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PAULO FREIRE LANÇA ‘CLARÕES DA MADRUGADA’ PARTE DO CD ‘A MULA’

Abril 28, 2024

O álbum A Mula é uma obra que mergulha nas tradições folclóricas brasileiras, com destaque para o encontro do violeiro com a mula sem cabeça

Redaçãojornalggn@gmail.com

Paulo Freire por Tarita de Souza

O compositor, violeiro e mestre das histórias Paulo Freire dá início a uma jornada musical única com o lançamento de Clarões da Madrugada, o primeiro single de seu próximo álbum intitulado A Mula. Esta faixa, que chega às plataformas digitais no dia 1º de maio, é a abertura de uma emocionante narrativa que envolve música, tradição e o folclore brasileiro.

Clarões da Madrugada não é apenas uma canção, mas sim um convite para adentrar o universo rico e mágico de Paulo Freire, onde suas habilidades como contador de causos se entrelaçam com sua maestria na viola. Ainda em maio, nos dias 8 e 15, outras duas músicas serão lançadas, até que no dia 22 de maio, o disco todo será disponibilizado nas principais plataformas de streaming, concluindo a história. O projeto promete ser uma viagem fascinante pela cultura e pela sonoridade do Brasil profundo. 

O álbum A Mula é uma obra que mergulha nas tradições folclóricas brasileiras, com destaque para o encontro do violeiro com uma mula sem cabeça, um dos mais enigmáticos e assustadores personagens do folclore nacional. Este acontecimento é apresentado em “capítulos” através de músicas inéditas compostas e interpretadas pela viola de Paulo, que se misturam à sua sempre cativante narrativa. Cada capítulo dessa história prepara o terreno para o lançamento do álbum completo.

O projeto foi viabilizado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) do Estado de São Paulo, com a elaboração, gestão e coordenação geral do projeto de Gisella Gonçalves, da Borandá Produções.

Violeiro, escritor e contador de histórias, Paulo Freire é autor de trilhas sonoras, canções, romances, biografias, livros de causos, livros infantis e CDs de viola. Entre seus trabalhos mais recentes estão os CDs “Alto Grande” e “Pórva”, e o romance “Jurupari”. Nascido em São Paulo, já morou no sertão do Urucuia (MG) – região onde se passa a trama do romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa – onde aprendeu a tocar viola com Manoel de Oliveira e outros mestres, além de aprofundar-se nos costumes e lendas do sertão. Posteriormente viveu em Paris, ali estudou violão clássico, e atuou em grupos de música brasileira em vários países da Europa e na Argélia. Em 2015 e 2016, realizou 120 apresentações pelo projeto “Sonora Brasil”, do Departamento Nacional do SESC, por todos os estados brasileiros. Foi o curador da “Ocupação Inezita Barroso”, exposição sobre a artista, realizada pelo Itaú Cultural, em São Paulo, 2017. Em 2018 gravou o CD “Viola Perfumosa”, um tributo à Inezita Barroso, com Ceumar e Lui Coimbra, pela Natura Musical. Das viagens pelo projeto Sonora Brasil nasceu o livro “Uma Aventura Violeira”. Também produziu, junto com Danilo Moraes, o espetáculo “Cunhado de Lobisomem”, que devido à Covid-19, foi apresentado em seis lives nos anos de 2020 e 2021.

SERVIÇO:

Lançamento Clarões Na Madrugada

Data: 01/05/24

Link de pré-save: https://tratore.ffm.to/claroes

FICHA TÉCNICA:

Criação, direção artística e musical
      Paulo Freire

Viola, narração, texto e criação
      Paulo Freire
Percussão e efeitos sonoros
      Adriano Busko

Gravado nos estúdios
      Vai Ouvindo (viola e voz)
      Geroma (percussão e efeitos sonoros)

Edição
      Pedro Luz

Mixado por
      Alexandre Fontanetti (Estúdio Space Blues – São Paulo – SP)

Masterizado por
      Homero Lotito (Reference Mastering Studio – São Paulo – SP)

Assessoria para finalização
      Swami Jr.

Coordenação geral de produção e gestão do projeto
      Gisella Gonçalves (Borandá Produções)

Ilustração da capa
      Cinthia Camargo

Fotos
      Tarita de Souza

Projeto gráfico da capa
      Otávio Bretas

MAIORIA DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO TERÁ ENREDOS SOBRE NEGRITUDE

Abril 27, 2024
  1. CULTURA

CARNAVAL 2025

Anúncio mais recente para 2025 é da Mangueira

Bruno de Freitas Moura Agência Brasil

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Nove das doze escolas do Grupo Especial do Rio já revelaram os enredos para 2025 – Alex Ferro/RioTur

Das nove escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca que já divulgaram o enredo de 2025, sete levarão para o sambódromo da Marquês de Sapucaí temas ligados à negritude e personalidades negras.

Isso significa que mais da metade das 12 escolas (três ainda não fizeram anúncio) terão, de alguma forma, assuntos referentes à afrodescendência na Passarela do Samba.

A divulgação mais recente é da Estação Primeira de Mangueira, na última quinta-feira (25). A escolha foi pelo enredo À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões.

“Escavando o passado, seguimos os vestígios da viva presença negra na região central do Rio de Janeiro desde a influência do povo bantu até a realidade atual dessa população. São corpos assolados pelo apagamento de suas vidas, vivências e possibilidades”, explica a escola no X (antigo Twitter).

Segundo o autor do enredo, o carnavalesco Sidnei França, a escola se propõe a recuperar “tramas envolventes de personagens inspiradores calados pelo tempo, além de valorizar os saberes e práticas da população negra”.

Valongo

O enredo faz referência ao Cais do Valongo, maior porta de entrada forçada no Brasil de africanos escravizados. O hoje sítio arqueológico fica na região conhecida como Pequena África, centro do Rio de Janeiro, que reúne traços históricos da presença africana no país.

Nas palavras da segunda maior campeã do carnaval carioca, com 20 títulos, a região é um “arquivo a céu aberto e cenário de contraste entre tantas dores e paixões que forjaram a identidade da cidade”.

“Essa região carrega na memória, desde sempre, a cruel violência, mas também experiências de revolucionária liberdade e reinvenção da vida. Atrevida por essência, a alma carioca desafia a morte, celebra a vida e faz carnaval!”, conclui a verde e rosa.

Salgueiro

Outra escola que anunciou o enredo 2025 recentemente foi a Acadêmicos do Salgueiro. O título Salgueiro de Corpo Fechado foi divulgado no último dia 19. O enredo idealizado pelo carnavalesco Jorge Silveira vai explorar a relação humana com a busca pela proteção espiritual.

“Esse enredo reflete a alma e a ancestralidade que o Salgueiro tanto valoriza. A expressão ‘corpo fechado’ está enraizada em diversas correntes religiosas. Vamos apresentar uma abordagem carnavalesca desses ritos e rituais”, explica o carnavalesco.

No vídeo de apresentação, publicado nas redes sociais, uma das matriarcas da escola, a presidente da Ala das Baianas do Salgueiro, Tia Glorinha, encena tradições de origem afro, como defumação de ambiente e benzimento, com referência a orixás.

“Sem medo de macumba, sem medo de quiumba. Salvem os velhos mandingueiros, os velhos feiticeiros!”, exalta a publicação.

Afrodescendência

As outras escolas de samba que já tinham anunciado enredos ligados à negritude e personalidades negras são Unidos do Viradouro, Portela, Imperatriz Leopoldinense, Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca.

Atual campeã, a Viradouro levará para o sambódromo o enredo Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos, que conta a história de um líder de quilombo que aprendeu com indígenas, há 200 anos, o segredo da força das ervas.

A escola explica que a história de Malunguinho se passa em Pernambuco, na primeira metade do século 19. “O quilombo do Catucá era foco de resistência e viu seu último líder, João Batista, o Malunguinho, ser duramente perseguido por seus atos libertários”.

A Paraíso do Tuiuti divulgou que contará a história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil. Nascida no Congo, Xica foi escravizada e levada para Salvador no século 16.

Maior campeã do carnaval carioca, com 22 conquistas, a Portela vai homenagear um dos mais importantes artistas negros do país, o cantor e compositor Milton Nascimento.

A Unidos da Tijuca apresentará um enredo sobre Logunedé, as histórias sobre o menino respeitado pelos mais velhos, conforme a sabedoria oral dos candomblés, que levará ao público um pouco sobre a diáspora africana.

Atual vice-campeã, a Imperatriz Leopoldinense contará a história da ida de Oxalá ao reino de Oyó com a intenção de visitar Xangô.

Histórias de resistência

Professor de história comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o babalawô (título de sacerdote na religião iorubá) Ivanir dos Santos comemora a predominância de assuntos ligados à negritude no carnaval carioca.

