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ANA MARIA GONÇALVES ANUNCIA NOVOS LIVROS MAIS DE 15 ANOS APÓS LANÇAR ‘UM DEFEITO DE COR’

Maio 3, 2024

PROGRAMA BEM VIVER

Ana Maria Gonçalves é a 8ª mulher negra a publicar um romance no Brasil: ‘Diz muito do país e da indústria literária’

Gabriela Moncau

Ana Maria Gonçalves conversou com o BdF na exposição ‘Um defeito de cor’, com obras de 131 artistas que tem no seu cerne a cosmogonia africana – Marcelo Cruz

O país nunca prestou atenção nas mulheres negras como contribuintes, como donas da sua história

Dois novos livros de Ana Maria Gonçalves devem chegar ao público até o fim de 2024. As novas produções literárias tratam da temática racial e vêm 18 anos depois de a escritora mineira ter lançado Um defeito de cor (Record), cujo sucesso não para e, inclusive, vive novo boom de vendas.  

Tema do samba enredo da Portela neste ano e de uma exposição de 131 artistas que, percorrendo o país, está agora em cartaz no Sesc Pinheiros em São Paulo, Ana Maria considera que Um defeito de cor “furou a bolha da literatura”. 

“O desfile da Portela foi algo que eu nunca imaginava que poderia acontecer”, contou Gonçalves em entrevista exclusiva ao programa Bem Viver, do Brasil de Fato. Em abril, pouco depois de o enredo ser escolhido, a fila para autógrafos deu voltas em torno da quadra da escola e os livros esgotaram no primeiro dos três dias de um evento literário da Portela.  

No período que se seguiu, pessoas passaram a se juntar na quadra da escola de samba carioca, na rua Clara Nunes, para ler e debater Um defeito de cor em um grupo de leitura organizado pela rainha da bateria, Bianca Monteiro.

A ficção histórica é protagonizada por Kehinde, uma africana escravizada nascida em 1810. A personagem é baseada em uma mulher que, como escreve Ana Maria, pode ser “uma lenda”, “inventada pela necessidade que os escravos tinham de acreditar em heróis, ou no caso, em heroínas” ou “inventada por um filho que tinha lembranças da mãe apenas até os sete anos”. Mas também, agrega, “pode não ser”. Este filho, nascido livre e vendido ilegalmente como escravo, se tornaria um dos mais importantes abolicionistas do Brasil.    

Mas se os temas do livro ganharam outras linguagens artísticas, antes disso ele furou uma bolha dentro da própria literatura. Em 2006, após anos de pesquisa e a reescrita do livro por 19 vezes, Ana Maria Gonçalves foi a oitava mulher negra a publicar um romance no Brasil.  

Os motivos de apenas oito romances de autoras negras terem sido lançados no país ao longo de 147 anos, os caminhos abertos a partir daí, a figura de Luiza Mahin, o divisor de águas que foi a revolta dos Malês em 1835 e as disputas sobre a história oficial do Brasil são alguns dos temas da conversa com Ana Maria Gonçalves.  

Confira a entrevista: 

Brasil de Fato: A exposição Um defeito de cor está em cartaz no Sesc Pinheiros, depois de ter passado por outras cidades. Como foi esse processo de curadoria e de pensar no livro imageticamente, a partir do olhar de 131 artistas? 

Ana Maria Gonçalves: Essa exposição surgiu da ideia do Marcelo [Campos] e da Amanda [Bonan], que são os curadores do Museu de Arte do Rio. Quando me procuraram, já tinham mais ou menos uma ideia que não seria uma adaptação literal do livro. Acho que nem daria. Então, não é uma exposição sobre o livro: é uma exposição em diálogo com o livro. E me chamaram para fazer a co-curadoria com eles. 

Então a gente decidiu que ia fazer uma exposição que passasse pelos 10 capítulos do livro. Com a maioria de artistas negros e negras, eu acho que não teria como ser diferente, já que o livro é a história oficial do Brasil contada através dos olhos e da experiência de uma mulher negra, que eu coloco como a personagem Kehinde, inspirada na figura da Luiza Mahin, mãe do Luiz Gama

São pinturas, esculturas, jóias, panos, instalações, vídeos, tem uma experiência sensorial com a música também. Então a ideia era essa: cada um contribuir com um pouco para contar essa história do Brasil. Não só de maneira histórica, mas tratando de temas ainda extremamente contemporâneos. Como racismo, violência, ou seja, coisas que nos afetavam, passa pelo livro na época da escravidão, mas está aí em obras muitos atuais. E furar a bolha da literatura. Eu acho que isso é extremamente importante também.  

Falando em furar a bolha da literatura, o livro foi tema do samba-enredo da Portela neste ano. De 2006, quando Um defeito de cor foi publicado, para cá, tiveram fases de boom do livro. Você acha que agora está numa nova fase, por conta de iniciativas como essas, da exposição e do carnaval? 

Sim. O livro nunca parou de vender. Acho que a exposição trouxe uma visibilidade e o desfile da Portela foi algo que eu nunca imaginava que poderia acontecer.  

A Portela tem certa tradição de tratar de temas literários. Tem também uma feira literária, a Fliportela. Esse ano acontece em agosto, mas ano passado foi em abril, logo no início do desenvolvimento do enredo. 

A editora levou livros que achou que dava para vender nos três dias e esgotou no primeiro. Eu lembro de a fila de autógrafos dar voltas e voltas na quadra da escola. As pessoas estavam muito interessadas em ler o livro, entender o enredo. A Bianca Monteiro, rainha de bateria da Portela, junto com o professor Virgílio, fizeram um grupo de leitura. Então o pessoal ia para a quadra ler o livro junto e discutir.  

Isso culminou num desfile em que estava todo mundo entendendo muito bem qual a contribuição que ia trazer, qual a história que estava sendo contada, qual a parte da história que o afetava e o que o fazia ir para a avenida defender o samba e a escola.  

E durante o desfile o livro esgotou. Isso que já tinha sido impressa uma nova edição menos de uma semana antes do carnaval. Então a editora estava preparada, só não estava preparada para o frenesi que realmente foi, né? Esgotou essa primeira edição que já estava preparada para a venda do Carnaval e, nas duas semanas seguintes, esgotaram mais três edições. Então, com certeza, furada de bolha total. 

Da publicação do livro Úrsula da Maria Firmina dos Reis em 1859, até a publicação de Um defeito de cor em 2006, foram oito romances escritos por mulheres negras no país. Você pode comentar tanto sobre o número tão baixo neste intervalo de quase um século e meio, quanto sobre a produção cultural e o reconhecimento de autoras e autores negros das últimas quase duas décadas, desde que seu livro saiu? 

Eu fui a oitava escritora negra a publicar um romance no Brasil. Eu acho que isso diz do país. Um país que nunca prestou atenção nas mulheres negras como contribuintes, como intelectuais, como donas da sua própria história e da sua capacidade de contar o teu ponto de vista da história do país.  

E diz muito também da indústria literária. Acho que a literatura é uma das artes mais elitistas do Brasil. Com as grandes editoras concentradas basicamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, publicando romances de uma panelinha de gente que se indica. 

Tem um trabalho da professora Regina Dalcastagne, da Universidade Nacional de Brasília (UnB), em que ela fez uma análise do mercado literário brasileiro e algo em torno de 80% a 85% dos romances publicados no Brasil são escritos por homens brancos do Sudeste. Então é também uma marca deste mercado, coordenado por homens brancos que publicam seus pares.  

Eu acho que o livro pode ter contribuído para mudar um pouco da mentalidade desse mercado também. Desde que ele foi lançado, foi muito bem recebido por crítica, por leitores, pela academia e eu acho que nos dez anos seguintes aí a gente tem mais onze livros publicados por romancistas negras. Então teve uma melhora, que se a gente for pensar em termos de números é mínimo: quase um por ano.  

Mas eu acho que abriu os olhos para uma demanda reprimida. Ou seja, o mercado não está publicando a gente agora porque ele é bonzinho, porque quer fazer inclusão, mas porque viu que realmente é um lugar onde se faz dinheiro também. É no que eles estão interessados, enfim. 

E eu acho que trouxe uma contribuição extremamente grande porque a gente está disputando narrativas. Ou seja, a história oficial que foi contada para a gente, a gente também está entrando ali e falando “olha, não foi só assim, né? Acontece assim também”.  

Você fez muita pesquisa para escrever o seu livro. Como é esse processo imaginativo de saltar da bibliográfica científica para a criação de personagens, de trajetórias humanas que contem, de forma ficcional, partes da história do Brasil? Qual papel você acha que a ficção histórica tem neste sentido de contar outra perspectiva em relação à história tida como oficial? 

Uma coisa que eu disputo sempre é essa diferença entre a história oficial e a versão. Um defeito de cor não é uma versão, é a história oficial do Brasil também. Contada a partir do ponto de vista de uma mulher negra. Porque a partir do momento em que eu considero essa divisão, eu admito que existe uma história que não é a minha, da qual eu não faço parte. 

Eu nunca tinha feito pesquisa. E eu entendi durante o processo de pesquisa para escrita de Um defeito de cor – que durou dois anos -, o que eu gosto. Eu falo que sou uma reescritora. Acho que eu gosto mais da parte da pesquisa e da reescrita do que da escrita em si. 

Contraditoriamente, o processo de pesquisa foi o mais emocional para mim. Parafraseando a Toni Morrison, que falava que escrevia os livros que queria ter lido e não encontrou, acho que Um defeito de cor também foi isso para mim. Porque eu não tinha encontrado ainda um livro que reunia aquela quantidade de informações que iria nutrir uma necessidade minha naquele momento, que era me entender como mulher negra num país racista como o Brasil.  

Então ter contato com as informações é que foi a parte emocional para mim. De realmente chorar, de entender, de me emocionar, de me revoltar.  

