetáculo faz uma provocação ao público, ao incorporar o feminismo como um dos temas da história – Divulgação

O Teatro Yara Amaral, no Sesi Taguatinga, em Brasília, recebe, nesta sexta-feira (10), o espetáculo solo de palhaçaria contemporânea “Julieta”, com a atriz Camilla Goulart. Criação da própria artista, a peça é uma transformação da tragédia clássica “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, em uma comédia, por meio da palhaçaria contemporânea.

O espetáculo também faz uma provocação ao público, ao incorporar o feminismo como um dos temas da história. Além de trazer, para o contexto atual, uma narrativa conhecida com modificações.

As apresentações acontecem até o dia 19 de maio, com sessões às sextas (15h30), sábados (20h) e domingos (19h), todas com entrada gratuita. Os ingressos estão disponíveis pela plataforma Sympla.  

Nos dias 12 e 19, as apresentações vão contar com acessibilidade de intérprete de Libras e de audiodescrição. O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) do Distrito Federal (DF).

A popular história de “Julieta” é contada a partir do ponto de vista subversivo da palhaça PruUu com a ajuda de sua amiga, a mala Genoveva. Em cena, a palhaça manipula objetos para criar personagens e dar vida ao enredo. Além da atriz e palhaça, o espetáculo conta com o diretor musical Walber Freitas e com o multi-instrumentista e ator Gabriel Pogó, que executam a parte musical. 

Espetáculo “Julieta”

Quando: de 10 a 19 de maio (sextas às 15h30; sábados às 20h; domingos às 19h)
Onde: Teatro Yara Amaral (SESI Taguatinga – QNF 24, Taguatinga Norte)

Ingressos gratuitos – retirada via Sympla.

Duração: 55 minutos

Classificação indicativa: Livre para todos os públicos

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Rafaela Ferreira

OFICINA DE ROTEIRO DE CINEMA, EM JOÃO PESSOA (PB) RECEBE INSCRIÇÕES ATÉ SEXTA (10)

Maio 9, 2024
  1. CULTURA

ESCRITA CRIATIVA

Inscrições gratuitas são realizadas por formulário online; ao final do curso, produções serão publicadas em livro

Redação BdF – PB

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |

 

Card de divulgação do projeto ‘Dos filmes que ainda não fizemos’ – Card: Luyse Costa @luluyse

As inscrições para as oficinas de escrita de roteiros de cinema e de editoração de livros, iniciativa do projeto ‘Dos filmes que ainda não fizemos’, foram prorrogadas até esta sexta-feira (10).  A inscrição é gratuita e é feita por meio de formulário online. As oficinas serão ministradas por Rober Corrêa e Eddie Frevo e acontecerão de 14 a 27 de maio, das 18h às 21h30, na Escola Municipal Lions Tambaú, localizada no bairro Jardim Cidade Universitária, em João Pessoa. 

O curso terá 10 aulas e abordará técnicas de roteiro e diagramação. Ao final, os roteiros produzidos serão publicados em um livro e haverá emissão de certificados. Podem participar da oficina, pessoas a partir de 16 anos, e ao menos 25% das vagas serão destinadas para pessoas autodeclaradas negras, LGBTQIAPN+, indígenas, mães, PCDs ou de outras minorias sociais. 

De acordo com a organização do projeto, quem já realizou a inscrição, basta aguardar que receberá um e-mail com orientações. As vagas são limitadas. Uma seleção será feita levando em conta as informações fornecidas na inscrição.

O projeto ‘Dos filmes que ainda não fizemos’ é realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo.

Em caso de dúvidas, entrar em contato com (83) 9 8689-5759 ou enviar um e-mail para dosfilmespb@gmail.com

Professores

Rober Corrêa

É produtor, professor, roteirista, diretor e editor de livros e filmes. Graduado em Cinema (UFSC- 2015) e História (UDESC – 2015). É pesquisador na área de direitos humanos e em 2019 defendeu sua dissertação no programa de Mestrado em Direito da UFRJ sobre o cinema de Maria Augusta Ramos. Na mesma instituição, é integrante do grupo de pesquisa Direito e Cinema. Foi assistente de Maria Augusta Ramos na produção dos filmes O processo (2018) e Não toque em meu companheiro (2020). É produtor e corroteirista do filme Grade (2021), de Lucas Andrade. Como professor de roteiro, desenvolve desde 2019 o projeto ‘Dos filmes que ainda não fizemos’, atualmente em sua 7ª edição. Entre outras obras, dirigiu os filmes Por que as mulheres Lutam? (Prêmio 70 olhares – ICEM).

Eddie Frevo

Atua com a produção de Identidade Visual, de Ilustrações (material didático e comercial), Artes Visuais e Design Editorial. Possui habilidades com os programas do pacote Adobe – Photoshop, Illustrator e InDesign. Trabalhou na Empresa Paraibana de Comunicação – EPC, como produtor/diretor de arte para as mais diversas mídias, diagramador, ilustrador e capista de livros. Foi responsável pelo projeto gráfico da coleção do Prêmio Literário José Lins do Rego 2023.

