Posts Tagged ‘Política’

Mafalda, a criança cinquentenária

Fevereiro 10, 2014

mafalda_quinoUma das tirinha mais sacal produzida na América Latina (somada ao trabalho de Maitena, Henfil, Glauco, Adão, Maurício de Souza, Laerte entre muitos outros) está completando seus 50 anos de criação do novo. Trata-se não somente, mas principalmente de uma infinidade de saques que o microcosmos da tirinha de Quino traz.

Como esboçou o filosofo italiano Umberto Eco “Mafalda não é apenas um novo personagem nas histórias em quadrinhos (…) se para defini-la usamos o adjetivo ‘contestadora’ foi para seguirmos a qualquer preço a moda do anticonformismo: Mafalda é realmente uma heroina ‘enraivecida’ que recusa o mundo tal como ele é (…) Na verdade Mafalda tem ideias confusas [mas] de uma coisa ela tem certeza: não está satisfeita (…) Já que nossos filhos vão se tornar- por escolha nossa- outras tantas Mafaldas, será prudente tratarmos Mafalda com o respeito que merece um personagem real.”

Criada em 1964 e publicada pela primeira mês de setembro pelo cartunista argentino Joaquim Salvador Lavada, mais conhecido pelo Quino, Mafalda questionava o mundo e sua estrutura que se desmancha no ar. Enquanto no Brasil o coro comia no Brasil com o golpe militar. Mafalda logo se tornou célebre e ganhou o mundo quando em 1968 já tinha sido traduzida para o italiano, tendo sido traduzida em dezenas de paises quando chegou no Brasil em 81.

Hoje, mesmo com o chamada “fim da produção” da tirinha, Mafalda continua produzindo novos questionamentos e nos fazendo desconfiar de tudo que está pronto, constituido e estabelecido. A criança que faz 50 anos continuará produzindo para sempre jovem e será a menina dos olhos livres das novas gerações.

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DEVIR-CRIANÇA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Novembro 26, 2013

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Em seu processual de produção coletiva de enunciados agenciadores de novas formas sentir, ver, ouvir e pensar a Associação Filosofia Itinerante (Afin) tem se movimentado em encadeamentos heterogênicos de conteúdos e expressões que pretendem uma nova forma de existir. Uma produção de novos saberes e novos dizeres. Sendo assim, a Afin – que se encontra em contínuo movimento produtivo com dizeres e saberes de múltiplos territórios -, aproveitou a sua sessão dominical de cinema para criança – que já se encontra em seu quinto ano, Kinemasófico, no Bairro Novo Aleixo, Zona Leste – o território mais pobre e abandonado pelos governos -, apara realização do Devir-Criança Consciência Negra.

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Durante a noite de domingo, dia 24, as crianças foram, como sempre, as produtoras da festa. Foram exibidos alguns curtas com o tema negritude, o ser ontológico do negro, que permeou as comemorações da Consciência Negra durante a semana que passou. Embora seja um tema contínuo para novas formas de existir. As crianças no fim de cada exibição comentavam o conteúdo e manifestavam suas ideias. Depois das exibições dos curtas, as crianças passaram a usar recursos artísticos pessoais para expressarem suas relações com o tema, como a capoeira, a música, a poesia, a dança, as brincadeiras coletivas mostrando a subjugação dos negros pela força imperiosa dos brancos. Como foi a teatralização da fuga de alguns negros de uma fazenda. Nessa teatralização serviu de música incidental o trecho musical “Trabalha, trabalha negro. Trabalha, trabalha negro. O negro está cansado de tanto trabalhar…”

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O que chamou muito a atenção foi o depoimento de crianças que afirmaram sofrer discriminação cotidianamente. Essas crianças afirmaram que são discriminadas nas ruas onde moram, na escola, e nos locais onde têm que ir algumas vezes, como nos comércios. Explicado para elas que a discriminação racial é crime, e que uma pessoa discriminada pode processar o discriminador, a criança Kailane, disse que ela ia processar todo dia muitas pessoas. Elas ficaram também contentes em saber que existe um ministério de Política para Igualdade Racial, criada no governo Lula. Foi fácil para elas entenderem a importância desse ministério, porque elas fazem parte do programa de transferência de renda o Bolsa Família. Compreendendo o objetivo do Bolsa Família, como política que visa diminuir a desigualdade social, o ministério de Política para Igualdade Racial, também tem esse objetivo. Elas apresentaram um saber por similitude.  