E durante esse processo da pesquisa fui fazendo um pré-roteiro, digamos assim, da história que eu queria contar. E sentar para contar é um processo muito técnico. Tem escritores que trabalham de maneira completamente diferente, às vezes inversa. Mas o processo de escrita para mim é prático, quase braçal.  

E aí depois a reescrita é burilar o texto, acho que é o que me dá mais tesão. É você achar a palavra que queria dizer, deixar a frase com uma musicalidade redondinha. Isso é o que me faz de verdade sentir que consigo escrever. E eu reescrevi esse livro 19 vezes até chegar numa versão que falei “não consigo mais melhorar, é isso aqui”. Foram dois anos de pesquisa, um de escrita, dois de reescrita.  

No início do livro você conta como se deparou com esse tema, como o tema se deparou com você. E aí você cita um livro do Jorge Amado que literalmente caiu na sua frente, e que em algum momento ele fala do Alufá Licutã, da Revolta dos Malês e faz uma provocação, pergunta onde estão os jovens historiadores para contar essa história, repor a verdade, diz que é um tema para um grande romance. Você acha que cumpriu essa missão lançada por Jorge Amado? 

Acho que sim. Ou seja, a rebelião Malê é uma história que eu nunca tinha ouvido falar, né? E entendi como uma das rebeliões mais importantes da história do Brasil. Acho que a história da escravidão começou a ser mudada ali.  

Foi quando as pessoas do poder, os brancos, começaram a entender a intelectualidade, a entrega, a vivência, a agência que havia dentro das comunidades negras. Que era quase uma vida subterrânea, principalmente dentro desses grandes centros urbanos, como Salvador. 

Eu acho que não só por causa do livro, mas porque o tema começou a interessar mais pessoas também, a gente começou a entender o que era. E mudar uma imagem que se tinha, por exemplo, de escravizados passivos, gente que não era dona do próprio destino. Começou-se a entender ali uma individualidade, uma agência. E a revolta realmente mudou o curso da história e do entendimento do que seria o futuro do Brasil naquele momento. Então, se o livro contribuiu para isso, eu estou bem feliz.  

Tem um tanto de mistério em torno da história do livro porque é uma ficção baseada em histórias reais, e a própria figura da Luiza Mahin é um mistério. Se tornou um símbolo, inclusive evocado pelo movimento negro. Ao mesmo tempo, do ponto de vista historiográfico, são levantadas dúvidas se ela de fato existiu ou qual foi a sua história, a partir da lembrança que Luiz Gama descreve numa carta para um amigo. E você cita um manuscrito que encontrou. Fique também à vontade se preferir não responder essa pergunta e manter o mistério, mas esse manuscrito realmente apareceu ou foi uma inspiração imaginativa? Você de fato encontrou pistas sobre a Luiza Mahin? 

Eu falo desse manuscrito no prólogo do livro. E tudo o que está no prólogo é verdade – menos o manuscrito. O manuscrito foi uma ferramenta literária para… no início eu não entendi direito, porque eu escrevi o livro naquela ordem que ele aparece. Então o prólogo foi a primeira coisa que eu escrevi. Quando eu terminei o livro, falei “acho que vou arrancar esse prólogo”. Aí a editora perguntou “onde está o manuscrito?”. Eu falei “você acreditou? Ah, então vou deixar” (risos). 

O interessante é que traz elementos para a gente discutir coisas importantes que você elabora na pergunta. Muita gente me pergunta “Luiza Mahin existiu?”. E aí eu digo, “graças a Deus eu não sou historiadora e não preciso dar minha opinião com base em documentos. Sou uma ficcionista”.  

E para mim não tem motivo para se duvidar da voz de Luiz Gama. Se ele está falando “essa é minha mãe, a minha mãe fez isso, fez aquilo”, por quê que a gente está duvidando da palavra dele? Por que ele é um homem negro? Porque duvida-se da nossa contribuição para o desenvolvimento dessa história?  

Então isso é problema dos historiadores, para mim é assunto encerrado. Luiz Gama disse que a mãe dele era essa e que ela existiu assim, para mim está perfeito. Tanto que eu escrevi 900 e tantas páginas para tentar dar conta da vida desta mulher. Hoje eu me sinto feliz de ter deixado este prólogo para poder tocar nesses assuntos. 

Você escreveu uma obra prima da literatura brasileira. É difícil a continuidade depois de escrever uma obra deste tamanho? Tem algum livro que você gostaria de ler e, por não ter encontrado, está escrevendo? 

Eu acho que só vale a pena escrever sobre assuntos que eu ainda não consegui ler sobre, que me ajudem a me situar no mundo. Eu sou uma escritora de pesquisa. Então, já tiveram coisas que eu falei “quero escrever sobre isso”, aí comecei a pesquisar e de repente achei um livro que satisfez a minha curiosidade. Aí eu acho que não tem mais por quê.  

Foi bem difícil depois de Um defeito de cor. Fiquei quase sete anos sem conseguir escrever nada. Se começava, nunca conseguia chegar ao fim. Uma cobrança minha, cobrança de leitores, de um novo livro.  

E a partir daí eu entendi que meu tema é racismo, nas suas mais diversas manifestações, e que me interessa contar uma história, né? Então nesse meio tempo eu fui escrever para teatro, para cinema, começando agora para TV. E sai, eu acho que no final do ano agora, um ou dois livros.

O DIREITO À ESCOLA SEM CELULARES

Maio 2, 2024

Evidências apontam: smartphones e redes sociais deformam o ambiente escolar e produzem apatia, depressão e dessocialização em crianças e adolescentes. Contra a pressão das Big Techs, e por outro projeto educacional, é preciso suprimi-los

OUTRASPALAVRAS

TECNOLOGIA EM DISPUTA

por Jonathan Haidt

2/05/2024 –

Por Jonathan Haidt, em After Babel| Tradução: Antonio Martins

MAIS:
O psicólogo social Jonathan Haidt, autor deste texto, acaba de lançar Thes Anxious Generation [“A geração ansiosa”], que sairá no Brasil em setembro, pela Companhia das Letras. Haidt mantém o site After Babelonde aprofunda, em escritos frequentes, o estudo sobre como as redes sociais descaracterizam a escola e corroem a democracia. O artigo a seguir foi publicado originalmente lá.

Em maio de 2019, fui convidado para dar uma palestra na minha antiga escola em Nova York. Antes da palestra, encontrei-me com o diretor e os principais coordenadores. Ouvi-os dizer que a escola, como a maioria das instituições de ensino secundárias dos EUA, lutava contra um grande e recente aumento de doenças mentais entre os alunos. Os diagnósticos iniciais eram depressão e transtornos de ansiedade, com taxas crescentes de automutilação; as meninas eram particularmente vulneráveis. Disseram-me que os problemas de saúde mental surgiram quando os alunos chegaram ao nono ano: ao sair do ensino fundmental [middle school], muitos alunos já estavam ansiosos e deprimidos. Muitos também já eram viciados em celulares.

Dez meses depois, fui convidado para dar uma palestra na Scarsdale Middle School. Lá também me encontrei com a diretora e seus principais responsáveis e ouvi o mesmo: os problemas de saúde mental haviam piorado muito em pouco tempo. Muitos dos alunos que chegavam ao sexto ano já estavam ansiosos e deprimidos. E muitos, viciados em seus telefones.

Para os professores e gestores com quem conversei, não foi mera coincidência. Eles viam ligações claras entre o aumento do vício em telefone e o declínio da saúde mental, para não falar do declínio do desempenho escolar. Um tema comum em suas falas era: Todos nós odiamos telefones . Manter os alunos longe de seus dispositivos durante as aulas era uma luta constante. Chamar a atenção dos alunos era mais difícil, porque eles pareciam permanentemente distraídos e congenitamente distraíveis. Drama, conflito, intimidação e escândalo aconteciam continuamente durante o dia escolar em plataformas às quais os funcionários não tinham acesso. Perguntei por que eles não podiam simplesmente proibir os telefones no horário escolar. Responderam que muitos pais ficariam chateados se não conseguissem falar com seus filhos durante a jornada.

Muita coisa mudou desde 2019. A defesa das escolas sem telefone é muito mais forte agora. Como meu assistente de pesquisa, Zach Rausch , e eu documentamos em meu Substack, After Babel, evidências de uma epidemia de doenças mentais, que começou por volta de 2012 , continuam a se acumular. O mesmo ocorre com evidências de que isso foi causado em parte pelas mídias sociais e pela mudança repentina para os smartphones, no início da década de 2010. Muitos pais agora percebem o vício e a distração que esses dispositivos causam em seus filhos; a maioria de nós já ouviu histórias angustiantes de comportamento autolesivo e tentativas de suicídio entre os filhos de nossos amigos. Há duas semanas, o surgeon-gernal dos Estados Unidos emitiu um alerta, afirmando que as redes sociais podem representar “um risco profundo de danos à saúde mental e ao bem-estar de crianças e adolescentes”.

Há agora mais precedentes: muitos novos exemplos de escolas que ficam totalmente sem telefone durante a jornada escolar. É o momento certo para pais e educadores perguntarem: Devemos livrar a jornada escolar dos celulares? Isso reduziria as taxas de depressão, ansiedade e automutilação? Melhoraria os resultados educacionais? Acredito que a resposta para todas essas perguntas é sim.


Pense em como é difícil para você permanecer concentrado na tarefa e manter uma linha de pensamento enquanto trabalha no computador. Emails, mensagens de texto e alertas de todos os tipos apresentam continuamente oportunidades de fazer algo mais fácil e divertido do que o que lhe ocupa agora. Se você tem mais de 25 anos, possui um córtex frontal totalmente maduro para ajudá-lo a resistir à tentação e a manter o foco – mas provavelmente tem dificuldades para fazer isso. Agora imagine um telefone no bolso de uma criança, vibrando a cada poucos minutos com um convite para fazer algo diferente de prestar atenção. Não há córtex frontal maduro para ajudá-las a permanecer concentrados na tarefa.