Acompanhe o perfil do projeto no Instagram.

Serviço:

Oficina de escrita de roteiro para cinema

Data: 14 a 27 de maio 
Horário: 18h  às 21h30
Local: Escola Municipal Lions Tambaú, localizada na rua Francisco Timóteo de Souza, 31 – Jardim Cidade Universitária, João Pessoa – PB, 58052-130.

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Carolina Ferreira

FESTIVAL DE TEATRO DO DISTRITO FEDERAL APRESENTA PEÇAS QUE RETRATAM’BRASILIDADES CULTURAL CONTEMPORÂNEA’

Maio 8, 2024
  1. CULTURA

ARTES CÊNICAS

Apresentações vão de 11 a 26 de maio; Elisa Lucinda e Paulo Betti estão entre as estrelas da programação

Redação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

 

Elisa Lucinda retorna a Brasília com seu fenômeno de público “Parem de Falar Mal da Rotina” – Jonathan Estrella

Entre os dias 11 e 26 de maio, o Teatro dos Bancários recebe o Mistura Geral – Artes Cênicas, projeto que traz ao público brasiliense espetáculos estrelados por artistas locais em diálogo com alguns vindos de outros estados.

“Convidamos artistas que buscam espelhar, por meio de seus trabalhos, brasilidade cultural contemporânea e atenção às pautas das minorias através do teatro”, detalhou a curadoria do projeto. Serão seis atrações com entrada a preços acessíveis. 

Abrindo o Mistura Geral, nos dias 11 e 12, às 18h, sobe ao palco o ator Paulo Betti com seu monólogo: Autobiografia Autorizada. Indicada ao Prêmio Shell de Melhor Texto, em 2015, a peça é um amálgama do Brasil profundo, inspirada pela história de Paulo, que percorre o trajeto da roça à cidade.

“Minha memória da infância e adolescência, passada num ambiente inóspito e ao mesmo tempo poético, talvez mereça ser compartilhada no intuito de provocar emoção, riso, entretenimento e entendimento”, comenta Betti. 

Nos mesmos dias, às 20h, a comediante Dadá Coelho apresenta Cuscuz na Mão. No stand-up, a atriz conta histórias hilárias que não poupam o marido (Paulo Betti), os amigos, família, famosos nem a si mesma.


Paulo Betti sobe ao palco do Teatro dos Bancários com o monólogo Autobiografia Autorizada / Mauro Kuri

No final de semana seguinte, de sexta a domingo (17, 18 e 19), Elisa Lucinda retorna a Brasília com seu fenômeno de público Parem de Falar Mal da Rotina, assistido por milhões de espectadores em todo o Brasil e no exterior. Com versos despojados sobre o cotidiano, Elisa oferece uma reflexão divertida e provocativa sobre a vida cotidiana que age como um espelho de possibilidades, desencadeando transformações nas relações sociais, profissionais e pessoais. 

No domingo, tem sessão dupla de Os Saltimbancos, da brasiliense Agrupação Teatral Amacaca, sob direção de Hugo Rodas. A peça, que mistura dança, teatro, circo e música, trata de união, fraternidade, empatia, sonhos e perseverança.

Encerrando a programação de artes cênicas do Mistura Geral, nos dias 25 e 26 de maio (sábado e domingo), o ator e cantor Claudio Lins apresenta Chico Teatro, musical em homenagem a Chico Buarque interpretando obras do compositor que foram levadas ao palco em inesquecíveis peças musicais e balés.

Entre os clássicos, Lins apresenta canções de Morte e Vida SeverinaRoda VivaCalabarGota D’águaÓpera do MalandroO Corsário do ReiCambaioO Grande Circo Místico e Dança da Meia-Lua

Nas tardes desse mesmo final de semana, a Cia. Os Buritis, de Brasília, diverte o público infantojuvenil com o musical autoral Cantos de Encontro que aborda a imaginação, o hábito de contar e ouvir histórias e o prazer de cantar e de dançar.