“Em um cenário de muita intolerância religiosa, muito racismo no Brasil, é importantíssimo que as escolas de samba tragam histórias que contam as resistências culturais, sociais, políticas e espirituais dos seus fundadores”, disse à Agência Brasil.

“As escolas foram criadas justamente por sacerdotes e sacerdotisas, ogãs e baianas que eram ligados à nossa religiosidade, nossa espiritualidade. Não há uma delas que não tenha as suas raízes nessas resistências que estão sendo contadas”.

Ivanir lembra que algumas escolas de samba levam esses temas para os desfiles desde a década de 1960 e que agora são muitas escolas.

Ele ressalta que o carnaval carioca tem enorme visibilidade no Brasil e no mundo, e enredos ligados à afrodescendência ganham ainda mais relevância no momento em que Portugal reconhece que a escravidão foi um crime que deve ser reparado.

“Trazer essas pautas é muito importante para a luta antirracista no Brasil e para a dignidade dos povos de terreiros, assim como os quilombolas, como as mulheres. É muito importante para uma democracia de fato da qual o Brasil precisa”, considera o interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e Conselheiro Consultivo do Cais do Valongo.

Outras escolas

Outras duas escolas de samba anunciaram enredos para o carnaval 2025 não ligados diretamente à temas afro.

A Beija-Flor de Nilópolis homenageará Laíla, carnavalesco, diretor de carnaval e um dos grandes campeões do carnaval carioca, que morreu em 2021, em decorrência da covid-19. Laíla, aliás, era seguidor da umbanda e sempre era visto com diversas guias no pescoço, uma forma de proteção, conforme ele acreditava.

A Acadêmicos do Grande Rio terá como enredo o estado do Pará.

As agremiações Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos de Padre Miguel e Unidos de Vila Isabel ainda não divulgaram os enredos de 2025

CASA DE PASSAGEM INDÍGENA PROMOVE MOSTRA DE CULTURA DOS POVOS ORIGINÁRIOS NESTE SÁBADO (27)

Abril 26, 2024
  1. CULTURA

ORGANIZAÇÃO INDÍGENA

Evento irá contar com apresentações de canto e dança além da venda de livros, artesanato e produtos medicinais

Marcelo Lima

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

 

O Paraná conta com 45 aldeias e 23 territórios indígenas – Divulgação Capai

A Casa de Passagem e Cultura Indígena de Curitiba (CPCI) promove neste sábado (27), das 10h às 17h, o evento Abril Indígena, uma mostra cultural que traz aspectos da cultura dos povos originários para o público geral.

O evento vai contar com feira de artesanato; produtos e práticas da medicina tradicional indígena; apresentações de canto e dança; venda de livros e debates.

Está prevista a participação de representantes de indígenas da região de Curitiba e do interior do Estado, principalmente com as etnias kaingang, guarani e xetá, que são as mais numerosas no Paraná. Segundo a coordenadora da CPCI, Ceia Kanhgág, a intenção é marcar o mês de abril como uma época de celebração e de luta dos povos indígenas.

“O Brasil é terra indígena e Curitiba também é. A cultura indígena precisa ser conhecida pelo público da cidade. A própria Casa de Passagem precisa de maior apoio e reconhecimento. A gente promove esta ação para mostrar um pouco da realidade do indígena em Curitiba: a nossa luta, a nossa cultura, o nosso artesanato”, afirma ela.

No ano passado, a mostra cultural foi realizada durante dois dias. Neste ano, vai ser concentrada em apenas um dia, pois a Casa não conseguiu levantar doações de fundos e alimentos suficientes para a realização de uma programação mais extensa, já que evento requer deslocamento dos indígenas de fora de Curitiba.

Indígenas no Estado

Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Paraná conta com 45 aldeias e 23 territórios indígenas. Essas comunidades abrigam principalmente as etnias kaingang e guarani, que são majoritárias. Há também famílias descendentes do povo xetá e algumas do povo xokleng, conforme informações do governo do Estado.

Segundo o Censo de 2022, o Paraná conta com 30.460 indígenas autodeclarados, que moram em 345 municípios do estado. Em comparação com a edição anterior do Censo, o Paraná registrou um crescimento de população indígena de 14%. O número representa 0,27% da população do Paraná.

Ainda de acordo com o Censo, 13.887 indígenas moram em terras demarcadas. No Paraná o maior território é Rio das Cobras, na região Centro-Sul do Estado, com 3.102 pessoas. A segunda maior é a Terra de Mangueirinha, no Sudoeste, com 1.994. Na sequência estão Ivaí, com 1.886 indígenas, Apucarana, com 1.636 pessoas, e Palmas, com 725.

Os outros 16.573 indígenas do Estado moram fora das regiões demarcadas.

Essas comunidades têm como base econômica a produção de agricultura e criação de animais, além da venda de artesanatos para complementar a renda familiar.

Os principais desafios enfrentados pelos indígenas no Brasil incluem questões relacionadas à demarcação e proteção de terras, conflitos com invasores e grileiros, falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação, além do desafio constante de preservar suas línguas, culturas e tradições frente à pressão da sociedade majoritária.

Serviço

O quê: Abril Indígena
Onde: Casa de Passagem e Cultura Indígena de Curitiba (CPCI) – Rua Rockfeller, 1177 – Rebouças – Curitiba/PR.
Quando: Sábado (27/04, das 10h às 17)
Como contribuir: A CPCI pede doações pelo pix: 50.583.471/0001-48

Fonte: BdF Paraná

Edição: Pedro Carrano

HINO DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS GANHOU VERSÃO PUNK NO BRASIL DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

Abril 25, 2024

25 DE ABRIL

Gravada pela banda 365 em 1987, canção apresentou a história da revolução portuguesa para uma geração

Rodrigo Durão

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

 

O 365, com Ari Baltazar de camisa listrada: ideal utópico – Reprodução

Nas primeiras horas do dia 25 de abril de 1974 forças armadas progressistas derrubaram a ditadura salazarista que governou Portugal por mais de quatro décadas. O movimento conhecido como Revolução dos Cravos não apenas instituiu a democracia no país, mas também levou à independência de ex-colônias na África – cujas lutas de independência foram cruciais para que ela ocorresse – e deu esperança para povos que ainda ansiavam por liberdade, como o nosso. O Brasil de Fato preparou algumas reportagens para contar a história e marcar o aniversário de 50 anos da Revolução dos Cravos. Clique aqui para acessá-las.


“Grândola, Vila Morena
Terra da Fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade”

Quando os versos da canção acima foram transmitidos pela Rádio Renascença de Portugal às 00h25 da madrugada do dia 25 de abril de 1974, não apenas foi dada a senha para a mobilização de militares que derrubaram a ditadura salazarista no país. A então relativamente pouco conhecida música de Zeca Afonso se tornou imediatamente um clássico, para sempre identificada com a tomada de poder pacífica. O hino da Revolução dos Cravos.

Pouco mais de uma década depois, era possível escutar esses versos em rádios brasileiras. Era 1987 e o suave fado da original havia sido substituído pelo punk da versão da banda paulista 365.

“A música Grândola, Vila Morena do 365 foi importante para a minha geração por ser reflexo do quadro político da época”, diz Eduardo Rocha, jornalista e professor universitário. “Ela me permitiu um diálogo maior com a história, conhecer o movimento revolucionário de Portugal.” 

“Tinha a estética punk, que era a minha formação nos anos 80 e o conteúdo político, que tinha tudo a ver com o cenário de reconstrução pelo qual o Brasil passava.”

O país vivia um momento de efervescência política, com a ditadura oficialmente terminada, mas resistindo em vários aspectos. De outro lado, o rock nunca havia sido – e nunca seria novamente – tão popular no Brasil, com Rádio Pirata ao Vivo do RPM se tornando um dos discos mais vendidos no país em todos os tempos (é o quarto) e o lançamento de álbuns clássicos como Cabeça Dinossauro dos Titãs e ll do Legião Urbana – todos lançados em 1986. 

“O disco [do 365] foi lançado em um momento em que a democracia ainda não estava plenamente consolidada no país, com o prosseguimento de elementos da ditadura no processo de ‘transição controlada’ (o próprio presidente da República, José Sarney, foi responsável por censurar o filme de Je Vous Salue, Marie (1985), de Godard) e com uma Constituição ainda em processo de elaboração pela Assembleia Nacional Constituinte”, explica o historiador André Santoro Fernandes.

“Portanto, a opção pela música não parece, simplesmente, casual, mas diretamente relacionada às demandas do período. Grândola, Vila Morena se tornou simbólica não apenas na Revolução dos Cravos, mas para os próprios punks do Brasil”, completa. 