Muitos estudos estabeleceram que, apesar das regras das escolas, os alunos verificam muito o telefone durante as aulas e recebem e enviam mensagens de texto, quando conseguem. Seu foco é frequente e facilmente dispersado por interrupções em seus aparelhos. Um estudo de 2016 apontou que 97% dos estudantes universitários usam o telefone durante as aulas para fins não educacionais. Quase 60% dos alunos disseram que passam mais de 10% do tempo de aula ao telefone, principalmente enviando mensagens de texto. Muitos estudos mostram que os alunos que usam o telefone durante as aulas aprendem menos e obtêm notas mais baixas .

Você pode estar pensando que essas descobertas são meramente correlacionais; talvez os alunos mais inteligentes sejam mais capazes de resistir à tentação? Talvez, mas outras experiências também mostram que usar, apenas olhar para um telefone ou receber um alerta faz com que os alunos tenham um desempenho inferior.

Por exemplo, considere este estudo, apropriadamente intitulado “Cérebros desviados: a mera presença do smartphone reduz a capacidade cognitiva disponível”. Os alunos envolvidos no estudo foram a um laboratório e fizeram testes comumente usados para medir a capacidade de memória e inteligência. Foram distribuídos aleatoriamente em um de três grupos, seguindo as seguintes instruções: (1) Coloque o telefone na mesa, (2) deixe-o no bolso ou na bolsa ou (3) deixe-o em outro cômodo. Nenhuma dessas condições envolve o uso ativo do telefone – apenas a distração potencial de saber que ele está lá, com mensagens de texto e postagens em mídias sociais esperando. Os resultados foram claros: quanto mais próximo o telefone estava dos alunos, pior era o seu desempenho nos testes. Até mesmo ter um telefone no bolso prejudicava as habilidades dos envolvidos no estudo.

O problema não é apenas uma distração transitória,. O uso intenso do telefone ou das redes sociais também pode ter um efeito cumulativo, duradouro e deletério na capacidade dos adolescentes de se concentrarem e dedicarem. Quase metade dos adolescentes norte-americanos afirma estar online “quase constantemente”, e essa oferta contínua de pequenos prazeres pode produzir mudanças sustentadas no sistema de recompensa do cérebro , incluindo uma redução dos receptores de dopamina. Isso muda o humor geral dos usuários para irritabilidade e ansiedade, quando separados de seus telefones, e reduz sua capacidade de concentração. Pode ser uma das razões pelas quais os usuários frequentes de telefones avaliações escolares mais baixa. Como argumentaram recentemente os neurocientistas Jaan Aru e Dmitri Rozgonjuk : “O uso de smartphones pode ser perturbadoramente habitual. Seu preincipal prejuízo é a incapacidade de exercer esforço mental prolongado”.

Mas os smartphones não apenas afastam os alunos dos trabalhos escolares; eles os afastam um do outro também.

O psicólogo Jean M. Twenge e eu descobrimos um aumento global na solidão nas escolas, a partir de 2012. Estudantes de todo o mundo tornaram-se menos propensos a concordar com perguntas como “Sinto que pertenço à escola” e mais propensos a concordar com outras do tipo: “Sinto-me sozinho na escola”. Foi mais ou menos nessa época que os adolescentes passaram a usar maciçamente os smartphones. Foi também quando o Instagram pegou fogo entre meninas e mulheres jovens em todo o mundo, após sua aquisição pelo Facebook, introduzindo a cultura selfie e os seus níveis venenosos de comparação social visual.

Uma maneira pela qual os telefones prejudicaram nossos relacionamentos é por meio do “phubbing” (uma contração dephone e snubbing, algo como desprezo telefônico), quando uma pessoa interrompe uma conversa para olhar para a tela. A pesquisa mostra que o ato interfere na intimidade e na qualidade percebida das interações sociais. As pessoas mais viciadas em seus telefones são, sem surpresa, as maiores phubbers , o que pode explicar por que são as mais deprimidas. e solitárias. Depois que alguns alunos começam a fazer phubbing para outros, estes sentem-se pressionados a pegar seus próprios telefones e, num piscar de olhos, a cultura de toda a escola muda.

Se você tiver alguma dúvida de que os telefones na escola prejudicam as conexões sociais, converse com os alunos sobre o que acontece na hora do almoço. Meus alunos de graduação na Universidade de Nova York me dizem que é difícil ter conversas reais, porque a maioria de seus colegas mantém seus telefones na mesa e frequentemente se afastam para verificar ou responder a notificações. Um estudo de 2018 realizado pelos psicólogos sociais Ryan Dwyer, Kostadin Kushlev e Elizabeth Dunn testou esta intuição. Centenas de estudantes universitários e membros da comunidade foram convidados a compartilhar refeições em um restaurante, com familiares ou amigos. Participantes de cada pequeno grupo foram designados para colocar seus telefones na mesa ou guardá-los. Os resultados? “Quando os telefones estavam presentes, os participantes sentiam-se mais distraídos, o que reduzia o quanto gostavam de passar tempo com os amigos e ou familiares.”

Há seis anos venho estudando e escrevendo sobre os efeitos dos smartphones e das mídias sociais no comportamento, no desenvolvimento e na saúde mental dos adolescentes. Para ajudar a organizar a pesquisa existente sobre esses tópicos, criei uma série de documentos de código aberto do Google , dos quais fiz a curadoria com Zach Rausch. Recentemente, criamos uma revisão colaborativa de escolas sem telefone , catalogando os estudos que observei neste artigo e muitos mais.

Consideremos as palavras da professora do MIT, Sherry Turkle, no seu livro Reclaiming Conversation [“Resgatando a Conversação”]: Por causa dos nossos telefones, ela escreve, “estamos para sempre noutros lugares”. Se quisermos que as crianças estejam presentes, aprendam bem, façam amigos e sintam que pertencem à escola, devemos manter os smartphones e as redes sociais fora do dia escolar durante o maior tempo possível.

O que significa ficar sem telefone?

De acordo com o Centro Nacional de Estatísticas da Educação dos EUA, em 2020 “existiam proibições de telefones celulares em 77% das escolas do país ”. Mas este número elevado parece referir-se a um padrão muito baixo: inclui qualquer escola que diga aos alunos que não devem usar o telefone durante as aulas – a menos que o uso esteja relacionado com a aula. Isso não é realmente uma proibição; é mais um desejo inexequível. Tal política garante a continuidade da luta entre professores e alunos, e significa que há sempre crianças a olhar para telefones escondidos no colo ou em livros, especialmente nas aulas em que o professor ficou exausto pelo jogo interminável do policiamento telefônico. Quando algumas crianças postam e enviam mensagens de texto durante as aulas, isso aumenta a pressão sobre todos os outros para verificarem seus telefones. Ninguém quer ser a última pessoa a saber sobre o que todo mundo está falando nas mensagens de texto.

Outros países estão à frente na política em relação aos telefones. A França proibiu o uso de celulares nas dependências das escolas até o nono ano em 2018 (embora a lei permita que os alunos mantenham seus telefones na bolsa ou no bolso, para que ainda os usemfurtivamente). Em Nova Gales do Sul, na Austrália, a utilização de celulares foi proibida nas escolas primárias e em breve será proibida nas escolas secundárias, embora as escolas possam decidir como implementar as proibições .

Algumas escolas nos EUA assumiram agora posições igualmente intransigentes em relação aos telefones. Por exemplo, o autor Mark Oppenheimer escreveu no início de 2023 no The Atlantic sobre St. Andrew’s, um pequeno internato em Delaware que permite que os alunos usem seus telefones apenas quando estiverem em seus dormitórios, e não em qualquer outro lugar do campus – uma medida a que alguns os alunos inicialmente resistiram, mas agora tem amplo apoio estudantil.

Mais escolas – possivelmente, todas – deveriam transformar-se em zonas livres de celulares. Como isso seria, na prática? Acho útil pensar nas restrições telefônicas em uma escala de 1 a 5, da seguinte maneira:

Nível 1: Os alunos podem usar telefone apenas atividades relacionadas às aulas.

Nível 2: Os alunos podem manter consigo o telefone, mas não devem tirá-lo do bolso ou da mochila durante o horário de aula.

Nível 3: Porta-telefones nas salas de aula: os alunos colocam seus telefones em um bolso de parede ou unidade de armazenamento no início de cada aula e pegam-no no final.

Esses três níveis parecem ser os mais comumente empregados pelas escolas norte-americanas hoje. Acredito que os dois primeiros são quase inúteis. Muitos alunos não têm controle de impulso para evitar verificar o telefone durante o horário de aula se este estiver ao seu alcance. Um professor da Scarsdale High School me disse que quando é imposta a proibição de usar telefones durante as aulas, alguns alunos dizem que precisam usar o banheiro para verificar seus celulares.

Os porta-telefones são um pouco melhores para o aprendizado, porque tiram o aparelh do bolso do aluno. Mas seu efeito na vida social escolar pode ser pior: um resultado provável da prática é que todos os momentos entre as aulas serão dominados por crianças olhando para baixo silenciosamente em seus telefones, obtendo o que lhes foi negado por 50 minutos durante a aula. Aos amigos, nas conversas, eles dão apenas uma fração de sua atenção.

Vamos em frente:

Nível 4: Bolsas com chave (como as fabricadas pela Yondr ). Quando chegam à escola, os alunos são obrigados a colocar o telefone em uma bolsa pessoal. Esta é então trancada com um alfinete magnético (como as etiquetas antirroubo usadas em lojas de roupas). Os alunos mantêm a bolsa consigo, mas não podem desbloqueá-la até o final do dia escolar, quando acessam um dispositivo de desbloqueio magnético.

Nível 5: Armários de telefone Quando chegam à escola, os alunos trancam seus telefones em um armário segurocom vários compartimentos pequenos. Eles guardam a chave e só voltam a ter acesso aos armários telefônicos quando saem da escola.