Serviço

Mistura Geral – Artes Cênicas
Local: Teatro dos Bancários
Endereço: EQS 314/315 BL A – Asa Sul
Ingressos: peças do DF a R$ 20 (meia), e as de fora a R$ 30 (meia). Meia entrada com doação de 1 kg de alimento não perecível mais os casos previsto em Lei. Vendas neste link.
Informações: www.instagram.com/misturageralfestival
Realização: Instituto Transforma em parceria com o Teatro dos Bancários
Fomento: Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal

Programação:

Dias: 11 e 12/5 (sábado e domingo)

Às 18h: Cuscuz na Mão, com Dadá Coelho

Às 20h: Autobiografia Autorizada, com Paulo Betti      

Dias: 17, 18 e 19/5 (de sexta a domingo)

Às 20h: Parem de Falar Mal da Rotina, com Elisa Lucinda

Dias: 18 e 19/5 (sábado e domingo)

Às 15h e às 17h: Os Saltimbancos, da Agrupação Teatral Amacaca

Dias: 25 e 26/5 (sábado e domingo)

Às 16h: Cantos de Encontro, da Cia. Os Buritis

Às 20h: Chico Teatro, com Claudio Lins

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino

PROJETO OFERECE MUSICOTERAPIA E OFICINAS MUSICAIS GRATUITAS PARA PESSOAS LGBTI+ EM BELO HORIZONTE

Maio 7, 2024
  1. CULTURA

ACOLHIMENTO

Inscrições estão abertas até o dia 14 de maio por telefone ou via redes sociais

Redação

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |

 

O projeto tem encontros semanais no Barreiro, uma das regiões periféricas mais populosas da capital mineira – Divulgação

Com o objetivo de promover um espaço acolhedor às pessoas LGBTI+ a partir da música, o projeto Di-Versxs – Musicovivências Queers! está com inscrições abertas até o dia 14 de maio. A iniciativa oferece musicoterapia e oficinas de vivência musical gratuitas para a comunidade, em Belo Horizonte. 

O projeto tem encontros semanais no Barreiro, uma das regiões periféricas mais populosas da capital mineira. As atividades já começam na terça-feira (7) e vão até o mês de julho. O idealizador Wagner “Junim” Ribeiro destaca que a música tem um potencial de despertar os afetos, os corpos e as culturas dos participantes.

“Uma perspectiva social e comunitária da musicoterapia abre lugar para a verificação de que a diversidade é constituinte de uma comunidade e que as desigualdades devem ser alvo de transformações por meio de ações que diminuam as distâncias entre classes, gêneros, raças ou quaisquer outras categorias”, comenta. 

As inscrições podem ser feitas pelo telefone (31) 98050-0915 ou pelos perfis do Instagram @di.versxs.ofc e @akasulo

Inspiração em Conceição Evaristo

Uma das referências para o projeto é o conceito de “escrevivências”, de Conceição Evaristo, que destaca o papel da vivência para a produção de sentido e conhecimento.

Junim comenta que, assim como a mais recente imortal da Academia Mineira de Letras busca interpretar como os corpos das mulheres negras se colocam no mundo, as “musicovivências”, propostas pelo idealizador do projeto, buscam evidenciar as sonoridades que habitam os corpos das pessoas LGBTI+.

Produtos

Após a realização das oficinas, será lançado um EP virtual com as canções resultantes do compartilhamento de vivências pelos participantes do projeto. A produção também será feita por eles, junto a musicistas e cantores LGBTI+.

“Trazer artistas referências no cenário musical de Belo Horizonte reforça o objetivo do projeto de amplificar nossas vozes, ao conectar essas diversas realidades e potencialidades no fazer artístico, social e cultural da música, elevando ainda mais o alcance dessas composições e a dimensão da valorização da população, gerando arte transformadora para toda comunidade”, explica Junim.

Serviço 

Di-Versxs – Musicovivências Queers! – Musicoterapia e vivência musical para LGBTQIA+
Início dos encontros: terça-feira, 7 de maio, das 19h às 21h
Inscrições: até 14 de maio, por telefone (+55 31 98050-0915) ou Instagram (@di.versxs.ofc ou @akasulo)
Público-alvo: pessoas LGBTQIA+ de Belo Horizonte, que tenham a partir de 18 anos
Local: aKasulo –  Centro de Convivência LGBTQIA+
Endereço: rua Agnelo Macedo, número 234, Barreiro, Belo Horizonte

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Leonardo Fernandes

DÉBORA MAZZA: FLORESTAN FERNANDES: REFLEXÕES SOBRE AS DITADURAS

Maio 6, 2024

Agência Câmara

Florestan Fernandes: reflexões sobre as ditaduras

por Débora Mazza

T.S. Eliot no livro A terra devastada afirma que “Abril é o mais cruel dos meses” pois nele germina “os lilases da terra morta”, “as agônicas raízes da chuva da primavera”, “os secos tubérculos” e “a terra em neve deslembrada”. Diz: “leio muito a noite e viajo para o sul” como estratégia para fugir dos “restos do inverno” europeu (ELIOT, 1999, p. 52).

Ruy Castro (2024), talvez inspirado em Eliot, em artigo recente, indagou se podemos considerar Abril “o mais cruel dos meses”. Dentre outros acontecimentos, relembrou o “Abril de 1831, quando Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro e o deixou para seu filho de seis anos”, o violento 1º. de Abril de 1964, que durou 21 anos e “teve seu aniversário de 60 anos vigorosamente descomemorado há dias”, o “Abril de 1981, quando houve a bomba no Riocentro” e, para complicar ainda mais a dúvida, encerrou o texto lembrando “a crueldade do Abril de 1500, quando descobriram/invadiram o Brasil”.