Porta de entrada para a História

“Em 1974 fui acompanhar meu pai que era músico, guitarrista de fado, e se apresentava bastante em um programa da TV Tupi, o Caravela da Saudade. Lá ouvi pela primeira vez a música e ela sempre ficou na minha cabeça”, conta Ari Baltazar, guitarrista do 365. 

“Quando começamos a banda, havia a campanha pelo voto direto [Diretas, já], o fim da ditadura e achei que tinha muito a ver as duas coisas, resolvi fazer uma versão à lá Sex Pistols.”

“Muitas pessoas conheceram a música pelo 365 e quando descobrem a história dela, ficam com o queixo caído. É uma história linda, né?”


Até hoje, Grândola, Vila Morena é a música que encerra os shows da banda – que segue na ativa, com agenda de apresentações e gravando novas músicas. Mas, como a versão punk foi recebida em Portugal?

“Ela toca com frequência nas rádios rock de lá, em programas da TV  e é encarada como uma homenagem muito respeitosa. Claro que sempre tem um ou outro que enxerga de forma negativa, mas a grande maioria entende a mensagem e a intenção.”

Eduardo Rocha concorda, explicando que “no ano 2.000 estive em Portugal e, num trem, conheci um grupo de jovens na faixa dos 20 anos. Mencionei o 365 e eles todos começaram a cantar a versão punk. Foi muito emocionante.”

Hino libertário

Grândola é uma cidade de menos de 7 mil moradores na região rural portuguesa do Alentejo. O termo “vila morena” do título é referência à cor castanha, da terra, das casas e dos rostos curtidos de sol de seus habitantes. Gravada em 1971, foi das poucas aprovadas pela  censura salazarista para ser cantada no I Encontro da Canção Portuguesa, um mês antes da Revolução dos Cravos

Apesar de não ser originalmente uma música de protesto, sua mensagem de solidariedade e democracia cativou os presentes no festival, que passaram a pedir sua execução em rádios. Na plateia do festival, estavam também comandantes que preparavam a insurreição militar. Eles já haviam decido que a senha para o início da Revolução seria o toque de uma música por rádio. Grândola, Vila Morena virou escolha natural. 

Desde então, a canção se tornou uma espécie de hino libertário em Portugal, sendo entoada em protestos diversos – e não apenas nas celebrações do 25 de abril. Além do 365, ela foi regravada por diversos artistas, tanto brasileiros como portugueses. Veja abaixo a original de Zeca Afonso:

Edição: Leandro Melito

MOSTRA DE CINEMA EM BELO HORIZONTE EXIBE A EVOLUÇÃO DA FIGURA DA BRUXA AO LONGO DA HISTÓRIA

Abril 24, 2024
  1. CULTURA

AUDIOVISUAL

Sessões vão até o dia 20 de maio no CCBB e serão acompanhadas por debates e oficinas com preço acessível

Redação

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

 

Clássico do cinema mudo, o “A Paixão de Joana D’Arc” conta a história da guerreira adolescente na França do século XV – Foto: Reprodução/CCBB

Mergulhar no universo cinematográfico da bruxaria, do empoderamento feminino e nas reflexões sobre a condição da mulher na sociedade é o objetivo da mostra Mulheres Mágicas: Reinvenções da Bruxa no Cinema, que chega a Belo Horizonte nesta quarta-feira (24), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Depois de cativar públicos em Brasília e São Paulo, a exposição leva pela primeira vez à capital mineira uma seleção de 28 obras cinematográficas provenientes de épocas, países e gêneros diferentes. Alemanha, França, México, Nigéria, Reino Unido, Rússia, Estados Unidos, Brasil e outros países estarão representados na curadoria.

A jornada será acompanhada por debates, oficinas e um catálogo a preços acessíveis, que vão até o dia 20 de maio. Os ingressos das sessões serão vendidos a preços populares, R$10 inteira e R$5 meia, na bilheteria e pelo site do CCBB-BH.

A sessão de abertura, marcada para o dia 24, às 18h30, contará com a exibição do clássico do cinema mudo A Paixão de Joana D’Arc (1928), dirigido pelo dinamarquês Carl T. Dreyer. Após a projeção, os espectadores terão a oportunidade de participar de um debate conduzido pelas curadoras Carla Italiano e Juliana Gusman. Além delas, a produtora audiovisual Tatiana Mitre também participará da seleção. 

Eixos temáticos 

A mostra desvenda os mistérios e complexidades que cercam a figura da bruxa, desde suas raízes no imaginário popular até suas modernas reinvenções como símbolo de empoderamento, e está dividida em dois eixos temáticos, conforme explica Carla Italiano:

“O primeiro revisita o imaginário clássico das bruxas, enquanto o segundo apresenta suas reinvenções contemporâneas, com destaque para obras de cineastas mulheres e perspectivas feministas”, observa. 

Durante as quatro semanas, haverá ainda sessões de filmes infantis, como o clássico Branca de Neve e os Sete Anões (1937), O Serviço de Entregas da Kiki (1989), e Malévola (2014). 

“Estamos bastante animadas que as bruxas estão chegando também em BH, que é, enfim, a nossa cidade. A programação busca trazer a complexidade e a riqueza da figura da bruxa, pensando em suas imagens mais clássicas, mas também naquelas que provocam noções consolidadas do que são as mulheres mágicas. A ideia é desafiar o próprio conceito de bruxa, e também de mulher. Então a gente espera que o público belo-horizontino possa aproveitar as reflexões que serão provocadas”, comemora Gusman.

Mais informações sobre a mostra e outras atividades relacionadas estão no site do CCBB ou na página do evento: mulheresmagicas.com.

SERVIÇO:

Mostra Mulheres Mágicas: Reinvenções da Bruxa no Cinema
Data: 24 de abril a 20 de maio – De quarta a segunda. Horários de acordo com a programação.

Local: Teatro II Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários, Belo Horizonte – MG, 30140-010)
Classificação indicativa: de Livre a 16 anos. Consultar programação.
Ingressos: R$10 inteira / R$5 meia, disponíveis no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH 

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Leonardo Fernandes

URARIANO MOTA: DIA MUNDIAL DO LIVRO – DICIONÁRIO DE MACHADO DE ASSIS

Abril 23, 2024

Aventuras na História

Dia Mundial do Livro – Dicionário Machado de Assis*

por Urariano Mota

Para o Dia Mundial do Livro, recupero com pequenas modificações o texto que publiquei no Vermelho em 18/03/2022.

Uma das razões de viver de um intelectual é a sua obra, os seus livros, o seu trabalho. Ou melhor, corrijo: é a maior razão da sua vida. É o seu amor, a sua paixão, a sua dor, a sua alegria, a sua honra. Numa palavra, é a sua felicidade.   

E quando esse intelectual é também um militante comunista, essas hora e honra se tornam uma práxis, e de tal sorte que vemos um e outro em uma só pessoa. E se esse intelectual comunista se chama José Carlos Ruy, mais próximos estamos de ver em sua obra um salto teórico do que ele viveu, militou, trabalhou, estudou e refletiu. Eu me refiro a seu Dicionário Machado de Assis.

Lembro perfeitamente. Em 2 de fevereiro de 2021 nós perdemos José Carlos Ruy. Desse modo perdemos também a sua palavra amiga, o estímulo companheiro, a compreensão generosa que só desejava abraçar a diversidade de tudo e de todos nós. Mas na sua inesperada partida, como uma fecunda herança, ele nos deixou o Dicionário Machado de Assis. Uma herança fecunda e necessária. Se pensam que exagero, o que podemos dizer de páginas de Machado de Assis onde Ruy nos ilumina? Se não, olhem um dos  trechos, como aqui:

“Camila – É daquela casta de mulheres que riem da idade. É bonita e deixa às outras o trabalho de envelhecer. Tem cabelo negro e olhos castanhos; as espáduas e o colo feitos de encomenda para os vestidos decotados. E um certo instinto que a beleza possui, junto com o talento e o gênio. É casada com um viúvo, honesta não por temperamento, mas por princípio, amor ao marido e um pouco por orgulho. Vive principalmente com os olhos na opinião. Entrou na casa dos 30 anos de idade e não lhe custou passar adiante. Duas ou três amigas dizem que ela perdeu a conta dos anos, sem perceber que a natureza era cúmplice, e que aos 40 anos Camila mantém um ar de 30 e poucos. Quando surgiu um pretendente para a filha, ficou prostrada: viu iminente o primeiro neto, e determinou-se a adiar o casamento da filha. (Do conto Uma Senhora, de 1884 )”

Em 16 de março de 2021, quando terminei a revisão do livro de José Carlos Ruy, confessei em email coletivo: “O trabalho foi altamente compensado pelo que aprendi, guiado pelas mãos de Ruy. Não poucas vezes ri, gargalhei. 