As práticas de nível 4 e 5 colocam qualquer aluno visto usando um telefone durante o dia escolar em clara violação. São as duas únicas políticas que conheço que podem criar escolas sem telefone. São as políticas com maior probabilidade de produzir benefícios educacionais, sociais e de saúde mental substanciais, porque são as únicas que proporcionam aos alunos seis ou sete horas por dia longe do telefone.

As bolsas com chave são de baixo custo e fáceis de implementar. No entanto, ouvi de alguns alunos que seus colegas (com a ajuda de vídeos do YouTube) encontram maneiras de abrir suas bolsas e usar seus telefones sempre que acham que nenhum adulto está assistindo.

Armários telefônicos podem ser mais complicados de instalar, logisticamente – especialmente em escolas grandes. Mas eles são a maneira mais confiável de apartar os alunos do telefone durante o período escolar e oferecem os maiores benefícios.

Uma escola que se livre dos telefones ainda terá que descobrir o que fazer com laptops, tablets e computadores na sala de aula. Os alunos certamente usariam qualquer dispositivo conectado à Internet para enviar e receber textos e para acessar suas contas nas redes sociais. No ano passado, proibi todas as telas – até mesmo laptops para fazer anotações – de todas as minhas aulas de graduação e MBA e, no final de cada semestre, os alunos concordaram fortemente que isso melhorou as aulas para eles. Mas mesmo na ausência de uma proibição de computadores portáteis, estes dispositivos maiores são mais facilmente geridos e não têm tanta probabilidade de perturbar as interações sociais fora da sala de aula, como os smartphones.

Aqueles que se opõem à proibição do telefone levantam uma série de objeções. Os smartphones podem ser ferramentas de ensino úteis, por exemplo, e podem tornar mais fácil para alguns professores criar planos de aula envolventes. Isso é verdade, mas qualquer aumento no envolvimento durante uma aula pode ser compensado pela distração dos alunos durante a mesma aula. Quando acrescentamos os custos para todos os outros professores e a perda de ligação social entre as turmas, é difícil ver como o benefício marginal de uma aula por telefone supera os custos de um corpo discente centrado no telefone.

Um argumento mais comum vem dos pais, muitos dos quais têm medo de que algo possa correr mal na escola e querem garantir que seus filhos estejam sempre acessíveis. Estes receios podem ser compreendidos, mas também fazem parte da causa dos problemas de saúde mental da Geração Z. No seu livro Paranoid Parenting , o sociólogo Frank Furedi descreve como um novo estilo de parentalidade protetora varreu a sociedade britânica e norte-americana na década de 1990, em resposta à percepção de que os riscos para as crianças estavam aumentando. Quando os pais acreditam que tudo é arriscado e não podem confiar em outros adultos para proteger seus filhos, eles adotam uma abordagem mais defensiva em relação à criação dos filhos. Tentam protegê-los de todos os riscos, mesmo quando isso os priva de experiências valiosas de independência.

Mas os pais de hoje – mesmo os que cresceram num período em que as taxas de criminalidade eram muito mais elevadas do que são agora – geralmente têm boas recordações de irem a pé ou de bicicleta para a escola com outras crianças, ou simplesmente de passarem algum tempo longe da supervisão dos pais para sair com os amigos. Acredito que crianças e adolescentes se beneficiariam em termos de desenvolvimento se passassem seis ou sete horas por dia sem contato com os pais.

E os tiroteios em escolas? Sou pai de dois estudantes do ensino fundamental e, claro, gostaria de me conectar com meus filhos nesse cenário de pesadelo. Mas será que uma escola onde todos os alunos têm um smartphone seria mais segura do que uma onde apenas os adultos os têm? Ken Trump, presidente dos Serviços Nacionais de Segurança e Proteção Escolar , alerta que usar um celular durante uma emergência pode aumentar os riscos de segurança. “Durante um cativeiro, os alunos deveriam ouvir os adultos da escola que dão instruções para salvar vidas”, explica ele. “Os telefones podem desviar a atenção. O silêncio também pode ser fundamental.” Além disso, parece-me que 300 pais correndo para a escola em 300 carros provavelmente tornariam as coisas mais difíceis para os socorristas.

A comunicação é geralmente uma excelente possibilidade. Quando os telefones celulares tornaram-se comuns na década de 1990, os adolescentes da geração do milênio os adotaram com entusiasmo. Esses telefones não tinham um navegador de internet ou aplicativos habilitados para a rede. Podemos chamá-los de “telefones de comunicação”, porque foram projetados para ajudar pessoas a se comunicar com outras pessoas. E é para isso que os millennials os usavam: ligar e enviar mensagens de texto para seus amigos, muitas vezes sobre como e quando se reunir pessoalmente. Quando os eram adolescentes, sua saúde mental era boa – um pouco melhor do que a da Geração X, antes deles, e muito melhor do que a Geração Z, depois deles (como Twenge relata em seu novo livro Generations). Telefones de comunicação são úteis.

Os smartphones são muito diferentes. Eles podem ser usados para comunicação, mas têm milhares de outras aplicações, muitas das quais são cuidadosamente projetadas para atrair e manter a atenção de uma criança. Penso que é desnecessário e imprudente dar às crianças smartphones como seus primeiros telefones.

Os pais geralmente dão às crianças seus primeiros telefones no início do ensino fundamental, supostamente por boas razões: queremos poder alcançar nossos filhos para organizar atividades, e queremos que eles possam nos alcançar se algo der errado. Então, demos a nossos filhos telefones de comunicação! Eles fazem exatamente o que você quer e não fazem as coisas que você mais teme (fornecendo acesso 24 horas a mídias sociais viciantes, videogames e muito mais). Minha esposa e eu demos a nossa filha um Gizmo Watch quando ela completou 9 anos. Ela podia ligar apenas três números com ele, e nós (os 3 membros da família) poderíamos chamá-la. Era o dispositivo de comunicação perfeito para uma garota que ia a pé para a escola, mandando recados e encontrando-se com um amigo em um parque próximo. Isso permitiu que minha filha tivesse mais experiências do que teríamos permitido a ela sem o relógio.

Se a maioria dos pais adiasse dar aos filhos um smartphone até o ensino médio, fornecendo apenas telefones comuns até lá, isso amplificaria os benefícios de bloquear telefones nas escolas. Isso significaria que, quando terminam as aulas e as crianças se reencontram com seus telefones, a maioria delas usaria esses aparelhos para ligar ou enviar mensagens de texto para seus amigos e familiares, em vez de dedicar a próxima hora a percorrer as postagens do Instagram.

À medida em que a crise da saúde mental dos adolescentes continua e as taxas de depressão, ansiedade e automutilação continuam a aumentar, não podemos permanecer impotentes. Seria ótimo se as plataformas de mídia social aplicassem idades mínimas para abrir contas, mas todos os sinais indicam que elas não serão obrigados a isso. Seria ótimo se leis as obrigassem. Seria melhor ainda se a idade mínima para o uso de mídias sociais fosse aumentada para pelo menos 16 anos. As soluções para esta crise são abrangentes, e algumas precisam envolver o Estado.

Mas pais, professores e gestores escolares também podem tomar medidas significativas desde já. Os pais podem oferecer apenas telefones de comunicação até o ensino médio, e podem se coordenar com os pais dos amigos de seus filhos, facilitando essa escolha para todas as famílias envolvidas. As escolas que estão usando os níveis mais baixos de restrição de telefone podem evoluir para bolsas bloqueáveis ou armários de telefone. Minha esperança, como pesquisador, é que alguém implemente essas mudanças experimentalmente, atribuindo aleatoriamente a algumas escolas de ensino médio a responsabilidade de implementar essas mudanças o mais rápido possível. Dessa forma, poderíamos obter evidências empíricas sobre se as escolas sem telefone realmente trazem os benefícios que eu previ com base na pesquisa.

“Isso me ajudou muito”, disse uma estudante da San Mateo High School, na Califórnia, à NBC News depois que sua escola começou a usar bolsas bloqueáveis. “Antes, eu geralmente gostava de me curvar na lateral da minha mesa, checava meu telefone e enviava mensagens para todos. Mas agora não há outra coisa para nós olharmos ou fazermos, exceto prestar atenção e dialogar com nosso professor.

Todas as crianças merecem escolas que as ajudem a aprender, cultivar amizades profundas e se tornar jovens adultos mentalmente saudáveis. Todas as crianças merecem escolas sem telefone.

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Jonathan Haidt

Psicólogo social e professor na Universidade de Nova York. Autor do site After Babel. Co-author de The Coddling of the American Mind. Autor de The Anxious Generation: How the Great Rewiring of Childhood Is Causing an Epidemic of Mental Illness

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“TRANSE”, FILME QUE MISTURA FICÇÃO E DOCUMENTÁRIO SOBRE A POLARIZAÇÃO DE 2018, CHEGA AOS CINEMAS NESTA SEMANA

Maio 1, 2024

Filme rodado durante a eleição de 2018 conta a história de Luisa, uma jovem que percebe que vive em uma bolha

Redaçãojornalggn@gmail.com

1° de maio de 2024 –

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Estreia em nesta quinta-feira, 2 de maio, o longa-metragem “Transe”, dirigido por Anne Pinheiro Guimarães e Carolina Jabor, e estrelado por Luisa Arraes, Johnny Massaro e Ravel Andrade. O filme terá uma sessão especial, com venda de ingressos para o público, no Estação Net Gávea, no Rio de Janeiro, com a presença das diretoras e do elenco.

Além das diretoras e dos protagonistas, o ator Matheus Macena, que interpreta o personagem João, e convidados especiais, como Polly Marinho, Mauro Lima, Alinne Moraes, Suzy Lopes, Stella Rabello, Eloisa Yamashita, Flora Camolese, João Vitor Silva e a vereadora Tainá de Paula também estão confirmados no evento.