O texto sério e irônico de Ruy me reportou a uma antiga e atual resenha de Florestan Fernandes (1920-1995) sobre o livro Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, e sua adaptação cinematográfica feita por Nelson Pereira dos Santos (FERNANDES, 1984, 2022).

Graciliano Ramos (1892- 1953), um importante autor da literatura brasileira, foi preso pela ditadura do Estado Novo quando ela começava a se desenhar, no início de 1936. Sem acusação formal ou processo, o escritor alagoano foi detido em Maceió por suposto envolvimento com a Intentona Comunista, contra o governo de Getúlio Vargas, ocorrida em novembro de 1935 e combatida pelas Forças de Segurança Nacional. Passando por diversos presídios, incluindo a Colônia Correcional, em Ilha Grande (RJ), ele ficou preso até início de 1937, período em que começou a escrever “Memórias do Cárcere”. Publicado em 1953, o livro narra o cotidiano do preso político, as condições insalubres e alguns episódios da repressão daquela época, como a deportação de Olga Benário para a Alemanha nazista.

Em 1984, o livro foi adaptado para o cinema pelo diretor, produtor e roteirista de cinema brasileiro Nelson Pereira dos Santos (1928- 2018) e, neste mesmo ano, Florestan escreveu sobre o livro e o filme na Série “Colunas Eternas” da Folha de S. Paulo (FERNANDES, 1984).

Nela o autor, ao discorrer sobre a ditadura do Estado Novo partindo dos suportes literário e fílmico, recorda as muitas ditaduras que existiram no Brasil e na América Latina, todas elas acumulando reflexões sobre “danos irreparáveis” deixados em várias esferas da vida social. Entende que as duas artes trazem à tona a lembrança da experiência direta com o Estado repulsivo que brutaliza e bestializa a humanidade. Sugere que ditaduras se incluem em “cadeias de continuidades, que faziam do presente um espelho fiel do passado oligárquico, do passado escravista neoliberal e do passado escravista colonial, pretensamente desaparecidos”.

Florestan aponta que a versão cinematográfica explora as possibilidades de “fragmentar a realidade para, em seguida, recompor o concreto nos diversos níveis em que ele aparece na percepção, na cabeça e na história dos homens”. Assinala que “Memórias do Cárcere” veicula um sentido intelectual, moral e político porque nos ensina que “o acaso” de uma ditadura está no uso racional “da corrupção, da opressão e da violência institucionalizada” e assevera que tanto o livro quanto o filme evidenciam que “o presente colonial não desaparecerá por si só ou por uma impossível ação redentora dos que têm as continuidades do despotismo. Sair das prisões não é vencer as ditaduras. Para acabar com elas, no solo histórico da América Latina, seria preciso destruir o arcabouço colonial no qual elas se assentam e que lhes dá a maligna capacidade de sobreviver aos que elas aprisionam e libertam” (FERNANDES, 1984; 2022, A9).

Como bem nos lembra o historiador Carlos Guilherme Mota (1980), citando Ronald Schneider “o erro dos historiadores e cientistas políticos que estudaram o Brasil nos últimos 40 anos foi presumir que os governos fortes intercalavam períodos democráticos, quando, na verdade, era evidente que os governos democráticos é que eram os entreatos de governos fortes” (MOTA, 1980, p. 47). Assim, as ditaduras e as ambiências autoritárias perduraram mais entre nós do que os curtos e frágeis governos democráticos.

Sendo assim, as lufadas de esperança de Abril de 1945, quando “20 mil soldados alemães se renderam à Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, a inauguração de Brasília, em Abril de 1960 e a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, que libertou Portugal da ditadura de 48 anos” (CASTRO, 2024), não justificam apagamentos da ditadura do mês de Abril e atualizam a releitura da resenha comentada do sociólogo brasileiro (FERNANDES, 2022, A9) que transcrevemos a seguir.

Memórias do cárcere

Florestan Fernandes, 20.ago.1984.

Há quantos anos li “Memorias do Cárcere”? Não me lembro. Não seria preciso ter vivido sob o inferno do Estado Novo para sofrer o impacto da grandeza daquele livro, que vincula a criação artística exemplar à ira moral e política mais consequente.

Os que falam de “literatura crítica” e de “arte engajada” quase sempre permanecem na periferia dos símbolos e na superfície da luta política.  Graciliano Ramos travou o combate ao nível mais profundo da defesa da dignidade do eu e da condenação irretratável do despotismo institucionalizado. Temperamento e circunstâncias acenderam a chama do “intelectual revoltado”, gerando-se assim a única obra de denúncia integral e de desmascaramento completo existente em nossa literatura.