A lição que fica do trabalho que tive é esta: o pior ignorante é aquele que pensa que sabe. Eu pensava que sabia sobre Machado de Assis. Sabia nada. Hoje sei muito”. Isso faz mais de três anos!

Nas palavras de Ruy, que me falou dessa obra meses antes de falecer: “além de uma apresentação do Machado, reuni   opiniões dele sobre tudo, e a descrição dos 1065 personagens da sua obra”. Mas ele realizou bem mais. José Carlos Ruy escreveu um livro fundamental, uma orientação de estudos sobre Machado para estudantes universitários e colegiais, além de fonte de pesquisa para doutores de nossas universidades. Para todo o mundo.    

É necessária, mais que antes, a publicação do Dicionário Machado de Assis. José Carlos Ruy, um dos maiores intelectuais comunistas do Brasil, merece que toda a gente saiba desse livro. E todos os intelectuais, escritores, estudantes, todo o povo enfim, bem que merecemos este dicionário. Urgente.

Por enquanto, o destino do livro de Ruy está nas mãos da Editora Garibaldi. Revisado, diagramado, com prefácio, apresentação, mais imagens raras do nosso maior escritor. Rodem e avisem, por favor, que o Dicionário Machado de Assis de José Carlos Ruy está no mundo.

Urariano Mota é escritor e jornalista. Autor do “Dicionário Amoroso do Recife”, “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus” e “A mais longa duração da juventude” (traduzido para o inglês como “Never-Ending Youth”). Colunista do Vermelho e do Brasil 247. Colaborador do Jornal GGN.

*Vermelho https://vermelho.org.br/2024/04/23/dia-mundial-do-livro-dicionario-machado-de-assis/

CONFIRA A LISTA DE DOCUMENTÁRIOS PARA CONHECER A HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Abril 22, 2024
  1. CULTURA

64 ANOS DA CAPITAL

Vídeos retratam a capital do país, seja de forma utópica ou mostrando o crescimento das desigualdades sociais

Júlio Camargo

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

 

Cena extraída do documentário ‘O Sol nasceu para todos’, lançado em 2016. – Foto: Reprodução Youtube

A construção de Brasília e seus desdobramentos serviram de conteúdo para gerações de produtores cinematográficos que abordaram a cidade através de diversos pontos de vista.

A lista a seguir foi dividida em dois tópicos: expectativa e realidade. Isso se deve ao fato de que o ponto de partida foi um plano idealista que prometia um novo patamar de modernidade no país, mas que na prática se desenvolveu com um alto padrão de riqueza concentrada no núcleo do Plano Piloto e cercada por habitações periféricas com níveis de dependência e desigualdade.

A capital foi construída por trabalhadores, na maioria migrantes nordestinos, que foram submetidos a péssimas condições de trabalho exaustivo e em seguida desterrados e expulsos para cidades satélites a quilômetros de distância do centro.

Os registros de filmes exploram tanto o lado utópico desse projeto quanto a brutalidade de suas contradições.

De acordo com o pesquisador em audiovisual André Lima Monfrini: “para que a construção da nova capital pudesse apontar para um futuro heróico de ‘nação projetada’, o empreendimento de Juscelino deveria participar do imaginário nacional, especialmente através de imagens e sons. Brasília se constituiu como evento da história brasileira para ser publicizado e difundido enquanto elemento da memória nacional. Foi desde a sua gênese um fato histórico com pretensões monumentalizantes”.

Isso explica os filmes de propaganda da “Marcha para o Oeste” que apresentam a construção de estradas paralelas em direção à nova capital. A narração radiofônica, o tom ufanista e a idealização da imagem de Juscelino estão marcados em quase os exemplares, mas são registros que também servem à compreensão do funcionamento da cidade.

A maioria desses filmes de ‘expectativa’ foram produzidos pelo Arquivo Nacional e acompanhou o período de planejamento e construção da cidade até o auge da ditadura militar, que passou a reger o conteúdo da instituição.

Por outro lado, a ‘realidade’ da vida dos trabalhadores foi também retratada pelas lentes de diversos cineastas desde o início. Alguns desses filmes já se tornaram clássicos obrigatórios para quem se interessa pelo registro audiovisual da cidade e sua perspectiva proletária e popular.

Cinema crítico

Do veterano Vladimir Carvalho ao contemporâneo Adirley Queirós, o Distrito Federal foi captado por um viés crítico que merece sempre ser lembrado e revisitado.


Cineasta Adirley Queirós / Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Uma cidade que foi palco de acontecimentos que sintetizam a própria história brasileira: o massacre da Pacheco Fernandes, as viaturas militares invadindo a UnB na época da ditadura, a prisão de Honestino Guimarães, Henry Kissinger sendo expulso da Universidade de Brasília (UnB), o massacre da Estrutural, moradores expulsos por especulação imobiliária, o monumental protesto conhecido como Badernaço, a expulsão de indígenas do território sagrado localizado no Noroeste, as manifestações pela saída do governador José Roberto Arruda por corrupção.

Do Quilombo de Mesquita em Luziânia aos danos ambientais na Chapada dos Veadeiros, a lista também inclui pontos importantes do estado de Goiás que valem pena ser destacados como parte dos territórios próximos e da interação do cerrado.

Além de todos os filmes citados a seguir, vale a indicação de O Homem do Rio (Philippe de Broca, 1964), filme francês que mistura paródia de James Bond/007 e inspirado nos quadrinhos de As Aventuras de Tintim. Parte do filme foi rodado em Brasília e apresenta imagens da capital em fase crescimento, mas ainda alguns com vazios demográficos.

Expectativa

1. Planalto Goiano: futuro Distrito Federal (Arquivo Nacional, 1956): Documentário mostra o presidente da comissão de estudos para a mudança da capital, general Djalma Poli Coelho, percorre a região do Planalto Central onde deverá ser construída a futura capital do Brasil, em 1956. Aspectos das cidades de Planaltina, Anápolis, Goiânia, da rodovia Transbrasiliana, dos lagos, cachoeiras e fazendas da região. São exibidas imagens fixas da Missão Crulls. Disponível no youtube.

2. Brasília Nº 17 (NOVACAP e Arquivo Público DF, 1960): Cine Jornal sobre a construção da nova Capital Brasília com imagens panorâmicas no ano da inauguração. Disponível no youtube.

3. Caminho de Libertação (Arquivo Nacional, 1960): Efetivam-se as obras da rodovia Brasília-Acre com imagens das cidades de Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO) em 1960. Disponível no youtube.

4. Brasília, Capital do Século (Gerson Tavares, 1960): Segundo o narrador, “os aglomerados urbanos foram criados pelo homem. Essa (cidade) foi criada para o homem”. Curta com narrativa idealizada sobre a construção com alguns prédios ainda na fase de infraestrutura. Disponível no youtube.

5. Brasília – Planejamento Urbano (Fernando Campos, 1964): A planificação da cidade, ligando sua arquitetura à sua topografia e as razões que lhe permitem possuir um tráfego normal e contínuo, suprimindo os problemas de circulação de todas as grandes cidades. Detalhes das construções destinadas ao Governo, às residências e ao comércio. Disponível no youtube.


‘Brasília IX’ de 1969 / Reprodução Youtube/Arquivo Nacional

6. Brasília Ano IX (1969): Cinejornal sobre o que havia de vida social após nove anos da inauguração de Brasília. O vídeo mostra diversas partes da cidade, prédios, a universidade e centros de lazer. Disponível no youtube.

7. Casa do Candango (Arquivo Nacional, 1970): Retrato das atividades desenvolvidas na Casa do Candango, com a assistência às crianças de famílias pobres de Brasília em 1970. O vídeo mostra uma festa beneficente em prol da instituição com as presenças do ditador Emílio Médici, da primeira-dama Scila Médici e de outras autoridades. Disponível no youtube.

8. Brasília 73 (Sálvio Silva, 1973): Nas palavras do narrador, “aqui é Brasília, capital da esperança. Cidade sonhada e decantada em versos e nas aspirações dos milhões de brasileiros herdeiros do grandioso futuro que já se faz presente em todos os recantos do Brasil. Brasília menina que se espalha formosa por suaves encostas cheias de luz e paz. Levando em seu berço ares puros e sem máculas de poluição”. Disponível no youtube.

9. A Glória do Presente Operário Padrão (Arquivo Nacional, 1976): No vídeo,  representantes do governo, dos empresários e das associações de classe entregam prêmios a operários selecionados. A atuação destes operários na construção de obras públicas, em Brasília. Operários em obras de construção civil. No anfiteatro do jornal O Globo, representante do ministro do Trabalho, entrega diplomas a operários. Candidato de Brasília, José Guedes de Abreu, recebe troféu de “Operário padrão”. Presença do presidente do Conselho Nacional do SESI, Gilberto Mendes de Azevedo. No Palácio da Alvorada, o presidente Geisel recebe operários e representantes da indústria. Em Brasília, aspectos das obras de construção da federação das indústrias, do funcionamento do SESI e de prédios públicos. Disponível no youtube.