Durante as brincadeiras elas foram homenageadas com troféu Valeu, Zumbi!, criado por elas mesmas sob a coordenação do afinado filósofo, artista plástico e escritor, Marcos Nei. No fim, antes do fim, como manda a verdade biológica, elas encararam o mata-broca africano da cocada, passando pelo aluá, o vatapá, entre outras iguarias da culinária negra.

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Foi uma festa na potência libertária de Zumbi, Ganga Zumba e outros. Uma festa tão profundamente negra que no meio das comemorações, baixou a comunidade negritude em forma celestial: faltou energia elétrica e a noite se mostrou em sua negritude total. Depois de dessa revelação-negra-natural, a energia se fez presente. Logicamente mais energizada. 

Valeu, Zumbi!

Literatura e Política com Frei Betto

Abril 24, 2012

Ademilde Fonseca foi responsável pela maior popularização do choro

Março 29, 2012

Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual.

Uma das últimas imagens públicas da cantora Ademilde Fonseca é no excelente DVD “Sexo MPB O Show”, que registra a edição de 2010 da entrega do troféu de mesmo nome, organizado pelo pesquisador musical, produtor e jornalista Rodrigo Faour. Naquela noite, ela foi a grande homenageada e, assim, glorificada pelos colegas deve ser sempre lembrada. Afinal, poucas cantoras fizeram tanto pela música brasileira, a ponto de ficar conhecida como “rainha do choro”.

“O choro de agora em diante volta a ser apenas solado, porque ninguém mais conseguirá cantar suas melodias sinuosas, com a velocidade, a graça e a afinação de Ademilde, que um dia, informalmente durante uma festa na casa de Benedito Lacerda, sacou do bolso uma letra que conseguira do velho choro “Tico-tico no Fubá”, e mostrou ao flautista. Ele, extasiado, tratou de encaminhá-la à gravadora Columbia (depois Continental). Isso foi em 1942. Com isso, sem saber, estava criando um gênero: o choro cantado”, conta Faour.

Ademilde Fonseca trabalhou por mais de dez anos na rádio Tupi e gravou centenas de discos, dos quais vendeu mais de meio milhão de cópias, numa época em que atingir esses números era algo tremendamente difícil. A interpretação dela para “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo, e “Tico-Tico no Fubá”, de Zequinha de Abreu, é inigualável e marcou uma virada na música brasileira, quando o choro deixou de ser basicamente instrumental e passou a ser também cantado. Outros clássicos indispensáveis em seu repertório foram “Urubu Malandro”, “Galo Garnizé”, “Pedacinhos do Céu” e “Na Baixa do Sapateiro”, entre tantos outros.

“Ela simplesmente teve a honra de lançar alguns clássicos da música brasileira com letra, caso de ‘Apanhei-te cavaquinho’, ‘O que vier eu traço’ e ‘Brasileirinho’ – pérolas imortais. E ainda ‘Pedacinhos do céu’ e o baião ‘Delicado’, de Waldir Azevedo, que correu o mundo. Também lançou ‘Teco-teco’, depois regravada por Gal Costa. E um sem-número de maravilhas que estarão no CD duplo da série ‘Super Divas’, que pretendo lançar via EMI Music até o meio do ano. Infelizmente, ela não ficou viva para ver este disco, mas pelo menos me ajudou a concretizá-lo, me ajudando a localizar fonogramas raros e tecendo comentários faixa a faixa sobre suas 36 faixas. Como se não bastasse, tinha uma cabeça maravilhosa. Numa das minhas festas, disse que era preciso respeitar os artistas jovens, porque ‘até esses meninos que fazem funk, se você for ver tem uma dificuldade. Se você quiser fazer aquilo, não vai conseguir’. Ou seja, não tinha um pingo de recalque”, acrescenta Faour.

Ademilde Fonseca tinha 91 anos e sofria de problemas cardíacos. De acordo com a neta, Ana Cristina, ela teve um mal súbito e morreu em casa, no Rio de Janeiro, na noite de terça-feira, 27 de março. Nascida no Rio Grande do Norte (RN), ela deixa uma filha, a cantora Eimar Fonseca, três netas e quatro bisnetos. Seu último registro em disco foi no CD da jovem cantora Anna Bello, produzido pelo músico Edu Krieger.