Não voltei a ler o livro. Nem agora, que senti um ímpeto irrefreável de incentivar os leitores a não perderem a sua transposição cinematográfica. O vigor do livro, na minha memória, prende-se à revolta íntima, ao afã de denunciar e desmascarar além e acima dos limites do inconformismo ideológico e político, de buscar uma objetividade tão intransigente e penetrante que nos lembra a “verdadeira ciência”, no sentido de Marx.

Ao sobrepujar seu rancor e as humilhações sofridas, o intelectual descobre o significado da prisão e da violência que imperam em toda a sociedade brasileira, de modo a identificar o microcosmo dentro do qual fora lançado como o limite mais brutalizado e esquecido do todo, mas, ao mesmo tempo, o mais expressivo e relevador.

De um golpe, o Estado Novo e as várias franjas psicológicas, policiais, militares ou políticas da opressão mostravam-se no que eram, em sua realidade histórica específica e nas projeções que a soldavam ao passado escravista e colonial mais ou menos remoto e recente, ou seja, em sua realidade histórica estrutural.

Em um país no qual a descolonização foi confundida com a troca de guarda na casa reinante e com a monopolização do poder pelos estratos dominantes dos estamentos senhoriais, “Memorias do Cárcere” balizava-me o aparecimento de uma nova consciência política da realidade nacional e de uma repulsa ao conformismo típico dos movimentos de rebelião, que iriam engravidar a história das “noções proletárias”.

Constituía uma dificílima tarefa criadora transpor para a linguagem do cinema um livro como esse, que comoveu a nação, mas permaneceu ignorado pelos estudiosos do Brasil na sua perspectiva original mais elucidativa e provocadora, em ruptura com a “história oficial” e, especificamente, com as várias modalidades então existentes de “sociologia de gabinete” e de “ciência social acadêmica”. Pela segunda vez um escritor escrevia uma obra-prima dentro do seu métier (se se tomam “Os Sertões” [de Euclides da Cunha] como paralelo), só que, agora, o produto transcendia à ordem existente como um todo e a punha em xeque. O cinema poderia responder dialeticamente a essa realização?

Só assisti uma vez ao filme de Nelson Pereira dos Santos e seus colaboradores (entre os quais a competência dos técnicos nada fica a dever à excelência dos autores). A impressão que me ficou, corroborada por uma longa reflexão crítica, levou-me à certeza de uma correspondência dialética efetiva.

O filme opera com os três níveis do livro: o psicológico, o da memória propriamente dita, que focaliza as ocorrências do dia a dia; o dos acontecimentos, no qual a história também se objetiva através da memória e da experiência direta com a realidade do Estado brutal, chocante e repulsivo, retrato da sociedade de que fazia parte e daqueles que a comandavam, para os quais ele constituía uma “necessidade política”; o da “repetição da história”, parcialmente visível através da ocorrência do cotidiano e dos acontecimentos, mas em sua maior parte matéria de análise crítica desmascaradora, pela qual a brutalização e bestialização do homem refletiam como a ditadura se incluía em uma cadeia de continuidades, que faziam do presente um espelho fiel do passado oligárquico, do passado escravista neocolonial e do passado escravista colonial, pretensamente desaparecidos. O que é preciso assinalar: o filme faz tudo isso pelas vias próprias do cinema, sem parasitar no talento de Graciliano Ramos nem mimetizar o portentoso quadro de referências obrigatório.

“Memórias do Cárcere”, na versão cinematográfica, explora mais desenvoltamente a linguagem artística e as possibilidades que estão ao alcance do cinema de fragmentar a realidade para, em seguida, recompor o concreto nos diversos níveis em que ele aparece na percepção, na cabeça e na história dos homens.

Quem ama o livro por ele mesmo não vai recuperá-lo no filme. Quem ama as várias verdades que Graciliano Ramos enfrentou com hombridade e coragem irá ver no filme uma engenhosa e íntegra transposição do livro. Seria pouco dizer que ambos se completam.

Nelson Pereira dos Santos explica a técnica cinematográfica como Graciliano Ramos a técnica literária, como recurso de descoberta da verdade, arma de denúncia intelectual e instrumento de luta política.

Como a “sua” situação histórica é datada de hoje, o alvo imediato é, naturalmente, a ditadura atual e as condições que lhe conferem uma substância colonial inocultável. Esse é o aspecto por assim dizer genial do filme.

A atualidade de “Memórias do Cárcere” não poderia estar em algo exterior, como o “acaso” de uma ditadura ainda mais racional no uso da corrupção, da opressão e da violência institucionalizadas. Portanto, terminar o filme com as sequências que foram escolhidas para esse fim representa uma solução magistral, que confere ao filme o mesmo sentido intelectual, moral e político do livro, a mesma força de uma indignação avassaladora.