Vídeo Operário Padrão (1976). / Foto: Reprodução Youtube

10. Brasília em Verdes (Arquivo Nacional, 1976): Vídeo sobre as áreas verdes de Brasília. O vídeo mostra aspectos da arquitetura, jardins, parques da capital e depoimento do diretor da Companhia Urbanizadora, Stênio Bastos. Disponível no youtube.

Realidade

1. Brasília – Contradições de Uma Cidade Nova (Joaquim Pedro de Andrade, 1967): O documentário apresenta cenas de Brasília seis anos após sua fundação, combinadas com entrevistas de residentes de diversas classes sociais. Uma questão central guia o filme: é possível que uma cidade totalmente planejada, concebida em prol do progresso nacional e da promoção da democracia, possa refletir as desigualdades e a opressão presentes em outras partes do país? Disponível no youtube.

2. Quilombo (Vladimir Carvalho, 1975): Curta-metragem  que retrata uma comunidade negra remanescente de um antigo quilombo localizado na fazenda Mesquita, nos arredores de Brasília, no município de Luziânia, Goiás. Carvalho, o documentário oferece uma visão das mudanças vivenciadas pela vila, especialmente após a construção da capital federal. Além de contribuir para a preservação da memória histórica da região e do Brasil, o filme também estimula debates sobre a prática documental da época. Disponível no youtube.

3. Brasília Segundo Feldman (Eugene Feldman e Vladimir Carvalho, 1979): Material filmado pelo designer estadunidense Eugene Feldman, em visita à Brasília na época de sua construção e posteriormente resgatado por Vladimir Carvalho. Apresenta precariedade da segurança dos trabalhadores em razão do ritmo acelerado das obras e depoimentos de pioneiros sobre as condições de vida dos candangos. Disponível no youtube.

4. História do Núcleo Bandeirante (Maria Coeli, 1982): História da região que antes era conhecida como Cidade Livre, atualmente Núcleo Bandeirante. Apresenta entrevistas com moradores que fundaram a cidade e trabalhadores candangos. Disponível no youtube.

5. A História de Brazlândia (Maria Coeli, 1985) Brazlândia é uma localizadades mais afastadas do centro de Brasília. Foi fundada em 1933 e recebeu a condição de região administrativa em 1964. Apresenta entrevistas com moradores que fundaram a cidade e trabalhadores rurais. Disponível no youtube.

6. Grito da Mocidade (Maria Coeli, 1986): é um vídeo sobre o evento homônimo, realizado em comemoração ao Ano Internacional da Juventude, visando conhecer as idéias, aspirações, peculiaridades de manifestações da juventude do Distrito Federal. Disponível no youtube.


Filme de 20 minutos mostra comemoração ao Ano Internacional da Juventude, em 1985. / Foto: Reprodução Youtube

7. Invasores ou Excluídos (Cesar Mendes e Dulcídio Siqueira, 1989): Documentário que aborda a história das periferias do DF e a luta dos movimentos populares por habitação digna no Distrito Federal. Destaca-se a formação da Ceilândia na década de 1970 e as políticas habitacionais adotadas pelos governos até os anos de 1980. Além disso, menciona o trabalho de Maria do Barro no assentamento de Barrolândia e a importância dos líderes comunitários nesse contexto. Disponível no youtube.

8. Rodoviária (Cesar Mendes, 1990): Documentário que apresenta a rodoviária nos anos 1980. Muitos dos problemas apresentados continuam os mesmo. Disponível no youtube.

9. Conterrâneos Velhos de Guerra (Vladimir Carvalho, 1991): Grande clássico do Vladimir Carvalho sobre os candangos operários que edificaram a cidade. Filmado ao longo de décadas e lançado no começo dos anos 90, abrange a construção, desenvolvimento e gentrificação da capital até o dia o Badernaço. Disponível no youtube.

10. O Direito Achado na Rua (CPCE – UnB. 1991): Documentário sobre o conceito de “direito achado na rua”, expressão criada pelo jurista Roberto Lyra Filho como concepção teórica e prática do direito que tem por objetivo pensar o Direito derivado da ação dos movimentos sociais por meio de uma perspectiva que o entende como uma “legítima organização social da liberdade”. Disponível no youtube.


Cena do documentário ‘Honestino’ de 1992 / Foto: Reprodução Youtube

11. Honestino (Maria Coeli, 1992) Um relato da vida e luta de Honestino Guimaraes, estudante que liderou movimentos de resistencia a ditadura no Brasil de 1968. Amigos e companheiros da época desvendam um pouco da historia politica do pais, que os tempos obscuros dos anos 60/70 tentaram esconder. Disponível no youtube.

12. Leis de Diretrizes e Bases (Maria Coeli, 1993): Professores e trabalhadores da educação discutem a legislação de ensino e apresentam duas demandas por espaços democráticos e participativas na gestão escolar. Disponível no youtube.

13. Folclore em Brasília (Maria Coeli, 1994): Nas palavras da diretora, o esse documentário traz um “relato de experiências individuais, a pesquisa e gravação em vídeo de manifestações culturais no DF, e a discussão provocada por essa vivência reforçaram a ideia de que o folclore e, antes de tudo, um meio pelo qual as pessoas fortalecem sua maneira de ser, criando uma estratégia de vida que se adapta bem a uma cidade de apenas 34 anos e com a maioria de seus habitantes ainda oriunda de outras unidades da federação”. Disponível no youtube.

14. Barra 68 – Sem Perder a Ternura (Vladimir Carvalho, 2001): O texto aborda a história da Universidade de Brasília, desde sua criação e as inovações que ela promovia até os episódios de perseguição, principalmente durante o regime militar iniciado em 1964, culminando em sua ocupação pelo Exército Brasileiro em 1968. O relato é conduzido por Othon Bastos e inclui depoimentos de diversas personalidades, como Oscar Niemeyer, Roberto Salmeron, Jean-Claude Bernardet, Ana Miranda, Marcos Santilli, Cacá Diegues, José Carlos de Almeida Azevedo, e familiares de Honestino Guimarães, entre outros. Disponível no youtube.


Cena do filme Barra 68, lançado em 2001. / Foto: Reprodução Filme

15. Roleiros (Guilherme Bacalhao e 400 Filmes, 2003): De acordo com o próprio diretor, os “frequentadores da Feira do Rolo de Ceilândia resgatam o escambo como alternativa econômica: um caso de polícia ou questão de sobrevivência?”. Disponível no youtube.

16. Rap, o canto da Ceilândia (Adirley Queirós, 2005): Conversa com quatro renomados artistas do Rap brasileiro (X, Jamaika, Marquim e Japão), todos residentes na Ceilândia, uma cidade-satélite de Brasília. O documentário explora a jornada desses músicos no cenário musical e estabelece uma conexão com o desenvolvimento urbano de sua comunidade. Esses artistas enxergam no Rap uma maneira de expressar seus sentimentos e reafirmar suas identidades como habitantes da periferia. Disponível no youtube.

17. Kiss kiss Kissinger (Jimi Figueiredo, 2007): Documentário dirigido por Jimi Figueiredo narrando o histórico protesto dos alunos e do movimento estudantil da Universidade de Brasília contra a presença do diplomata imperialista Henry Kissinger em 1981. Kissinger havia sido contratado pelo reitor general Azevedo e a cúpula da ditadura militar com valor superfaturado, o que causou ainda mais revolta nos alunos. O documentário mescla imagens da época gravadas in loco com Super 8 e entrevistas filmadas em em 2007. Disponível no vimeo.

18. Badernaço – O dia que não acabou (Marcelo Emanuel e Eliomar Araújo, 2008): Em 27 de Novembro de 1986, um protesto pacífico foi organizado pelos sindicatos na capital do Brasil, a fim de expor a insatisfação das pessoas com as novas medidas econômicas do Plano Cruzado no governo Sarney. Mas a marcha inicial através das instituições de Brasília transformou-se abruptamente num motim massivo e caótico de proporções épicas no que mais tarde ficou conhecido como “Badernaço”. Disponível no youtube.


Cena do documentário ‘O dia que não acabou’ / Foto: Reprodução Youtube

19. Sagrada Terra Especulada – A luta contra o Setor Noroeste (Zé Furtado e Coletivo CMI-DF, 2010): Documentário que narra um período de lutas contra o Setor Noroeste, bairro de alto luxo que a especulação imobiliária do Distrito Federal tenta construir num território considerado sagrado. Tendo como enfoque a resistência realizada na Reserva Indígena Santuário dos Pajés, o documentário traça a ação da mídia, políticos, empresários, especuladores e burocratas, que segundo o canal Povos Indígenas do Brasil, estavam todos “a serviço do lucro, da segregação e da farsa da sustentabilidade promovida pelo falso bairro ecológico”. Disponível no youtube.