Com produção da Cosmocine e da Conspiração, e distribuição da ArtHouse e Filmes do Estação, “Transe” chega nesta quinta-feira a 11 salas de cinema do Brasil, incluindo as cidades de Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Palmas, Porto Alegre, Salvador, Niterói, além de Rio de Janeiro e São Paulo.

O filme, rodado durante a campanha dos presidenciáveis de 2018, mistura ficção e documentário para contar a história de Luisa, uma jovem atriz de espírito livre que, enquanto se depara com a possibilidade de um candidato de extrema direita chegar ao poder, percebe que vive em uma bolha e que a realidade é mais complexa e assustadora do que parece.

O enredo

Luisa (Luisa Arraes) é uma jovem atriz que vive com seu namorado músico, Ravel (Ravel Andrade). Ela conhece Johnny (Johnny Massaro), um espírito livre, e os três vivem um relacionamento baseado no amor livre, quando um perigo iminente ameaça colocar o futuro de todos em risco.    

Sobre as diretoras

A diretora, produtora e roteirista Carolina Jabor é sócia da Conspiração. Ela usa a ficção para discutir a realidade. Como consequência, temas contemporâneos são uma constante em toda a sua filmografia, tendo passado por importantes festivais internacionais como Cannes, Havana, Amsterdam e Chicago.

Em “Aos Teus Olhos” ela colocou em evidência a polêmica do linchamento virtual. Bem recebido pela crítica, a produção foi eleita o melhor filme de ficção da Mostra de São Paulo e premiada com quatro troféus no Festival do Rio.

Já no seu longa de estreia, “Boa Sorte”, ela mostrou a relação entre um jovem perdido e uma mulher que vive com HIV. Carolina também codirigiu filmes como “O Mistério do Samba”, que teve sua estreia no Festival de Cannes, e “Transe”, que foi exibido na Mostra Internacional de São Paulo e no Festival do Rio.

Anne Pinheiro Guimarães é diretora e roteirista. Depois de levar seu curta-metragem “Desejo”, com Wagner Moura, para o Festival de Sundance, Anne escreveu e dirigiu séries de sucesso (“As Canalhas”, “Desnude”, “Nós”) e a série “Desjuntados”, lançado pela Amazon Prime, em 2021. 

Em 2023, ela escreveu a adaptação do livro finalista do prêmio Pulitzer, “Fateful Harvest”, escrito por Duff Wilson, para as telas americanas. Ela é roteirista e diretora do longa-metragem “Pequenas Criaturas”, produzido por Vânia Catani, atualment eem fase de pré-produção. 

FICHA TÉCNICA:

Direção: Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães
Roteiro: Anne Pinheiro Guimarães e Carolina Jabor
Elenco: Luisa Arraes, Johnny Massaro e Ravel Andrade
Participação Especial: Ana Flavia Cavalcanti, Bella Camero, Célio Junior, Cláudio Prado, Dudu Rios, Maria Clara Drummond, Matheus Macena, Matheus Torreão, Pastor Henrique Vieira e Priscila Lima
Direção de Fotografia: Daniel Venosa
Produção: Cosmocine e Conspiração
Distribuição: ArtHouse e Filmes do Estação 

FESTIVAL DA FRONTEIRA TERMINA EDIÇÃO ESPECIAL CADA VEZ MAIS CONECTADO À AMÉRICA LATINA

Abril 30, 2024
  1. CULTURA

CINEMA

Com patrocínio master da Petrobras, evento teve cerimônia de encerramento no Centro Histórico Vila de Santa Thereza

Carol Zatt

Brasil de Fato | Bagé (RS) |

 

Vencedores foram conhecidos em noite de festa finalizada na madrugada de domingo (28) – Foto: Isidoro B. Guggiana

Nunca se falou tanto espanhol em Bagé. Completando 15 anos, o Festival Internacional de Cinema da Fronteira lembrou em muito os tempos áureos quando Gramado recebia produções latino-americanas de luxo. Já pela divulgação da homenagem à cineasta argentina Lucrecia Martel se esperava uma integração muito maior com o Cone Sul, o que se constatou nas telas, nas “charlas” (debates) e também nas trocas entre os realizadores selecionados para o Mercado Sur Frontera.

Esta edição especial foi a maior até agora, com mais que o dobro de convidados de anos anteriores. O tema do 15º Festival da Fronteira, iniciado na semana passada em Sant’Ana do Livramento e Rivera, era “América Latina, Pátria Grande”, e se evidenciou no dia a dia da intensa programação de atividades do evento. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile estiveram bastante representados nas ações de conexão sediadas na Campanha gaúcha.

A cerimônia de homenagens e entrega dos troféus ocorreu na noite de sábado (27), no Centro Histórico Vila de Santa Thereza, em Bagé (RS). A festa de encerramento do festival de Bagé já é conhecida como ocasião ímpar, com muita improvisação, surpresas e integração entre as manifestações artísticas. O espetáculo de 2024 foi além das expectativas e contou com atrações mais que especiais, além das cantorias dos apresentadores Zeca Brito (diretor do evento) e Giana Cunha (jornalista local).

Carlos Gerbase, que era jurado dos longas internacionais, roubou a cena com a pegada rock saltitante dos Replicantes (Sandina) e uma interpretação bem-humorada por demais de Roberto Carlos (Namoradinha de um amigo meu). A excelente cantora Rita Zart, compositora de trilhas musicais para o audiovisual brasileiro, ficou responsável pelas interpretações de Lupicínio Rodrigues (Esses moços e Felicidade).

Sem ensaio, de improviso, o homenageado Flavio Bauraqui entoou O mundo é um moinho, de Cartola, personalidade que ele já interpretou no teatro e no cinema. Foi um momento emocionante, pois o ator e cantor santa-mariense subiu ao palco para receber o Troféu São Sebastião depois de deixar rolar lágrimas ainda sentado na plateia, enquanto assistia aos trechos de sua trajetória em imagens, acompanhados pela narração de palavras elogiosas que honraram bastante sua carreira.

A verve latina abriu e encerrou a cerimônia, fechando um círculo simbólico do tema da edição. A bailarina gaúcha Daniele Zill levou seus gestos flamencos para somar à festa, em uma interpretação que deixou os espectadores boquiabertos. A apresentação da artista que aniversariava naquela noite ainda teve uma fusão com o samba de Adoniran Barbosa, bem ao estilo das “mezclas” do Festival da Fronteira. A última convidada a subir ao palco foi a cantante de tango argentina Julieta Laso, com dois números viscerais e bastante eloquentes, já na madrugada de domingo (28).


Homenagens a Flavio Bauraqui e à cineasta argentina Lucrecia Martel emocionaram a plateia / Foto: Isidoro B. Guggiana

O grande destaque da premiação foi o longa brasileiro-argentino A Transformação de Canuto, de temática e realização indígena, dirigido por Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, que levou melhor filme, júri popular e montagem. Na apresentação do título que abriu a mostra competitiva no Cine 7 de Bagé, o curador Roger Lerina justificou sua seleção pela qualidade artística e pelo aspecto cultural de trazer a visão de mundo dos povos originários das nossas fronteiras. Ernesto comentou na ocasião que o coletivo experimentou o limite entre ficção e documentário para chegar a uma nova forma de fazer cinema.

Depois da premiação, o diretor agradeceu os troféus, “Quando a gente encontra uma razão, um sentido para fazer o que fazemos, não tem mais nada que nos pare, nenhuma dificuldade, nenhum obstáculo. E esse prêmio é um incentivo para continuar acreditando e fazendo o que fazemos coletivamente e individualmente no cinema, nessas nossas sociedades da Fronteira tão problemáticas.”


O grande destaque da premiação foi o longa brasileiro-argentino “A Transformação de Canuto”, de temática e realização indígena / Foto: Isidoro B. Guggiana

O também pernambucano Seu Cavalcanti, de Leonardo Lacca, conquistou melhor direção e prêmio de júri da crítica, que justificou o destaque pela universalidade da narrativa em um longa que se baseava em um personagem cativante.

:: Premiação do Festival da Fronteira destaca regionalidades e potências do mercado ::

Coprodução entre Cuba e Venezuela, Sotavento, de Marco Salaverría Hernández, foi o vencedor da Mostra Internacional de Curtas-metragens. O uruguaio Carne, de Facundo Ferreira, foi agraciado com melhor direção. Giovanni Venturini recebeu distinção de atuação por Big Bang (Brasil/França). Onde a Floresta Acaba (SP), de Otavio Cury, e La Gauchada (Argentina), de Juan Follonier e Gastón Calivari, foram premiados com menção honrosa e júri popular, respectivamente.

Na Mostra Regional de Curtas-Metragens, o destaque foi o bajeense Os Ausentes, de Jeferson Vainer, que ganhou melhor filme e roteiro. Foram momentos muito bonitos da noite, pois o diretor acompanha o evento desde o início, produzindo os registros audiovisuais do festival há anos, e saiu desta edição reconhecido pelo seu talento como cineasta, por uma obra que rendeu comentários bem positivos pelos espectadores.

Já laureado pela crítica em Gramado, no ano passado, O Centenário da Minha Bisa, conquistou direção e fotografia em Bagé. Realizado em Alvorada, o projeto de Cristyelen Ambrozio dialoga com a proposta do evento, pois discute a identidade do povo gaúcho em relação ao seu território rural e fronteiriço.