Em suma, ele se evidencia como um presente colonial, que não desaparecerá por si só ou por uma impossível ação redentora dos que tecem as continuidades do despotismo. Sair das prisões não é vencer as ditaduras. Para acabar com elas, no solo histórico da América Latina, seria preciso destruir o arcabouço colonial no qual elas se assentam e que lhes dá a malígna capacidade de sobreviver aos que elas aprisionam e libertam…

Débora Mazza é Professora Livre Docente do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Educação da Unicamp. Autora, dentre outros livros, de A produção sociológica de Florestan Fernandes e a problemática educacional (Taubaté: Cabral Editora/Livraria Universitária, 2003) e Paulo Freire, a cultura e a educação (Campinas: Editora da Unicamp, 2022).

Referências

CASTRO, Ruy. O mais cruel dos meses? In Folha de S. Paulo, Opinião, 03/04/2024.

ELIOT, T. S. A Terra Devastada. Lisboa: Relógio D´água, 1999.

FERNANDES, Florestan. Memórias do Cárcere. Sociólogo analisa adaptação cinematográfica do clássico de Graciliano Ramos. In Folha de S. Paulo, Série Colunas Eternas, 20/08/1984. A resenha foi republicada na Folha de S. Paulo. 19/01/2022, p. A9.

MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da Cultura Brasileira (1933- 1974). 4a. ed., 2a impressão. São Paulo:  Ática, 1980.

RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. 23ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987.

SANTOS, Nelson Pereira dos. Memórias do Cárcere (Filme). Gênero: drama biográfico. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Luiz Carlos Barreto e Nelson Pereira dos Santos. Elenco: Carlos Vereza, Glória Pires, Nildo Parente e José Dumont, 185 min, Brasil, 1984.

FESTA EM SÃO PAULO CELEBRA 206 ANOS DE MARX E REFORÇA ATUALIDADE DO PENSAMENTO DO FILÓSOFO PARA SUPERAR OPRESSÕES DO CAPITALISMO

Maio 5, 2024

 afinsophia  05/05/2024  0

SOCIALISMO

Evento promovido pela editora Boitempo e pelo MST reuniu mais de 4 mil pessoas no centro de São Paulo

Pedro Stropasolas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 Mais de 4 mil pessoas passaram neste sábado (4) pelo Galpão do MST, no centro de São Paulo – Jéssica Antunes/Brasil de Fato

Neste sábado, o centro de São Paulo foi palco da tradicional Festa de Aniversário de Karl Marx. A sétima edição do evento, organizado pela Editora Boitempo em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), levou 4 mil pessoas ao galpão do MST durante todo o dia.

Com venda de livros, oficinas, refeições agroecológicas e mesas de discussão, a festa de 206 anos de Marx também celebrou os 40 anos do MST e contou com a presença do cientista político alemão Michael Heinrich, Alysson Mascaro, Rita von Hunty e Ricardo Antunes. 

Para especialistas escutados pelo Brasil de Fato, a atualidade dos pensamentos de Marx possibilita entender como a ruptura com o capitalismo e sua destruição das forças da natureza e do trabalho se colocam como necessidades urgentes para os dias atuais. 

“O marxismo não deve ser um dogma. É uma teoria pra gente se embasar, para fazer com que as pessoas consigam militar melhor, se organizar melhor, mas não deve ser uma coisa que se lê e não se pode pensar a respeito. Marx não previu tudo, não era um vidente. Ele era um filósofo, economista e sua teoria deve servir hoje para nos fazer pensar melhor. Marx fez a crítica ao capitalismo e nos deu as bases. E fez isso de forma exemplar, em todos seus estudos”, comenta Ivana Jinkings, diretora da Boitempo, que tem uma coleção de 34 títulos do filósofo.


Editoras do campo popular e progressista ofereceram descontos de até 50% nos livros comercializados durante o evento / Jéssica Antunes/Brasil de Fato

Atualizar o legado de Marx

Ruy Braga, professor do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), pontuou que o evento foi importante para resgatar o legado de Marx e ao mesmo tempo buscar atualizá-lo.

“Marx não oferece uma teoria que explica apenas um tipo de capitalismo. Ele permite estabelecer a articulação entre as determinações gerais do modo de produção capitalista com suas diferentes formações sociais e nacionais, e principalmente, articulando isso numa perspectiva histórica, de atualização permanente”,  explica o professor. 

“Ele foi, de todos os grandes pensadores da tradição radical socialista, aquele que de forma mais radical e contundente aponta para a dimensão destrutiva do desenvolvimento da ordem da sociedade capitalista. No próprio O Capital você percebe que o que ele está mostrando é um tipo de sociedade que avança em direção ao colapso. Nesse contexto de crise do capitalismo está a crise do trabalho, econômica e ecológica. Marx já havia apontado para a importância da crise ecológica. Ele diz que o capital não destrói apenas as forças produtivas do trabalho, mas as forças da natureza”, completa.