20. Cata(dores) (Webson Dias, 2011): Vídeo sobre catadores de materiais recicláveis do lixão da Cidade Estrutural. Criado em 1968 a 10 km do Congresso Nacional, o lixão da Estrutural recebe o lixo produzido em Brasília. Estima-se, com base nos relatórios anuais do Serviço de Limpeza Urbana – SLU, que até hoje já foram aterrados mais de 14 milhões de toneladas às margens do Parque Nacional de Brasília. Diariamente, são depositados em torno de 2000 toneladas. Disponível no youtube.

21. Poeira e Batom no Planalto Central (Tânia Fontenele Mourão, Tânia Quaresma e Mônica Gaspa, 2011): O documentário destaca o papel das mulheres nos primeiros anos da construção de Brasília, entre 1956 e 1960. Com depoimentos de 50 mulheres de diferentes estados do Brasil e algumas estrangeiras, o filme revela suas diversas ocupações, desde lavadeiras até engenheiras, ressaltando o protagonismo feminino na história da cidade. O objetivo é valorizar e preservar as memórias dessas mulheres que enfrentaram desafios para criar a nova capital do Brasil. Enquanto a historiografia tradicional enfatiza figuras masculinas como JK e Niemeyer, o documentário resgata a coragem das mulheres que viveram em condições precárias nos acampamentos de construção, oferecendo um importante registro das vozes das trabalhadoras pioneiras que foram negligenciadas pela história oficial. Disponível no youtube.

22. A Ditadura da Especulação (Zé Furtado e Coletivo CMI-DF, 2012): O curta destaca apoiadores, manifestantes e indígenas que se opõem à derrubada da vegetação para construção de edifícios no setor noroeste, resultando em confrontos com a polícia militar e seguranças da Terracap. O movimento visa proteger um antigo santuário e a comunidade indígena local, contando com o apoio de ativistas. Enfrentam a força policial e a milícia contratada pelas empresas. Disponível no youtube.

23. Ceilândia comunicando e mobilizando (Flavia Ferrer, Nailine Oliveira e Elloá Soares, 2012): Curta sobre comunicação comunitária e mobilização social. O Trabalho foi produzido na Região Administrativa de Ceilândia – DF, na rádio comunitária Clube FM 98,1. Disponível no youtube.

24. A Cidade é Uma Só? (Adirley Queirós, 2013): Um filme que mescla drama e documentário aborda a exclusão territorial e social enfrentada por uma parte significativa da população do Distrito Federal e do Entorno, e como essas pessoas buscam restabelecer a ordem social em seu cotidiano. O ponto de partida é a Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), realizada em 1971, que removeu os barracos nas proximidades da recém-criada Brasília. Com a Ceilândia como marco histórico, os personagens do filme vivenciam e testemunham as transformações da cidade. Disponível no youtube.


Cena do filme a Cidade é uma só, lançado em 2011. / Foto: Reprodução

25. Ressurgentes – Um filme de ação direta (Dácia Ibiapina, 2014): O projeto de desse longa-metragem surgiu da vontade da diretora de acompanhar uma grande comoção que acontecia na sociedade brasileira entre os anos de 2009 e 2013. O filme começou a ser trabalhado desde o primeiro ano mencionado e foi sendo pensado durante o seu processo de construção, enquanto havia se iniciado uma enorme crise política em Brasília. A crise, conhecida como o Mensalão do DEM (Partido Democratas), ocorreu no Distrito Federal (DF), mesmo local onde o filme foi feito. Nesse esquema de corrupção do DEM havia a participação de José Roberto Arruda, então governador do DF, e seu envolvimento foi comprovado através de vídeos obtidos por meio de câmera oculta. Disponível no youtube.

26. Noruega e Congo no centro do Brasil (Camila Muguruza e Jhady Arana, 2013): Documentário realizado com o objetivo de compreender as relações de desigualdade social no Distrito Federal e compara os pontos do Lago Sul e da Cidade Estrutural com o primeiro e ao último lugar do ranking de desenvolvimento humano mundial, Noruega e República Democrática do Congo. Disponível no youtube.

27. Estrutural (Webson Dias, 2016): Nas palavras do diretor, esse trabalho é “fruto de uma pesquisa de mais de dez anos e utilizando material de arquivo, fotos e vídeos registrados pelos próprios moradores, durante conflitos ocorridos nos anos 90,  este documentário aborda fatos marcantes para a então invasão da Estrutural. Iniciada ainda na década de 1960, quase que simultânea à construção de Brasília, essa invasão surgiu nos arredores do que hoje é o maior lixão a céu aberto da América Latina. Moradores, políticos e militares apresentam seus pontos de vista sobre o passado e o presente da comunidade, numa síntese do processo de urbanização do Distrito Federal”. Disponível no youtube.

28. O Sol nasceu para todos (Alan Mano K e Jovem de Expressão, 2016): A história do Sol Nascente, região administrativa que surgiu como parte de Ceilândia e hoje é considerada a maior favela da América Latina. Através do olhar dos personagens apresenta uma comunidade positiva sem deixar de mostrar suas dificuldades, mas, sobretudo, mostra que as periferias não podem ser vistas apenas como o lugar da transgressão, mas como lugar de resistência, solidariedade e de preservação cultural. Disponível no youtube.

29. Só não morri por um milagre de Deus (Cosma Silva de Araújo, 2017): O documentário aborda as experiências migratórias dos trabalhadores de Araquém/CE que se mudaram para Brasília durante a construção da capital entre 1956 e 1960. Em 8 de fevereiro de 1959, durante um protesto contra as condições de alimentação na Pacheco, os trabalhadores foram violentamente reprimidos pela Guarda Especial de Brasília (GEB), um evento conhecido como “o massacre da GEB”, que permanece presente na memória dos trabalhadores. O documentário destaca as memórias daqueles que contribuíram, brincaram, sonharam, sofreram, lutaram e, acima de tudo, resistiram na cidade. Disponível no youtube.


Filme ‘Ser tão velho Cerrado’ mostra lutas para preservação da Chapada dos Veadeiros. / Foto: Divulgação

30. Ser Tão Velho Cerrado (André D’Élia, 2018): Documentário sobre o Cerrado e suas altas taxas de desmatamento, colocando em risco a sobrevivência de todo o ecossistema. Diante dessa preocupação, moradores da Chapada dos Veadeiros decidem unir forças para proteger a natureza. Disponível no youtube.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino

LIVRARIAS DE RUA GANHAM ESPAÇO NO CENTRO DE SÃO PAULO E ATRAEM PÚBLICO COM ATIVIDADES ALÉM DA LEITURA

Abril 21, 2024

  1. CULTURA

LAZER

Livraria Expressão Popular, Na Nuvem e Sala Tatuí estão entre os espaços que ocupam o centro de São Paulo

Caroline Oliveira

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 21 de abril de 2024 –

Thais Yamashita, editora da Expressão Popular, afirma que estar localizada no centro de São Paulo é “estratégico” para a livraria – Expressão Popular/Divulgação

Algumas livrarias de rua têm ganhado espaço na região central de São Paulo, com atividades que vão além da venda de livros. A Livraria e Editora Expressão Popular, por exemplo, divide o espaço com o Armazém do Campo, que comercializa produtos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na Alameda Nothmann. 

Thais Yamashita, editora da Expressão Popular, afirma que ter uma loja no centro de São Paulo é “estratégico” para a livraria. O objetivo é “estar num espaço de acesso ao público, como em São Paulo, como uma grande metrópole, e estar no centro da cidade é estratégico para acessar o público leitor que a gente tem interesse em atingir e como um espaço de atuação política”. 

Yamashita destaca a importância de estar na região, principalmente em um contexto de gentrificação – quando os espaços passam por uma especulação imobiliária, tornando o custo de moradia elevado e expulsando as populações mais pobres –, mas não perde de vista a relevância de também estar nos bairros periféricos.  

“Quando a gente fala em batalha das ideias, é importante estar nesse território, obviamente nas periferias, que a gente consegue distribuir livros a partir de grandes campanhas, mas também de projetos populares que estão nesses locais. É importante ocupar esse espaço do centro, mas sem perder de vista esse espaço das periferias, com outros atores e com outros parceiros que já estão presentes”, afirma Yamashita.  

“A gente vive numa região vulnerável, mas que é histórica, e tem que ter esse cuidado de entender também como o Estado atua. Obviamente que a gente faz parte desse processo, mas não nessa compreensão da gentrificação. Mas pelo contrário. É um espaço de resistência. Então, a livraria historicamente foi esse local de acolhida da população dos entornos.”