Antiga charqueada, Vila de Santa Thereza sedia programação do evento desde seu início / Foto: Joba Migliorin

Premiados XV Festival Internacional de Cinema da Fronteira

Mostra Internacional de Longas-metragens

Melhor Filme: “A Transformação de Canuto” (Brasil-PE/SP), de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho (Brasil)

Melhor Direção: Leonardo Lacca, por “Seu Cavalcanti” (Brasil-PE)

Melhor Fotografia: Gerardo Azar e Matías Mayolo, por “La Otra Memoria del Mundo” (Argentina)

Melhor Montagem: Ernesto de Carvalho e Tatiana Almeida, por “A Transformação de Canuto”

Melhor Roteiro: Felipe Carmona, por “Penal Cordillera” (Chile/Brasil)

Melhor Atuação: Eva Bianco, por “Las Cosas Indefinidas” (Argentina)

Melhor Direção de Arte: Toni Vanzolini, por “O Diabo na Rua no Meio do Redemunho” (Brasil-RJ)

Menção Honrosa: Elenco principal de “Penal Cordillera”

Prêmio da Crítica: “Seu Cavalcanti”, de Leonardo Lacca

Melhor Filme – Júri Popular: “A Transformação de Canuto”

Mostra Internacional de Curtas-metragens

Melhor Filme: “Sotavento” (Cuba/Venezuela), de Marco Salaverría Hernández

Melhor Direção: Facundo S. Ferreira, por “Carne” (Uruguai)

Melhor Atuação: Giovanni Venturini, por “Big Bang” (Brasil/França)

Menção Honrosa: “Onde a Floresta Acaba” (Brasil-SP), de Otavio Cury

Melhor Filme – Júri Popular: “La Gauchada” (Argentina), de Juan Follonier e Gastón Calivari

Mostra Regional de Curtas-metragens

Melhor Filme: “Os Ausentes” (Bagé-RS), de Jeferson Vainer

Melhor Direção: Cristyelen Ambrozio, por “O Centenário da Minha Bisa” (Alvorada-RS)

Melhor Atuação: Marina Greve, por “Sombras da Mente” (Porto Alegre-RS)

Melhor Fotografia: “O Centenário da Minha Bisa”

Melhor Montagem: Gabriel Pereira, por “Impostor” (Rivera-Uruguai);

Melhor Roteiro: Jeferson Vainer e Tamile Padilha, por “Os Ausentes”

Melhor Direção de Arte: Geórgia Flores, por “Sombras da Mente”

Melhor Filme – Júri Popular 1: “A Fabulosa Estância São Lauro” (Bagé-RS), de Guilherme Monteiro

Melhor Filme – Júri Popular 2: “O Conto do Tarran” (Bagé-RS), de Carmen Lucia Moreira

Mostra de Curtas de Animação

Melhor Filme: “Hide & Seek” (Palestina/Espanha/Turquia/Líbano/Holanda/França/Síria), de Rami Abbas

Melhor Filme do Júri Popular: “Pororoca” (Brasil-MG), de Fernanda Roque e Francis Frank

III Mercado Sur Frontera WIP LAB

Prêmio Destaque – Tutores: “Solo”, de Lucas Scavino, Daniel Botti e Laura Fraile

Prêmio Destaque – Júri Pitching: “Solo”

Prêmio FRAPA: “Perigo Crocodilo”, de Lucas Scavino, Daniel Botti e Laura Fraile

Prêmio FUGA_LAB: “Badass: Bumbum do Mal”, de Lucas Scavino, Daniel Botti e Laura Fraile (consultoria de roteiro de um ano)

Prêmio Maria Angela de Jesus de Consultoria de Roteiro 1 (consultoria para três versões do roteiro): “Deus nos Guie”, de Alice Stamato e Gustavo Auricchio

Prêmio Maria Angela de Jesus de Consultoria de Roteiro 2: “A Hora Sem Nome”, de Richard Tavares e André Novais Oliveira

Prêmio FIDBA (credencial/vaga para o lab WIP): “Palimpsesto”, de André Di Franco, Felipe Canêdo e Samuel Quintero

Prêmio Lab da Semana do Cinema Brasileiro em Buenos Aires: “Deus nos Guie”

Prêmio Mercado Audiovisual de Trancoso (vaga garantida para participar da segunda edição): “Fragilidades”, de Paula Santos

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko

DOCUMENTARISTA BRASILEIRO PRODUZ NOVO FILME SOBRE A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS EM PORTUGAL

Abril 29, 2024
  1. CULTURA

MEMÓRIA

‘No dia 25 de abril, em Portugal, me senti dentro do famoso quadro A Poesia está na rua’, conta Carlos Pronzato

Katia Marko

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |

 

A famosa chaimite, o tanque utilizado na Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974, foi reproduzida na comemoração dos 50 anos – Foto: Carlos Pronzato

“Um dia inolvidável 50 anos depois do dia que abalou Portugal e incidiu fortemente noutras ditaduras da Europa da época. Aguardem o documentário: Foi bonita a festa, pá – Memórias do 25 de abril.”

Assim o documentarista argentino residente no Brasil, Carlos Pronzato anunciou nas suas redes sociais seu novo filme. Ele está em Portugal para gravar entrevistas e acompanhar as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos.

“No 25 de abril, feriado aqui em Lisboa, uma gigante manifestação de celebração do fim de uma sanguinária ditadura de 48 anos. Emocionante. Gravamos inúmeras mini entrevistas com populares e pude ver de perto a famosa chaimite, o tanque utilizado na Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974 e também os Capitães de Abril”.

Ao Brasil de Fato RS, contou que se sentiu em meio ao gigante ato dentro do famoso quadro “A Poesia está na rua”, da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (concebido a partir do poema com esse nome da poeta Sophia de Mello Brenner).

“Caminhar junto àquela multidão pela Avenida Liberdade até o Rossio gritando a cada tanto ‘Fascismo nunca mais!’ é um alerta para o momento que se vive em Portugal e no mundo com o ascenso da ultra direita”, alerta.

Segundo Pronzato, estar em Lisboa participando desta comemoração, realizando seu trabalho com o cinema de intervenção é fundamental para reviver aquele espírito de liberdade e ver muitas das pessoas que fizeram possível a Revolução dos Cravos. “Como está escrito nas paredes portuguesas, 25 de abril sempre!”


Carlos Pronzato nunca tinha gravado um documentário na Europa / Arquivo pessoal

Apesar de já ter abordado diversos temas da década de 1970 na América Latina, Pronzato nunca tinha gravado um documentário na Europa.

“Este é um batismo do nosso cinema político no velho continente e a data dos 50 anos da Revolução dos Cravos crava (utilizando o verbo propositalmente) a mais emocionante derrocada de uma ditadura unindo o povo e o movimento das Forças Armadas, uma combinação muitíssimo rara de se ver, e que foi talvez o primeiro elemento que me levou a conceber o início das pesquisas deste novo projeto e agora já estar aqui no ‘campo de batalha’”, explica.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira

PAULO FREIRE LANÇA ‘CLARÕES DA MADRUGADA’ PARTE DO CD ‘A MULA’

Abril 28, 2024

O álbum A Mula é uma obra que mergulha nas tradições folclóricas brasileiras, com destaque para o encontro do violeiro com a mula sem cabeça

Redaçãojornalggn@gmail.com

Paulo Freire por Tarita de Souza

O compositor, violeiro e mestre das histórias Paulo Freire dá início a uma jornada musical única com o lançamento de Clarões da Madrugada, o primeiro single de seu próximo álbum intitulado A Mula. Esta faixa, que chega às plataformas digitais no dia 1º de maio, é a abertura de uma emocionante narrativa que envolve música, tradição e o folclore brasileiro.

Clarões da Madrugada não é apenas uma canção, mas sim um convite para adentrar o universo rico e mágico de Paulo Freire, onde suas habilidades como contador de causos se entrelaçam com sua maestria na viola. Ainda em maio, nos dias 8 e 15, outras duas músicas serão lançadas, até que no dia 22 de maio, o disco todo será disponibilizado nas principais plataformas de streaming, concluindo a história. O projeto promete ser uma viagem fascinante pela cultura e pela sonoridade do Brasil profundo. 

O álbum A Mula é uma obra que mergulha nas tradições folclóricas brasileiras, com destaque para o encontro do violeiro com uma mula sem cabeça, um dos mais enigmáticos e assustadores personagens do folclore nacional. Este acontecimento é apresentado em “capítulos” através de músicas inéditas compostas e interpretadas pela viola de Paulo, que se misturam à sua sempre cativante narrativa. Cada capítulo dessa história prepara o terreno para o lançamento do álbum completo.

O projeto foi viabilizado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) do Estado de São Paulo, com a elaboração, gestão e coordenação geral do projeto de Gisella Gonçalves, da Borandá Produções.

Violeiro, escritor e contador de histórias, Paulo Freire é autor de trilhas sonoras, canções, romances, biografias, livros de causos, livros infantis e CDs de viola. Entre seus trabalhos mais recentes estão os CDs “Alto Grande” e “Pórva”, e o romance “Jurupari”. Nascido em São Paulo, já morou no sertão do Urucuia (MG) – região onde se passa a trama do romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa – onde aprendeu a tocar viola com Manoel de Oliveira e outros mestres, além de aprofundar-se nos costumes e lendas do sertão. Posteriormente viveu em Paris, ali estudou violão clássico, e atuou em grupos de música brasileira em vários países da Europa e na Argélia. Em 2015 e 2016, realizou 120 apresentações pelo projeto “Sonora Brasil”, do Departamento Nacional do SESC, por todos os estados brasileiros. Foi o curador da “Ocupação Inezita Barroso”, exposição sobre a artista, realizada pelo Itaú Cultural, em São Paulo, 2017. Em 2018 gravou o CD “Viola Perfumosa”, um tributo à Inezita Barroso, com Ceumar e Lui Coimbra, pela Natura Musical. Das viagens pelo projeto Sonora Brasil nasceu o livro “Uma Aventura Violeira”. Também produziu, junto com Danilo Moraes, o espetáculo “Cunhado de Lobisomem”, que devido à Covid-19, foi apresentado em seis lives nos anos de 2020 e 2021.