Professor de língua e literatura, ator e professor, Guilherme Terreri, intérprete da persona drag Rita von Hunty, avalia que Marx estava a frente do seu tempo por perceber as engrenagens de um sistema que já anunciava seu colapso no século 19. 

“O que Marx edifica é uma obra capaz de ver a gênese de um novo sistema e nessa gênese identificar o que veio antes, como ele se desenvolve e se mantem, e provável, como ele acaba, como qualquer sistema humano. Ler Marx no século 21, além de um dever, a medida que estamos enfrentando a última crise do neoliberalismo por conta do que acontece com o nosso ambiente, é organizar a luta e a esperança de um futuro possível“, coloca.

Marxismo e a crise do capitalismo

Já o cientista político alemão Michael Heinrich, considerado um dos maiores especialistas em Karl Marx do mundo, pontuou que o capitalismo passou por muitas mudanças, no entanto, as estruturas básicas continuam sendo as analisadas por Marx em O Capital, a principal obra do autor.

“Marx já sublinhou o fato de que no desenvolvimento do capitalismo, a natureza e os humanos são destruídos. Destruídos, não porque os capitalistas sejam pessoas más ou porque o fazem intencionalmente, mas porque isso é inerente à lógica da acumulação capitalista. O que conta é o lucro. Os capitalistas são forçados na competição apenas a olhar para o lucro”, explica Heinrich, que participou da mesa “Para ler O Capital de Marx”.

O alemão considera que a teoria econômica de Marx e a relação básica dos trabalhadores com o capital ainda faz sentido nos dias de hoje. 

“O que ainda é muito importante, ou talvez ainda mais importante, é a ligação entre o capital industrial e o capital financeiro. Não são dois mundos diferentes, eles estão interligados”, explicou.


Thiago Torres (Chavoso da USP), a vereadora Luana Alves (Psol-SP) e o ator e professor Guilherme Terreri, conhecido pela persona drag Rita von Hunty / Jéssica Antunes/Brasil de Fato

Ecologia em Marx

Osvaldo Coggiola, professor de História Contemporânea na Universidade de São Paulo (USP), destacou a importância de que as obras de Marx sejam constantemente reeditadas e de que suas ideias alcancem a juventude, mesmo com o espaço marginal dado a elas nas grandes editoras e meios de comunicação hegemônicos.

“É importante que nossa aproximação a Marx seja objetiva, e crítica. Não pode ser uma aproximação de tratar como sagradas escrituras. Marx é atual? Por um lado, eu diria que é mais do que nunca. Muitas coisas que Marx escreveu só agora se estão verificando na realidade do sistema capitalista. Só agora podemos ter luz, por exemplo, ao trabalhar em plataformas. Por outro lado, Marx no final da sua vida considerou a possibilidade de uma deflagração do processo revolucionário não a partir dos centros capitalistas, mas das periferias. E o que estamos discutindo hoje? Estamos discutindo o Oriente Médio, a guerra entre Ucrânia e Rússia, que embora tenham alcance mundial, do ponto de vista bélico, se produzem na periferia dos centros capitalistas”, pontuou Coggiola, participante da mesa “Anticolonialismo e marxismo: de Marx a Gaza”.

A necessidade de integrar a dimensão ecológica das ideias de Marx, na opinião de Coggiola, é parte da luta socialista para mudar a sociedade.

“Nesse momento, estamos vivendo uma situação dramática com os alagamentos no Rio Grande do Sul. Isso demonstra para os negacionistas as mudanças climáticas um produto da ação da sociedade capitalista. Temos mais de 40 mortes não por um fenômeno puramente natural”, coloca. 


Galpão do MST celebrou os 40 anos do movimento e os 206 anos de Marx neste sábado (4) / Pedro Stropasolas

Na mesma linha, Michael Heinrich avalia que a crise climática deixa a mostra que o processo destrutivo do capitalismo “questiona até mesmo a existência da humanidade”.

“Não podemos ter um desenvolvimento linear e suave. A crise pertence ao capitalismo. Crise para reconstruir, para reestruturar o desenvolvimento, todos os obstáculos que apareceram, eles são movidos pela crise”, coloca Friederich.

“O capitalismo é destrutivo. A solução para o futuro pra humanidade tem que passar pelo socialismo. Essa tragédia no Rio Grande do Sul mostra o que significa e quais os efeitos do estado mínimo“, finaliza Ivana Jinkings, diretora da Boitempo.