Outro espaço da região central é a Livraria Na Nuvem, localizada na Alameda Eduardo Prado. Roberto Soqueira, sócio do comércio, endossa o coro da importância de ocupar o bairro.   

“O centro de São Paulo vive um processo de destruição, de associar o centro ao consumo de crack, à marginalidade, a uma série de problemas, o que está ligado à gentrificação, que é destruir, desvalorizar, comprar barato e construir em cima. E aí mudar o perfil do público. É um processo muito cínico. Até criminoso. A gente está aqui para afirmar as coisas aqui no centro são bonitas. As coisas aqui são bem-feitas”, afirma.  

“O centro não é o que pintam e que estão tentando desvalorizar. Então a gente quer criar coisas muito bonitas no centro. A gente tem um espaço muito bonito, muito bem montado, muito bem pensado. A gente tem o exemplo do novo Armazém do Campo, que ficou um espaço lindo. Essas boas opções têm que começar a surgir.”

A Livraria Na Nuvem divide o espaço com o Café Colombiano. Para Soqueira, o fato de dividir o local com um café contribui para dar mais movimento ao comércio. “Eu digo que a gente também vende o livro, porque o foco principal da livraria é ser um ponto de encontro e de referência cultural. A gente trabalha muito eventos, mas muito mesmo. A gente busca trazer escritoras, escritores, editoras, editores, gente do mundo da literatura e gente do mundo das artes para conversar. A gente convida as pessoas do bairro e de fora do bairro para se juntarem aqui nesses bate-papos”, afirma. 

“A gente é uma livraria. Então a gente vende cultura, a gente vende conhecimento. A gente proporciona um encontro de pessoas que gostam de livros, que gostam de falar sobre literatura, sobre humanidades. E a gente encontra as pessoas que estão dispostas a isso, principalmente na região do centro da cidade. É importante ter livrarias em outros polos, até para criar esses centros.”

A poucos quarteirões dali está um terceiro espaço que funciona na mesma lógica: a Sala Tatuí. João Varella, fundador do comércio, afirma que o centro de capital paulista pode ser visto como um “ponto de convergência para pessoas de diferentes bairros e regiões, o que a torna mais acessível para um público diversificado”.  

“A região central da capital paulista é rica em história, arte e cultura. A presença de livrarias nessa área contribui para a preservação e disseminação do conhecimento, bem como para a promoção da literatura e das artes. A presença de livrarias como a Banca Tatuí enriquece a vida cultural da cidade e oferece um espaço para encontros e discussões”, afirma.  

Em suas palavras, a presença de livrarias de rua funciona como um “contraponto” a um espaço de “múltiplas tensões”, como é o centro de São Paulo, “oferecendo um espaço inclusivo e acessível”. “Vejo as livrarias como um refúgio para as pessoas se sentirem seguras, respeitadas e com acesso aos portais de conhecimento e cultura que chamamos de livros. Implantar uma livraria no centro de São Paulo é um esforço para equilibrar o desenvolvimento urbano, garantindo o acesso à cultura e o debate de ideias”, afirma.  

Em 2018, a Banca Tatuí passou a funcionar paralelamente à Sala Tatuí, que reúne cursos sobre escrita, encadernação, design, entre outros temas, clubes de leituras e a comercialização de livros.  

Edição: Thalita Pires

PB: EXPOSIÇÃO ‘AUTO ARIANO’ PROMOVE EXPERIÊNCIA IMERSIVA PELA VIDA E OBRA DE SUASSUNA

Abril 20, 2024

CULTURA

Visitantes são transportados para os universos artístico e humano do paraibano

Redação BdF – PB

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |

 

Cartaz da exposição ‘O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso’ – Reprodução/Divulgação

A exposição imersiva O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso enche de história e arte o Luzzco, espaço dedicado à expressão artística e cultural na Paraíba.

O Luzzco é o primeiro de arte e cultura do Nordeste com tecnologia das maiores exposições imersivas do mundo.


Reprodução / Foto: Internet

No último domingo (14/04), os visitantes foram transportados para os universos artístico e humano do paraibano Ariano Suassuna, uma das figuras mais emblemáticas da literatura brasileira.

A exposição, co-criada com o neto mais velho de Ariano, João Suassuna, oferece uma experiência única, combinando tecnologia, cenografia e elementos físicos para mergulhar os participantes no universo criativo e emocional do autor, poeta e dramaturgo.

Dividida em cinco atos imersivos, além da introdução, a exposição apresenta diferentes facetas da vida e obra de Ariano Suassuna, explorando seu amor pela poesia, sua relação com a comunidade, com o Nordeste, sua paixão pela vida e outros aspectos marcantes de sua trajetória.

Jader França, diretor do Luzzco, destaca a importância de proporcionar uma experiência que vai além das molduras convencionais da arte, envolvendo o público de forma única. “O Luzzco vai além das exposições tradicionais, proporcionando uma experiência sensorial que estimula todos os sentidos e convida os visitantes a se tornarem parte integrante das obras”, afirma.

O espetáculo O Auto de Ariano, o Realista Esperançoso é dividido em cinco atos, além da introdução:

Ato I: Amor pela poesia;
Ato II: Amor pela sua aldeia;
Ato III: Amor da vida;
Ato IV: Amor que contagia;
Ato V: Amor imorrível.


João Suassuna, co-criador da exposição e neto do homenageado, expressa a importância de compartilhar a vida e obra de Ariano Suassuna de uma maneira inovadora e emocionante. “O Auto de Ariano percorre todos os amores que guiaram a vida e a obra do meu avô“, destaca João, ressaltando a diversidade de facetas que compõem o legado de Ariano.

A exposição estará aberta ao público de quarta a domingo, das 14h às 21h, com sessões de aproximadamente uma hora e meia de duração. Os ingressos podem ser adquiridos tanto no site oficial do Luzzco quanto na bilheteria física, com valores de R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia). A exposição é recomendada para maiores de 10 anos.

Após a temporada em João Pessoa, a exposição seguirá para outras cidades, incluindo Recife, onde Ariano Suassuna formou sua família. Com convites recebidos também do exterior, a exposição promete encantar públicos além das fronteiras brasileiras, levando adiante o legado imortal de Ariano Suassuna e sua contribuição para a cultura e arte.

Ariano Suassuna

Ariano Vilar Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927 na Parahyba do Norte, capital da Paraíba (segundo o IBGE, a capital chamou-se Paraíba do Norte até 4 de setembro de 1930, quando teve seu nome mudado para João Pessoa, em homenagem ao Presidente do Estado, assassinado no Recife, em plena campanha política.) que mais tarde passaria a se chamar ‘João Pessoa’.

Com a Revolução de 1930, seu pai, João Suassuna, governador do Estado da Paraíba, foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro, e a família mudou-se para Taperoá, na Paraíba, onde morou de 1933 a 1937 e cursou o primário.

Em 1942, mudou-se para o Recife, onde concluiu, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz. Em 1946, iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, intitulada Uma Mulher Vestida de Sol.

Ariano foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura em 1967. Em 1969, tornou-se diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE. Em 1970, no Recife, liderou o “Movimento Armorial”.

Entre 1958 a 1979, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de romance armorial-popular brasileiro.

Em 3 de agosto de 1989, tornou-se ocupante da Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Entre 1994 e 1998, por convite do então governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), tornou-se secretário estadual de Cultura. 

No ano 2000, tornou-se membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87 anos.

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Cida Alves

URARIANO MOTA: ANIVERSÁRIO DO POETA MANUEL BANDEIRA – A EVOCAÇÃO DO RECIFE

Abril 19, 2024

Me ocorreu – descobri, talvez –  que o seu eterno poema Evocação do Recife é uma síntese de gênio do amor e da memória da cidade.

Aniversário do poeta Manuel Bandeira – a Evocação do Recife*

por Urariano Mota

Manuel Bandeira nasceu no Recife em 19 de abril de 1886. Grande poeta, ao que sempre respondia “grande é Dante”, ele é, sem dúvida, grande e um dos maiores da literatura de língua portuguesa. Ou melhor, da língua brasileira, tamanha é a sua apropriação da fala do Brasil.

Eu não sabia bem o que escrever de novo sobre o aniversário de Manuel Bandeira. Então me ocorreu – descobri, talvez –  que o seu eterno poema Evocação do Recife é uma síntese de gênio do amor e da memória da cidade. Ele reúne em si o que se escreveu de poesia sobre o Recife, tanto em versos de poetas, quanto em poesia de prosadores, para lembrar Baudelaire dos Pequenos Poemas em Prosa. Mas antes, uma rápida exposição de como surgiu o poema-síntese da memória amorosa do Recife

Essa ternura em versos foi resultado de uma encomenda ao poeta.  É raro ver um encomenda transformada em produto tão belo. O poema foi escrito em 1925 a pedido do sociólogo e escritor Gilberto Freyre que, à época, estava incumbido de editar livro comemorativo dos 100 anos do jornal Diário de Pernambuco. Gilberto Freyre encomendou, sem nem imaginar o que viria,  um poema sobre “o Recife da meninice do poeta”. Na ocasião, Manuel Bandeira achou a coisa um tanto impertinente, pois se tratava de poema encomendado, com temática e abordagem definida – o que não costumava fazer. Mas aceitou a intromissão, para nossa maior felicidade.