SERVIÇO:

Lançamento Clarões Na Madrugada

Data: 01/05/24

Link de pré-save: https://tratore.ffm.to/claroes

FICHA TÉCNICA:

Criação, direção artística e musical
      Paulo Freire

Viola, narração, texto e criação
      Paulo Freire
Percussão e efeitos sonoros
      Adriano Busko

Gravado nos estúdios
      Vai Ouvindo (viola e voz)
      Geroma (percussão e efeitos sonoros)

Edição
      Pedro Luz

Mixado por
      Alexandre Fontanetti (Estúdio Space Blues – São Paulo – SP)

Masterizado por
      Homero Lotito (Reference Mastering Studio – São Paulo – SP)

Assessoria para finalização
      Swami Jr.

Coordenação geral de produção e gestão do projeto
      Gisella Gonçalves (Borandá Produções)

Ilustração da capa
      Cinthia Camargo

Fotos
      Tarita de Souza

Projeto gráfico da capa
      Otávio Bretas

MAIORIA DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO TERÁ ENREDOS SOBRE NEGRITUDE

Abril 27, 2024
  1. CULTURA

CARNAVAL 2025

Anúncio mais recente para 2025 é da Mangueira

Bruno de Freitas Moura Agência Brasil

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Nove das doze escolas do Grupo Especial do Rio já revelaram os enredos para 2025 – Alex Ferro/RioTur

Das nove escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca que já divulgaram o enredo de 2025, sete levarão para o sambódromo da Marquês de Sapucaí temas ligados à negritude e personalidades negras.

Isso significa que mais da metade das 12 escolas (três ainda não fizeram anúncio) terão, de alguma forma, assuntos referentes à afrodescendência na Passarela do Samba.

A divulgação mais recente é da Estação Primeira de Mangueira, na última quinta-feira (25). A escolha foi pelo enredo À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões.

“Escavando o passado, seguimos os vestígios da viva presença negra na região central do Rio de Janeiro desde a influência do povo bantu até a realidade atual dessa população. São corpos assolados pelo apagamento de suas vidas, vivências e possibilidades”, explica a escola no X (antigo Twitter).

Segundo o autor do enredo, o carnavalesco Sidnei França, a escola se propõe a recuperar “tramas envolventes de personagens inspiradores calados pelo tempo, além de valorizar os saberes e práticas da população negra”.

Valongo

O enredo faz referência ao Cais do Valongo, maior porta de entrada forçada no Brasil de africanos escravizados. O hoje sítio arqueológico fica na região conhecida como Pequena África, centro do Rio de Janeiro, que reúne traços históricos da presença africana no país.

Nas palavras da segunda maior campeã do carnaval carioca, com 20 títulos, a região é um “arquivo a céu aberto e cenário de contraste entre tantas dores e paixões que forjaram a identidade da cidade”.

“Essa região carrega na memória, desde sempre, a cruel violência, mas também experiências de revolucionária liberdade e reinvenção da vida. Atrevida por essência, a alma carioca desafia a morte, celebra a vida e faz carnaval!”, conclui a verde e rosa.

Salgueiro

Outra escola que anunciou o enredo 2025 recentemente foi a Acadêmicos do Salgueiro. O título Salgueiro de Corpo Fechado foi divulgado no último dia 19. O enredo idealizado pelo carnavalesco Jorge Silveira vai explorar a relação humana com a busca pela proteção espiritual.

“Esse enredo reflete a alma e a ancestralidade que o Salgueiro tanto valoriza. A expressão ‘corpo fechado’ está enraizada em diversas correntes religiosas. Vamos apresentar uma abordagem carnavalesca desses ritos e rituais”, explica o carnavalesco.

No vídeo de apresentação, publicado nas redes sociais, uma das matriarcas da escola, a presidente da Ala das Baianas do Salgueiro, Tia Glorinha, encena tradições de origem afro, como defumação de ambiente e benzimento, com referência a orixás.

“Sem medo de macumba, sem medo de quiumba. Salvem os velhos mandingueiros, os velhos feiticeiros!”, exalta a publicação.

Afrodescendência

As outras escolas de samba que já tinham anunciado enredos ligados à negritude e personalidades negras são Unidos do Viradouro, Portela, Imperatriz Leopoldinense, Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca.

Atual campeã, a Viradouro levará para o sambódromo o enredo Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos, que conta a história de um líder de quilombo que aprendeu com indígenas, há 200 anos, o segredo da força das ervas.

A escola explica que a história de Malunguinho se passa em Pernambuco, na primeira metade do século 19. “O quilombo do Catucá era foco de resistência e viu seu último líder, João Batista, o Malunguinho, ser duramente perseguido por seus atos libertários”.

A Paraíso do Tuiuti divulgou que contará a história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil. Nascida no Congo, Xica foi escravizada e levada para Salvador no século 16.

Maior campeã do carnaval carioca, com 22 conquistas, a Portela vai homenagear um dos mais importantes artistas negros do país, o cantor e compositor Milton Nascimento.

A Unidos da Tijuca apresentará um enredo sobre Logunedé, as histórias sobre o menino respeitado pelos mais velhos, conforme a sabedoria oral dos candomblés, que levará ao público um pouco sobre a diáspora africana.

Atual vice-campeã, a Imperatriz Leopoldinense contará a história da ida de Oxalá ao reino de Oyó com a intenção de visitar Xangô.

Histórias de resistência

Professor de história comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o babalawô (título de sacerdote na religião iorubá) Ivanir dos Santos comemora a predominância de assuntos ligados à negritude no carnaval carioca.

“Em um cenário de muita intolerância religiosa, muito racismo no Brasil, é importantíssimo que as escolas de samba tragam histórias que contam as resistências culturais, sociais, políticas e espirituais dos seus fundadores”, disse à Agência Brasil.

“As escolas foram criadas justamente por sacerdotes e sacerdotisas, ogãs e baianas que eram ligados à nossa religiosidade, nossa espiritualidade. Não há uma delas que não tenha as suas raízes nessas resistências que estão sendo contadas”.

Ivanir lembra que algumas escolas de samba levam esses temas para os desfiles desde a década de 1960 e que agora são muitas escolas.

Ele ressalta que o carnaval carioca tem enorme visibilidade no Brasil e no mundo, e enredos ligados à afrodescendência ganham ainda mais relevância no momento em que Portugal reconhece que a escravidão foi um crime que deve ser reparado.

“Trazer essas pautas é muito importante para a luta antirracista no Brasil e para a dignidade dos povos de terreiros, assim como os quilombolas, como as mulheres. É muito importante para uma democracia de fato da qual o Brasil precisa”, considera o interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e Conselheiro Consultivo do Cais do Valongo.

Outras escolas

Outras duas escolas de samba anunciaram enredos para o carnaval 2025 não ligados diretamente à temas afro.

A Beija-Flor de Nilópolis homenageará Laíla, carnavalesco, diretor de carnaval e um dos grandes campeões do carnaval carioca, que morreu em 2021, em decorrência da covid-19. Laíla, aliás, era seguidor da umbanda e sempre era visto com diversas guias no pescoço, uma forma de proteção, conforme ele acreditava.

A Acadêmicos do Grande Rio terá como enredo o estado do Pará.

As agremiações Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos de Padre Miguel e Unidos de Vila Isabel ainda não divulgaram os enredos de 2025

CASA DE PASSAGEM INDÍGENA PROMOVE MOSTRA DE CULTURA DOS POVOS ORIGINÁRIOS NESTE SÁBADO (27)

Abril 26, 2024
  1. CULTURA

ORGANIZAÇÃO INDÍGENA

Evento irá contar com apresentações de canto e dança além da venda de livros, artesanato e produtos medicinais

Marcelo Lima

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

 

O Paraná conta com 45 aldeias e 23 territórios indígenas – Divulgação Capai

A Casa de Passagem e Cultura Indígena de Curitiba (CPCI) promove neste sábado (27), das 10h às 17h, o evento Abril Indígena, uma mostra cultural que traz aspectos da cultura dos povos originários para o público geral.

O evento vai contar com feira de artesanato; produtos e práticas da medicina tradicional indígena; apresentações de canto e dança; venda de livros e debates.

Está prevista a participação de representantes de indígenas da região de Curitiba e do interior do Estado, principalmente com as etnias kaingang, guarani e xetá, que são as mais numerosas no Paraná. Segundo a coordenadora da CPCI, Ceia Kanhgág, a intenção é marcar o mês de abril como uma época de celebração e de luta dos povos indígenas.

“O Brasil é terra indígena e Curitiba também é. A cultura indígena precisa ser conhecida pelo público da cidade. A própria Casa de Passagem precisa de maior apoio e reconhecimento. A gente promove esta ação para mostrar um pouco da realidade do indígena em Curitiba: a nossa luta, a nossa cultura, o nosso artesanato”, afirma ela.

No ano passado, a mostra cultural foi realizada durante dois dias. Neste ano, vai ser concentrada em apenas um dia, pois a Casa não conseguiu levantar doações de fundos e alimentos suficientes para a realização de uma programação mais extensa, já que evento requer deslocamento dos indígenas de fora de Curitiba.

Indígenas no Estado

Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Paraná conta com 45 aldeias e 23 territórios indígenas. Essas comunidades abrigam principalmente as etnias kaingang e guarani, que são majoritárias. Há também famílias descendentes do povo xetá e algumas do povo xokleng, conforme informações do governo do Estado.

Segundo o Censo de 2022, o Paraná conta com 30.460 indígenas autodeclarados, que moram em 345 municípios do estado. Em comparação com a edição anterior do Censo, o Paraná registrou um crescimento de população indígena de 14%. O número representa 0,27% da população do Paraná.

Ainda de acordo com o Censo, 13.887 indígenas moram em terras demarcadas. No Paraná o maior território é Rio das Cobras, na região Centro-Sul do Estado, com 3.102 pessoas. A segunda maior é a Terra de Mangueirinha, no Sudoeste, com 1.994. Na sequência estão Ivaí, com 1.886 indígenas, Apucarana, com 1.636 pessoas, e Palmas, com 725.

Os outros 16.573 indígenas do Estado moram fora das regiões demarcadas.

Essas comunidades têm como base econômica a produção de agricultura e criação de animais, além da venda de artesanatos para complementar a renda familiar.