Edição: Thalita Pires

GOVERNO LULA BUSCA CRIAR QUOTA DE FILMES BRASILEIROS NO MERCADO CHINÊS EM 2025

Maio 4, 2024
  1. CULTURA

PARCERIAS

Delegação do governo e da indústria esteve na China, onde Brasil foi homenageado no Festival de Cinema de Pequim

Mauro Ramos

Brasil de Fato | Pequim (China) |

 

O diretor brasileiro Carlos Saldanha (terceiro da esquerda para direita), um dos 7 membros do Comitê do Júri Internacional do Prêmio Tiantan, 18 de abril de 2024. – CGTN

Em homenagem ao Brasil, o Festival de Cinema de Pequim realizou a Semana Brasileira de Cinema. Uma delegação do governo e da indústria cinematográfica brasileira esteve em Pequim para participar do evento e dialogar com autoridades e representantes do setor na China. Além disso, o diretor brasileiro Carlos Saldanha foi um dos membros do júri do Tiantan, o prêmio desse festival. 

Um dos integrantes da delegação brasileira presente em Pequim foi o secretário-executivo adjunto do Ministério da Cultura (Minc), Cassius Rosa. Ele destacou que um dos objetivos da visita é o de ampliar o mercado da indústria cinematográfica brasileira. 

Segundo ele, o diálogo feito com os diferentes órgãos chineses visa que o Brasil tenha “a partir do próximo ano, uma quota de filmes nacionais vindo para a China”.

De acordo com a Administração Nacional de Cinema da China, até o ano passado o país possuía mais de 86 mil salas de cinema. O 14º Plano Quinquenal chinês estipulou como meta que até 2025 o país atinja a cifra de 100 mil salas.

“Além da participação no festival, temos como objetivo iniciar um importante diálogo com o governo chinês para que a gente possa entender um pouco mais como funciona a entrada dos filmes aqui nesse país”, explica Rosa. 

A mostra brasileira na décima quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Pequim contou com quatro filmes: Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, Marte Um, de Gabriel Martins, Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert, e a animação Uma História de Amor e Fúria de Luiz Bolognesi.

 A Semana Brasileira de Cinema abriu oficialmente com o documentário de Kleber Mendonça, que utiliza imagens de arquivo do centro de Recife e fala sobre a cidade e suas mudanças, incluindo o abandono e desaparecimento de salas de cinema. 

A diretora de Preservação e Difusão Audiovisual do Minc, Daniela Fernandes, também integrou a delegação. Ela explica que existe com a China um acordo de coprodução cinematográfica iniciado em 2017. No ano passado, a ministra Margareth Menezes, assinou outro acordo com a contraparte chinesa de coprodução que envolve televisão e outros conteúdos audiovisuais. 

“Esses dois estão caminhando juntos agora para serem ratificados pelo Congresso e isso vai possibilitar de uma maneira bem objetiva que a gente amplie as coproduções aqui entre o Brasil e China”, afirma Fernandes.

Os filmes coproduzidos por empresas brasileiras e chinesas terão tratamento nacional em ambos os países, e poderão acessar seus mecanismos de financiamento público países.

Como parte dos avanços nessa visita, foi assinado um memorando de cooperação entre o Festival Internacional de Cinema de Pequim e o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro que deverá incentivar visitas mútuas, promover trocas e estabelecer um mecanismo de recomendação de filmes entre os dois eventos.

“Deveríamos explorar mais”

A abertura da Semana Brasileira de Cinema contou com uma sala cheia de jovens chineses. O estudante Yi Li encontrou semelhanças entre Retratos Fantasmas e um documentário chinês que falava sobre as mudanças em uma casa de shows nas últimas décadas. 

“Achei uma forma muito afortunada de preservar esse período da história, isso é muito precioso, especialmente com esse olhar do presente para o passado. Acho que a era do rock e dos cinemas foi uma época de ouro, insubstituível. Talvez esse momento, que vai dos anos 1970 aos anos 2000, tenha sido um período extremamente valioso. Estou muito grato e honrado por ter podido ver esse filme”, disse Yi Li.

“Tenho procurado ver filmes de diferentes países porque acredito que não deveríamos depender apenas de alguns grandes países e da narrativa padrão dos seus filmes para moldar os nossos valores”, disse a também estudante Zhu Rui. 

“Deveríamos explorar mais. Por exemplo, recentemente tenho visto mais filmes do Irã ou de países menores. Sinto que isso oferece uma perspectiva mais diversificada e é uma maneira melhor de compreendermos o mundo”, completou. 

Xu Xinwanru, outra estudante chinesa presente na abertura do evento diz que a “América Latina é a parte do mundo que está realmente mais distante da China”. “Então, esta é uma ótima maneira, através do cinema, dos filmes, de ter a oportunidade de ter um olhar sobre como é a cultura brasileira e como são as culturas latino-americanas, portanto, eu definitivamente vou assistir mais filmes sobre essa parte do mundo, para entender como é”, concluiu. 

“ A gente acredita nessa aproximação através da arte de uma maneira geral e do cinema em específico, não só para poder conhecer e intercambiar, mas para aprofundar mesmo as relações entre as sociedades e suas experiências”, diz Daniela Fernandes.

Edição: Rodrigo Durão Coelho