Gilberto Freyre sabia a quem pedir. Ele conhecia o fascínio do poeta pelo mundo fundamental da cidade. E escreveu:

“Também o poeta quis ver o sobrado amarelo que foi do avô e está ainda de pé, com a escada rangendo de velha. Quis ver a rua da União. Quis ver a rua da Saudade. A do Sol. A da Aurora […]. Vimos juntos alguns destes lugares, que se amanhã desaparecerem do mapa do Recife – cidade que há cinco anos serve de brinquedo a amadores de urbanismo para suas experiências gostosas de derrubar casas e igrejas velhas”. E concluiu depois: casas e igrejas velhas “ficarão para sempre, enquanto houver literatura brasileira, no poema de Manuel Bandeira. É o que a geografia lírica do Brasil tem de maior… é um dos maiores poemas escritos na nossa língua”. 

O poeta maior no livro “Itinerário de Pasárgada”, que deveria ser lido por todos amantes de poesia e poetas do Brasil, escreve:

“Dos seis aos dez anos, nesses quatro anos de residência no Recife, com pequenos veraneios nos arredores — Monteiro, Sertãozinho de Caxangá, Boa Viagem, Usina do Cabo —, construiu-se a minha mitologia, e digo mitologia porque os seus tipos, um Totônio Rodrigues, uma D. Aninha Viegas, a preta Tomásia, velha cozinheira da casa de meu avô Costa Ribeiro, têm para mim a mesma consistência heróica das personagens dos poemas homéricos. A Rua da União, com os quatro quarteirões adjacentes limitados pelas ruas da Aurora, da Saudade, Formosa e Princesa Isabel, foi a minha Troada; a casa de meu avô, a capital desse país fabuloso.

Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante”

E para o imortal poema “Evocação do Recife”, Manuel Bandeira se refere aqui:

Na ‘Evocação do Recife’ as duas formas ‘Capiberibe — Capibaribe’ têm dois motivos. O primeiro foi um episódio que se passou comigo na classe de Geografia do Colégio Pedro II. Era nosso professor o próprio diretor do Colégio — José Veríssimo. Ótimo professor, diga-se de passagem, pois sempre nos ensinava em cima do mapa e de vara em punho. Certo dia perguntou à classe: ‘Qual é o maior rio de Pernambuco?’. Não quis eu que ninguém se me antecipasse na resposta e gritei imediatamente do fundo da sala: ‘Capibaribe!’ Capibaribe com a, como sempre tinha ouvido dizer no Recife. Fiquei perplexo quando Veríssimo comentou, para grande divertimento da turma: ‘Bem se vê que o senhor é um pernambucano!’ (pronunciou ‘pernambucano’ abrindo bem o e) e corrigiu: ‘Capiberibe’. Meti a viola no saco, mas na ‘Evocação do Recife’ me desforrei do professor, intenção que ficaria para sempre desconhecida se eu não a revelasse aqui. Todavia, outra intenção pus na repetição. Intenção musical: Capiberibe a primeira vez com e, a segunda com a, me dava a impressão de um acidente, como se a palavra fosse uma frase melódica dita da segunda vez com bemol na terceira nota”.

Nesta altura, vejo 1925, o ano em que o poema foi publicado, e tenho que fazer uma breve pausa. Fechem os olhos por favor para a violentação da poesia ao citar só estes versos da Evocação do Recife: 

“…A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife…
Rua da União…
A casa de meu avô…
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife…
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô”

Observem: se não olharmos o ano da publicação, recebemos no espírito a impressão de que o poeta era um homem idoso, muito idoso, quando  escolheu as lembranças magníficas acima.  No entanto, nascido em 1886, em 1925 ele só possuía 39 anos de idade!  Impressiona a gente. Mas acontece com Manuel Bandeira o que vemos em todo grande escritor: os escritos sobre o passado deixam a sensação de que escrevem depois dos 60 ou 70 anos. Assim ocorre com Marcel Proust, quando lemos Em Busca do Tempo Perdido, e pelo título, sentimos colagens da memória de um homem muito idoso. Mas o romance começou a ser escrito quando o autor estava com 37 anos de idade. Olhem só o estranho feitiço da realização literária.

O mesmo acontece com Antônio Maria em muitas crônicas. Para um leitor sem aviso, ele escreveu como um homem da idade de mais de 70 anos sobre o Recife da sua infância e juventude. No entanto, desde os 32, 33 anos, Antônio Maria parece bem mais velho ao leitor. Observem esta obra-prima da sua poesia aos 42 anos de idade: 

“Se fosse possível descrever, em palavras, a introdução, ao menos a introdução, da marcha do Clube das Pás! Mas é possível dar uma ideia do que se passava por dentro de mim, que me sentia, inopinadamente, órfão e livre, desapegado de tudo e de todos. Eu era mais que um guerreiro. Era o vento. Cada homem e cada mulher eram uma parte daquele furacão libertário. Todos se emancipavam (eu digo por mim) e se tornavam magnificamente dissolutos… porque o clarim estava tocando, porque os estandartes se equilibravam no espaço, porque o mundo, naquele exato e breve momento era, afinal, de todos.

Tudo deve ter mudado. O Carnaval do Recife talvez não seja, hoje, um desabafo. Talvez não contenha aquele desafio de homens e mulheres, livres de todas as sujeições e esquecidos de Deus. É possível que se tenha transformado numa festa, simplesmente. Talvez seja alegre, e isto é sadio. Mas os meus carnavais eram revoltados. Não tenho a menor dúvida de que aquilo que fazia a beleza do Carnaval pernambucano era revolta -revolta e amor – porque só de amor, por amor, se cometem os gestos de rebeldia.

Muitas vezes, de madrugada, o menino acordava com o clarim e as vozes de um bloco. Eles estavam voltando. O canto que eles entoavam se chamava ‘de regresso’. Não sei de lembrança que me comova tão profundamente. Não sei de vontade igual a esta que estou sentindo, de ser o menino que acordava de madrugada, com as vozes dos metais e as vozes humanas daquele Carnaval liricamente subversivo.

Meu quarto era de telha-vã. Minhas calças, brancas. Meus sapatos, de tênis. Meu coração, inquieto. E nada tinha sido ainda explicado”.

O Recife na bela prosa-poesia de Clarice Lispector:

“E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu….

Eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz. E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim”.

Ou o Recife social e único com João Cabral de Melo Neto. O Rio Capibaribe de Bandeira, mas tão diferente, ainda assim é memória e presente permanente:

Em entrevista a um jornal carioca, em 1985, quando lançou Agrestes, João Cabral de Melo Neto fez uma forte declaração: “Vivo dentro do Recife”. No poema De volta a Pernambuco, escreve:

“Todas (as cidades) lembravam o Recife,
este em todas se situa”.

O Recife de Joaquim Cardozo:

“Recife romântico dos crepúsculos das pontes,
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem dos fidalgos
[holandeses,
Que assistem agora ao movimento das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem dos aviões para as costas
[do Pacífico;
Recife romântico dos crepúsculos das pontes
E da beleza católica do rio.”

E o Recife de Carlos Pena Filho:

“Hoje, serena, flutua,
metade roubada ao mar,
metade à imaginação,
pois é do sonho dos homens
que uma cidade se inventa…

Ah, mas se a gente pudesse

fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra, amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isto no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
são trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados”.

Agora, podemos ler, reler, sentir de novo, mais uma vez e sempre o poema-síntese da memória afetiva de todos os poetas da cidade: 

“Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritssatd dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois —
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância

A Rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de Dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincené na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras, mexericos, namoros, risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:

Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:

Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão…)

De repente
nos longes da noite
um sino

Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era São José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva se ser menino porque não podia ir ver o fogo

Rua da União…
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade…
… onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora…
… onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento

Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redomoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas

Eu me deitei no colo da menina e ela começou a passar a mão nos meus cabelos

Capiberibe
— Capibaribe

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo…
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife…
Rua da União…
A casa de meu avô…
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife…
Meu avó morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô”

Na voz do poeta aqui

*Vermelho https://vermelho.org.br/coluna/aniversario-do-poeta-manuel-bandeira-a-evocacao-do-recife/ 

Urariano Mota – Jornalista do Recife. Autor dos romances “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus” e “A mais longa duração da juventude”