Os principais desafios enfrentados pelos indígenas no Brasil incluem questões relacionadas à demarcação e proteção de terras, conflitos com invasores e grileiros, falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação, além do desafio constante de preservar suas línguas, culturas e tradições frente à pressão da sociedade majoritária.

Serviço

O quê: Abril Indígena
Onde: Casa de Passagem e Cultura Indígena de Curitiba (CPCI) – Rua Rockfeller, 1177 – Rebouças – Curitiba/PR.
Quando: Sábado (27/04, das 10h às 17)
Como contribuir: A CPCI pede doações pelo pix: 50.583.471/0001-48

Fonte: BdF Paraná

Edição: Pedro Carrano

HINO DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS GANHOU VERSÃO PUNK NO BRASIL DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

Abril 25, 2024

25 DE ABRIL

Gravada pela banda 365 em 1987, canção apresentou a história da revolução portuguesa para uma geração

Rodrigo Durão

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

 

O 365, com Ari Baltazar de camisa listrada: ideal utópico – Reprodução

Nas primeiras horas do dia 25 de abril de 1974 forças armadas progressistas derrubaram a ditadura salazarista que governou Portugal por mais de quatro décadas. O movimento conhecido como Revolução dos Cravos não apenas instituiu a democracia no país, mas também levou à independência de ex-colônias na África – cujas lutas de independência foram cruciais para que ela ocorresse – e deu esperança para povos que ainda ansiavam por liberdade, como o nosso. O Brasil de Fato preparou algumas reportagens para contar a história e marcar o aniversário de 50 anos da Revolução dos Cravos. Clique aqui para acessá-las.


“Grândola, Vila Morena
Terra da Fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade”

Quando os versos da canção acima foram transmitidos pela Rádio Renascença de Portugal às 00h25 da madrugada do dia 25 de abril de 1974, não apenas foi dada a senha para a mobilização de militares que derrubaram a ditadura salazarista no país. A então relativamente pouco conhecida música de Zeca Afonso se tornou imediatamente um clássico, para sempre identificada com a tomada de poder pacífica. O hino da Revolução dos Cravos.

Pouco mais de uma década depois, era possível escutar esses versos em rádios brasileiras. Era 1987 e o suave fado da original havia sido substituído pelo punk da versão da banda paulista 365.

“A música Grândola, Vila Morena do 365 foi importante para a minha geração por ser reflexo do quadro político da época”, diz Eduardo Rocha, jornalista e professor universitário. “Ela me permitiu um diálogo maior com a história, conhecer o movimento revolucionário de Portugal.” 

“Tinha a estética punk, que era a minha formação nos anos 80 e o conteúdo político, que tinha tudo a ver com o cenário de reconstrução pelo qual o Brasil passava.”

O país vivia um momento de efervescência política, com a ditadura oficialmente terminada, mas resistindo em vários aspectos. De outro lado, o rock nunca havia sido – e nunca seria novamente – tão popular no Brasil, com Rádio Pirata ao Vivo do RPM se tornando um dos discos mais vendidos no país em todos os tempos (é o quarto) e o lançamento de álbuns clássicos como Cabeça Dinossauro dos Titãs e ll do Legião Urbana – todos lançados em 1986. 

“O disco [do 365] foi lançado em um momento em que a democracia ainda não estava plenamente consolidada no país, com o prosseguimento de elementos da ditadura no processo de ‘transição controlada’ (o próprio presidente da República, José Sarney, foi responsável por censurar o filme de Je Vous Salue, Marie (1985), de Godard) e com uma Constituição ainda em processo de elaboração pela Assembleia Nacional Constituinte”, explica o historiador André Santoro Fernandes.

“Portanto, a opção pela música não parece, simplesmente, casual, mas diretamente relacionada às demandas do período. Grândola, Vila Morena se tornou simbólica não apenas na Revolução dos Cravos, mas para os próprios punks do Brasil”, completa. 

Porta de entrada para a História

“Em 1974 fui acompanhar meu pai que era músico, guitarrista de fado, e se apresentava bastante em um programa da TV Tupi, o Caravela da Saudade. Lá ouvi pela primeira vez a música e ela sempre ficou na minha cabeça”, conta Ari Baltazar, guitarrista do 365. 

“Quando começamos a banda, havia a campanha pelo voto direto [Diretas, já], o fim da ditadura e achei que tinha muito a ver as duas coisas, resolvi fazer uma versão à lá Sex Pistols.”

“Muitas pessoas conheceram a música pelo 365 e quando descobrem a história dela, ficam com o queixo caído. É uma história linda, né?”


Até hoje, Grândola, Vila Morena é a música que encerra os shows da banda – que segue na ativa, com agenda de apresentações e gravando novas músicas. Mas, como a versão punk foi recebida em Portugal?

“Ela toca com frequência nas rádios rock de lá, em programas da TV  e é encarada como uma homenagem muito respeitosa. Claro que sempre tem um ou outro que enxerga de forma negativa, mas a grande maioria entende a mensagem e a intenção.”

Eduardo Rocha concorda, explicando que “no ano 2.000 estive em Portugal e, num trem, conheci um grupo de jovens na faixa dos 20 anos. Mencionei o 365 e eles todos começaram a cantar a versão punk. Foi muito emocionante.”

Hino libertário

Grândola é uma cidade de menos de 7 mil moradores na região rural portuguesa do Alentejo. O termo “vila morena” do título é referência à cor castanha, da terra, das casas e dos rostos curtidos de sol de seus habitantes. Gravada em 1971, foi das poucas aprovadas pela  censura salazarista para ser cantada no I Encontro da Canção Portuguesa, um mês antes da Revolução dos Cravos

Apesar de não ser originalmente uma música de protesto, sua mensagem de solidariedade e democracia cativou os presentes no festival, que passaram a pedir sua execução em rádios. Na plateia do festival, estavam também comandantes que preparavam a insurreição militar. Eles já haviam decido que a senha para o início da Revolução seria o toque de uma música por rádio. Grândola, Vila Morena virou escolha natural. 

Desde então, a canção se tornou uma espécie de hino libertário em Portugal, sendo entoada em protestos diversos – e não apenas nas celebrações do 25 de abril. Além do 365, ela foi regravada por diversos artistas, tanto brasileiros como portugueses. Veja abaixo a original de Zeca Afonso:

Edição: Leandro Melito

MOSTRA DE CINEMA EM BELO HORIZONTE EXIBE A EVOLUÇÃO DA FIGURA DA BRUXA AO LONGO DA HISTÓRIA

Abril 24, 2024
  1. CULTURA

AUDIOVISUAL

Sessões vão até o dia 20 de maio no CCBB e serão acompanhadas por debates e oficinas com preço acessível

Redação

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

 

Clássico do cinema mudo, o “A Paixão de Joana D’Arc” conta a história da guerreira adolescente na França do século XV – Foto: Reprodução/CCBB

Mergulhar no universo cinematográfico da bruxaria, do empoderamento feminino e nas reflexões sobre a condição da mulher na sociedade é o objetivo da mostra Mulheres Mágicas: Reinvenções da Bruxa no Cinema, que chega a Belo Horizonte nesta quarta-feira (24), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Depois de cativar públicos em Brasília e São Paulo, a exposição leva pela primeira vez à capital mineira uma seleção de 28 obras cinematográficas provenientes de épocas, países e gêneros diferentes. Alemanha, França, México, Nigéria, Reino Unido, Rússia, Estados Unidos, Brasil e outros países estarão representados na curadoria.

A jornada será acompanhada por debates, oficinas e um catálogo a preços acessíveis, que vão até o dia 20 de maio. Os ingressos das sessões serão vendidos a preços populares, R$10 inteira e R$5 meia, na bilheteria e pelo site do CCBB-BH.

A sessão de abertura, marcada para o dia 24, às 18h30, contará com a exibição do clássico do cinema mudo A Paixão de Joana D’Arc (1928), dirigido pelo dinamarquês Carl T. Dreyer. Após a projeção, os espectadores terão a oportunidade de participar de um debate conduzido pelas curadoras Carla Italiano e Juliana Gusman. Além delas, a produtora audiovisual Tatiana Mitre também participará da seleção. 

Eixos temáticos 

A mostra desvenda os mistérios e complexidades que cercam a figura da bruxa, desde suas raízes no imaginário popular até suas modernas reinvenções como símbolo de empoderamento, e está dividida em dois eixos temáticos, conforme explica Carla Italiano:

“O primeiro revisita o imaginário clássico das bruxas, enquanto o segundo apresenta suas reinvenções contemporâneas, com destaque para obras de cineastas mulheres e perspectivas feministas”, observa. 

Durante as quatro semanas, haverá ainda sessões de filmes infantis, como o clássico Branca de Neve e os Sete Anões (1937), O Serviço de Entregas da Kiki (1989), e Malévola (2014). 

“Estamos bastante animadas que as bruxas estão chegando também em BH, que é, enfim, a nossa cidade. A programação busca trazer a complexidade e a riqueza da figura da bruxa, pensando em suas imagens mais clássicas, mas também naquelas que provocam noções consolidadas do que são as mulheres mágicas. A ideia é desafiar o próprio conceito de bruxa, e também de mulher. Então a gente espera que o público belo-horizontino possa aproveitar as reflexões que serão provocadas”, comemora Gusman.

Mais informações sobre a mostra e outras atividades relacionadas estão no site do CCBB ou na página do evento: mulheresmagicas.com.

SERVIÇO:

Mostra Mulheres Mágicas: Reinvenções da Bruxa no Cinema
Data: 24 de abril a 20 de maio – De quarta a segunda. Horários de acordo com a programação.

Local: Teatro II Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários, Belo Horizonte – MG, 30140-010)
Classificação indicativa: de Livre a 16 anos. Consultar programação.
Ingressos: R$10 inteira / R$5 meia, disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH 

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Leonardo Fernandes